Revista Anestesiologia Mineira - 6ª edição

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Revista Anestesiologia Mineira

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Revista da Samg e Coopanest-MG - Edição 6

Pela valorização da categoria Anestesiologistas falam sobre a baixa remuneração e a desvalorização da profissão

Dra. Fabiane Cardia Salman fala sobre segurança em anestesia

Abril 2014

DESRRESPEITO HONORÁRIOS DESRRESPEITO HONORÁRIOS DESRRESPEITO HONORÁRIOS DESRRESPEITO HONORÁRIOS DESRRESPEITO HONORÁRIOS DESRRESPEITO HONORÁRIOS DESRRESPEITO HONORÁRIOS DESRRESPEITO HONORÁRIOS

Reestruturação no setor de glosas traz benefícios


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editoriais

2 Prezados colegas, Mais uma vez, gostaríamos de agradecer o apoio na eleição da Diretoria da SAMG biênio 2012-2013, bem como a ajuda de tantos colegas, nos últimos dois anos. A fim de fazer jus à confiança em nós depositada, apresentamos neste editorial uma breve prestação de contas da realização, em 2012 e 2013, de propostas apresentadas durante a campanha. 1) Valorizar o anestesista, em sentido mais amplo; não apenas no que diz respeito à remuneração anestésica, mas também na tentativa de resgatar o valor, a respeitabilidade e a credibilidade do profissional. Todas as denúncias que recebemos relativas a erros nos repasses da Unimed (exemplo: não pagamento de auxilio em porte 7 de gastroplastia redutora e não pagamento de anestesia para embolização de aneurisma cerebral) foram apuradas pela diretoria da SAMG e efetivamente corrigidas. Também no sentido de valorizar a nossa especialidade, contratamos uma assessoria de imprensa que nos permitiu divulgar a importância da anestesia, da consulta pré-anestésica e da valorização profissional, haja vista que, lamentavelmente, cerca de 60% da população acha que anestesista não é médico, bem como as condições técnico-científicas e financeiras desfavoráveis impostas pelas operadoras de planos de saúde. Denunciamos à população, ao Conselho Regional de Medicina e ao Conselho Federal de Medicina a realização de procedimentos de endoscopia digestiva alta sem a assistência do anestesiologista. Apuramos todas as denúncias com relação à desvalorização e ao desrespeito para com o médico anestesiologista e nos posicionamos ao lado dos nossos pares. Fizemos, ainda, a troca da assistência jurídica por um escritório de advocacia com mais experiência em direito associativo. 2)Valorizar o conhecimento técnico-científico. Realizamos duas Jornadas Metropolitanas de Anestesia e uma Jornada Mineira. Nestes eventos, tivemos a preocupação de abordar a importância da eliminação dos riscos, através da execução de uma anestesia segura. A abordagem foi no âmbito da medicina perioperatória, começando na avaliação pré-anestésica, passando pelas várias modalidades de monitorização, pelo uso de anestésicos e técnicas mais seguras, e principalmente, enfatizando a grande importância de uma dedicação exclusiva durante o ato anestésico. Realizamos dois Cursos Preparatórios para as Provas do TSA/SBA e quatro workshops sobre bloqueios orientados por ultrassonografia, sendo um em Belo Horizonte, e três no interior, em Varginha, Ipatinga e Montes Claros. 3)Valorizar o ensino dos residentes de anestesiologia. Criamos um curso integrado, com aulas quinzenais, abordando temas relacionados à programação teórica da Comissão de Ensino da SBA. 4)Valorizar a nossa sede social. Contratamos um arquiteto que já fez o projeto arquitetônico para a construção de um espaço multiuso. Ele está sendo analisado pelo Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural de Belo Horizonte.

5)Adequação do Estatuto da SAMG ao Estatuto da SBA. Fizemos as adequações e em seguida, convocamos uma assembleia geral extraordinária para a sua aprovação. 6) Colaborar com a Comissão Executiva do 59º Congresso Brasileiro de Anestesiologia. Em 2012, participamos intensamente, na qualidade de membros, da Comissão Executiva do CBA, contribuindo para a sua realização. 7) Fornecer trimestralmente ao Conselho Fiscal, em tempo hábil, a movimentação financeira para análise e posterior elaboração do balancete, publicando-o no site da SAMG, permitindo a participação e fiscalização pelos associados. 8) Jornal da SAMG e da Coopanest Demos um novo visual ao jornal, aumentamos seu número de páginas e alteramos, significativamente, o seu conteúdo, com um aumento expressivo do número de informações de interesse dos colegas anestesiologistas. 9) Negociações com a Unimed. Realizamos três reuniões em 2012 e três em 2013 com a diretoria da Unimed, as quais culminaram em uma assembleia na AMMG. Naquela ocasião, foi-nos prometido um alinhamento dos portes 5, 6 e 7 com a CBHPM. Posteriormente, acordamos com o diretor de proventos o alinhamento dos portes 1 e 2, sem redução de nenhum porte. Infelizmente, isso não foi cumprido e fomos comunicados, às vésperas do Natal de 2013, que, para alinhar os portes 1 e 2 com a CBHPM, a Unimed também alinharia o porte da artrodese de coluna (ela pagava o procedimento como porte 7 e a CBHPM preconiza como porte 6), o que significa que haveria redução do porte da anestesia para artrodese de coluna. Deixamos claro, novamente, que discordamos desta atitude e continuaremos empenhados e lutando para que a Unimed adote, de fato, a CBHPM (portes e valores), visto ser a anestesiologia uma especialidade bastante prejudicada, com o uso de tabela própria da Unimed. Sem contar que temos quase 500 procedimentos anestésicos para os quais a Unimed preconiza portes inferiores à CBHPM. No ano de 2013, muitos foram os acontecimentos relacionados à área médica. Os vetos ao Ato Médico, a importação de médicos estrangeiros, o aumento indiscriminado do número de vagas de residências médicas são motivos de indignação para a classe. Vislumbramos também ameaças à nossa especialidade em projetos discutidos em esferas políticas e que muito prejudicariam a população, a exemplo da possibilidade de enfermeiras anestesistas. Continuaremos, portanto, participando ativamente dos movimentos de classe, pois acreditamos que a união é fundamental nestes tempos difíceis. Contamos com participação de todos os anestesistas que, nesta Sociedade, sempre encontrarão apoio nas questões que dizem respeito à nossa honrada especialidade. Saudações, Diretoria da SAMG biênio 2012-2013


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sumário

Prezados colegas, É inevitável o sentimento de indignação, ao pensar que um profissional possa não receber pelo trabalho executado. Inacreditável pensar que alguém ainda sofra tal injustiça. Porém, esta é uma queixa relativamente comum à nossa Cooperativa de trabalho. Um procedimento anestésico ė realizado e quando o profissional recebe a resposta, é surpreendido com a notícia de que foi glosado. Qual a justificativa para o não pagamento? Existem inúmeras, muitas sem fundamento. Atenta ao problema, a Coopanest-MG vem, ao longo do tempo, administrando com empenho esta dificuldade. Há um ano, fizemos uma nova estruturação no setor de Glosas e obtivemos uma significativa redução nos índices. Isso é resultado de um esforço conjunto. Depende do anestesista, da Cooperativa e do convênio. Ė importante que os dados enviados estejam corretos e legíveis e que as documentações sejam devidamente anexadas para que haja precisão na conferência de dados. Afinal, a dificuldade de análise geralmente resulta em não pagamento. Cooperados que entregam comprovantes com atrasos e registros imprecisos têm maior número de glosas. Trabalhamos em favor da organização, para que ela dependa mais dos sistemas do que dos seres humanos. Os processos têm que ser mais simples e rápidos. Gostaríamos de ter ao nosso alcance todas as informações para conferir os registros, mas uma parte está restrita aos hospitais e convênios. O Sistema Ágil da Coopanest-MG vai aprimorar as análises de recebimentos e de glosas, a digitalização das documentações facilitará a cobrança em todas as instâncias. No mais, agradecemos aos anestesistas que, em 2013, enviaram suas cobranças pela Coopanest- MG. A participação espontânea de todos com um ideal cooperativista favoreceu nossos resultados, demonstrados em assembleia. Dr. Lucas Araújo Soares Presidente da Coopanest-MG

Segurança e qualidade: pontos essenciais

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Nova diretoria da SAMG

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Desrespeito e desvalorização

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Mudar para melhor

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Uso pré-operatório do metoprolol e o risco de AVC após cirurgia não cardíaca

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Por melhores honorários

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Leituras recomendadas por elas

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Ser mulher hoje

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expediente COOPANEST-MG – Cooperativa dos Anestesiologistas de Minas Gerais Diretoria Executiva: Presidente: Dr. Lucas Araújo Soares • Diretor Administrativo: Dr. Rômulo Augusto Pinheiro • Diretor Financeiro: Dr. Geraldo Teixeira Botrel • Conselho de Administração: Dr. Carlos Leonardo Alves Boni, Dr. José Gualberto Filho, Dra. Márcia Rodrigues Neder Issa, Dr. Nordnei Soares de Paiva Campos Moreira • Conselho de Ética/Técnico: Dr. Adriano Bechara de Souza Hobaika, Dra. Cláudia Vargas de Araújo Ribeiro, Dr. Francisco Eustáquio Valadares, Dra. Juliana Motta Couto, Dr. Rodrigo de Lima e Souza, Dr. Rodrigo Guimarães Leite • Conselho Fiscal: Dr. Dimas Antônio Tavares de Andrade, Dr. Juarez Mundim Ribeiro, Dr. Júnio Rios Melo, Dra. Roberta Bernardes Rodrigues, Dr. Sérgio Caetano da Silva, Dr. Wendell Valadares Campos Pereira. Rua Eduardo Porto, 575, Cidade Jardim • Belo Horizonte • MG • CEP: 30380-060 COOPANEST: Tels.: (31) 3291-2142, (31) 3291-5536, (31) 3291-2716, (31) 3291-2498 • Fax: (31) 3292-5326 • coopanest@uai.com.br • www.coopanestmg.com.br SAMG: Tel/Fax: (31) 3291- 0901 • samg@samg.org.br • www.samg.org.br Produção: Prefácio Comunicação – Tel: (31) 3292-8660 Jornalista responsável: Celuta Utsch. Redação: Ana Flávia de Oliveira

SAMG – Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais

Presidente: Dr. Jaci Custódio Jorge • Vice-Presidente: Dra. Michelle Nacur Lorentz • 1º Secretário: Dr. Rogerio de Souza Ferreira • 2ª Secretária: Dr. Cláudia Helena Ribeiro da Silva • 1º Tesoureiro: Dr. Rômulo Augusto Pinheiro • 2º Tesoureiro: Dr. André Vinicius Campos Andrade • Diretor Científico: Dr. Antônio Carlos Aguiar Brandão • Diretor Social: Dr. Renato Hebert Guimarães Silva • Comissão Científica: Dra. Renata da Cunha Ribeiro, Dra. Flávia Quintão Silva Belém, Dr. Roberto Almeida de Castro, Dr. Jonas Alves Santana, Dr. Leandro Fellet Miranda Chaves • Comissão de Defesa Profissional: Dr. Joaquim Belchior Silva, Dr. Alexandre Assad de Morais, Dr. Nilson de Camargos Roso, Dr. Rodrigo Costa Villela, Dr. Celso Homero Santos Oliveira, Dr. Lucius Claudius Lopes da Silva • Comissão de Estatuto, Regulamentos e Regimentos: Dr. Eduardo Gutemberg M. Milhomens, Dr. Marcos Leonardo Rocha, Dra. Virginia Martins Gomes • Conselho Editorial: Coordenadores: Dr. Marcel Andrade Souki, Dra. Luciana de Souza Cota Carvalho – Membros: Dra. Bruna Silviano Brandão Vianna, Dra. Roberta Ferreira Boechat, Dr. Luciano Costa Ferreira, Dr. Wellington de Souza e Silva, Dra. Gisela Magnus, Dr. Thiago Gonçalves Wolf, Dra. Raquel Rangel Costa

Revista Anestesiologia Mineira Coordenadores: Dr. Celso Homero Santos Oliveira e Dr. Wanderley Rodrigues Moreira – Membros: Dr. Fernando Lima Coutinho, Dra. Flora Margarida Barra Bisinotto, Dr. Itagyba Martins Miranda Chaves, Dr. Lucius Claudius Lopes da Silva, Dr. Wellington de Souza Silva.


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SAMG entrevista

Atividades como checklists e registro, no prontuário, de todos os passos da assistência ao paciente não são burocracia. São formas de minimizar falhas e garantir a qualidade hospitalar. É o que defende a Dra. Fabiane Cardia Salman, anestesiologista especialista em Medicina e Administração em Saúde, com ênfase em anestesiologia, medicina perioperatória, medicina ocupacional, gestão, administração em saúde, qualidade e segurança. “Mesmo com a incorporação de tecnologias de última geração e barreiras de segurança diversas, se os anestesiologistas não desenvolverem uma cultura de segurança, o resultado ainda não será positivo.” Ela conversou com a revista Anestesiologia Mineira sobre os programas de melhoria da qualidade hospitalar, o incentivo à titulação e participação em seminários e congressos, o papel do anestesiologista, a necessidade de sintonia entre corpo clínico e direção e, principalmente, a importância da segurança em anestesia. Quais os objetivos primordiais dos programas de melhoria de qualidade hospitalar e acreditação? Os programas de melhoria da qualidade e acreditação têm como objetivos principais

Divulgação

Segurança e qualidade: pontos essenciais

Dra. Fabiane Cardia Salman

a minimização de falhas de processos assistenciais e administrativos nas instituições de saúde, assim como a prevenção de eventos relacionados à segurança do paciente, de seus acompanhantes, dos profissionais de saúde e do ambiente hospitalar. O aprimoramento da gestão dos hospitais também tem sido um foco dos processos de acreditação, e as lideranças das organizações estão cada vez mais envolvidas no controle de indicadores que refletem a prática as-

sistencial e a gestão administrativa dos hospitais. A alta direção, portanto, torna-se mais próxima da assistência, facilitando seu entendimento da implantação correta de processos de otimização e melhoria da eficiência, com evolução real da qualidade da assistência. O trabalho com o aumento a burocracia é compensado com a redução de riscos? Há um falta de entendimento quando se afirma que ocorre


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SAMG entrevista aumento da burocracia durante a implantação dos programas de qualidade e segurança nas instituições de saúde. O que ocorre, na realidade, é a ênfase da importância do registro da assistência no prontuário do paciente. Alguns médicos ainda acham que basta realizar a assistência, que o registro é desnecessário. Entretanto, após a década de 1990, com o Código de Defesa do Consumidor e os Procons, faz-se necessário que todas as informações assistenciais estejam registradas no prontuário. Essa prática também é recomendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) por meio do Código de Ética Médica. A aplicação do termo de consentimento informado pelo médico também é uma formalização e um registro da relação médico-paciente, e trata-se, inclusive, de instrumento de defesa do médico no caso de um processo jurídico. Qual o papel do anestesiologista na gestão de riscos? A Anestesiologia tem sido uma das especialidades médicas que mais incorporou os conceitos de tecnologia e segurança, por meio de checagens anteriores aos procedimentos (equipamentos, materiais e medicamentos), melhora da comunicação entre a equipe cirúrgica e treinamento de situações críticas. O anestesiologista tem papel fundamental na segurança dos pacientes cirúrgicos e deve participar, junto com toda a equipe multidisciplinar, da realização

das checagens de que o paciente, o procedimento e o ambiente cirúrgico estão corretos.

“A titulação dos médicos, seja o TSA, o mestrado ou o doutorado, sempre deve ser valorizada, pois reflete a preocupação deles com o aprimoramento técnico e científico.” Existe algum tipo de exigência ou mesmo de valorização de títulos como TSA, mestrado ou doutorado para um hospital que pleiteia reconhecimento pela excelência? Esses títulos são exigidos dos coordenadores das equipes? A titulação dos médicos, seja o TSA, o mestrado ou o doutorado, sempre deve ser valorizada, pois reflete a preocupação deles com o aprimoramento técnico e científico. Os hospitais têm utilizado sistemas de pontuação, baseados em meritocracia, que valorizam o ensino e a pesquisa, pois buscam um corpo clínico mais qualificado e atualizado. A participação em congressos,

eventos científicos e pesquisas, portanto, é estimulada. No caso dos coordenadores médicos, estimula-se não somente a conquista de títulos de mestrado e doutorado, mas cada vez mais a formação em administração em saúde. O coordenador de serviços médicos deve ter, além de conhecimentos profundos técnicos e científicos sobre a especialidade, o domínio em conceitos de gestão, políticas e administração em saúde para exercer de forma plena o gerenciamento da prática médica. Como fazer com que os médicos se interessem em aderir aos programas de melhoria da qualidade hospitalar? Ao longo dos anos, as instituições têm verificado que a adesão dos médicos aos programas de melhoria de qualidade e protocolos institucionais tem aumentado a partir do momento que ocorreu um esforço em inclui-los na discussão dos protocolos, na determinação da tecnologia a ser adquirida e na estruturação de setores. A transparência e a agilidade na comunicação com o corpo clínico são decisivas quando planejamos que os médicos participem e opinem mais a respeito das questões institucionais. A melhoria da segurança e da qualidade da assistência nos hospitais – objetivo comum de médicos e alta liderança dos hospitais – somente será alcançada com a adesão e a participação dos médicos de forma proativa e decisiva. O alinhamento entre as


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SAMG entrevista duas linhas de liderança (médicos e instituição) é fundamental para que o objetivo comum seja alcançado. Em sua opinião, a consulta pré-anestésica é uma recomendação ou uma obrigação? A consulta pré-anestésica, que ocorre antes da internação, deve ser estimulada, principalmente, em casos de pacientes graves e procedimentos de maior complexidade e alto risco. Isso porque pode ser necessário, por exemplo, solicitar exames laboratoriais e de imagem e realizar interconsultas, que são fundamentais para um planejamento adequado do cuidado anestésico. Também é o momento em que se estreita a relação do anestesista com seu paciente, aumentando não somente a confiança, mas a transparência relacionada a riscos, benefícios e alternativas à técnica anestésica. De quem é a responsabilidade em adquirir a aparelhagem de anestesia? Como deve proceder o anestesista mediante a falta de monitorização mínima exigida pelas normas de segurança? As instituições devem ser responsáveis por oferecer as condições mínimas para a realização de procedimentos anestésicos, de acordo com o porte cirúrgico e perfil dos pacientes atendidos. As condições mínimas estão relacionadas à estrutura, aos equipamentos, aos materiais e a medicamentos e devem estar dispo-

níveis, em número adequado e de acordo com as normas da Anvisa e demais regulamentadoras brasileiras. No caso dos aparelhos de anestesia e monitores, a instituição também deve ser responsável pelas manutenções corretivas e preventivas junto aos fabricantes, garantindo que seu parque tecnológico ofereça o máximo de segurança para os pacientes e profissionais de saúde. A Resolução do CFM n. 1802/2006 define que é responsabilidade do diretor técnico da instituição assegurar as condições mínimas para a realização da anestesia com segurança, e o anestesiologista deve requerer sempre que essa determinação seja cumprida. Em sua opinião, o anestesiologista deve iniciar uma anestesia estando presente no centro cirúrgico apenas o residente de cirurgia? Torna-se fundamental a presença do cirurgião responsável antes do início do procedimento, pois é nesse momento que se preconiza a realização de um dos passos mais importantes de segurança do paciente cirúrgico: o checklist de segurança do programa Cirurgia Segura Salva Vidas, da Organização Mundial de Saúde (OMS). Além da demarcação da lateralidade, nos casos em que se aplica, será verificado se o paciente, o procedimento proposto e o ambiente cirúrgico estão corretos, se o antibiótico foi administrado corretamente (horário, tipo, via, dose etc.) e se os equipamentos e materiais

necessários estão disponíveis e funcionando. Neste momento, a participação do cirurgião como responsável pela equipe torna-se determinante para o resultado seguro do procedimento. Quais são os passos principais para a redução de riscos em anestesia? É fundamental a incorporação de barreiras de segurança, como a checagem do funcionamento dos equipamentos, a realização de checklists antes dos procedimentos anestésicos e cirúrgicos e o uso de etiquetas coloridas e identificadas nas seringas e soros. Entretanto, mesmo com a incorporação de tecnologias de última geração e barreiras de segurança diversas, se os anestesiologistas não desenvolverem uma cultura de segurança, o resultado ainda não será positivo. Haverá a possibilidade de violação e falhas no seguimento de diretrizes e protocolos previamente estabelecidos, com riscos elevados de dano ao paciente. A comunicação efetiva, correta e oportuna entre a equipe dentro da sala cirúrgica e os setores da linha do cuidado (centro cirúrgico, unidade de terapia intensiva, pronto atendimento e unidades de internação), bem como entre o centro cirúrgico e os setores de apoio (farmácia, engenharia clínica, Serviço de Controle de Infecção Hospitalar – SCIH, por exemplo), é fator determinante para que falhas de processos e erros humanos não aconteçam ou tenham seus riscos minimizados.


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evento

Nova diretoria da SAMG O auditório do edifício Amadeus, em Belo Horizonte, foi o palco escolhido para a cerimônia de posse da nova diretoria da SAMG. No dia 25 de janeiro, a Sociedade recebeu amigos e colegas para o evento, que foi marcado pelo clima de confraternização. Reeleitos para o biênio 2014/2015, o presidente Jaci Custódio Jorge e a vice-presidente Michelle Nacur Lorentz reafirmaram sua disposição em se empenhar em prol dos colegas anestesiologistas. A classe, que conta com cerca de mil fi-

liados, tem o compromisso da diretoria de apoiar o conhecimento e a prática científica, bem como de estimular a mobilização profissional da especialidade. “Este é o grande papel da Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais: sensibilizar, ajudar, agrupar, reunir, repensar, somar esforços pela grandeza da nossa especialidade”, ressaltou o presidente. Jaci Custódio Jorge enfatizou, ainda, a importância da parceria com a Coopanest-MG, no que tange ao reforço da ação cooperativa

do órgão. Em seu discurso, ele destacou a necessidade de reavaliar o papel dos anestesiologistas ante a classe médica e a sociedade, bem como o papel da Sociedade Brasileira de Anestesiologia frente à AMB, reivindicando uma revisão expressiva dos portes anestésicos dos procedimentos da CBHPM. “A melhoria da remuneração anestésica é urgente e depende de todos nós. Não podemos e nem devemos ficar conformados com a escandalosa desvalorização da nossa profissão”, argumentou.


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Desrespeito e desvalorização Categoria sofre com os baixos honorários e valores defasados ofertados pelos convênios


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capa A maioria dos anestesiologistas está descontente no que diz respeito aos valores ofertados pelos convênios em Minas Gerais. Os profissionais convivem com o pagamento de baixos honorários e desrespeito por parte dos convênios, que repassam os valores defasados. Mas, se por um lado o cenário do mercado não é dos melhores, por outro, a mobilização é um ponto a ser destacado. Tanto pela atuação da Coopanest-MG e da SAMG, que vêm brigando por valores mais justos, quanto pela iniciativa dos próprios médicos, que vêm reivindicando seus direitos. Nos depoimentos a seguir, diferentes realidades e um ponto em comum: a insatisfação com o mercado de trabalho. Leandro Brás, que atua na área há 15 anos, diz que as condições oferecidas pelos planos só pioram com o passar do tempo. “O pagamento deveria ser feito de acordo com a tabela da CBHPM, mas os convênios, principalmente, a Unimed-BH, não acompanham os valores e pagam abaixo do preço de mercado”, denuncia. Segundo ele, os planos não pagam o valor correspondente ao porte e algumas vezes mudam o porte para que a remuneração seja menor. Integrante da Comissão de Honorários da Samg, ele destaca ainda que a negociação com as operadoras de planos de saúde são complicadas por vários motivos. Um deles é que as instituições se baseiam na principal

empresa do ramo para fixar os preços, e as demais seguem o mesmo exemplo. “Houve, inclusive, um retrocesso na negociação com a Unimed. Eles aceitaram o reajuste dos honorários, mas voltaram atrás. Esperamos que a situação se resolva com a realização de eleições este ano”, desabafa. Outro fator que atrapalha o diálogo é, para Leandro Brás, o pagamento de procedimentos múltiplos. “O plano, em geral, paga pelo processo mais caro e nós ficamos sem receber os complementares, além de reduzirem gastos de forma arbitrária e estabelecerem regras internas a fim de economizar no pagamento dos honorários”, explica. Sérgio da Silva Moraes, que trabalha nos Hospitais da Baleia e de Olhos de Belo Horizonte, compartilha da mesma insatisfação no tocante aos honorários. Para ele, a remuneração é injusta porque o profissional se dedica aos estudos, abre mão de várias coisas para priorizar a qualificação e não tem reconhecimento financeiro. Ele lembra que o especialista conhece os riscos que envolvem uma anestesia para o paciente e que fica desestimulado quando se depara com o pagamento de valores tão baixos. “O desconhecimento acerca do nosso trabalho é muito grande. Nem os médicos e nem a população compreendem a complexidade do procedimento. Para a maioria trata-se apenas de uma agulhada nas costas, mas se feita de forma inadequada pode ser a

diferença entre a vida e a morte de uma pessoa”, ressalta. Kleber Pires, diretor da Santacoop, é favorável a conduta das operadoras quando estas atuam de forma transparente. “Não tenho nada contra os convênios desde que visem a pontualidade nos pagamentos e nos reajustes e também agilizem as discussões e soluções das glosas. Que estes fatores não sejam usados como forma de protelar os pagamentos”, justifica. Fábio Maciel Rosa Pereira, que atende no Hospital Felício Rocho, percebe que, nos seus cinco anos de carreira, nada mudou em relação ao pagamento dos honorários. Entretanto reconhece que os colegas estão reivindicando melhores valores aos planos de saúde. “Não estou satisfeito com o valor que recebemos porque o pagamento é feito de acordo com a CBHPM, mas quase sempre com taxas defasadas porque as empresas não atualizam a tabela e quando o fazem repassam com um valor abaixo do estipulado”, reclama. Para o médico Crélio Viana, do Hospital Madre Tereza, houve uma melhora considerável no pagamento dos profissionais com a atuação da Coopanest-MG. “Ainda não é o ideal, mas está razoável”, revela. “Os planos não pagam o valor pleno da nossa tabela, eles efetuam os pagamentos dentro de uma porcentagem, em alguns casos recebemos perto do total e quando há mais de um procedimento ganhamos 100% do valor


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capa mais alto e quando são de vias diferentes a remuneração é realizada de acordo com as respectivas porcentagens”, completa. Outra vantagem que o anestesiologista aponta é que atualmente os profissionais já estão sendo pagos pelas consultas pré-anestésicas, o que, na visão dele, foi um avanço para a categoria. A doutora Aparecida Perdigão, que está na área há mais de três décadas, lamenta a piora na valorização financeira do trabalho dos especialistas em anestesia. Atualmente atendendo pacientes conveniados à Unimed, além de outras atividades, ela destaca que a baixa remuneração é responsabilidade de médicos e das operadoras de planos de saúde. “As minhas consultas duram entre 30 e 40 minutos, chegando a 50 em alguns casos, mas nunca menos de 20 minutos. Como a remuneração é pequena, alguns médicos fazem os atendimentos em até 10 minutos para ganhar mais”, avalia. Aparecida faz um cálculo aproximado dos valores dos honorários pagos pelo principal convênio de Belo Horizonte. “Eles pagam em torno de R$ 40,00. Deste valor devemos abater INSS e Imposto de Renda, por exemplo. Para o médico sobra cerca de R$ 30,00 por consulta, o que é muito pouco”, constata. Ela lembra ainda que entre a graduação e especialização, os profissionais gastam, em média, nove anos, sem falar nos cursos

de atualização. Por este motivo o pagamento é muito aquém do que deveriam receber. Segundo ela, em uma jornada de oito horas de trabalho atende cerca de 15 pacientes, enquanto, no mesmo período, passam pelos consultórios dos colegas de 30 a 40 pessoas. Houve uma banalização do papel do médico. “Os profissionais precisam ter mais contato com os pacientes, conversar e fazer uma anamnese detalhada ao invés de apenas pedirem exames laboratoriais e radiológicos. Dessa forma

evitariam muitas complicações durante as cirurgias”, ensina. Insatisfação também é a palavra que define o sentimento de Márcio Craveiro em relação aos honorários. “Não temos tido repasses significativos há bastante tempo, são sempre inferiores aos índices inflacionários e aos reajustes dos planos de saúde para o usuário”, observa. E acrescenta que a única forma de manter os rendimentos é aumentando a carga de trabalho, muitas vezes abrindo mão da qualidade de vida.


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capa

Ágil A fim de evitar transtornos e dar mais um passo em busca de melhorias na cobrança de repasse dos honorários, a Coopanest-MG inovou e desenvolveu o Ágil, um sistema de análise com maior precisão e que será ainda mais eficiente no controle de glosas, reduzindo assim os índices atuais. De uso simples e rápido, o programa será disponibilizado como aplicativos nas plataformas mais comuns do mercado, podendo ser usado no smartphone, tablet ou computador. O novo sistema promete facilitar o procedimento, tornando-o mais objetivo e minimizando equívocos. Como o próprio nome diz, haverá mais agilidade no faturamento com a união de todas as informações necessárias em um mesmo local de modo organizado, dando mais transparência ao processo. A novidade ainda está em teste, mas a direção da cooperativa acredita que o aplicativo terá boa

adesão. E enquanto o sistema não funciona em sua capacidade total, os médicos comentam os índices de glosas e o papel da Coopanest-MG na busca por melhores condições. Sérgio da Silva Moraes trabalha com anestesias de todo tipo, desde os procedimentos de alta complexidade no Hospital da Baleia e outras mais simples no Hospital de Olhos. Para ele, a Coopanest-MG é uma facilitadora no recebimento das glosas. “O que há de bom é que a cooperativa efetua o pagamento e corre atrás das cobranças, o que descomplica a nossa vida”, reflete. Quanto às glosas, al-

guns médicos não enfrentam transtornos. Fábio Rosa Pereira diz que o índice de glosas se mantém estabilizado e crê que a informatização dos sistemas, tanto por parte da Coopanest-MG quanto pelos hospitais ajuda a reduzir os problemas. “Quando o processo é realizado pelo computador, as chances de haver falha humana são menores, além de eliminar a burocracia do sistema convencional, mas para garantir que os trâmites estão sendo feitos da maneira correta, é importante que o profissional seja vigilante. Eu acompanho pessoalmente dos meus”, ensina.


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em foco

Mudar para melhor Para reduzir a incidência de glosas e melhorar o atendimento, área passou por reformulação As glosas ocorrem, essencialmente, por fatores administrativos (falta de documentos e/ou assinaturas) ou técnicos, quando a auditoria identifica que o procedimento não foi feito ou quando um já inclui outro. A penalidade pode ser parcial ou total. Mas alguns cuidados no preenchimento das guias podem reduzir as incidências, melhorar o relacionamento entre Cooperativa, cooperados e convênios e evitar o atraso ou a redução no valor dos honorários médicos, na diferença de faturamento, no trabalho e nos custos desnecessários. Quando um médico é glosado, todos os envolvidos nos processos sofrem com os transtornos, ou seja, a Cooperativa, o cooperado e as operadoras de plano de saúde. Sua incidência gera custos administrativos e operacionais, além de um prazo adicional médio de 60 dias para efetivação do repasse. Para melhorar o atendimento ao cooperado e reduzir a incidência de glosas na Coopanest-MG, o setor especializado nestas questões passou por uma reestruturação em 2013. A equipe foi ampliada para aten-

der a demanda. Atualmente, um profissional se ocupa do atendimento ao cooperado e das cobranças, enquanto os demais trabalham nos recursos. “Ao destinarmos uma pessoa só para a cobrança junto aos convênios, tivemos resultados positivos”, esclarece a gerente administrativa, Junia Laia. No Serviço de Anestesiologia do Hospital Socor, 2013 foi o ano com o menor registro de glosas. Segundo a secretária do departamento, Heloísa Magalhães, os médicos receberam muitas glosas antigas. “A equipe da Coopanest-MG está se mostrando comprometida, recebemos pagamentos que já não esperávamos mais”, comemora. Uma das cooperadas com o menor nível de glosas é a doutora Telse Sanglard, com índice em torno de 2%. Ela conta que, para evitar problemas, toma algumas medidas: “Escrevo uma justificativa à mão para cada paciente, explicando em detalhes a minha participação no procedimento, as secretárias já providenciam a senha de autorização antes da realização do exame, além de selecionar os planos mais fáceis de trabalhar.” A médica trabalha com procedimentos de

Para Dr. Arthur, as glosas são uma preocupação antiga, mas a nova gestão conseguiu evoluir e diminuir esse problema

porte zero, como endoscopia e colonoscopia. Ex-diretor da Coopanest-MG, Artur Palhares já convivia, em sua gestão, com o problema gerado pelas glosas. Segundo ele, esta era uma preocupação antiga, porque a instituição não conseguia atender os cooperados como gostaria, mas a nova gestão conseguiu uma importante evolução na área. “As glosas são muito frequentes e, se não tiverem controle, os médicos podem ter um prejuízo de 20 a 25%”, avalia.


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em foco

A Coopanest-MG possui uma equipe especializada em prevenção de glosas

Evite glosas em seus procedimentos Compreender o motivo pelo qual o procedimento faturado não foi aceito pelo contratante e evitar a sua reincidência é muito importante para eficácia dos processos e a melhoria do relacionamento entre os envolvidos. Para evitar aborrecimentos, siga algumas dicas da Coopanest-MG: 1 – As cobranças precisam ser enviadas à Cooperativa logo após a execução do procedimento. Fique atento aos prazos de caducidade das contas de cada convênio. Eles variam de 60 a 90 dias. A documentação solicitada para o recurso de glosa e não encaminhada pela secretaria ou pelo próprio cooperado no prazo estabelecido será devolvida, impossibilitando, definitivamente, aquele recurso. 2 – O preenchimento dos dados do paciente, como nome, matrícula, senha, procedimentos, deve ser feito de forma clara. 3 – Especifique onde o procedimento foi realizado (hospital-dia, ambulatório, CTI, apartamento ou enfermaria). 4 – O envio de cobrança em de-

sacordo com o que realmente foi autorizado é passível de glosa. Certifique-se de que o que está registrado na autorização junto ao convênio é o que está preenchido nos documentos de cobrança. Ao cobrar o acréscimo de 30% de horário de urgência, verifique se a cirurgia foi programada. Estes procedimentos não serão considerados como urgência, mesmo se executados dentro dos horários estabelecidos nas tabelas vigentes. 5 – Alguns convênios fornecem a senha antecipadamente e exigem o registro das senhas de autorização nos formulários de atendimento. Confirme se os números e de procedimentos realizados são os autorizados pelo convênio. Atenção para este item, porque, na maioria dos casos, a senha é fornecida anteriormente à realização do procedimento, o que pode gerar uma glosa irrecuperável, já que na maioria dos casos, não existe o fornecimento de senhas retroativas. 6 – A apresentação da justificativa (não padronizada) é indispensável para execução de determi-

nados procedimentos. Não se esqueça de enviar este relatório, com justificativa do anestesista e em alguns casos, do cirurgião. 7 – A maioria das operadoras de planos de saúde procede à auditoria nas contas hospitalares e honorários médicos antes do envio do faturamento. Certifique junto ao hospital a necessidade de apreciação dos seus honorários e, somente depois da aposição do visto da auditoria, envie sua conta para a Coopanest-MG. Quando possível, entre em contato com o auditor para conseguir a liberação, o que poderá agilizar o processo de cobrança. 8 – Quando houver mais de um procedimento, devem ser colocados os percentuais, conforme a via de acesso do procedimento. 9 – A assinatura do paciente ou de seu representante deverá ser observada em toda a documentação referente à execução do procedimento, inclusive na folha de sala. 10 – A assinatura e o carimbo do anestesiologista são imprescindíveis, em toda a documentação, inclusive na folha de sala.


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artigo

Uso pré-operatório do metoprolol e o risco de AVC após cirurgia não cardíaca Mashour G A; Sharifpour M; Freundlich R E et al – Perioperative Metoprolol and Risk of Stroke after Noncardiac Surgery”. Anesthesiology 2013; 119:1340-6. Este foi um estudo retrospectivo1 onde foram avaliados 57.218 pacientes consecutivos com evidências radiológicas de AVC, até 30 dias após cirurgias não cardíacas. A incidência de AVC no período perioperatório foi de 55 dos 57.218 (0.09%). O uso pré-operatório do metoprolol foi associado com aumento do AVC perioperatório, comparado com atenolol, bem como o uso intraoperatório. Entretanto, o metoprolol não foi um fator de risco independente para AVC. Foi demonstrado que o uso rotineiro do metoprolol intraoperatório, mas não outros β bloqueadores, associou-se ao aumento de AVC após cirurgias não cardíacas. No entanto, deve ficar claro que não se deve interromper o uso do metoprolol no pré-operatório para aqueles pacientes que fazem uso rotineiro do fármaco. Este estudo1 sugere que os achados do “PeriOperative Ischemic Evaluation Trial” (POISE)2, provavelmente refletiram um efeito específico do metoprolol, sugerindo que os β bloqueadores alternativos, provavelmente, são mais seguros no período perioperatório. Os estudos recentes mostraram que é necessária maior estratificação dos pacientes no perioperatório para uso dos β bloqueadores e que os β bloqueadores intravenosos, como o esmolol, podem ser uma alternativa mais segura no período perioperató-

rio; mesmo o labetalol pode ser preferível até que maiores evidências esclareçam o real papel do metoprolol no AVC. Evidências de variações genéticas em outros estudos3 demonstraram que o metoprolol pode não ser o melhor betabloqueador. Além disso, o início gradual e a titulação são necessários no intraoperatório, o que torna o esmolol mais atrativo que o metoprolol. Apesar dos β bloqueadores protegerem contra complicações isquêmicas, especialmente nos pacientes de risco, eles podem aumentar a mortalidade. Estudos prévios já demonstraram aumento da morbimortalidade com uso perioperatório de β bloqueadores como o DIPOM (Diabetic postoperative mortality-morbidity)4, sendo que o metoprolol 100mg/dia ou placebo foi iniciado antes da cirurgia até oito dias no pós-operatório; não houve aumento da mortalidade, entretanto, ocorreu aumento da incidência de hipotensão e bradicardia. O MaVS trial (Metoprolol after Vascular Surgery)5 foi um estudo duplo cego aleatório, utilizando placebo ou metoprolol duas horas antes da cirurgia e duas horas após a mesma; a ocorrência de bradicardia e hipotensão foi mais frequente no grupo metoprolol e em seis meses, não houve diferença nos eventos cardiovasculares. Já o POISE2 avaliou 8.351 pacientes de risco, que foram

randomizados para receber placebo ou metoprolol 100mg via oral 2–4 horas no pré-operatório, mantendo o metoprolol por até 30 dias no pós-operatório. Se a via oral não estivesse disponível, eram administrados 15 mg de metoprolol intravenoso, de 6 em 6 horas. O metoprolol aumentou a mortalidade e a incidência de AVC. Posteriormente, o DECREASE IV6 demonstrou que pacientes que receberam bisoprolol apresentaram redução no IAM, até 30 dias após a cirurgia, sem aumento de AVC. O uso profilático de β bloqueadores também tem sido fortemente debatido. O consenso é que o uso a longo prazo do betabloqueador não deve ser interrompido. Da mesma forma, o uso intravenoso para tratamento de taquicardia, hipertensão ou isquemia tem resultados comparáveis ou superiores ao uso profilático. Entretanto, estudos subsequentes são aguardados para esclarecer o uso perioperatório dos β bloqueadores, especialmente o metoprolol e a ocorrência de AVC.

1. Anesthesiology 2013; 119:1340-6. 2. Lancet 2008; 371:1839-47. 3. Anesthesiology 2011; 115:1316 -27. 4. Br Med J 2006;332:1482. 5. Am Heart J 2006;152:983-90. 6. Ann Surg 2009; 249:921-6.


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Negociações

Economista Denize Campos

Por melhores honorários Setor de Negociação trabalha tendo como foco os cooperados

O Departamento de Negociação da Coopanest-MG foi criado em 1996, com o intuito de negociar as planilhas de honorários médicos. Todos os anos, antes do vencimento do contrato com o convênio, inicia-se o período de reuniões para o reajuste das tabelas, que varia de acordo com cada operadora de plano de saúde. A economista responsável pela negociação, Denize Campos, realiza uma pesquisa nacional para tomar conhecimento de como está o mercado. Com base nas informações dos outros estados, é possível estabelecer um valor de referência para iniciar a temporada de negociações com os convênios. Uma das conquistas da área foi conseguir que todos os planos sejam pagos pela CBHPM. “Foi di-

fícil concretizar a migração da AMB para a CBHPM, mas um ponto positivo foi a melhoria dos portes anestésicos”, esclarece Denize. Após a mudança de tabela, os planos tiveram que fazer grandes adaptações no programa de pagamento dos honorários. “As empresas tiveram que investir em uma nova configuração para atender as demandas geradas pela nova tabela”, justifica. E os cooperados reconhecem os ganhos com as negociações. Filiado à Coopanest-MG por alguns anos, o Doutor Jaider Fernandes, do Centro de Tomografia Computadorizada de Minas Gerais, deixou a organização, mas voltou em fevereiro, ao constatar que os honorários pagos pela Cooperativa eram melhores. “Fiz uma pesquisa e per-

cebi que os valores da Coopanest-MG eram mais atrativos dos que os da clínica, por isso decidi trazer todas as minhas contas.” A médica Terezinha Vilma Alkmin, que trabalha no Hospital das Clínicas e no Odilon Behrens, também presta serviço para clínicas de regime ambulatorial e reconhece a importância de ter uma instituição intermediando a negociação de valores entre clínicas e profissionais. “Às vezes, as clínicas fecham pacotes e não comunicam os preços ao anestesista. Quando nos damos conta, o honorário está bem abaixo do mercado. A vantagem de ser cooperada é que a Coopanest-MG busca as melhores taxas para nós. Sempre que vou fazer um atendimento em empresa filiada deixo a negociação por conta da Cooperativa.”


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Leituras recomendadas por elas Anestesiologistas contam como surgiu o interesse pelos livros e dão dicas

Na infância, o hábito da leitura é eficiente no aumento do vocabulário, além de ajudar no desempenho escolar. Aluno que lê com frequência tende a aprender mais rápido. Já na fase adulta, quem lê detém um amplo poder de argumentação. O alicerce proporcionado pela leitura permite estruturar o raciocínio de forma mais fundamentada, uma vez que amplia a visão de mundo. Embora não seja uma regra, o interesse pelo universo dos livros costuma ocorrer no final da infância e início da adolescência, muitas vezes, pelo exemplo dos pais. Muitos introduzem o hábito na família logo que os filhos nascem.

Por vezes, nos deparamos com relatos de pais que leem para os bebês logo nos primeiros meses de vida. Com o passar dos anos, a atividade torna-se natural e para os pequenos, é normal encontrar os pais lendo jornais ou se divertindo com um bom livro. Apesar de prazerosa, encontrar um tempo para a literatura não é muito fácil em meio a tantas tarefas diárias. Principalmente no caso das mulheres, que, de modo geral, administram a casa, a educação dos filhos, a carreira e o casamento. Mesmo assim, elas se planejam para dedicar um tempo do seu dia aos livros. A médica anestesiologista Dé-

bora Gebber conta que a paixão pela literatura começou ainda na infância, influenciada pelos pais e a escola. Ela preenche o tempo livre com leituras de todos os estilos, mas tem um gosto especial pelas publicações sobre o período do holocausto. “Sei que não é todo mundo que aprecia, mas é o que mais gosto de ler”, afirma. O hábito já está passando para outras gerações. “Sempre estimulei os meus filhos a lerem. Agora, estou passando o gosto pelos livros aos meus netos. Existem opções excelentes para crianças. Há até livros para bebês, feitos de pano e outros que podem ser usados na água, durante o banho”, destaca.


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Dra. Débora gosta de usar o tempo livre para ler e repassar o hábito para os filhos

A médica Michelle Nacur também foi despertada cedo para o prazer de se aventurar em um bom livro. Ainda na adolescência, ela leu os grandes clássicos da língua portuguesa, como os de Machado de Assis, Guimarães Rosa e Érico Veríssimo, entre outros, e autores internacionais como os russos Tolstói e Dostoiévski. Mãe de duas meninas, uma de 12 e outra de 14 anos, ela incentiva a leitura. Os romances e os livros sobre geopolítica e história antiga são os preferidos. “Eu tento dissuadi-las a assistir televisão. Na minha casa não temos este hábito, então, no horário da novela – que é proibida, pois

acredito que seja algo que traz muitos exemplos equivocados e que nada acrescentam – nós lemos, nem que seja um capítulo por noite. Acredito que a leitura, como muitas coisas na vida, é um hábito. Então encorajo as pessoas a criá-lo”, observa. Mas o estímulo não acontece apenas em família. “Tenho algumas amigas que também gostam muito de ler, por isso, eu recomendo alguns títulos que gostei”, acrescenta. Outra aficionada pela literatura é Alessandra Lanna. A anestesista, que trabalha na Endoscopia Clínica e Cirúrgica e no DDI/Hermes Pardini, foi uma leitora compulsiva na infância e adolescên-

cia. Quando criança teve como companhia os livros de Monteiro Lobato e da Coleção Vagalume. Depois, vieram Jorge Amado, os clássicos brasileiros e autores estrangeiros. “Lia crônicas e romances e adorava virar a noite lendo, mesmo quase sempre ‘desmaiando’ sobre o livro”, relembra. Ela já não consegue ler na mesma frequência de antes, mas sempre que tem um tempo livre, aproveita. E, em casa, o exemplo está sendo seguido pelas filhas. “As duas já se encantaram pelos livros. A mais velha, de 10 anos, é tão ou mais compulsiva que eu para a leitura e a caçula, de sete anos, segue o mesmo caminho”, orgulha-se.


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Dicas de livros Débora Gebber Os Pilares da Terra Autor: Ken Follett Editora: Rocco Categoria: Literatura Estrangeira / Romance Os Pilares da Terra é um romance britânico escrito por Ken Follett e publicado em 1989. O livro retrata os conflitos da Inglaterra do século XII e o surgimento de uma nova ordem social e cultural. Mundo sem Fim Autor: Ken Follett Editora: Rocco Categoria: Literatura Estrangeira / Romance O livro, publicado em 2007, é sequência de Os Pilares da Terra, o romance mais famoso do autor. A ação se passa na mesma cidade, Kingsbridge, mas cerca de 200 anos depois da primeira história. Michelle Nacur A década perdida – dez anos de PT no poder Autor: Marco Antônio Villa Editora: Record Categoria: Ciências humanas e sociais A publicação resgata os principais acontecimentos do período compreendido entre 2003 e 2012, desde quando o Partido dos Trabalhadores assumiu o governo federal até a primeira metade do mandato da presidente Dilma Rousseff, e faz um retrato dos governos Lula e Dilma. “Indico esta leitura porque a classe médica não pode ficar alienada acerca do que acontece na política do nosso país. O livro é objetivo e de leitura fácil.” Cabine para Mulheres Autor: Anita Nair Editora: Nova Fronteira Categoria: Literatura Estrangeira / Romance A história se passa no interior de uma cabine de trem destinada a mulheres – algo comum na Índia até a década de 90. Ao longo da narrativa, são abordadas questões do universo feminino e a autora questiona se o amor não seria uma necessidade disfarçada. Alessandra Lanna Arroz de Palma Autor: Chico Azevedo Editora: Record Categoria: Romance O livro é narrado por um senhor já na velhice e conta a saga de uma família que veio de Portugal no século XX em busca de uma vida melhor. O romance mostra a vida da família, ao longo de cem anos.


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homenagem

Ser mulher hoje No mês dedicado às mulheres, a Coopanest-MG homenageou as colegas anestesiologistas com um evento especialmente preparado para elas. Realizado no dia 21 de março no Edifício Amadeus, houve a palestra Ser Mulher Hoje, com a jornalista e escritora Leila Ferreira. A profissional, bem conhecida do público mineiro por sua experiência como repórter de TV e entrevistadora, tratou com bom humor e simpatia os desafios da mulher moderna como a conciliação do trabalho, as obrigações com a família e compromissos sociais sem deixar a vaidade, saúde e vida afetiva em segundo plano. O encontro foi prestigiado não apenas pelos médicos, mas também pelas esposas dos nossos cooperados. Foram sorteados exemplares autografados dos livros de Leila Ferreira. Ao final da apresentação, o clima descontraído tomou conta do ambiente, onde foi oferecido um coquetel que promoveu o reencontro entre amigos. “Ficamos felizes com a participação do público, da interação da plateia com a palestrante e com a qualidade do evento”, comemora Rômulo Pinheiro, diretor administrativo da Coopanest.



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