Anestesiologia

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Revista Anestesiologia Mineira

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Revista da Samg e Coopanest-MG - Edição 7

Maio/Junho/Julho 2014

O perfil do anestesiologista Estudo mostra principais problemas profissionais e de saúde da categoria

O pet como aliado contra o estresse

Aplicativo Ágil facilita a vida dos anestesiologistas


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editoriais

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Os médicos, os anestesiologistas em especial, algumas vezes sofrem transtornos psíquicos e emocionais decorrentes do excesso de trabalho. A síndrome do Burnout, descrita na década de 1970, está intimamente relacionada às condições de trabalho desgastantes. Os esgotamentos físico e mental, associados a sintomas como cefaleia, tremores, alterações do humor e do sono, além de dificuldade de concentração, podem levar à despersonalização do profissional, acarretando sofrimento para si e para seus familiares. Além de estarem predispostos a esse tipo de problema, os médicos acabam se tornando mais vulneráveis à depressão e à ansiedade devido ao estresse do dia a dia e às longas jornadas de trabalho, com pequenos intervalos de recuperação. Preocupados com esse delicado e importante assunto, abordaremos nesta edição a ansiedade, a depressão e a drogadição, dentre outros problemas que podem afetar os profissionais que trabalham sob tanto estresse, como os médicos. Devemos estar atentos e vigilantes com nossa saúde física e mental. Saber avaliar o quanto a quantidade do nosso trabalho está interferindo na nossa saúde é fundamental. Abuso de álcool e outras substâncias para diminuir a ansiedade é uma armadilha perigosa que só agrava o problema. Devemos tentar buscar uma vida mais saudável, com prática de exercícios físicos e disponibilizar algum tempo para o lazer e para o convívio com amigos e familiares. Às vezes, pequenas coisas que mudamos na nossa rotina tornam nossa vida muito mais agradável. Dra. Michelle Nacur Lorentz Vice-presidente da SAMG

Prezados colegas: Uma cooperativa tem propriedade coletiva democraticamente gerida, embasada em valores e princípios próprios. Busca resultados econômicos e sociais, reduzindo os efeitos negativos de um mundo concorrencial e excludente. A cooperativa permite ao indivíduo superar dificuldades e problemas que, sozinho, ele nāo reúne condições suficientes para vencer. Ela promove um sistema mais justo e humano de distribuição de riqueza. Dentre os princípios do cooperativismo, contamos com o da intercooperaçāo. Segundo esse princípio, as cooperativas trabalham de forma conjunta, trazendo mais eficácia a uma estratégia de mercado. Na sociedade médica, seus membros participam em número crescente nas cooperativas de serviços, crédito e produtos, o que tem auxiliado na promoção e manutenção da dignidade da profissão. A adesão crescente aos diversos segmentos e a consciência da intercooperação constituem ferramenta no acesso e manutenção dos mercados. As cooperativas ainda têm muito que compartilhar para tornar a intercooperação uma estratégia de maior sucesso.

Dr. Lucas Araújo Soares Presidente da Coopanest-MG


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Índice Entrevista com o psiquiatra Fernando Volpe

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Intercooperação busca fortalecer a classe

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Ágil: o aplicativo que facilita a vida dos anestesiologistas

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Capa: Um estudo sobre nossa categoria

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Exames pré-operatórios Leitura recomendada O pet como aliado Aplicativos recomendados

expediente COOPANEST-MG – Cooperativa dos Anestesiologistas de Minas Gerais

SAMG – Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais

Rua Eduardo Porto, 575, Cidade Jardim • Belo Horizonte • MG • CEP: 30380-060 COOPANEST: Tels.: (31) 3291-2142, (31) 3291-5536, (31) 3291-2716, (31) 3291-2498 • Fax: (31) 3292-5326 • coopanest@uai.com.br • www.coopanestmg.com.br SAMG: Tel/Fax: (31) 3291- 0901 • samg@samg.org.br • www.samg.org.br

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Presidente: Dr. Jaci Custódio Jorge • Vice-Presidente: Dra. Michelle Nacur Lorentz • 1º Secretário: Dr. Rogerio de Souza Ferreira • 2ª Secretária: Dra. Cláudia Helena Ribeiro da Silva • 1º Tesoureiro: Dr. Rômulo Augusto Pinheiro • 2º Tesoureiro: Dr. André Vinicius Campos Andrade • Diretor Científico: Dr. Antônio Carlos Aguiar Brandão • Diretor Social: Dr. Renato Hebert Guimarães Silva • Comissão Científica: Dra. Renata da Cunha Ribeiro, Dra. Flávia Quintão Silva Belém, Dr. Roberto Almeida de Castro, Dr. Jonas Alves Santana, Dr. Leandro Fellet Miranda Chaves • Comissão de Defesa Profissional: Dr. Joaquim Belchior Silva, Dr. Alexandre Assad de Morais, Dr. Nilson de Camargos Roso, Dr. Rodrigo Costa Villela, Dr. Celso Homero Santos Oliveira, Dr. Lucius Claudius Lopes da Silva • Comissão de Estatuto, Regulamentos e Regimentos: Dr. Eduardo Gutemberg M. Milhomens, Dr. Marcos Leonardo Rocha, Dra. Virginia Martins Gomes • Conselho Editorial: Coordenadores: Dr. Marcel Andrade Souki, Dra. Luciana de Souza Cota Carvalho – Membros: Dra. Bruna Silviano Brandão Vianna, Dra. Roberta Ferreira Boechat, Dr. Luciano Costa Ferreira, Dr. Wellington de Souza e Silva, Dra. Gisela Magnus, Dr. Thiago Gonçalves Wolf, Dra. Raquel Rangel Costa. Coordenadores: Dr. Celso Homero Santos Oliveira e Dr. Wanderley Rodrigues Moreira – Membros: Dr. Fernando Lima Coutinho, Dra. Flora Margarida Barra Bisinotto, Dr. Itagyba Martins Miranda Chaves, Dr. Lucius Claudius Lopes da Silva, Dr. Wellington de Souza Silva.


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SAMG entrevista

Os possíveis males da classe médica Nossa equipe de reportagem conversou com um dos mais renomados médicos psiquiatras do Brasil. Fernando Volpe é mestre em Epidemiologia pela UFMG e Doutor em Psiquiatria e Psicologia Médica pela Unifesp. Na entrevista, ele falou sobre depressão, doenças que podem afetar a classe médica e as principais medidas a serem tomadas para garantir a saúde mental.

A depressão é uma doença comum na atualidade. Entretanto, existem dados alarmantes quando se trata de depressão no meio médico, havendo estatísticas indicando até 40% de incidência dessa doença entre a classe. O senhor concorda com esses números? O médico é realmente mais suscetível à depressão que a população geral? A depressão é uma doença muito frequente na população geral. No meio médico, o problema parece ter uma manifestação precoce, ainda durante a graduação. A prevalência de depressão entre alunos de Medicina já é relativamente elevada, especialmente quando consideramos a faixa etária envolvida. Dentre os formados, há menos estudos disponíveis. Como a depressão é mais frequente em mulheres (em torno de 2:1), o foco tem se dado nesse grupo: as prevalências giram entre 20% e 50% - de fato, um pouco mais elevadas do que as da população geral. Esse fato é surpreendente para muitos, pois existe um imaginário de que o médico seria invulnerável. Sabe-se que a depressão é a doença mental mais comum entre médicos. Existem especialidades mais propensas ou mais vulneráveis ou

ela atinge igualmente todas as especialidades? De forma geral, os transtornos mentais mais frequentes são os do grupo dos transtornos da ansiedade, incluindo aí as fobias, os transtornos de ajustamento, as crises de pânico, as conversões e somatizações diversas, o transtorno obsessivo-compulsivo e a ansiedade generalizada propriamente dita. O que ocorre é que os transtornos ansiosos muitas vezes não chegam ao consultório; são manejados a duras penas e sem ajuda profissional. Isso é muito preocupante, pois, além de serem frequentes, são transtornos crônicos e limitantes, e podem conduzir a um tipo de depressão secundária – ligada à desmoralização decorrente do sofrimento persistente que provocam, assim como as doenças físicas o fazem. Não conheço estudos que tenham investigado a prevalência de transtornos ansiosos dentre os médicos. Quanto às especialidades, nós, os psiquiatras, é que aparentemente estamos em maior risco, e não os anestesiologistas. Falta de condições de trabalho, excesso de carga horária, tensões do dia a dia, dificuldade em lidar

com frustrações ou resultados desfavoráveis no tratamento dos pacientes com certeza geram uma conta emocional muito alta a ser paga pelo médico. Será que estamos preparados para isso? Eu resisto à ideia de atribuir a ocorrência de depressão aos estresses da rotina. O que vejo é que, especialmente dentre os homens, é difícil falar de sentimentos. A queixa principal é o excesso de trabalho, não porque seja realmente o fator mais importante, mas porque é o que se dá conta de dizer. Ninguém escolhe a profissão por acaso. Existem mecanismos inconscientes que determinam muitas de nossas decisões, isso inclui como e em que ritmo cada um deseja viver sua vida. Creio que, em grande parte, sejamos autores, e não vítimas, desse estresse. O que percebo é que existe uma predisposição para adoecer, por exemplo, mentalmente, e que os fatores estressantes se acumulam. O modelo etiológico mais aceito é o multifatorial, em que constituição, personalidade e fatores estressantes imediatos se associam para a gênese das doenças mentais. O médico, enquanto paciente, algumas vezes assume a responsabilidade de automedicar-se, o que certamente atrasa ou atrapalha o tratamento. O que podemos fazer para coibir esse comportamento? Automedicação não seria o maior problema, a meu ver. Os maiores prescritores de benzodiazepínicos não somos os psiquiatras. São os cardiologistas, depois os clínicos gerais. Isso sugere um


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SAMG entrevista despreparo dos não especialistas em compreender a natureza dos transtornos ansiosos e a dificuldade de detectar e tratar a depressão apropriadamente – usando antidepressivos! Talvez por isso possa ocorrer um atraso sim, na detecção e tratamento apropriado. Temos que lembrar que o álcool é muitas vezes usado para o tratamento de seus sintomas ansiosos. Outro aspecto preocupante é a questão da dependência química entre profissionais da área de saúde. Esse é um assunto seriíssimo, que, entretanto, tem encontrado pouco espaço em nosso meio devido ao enorme tabu que enfrentamos ao falar sobre isto.O que deve ser feito na suspeita de dependência química em um colega? Aparentemente, a dependência química dentre os médicos tem uma ocorrência semelhante à da população geral. O problema está no acesso facilitado a mais substâncias com esse potencial, algo provável especialmente dentre os anestesistas. O tema é tabu porque ainda não temos uma abordagem muito eficaz para a maioria das dependências químicas. Tudo o que não tem um bom tratamento, tendemos a negligenciar. Isso aconteceu com várias outras doenças na história da medicina e, a meu ver, o que quebra o tabu é a existência de tratamento eficaz. Ainda estamos devendo isso para a maioria das dependências químicas. No caso dos médicos anestesiologistas, são comuns cargas horárias de 72 horas semanais, alguns chegam a realizar 100 horas semanais, principalmente os mais jovens, que estão no início da vida profis-

sional. Em que aspecto isso mais o prejudica? Evidentemente, uma sobrecarga dessa magnitude dificilmente será inócua. Para o anestesiologista, que exerce sua atividade principalmente dentro do centro cirúrgico, a falta de exposição à luminosidade natural interfere na sincronização dos ritmos circadianos, podendo gerar dificuldades com o sono e ganho de peso, mediados por alterações em neurotransmissores e neuro-hormônios. O isolamento social pode conduzir a sensações de desamparo e agravar tendências à dependência química e à depressão. E em relação às taxas de suicídio, é verdade que elas são maiores entre médicos? Sim. Os médicos apresentam taxas de suicídio até 2,5 vezes maiores do que a população em geral. Isso parece estar associado não apenas à maior prevalência de depressão, especialmente nos homens, mas também à facilidade de acesso a métodos letais, inclusive o conhecimento. Sabemos que os suicídios muitas vezes são subnotificados, portanto, provavelmente as taxas são maiores que as divulgadas. Em sua opinião, por que é tabu falar sobre suicídio? A morte por suicídio é sempre muito trágica. Gera uma sensação de fracasso e de frustração nos que ficam. Mas, estudos demonstraram que ele pode ser evitado. Mais da metade dos suicidas procuraram assistência médica poucas semanas antes, indicando que há uma perda de oportunidade de detectar essa tendência iminente. O suicídio geralmente é um ato

impulsivo, portanto, pode ser inibido pela vigilância. Dois fatores de alto risco devem ser investigados: a história familiar de suicídio, pois há evidências de herdabilidade desse comportamento, e a história pessoal de tentativas prévias. Na maioria dos casos, um suicídio completo é resultado de uma sequência de tentativas anteriores. E por que a saúde mental é tão negligenciada? Existe uma máxima da medicina que é: a gente diagnostica aquilo que consegue tratar. Hoje, possuímos recursos terapêuticos de altíssima eficácia e excelente tolerabilidade, especialmente antidepressivos. Ainda existe muita fantasia de que o sofrimento psíquico pode ser controlado com força de vontade, e que adoecer mentalmente é um sinal de fraqueza moral ou até de falta de fé. A depressão é uma doença como qualquer outra, só que seu tratamento é relativamente fácil e eficiente. Como podemos ajudar individualmente, como colegas, e coletivamente, como sociedade representativa da classe, esses indivíduos que apresentam indícios de transtornos na saúde mental? Educação para a saúde e acesso aos recursos terapêuticos. Essa é a combinação de sucesso. Os colegas médicos devem ser capacitados para identificar os transtornos mentais e os sinais de gravidade. Os pacientes devem ser amplamente informados de que esses transtornos são doenças e que existem tratamentos modernos. Mas isso não basta. Os pacientes devem ter acesso facilitado ao tratamento, prevenindo a cronificação e os desfechos desfavoráveis.


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Cooperativismo

Intercooperação fortalece a classe Como a ação conjunta entre entidades pode contribuir para a ampliação dos benefícios para a classe médica

A intercooperação entre entidades parceiras para criar benefícios para uma determinada classe não é nenhuma novidade e vem sendo praticada há muitos anos. Atualmente, o movimento tem ganhado uma proporção cada vez mais significativa em outros segmentos da sociedade. Participar de uma cooperativa que é ligada a outra, como é o caso da Coopanest-MG e da Credicom, traz benefícios para a classe. É o que

o mercado chama de intercooperação. “É importante saber que participamos de um grupo que ligado a outro, se fortalece e consegue ir atrás de benefícios que antes não seriam conquistados de forma individual”, comenta Dr. Lucas Araújo Soares, presidente da Coopanest. Coopanest-MG valoriza, preza e busca se aproximar de outras entidade para garantir mais benefícios aos cooperados. Por isso, é estreita a sua

parceria com a Credicom, a Fencom e a Unimed. O objetivo é que, com todas as instituições agindo em parceria, os interesses da classe possam ser conquistados de forma mais simples e harmônica. “O próprio honorário dos médicos serve como comprovante para a retirada de crédito na cooperativa, o que facilita e desburocratiza o processo”, comenta Dr. Geraldo Botrel, diretor-administrativo financeiro da Coopanest.


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Ágil

Soluções a um toque

Aplicativo desenvolvido pela Coopanest-MG minimiza erros em procedimentos administrativos Seria difícil viver nos dias atuais sem computadores, celulares, aplicativos e sistemas tecnológicos que nos auxiliam a exercer as tarefas do dia a dia com mais facilidade e rapidez. Todos os dias, são lançados novos programas de computadores e aplicativos de celular, justamente com o objetivo de acompanhar o alto fluxo de informações que todos os setores da economia exigem. É certo que a tecnologia anda lado a lado com a medicina, não só no desenvolvimento de pesquisas, mas também na criação de equipamentos. Os processos adminis-

trativos realizados por médicos e hospitais também não podem ficar para trás. Por isso, com pouco menos de dois meses de lançamento, o Ágil, aplicativo desenvolvido pela Coopanest-MG com o objetivo de dar mais rapidez e minimizar erros nos procedimentos administrativos, teve uma adesão surpreendente pela classe. “Ele é prático e ajuda muito na hora de transcrever a demanda. A aceitação dos médicos tem sido muito boa”, confirma Cláudia Teixeira, auxiliar administrativo do setor de Anestesia do Hospital Felício Rocho.

O programa está sendo disponibilizado nas plataformas mais comuns, como tablet, smartphone e computador. O objetivo é que ele auxilie não só em faturamentos e controle de contas, mas também na cobrança de honorários dos médicos e glosas. Para Amanda Gurgel, auxiliar administrativo do Hospital Belo Horizonte, o maior benefício do Ágil foi a incorporação de planos de saúde que o antigo sistema não contemplava. “Ter todos os planos realmente fez muita diferença. Desde a implantação vimos que ele faz jus ao nome”, comenta Amanda.


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Capa

Um estudo sobre nossa categoria


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Capa O anestesiologista é constantemente exposto a diversos fatores de riscos ocupacionais e, embora se espere que eles estejam preparados profissionalmente e pessoalmente para administrar o estresse do dia a dia, vemos que, na prática, a faculdade não prepara o médico para esses desafios. Tanto isso é verdade que hoje em dia temos uma quantidade significativa de jovens médicos e residentes sofrendo de problemas psiquiátricos. A especialidade expõe o profissional a riscos como inalação de gases anestésicos, exposição ao látex, adição, radiação ionizante, acidentes com material biológico, explosões e

incêndios, eletricidade, ruídos e, é claro, sobrecarga de trabalho. Nós, anestesiologistas, devemos saber como vivenciar as situações relacionadas ao trabalho e à vida cotidiana para conseguir manter a saúde física e mental. A relação do ser humano com o trabalho é bastante estreita e cercada de perdas e danos; portanto, a busca pelo entendimento do trabalhador e do seu trabalho deve ser estimulada, uma vez que a compreensão da relação entre eles ajuda na elucidação do processo saúde/ doença. Com isso em mente, a anestesista Bárbara Silva Neves fez um estudo em que foi traçado

o Perfil epidemiológico e ocupacional dos anestesiologistas Inseridos no mercado de trabalho de Belo Horizonte. Ela realizou uma pesquisa quantitativa e aleatória entre os membros da Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais (SAMG), coletando dados por meio de questionário específico, incluindo o Cage, para avaliação do alcoolismo, e o Self-Report Questionnaire (SRQ-20), com o objetivo de avaliar a prevalência dos Transtornos Mentais Comuns (TMC). Foram aplicados, ao todo, 157 questionários entre 1º de outubro de 2010 e 28 de dezembro do mesmo ano. Alguns resultados obtidos foram:

Escolaridade Escolaridade

Entrevistados

Doutorado ou Mestrado Pós-Doutorado (completo ou em (completo ou em andamento) andamento)

5,7%

7,6%

36,9% Baixa

Média

Residência

Superior (TSA)

44,6%

19,7%

21,7%

Sistema de trabalho

Complexidade cirúrgica

40,6%

Especialista (TEA)

24,9% Alta

O esquema de trabalho na forma de plantão é exercido por 91,1% dos participantes. Considerando somente os que responderam à questão, o percentual sobe para 92,26% (143) que trabalham em esquema de plantão e 7,74% que não trabalham nesse quadro. Dos entrevistados, 79,7% dão plantões diurnos e noturnos; 10,5%, diurnos; e 9,8%, noturnos.


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Capa

Onde trabalham?

Anestesias ministradas

88,6%

9,9%

As anestesias feitas em pacientes, distribuídos por estado físico, em média, foram:

12,5%

9,8%

em hospitais

em clínicas

em consultórios

33,7% 43,3% 17,8%

em outros locais

Tempo de exercício da profissão

1 e 44anos 16,1anos entre

em média

ASA I

ASA II

ASA III

7,1%

3,1%

2,6%

ASA IV

ASA V

ASA VI

Forma de atendimento Convênio

SUS

Particular

Outros

57,1%

44,3%

9,5%

6%

Vínculos trabalhistas Os vínculos trabalhistas se sobrepuseram, de forma que um mesmo profissional tem um ou mais vínculos. Sendo assim, 65,6% se dizem autônomos, 63,1%, sócios em empresa de anestesiologistas, 47,1%, assalariados, 16,6%, contratados por algum serviço e 0,6% disse ter outro vínculo. Condições de trabalho Com relação às condições do ambiente de trabalho, e considerando 155 respondentes, o consultório recebeu a melhor classificação, seguido pelo hospital. O tempo de intervalo para refeições

foi também pesquisado e mostrou uma média de 31 minutos, sendo o mínimo de zero (sem intervalo para refeições) e o máximo de 90 minutos. Considerando a divisão por quartis, 25% dos entrevistados têm entre zero e 20 minutos de intervalo para refeições e apenas 25% têm tempo superior a 40 minutos. Consideram os intervalos para refeições como insuficientes 64,3% (101) dos anestesiologistas, suficientes 28,75% (45), e 5,75% (nove) não têm intervalo para refeições. O tempo médio de descanso no trabalho foi relatado como 15 minutos, sendo o máximo de 360 e o mínimo de zero. Desconsiderando

dois valores citados de 360 minutos, a média cai para 10 minutos. Os horários de descanso, entre 151 respondentes, não existem para 68,2% dos pesquisados, e 14,1% têm 20 minutos ou menos. Quando perguntados sobre a relação com o trabalho, 94,9% dos anestesiologistas relataram algum nível de sobrecarga, e 96,8%, algum nível de cansaço. Porém, a satisfação no trabalho teve bons resultados: 95,5% relataram algum nível de satisfação, sendo que 77,1% não gostariam de ter escolhido outra profissão ou especialidade médica. Com relação às tarefas executadas, 52,2% afirmaram que elas


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Capa variam de acordo com o dia da semana, e 37,6% afirmaram que são sempre as mesmas atividades laborais, ou estas variam pouco. Estado de saúde O estado de saúde atual foi considerado bom por 45,9% e muito bom por 24,2%. Apenas 1,3% o considera ruim, sendo que nenhum deles classifica seu estado de saúde como muito ruim. Mais da metade dos participantes (52,9%) apresenta algum problema de saúde atualmente. Foram listados 35 problemas de saúde diferentes, presentes em 95 indivíduos, sendo que 22 deles fizeram duas ou mais queixas. O problema mais citado, por 14 indivíduos, foi Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), seguido de estresse e hérnias discais, citados sete vezes cada. Foi relatado por 48,4% (79) dos participantes o uso de algum medicamento de forma regular, com 39 medicamentos diferentes; os mais usados (16 indivíduos) pertencem à classe dos ansiolíticos, seguidos dos antidepressivos (sete indivíduos) e de omeprazol e estatinas (cinco indivíduos cada). Considerando os problemas de saúde relacionados ao trabalho e que levaram ao afastamento, citados por 31 participantes, 16,6% mencionaram a estafa 9,7%, Burnout e 9,7%, labirintite. Para os que já se afastaram por problemas de saúde relacionados ao trabalho, o mínimo foi de um dia de afastamento, e o máximo, de 60. A média ficou em 19 dias.

A relação entre acidentes de trabalho e a busca pelo médico do trabalho também foi questionada. Os riscos aos quais os anestesiologistas estão expostos são vários, e dentre eles foram citados alguns para que esse profissional os qualificasse quanto ao dano.

12,7% dos entrevistados confirmaram ter usado medicações anestésicas e outras drogas para fins de recreação. Relacionamento Podendo o trabalho ser uma causa de prejuízo em relacionamentos, os anestesiologistas foram questionados quanto a esse possível dano. Para 38% dos participantes da pesquisa, o trabalho como anestesiologista prejudica medianamente os seus relacionamentos fora do ambiente profissional; 37,6% afirmaram que prejudica pouco. Para 12,7% o trabalho como anestesiologista causa muito prejuízo nessas relações. O relacionamento com os colegas de trabalho também foi questionado. Dos participantes, 58% consideram o relacionamento com os colegas bom, 21,7% consideram

muito bom, 12,1%, mediano e apenas 5,7% consideram-no muito ruim. Quatro pessoas (2,5%) não responderam e ninguém classificou o relacionamento de ruim. Consumo de bebidas alcoólicas e medicação O consumo de bebidas alcoólicas junto a essa população teve um percentual de positividade para 67% dos respondentes (104); desses, 16 tiveram o CAGE considerado positivo (duas ou mais respostas positivas). Pelas sensações que as medicações anestésicas e outras drogas podem desencadear no organismo, o uso para fins recreacionais ou relaxantes foi aventado, e 12,7%, 20 dentre os respondentes, afirmaram já ter usado alguma dessas drogas para tal fim. A associação entre Cage e sobrecarga de trabalho pôde ser evidenciada com o uso do teste qui-quadrado de Pearson. Os resultados desse trabalho foram bastante interessantes ao revelar um predomínio de homens (62,4%) trabalhando em esquema de plantão (91,1%), tanto diurno quanto noturno, a maior parte deles (88,3%) em serviços de urgência. A maioria dos profissionais se considerava muito cansada e sobrecarregada ou muito sobrecarregada, porém se disseram realizados com o trabalho. Houve associação estatística entre Cage positivo e sobrecarga de trabalho e entre esse e o SRQ-20.


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Capa

Impactos das condições de trabalho no dia a dia do anestesiologista Evidenciou-se que grande parte dos anestesiologistas avaliados dedica a maioria do seu tempo à Anestesiologia. O trabalho médico em geral e o do anestesiologista, em particular as condições de trabalho atuais, associadas à remuneração, têm levado esses profissionais a esquemas de plantão exaustivos, que ultrapassam 24 horas ininterruptas. Ou seja, não há folga após os plantões. Nesse sentido, esse estudo vai ao encontro da atual situação da medicina brasileira. São 91,1% de 155 anestesiologistas que responderam trabalhar em esquema de plantão, representando 145 destes. A maioria apresenta escala diurna e noturna, sendo que um dos participantes respondeu ter dado no último mês 22 plantões noturnos de 12 horas. Se considerarmos um mês de trabalho, esse profissional passou 73,3% das noites trabalhando. O mesmo participante relatou não ter intervalo de folga de pós-plantão. A privação de sono seria uma característica importante e de extrema relevância a ser considerada, sem se esquecer do Burnout e de suas desastrosas consequências, tanto para o profissional quanto para os pacientes. A maioria desses plantonistas relatou que pelo menos um de seus

plantões se dá em serviços de urgência e emergência, o que pode ser considerado como mais um fator de risco ao adoecimento. O trabalho nos hospitais é uma realidade na anestesiologia, apesar de as anestesias ambulatorias e os atendimentos em consultórios apresentarem fortes tendências ao crescimento. Os anestesiologistas têm seguido uma tendência do mercado atual no meio médico: a de trabalhare de forma autônoma ou se associarem a empresas.

Seguindo também essa tendência, o setor privado, através dos convênios de saúde, foi o mais citado como o universo atendido. A complexidade cirúrgica e o tipo de pacientes anestesiados podem ser considerados como um fator a mais de estresse para o profissional, visto que intercorrências têm maior probabilidade de acontecer em procedimentos mais complexos e pacientes mais graves. Além disso, a restrição de tempo e a interferência do trabalho na vida cotidiana são fatores já estudados


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Capa nesse sentido e vistos com associação forte ao dano. Analisando as condições de trabalho e a percepção do risco, os anestesiologistas entrevistados veem os hospitais, seu principal local de trabalho, como um fornecedor de condições adequadas. De uma forma geral, o anestesiologista classifica-se como um profissional sobrecarregado e cansado. A rotina no trabalho não lhe proporciona pausas para descanso durante sua jornada. Os intervalos para refeições são relatados como insuficientes, ou até mesmo inexistentes para alguns. Apesar disso, a grande maioria classificou-se como satisfeita com sua especialidade e não gostaria de ter escolhido outra profissão ou especialidade médica. Mesmo com a satisfação, a sobrecarga de trabalho é reconhecida e esta, juntamente ao fator sangue e secreções, foram classificados pela maioria dos profissionais como os fatores de risco ocupacionais mais importantes, além de receber a pior gradação em termos de danos. Importante ressaltar que a metade dos profissionais percebe o trabalho como desencadeador do adoecimento em alguma fase de sua vida laboral, e a mesma quantidade o considera como causa para o adoecimento de colegas. No caso de acidentes de trabalho, muito frequentes entre profissionais da área de saúde, principalmente os pérfuro-cortan-

tes, 60% dos anestesiologistas entrevistados relataram ter sofrido algum tipo de acidente no trabalho, sendo que 30% procuraram pelo médico responsável, conforme manda a legislação. O alcoolismo, frequente no meio médico, foi pesquisado nesse estudo através do Cage, sendo que 15% dos participantes que responderam foram considerados Cage positivos. Foi observado que todos os participantes que têm Cage positi-

A complexidade cirúrgica e o tipo de pacientes podem ser considerados como um fator a mais de estresse para o profissional vo se sentem sobrecarregados em relação ao trabalho, o que pode evidenciar uma relação entre o uso do álcool como forma de reação ao estresse no trabalho. A relação entre álcool e sobrecarga de trabalho foi observada para 30% dos profissionais pesquisados. O uso de álcool e drogas, como a maconha, pode servir como desencadeador do abuso de outras substâncias, como opioides e anestésicos inalatórios. Dentre as medicações usadas no trabalho

e pelo profissional para consumo próprio, as mais empregadas foram os ansiolíticos. De grande preocupação para o meio, drogas com grande poder aditivo, como os opioides, foram citadas, assim como os anestésicos inalatórios. A prevalência foi de 28,4% de SQR20 positivos, o que mostra valor muito maior do que os obtidos em estudos feitos com médicos de outras especialidades e outros profissionais. Quando foi relacionado o SRQ-20 com a sobrecarga de trabalho, essa associação se mostrou estatisticamente positiva, o que evidencia um resultado esperado, já que a sobrecarga no trabalho se mostra como grande geradora de adoecimento. O universo estudado mostra o médico anestesiologista da cidade de Belo Horizonte como um profissional bastante sobrecarregado. A Anestesiologia segue uma tendência mundial do mercado, na qual a precarização do trabalho gera uma competitividade crescente e busca de reconhecimento e remuneração. A essa tendência se juntam os riscos intrínsecos do exercício da especialidade. A relação do profissional com o trabalho e os sentimentos resultantes disso são subjetivos. Portanto, torna-se bastante complicado para o anestesiologista saber em que momento pedir ajuda. Atenção importante deve ser dada a esse profissional para que soluções sejam buscadas e a minimização dos agravos evite os danos.


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Artigo

Até que ponto os exames pré-operatórios nos auxiliam? Anesthesia & Analgesia. 112 (1): 207-212, janeiro de 2011. Há anos verifica-se que pacientes estão expostos a exames pré-operatórios desnecessários. Qual de nós já não se deparou com paciente jovem, ASA I, candidato a cirurgia de pequeno porte, que chega à consulta pré-anestésica trazendo uma pasta repleta de exames sem a menor indicação? Por outro lado, existe o reverso da moeda: pacientes graves, idosos, que comparecem ao centro cirúrgico sem os exames mínimos necessários. Para determinar se os exames pré-operatórios são necessários e úteis na cirurgia, realizou-se estudo dos registros médicos de mil pacientes consecutivos programados para cirurgia em uma instituição do Canadá. Posteriormente, quatro cenários foram construídos para solicitar pontos de vista médicos dos testes apropriados: uma mulher de 45 anos de idade para cistectomia ovariana laparoscópica, uma mulher de 23 anos para herniorrafia inguinal direita, um homem de 50 anos para um hemitireoidectomia e um homem de 50 anos para uma prótese do quadril. Um ou mais desses cenários foram enviados aos diretores das clínicas pré-operatórias. Mais da metade deles teve pelo menos um teste considerado desnecessário. Os 17 diretores que responderam foram unânimes em 36 das 72 combinações de testes e cenários como sendo desnecessários. Entre os 175 anestesiologistas

que responderam à pesquisa, 46% reconheceram um ou mais exames desnecessários. Entre 17 indicadores potenciais de exames desnecessários solicitados pelo anestesiologista, apenas a formação concluída antes de 1980 aumentou significativamente o risco de solicitar pelo menos um teste desnecessário. Por outro lado, os anestesiologistas foram 53% menos propensos a solicitar pelo menos um teste desnecessário, em relação aos ginecologistas, para o cenário de cistectomia, 64% menos propensos que os cirurgiões gerais para o cenário de herniorrafia, 66% menos propensos que os otorrinolaringologistas para o cenário de tireoidectomia e 67% menos propensos que os ortopedistas para o cenário de prótese do quadril. Nesse trabalho, os autores demonstraram um nível significativo de variabilidade nos padrões de testes pré-operatórios em diferentes hospitais do Canadá. Grande variabilidade também é vista no rastreio perioperatório nos EUA. Isso resulta em cirurgias canceladas por não haver consulta pré-anestésica ou mesmo porque o anestesista do pré-operatório pode não ser o mesmo do dia da cirurgia; por outro lado, resulta também em exames desnecessários, que podem até mesmo impor riscos ao paciente. A meta de reduzir a variabilidade na prestação de cuidados de saúde é um objetivo digno em si

mesmo. Embora existam vários guidelines disponíveis a respeito dos testes laboratoriais necessários na avaliação pré-operatória, entende-se que pode haver variações individuais entre médicos e entre serviços. Entretanto, a medicina moderna exige melhoria contínua dos processos de saúde. Em se tratando de medicina, a redução da variabilidade no sistema tem numerosas vantagens, como maior facilidade de estudar e analisar as amostras e maior facilidade para provar uma hipótese, sendo mais fácil introduzir novas diretrizes em sistemas menos variáveis. Há sempre um grau de variabilidade nas consultas pré-operatórias. Alguma discordância é inevitável, porque as orientações não são leis; as decisões são individuais, mas existem orientações que devem norteá-las para que muitos exames desnecessários sejam reduzidos. Assim, poupam-se os pacientes de exames desnecessários e os recursos para a saúde podem ser redirecionados para onde são realmente necessários. Michelle Nacur Lorentz

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Artigo

Leitura recomendada:

Br J Anaesth 2014; 113: 97-108: Br J Anaesth 2014; 113: 97-108

Tradicionalmente, anestesiologistas ventilavam seus pacientes com altos volumes correntes (10 a 15ml/kg do peso corporal ideal). Ao longo dos anos, houve uma diminuição desses volumes e, especificamente na última década, houve diminuição adicional dos volumes correntes, influenciada pelos resultados dos trabalhos na Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (Sara). Entretanto, ainda não está bem estabelecido se os benefícios dos baixos volumes correntes se estendem ao período perioperatório. A ventilação dos pacientes com estratégias de ventilação pulmonar mecânica protetora, utilizando baixos volumes correntes e PEEP baixas a moderadas, tem demonstrado melhorar resultados em pacientes com lesão pulmonar aguda e síndrome do desconforto respiratório agudo. É sabido que a ventilação mecânica aumenta o estresse mecânico nos tecidos do pulmão e pode causar danos em nível celular devido à ruptura de membrana plasmática, perda de compartimentalização, hemorragia, acúmulo de leucócitos pulmonares, danos da matriz extracelular, efeitos sobre a vasculatura, estiramento e ruptura por aumento da pressão intraluminal e tensão de cisalhamento. A tensão produzida por altos volumes correntes e ausência de PEEP pode causar lesão em

pulmões normais. A pressão exagerada nas vias aéreas e grandes volumes correntes foram identificados como fatores de risco independentes para Sara em pacientes criticamente enfermos. Sabe-se que os baixos níveis de PEEP podem aumentar a tensão de cisalhamento e que utilização de PEEP de 10cm H2O durante a anestesia parece ser benéfica. Além disso, fatores como obesidade, pneumoperitônio, doença preexistente e o tipo e sítio de intervenção cirúrgica podem agravar a formação de atelectasias. O conceito de ventilação protetora é preocupação premente do anestesiologista, e efeitos adversos como hipercapnia e a atelectasia devem ser evitados. A maioria dos estudos sobre ventilação mecânica é feita em pacientes criticamente enfermos. Os estudos no período perioperatório são, na maioria das vezes, baseados em pequenas populações. Além disso, a resposta inflamatória que ocorre durante as cirurgias pode influenciar os resultados. Neste trabalho retrospectivo, publicado no British Journal of Anaesthesia, analisaram-se os prontuários de 29.343 pacientes submetidos a anestesia geral sob ventilação mecânica entre janeiro de 2008 e dezembro de 2011. Foram avaliados os volumes correntes, o índice de massa corpórea ideal,

o uso de PEEP, o pico de pressão inspiratória e a complacência dinâmica. O end point primário foi relacionar volume corrente e mortalidade em 30 dias. O volume corrente médio foi de 8,6ml/kg com PEEP mínima em torno de 4,0cm/ H2O. Uma redução significativa no volume corrente ocorreu durante o período de estudo, a partir de 9ml/kg, em 2008, para 8,3ml/kg, em 2011 (P = 0,01). Baixo volume corrente (6-8ml/kg) sem utilização de PEEP associa-se a aumento significativo na mortalidade em 30 dias quando comparado ao volume corrente de 8-10ml/kg, demonstrando que o uso de volume corrente baixo intraoperatório com PEEP mínima deve ser reavaliado pelos anestesiologistas devido ao aumento da mortalidade. Na análise deste trabalho, é importante verificar que muitas vezes é necessário, quando se utiliza menor volume corrente, equilibrar os riscos e benefícios da ventilação mecânica protetora durante a anestesia, além de alterar os outros parâmetros de ventilação. Marcelo Andrade Souki, Michelle Nacur Lorentz

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Colega Anestesiologista

Os gatos de Alessandra Lanna são a alegria da casa

Mais amigos que imaginamos

Animais de estimação ganham espaço na família e se tornam opções de companhia para o alívio do estresse e da depressão Eles estão juntos há sete anos. Há cinco, a família ganhou mais um integrante. Eles não se importam com o atraso, o cansaço nem com o mau humor de quem chega em casa. Estão sempre animados para recepcionar a dona com muita festa, prontos para receber carinho e dar em dobro. Essa é a relação de Renata Kruger, anestesiologista do Biocor, com os seus dois Yorkshires, Nick e Nuno. Ela mora sozinha em seu apartamento com os dois cães e diz que eles são grandes companheiros para todos os momentos. “Em pouco tempo vou me casar e me mudar. Vou levar os dois comigo. São amigos para qualquer hora, ajudam a aliviar meu estresse e me animam quando estou para baixo.” A relação do homem com animais de estimação está cada

dia mais próxima. Atualmente, por seu jeitinho carinhoso, eles ganharam status de membros efetivos da família. E a ciência já percebeu que o bem que fazemos a eles retorna na mesma (ou em maior) proporção. Está mais do que comprovado: ter um animal de estimação faz bem à saúde. Além de ser um companheiro para todas as horas, eles impactam diretamente no bem-estar do dono. Recentemente, o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, abriu as portas para os amigos peludos. Cães e gatos agora podem visitar pacientes que estão internados, inclusive em unidades semi-intensivas. O objetivo da iniciativa é a humanização do tratamento e a interferência positiva que eles exercem na cura dos doentes.

Para quem está em casa, os benefícios também são enormes. Segundo um estudo da Associação Americana do Coração, ter um animal reduz o risco de doenças cardíacas. Alguns testes apontaram que uma pessoa que sai para passear com seu cão consegue cumprir 54% dos níveis recomendados de exercícios físicos diários, o que ajuda no funcionamento do sistema cardiovascular. A simples atitude de acariciar os animais também traz resultados benéficos. Estudos afirmam que, ao passar a mão nos pelos de um cachorro ou de um gato, nosso corpo libera um hormônio ligado ao vínculo afetivo, o que gera uma sensação de calma e bem-estar. Esses sentimentos são usados a favor da medicina. A zooterapia, tratamento realizado


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Colega Anestesiologista com o contato direto com animais, tem mostrado resultados surpreendentes nos últimos anos, principalmente com pessoas com deficiência mental, depressão e dificuldades na sociabilização, que têm se mostrado mais dispostas e comunicativas quando há uma interação com os animais. Fato é que a companhia, o carinho e a amizade de um animal de estimação impactam diretamente na qualidade de vida dos donos. É exatamente assim que se sente Michelle Nacur, vice-presidente da SAMG, com relação à sua cadela, Jane. Os sete anos de convivência geraram um “imenso afeto uma pela outra”. Michelle afirma que o pet é membro da família e que, nesse longo período juntos, o animal tem sido uma excelente fonte de alegria para a casa. “O que mais me impressiona nos cachorros são o senso de lealdade e o amor incondicional que eles têm pelos os donos”, comenta Michelle. Prevenção de doenças respiratórias Por incrível que pareça, estar próximo a animais domésticos

Nick e Nuno são os companheiros de todas as horas da anestesiologista Renata Kruger

durante a infância também traz benefícios evidentes à saúde. Um estudo da Universidade de Virgínia diagnosticou que crianças que foram criadas com gatos adquiriram resistência ao desenvolvimento de asma. Ou seja, pode parecer estranho, mas os pelos dos bichanos pela casa podem reforçar o sistema imunológico, com riscos bem menores de doenças. Pensando por essa lógica, as duas filhas (7 e 11 anos) de Alessandra Lanna, anestesiologista de endoscopia clínica e cirúrgica, estão imunizadas. Em seu apartamento vivem três gatos. Eles atendem pelos simpáticos nomes de Kiko Bigode, Zé Bolinha e Black Jack Fuligem. Ela optou por gatos porque, segundo ela, os bichanos dão menos trabalho

Dra. Michelle com sua cadela Jane

na limpeza. A médica afirma que, assim como os cães, eles são excelentes companheiros e amigos. “Quando colocamos a chave na porta, não importa o horário, todos se reúnem para nos esperar. É uma festa só!”

Os benefícios de se ter um pet • Diminuição do risco cardíaco. • Redução do estresse. • Fortalecimento do sistema imunológico. • Aumento da interação social e da concentração. • Auxílio no emagrecimento.


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Dicas de aplicativos

Eu recomendo Aplicativo especializado Anesthesiologist Essa ferramenta desenvolvida especialmente para a área auxilia os profissionais a calcularem rapidamente as dosagens de drogas para adultos e crianças. Por meio da idade e do peso do paciente, o médico consegue confirmar dosagens, frequência cardíaca recomendada e parâmetros vitais desejados. Renata da Cunha Ribeiro, anestesiologista do Vila da Serra e do Odilon Behrens, utiliza o programa e recomenda a consulta. “Principalmente nos casos de pediatria, em que os valores são difíceis de guardar de memória, ele pode ajudar muito.” Coagulate Segundo Pâmella Braga Morais, anestesiologista do Odilon Behrens, do Hospital da Previdência e do Cismep, em Betim, o Coagulate é um guia de manejo pré e pós-operatório da relação anticoagulante X anestesia. O programa leva em consideração os protocolos americano e europeu e constantemente atualiza os novos medicamentos disponíveis no mercado. “Ele informa objetivamente quanto tempo o paciente tem que ficar sem tomar um determinado anticoagulante para a preparação de procedimentos cirúrgicos.”

Aplicativo de trânsito Waze Ficar perdido nas ruas de uma cidade desconhecida ou pegar um trânsito inesperado por causa de um acidente são realidades que podem ser evitadas com a chegada dos smarthphones. Existem muitos aplicativos ligados ao GPS do telefone que auxiliam os motoristas a fazer um trajeto mais rápido e tranquilo. Um dos programas que ficaram mais populares nos últimos tempos é o Waze. Ele funciona como uma rede social de trânsito, em que o usuário pode relatar acidentes, radares, quebra-molas e postar trajetos alternativos que podem ajudar outros motoristas. Cláudio Henrique Corrêa, do Odilon Behrens e ex-tesoureiro da SAMG, esteve em São Paulo recentemente, e o aplicativo o ajudou a se deslocar na cidade. “Sabemos que o trânsito da capital paulista não é nada fácil, e ele me auxiliou a fugir dos engarrafamentos, buscando rotas alternativas. Nessa correria do dia a dia, o Waze pode ser muito útil para ganharmos tempo.”

Aplicativo para anestesiologistas Ágil O presidente da Coopanest garante: o Ágil chegou para facilitar a vida dos médicos. Lucas Araújo Soares diz que o aplicativo tem ajudado muito na cobrança dos convênios. Desenvolvida pela Coopanest-MG, a ferramenta pode ser usada em todas as plataformas: celular, tablets e computador. “Temos tido um retorno muito positivo dos cooperados, pois os procedimentos administrativos são realmente agilizados, evitando possíveis erros e transtornos com os convênios”, comenta o presidente.


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Curtas

Fencom comemora 20 anos de atuação Fortalecer ainda mais o cooperativismo médico é um dos maiores desafios da Coopanest-MG. Com o foco nesse objetivo, foi realizado em maio pela Federação Nacional das Cooperativas Médicas (Fencom), na sede da Ocemg, evento que comemora 20 anos da Federação. Na oportunidade, foram homenageadas as cooperativas que fundaram a Fencom, em 1994. A Coopanest-MG, que faz parte desse grupo, recebeu a congratulação pe-

las mãos do diretor Dr. Lucas Araújo Soares. A abertura foi feita por Samuel Flam, diretor-presidente da Unimed-BH e conselheiro diretor da Ocemg. Um dos destaques da programação foi a apresentação de Dr. Eudes Arantes Magalhães, diretor-presidente da Fencom, sobre as diretrizes para o futuro da Federação e o lançamento da nova logomarca da entidade, que traduz a evolução pela qual a Fencom vem passando nos últimos anos.

Dr. Lucas Lucas Araújo Soares, presidente da Coopanest-MG, recebe homenagem durante evento da Fencom

Sucesso da Joma em Pouso Alegre Três dias debatendo temas relevantes para o mercado de anestesiologia. Assim foi realizada mais uma Jornada Mineira de Anestesiologia (JOMA), que chega à sua 24ª edição. O primeiro dia teve a abertura de Dr. Lucas Araújo Soares, presidente da Coopanest-MG, falando sobre cooperativismo. Em seguida, uma mesa redonda discutiu os Desafios da anestesia em ortopedia. Atualização em anestesia ambulatorial e O que há de novo em complicações anestésicas foram os temas do segundo dia. Já no dia do encerramento, os participantes puderam ver palestras sobre Atualização em anestesia obstétrica.

Troca de experiências e conhecimento. Interação com colegas do Estado



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