São João Bosco: Sonhos de um visionário, Capítulo V

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S. JOÃO BOSCO SONHOS DE UM VISIONÁRIO NÚMERO 5


A Dom Bosco nos 130 anos da sua morte.

BOLETIM INFORMATIVO Notícias dos Salesianos de Portugal MAIO 2018 Diretor Pe. José Aníbal Mendonça, sdb Diretor Adjunto e Coordenador Editorial Joaquim Antunes, sdb Texto adaptado das Memórias Biográficas de São João Bosco, Vol. VII, pág. 238 e seguintes. Ilustração: Nuno Quaresma Província Portuguesa da Sociedade Salesiana Rua Saraiva de Carvalho, 275,1399-020 Lisboa www.salesianos.pt


O SONHO DA SERPENTE E DO ROSÁRIO FORÇA INTERCESSORA DE MARIA

Quero contar-vos um sonho que tive numa destas noites. (Deve ter sido na noite que precedia a festa da Assunção de Nossa Senhora). Sonhei que me encontrava com todos os rapazes em Castelnuovo d’Asti em casa do meu irmão. Enquanto todos estavam no recreio, chegou ao pé de mim um indivíduo que eu não sabia quem era e convidou-me a ir com ele.

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Segui-o, conduziu-me a um prado junto do pátio e lá mostrou-me, no meio da erva, uma grande serpente com sete ou oito metros de comprimento e de uma grossura descomunal. Fiquei horrorizado com tal espetáculo e queria fugir: − Não, não, disse-me o tal indivíduo; não fuja; venha cá e veja. − E como, respondi, quer que me atreva a aproximar-me desse animal? Não sabe que é capaz de me apanhar e de me devorar num instante? − Não tenha medo que não lhe fará mal; venha comigo. − Ah não caio na asneira de me meter em tal perigo. − Então, continuou o desconhecido, fique aqui!


Depois foi buscar uma corda, trouxe-a na mão, voltou para junto de mim e disse: − Pegue numa ponta desta corda e segure-a bem nas mãos; eu pegarei na outra ponta, irei para o outro lado e assim suspenderemos a corda sobre a serpente. − E depois? − Depois deixá-la-emos cair em cima dela. − Ah nem pensar! Ai de nós, se fizermos isso. A serpente vai ficar furiosa e desfazer-nos em pedaços. − Não, não; deixe isto comigo. − Qual o quê! Não quero arriscar numa coisa que me pode custar a vida.

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E já queria fugir. Mas o homem voltou a insistir, assegurou-me que eu nada tinha a temer, que a serpente não me faria nenhum mal e tanto insistiu que eu fiquei e fiz-lhe a vontade. Entretanto ele passou para o outro lado do monstro, levantou a corda e com ela deu uma chicotada na serpente. A serpente deu um salto e virou a cabeça para morder quem lhe tinha batido, mas, em vez de morder a corda, ficou enlaçada nela como em nó corredio. Então o homem gritou-me: − Segure bem, segure bem e não deixe escapar a corda. E correu até junto de uma pereira que havia ali perto e atou nela a ponta da corda que tinha nas mãos: depois


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correu para mim, pegou na ponta da corda que eu estava a segurar e foi prendê-la na grade de uma janela da casa. Entretanto a serpente remexia-se, debatia-se furiosamente e dava tais golpes no chão com a cabeça e com as suas enormes espirais, que se dilacerava toda e fazia saltar os pedaços do seu corpo a grande distância. Assim continuou enquanto teve vida; e, uma vez morta, só restou dela o esqueleto descarnado. Morta a serpente, o tal homem desatou a corda da árvore e da janela, puxou-a para junto de si, enrolou-a, fez dela como que um novelo e depois disse-me: − Esteja atento.


E meteu a corda num caixote que fechou e pouco depois voltou a abrir. Os rapazes tinham-se apinhado à volta de mim. Olhámos para dentro do caixote e ficámos estupefactos. Aquela corda tinha-se preparado de maneira que formava as palavras Ave Maria! − Mas como!, disse eu. Meteu aquela corda no caixote completamente à toa e agora está assim ordenada. − É assim, disse ele; a serpente representa o demónio, e a corda a Ave Maria, ou melhor, o Terço, que é uma sequência de Ave Marias, com a qual e com as quais se podem bater, vencer, destruir todos os demónios do inferno. − Até aqui, concluiu Dom Bosco, é a primeira parte do

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sonho. Há outra parte, que será ainda mais curiosa e interessante para todos. Mas a hora já vai adiantada e por isso deixá-la-emos para amanhã à noite. Entretanto, tenhamos em consideração o que disse aquele meu amigo a respeito da Ave Maria e do Terço. Rezemo-la com fervor quando somos tentados, certos de sair sempre vitoriosos. Boa-noite!

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COMENTÁRIO

O sonho da serpente e do rosário, contado aos jovens na “boa-noite” do mês de agosto de 1862, tem um colorido que nos remete para a descrição do quadro do Génesis, em que uma serpente astuta e manhosa seduz os nossos primeiros pais no paraíso. Mas, para que a obra da criação não ficasse inacabada, foi prometida por Deus Aquela que havia de esmagar a cabeça da serpente. Neste sonho sobressai a força intercessora de Maria. Destapando a caixa, o que os jovens viram, para seu encanto, foi a corda, instrumento de vitória, disposta delicadamente em forma de rosário com a invocação Ave Maria.

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A conclusão espiritual que os próprios jovens tiraram foi reconhecer na serpente a figura do demónio e, na corda, transformada em rosário, a proteção materna de Nossa Senhora. Daí a insistência de Dom Bosco junto dos seus jovens para que rezassem o terço todos os dias. Em Fátima, a Senhora pediu também com insistência aos pastorinhos que rezassem o terço todos os dias. Aos jovens de hoje e aos alunos das nossas Escolas podemos recomendar exatamente o mesmo: que rezem o terço todos os dias. Olhemos para o exemplo de Francisco Marto. Ficou todo contente com a promessa de ir para o Céu e dizia: «Ó minha Nossa Senhora, terços, rezo todos quantos Vós quiserdes». Que belo propósito o deste rapazinho santo!

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J. Antunes, sdb



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