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JUNHO 2022 n.º 163 8.551 EXEMPLARES
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ARTES VISUAIS
Como têm sido abordadas as “3 Graças” nas artes visuais? SAÚL NEVES DE JESUS Professor Catedrático da Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais; http://saul2017.wixsite.com/artes Exposição “3 Graças”, de Pedro Cabrita Reis (2022) FOTOS D.R.
Pintura “3 Graças”, a partir da gravura de Agostino Carracci (1590-95)
Pintura “As 3 graças”, de Peter Rubens (1630-05)
Pintura “As 3 graças”, de Rafael Sanzio (1504-05)
Pintura “La Ville de Paris”, de Robert Delaunay (1912)
A
13 de fevereiro foi inaugurada a exposição “3 Graças” de Pedro Cabrita Reis no Jardim das Tulherias, junto ao Museu Louvre, em Paris, no âmbito da Temporada Cruzada França-Portugal 2022”, contando com a presença do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Ao longo da história da arte, as três graças têm sido recorrentemente representadas por grandes artistas. Da mitologia grega até à arte contemporânea estas três figuras personificam os ideais de beleza feminina correspondentes às diferentes épocas e artistas. Às “Graças” era atribuído o poder de conferir aos artistas e poetas a habilidade para criar o belo. Deusas do amor, conhecidas como “Graças”, eram três jovens que, segundo o poeta Hesíodo, seriam filhas de Zeus e Eurínome, uma ninfa do mar com quem o deus do Olimpo teve um breve caso de amor. As três graças chamavam-se Aglaia, Euphrosyne e Thalya, e estavam sempre juntas. Além do amor e da beleza, as jovens também eram associadas à natureza, criatividade, fertilidade, charme, esplendor e alegria. Nas primeiras representações plásticas, as Graças apareciam vestidas, mas mais tarde foram representadas como jovens nuas, de mãos dadas, olhando duas das Graças numa direção e a terceira na direção oposta. Foi especialmente durante a Renascença que este tema se tornou recorrente na pintura, ocorrendo materializações a partir de obras anteriores. Foi o caso da pintura a óleo sobre cobre feita a partir da gravura de Agostino Carracci, em que as “3 Graças” aparecem sexualmente pouco expressivas. Também na pintura de Rafael destaca-se a palidez e o olhar indiferente das personagens, não sendo expostos os seios e os órgãos sexuais aparecendo
de forma discreta, lembrando corpos Graças” têm sido sempre três figuras de adolescentes, parecendo que o ideal femininas entrelaçadas entre si, nunca de beleza reside na juventude. se afastando. Na obra de Pedro Cabrita Um pouco diferente da representa- Reis as três esculturas, embora concepção de Rafael é a do pintor Rubens, tualmente unidas, estão fisicamente que optou por Graças mais maduras, separadas, representando a expansão com corpos e formas mais opulentas, da sua presença, tornando esta mais cruzando os olhares, sugerindo mais forte, o que pode representar a mulher intimidade. A composição, porém, é atual no mundo ocidental, com mais praticamente a mesma, pois duas das poder e uma presença mais forte e degraças são vistas frontalmente, enquan- terminante, embora a cortiça permita to a outra é representada por trás. manter uma “fragilidade interessante”, No início do século XX, quando os segundo as palavras do artista. movimentos de vanguarda europeus Pedro Cabrita Reis é um dos artistas estavam no auge, Robert Delaunay contemporâneos portuguesas mais repintou as 3 Graças na “Ville de Paris”, conhecido internacionalmente, tendo fragmentando as personagens. inclusivamente representado Portugal Assim, embora os personagens sejam na Bienal de Arte de Veneza, em 2003, as mesmos, as representações ao longo e reside no Algarve. do tempo mudaram muito, mostran- As suas “3 Graças” podem ser vistas do que o ideal de beleza é dinâmico e em Paris até final de junho. Depois muda ao longo do tempo. talvez venham para o Algarve, como No caso da obra de Pedro Cabrita Reis, o próprio afirma: "Um dia, se calhar, houve uma reinterpretação do tema encontro um jardim, ou no meio do “3 Graças”. campo, lá para a serra do Algarve, Esta reinterpretação expressa a onde moro, e ponho-as lá no meio das importância do pensamento e do alfarrobeiras". planeamento da obra no processo de produção artística. Em geral, as obras Ficha técnica artísticas são concretizadas por quem as concebe, mas verifica-se que, na arte Direção GORDA, contemporânea, muitas vezes quem Associação Sócio-Cultural pensa sobre o produto artístico não é Editor Henrique Dias Freire quem o executa. Assim, a perspetiva Responsáveis pelas secções: de “manualidade” do artista tem vindo • Artes Visuais Saúl Neves de Jesus a ser alterada, sobretudo a partir dos • Diálogos (In)esperados anos 60, com a emergência da arte Maria Luísa Francisco concetual. No entanto, atualmente • Espaço AGECAL Jorge Queiroz verifica-se uma conciliação entre a • Espaço ALFA Raúl Coelho importância das ideias e o seu suporte • Filosofia Dia-a-dia Maria João Neves material ou plástico, sendo superada • Fios De História Ramiro Santos a perspetiva da “desmaterialização da • Letras e Literatura Paulo Serra arte” ocorrida no século passado. • Mas afinal o que é isso da cultura? Expressando a importância da dimenPaulo Larcher são ecológica e da sustentabilidade na Colaborador desta edição atualidade, através da cortiça, usou Saúl Jorge Lopes também outros materiais para tornar e-mail redação: geralcultura.sul@gmail.com as peças mais resistentes ao facto de publicidade: serem colocadas ao ar livre. Cada peça anabelag.postal@gmail.com escultórica tem cerca de 4,50 metros online em www.postal.pt e pesa aproximadamente 500 quilos, e-paper em: www.issuu.com/postaldoalgarve a que se somam os 400 quilos da base FB https://www.facebook.com/ que as sustenta. Na concretização desta Cultura.Sulpostaldoalgarve obra, contou com a “ajuda” de um braço robótico que esculpiu a cortiça de acordo com um programa de computador. Ao longo da história da arte, as “3