Última Quotidianos poéticos
Mariano Alejandro Ribeiro fotos: d.r.
Pedro Jubilot
pedromalves2014@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt
Mariano Alejandro Tomasovic Ribeiro nasceu em Buenos Aires, em 1993. Aos dez anos a sua família deixou a Argentina e estabeleceu-se em Portugal. Estudou em várias Universidades, passando pelos cursos de História da Arte, Medicina e Psicologia, tendo uma licenciatura neste último e uma pós-graduação em Teoria da Literatura. Colaborou em diversas revistas literárias como a Sizígia (CanalSonora, 2014), Modo de Usar & Co., Flanzine e Enfermaria 6. Tem publicados os livros “Antes da Iluminação” (Mariposa Azual, 2016), “Carta em fuga para cravo e Drá” (Douda Correria, 2017) e ainda “Cabeça de Cavalo” (Macondo, 2017), este último no Brasil.
Mariano Alejandro Ribeiro já publicou três livros de poesia e depois dou por mim em alturas de muita produção, em que qualquer circunstância, frase, cheiro são o ponto de partida para criar alguma coisa. Fala-nos acerca de coisas dos teus dias em que acontece poesia ou que a faças acontecer. Acho que a poesia está latente em
Consegues escolher o teu livro/ livros de poesia preferido/s? Os mais relevantes? Leio muita poesia, e tento diversificar a leitura de poesia ao máximo, por isso não conseguiria escolher apenas um. Gosto muito dos poetas do modernismo, do T.S. Eliot, do Ezra Pound, do Rilke, do Almada. O Pessoa aborrece-me um bocado. Mas foram eles que deram o primeiro passo para “mundanizar” a poesia, para a tornar do povo, e isso é um gesto de tanta virtude e de tanto valor que é impossível um autor não se deixar influenciar por eles.
Autores que gostas ou que possas dizer te inspiram a escrever? Para além dos que mencionei, provavelmente a poesia americana, do Walt Whitman ao Gary Snyder, o Ginsberg incluído. Na poesia portuguesa tento fugir sempre que posso à influência do Herberto, do Al Berto e do Cesariny, embora goste muito de os ler. Dos nossos poetas contemporâneos a Adília é uma instituição, o Miguel-Manso e o António Poppe também são uma grande influência para mim. Já ninguém usa caneta e papel, quanto mais máquina de escrever,
Ao desafio de Pedro Jubilot: "Escolhe um poema teu para nossa leitura...", o autor argentino respondeu desta forma:
SEI
Como é o teu quotidiano na escrita da tua poesia? A poesia vem por momentos. Podem passar dias, semanas em que não escrevo nem penso em escrever,
tudo, enquanto componente do nosso quotidiano, mas depende muito mais do estado de espírito do poeta, se se deixa (ou não) influenciar pelo entorno e ainda se tem convicção de que determinado verso ou poema vale a pena ser passado ao papel.
As mãos atadas ao almofariz A ponta dos dedos a querer decifrar O morse do quotidiano nas cicatrizes da madeira Distancia-te um pouco desse sol de alvorada Finge-te finnegans ao despertar Sê humildemente A humidade Da terra In Cabeça de Cavalo (Edições Macondo, Brasil, 2017)
que material usas para escrever, como é o processo material da tua escrita? E o imaterial ? Quando me ocorre algum verso que me parece interessante aponto-o no telemóvel, às vezes pode chegar a ser um poema inteiro, mas a maior parte das vezes é só um verso ou palavras que na altura me soam bem. De resto, escrevo sempre, sempre no computador, nunca com caneta e papel. O processo imaterial da escrita é o mais complicado, porque sinto não ter muito controlo sobre ele. Simplesmente acontece e quando a frase que surge na minha mente parece por alguma razão adequada, e aí passo-a a um suporte físico. Quando (dia, hora, estação do ano) escreves ? Sempre e só de manhã. Vícios, manias e segredos contáveis relacionados com a tua escrita … Não mostro absolutamente nada dos meus textos até não estarem publicados e no seu estado final, quer seja impresso ou online. Tirando isso, a minha namorada é a única pessoa que consulto durante o processo de criação, quando não estou completamente seguro sobre alguma coisa. Também não escrevo em público. Que livro de poesia estás a ler ou leste recentemente? Leio sempre poesia em paralelo com algum romance ou livro de não-ficção. Ontem estive a reler o livro 50 Poemas do Tomas Tranströmer, editado pela Relógio D’Água. Antes desse, foi o Obra Gruesa, do Nicanor Parra.