Revista Portugal Protocolo 27

Joséde

Bdiplomacia ouza Serrano e Protocolo Josefa d’Óbidos no

Museu Nacional de Arte Antiga

Diáriode

Notícias Marca

Portuguesa Secular # 27.2015

4 | Editorial 5 | Academia 7 | Entrevista, Embaixador José

de

de

Protocolo

Bouza Serrano,

Diplomacia

e

Protocolo

30 | Cultura, Josefa d’Óbidos, Museu Nacional

no

Arte Antiga

de

40 | Património, “Marcas Portuguesas Seculares, Diário 50 | Literatura, “Vera Cruz”, 52 | Golfe, P ro -A m

do

56 | Protocolo, Assembleia Geral

de

Notícias”

de

João Morgado

P ortugal M asters das

Nações Unidas

58 | Protocolo, Comunidade Portuguesa Leste 60 | Protocolo, Visita

Capa | Arquivo

pessoal do

Serrano,

ao

MoMA

em

Costa

dos

EUA

Nova Iorque

Embaixador José

fotografia de

na

de

Bouza

Henry Arvidsson

PORTUGAL PROTOCOLO Edição Digital Nº 27 . 2015 . Julho, Agosto, Setembro

Director

João Micael

Jornalista Convidada Maria Dulce Varela Fotógrafo Convidado João de Sousa Arte

Portugal Protocolo Design

Propriedade Matriz Portuguesa - Sociedade civil para o Desenvolvimento

da

Cultura

Conhecimento, Unipessoal, Lda.

e do

Tel. +351 21 410 71 95 . Telem. +351 91 287 10 44 protocolo@portugalprotocolo.com www.portugalprotocolo.com

Registo ERC Nº 125909 INTERDITA A REPRODUÇÃO DE TEXTOS E IMAGENS POR QUAISQUER MEIOS

Por

vontade expressa do editor a revista respeita a ortografia

anterior ao actual acordo ortográfico.

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 3

E

João Micael Director de Portugal Protocolo

Já era tempo de a revista Portugal Protocolo convidar para as suas páginas uma personalidade ligada ao Protocolo, além da Cultura, do Património, e do meio empresarial.

Para tal inicia-se um ciclo, que se espera seja longo, de muitas memórias e testemunhos de quem se movimenta pelos acontecimentos e cerimónias de manifestação do

Poder, do antigo Chefe do Protocolo do Estado Português, actualmente representante diplomático em Haia, o embaixador José de Bouza Serrano.

Um caríssimo amigo que, apesar da sua preenchida agenda, e da distância geográfica, se prontificou, com a extrema cordialidade que todos lhe reconhecem, a conceder a entrevista.

Os números compilados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), através de um novo instrumento estatístico do sector, a Conta Satélite da Cultura (CSC) indicam, para o período entre 2010 e 2012, um valor de 2,7 mil milhões de euros gerados pela Cultura.

Estes valores vêm, assim, confirmar o

4 . Portugal Protocolo 2015 . #27

d i t o r i a l

que foi defendido por aqueles, como eu, que a Cultura e o Património são excelentes geradores de riqueza para Portugal. Mas, para além da sua capitalização, devem ser devidamente preservados e dignificados, como factores diferenciadores da História e da Cultura de Portugal.

Não obstante, o Património e a Cultura ainda não estão totalmente a salvo das mãos ignaras e das personagens cabotinas, que se limitam a importar ideias e conceitos desapropriados para a nossa realidade, demonstrando uma total ausência de sentido de oportunidade, bom-gosto, ou bomsenso – recordemos as inauditas “praias urbanas” cravadas nos jardins públicos de uma cidade rodeada de belíssimas praias naturais, e de eventos pé-descalço espalhados, como pragas, pelas mais distintas praças e locais nobres da capital, até ao inenarrável monumento à boçal exposição galinácea e hortícola, ao som de um enlatado Tony “qualquercoisa” em plena avenida da Liberdade, onde se concentram as lojas das marcas internacionais de luxo (!!!), entre outras pérolas.

Nesta edição homenageia-se o iconográfico jornal Diário de Notícias, contando já com 151 anos de existência, e que faz parte do Património Nacional.

Tenho, igualmente, o gosto de apresentar o livro “Vera Cruz”, de João Morgado, que recorda uma das figuras maiores da História de Portugal - Pedro Álvares Cabral.

Fechamos com a importante visita do Presidente da República às Comunidades Portuguesas na Costa Leste dos Estados Unidos, devido ao seu importante significado simbólico: a Esfera Lusófona não se limita aos países de expressão portuguesa, antes, encontra-se em todo o Mundo.

Nas palavras do Padre António Vieira: “Um palmo de terra para nascer, um Mundo inteiro para Morrer”.

A Academia de Protocolo é um projecto inédito em Portugal, concebido para o estudo e ensino do Protocolo enquanto disciplina “normativa” e a formação de profissionais de Protocolo e Cerimonial. É, também, o complemento e apoio essenciais de formação e de consultadoria às Relações e Intercâmbios Culturais, Académicos e Empresariais para as entidades oficiais, institucionais e privadas da Esfera Lusófona composta pelos Países de Língua Oficial Portuguesa; Comunidades Portuguesas, mais qualificadas e empreendedoras, disseminadas pelo Mundo; Luso-descendentes, fruto de uma integração sociocultural de sucesso, com expressivos exemplos na ocupação de cargos governativos nos países onde nasceram e residem e a todos os países com quem mantém importantes ligações.

www.matriz-portuguesa.pt

A

aplicação prática do

Protocolo

visa

Utilizar correctamente o Protocolo na imagem e comunicação empresarial; Ultrapassar as barreiras resultantes do desconhecimento protocolar; Reconhecer a importância da Imagem para o sucesso; Participar com eficácia e qualidade em eventos profissionais e sociais.

A “Academia

de

Protocolo

na

Esfera Lusófona”

pretende

Dinamizar e fomentar o estudo, debate, a apresentação de projectos na área protocolar nos âmbitos oficial, autárquico, empresarial, social, desportivo, e multicultural; A valorização profissional e cultural através dos Cursos Livres de Protocolo; Certificação dos profissionais da área protocolar; Relacionamento e intercâmbio entre entidades oficiais, institucionais e particulares, nacionais e estrangeiras, na Esfera Lusófona; Editar e publicar, sob qualquer forma e suporte, obras no âmbito da área protocolar com relevância institucional e profissional; Promover a formação empresarial, profissional, social e multicultural neste domínio; Disponibilizar serviços de consultadoria e serviços de Protocolo; Quaisquer outras actividades que se ajustem às finalidades da Academia de Protocolo.

Organizando

e realizando para o efeito

Encontros, conferências, cursos livres, acções de formação, exposições, visitas e viagens em Portugal e ao estrangeiro, bem como outras iniciativas sociais e culturais.

www.matriz-portuguesa.pt

Entrevista com o embaixador José de Bouza Serrano, em Haia

Nasceu em 20 de Julho de 1950, em Lisboa. É licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa. Mas, é a Diplomacia que o atrai em 1978, quando é aprovado no concurso de admissão aos lugares de adido de embaixada.

A partir de então, a sua carreira percorre várias etapas, sucedendo-se cargos como adido na Secretaria de Estado, em 1979; adjunto do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, em 1981; e inicia-se no estrangeiro como Secretário na Embaixada em Madrid, em 1984.

Com S.E. o Presidente da República na entrega das Credenciais como Embaixador de Portugal nos Países Baixos, Março de 2012 Fonte: © 2006-2015 Presidência da República Portuguesa

Entrevista de João Micael Texto de Maria Dulce Varela Todas as fotografias foram gentilmente cedidas pelo Embaixador José de Bouza Serrano, provenientes do seu arquivo pessoal #27 . Portugal Protocolo 2015 . 7

Entrevista com o embaixador José de Bouza Serrano, em Haia

“Desde sempre me fascinaram a História da Europa, as Relações Internacionais e o próprio Direito Internacional”

Página ao lado Antes da Apresentação de Cumprimentos de Ano Novo 2015 a SSMM os Reis da Holanda 8 . Portugal Protocolo 2015 . #27

Exerce entretanto, outras funções ligadas à Cultura, como director executivo do Centro Cultural de Belém, durante a Presidência Portuguesa do Conselho das Comunidades Europeias; na direcção das Relações Culturais Externas da Direcção-Geral dos Negócios Político-económicos, em 1993, adjunto do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Chefe de Gabinete do Secretário de Estado da Cultura, entre muitos outros cargos.

Regressa ao meio diplomático nas embaixadas em Bruxelas (REPER) em 1994; na Embaixada junto da Santa Sé e da Ordem Soberana e Militar de Malta, em 1997. É entretanto promovido a Ministro Plenipotenciário de 2ª classe.

Vice-Presidente do Instituto Camões, em 2003 e, em 2004, assume as funções de assessor do Primeiro-Ministro. Com Cartas de Embaixador, na Embaixada em Copenhaga, em Fevereiro de 2005.

Até 2008, desempenha várias actividades diplomáticas até à sua nomeação como Chefe do Protocolo do Estado Português, sendo posteriormente convidado a escrever a obra “O Livro do Protocolo”, publicada em 2011. Em 2012 recebe do Presidente da República Cartas Credenciais como Embaixador em Haia, na Holanda, sendo igualmente o Representante Permanente de Portugal junto da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAC).

Em Dezembro de 2012 é promovido a Embaixador (full rank), continuando no mesmo posto. É Grã-Cruz das Ordens do Infante Dom Henrique e do Mérito, de Portugal, e foi agraciado inúmeras vezes, por diversos Chefes de Estado, com várias ordens honoríficas estrangeiras.

Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 9

Entrevista com o embaixador José de Bouza Serrano, em Haia Sendo o Direito a base da sua formação académica, o que o atraiu na Diplomacia?

Desde sempre me fascinaram a História da Europa, as Relações Internacionais e o próprio Direito Internacional, quer Público quer Privado. O privilégio de ter tido como Mestres, na Faculdade de Direito de Lisboa, os Profs. Isabel Magalhães Colaço e André Gonçalves Pereira (que mais tarde veio a ser meu Ministro dos Negócios Estrangeiros) só veio acentuar e confirmar a minha vontade de ingressar na Carreira Diplomática.

Página ao lado Entrega de Credenciais Holanda, Abril 2012 Fotografia Fotobureau Thuring B.v.

Páginas seguintes Banquete de S.M. a Rainha Beatrix em honra do Corpo Diplomático, Amesterdão, 2013 Arquivo pessoal do Embaixador José de Bouza Serrano 10 . Portugal Protocolo 2015 . #27

As suas experiências nos assuntos diplomáticos tiveram início em Portugal. Considera este princípio importante para o desenvolvimento da sua carreira diplomática no estrangeiro, tenha sido em instituições governativas ou em missões diplomáticas?

Existem diferenças essenciais entre estes dois órgãos?

Como Português foi natural, após a minha admissão no Concurso e posterior confirmação como Terceiro Secretário de Embaixada no Ministério dos Negócios Estrangeiros, aprender e aplicar os fundamentos práticos e teóricos da diplomacia nacional, ao serviço dos interesses estratégicos e políticos permanentes de Portugal no Mundo. Os instrumentos e as técnicas de negociação (tirando as utilizadas na União Europeia que são muito específicas e que só assimilei na minha passagem de três anos e meio pela nossa Representação Permanente em Bruxelas) são muito semelhantes no dia-a-dia de um funcionário diplomático, seja qual for a sua nacionalidade. Há uma identidade comum e uma praxis semelhante nos procedimentos, diligências e relatórios

Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

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Entrevista com o embaixador José de Bouza Serrano, em Haia

“Politicamente, para além das relações com a Igreja portuguesa (…) sobressai a difícil questão de Timor, a prioridade da nossa agenda então na Santa Sé.”

Página ao lado Em cima Entrega de Credenciais a S.M. a Rainha da Holanda, Abril 2012 Fotografia, Fotobureau Thuring B.v.

Em baixo Apresentação de Credenciais a S.M. a Rainha da Dinamarca, Março de 2005, Palácio Real de Copenhaga Páginas seguintes Cumprimentos a S.M. a Rainha da Dinamarca, 2008 12 . Portugal Protocolo 2015 . #27

e apontamentos que resultam de encontros e reuniões.

As Embaixadas e os Consulados de Portugal no estrangeiro são a rede indispensável à nossa representação externa e uma extensão da soberania e presença do Estado junto dos países com os quais mantemos relações diplomáticas e das comunidades de portugueses que neles vivem e trabalham. Não se pode falar em diferença, mas apenas na extensão e complementaridade de um nos outros, ou seja, o Embaixador representa o Chefe de Estado e o Governo junto do país anfitrião onde está acreditado e protege e assegura, juntamente com os Cônsules, as necessidades dos Portugueses aí residentes.

Toda a nossa actividade é feita em coordenação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, de quem recebemos instruções e com quem nos correspondemos diariamente, através de meios especiais de comunicação, que preservam a confidencialidade e sensibilidade de muitos dos temas políticos transmitidos.

Verifica-se na sua carreira uma forte ligação à Cultura. Deve-se esse facto a uma decisão e gosto pessoais?

Também aqui tive o privilégio de ser o filho mais novo de um casal que casou tarde e, com o meu irmão Manuel, entretanto já falecido, sempre vivemos rodeados de música, livros, e objectos que ainda hoje possuo e aprecio. E, sobretudo, convivíamos com gente muito mais velha e interessante, com quem aprendi muito. Tinha uma prima que viveu algum tempo connosco, que foi a minha preceptora, e desde sempre me levava a museus, exposições e a visitar igrejas. A minha mãe inscreveu-me no Conservatório e dava-nos aulas

Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

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Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

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Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

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Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

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Entrevista com o embaixador José de Bouza Serrano, em Haia de música em casa, mas o solfejo afastou-me irremediavelmente da aprendizagem. A cultura veio, assim, naturalmente…

A Santa Sé é apenas uma Cidade-Estado Soberana situada no interior de um outro Estado Soberano, mas que representa cerca de 1,2 bilhões de católicos, mais de um sexto da população mundial. O que representou para si a sua permanência naquela embaixada?

Eu vinha de um período de trabalho intenso em Bruxelas e na Europa, onde era “Antici” na REPER, ou seja, colaborávamos directamente com o Embaixador e toda a vasta equipa, pertencíamos a um grupo restrito e com algum poder dentro da estrutura comunitária, tirávamos notas nos Conselhos em que éramos os diplomatas mais próximos aos Chefes de Estado e de Governo nas intermináveis reuniões, algumas “históricas” para a construção europeia. Tinha tido anteriormente um longo período de recuperação de um problema de saúde (embora ser seguido em Bruxelas, no Instituto Jules Bordet, fosse uma segurança e a garantia de estar na vanguarda da investigação e do tratamento das doenças oncológicas). Chegar a Roma, trabalhar na “Vila Lusa”, um palácio de nossa propriedade na Via San Valentino, num parque de três hectares onde também existe uma casa para o “número dois”, foi uma inesperada bênção e o melhor dos prémios para a experiência europeia, que abarcou o período entre os Tratados de Maastricht e Amsterdão. Tinha então como chefe, que muito se interessou na minha colocação naquele posto, o querido Embaixador António Pinto da França e

“… o protocolo e o cerimonial constituem o que o General De Gaulle chamava ”a ordem da Republica …”

Página ao lado Em cima Com São João Paulo II, 1999 Fotografia, “Osservatore Romano” Em baixo Papa Bento XVI na Nunciatura em Lisboa Fotografia, “Osservatore Romano” #27 . Portugal Protocolo 2015 . 17

Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

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Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

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Entrevista com o embaixador José de Bouza Serrano, em Haia servi ainda com o Embaixador Pedro Ribeiro de Menezes, meu amigo e antigo Director-Geral Político, que me fez uma memorável despedida com o “tout Rome”. Como católico também me marcou muito aquela proximidade com a “cabeça da Igreja e do Mundo” e a parte final do Pontificado do Papa João Paulo II, hoje Santo, de cujas mãos, posso hoje orgulhar-me, recebi muitas vezes a Sagrada Comunhão.

Politicamente, para além das relações com a Igreja portuguesa, nomeação de Bispos e Cardeais, a nova Concordata e muitos outros temas da complexa relação Igreja–Estado, sobressai a difícil questão de Timor, a prioridade da nossa agenda então na Santa Sé.

Pressionávamos e insistíamos na Cúria para que o Santo Padre recordasse no “Angelus” ou em outras ocasiões de muita audiência, o drama em que viviam aquelas populações ocupadas e oprimidas. Foi de grande e decisiva ajuda o então Monsenhor responsável pelas Relações com os Estados, o actual Cardeal Piero Parolin, de quem guardo gratas recordações e alguma correspondência no meu arquivo.

Página ao lado Em cima “Sail Amesterdão”, Agosto 2015, jantar de inauguração no Museu Naval.

Comandantes e Imediatos da “Sagres” e da “Sta. Maria Manuela”.

Fotografia, Sail Amesterdão Em baixo Com SM A Rainha Beatrix nas Comemorações dos 300 Anos do Tratado de Utreque, 11 de Abril de 2013 Fotografia, Câmara Municipal de Utreque 20 . Portugal Protocolo 2015 . #27

Representou Portugal junto da Ordem Soberana e Militar de Malta. Teve um significado especial para si? Existe alguma ligação, histórica ou outra, com a República de Malta?

Os cinco anos acreditado também junto da Ordem Soberana e Militar de Malta, em que Portugal teve ao longo dos nove séculos da sua existência quatro Príncipes Grão-Mestres, foi igualmente uma experiência única e muito enriquecedora. Hoje, sendo Cavaleiro Grã-Cruz de Graça e Devoção, recordo e revejo diversos amigos desse período, tanto em Roma como na Associação de Cavaleiros

Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 21

Entrevista com o embaixador José de Bouza Serrano, em Haia Portugueses. Foi para mim uma grande honra e satisfação, como Chefe do Protocolo e obviamente como Cavaleiro, organizar a visita de Estado a Portugal de Sua Alteza Eminentíssima o Príncipe Grão Mestre, Fra Mathew Festing, em Dezembro de 2010.

Curiosamente, quando vim de Copenhaga para Lisboa, a primeira Visita de Estado que organizei foi a do então Presidente da Republica de Malta. Mas a ilha mediterrânica oferecida pelo Imperador Carlos V aos cavaleiros para aí se estabelecerem quando se tornou impossível viverem no Médio Oriente, foi ocupada pelo ambicioso Imperador Napoleão na sua Campanha do Egipto. Os cavaleiros e a população, não podiam lutar contra outros cristãos e renderam-se, indo o Governo da Ordem, em exilio, para Roma, para junto do Santo Padre. Os ingleses expulsaram mais tarde os franceses mas, sempre muito atentos aos seus interesses e à posição estratégica da ilha, guardaram-na para si e nunca a devolveram aos Cavaleiros. Entretanto concederam independência a uma República de Malta, herdeira territorial da Ordem Soberana e Militar.

Página ao lado Em cima Na Sinagoga Portuguesa com SAR o Príncipe Guilherme de Orange, 2013 Fotografia, Sinagoga Portuguesa Em baixo Com SSAA os Príncipes Dimitri e Dorrit Romanov, Museu Hermitage Amesterdão, Março de 2015 Fotografia, “Jornal Telegraph” 22 . Portugal Protocolo 2015 . #27

Foi Chefe do Protocolo do Estado Português, cargo que muitos julgam rodeado de muito esplendor, cerimónias intermináveis e requintados banquetes. Sendo um cargo que requer absoluta discrição e é extraordinariamente exigente ao nível pessoal, como descreveria a essência desse cargo?

Quando fui nomeado para essas funções existia já a Lei das Precedências do Protocolo do Estado Português, a Lei nº40/2006, de 25

Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 23

Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

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Entrevista com o embaixador José de Bouza Serrano, em Haia de Agosto de 2006, o que era um avanço enorme para o meu tempo de Adido de Embaixada em 1981. Nesses remotos anos a lista das Precedências era uma folha guardada numa gaveta da secretária do Chefe do Protocolo (na qual anos depois vim a sentar-me) e a interpretação ficava ao sabor da sensibilidade do Chefe, sendo fonte certa e permanente de ofensas e reclamações. O próprio Chefe do Protocolo figura nessa Lei, com o grau 36º nas precedências, o que o coloca logo a seguir aos Secretários Gerais da Presidência da Republica, Presidência do Conselho de Ministros e Ministério dos Negócios Estrangeiros. Tendo em conta a hierarquia assim estabelecida, o protocolo e o cerimonial constituem o que o General De Gaulle chamava ”a ordem da Republica”, um corpo harmónico de normas essenciais que rege a relação interpessoal na organização de um acto público oficial.

Uma codificação utilíssima que evita as susceptibilidades e a desordem nos contactos internacionais, codificando uma série de procedimentos comuns que dão segurança à organização das diversas cerimónias revestidas de uma certa solenidade inerente ao próprio Estado. “Um lugar para cada pessoa, cada pessoa no seu lugar”, contornando as susceptibilidades e os “maus humores” de quem se julga preterido. Um antigo chefe meu, muito crítico relativamente à classe política, costumava dizer “podem não saber comer à mesa, mas acham sempre que deviam estar sentados mais á frente…!”

A essência do cargo ou das funções é a de um coreógrafo, que idealiza e desenvolve todas as cerimónias, dissecando-as em todas as suas fases, sempre atento ao facto de que hoje em dia, com a comunicação social,

Página ao lado Em cima Com S.M. o Rei D. Juan Carlos I, na Madeira Fotografia, “Borja” Casa Real Espanhola, 2012 Em baixo Com SAR o Príncipe de Gales, Cascais #27 . Portugal Protocolo 2015 . 25

Entrevista com o embaixador José de Bouza Serrano, em Haia

“…ao longo da minha carreira, que em breve chegará ao fim, tive o enorme privilégio de só servir na Europa e em Monarquias (…) farão sempre parte de uma gratificante e fantástica experiência pessoal e profissional que modelou a minha Carreira Diplomática e, sobretudo, resultou numa visão pessoal e particular da Europa e do Mundo.”

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o que se passa num círculo restrito de uma sala do Palácio da Ajuda ou na Tribuna de uma parada militar, é reproduzido para milhares, senão milhões de espectadores, exigindo uma visão de realizador de cinema, escrutinada pela câmara. Outra coisa a ter presente para o êxito da cerimónia é utilizar o princípio de um antigo Embaixador que me repetia: “Check, double chec and re-check again”.

Mesmo a terminar, não esqueçamos uma enorme paciência e capacidade de improvisação que, junto a uma verdadeira humildade cristã, nos serão sempre utilíssimas nestas funções!

Quais são os principais deveres e atributos do Chefe do Protocolo do Estado?

Bom, essencialmente, o dever de lealdade para com os nossos Chefes, pois muitas vezes dependemos e temos de servir mais do que uma personalidade política em simultâneo.

Da lealdade decorre a confiança que depositam em nós, o que faz que acatem as sugestões ou soluções que apresentamos para os diversos problemas. Temos de ser muito discretos pois, pelas funções que desempenhamos, estamos muito perto dos “grandes deste mundo”, que nem sempre se nos revelam na intimidade forçada, sob os seus melhores ângulos estéticos e humanos. Um certo humor é de agradecer, pois são comuns situações complicadas em que é necessário sair com elegância.

Uma certa firmeza é indispensável, o que só reforça a nossa credibilidade, sempre que se dê uma justificação ou se explique o porquê de uma decisão.

Sobretudo não nos podemos esquecer que somos a cabeça aparente de uma equipa de vários colegas e funcionários, que é necessário manter

Entrevista com o embaixador José de Bouza Serrano, em Haia em boa harmonia e coordenação, num trabalho estressante e efémero que se renova cada dia.

Quais são as memórias mais gratificantes que guarda dessas funções?

Acredite que são inúmeras e nem todas confessáveis…

Mas recordo com especial significado a visita de quatro dias a Portugal de Sua Santidade o Papa Bento XVI (que conhecera como Cardeal em Roma e que fora duas vezes à Embaixada), o almoço em Belém oferecido pelo Senhor Presidente da Republica ao Presidente Obama, ou a partida que me pregou o anterior Rei de Espanha, que conheço há tantos anos, na visita à Madeira. É, actualmente, o Embaixador de Portugal em Haia, na Holanda, uma monarquia constitucional.

Testemunhou, em uma posição privilegiada, o momento histórico da abdicação da rainha Beatriz em favor do seu herdeiro, o agora rei Guilherme Alexandre. Quais são as diferenças mais evidentes, ao nível do Protocolo e do Cerimonial, entre a Monarquia e a República?

Foi realmente uma situação muito especial e histórica a abdicação de SM a Rainha Beatriz, Soberana a quem entreguei Credenciais numa cerimónia protocolarmente muito cuidada. Seguindo a tradição desta dinastia, considerou Sua Majestade que tinha chegado o momento de entregar o testemunho ao Príncipe herdeiro, preparado para assumir a chefia do Estado e com as filhas numa idade em que não necessitariam tantas atenções exclusivas dos pais.

Sem a morte do Soberano reinante, funerais de Estado, luto e investidura #27 . Portugal Protocolo 2015 . 27

Entrevista com o embaixador José de Bouza Serrano, em Haia do novo Rei, todo o cerimonial se torna mais apetecível e alegre. Foi o que veio a acontecer noutras cortes como a belga ou espanhola, num curto espaço de tempo. Uma cerimónia e um espectáculo único, num quadro sóbrio mas imponente, em que o Corpo Diplomático foi todo convidado para estar presente nesta sucessão dinástica, em que o Rei usou o manto dos seus antepassados e sobre uma mesa, se dispuseram os símbolos da realeza e a Constituição dos Países Baixos, que o Rei jurou servir. Foi precedida pela assinatura de uma Acta de Abdicação pela Rainha Beatriz perante as mais altas individualidades do Reino. Na cerimónia da sua investidura o novo Rei agradeceu sentidamente à sua Mãe os anos prósperos de reinado, o exemplo e o carinho com que o tinha ensinado o ofício de Rei. Os rituais do poder e a sua coreografia são mais marcantes numa monarquia do que numa república, embora este reino só tenha duzentos anos, como tal. As cores escolhidas, os cortejos, a figura impressionante da nova Rainha ostentando jóias pouco conhecidas da fantástica colecção da Casa de Orange, a aclamação popular dos cidadão e a adesão incondicional à família real, cujo novo Rei e a anterior Rainha fazem parte do seu imaginário quotidiano, que o viram crescer, casar, ser pai, perder um irmão querido…uma infinidade de emoções compartilhadas que são a verdadeira magia e a essência intemporal das monarquias, quer queiramos quer não!

Esta família está na intimidade dos seus concidadãos, é querida, amada e representa exemplarmente a unidade e a tradição cultural holandesa.

Em todos estes anos eu aprendi sempre muito com o requintado cerimonial das monarquias e pude 28 . Portugal Protocolo 2015 . #27

colocá-lo, de algum modo, ao serviço da república, quando me nomearam Chefe do Protocolo do Estado.

Pois, se embora para muitos possa parecer pretensioso, ao longo da minha carreira, que em breve chegará ao fim, tive o enorme privilégio de só servir na Europa e em Monarquias (não esqueçamos que o Vaticano é uma monarquia electiva, em que todos os Cardeais, são Príncipes Herdeiros, já que qualquer um deles poderá ser eleito Papa). Juntamente com Espanha, Bélgica, Dinamarca e Holanda, as felizes recordações e vivências na Ordem Soberana e Militar de Malta e nas monarquias constitucionais, farão sempre parte de uma gratificante e fantástica experiência pessoal e profissional que modelou a minha Carreira Diplomática e, sobretudo, resultou numa visão pessoal e particular da Europa e do Mundo.

Página ao lado Em cima Com SM o Rei Olavo Noruega e os actuais soberanos Harald e Sónia, então príncipes herdeiros. À esquerda do embaixador josé de Bouza Serrano a Príncesa Raghnilde, irmã do Rei, entretanto falecida.

Em baixo Com SM o Rei Humberto de Itália, Cascais, 1980

Entrevista com o embaixador JosĂŠ de Bouza Serrano, em Haia

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 29

Cultura - Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco Português

Esteve

patente ao público a grandiosa exposição “Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco Português”, no Museu Nacional de Arte Antiga, entre 16 de Maio e 20 de Setembro.

Fonte . Museu Nacional de Arte Antiga 30 . Portugal Protocolo 2015 . #27

Museu Nacional de Arte Antiga Rua das Janelas Verdes 1249-017 Lisboa Tel.: +351 912 110 771 geral@mnaa.dgpc.pt

Cultura - Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco Português

Ao longo de quase quatro décadas, Josefa de Óbidos criou algumas das imagens mais reconhecíveis da História da Arte portuguesa.

Fascinante pela sua condição de género mas também pela individualidade do seu percurso artístico, Josefa é o alicerce desta grande exposição que nos desvenda, em oito núcleos, o Barroco português nos anos que se seguiram à Restauração da Independência.

Mais de 130 peças (pintura, escultura e artes decorativas) vindas de várias instituições nacionais e internacionais, como os museus do Prado e de Bellas Artes de Sevilha, o Mosteiro do Escorial e de inúmeras colecções privadas, portuguesas e estrangeiras, compõem uma mostra inovadora, que o Museu Nacional de Arte Antiga, em

Página ao lado Josefa de Ayala (Sevilha, 1630–Óbidos, 1684) Adoração dos Pastores Assinado e datado Josepha em Obidos 1669 Óleo sobre tela Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga, inv. 128 Pint ©DGPC/ADF/José Pessoa Em cima Josefa de Ayala (Sevilha, 1630–Óbidos, 1684) Natureza morta com melancia e peras Óleo sobre tela MNAA 636 Pint (em depósito no Palácio Nacional de Queluz) ©DGPC/ADF/José Pessoa #27 . Portugal Protocolo 2015 . 31

Cultura - Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco Português

32 . Portugal Protocolo 2015 . #27

Cultura - Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco Português

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Cultura - Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco Português

Páginas anteriores Josefa de Ayala (Sevilha, 1630–Óbidos, 1684) Natureza-morta com doces e barros Assinado e datado Josepha em Obidos 1676 Óleo sobre tela Museu Municipal de Santarém, Casa-Museu Anselmo Braamcamp Freire, inv. MMS/005462BF ©DGPC/ADF/José Pessoa Página ao lado Josefa de Ayala (Sevilha, 1630–Óbidos, 1684) Santa Teresa Esposa Mística Assinado e datado Josepha em Obidos 1672 Óleo sobre tela Paróquia de Cascais ©DGPC/ADF/José Pessoa Páginas seguintes Josefa de Ayala (Sevilha, 1630–Óbidos, 1684) Natureza-morta com doces, flores, queijos e cesto de favas Assinado e datado Josepha em Obidos 1676 Óleo sobre tela Museu Municipal de Santarém, Casa-Museu Anselmo Braamcamp Freire, inv. MMS/005463BF ©DGPC/ADF/José Pessoa 34 . Portugal Protocolo 2015 . #27

Cultura - Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco Português

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Cultura - Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco Português

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Cultura - Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco Português

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Cultura - Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco Português parceria com a Ritmos, preparou para o verão de 2015.

Revisitar a sua obra tem várias justificações. Mostrar a um novo público as suas pinturas, muitas em colecções privadas, e voltar a interrogar essas obras à luz dos contributos críticos entretanto colhidos, em exposições nacionais e internacionais onde a presença da pintora foi particularmente forte, são apenas algumas. Afastar de Josefa o mito da artista curiosa, porém provinciana, e apresentá-la como uma mulher emancipada e culta, cuja fé reflecte a espiritualidade do século XVII, e como o mais eficaz e reputado expoente do Barroco português no ciclo que se seguiu à Restauração, é outro dos objectivos.

Projecto, Museu Nacional de Arte Antiga / António Filipe Pimentel Comissários, Joaquim Oliveira Caetano, Anísio Franco e José Alberto

Página ao lado Josefa de Ayala (Sevilha, 1630–Óbidos, 1684) Menino Jesus Salvador do Mundo Assinado e datado Josepha em Obidos 1680 Óleo sobre tela Coimbra, Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco ©DGPC/ADF/José Pessoa 38 . Portugal Protocolo 2015 . #27

Cultura - Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco Português

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 39

Património - Marcas Portuguesas Seculares, Diário de Notícias

O DN

não é o

mais antigo jornal português ainda em circulação.

No

entanto, nenhum jornal português tem o seu primeiro número tão implantado na memória de todos.

Texto com base em investigação de Manuel Alpiarça, Notícias.

Maria Dulce Varela Fotografias cedidas por Diário de Notícias 40 . Portugal Protocolo 2015 . #27

Património - Marcas Portuguesas Seculares, Diário de Notícias

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Património - Marcas Portuguesas Seculares, Diário de Notícias Um jornal de iniciativa.

Qualquer pessoa minimamente relacionada com os jornais está ainda hoje maximamente familiarizada com aquela página, onde sobressai que Suas Majestades e Altezas passam sem novidade em suas importantes saúdes.

O que é que fez um jornal, nascido, aparentemente, como todos os outros, ganhar uma tal notoriedade?

Provavelmente, o facto de o DN nunca ter sido, afinal, um jornal como os outros.

O DN marcou-se pela diferença.

Pelo seu poder de iniciativa.

Pela sua determinação em andar de braço dado com a modernidade.

Tudo passou a ser diferente desde aquela manhã de quinta-feira, 29 de Dezembro de 1864, dia de São Tomás de Cantuária, talvez escolhido para dar sorte a Tomás Quintino Antunes, que, com Eduardo Coelho, fez a dupla de fundadores do jornal.

No tempo do Senhor Dom Luís Reinava, havia três anos, o Senhor Dom Luís, no espaço que lhe era concedido pelos conflitos entre liberais e absolutistas, reaccionários e progressistas, monárquicos e republicanos, religiosos e laicos.

Três novidades, em simultâneo, quebraram a rotina daquele dia, logo pela manhãzinha: - aparecia um jornal que custava dez réis pelas suas quatro páginas, ou seja, três a quatro vezes mais barato do que os restantes em praça; - chegou à rua pela vozearia de rapazes que o apregoavam a plenos pulmões pela capital: era o princípio do fim do monopólio dos cegos papelistas da Irmandade do Menino Jesus de São Jorge de Arroios, em postos fixos; e apresentou-se 42 . Portugal Protocolo 2015 . #27

como um jornal de carácter popular, independente e predominantemente noticioso.

Estava na rua aquilo que hoje se chamaria o número zero do DN e que, na altura, se denominou o númeroprograma: O Diário de Notícias - o seu título assim o indica – irá será uma compilação cuidadosa de todas as notícias do dia, de todos os países e de todas as especialidades, um noticiário universal.

Em estilo fácil e com a maior concisão, informará o leitor de todas as ocorrências interessantes (...) Eliminando o artigo de fundo, não discute política nem sustenta polémica.

Regista com a possível verdade todos os acontecimentos, deixando ao leitor, qualquer que sejam os seus princípios e opiniões, o comentá-los a seu sabor. É pois um jornal de todos e para todos - para pobres e ricos de ambos os sexos e de todas as condições, classes e partidos. Um estatuto editorial assim - muito antes de se falar em estatutos editoriais - era uma verdadeira revolução no panorama da imprensa da época, partidarizada e instrumento da luta política.

O fôlego de Eduardo Coelho O sonho de José Eduardo Coelho era mudar. Nascido em Coimbra, Eduardo Coelho ansiava por um jornal como o Petit Journal parisiense ou La Correspondencia de Espanha, populares e independentes, essencialmente noticiosos.

Tentou, em 1862, lançar o Boletim Noticioso, com notícias e anúncios, a dez réis, mas o projecto não conseguiu vingar. Enquanto não ganhou fôlego para novo voo, Eduardo Coelho desdobrou-se em correspondente de

Património - Marcas Portuguesas Seculares, Diário de Notícias

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Património - Marcas Portuguesas Seculares, Diário de Notícias três jornais de província e noticiarista da Revolução de Setembro e do Conservador. Este último era impresso na Tipografia Universal, onde conhece Tomás Quintino Antunes, também ele tipógrafo e sonhador.

Do encontro entre os dois começou por surgir o quinzenário Crónica dos Teatros, de Eduardo Coelho, que passou a ter um gabinete de redacção na Tipografia Universal. Daí à sociedade para o Diário de Notícias foi um passo.

O aparecimento dos ardinas Três meses depois do seu lançamento, já estava consolidada uma nova profissão na cidade: os ardinas. Eram já 30, que colhiam uma percentagem diária de 200 a 400 réis. Em pouco tempo nascia a Associação de Socorros Mútuos e Escolar dos Vendedores de Jornais, tendo como patrono Eduardo Coelho. É também com o DN que nasce a reportagem, palavra nova e género inovador no jornalismo da época, muito mais afeiçoado à crónica e à opinião, que trouxe um ar fresco ao jornalismo do final do século passado.

O aparecimento do pequeno anúncio Sempre inovador, o DN lançou-se no mercado da publicidade com uma campanha agressiva de angariação, lutando contra a resistência dos produtores e comerciantes da época, duvidosos do sucesso da ideia.

Mas, além dos anúncios de carácter comercial, o DN passou a incluir pequenos anúncios de carácter pessoal, incluindo avisos de perdidos e achados, a ponto de, nessa altura, se chamar, por brincadeira, ao jornal Santo António da Sé. É que, por decreto régio muito antigo, de Filipe 44 . Portugal Protocolo 2015 . #27

III, os objectos achados deveriam ser entregues ao ermitão de Santo António da Sé.

Até surgir o DN...

As tiragens crescentes do jornal começou com cinco mil exemplares por dia e, ainda com Eduardo Coelho, chegou aos 26 mil - impulsionaram a necessidade de uma permanente actualização em matéria de equipamento. O DN produziu uma verdadeira revolução nas artes gráficas em Portugal É também o DN que introduz em Portugal a linotype, uma máquina assombrosa para a época, que mecaniza o trabalho de composição manual.

Edição semanal em francês Incansável na procura de chegar até onde houvesse leitores, o jornal passa a ter, a partir de 8 de Maio de 1921, uma edição semanal em francês: era a experiência do Paris-Notícias, que durou dois anos.

Em 1925, o DN abriu uma sucursal em Paris, no Boulevard Haussman, ano de abertura de delegações no Rossio e Porto.

Em 1928, a firma proprietária do DN passa a chamar-se Empresa Nacional de Publicidade e aparece uma nova experiência: um placard luminoso instalado sobre um prédio do Rossio passou a anunciar, desde 22 de Maio: O Diário de Notícias informa... Este método de informação por meios eléctricos tinha tido como precursor uma outra arrojada iniciativa: um quadro eléctrico, que surgiu pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de 1928, com a transmissão do jogo Portugal-Egipto.

Posto privativo de TSF As ligações telegráficas

rápidas

Património - Marcas Portuguesas Seculares, Diário de Notícias

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Património - Marcas Portuguesas Seculares, Diário de Notícias iniciaram-se no DN em 1919, com a notícia, sobre a hora, de uma final de boxe nos Estados Unidos.

Nesse mesmo ano, o DN já tinha entrado nos cinemas, com a apresentação das suas Actualidades Cinematográficas.

A abertura de um posto privativo de TSF (telegrafia sem fios) verificou-se em 1924.

Enquanto o jornal crescia, aproximando-se das tiragens de cem mil exemplares (150 mil ao domingo), a Empresa Nacional de Publicidade era dominada pela Companhia Portugal e Colónias e esta maioritariamente subscrita pela Caixa Geral de Depósitos.

Esta penetração do capital público vai ser determinante para a progressiva aproximação do jornal ao poder político da ditadura.

na linha dominante da história do DN: a modernização permanente, o pioneirismo na introdução de novas tecnologias e a procura de mercados inexplorados foram condicionados a uma gestão tutelada pelo poder político, nem sempre sensível às necessidades de flexibilização das estruturas da empresa.

Nacionalização por arrastamento Veio a Revolução de 25 de Abril de 1974. As nacionalizações que se seguiram aos acontecimentos de 11 de Março de 1975 envolveram o DN de forma indirecta. O jornal era propriedade da então Empresa Nacional de Publicidade (ENP), que, por sua vez, estava titulada pela Companhia Portuguesa Portugal e Colónias e pela Caixa Geral de Depósitos.

A nacionalização da banca, por arrastamento, ditaria a transferência do jornal para o sector público.

De broadsheet a tablóide A modernização do DN deu os seus primeiros passos com a introdução progressiva da composição a frio, no início da década de 80. É também nos anos 80 que o DN altera o seu formato, passando de broadsheet a tablóide, numa reaproximação ao seu tamanho original: foi a 21 de Maio de 1984.

A modernização de um jornal de 127 anos, após o regresso ao sector privado, aconselhava outras estratégias de empresa, que passavam pelo rejuvenescimento das fórmulas editoriais. Sempre inscrito na novidade, o DN fez o lançamento do seu novo design com uma série de videoconferências em todas as capitais de distrito e ligando várias cidades em simultâneo.

O DN retoma a sua tradição de vanguarda: a conquista de primeiros prémios internacionais de grafismo e a crescente recuperação da preferência dos leitores estão aí para o assinalar.

Foi assim que nasceu, então, a Empresa Pública Notícias-Capital (EPNC), criada a 29 de Julho de 1976, que passou a titular o capital dos jornais Diário de Notícias e A Capital.

O vespertino também era, em parte, propriedade da banca ex-privada.

Nos quase 15 anos de empresa pública verificou-se como que um parêntese

O edifício do Diário de Notícias O edifício do Diário de Notícias, meio século volvido sobre a sua inauguração, continua a ser uma peça marcante da arquitectura portuguesa contemporânea e importante no panorama arquitectónico da mais importante avenida lisboeta.

Todavia, trata-se de um edifício concebido para nele ter lugar um

46 . Portugal Protocolo 2015 . #27

Património - Marcas Portuguesas Seculares, Diário de Notícias

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Património - Marcas Portuguesas Seculares, Diário de Notícias conjunto de actividades muito diversificadas, a instalações industriais ligadas ao fabrico do jornal, passando por uma gama vasta de serviços administrativos, redactoriais e outros próprios de um grande jornal, isto é, trata-se de um edifício concebido para dar satisfação a um programa extremamente complexo.

A preocupação com a “imagem” que o edifício deveria proporcionar a partir da Avenida e da Rotunda, constituiu uma das grandes preocupações do seu autor, reflectida nestas suas palavras, datadas de 1936: “À entrada da Avenida, vindo da Rotunda, impõe-se evidentemente a construção de edifícios altos, de certa importância arquitectónica, o que na Rotunda se deveria também fazer, deixando apenas aberta a entrada do lado do Parque Eduardo VII.” Assente, portanto, como melhor solução a do edifício em altura,... outra grande preocupação dominou o espírito do arquitecto: a sua expressão arquitectural. Para o resolver bastoulhe apenas procurar traduzir com clareza e com verdade, procurando dar a cada um desses elementos a expressão apropriada à sua função.

Relativamente aos espaços interiores há que fazer referência muito especial aos que se desenvolvem ao longo do rés-do-chão sobre a Avenida, quer pelo arranjo que lhes foi conferido, que inclui a integração da pintura a fresco da autoria de Almada Negreiros, quer por esta pintura, por si própria.

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Património - Marcas Portuguesas Seculares, Diário de Notícias

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 49

Literatura - “Vera Cruz”,

A

vida desconhecida de

Pedro Álvares Cabral.

A

história de uma época gloriosa que esconde

rivalidades, traições e intrigas.

Fotografias de Clube do Autor 50 . Portugal Protocolo 2015 . #27

de J oão

Morgado

D. Manuel I sonha com um império.

Precisa de homens que saibam dominar os oceanos, descobrir terras, submeter povos e amealhar as mais variadas riquezas. Pedro Álvares Cabral é escolhido para comandar a maior frota do reino, rumo às especiarias do Oriente. Uma viagem tortuosa, mas que acabou em glória, com muitos proventos e a descoberta de um novo mundo – VERA CRUZ. “Um notável documento histórico que, 515 anos depois, recupera a figura de Pedro Álvares Cabral, ostracizado pelo rei e pela história. Um livro que, com rigor, nos dá a imagem de uma época.

A sua leitura é obrigatória...”

Mario Vilalva, Embaixador do Brasil em Portugal

Literatura - “Vera Cruz”,

de J oão

“Em momento de declínio da moda literária do romance histórico (...) deve ser louvado o trabalho de investigação de João Morgado. O autor continua, com probidade, a visão de Alexandre Herculano, fundador do romance histórico em Portugal, sobre a confecção rigorosa deste género literário: verosimilhança ou similitude na história, no desenho das personagens e no enredo definidor da acção, e fidelidade aos documentos da época (...) notável romance histórico.”

Miguel Real, Escritor e Critico Literário João Morgado nasceu em 1965, em Aldeia do Carvalho, Covilhã.

Poeta e romancista, trabalhou como jornalista e, para além da imprensa regional, escreveu no diário “Público” e semanário “Sol”. É actualmente

Morgado

consultor de comunicação nos meios empresariais e políticos.

Na literatura, afirmou-se com dois romances: «Diário dos Infiéis», 2010, e «Diário dos Imperfeitos», 2012.

Estas duas obras foram posteriormente adaptadas ao teatro pela ASTA – Associação de Teatro e outras Artes.

Recebeu os prémios Prémio Nacional de Literatura LIONS 2015 pela novela “O Céu do Mar”; o Prémio Poesia Manuel Neto dos Santos, 2015, pela obra “Porto de Saudade”; o Prémio Literário Fundação Dr. Luís Rainha Correntes d’Escritas 2015, pelo romance “O Céu do Mar”; o Prémio Literário Alçada Baptista 2014, pelo romance “Gama – O Herói Imperfeito”; 2º Prémio Concurso Literário Dr. João Isabel, pelo conto “A Costureira de Sonhos”; e o Prémio Literário Vergílio Ferreira 2012, pelo romance “Diário dos Imperfeitos”. #27 . Portugal Protocolo 2015 . 51

G olfe , P ro -A m

Algarve Masters Pro-Am Profissional José Dias

qualifica

amadores para

Portugal Masters Em cima Ricardo Pereira Página ao lado Em cima Carlos Bernardino, Natalie Lisboa, Nelson Cavalheiro e Jongsoo Kim Em baixo Sebastião Gil, Luís Azenha Bonito, Armando Dias Varzea Fotografias cedidas por PGA Portugal 52 . Portugal Protocolo 2015 . #27

do

P ortugal M a sters

José Dias, antigo Campeão Nacional de Seniores, venceu o seu segundo ProAm em apenas um mês, ao conquistar o Algarve Masters Pro-Am, um dos eventos mais cobiçados por golfistas amadores portugueses ou residentes em Portugal.

Organizado pela PGA de Portugal pelo segundo ano consecutivo, sob o patrocínio do Turismo do Algarve, este evento tem como grande aliciante a atribuição de convites aos três amadores vencedores para o Pro-Am do Portugal Masters, o mais importante torneio português e uma das fortes etapas do European Tour.

Sendo os convites para o Pro-Am do Portugal Masters, onde brilham algumas das estrelas maiores do European Tour, difíceis de angariar,

G olfe , P ro -A m

do

P ortugal M a sters

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 53

G olfe , P ro -A m

Página ao lado Em cima Herculano Borges, Miguel Gaspar, Jorge Gabriel Em baixo Marina Santos Gonçalves 54 . Portugal Protocolo 2015 . #27

do

P ortugal M a sters

a PGA de Portugal e o Turismo do Algarve criaram em 2014 o Algarve Masters Pro-Am, aberto a todos os amadores.

Assim, é proporcionada a todos uma oportunidade de, através do mérito desportivo, obter o tão desejado convite. Para tal, é necessário ganhar o Algarve Masters Pro-Am, realizado nos percursos Lagos e Praia do Onyria Palmares Beach & Golf Resort, em Lagos.

Os contemplados deste ano foram os amadores Rogério Brandão, Carlos Bernardino e Pedro Freire, que emparceiraram com o profissional José Dias e saíram vencedores com 93 pontos stableford net.

Entre os muitos convidados, encontravam-se algumas figuras públicas, como o jornalista e director do Porto Canal, Júlio Magalhães, o apresentador de televisão Jorge Gabriel e o antigo guarda-redes da selecção nacional de futebol, Ricardo Pereira.

A PGA de Portugal esteve representada pelo seu presidente, José Correia, e pelo vice-presidente, Nelson Cavalheiro.

Houve ainda prémios especiais, atribuídos aos seguintes jogadores: Drive mais longo de senhoras, Cidália Gil (mulher do ex-selecionador nacional de golfe, Sebastião Gil); Drive mais longo de homens, Rogério Brandão (excelente jogador amador, que em 2013 competiu em vários torneios para profissionais do PGA Portugal Tour); Bola mais perto do buraco, Ricardo Pereira.

O Portugal Masters deste ano será organizado pelo European Tour de 15 a 18 de Outubro, como de costume, no Oceânico Victoria Golf Course, em Vilamoura. O sempre concorrido ProAm está marcado para o dia 14.

G olfe , P ro -A m

do

P ortugal M a sters

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 55

Protocolo, Assembleia Geral das Nações Unidas

Presidente da República na Assembleia Geral das Nações Unidas

Fonte: © 2006-2015 Presidência da República Portuguesa 56 . Portugal Protocolo 2015 . #27

Em 28 de Setembro, primeiro dia dos trabalhos da 70ª Sessão, o Presidente da República discursou perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, quando Portugal celebra os 60 anos da sua adesão à organização.

Após a sua intervenção, o Presidente Aníbal Cavaco Silva recebeu os cumprimentos de vários representantes de países presentes na Assembleia das Nações Unidas.

Protocolo, Assembleia Geral das Naçþes Unidas

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 57

Protocolo, Comunidade Portuguesa na Costa Leste dos EUA

Presidente da República com a Comunidade Portuguesa na Costa Leste dos Estados Unidos

Fonte: © 2006-2015 Presidência da República Portuguesa 58 . Portugal Protocolo 2015 . #27

No segundo dia da sua deslocação a Nova Iorque, em 29 de Setembro, por ocasião do 70º aniversário das Nações Unidas, o Presidente da República encontrou-se, na cidade de Newark, Nova Jérsia, com membros da Comunidade Portuguesa na Costa Leste dos Estados Unidos.

O Presidente Aníbal Cavaco Silva proferiu uma intervenção para as centenas de portugueses e lusodescendentes presentes no New Jersey Performance Arts Center, após o que decorreu um concerto com a actuação dos fadistas Ricardo Ribeiro e a luso-americana Nathalie Pires.

Seguiu-se uma recepção oferecida em honra das Comunidades Portuguesas na região.

Protocolo, Comunidade Portuguesa na Costa Leste dos EUA

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 59

Protocolo, Visita ao MoMA em Nova Iorque

Presidente

visitou exposição

de arquitectura no

MoMA

em

Nova Iorque.

Fonte: © 2006-2015 Presidência da República Portuguesa 60 . Portugal Protocolo 2015 . #27

Pedro Gadanho, o curador do Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova Iorque, recebeu o Presidente da República para a sua visita, no dia 30 de Setembro, à exposição “Endless House: Intersections of Art and Architecture”, e que junta o desenho, fotografia, vídeo, instalações e modelos arquitectónicos.

Protocolo, Visita ao MoMA em Nova Iorque

#27 . Portugal Protocolo 2015 . 61