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REFLExãO

Autoridade: por que uns têm e outros não?

por Osvino Toillier

Para não me enfeitar com penas alheias, vou logo revelando: o título deste texto é inspirado na revista HSM, edição julho-agosto deste ano, cujo conteúdo vem ao encontro de nossa temática. Em todos os campos da atividade humana, o poder é uma questão nuclear, mas, antes de mais nada, é necessário tecer algumas considerações sobre o que significa poder: de acordo com o texto da publicação em referência, “é a capacidade de fazer com que as coisas sejam realizadas da maneira como se deseja”.

Pois bem, acho que é isso mesmo. A questão hoje é bem esta: não vencerá quem gritar mais alto, mas quem contar a melhor história. Eu creio que esse também é o segredo que se leva para a sala de aula: desde tempos imemoriais, o professor que era amado pelos alunos era aquele capaz de encantamento, reconhecido pelo conhecimento, por sua sabedoria, metodologia, humildade, capacidade de ouvir, pelo respeito às dificuldades de seus alunos, sem jamais humilhar ninguém por isso, mas estimular pela superação dos desafios.

Esse é o professor que cada um de nós carrega na memória do coração, porque nos ajudou a fazer travessias difíceis, a escalar montanhas íngremes, a não desistir da luta, fortalecer a autoestima e acreditar em nossas capacidades e desbravar talentos.

Verdadeiro garimpeiro da alma e das flores!

Autoridade não se delega, muito menos se impõe. Autoridade é um processo que se conquista pelo jeito de ser. E dela decorre o poder. Sem isso não se faz nada. Não adianta ser investido num cargo se dele não emanar natural poder que a pessoa constrói pelo que é e faz. Talvez esteja aí o grande segredo: autoridade é a condição que se dá a alguém de ser autor. Portanto lida com autoralidade. É fazer o aluno autor de sua própria história, sujeito e não objeto em que se deposita o que se sabe.

Os tempos atuais têm como característica a fragmentação, e isso conduz à perda de poder. As fórmulas tradicionais em que pessoas e organizações se baseavam já não dão mais certo, e a comunicação é reflexo direto dos novos paradigmas. É preciso desenvolver um novo projeto gráfico para publicações – e a revista Novolhar é também exemplo disso –, sob pena de perder poder de penetração e interesse do público leitor. O e-mail envelheceu em menos de uma década, e as redes sociais dominam o panorama da instantaneidade. E talvez aqui caiba lembrar Aristóteles: “Uma sociedade com histórias ruins é uma sociedade decadente”.

O grande drama que se vive hoje em dia na sala de aula é a desconstituição do professor, porque há muito convivemos com a inibição do exercício da autoridade da instituição educacional e de seu principal artífice: o professor. Atropelado pelas circunstâncias da pós-modernidade, sente-se impotente e confuso diante do verdadeiro tsunami de inovações, resignado diante do quadro-verde e giz, sem condições de competir com o mundo fantástico da tecnologia, tão a gosto das crianças e jovens de hoje em dia.

Parece-me que já não resta outra alternativa senão a humildade de reconhecer que não se tem mais condições de ser protagonista sozinho, mas converter os alunos em parceiros no desafio da aprendizagem, retirando-os da condição de meros ouvintes para transformá-los em protagonistas também ao lado do professor, cuja missão se tornou mais refinada: liderar o aprendiz num novo cenário.

Penso que essa capacidade de adequação ajuda o professor a recomporse e devolver-lhe a autoridade tão abalada e, especialmente, recuperarlhe a autoestima.

Tanto pais como professores não podem apequenar-se diante das transformações irreversíveis do mundo pós-moderno, mas isso não significa que a gente deva submeter-se a todos os absurdos que rolam por aí, sem manifestar nossa indignação, valores e credos.

Não esqueçamos que o amoroso Jesus, que ensinou o mandamento do amor, é também o mesmo que tomou o chicote e expulsou os vendilhões que profanavam o templo. Ele ensinava com autoridade, decorrente de sua divindade, sim, mas também da firmeza e da coerência com que defendia os princípios que ensinava.

Da mesma forma, segundo o historiador norte-americano Henry Adams, “um professor sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina”. Ele ficará na memória do coração de seus alunos à medida que souber exercer autoridade pela humildade, competência e humanidade. N

OSVINO TOILLIER é professor e presidente do SINEPE-RS em Porto Alegre (RS)

CLAUDIUS