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penÚlTima palavra

Asas e raízes

o FilHo é eSSe SUJeiTo qUe Tem qUe ir aoS poUcoS Se liBerTanDo DoS paiS, maS nÃo DaS SUaS raÍzeS. Sempre TemoS qUe Ter para onDe voltar e volTar a Um lUgar aFeTivo e qUeriDo.

por Flávio Magedanz

Lembro frequentemente de um cartaz que vi no ano passado e que trazia a seguinte imagem: diversas pedras colocadas cuidadosamente uma sobre a outra de tal forma que não caíssem. Ao lado, a seguinte frase: “Escola/ Amigos/Família/Trabalho: É tudo uma questão de equilíbrio”. Por outro lado, seguidamente ouço um conhecido provérbio que diz: “Bendito aquele que consegue dar a seus filhos asas e raízes”.

Tudo isso ainda é apropriado para nossos tempos? Ainda vale para a era da comunicação, da rapidez, do descarte e da conectividade? Pergunto: O que dar aos nossos filhos, jovens e/ ou estudantes? Volto às frases iniciais. O que significa dar raízes e asas com equilíbrio aos nossos jovens?

Todos temos uma história. Um lugar onde nascemos e por um certo tempo convivemos com nossos familiares e herdamos traços culturais. Mas também temos sonhos que nos levam a lugares distantes, horizontes sem fim, enfim queremos voar alto. As asas nos permitem conhecer as raízes de nossos semelhantes e aprender com eles. Para poder voar tranquilo, é preciso saber que a gente tem um lugar para voltar.

Asas e raízes são partes diferentes de objetos diferentes. Raízes são partes da planta que tiram do chão o seu alimento e a sua sustentação. Asas têm como sinônimo fundamental a questão da liberdade, da autonomia e da busca de novos horizontes.

Agora sim podemos avançar. A função dos pais é fazer com que os filhos tenham as raízes neles e possam ter asas também. Quer dizer, a família deve ser o lugar onde as pessoas têm uma referência, uma base e um ponto de apoio. Mas, ao mesmo tempo, não pode ser uma prisão. Deve ser um espaço para a autonomia e a busca de novos horizontes.

O filho é esse sujeito que tem que ir aos poucos se libertando dos pais, mas não das suas raízes. Sempre temos que ter para onde voltar e voltar a um lugar afetivo e querido. Por isso a função fundamental da família é ser raiz e, ao mesmo tempo, oferecer oportunidade de autonomia, sabendo que isso nunca se cinde, quebra e separa. Nós temos que ter asas e raízes, ou seja, devemos voar com os pés no chão.

O que tem acontecido atualmente é que muitos pais têm criado um mito muito perigoso, que é a ideia de liberdade e autonomia ampla e total. Com isso temos jovens sem raízes e com asas quebradas. Penso que, muitas vezes, os pais têm imaginado que os filhos, por já saberem tanta coisa e terem acesso a tantas informações, são capazes de se cuidar e andar sozinhos.

Então se abre espaço para algo muito perigoso, que é a negligência ou então a prática de jogar a culpa na sociedade. Ser negligente é não dar raízes nem asas. A negligência é abandono. É um filho sem asas que pensa que pode voar e, ao cair, não encontra nenhum espaço que o acolha.

O grande segredo, a meu ver, está na fórmula mágica de encontrar o equilíbrio ideal e possível entre o controle, o estabelecimento de limites e a possibilidade do desenvolvimento de criatividade, da busca pelo novo, do sonhar, enfim, o salto para uma vida própria. N

FLÁVIO MAGEDANZ é diretor-geral da Sociedade Educacional de Três de Maio (SETREM) em Três de Maio (RS)