PRÉDICA: ISAÍAS 55.10-13 MATEUS 13.1-9,18-23 ROMANOS 8.1-11
6º DOMINGO APÓS PENTECOSTES
12 JUL 2020
Humberto Maiztegui Gonçalves
A Palavra não voltará vazia!
1 Introdução Sempre que nos deparamos com as três leituras para cada domingo, tentamos descobrir a ligação entre os textos ali indicados. Essa questão nem sempre é tão evidente. Nesse domingo há uma ligação mais forte entre a leitura de Mateus, na parábola do semeador, e o texto da pregação. Ambos apresentam a interação entre a palavra de Deus e a terra que a recebe gerando frutos. Já a ligação com o texto da Carta aos Romanos não parece tão evidente. A chave pode estar em Romanos 8.6, onde se usa a palavra grega fronēma. O significado desse termo pode ser “mente” ou “mentalidade”, como de fato a tradução de Almeida indica em 8.27: aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito. Sendo assim, podemos entender Romanos 8.6 a partir de dois sentidos em conflito: o da carne (cuja mentalidade é de morte) e o do Espírito (cuja mentalidade é de vida e paz). Aplicando isso a Isaías 55.10-13 e Mateus 13.1-9,18-23, poderíamos dizer que a ação da Palavra revela a vida e a paz e, portanto, a ação produtiva da Palavra revela a presença do Espírito (solidário/comunitário) e denuncia a ação da carne (individualista/egoísta). Assim, o sentido geral das leituras seria que a finalidade da Palavra é revelar a vontade – mentalidade ou caráter – vivificadora e pacificadora de Deus na história humana. Vejamos mais profundamente essa relação no texto da pregação.
2 Análise exegética O contexto Essa parte do livro do profeta Isaías chamada de Dêutero-Isaías (40 – 55) corresponde ao contexto do final do exílio babilônico (próximo ao ano 538 a.C., quando o imperador Ciro da Pérsia decreta o fim do exílio; cf. Ed 1.1-3). A ascensão política do rei Ciro, visto como um “messias” enviado para libertar o povo do exílio (cf. Is 45.1) aponta para a ação de Deus na história e desafia a preparar o povo para retornar e reconstruir Israel. A pregação se dirige às “vítimas atingidas pela catástrofe”, o que faz necessário enfrentar “a desesperança e o desespero de seus contemporâneos que se lamentam: ‘Javé me abandonou’ (49.14; 40.27; cf. 45.15: ‘um Deus que se esconde’)”, gerando “uma contradição entre a palavra do profeta (sic) e a realidade com que o povo convive” (SCHMIDT, 2002, p. 245246). Boa parte desses textos foram apresentados de forma oral. Schmidt afirma
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