PRÉDICA: JOÃO 9.1-41 1 SAMUEL 16.1-13 EFÉSIOS 5.8-14
4º DOMINGO NA QUARESMA
22 MAR 2020
Emilio Voigt
E voltou vendo
1 Introdução A refinada reflexão teológica com acento cristológico é uma característica do Evangelho de João. O texto previsto para o 4º Domingo na Quaresma é um exemplo. A partir da cura de um cego de nascença, o evangelista aborda com tenacidade diversos assuntos, tais como pecado, observância do sábado, fé, messianidade de Jesus. O capítulo 9 foi objeto de vários estudos em Proclamar Libertação (9.1-7: PL VIII e XIV; 9.1-11: PL 38; 9.13-17,34-39: PL 21 e 27; 9.35-41: PL VIII; 9.1-41: PL 32). Praticamente todas as contribuições apontaram para a importância de considerar o capítulo como um todo. Se essa indicação for imperiosa, estamos diante de um grande desafio. Que ênfase dar à pregação? Outra questão: a leitura dos 41 versículos requer aproximadamente cinco minutos. Como manter a atenção da comunidade durante esse tempo? O texto é constituído por várias cenas que se desenrolam em tempos e lugares diferentes. A cura e o pecado são temas que perpassam vários momentos, mas é a messianidade de Jesus o elemento central. O objetivo da narrativa é a confissão cristológica. A pregação pode ser elaborada com base em cenas ou assuntos específicos, conectando-os com os textos de leitura. Embora a extensão do texto seja um desafio, não é um impedimento para utilizá-lo na íntegra.
2 Exegese Cena 1: A cura (1-7) V. 1-2: Ao dizer que Jesus viu um cego, o evangelista pressupõe que também os discípulos o viram. Não há indicação de como eles sabiam que a cegueira o acometia desde o nascimento. Os discípulos enxergam nesse encontro fortuito uma oportunidade de aprendizagem e logo perguntam ao mestre pela etiologia da disfunção. A origem da cegueira estaria no pecado do próprio cego? Neste caso, o feto teria cometido pecado no ventre materno? Ou a cegueira seria uma sanção pela ação de um antepassado? No contexto judaico, doenças podiam ser atribuídas ao pecado (Lv 26.15ss; Sl 38), à ação de demônios (Mt 9.32-34; Mc 5.1-15) ou a constelações planetárias desfavoráveis (o “Escrito de Sem”, do final do século I a.C., é um indicativo de crenças astrológicas em círculos judaicos). Havia também opiniões baseadas nos conhecimentos médicos da época. A possibilidade de uma sanção que inclui a posteridade parece ser restrita ao caso de
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