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Violência e difamação contra a atuação da liderança Eliete Paraguassu Marília Pinto e Eliete Paraguassu

VIOLÊNCIA E DIFAMAÇÃO CONTRA A ATUAÇÃO DA LIDERANÇA ELIETE PARAGUASSU

1MARÍLiA PiNTO E ELiETE PARAGUASSU

A luta pela efetivação dos direitos humanos e pela democratização do país há décadas tem sido alvo de deslegitimação e criminalização. Como se não bastasse prejudicar a atuação dos movimentos sociais, através da articulação entre representantes do poder econômico e político, a nova estratégia de fragilizar lideranças e organizações é disseminar notícias falsas em massa. E isso se torna ainda mais grave quando é alimentado por uma mídia parcial que ecoa um discurso sensacionalista e conservador a respeito de fatos e pessoas.

Em maio de 2021, Eliete Paraguassu, quilombola e liderança da Comunidade Porto dos Cavalos, na Ilha de Maré (BA), foi alvo de ataques por alguns integrantes da comunidade que são contrários/as à atuação da ativista na efetivação e reconhecimento os direitos humanos. Ela foi acusada de ter fraudado a eleição da Associação de Moradores da Ilha, Porto dos Cavalos, Martelo e Ponta Grossa, da qual é coordenadora, e também atribuíram a ela o suposto desvio de cestas básicas.

“O que está por traz disso é o capital. São calúnias e difamações de um grupo do campo político da direita, ligado diretamente a grandes empresários que violam direitos nos nossos territórios” , afirma Eliete Paraguassu. Sobre a dificuldade de administrar as acusações vindas de moradores/as da comunidade, ela complementa: “Para mim, o mais difícil é saber que minha comunidade foi cooptada. Esse corpo negro aqui serve, há mais de 25 anos, fazendo a defesa desse território. E de repente ver pessoas conhecidas, vizinhos e até mesmo amigos/as me desmoralizando foi muito triste e doloroso. É mais um processo de escravização do nosso povo, com a estratégia agora de usar os nossos para desmoralizar os nossos”.

Esses insultos foram ecoados e reforçados por um apresentador de um programa televisivo local. Além da fala preconceituosa e discriminatória em chamá-la de “ignorante”, o apresentador fez uma interpretação pessoal, não apurou os fatos e manipulou a realidade. Foram três momentos, em dias diferentes, de ataques midiáticos e só após a publicização de uma nota de repúdio assinada por mais de 70 movimentos e organizações foi que Eliete conseguiu direito de resposta, ainda assim, editada.

Segundo ela, a luta das mulheres das águas tem sido cada vez mais visibilizada. O enfrentamento ao racismo estrutural e ambiental tem incomodado o setor empresarial que controla a Baía de Todos os Santos. “Não reconhecem que a luta da Ilha de Maré teve visibilidade a partir de nós, mulheres. Negam a nossa história e destroem a imagem dessas lideranças em nome da ganância”, afirma a ativista.

As notícias falsas e a falta de compromisso com a verdade ameaçam a democracia porque mascaram a realidade e manipulam também a emoção das pessoas. E isso se torna mais grave quando a imprensa convencional, controlada por grupos econômicos, favorece essa manipulação. Os debates migram da racionalidade para o campo emocional, aumentam discussões de ódio e impulsionam a prática fascista.

Apesar de tudo, Eliete Paraguassu segue com outras mulheres negras, quilombolas, pescadoras e marisqueiras organizando a luta, fazendo formação política, combatendo as fake news e conscientizando a comunidade pesqueira e toda sociedade para defesa da vida e dos territórios.

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