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“Testemunhar a verdade é estar a serviço da Vida” (Flora Maria Pereira
from Buscar a Verdade: Um Compromisso de Fé
by Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
1FLORA MARiA BRiTO PEREiRA
“A testemunha fiel não mente, a testemunha falsa profere falsidades” (Prov. 14,5).
PERGUNTAS MOTIVADORAS TEXTO BÍBLICO
·Quando tenho acesso a uma notícia, verifico se é verdadeira antes de repassá-la? ·Que tipo de testemunha tenho sido? ·Busco vivenciar a verdade como um princípio da vida cristã?
INTRODUÇÃO
O termo fake news em português pode ser traduzido como notícias falsas. Porém, não basta que a notícia seja falsa, mas que seja divulgada como verdadeira. E é aí que se encontra o problema!
As fake news podem fazer com que casamentos sejam destruídos, pessoas percam o emprego e, nos piores casos, podem levar à morte, seja por suicídio, descuido com a saúde ou homicídio. Por isso é muito importante analisar tudo o que chega através das redes sociais como notícia, como informação. Atualmente, existem vários meios de examinar se a notícia é verdadeira ou não. Na dúvida, é melhor não repassar a informação.
As notícias falsas sempre existiram. Contudo, ultimamente, com o acesso à internet, essas têm se espalhado rapidamente e sem controle, causando danos psicológicos e físicos às vítimas das fake news.
Muitas pessoas tentam diminuir sua responsabilidade dizendo que não criaram as fake news. Mas, repassá-las também é uma ação que implica responsabilidade, principalmente quando pode atingir a vida de alguém. E essa responsabilidade é maior para aquelas e aqueles que buscam a Cristo. Os cristãos também são chamados a participar das relações sociais digitais com compreensão, discernimento e respeito.
Jesus nos alerta que, conhecendo a verdade, ela nos libertará (cf. Jo 8,32). É um princípio cristão a busca pela verdade, que gera vida e transformação de mentes e corações. Assim, torna-se necessário que o cristão e a cristã persigam a verdade em todos os aspectos de sua vida e não disseminem o medo e o ódio através de notícias sem comprovação de que são verdadeiras.
A responsabilidade com a vida do outro é de todos e todas que buscam viver os princípios cristãos, que buscam um novo céu e uma nova terra pautados na verdade.
Não há como exigir do outro que seja verdadeiro se não se pratica a verdade nas coisas mais simples do cotidiano.
ABORDAGEM DO TEXTO BÍBLICO
No capítulo de onde foi extraído o texto bíblico, pode ser observado que o autor sagrado apresenta sempre dois caminhos, duas possibilidades de vivenciar o que a vida pode oferecer. Não há uma imposição para que se decida por um ou outro caminho, mas, ao mostrar qual caminho gera vida, o autor sagrado convida o cristão e a cristã a se decidirem por ele.
A testemunha é uma pessoa que viu ou ouviu um fato porque estava presente ou porque soube diretamente daquele/a que o vivenciou. Por isso, a testemunha não deve mentir, por só poder contar aquilo que realmente viu ou ouviu. No entanto, existem algumas testemunhas que mudam os fatos, aumentam os acontecimentos, tornando o seu testemunho irreal, mentiroso.
O autor sagrado diz que a testemunha fiel não mente e a testemunha falsa profere falsidades. Desse modo, a testemunha falsa gera desconfiança sobre tudo o que fala, enquanto tudo o que a testemunha fiel fala gera credibilidade. O próprio Deus ordena que não seja levantado falso testemunho (Ex 20,16). Portanto, quando um cristão espalha fake news está desobedecendo a Deus ao propagar ou até mesmo criar uma notícia falsa.
Que ao fazer a escolha do caminho a seguir, o cristão possa escolher ser a testemunha fiel, que busca a verdade como essência de sua vida e, como fruto dessa escolha, não mente, não cria e nem compartilha notícias falsas que geram dor, sofrimento e morte.
UMA ABORDAGEM A PARTIR DOS FATOS DA VIDA
No ano de 2014 saiu no facebook uma notícia de que na região do Guarujá havia uma mulher que raptava crianças para realização de ritual de feitiçaria e, atreladas à notícia, havia duas fotos de uma mulher.
Dias depois, 3 de maio de 2014, Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, foi linchada por moradores do bairro de Mourinhos, no Guarujá, ao ser confundida com a mulher que raptava crianças. Fabiane foi socorrida, mas faleceu dois dias depois.
Posteriormente, a polícia confirmou que jamais houve quaisquer denúncias sobre os sequestros de crianças no Guarujá, ou seja, Fabiane morreu por causa das fake news.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90, disciplina no artigo 4º que “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” no que se refere às crianças e adolescentes. Sendo assim, toda a sociedade deve estar atenta àquilo que acontece com as crianças e adolescentes, sendo também responsáveis por elas e eles; talvez por isso, crimes que envolvam esse público gerem tanta comoção no meio social. Contudo, para cada crime cometido contra criança ou adolescente há uma pena prevista e a legislação brasileira estabelece a forma que o processo se dará, não havendo previsão na lei para que a população faça justiça pelas próprias mãos.
Neste fato da vida, a notícia de que havia uma mulher maltratando crianças gerou o medo, a apreensão, mas principalmente o ódio por uma pessoa que nem mesmo era conhecida. A raiva e o ódio tiram toda a razão e lucidez e, talvez por este motivo, as pessoas não tenham examinado melhor as feições da mulher da foto e a confundiram com Fabiane. Temos duas situações extremamente graves: a produção de uma notícia falsa e a divulgação das fotos de uma mulher que não era responsável pelo que ali estava sendo divulgado. Assim como Fabiane, a mulher da foto divulgada poderia ter sido morta!
Cabe um exame do posicionamento dos cristãos em fatos como esse: primeiro, não repassar notícias que causem sentimentos de raiva, rancor, medo; segundo, não incitar a violência ou o desejo de vingança, através de postagens como essas; terceiro, não buscar fazer justiça com as próprias mãos.
Inúmeras vezes, pessoas cristãs espalham fake news com a justificativa de que estão querendo proteger as pessoas de um mal maior e não percebem que também se tornam responsáveis pelo que vier a ocorrer. Ao pensar que está praticando a justiça, pode estar, na verdade, praticando uma injustiça que pode chegar a um final trágico e todo ato de injustiça e desamor é pecado e fonte de violência.
Papa Bento XVI recorda que “como qualquer outro fruto do engenho humano, as novas tecnologias da comunicação pedem que sejam postas a serviço do bem integral da pessoa e da humanidade inteira”. Assim, nada impede que o cristão e a cristã façam uso da tecnologia, desde que não esqueçam de que testemunhar a verdade é estar a serviço da vida.
6ORAÇÃO
Senhor, ensinai-nos a sair de nós mesmos, E partir à procura da verdade. Ensinai-nos a ir e ver, ensinai-nos a ouvir, A não cultivar preconceitos, A não tirar conclusões precipitadas. Ensinai-nos a ir aonde não vai ninguém, a reservar tempo para compreender, A prestar atenção ao essencial, A não distrairmos com o supérfluo, A distinguir entre a aparência enganadora e a verdade. Concedei-nos a graça de reconhecer as vossas moradas no mundo e a honestidade de contar o que vimos. Amém!
4 CNBB. A Paz é Fruto da Justiça – Texto-Base CF 2009, n.197. 5 Bento XVI. Mensagem para o 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2011. 6 Francisco. Mensagem para o LV Dia Mundial das Comunicações, 2021.