Sgt Johnson / CECOMSAER
Noticiário da Aeronáutica Ano XXXIII - nº 3 - 28 fev 2010
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ma aeronave da Força Aérea Brasileira decola do Brasil rumo ao Haiti. Começa, então, o trabalho da Seção de Controle de Operações Aéreas (SCOAM) para suporte e apoio ao pouso da aeronave em solo haitiano. Desde o dia 24 de janeiro, sete militares da Força Aérea trabalham para garantir o apoio logístico de material e pessoal de toda carga que chega a Porto Príncipe. Em pouco mais de um mês de operação, mais de 900 toneladas de carga chegaram ao aeroporto em aeronaves da FAB. “Trabalhamos em coordenação com o Comando de Operações Aéreas (COMGAR). Após o planejamento dos voos, à SCOAM cabe toda a parte de
execução”, comentou o oficial de ligação da Força Aérea, Tenente-Coronel Luiz Carlos de Oliveira. Além das quatro aeronaves que chegam em média para apoiar a Missão de Ajuda Humanitária na capital haitiana, a SCOAM controla também o monitoramento das aeronaves de transporte, inclusive as que cumprem as missões de evacuação médica. O monitoramento das condições meteorológicas também é feito pelos militares da FAB. “Nessa região damos muita atenção às variações meteorológicas. O risco de furacões, aqui no Haiti, é sempre muito grande”, disse o radioperador da seção, Sargento Sílvio Enéias Córdia Dias.
Quando a aeronave chega a Porto Príncipe, os centros de operações do COMGAR e do Ministério da Defesa recebem a confirmação do pouso. Mas o trabalho não para por aí. Quarenta minutos antes do pouso, iniciam os procedimentos de apoio ao solo e à tripulação. Para o Capitão Ubiraci da Silva Pereira, especialista em Controle de Tráfego Aéreo, existe um check-list padrão a ser seguido na chegada de todas as aeronaves. “Temos que saber, por exemplo, a carga, quantos palets são necessários para o descarregamento, acionamento de viaturas para o transporte terrestre, além de outros detalhes como fonte de força e escada”. Leia mais nas páginas 3, 4 e 5
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Marinha e FAB localizam e resgatam 64 sobreviventes de naufrágio
III COMAR
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eronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) localizaram as balsas com 64 sobreviventes do naufrágio do veleiro Concórdia, um navio-escola canadense pertencente ao “West Island College Internacional”, que estava realizando a travessia de Recife para Montevidéu. Segundo a Marinha, o veleiro enfrentou fortes ventos e naufragou. As operações de busca começaram no dia 18 de fevereiro. O Centro de Operações Aéreas da Segunda Força Aérea (II FAE) foi informado que o veleiro emitia sinal de socorro a aproximadamente 500 km da costa do Rio de Janeiro. Foi acionada então a aeronave P-95A do Esquadrão Cardeal, de Santa Cruz (RJ), para verificar a localização, e, na sequência, um KC-130 Hércules do Esquadrão Gordo. Durante as buscas foram avistadas as balsas com os sobreviventes. A posição foi passada aos navios da Marinha. Natasha Carruthers, 18, estudante canadense, estava na hora do seu plantão no bote, quando avistou a aeronave da FAB: “Fazíamos revezamento de hora em hora para ficar na parte da frente do bote e ter melhor visibilidade para avistar qualquer possibilidade de salvamento. Foi na minha hora de plantão que eu vi o avião sobrevoar a gente. Usei o sinalizador do bote. Outros botes que nós nem conseguíamos avistar também fizeram o mesmo. Só então percebemos que os botes estavam próximos uns dos outros. Quando percebemos que o avião tinha visto a gente, começamos a chorar. A aeronave começou a sobrevoar em círculos no local onde estávamos. Não tem como descrever a sensação de alegria”,
concluiu emocionada. “Queremos ressaltar que o encontro das pessoas, do navio e das balsas se deu graças a uma aeronave patrulha da Força Aérea Brasileira”, disse o vice-almirante Gilberto Max Roffé Hirschfeld, Comandante do Primeiro Distrito Naval (1° DN) na abertura da coletiva de imprensa. Keaton Farwell, Laurem Unsworth, Katharine Irwin e Olívia Aftergood, estudantes que estavam a bordo do veleiro, contaram que foram apenas 15 segundos para a água entrar e inundar praticamente todo o navio. Houve tempo apenas para a emissão do sinal de socorro via satélite e para o embarque nas balsas. “Sentimos frio, as ondas estavam muito altas, chovia muito, era um grande desconforto, mas com a chuva conseguimos recolher água para beber”, relataram.
Em nota oficial, o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, agradeceu pelo esforço brasileiro no resgate das vítimas do naufrágio e destacou “a habilidade e a compaixão demonstrada por socorristas do Brasil”. O Premiê canadense disse ainda que o país está “profundamente aliviado” pelo fato de uma tragédia ter sido evitada. A imprensa internacional deu ampla cobertura ao resgate dos náufragos do Concórdia. O diário canadense The Globe and Mail referiu-se ao episódio como um “Milagre”. O The New York Times ressaltou o fato de todas as vítimas terem sobrevivido apesar das condições adversas. Até o dia 20, os sites de busca de notícias apontavam que mais de 600 artigos e reportagens da imprensa ao redor do mundo tratavam do naufrágio.
NOTAER é uma publicação quinzenal do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER). Está autorizada a transcrição parcial ou integral dos artigos publicados, com o devido crédito e remessa de um exemplar da publicação. Os textos foram produzidos pelas respectivas unidades e/ou pela equipe de jornalismo do CECOMSAER ISSN 1518-8558. Tiragem: 6.000 exemplares Chefe Interino do CECOMSAER: Cel Av Jorge Antonio Araújo Amaral Chefe da Divisão de Produção e Divulgação: Ten Cel Av Marcelo Luis Freire Cardoso Tosta Chefe da Divisão de Conteúdo: Ten Cel Av Paulo César Andari Edição: 1º Ten QCOA CSO Luiz Claudio Ferreira e 1º Ten QCOA JOR Alessandro Paulo da Silva
Jornalista Responsável: 1º Ten QCOA CSO Luiz Claudio Ferreira Revisão: 2º Ten QCOA JOR Flávia Sidônia Camargos Pereira Arte Gráfica e Diagramação: 3S SDE Renato de Oliveira Pereira Internet: www.fab.mil.br - E-mail: redacao@fab.mil.br. Endereço: Esplanada dos Ministérios - Bloco “M” - 7º andar - 70045-900 Brasília-DF - Telefone: (61) 3966-9665 - FAX: (61) 3966-9755.
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Fotos: Sd Silva Lopes / CECOMSAER
Pelotão do Batalhão de Infantaria do RJ faz história no Haiti
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estaco-os como os precursores desta Missão. Os senhores representaram muito bem o não só Batalhão de Infantaria Especial do Rio de Janeiro (BINFAERJ), mas também a Força Aérea Brasileira e o Brasil”. Essas palavras introduziram o discurso de boasvindas do Major-Brigadeiro-do-Ar Élcio Picchi, comandante do Terceiro Comando Aéreo Regional (COMAR III), aos militares que retornaram (10/2) da missão no Haiti. Os militares integraram o primeiro pelotão de Infantaria da Aeronáutica a cumprir uma missão no exterior. O pelotão composto por um capitão, na função de oficial de ligação, um tenente como comandante, três sargentos, três cabos e mais 23 soldados embarcaram na madrugada dia 17 de janeiro rumo a Porto Príncipe com a missão de prover a segurança e defesa das instalações do Hospital de Campanha da Aeronáutica (HCAMP) e da Unidade Celular de Intendência (UCI). “Foram 24 dias de permanência, 24 dias de serviço. A equipe superou as
diferenças da cultura e, principalmente da língua, aprendendo algumas palavras principais do creole, língua falada na região, e integrando ao grupo dois habitantes do local para servir de intérprete no contato com a população”, relatou o oficial de ligação, Capitão de Infantaria Paulo Roberto da Silva, do efetivo do Batalhão de Infantaria Especial dos Afonsos (BINFAE-AF). Para o Terceiro Sargento Tiago Souza de Andrade, 26, integrante da equipe de segurança, foi uma experi-
ASAS QUE PROTEGEM O PAÍS
ência única. “As haitianas chegavam grávidas ou desesperadas com o filho morrendo, era um desafio controlar as pessoas no meio daquela situação extrema. Estamos felizes. Foi nossa primeira oportunidade de levar o nome da Infantaria além da fronteira do Brasil”, concluiu. Mas não foi só o pelotão de Infantaria que passou por desafios e momentos marcantes. Do lado da equipe médica, cirurgias, exames, partos fizeram parte do dia-a-dia dos trabalhos. A tenente Adriana Reis Miller, 33, da equipe do Hospital de Campanha fez uma balanço dos trabalhos até agora. “Salvamos vidas, trouxemos vida. A gente leva carinho, amor, dedicação, saúde, água, comida, é difícil até para falar”, relatou emocionada na chegada ao Rio de Janeiro. Militares do Batalhão de Infantaria de Aeronáutica Especial do Rio de Janeiro, BINFAE RJ, da equipe de saúde do Hospital de Campanha, de apoio à Unidade Celular de Intendência e do Primeiro Esquadrão do Primeiro Grupo de Comunicação e Controle (1°/1° GCC) retornaram a bordo de um C-130 Hércules. No mesmo período, outros seguiram para Porto Príncipe para dar continuidade aos trabalhos.
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Fotos: Sd Silva Lopes / CECOMSAER
“Mangu, Mangu”: brasileiros aliviam a fome de haitianos
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ais de 900 toneladas de alimentos, água e equipamentos foram transportadas por aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) na Missão de Ajuda Humanitária ao Haiti. É difícil saber quantas famílias de haitianos já foram beneficiadas pelos suprimentos brasileiros, embora seja raro encontrar alguém que não necessite de ajuda ou não passe a mão no estômago quando algum estrangeiro se aproxima. A equipe de reportagem da Força Aérea no Haiti participou de uma patrulha com representantes das Nações
Unidas em Ti Haiti, uma das regiões mais carentes de Porto Príncipe, que, em creole, quer dizer petit Haiti (pequeno Haiti), uma espécie de aquário dos principais problemas que assolam o país. Lá, foi possível identificar o tamanho das necessidades da população. Homens, mulheres, idosos, bebês dividem espaço com lixões, ratos e porcos. Sem noção do cenário em que vivem, haitianos reclamam apenas de “mangu” (fome). Latas de sardinhas e outros enlatados enchem os olhos dos habitantes de Ti Haiti que combatem a fome com bolinhos de areia. O nome não é nenhuma metáfora,é a receita: areia + manteiga + sal; misturados e secos ao sol. As senhoras que produzem e vendem esses bolinhos de areia não precisam persuadir ninguém para vendê-los. Os bolinhos juntamente com um pouco de água, incham e enganam a fome. “Eles comercializam ainda com base no escambo. Trocam entre si aquilo que precisam”, diz o Capitão A. Silveira que conduz a visita na região. NOTAER nº 3 - 28 fev 2010
Confinadas em paredes de zinco, sem banheiros, luz ou água, a região que fica a noroeste de Porto Príncipe, é cortada por trechos de água completamente cobertos por garrafas e lixo. Em uma poça de água isolada, mães banham seus filhos com o único líquido barrento que encontram. Um bebê dava suas primeiras engatinhadas driblando os escombros do que restou depois do terremoto de 12 de janeiro. Crianças eufóricas recebiam o grupo de brasileiros entre cantos e danças e também chamavam a atenção puxando nossas roupas ao som de: “Um Dólar. American Dólar”. É então que entendemos as recomendações da equipe da ONU. “Não dêem dinheiro, nem bebam ou comam nada na frente deles”. Pouco menos de duas horas caminhando no bairro que fica ao lado da famosa Cité Soleil, um dos mais violentos da cidade, é fácil perceber que ali também não há emprego. Homens e mulheres vagavam por entre os barracos.
Morte e vida de Alexandre, uma emocionante história no HCAMP
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s olhos insistiam em fechar. O pulso teimava em cair. Os batimentos cardíacos iam sumindo, assim mesmo, no gerúndio angustiante e dolorido. Os médicos e os auxiliares de enfermagem do Hospital de Campanha da Aeronáutica, em Porto Príncipe, corriam contra o que parecia inevitável. Alexandre Simillieu, um ano de idade, desnutrido, desidratado, órfão de pai morto no terremoto, sem casa, sem comida e quase sem vida. Desfalecido. Enquanto realizavam os procedimentos, os olhos dos profissionais de saúde marejavam com a proximidade de perder a batalha. A mãe, Sonia Pierre, 21, abatida pela tensão e também pela desnutrição, já chorava junto na cama ao lado. Não é que esses homens e mulheres de boné vermelho contrariaram a lógica?! Uma série de ações fez com que a criança abrisse os olhos de forma
brilhante e chorasse. Nesse momento, todos sorriram. O processo de ressuscitação teve pelo menos quatro horas de duração, envolvendo pediatras, clínicos, anestesista, além de auxiliares de enfermagem. Era preciso urgentemente hidratar a criança com soro. Pela boca, não era o bastante. Foi tentado por meio venoso. Só que a desidratação desapareceu com as veias da criança. Na sequência, conseguiram por via nasogástrica, do nariz direto para o estômago. Era uma luta desleal contra o tempo que corria. A cada segundo o coração batia menos. Em alguns minutos, a criança teve reação. “Era o que todos nós queríamos. Foi uma luta muito grande. É muito satisfatório quando conseguimos”, emocionou-se o pediatra, Capitão
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Marcos Farias. Os médicos continuaram observando o garoto. Foi realizada uma radiografia que mostrava uma pneumonia. “Todos estamos muito atentos. Ele vai se salvar...”, entusiasmava-se, otimista, outra pediatra, a Capitão Marly Castro. A mãe, que foi do desespero ao alívio, conseguia resumir tudo o que havia ocorrido. “Eles me deram meu filho de volta. Eu pensei que iria perdê-lo. Muito obrigado. Foram esses brasileiros e Deus que salvaram meu menino”. Sonia também, enfim, sorria.
Parlamentares visitam Hospital de Campanha da FAB em Porto Príncipe s deputados federais Raul Jungmann (PPS-PE), Claudio Cajado (DEM-BA), Colbert Martins (PMDBBA), Emiliano José (PT-BA) e Janete Rocha Pietá (PT-SP) visitaram o Hospital de Campanha da Força Aérea, no mês passado, em Porto Príncipe. Os parlamentares integraram uma missão Câmara dos Deputados ao Haiti. “Imprescindível e incomparável o que o Hospital de Campanha vem fazendo”, afirmou a deputada Janete em relação aos trabalhos desenvolvi-
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dos pelos médicos e enfermeiros da Força Aérea. “Todas as instalações militares da cidade foram destruídas no país, a presença do HCAMP ajudou no socorro imediato de muitos ASAS QUE PROTEGEM O PAÍS
haitianos”, acrescentou. O Hospital de Campanha superou os 6 mil atendimentos em mês de funcionamento, tendo realizado mais de 150 cirurgias.
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Fotos: Sd Sérgio / CECOMSAER
FAB resgata 62 brasileiros isolados no Peru
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Força Aérea Brasileira repatriou 62 brasileiros que estavam isolados em Cuzco, no Peru, vítimas das enchentes que deixaram a região de Águas Calientes isolada. A aeronave C-130 Hércules do 1º Grupo de Transporte de Tropas (1º GTT) partiu do Rio de Janeiro, da Base Aérea do Galeão, no dia 30 de janeiro, levando a bordo 14 toneladas de alimentos para ajudar a população atingida pela tragédia. Na volta, o avião trouxe ao Brasil turistas brasileiros que estavam na região. Um dos passageiros foi o contador Mauro Fornazari, de Santa Catarina. Ele contou que fazia uma viagem com a mulher e dois filhos pela América Latina quando ficou isolado por conta das enchentes, com pelo menos outros 280 brasileiros. “É um orgulho depois de uma experiência dessas entrar em uma aeronave da FAB. Pra gente, é um pedacinho do solo brasileiro”, disse ao embarcar na aeronave da FAB. A advogada Flávia Faria, do Rio de Janeiro, também voltou no avião. Para ela, a maior lição dessas férias foi a solidariedade entre as pessoas. “Até desconhecidos nos acolhiam como uma família”, contou. Ilhados pela en-
chente, a população local uniu-se aos turistas para a preparação de alimentos nas ruas da cidade. A doação de alimentos brasileiros foi recebida pelo Presidente Regional de Cuzco, Hugo Sayan. “Não temos palavras para agradecer aos irmãos brasileiros pelo calor humano e pela solidariedade. Todo esse alimento será imediatamente distribuído para a população carente”, afirmou. Segundo
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ele, mais de cinco mil casas foram destruídas e 29 mil famílias estão desabrigadas. O embaixador do Brasil no Peru, Jorge Taunay, acompanhou o embarque dos brasileiros no aeroporto. Ele elogiou o governo peruano pela eficiência no resgate dos turistas que estavam isolados em Águas Calientes. “Foi uma ponte-aérea que primou pela eficiência na logística e na técnica”.
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Fotos: Sgt Jéssica Melo / CECOMSAER
Divulgação
Solenidade no RJ marca centenário de nascimento do Brigadeiro Nero Moura
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assado, presente e futuro estiveram juntos na manhã do dia 30 de janeiro na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, durante a solenidade que marcou o centenário de nascimento do Brigadeiro Nero Moura, Patrono da Aviação de Caça no Brasil. Sob rasantes das aeronaves F-5 e A-1, diversas gerações de caçadores da Força Aérea Brasileira se reuniram para homenagear o líder da vitoriosa campanha da Itália durante a II Guerra Mundial, que nasceu em 30 de janeiro de 1910. O Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, Comandante da Aeronáutica e piloto de caça, presidiu a cerimônia e conclamou a todos os militares a seguir as lições da vida do Brigadeiro Nero Moura. “O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem”, ressaltou. Após a benção do Capelão da Base Aérea de Santa Cruz, Eleonora Maria Moura, filha de Nero Moura, acompanhada pelo Comandante da Aeronáutica e do Major-Brigadeiro José Rabelo Meira de Vasconcelos, veterano do 1° Grupo de Aviação de Caça na Itália, colocou uma coroa de
flores sobre o túmulo do seu pai, localizado próximo à pista de pouso. Com o final da guerra, esse local tornou-se o berço da aviação de caça no país. Emocionada, ela lembrou do homem que se dedicava com afinco ao cumprimento de cada missão, seja na guerra ou na paz. “A vida dele era a Força Aérea, os aviões e os comandados”, disse.
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A solenidade marcou ainda o lançamento de um selo comemorativo e da Medalha Mérito Operacional Nero Moura, a ser concedida aos comandantes de unidades aéreas que se destacarem em suas funções. A condecoração lembra que Nero Moura, apesar de ser mais lembrado pelas 72 missões de combate, também se destacou por saber liderar e promover a Força Aérea em todas as suas áreas. Também foi aberta na Base Aérea de Santa Cruz uma exposição histórica sobre a vida do Brigadeiro Nero Moura, organizada pelo Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica (CENDOC). Textos, documentos e fotos históricas mostram a vida do homem que foi um dos incentivadores da criação do Ministério da Aeronáutica, em 1941, fundador do Grupo de Transporte Especial e Ministro da Aeronáutica entre 1951 e 1954. Das muitas realizações de Nero Moura, como ministro, destacam-se a chegada dos primeiros caças a jato do Brasil, os Gloster Meteor, e a construção dos aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, e Salgado Filho, em Porto Alegre.
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3 de fevereiro
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Dia da Aviação de Asas Rotativas
á bem pouco tempo lançamos o primeiro míssil a partir de uma plataforma de nossa Aviação. Fato inimaginável e ao mesmo tempo um sonho para aqueles que deram suas vidas na construção desta realidade. Vale lembrar que houve épocas em que nossa principal missão era apoiar ao Exército Brasileiro em suas tarefas. Além da indiscutível capacidade SAR, muito pouco nos restava no campo do emprego do poder aéreo. O paradoxo de poder cumprir qualquer tipo de missão era uma benção e ao mesmo tempo um mal e nossa polivalência, que era tão aceita para as atividades de paz, não o era para as de guerra. Nascidos à sombra de nossa irmã, a Aviação de Busca e Salvamento, brigávamos por uma identidade própria até que o Exército Brasileiro ativou sua própria frota de helicópteros. O que parecia ser uma perda de poder transformou-se num grande incentivo. Nunca será demais às nossas mentes relembrar a RAAR de Manaus, em 1988, quando uma das unidades operadoras de Esquilo apresentou o H-50 armado a partir de um projeto bastante interessante. Naquele momento ouvimos, pela primeira vez e provocados por um de nossos comandantes, o grito de guerra que ecoa até os dias de hoje: “Aos rotores, o sabre”. Devíamos conquistar novos horizontes e foi, através do mesmo SAR, agora com a roupagem do combate, o CSAR, que nossa longa caminhada recomeçava. Em busca de nosso sabre, nossa plena capacidade de estar no rol daqueles que aplicam o poder aéreo, aliamo-nos à Aviação de Caça, que regressava da Red
Flag e onde havia presenciado diversas ações para o resgate de pilotos ejetados. Convencidos da necessidade de agregar potencialidades aos vetores de Asas Rotativas que ingressariam em território hostil para o resgate, iniciamos o combate aéreo entre helicópteros, que foi secundado pelo combate dissimilar, momento em que foi comprovado que o maior inimigo de um helicóptero seria outro e não uma aeronave de asa fixa, como se propagava à época. Ilhas de excelência foram ativadas para que os conhecimentos recém adquiridos não se perdessem mas sim pudessem ser transferidos para outras unidades e assim foi feito, enquanto umas unidades desenvolviam a capacidade de voar com óculos de visão noturna (NVG), outras, perfis de navegação entre obstáculos, técnicas de CSAR, reabastecimento e rearmamento em pontos remotos. Algumas de nossas unidades passaram a ter papel também na defesa aérea de pontos sensíveis. Vieram as operações CRUZEX e a capacidade de aplicar conceitos de C2 ao CSAR e ingressar de fato no mundo real das operações combinadas. No campo das atividades sociais, continuamos nossa luta nas vacinações amazônicas, nas grandes calamidades que afetaram nosso país e alguns dos nossos vizinhos e na presença diária de nossas tripulações prontas para o SAR. Sim, gente da Aviação de Asas Rotativas, convencíamos mas nossas conquistas careciam de uma correspondência material. Voávamos e voamos antigas aeronaves que não atendem a plenitude NOTAER nº 3 - 28 fev 2010
de nossa vocação. Mas o ponto de inflexão, já superado em termos conceituais, está acontecendo nestes tempos. Já há alguns anos voamos os BlackHawk na Amazônia. Há poucos meses, recebemos o AH-2 que em breve estará em plena operação e mudará nossa capacidade de ataque com helicópteros e logo estaremos recebendo novos COUGAR, plenamente equipados para o CSAR, permitindo que todos os conhecimentos passem da teoria para a prática. Complementando este quadro, tivemos a concentração dos helicópteros Esquilo na instrução em Natal, o que permitirá um maior volume de horas de treinamento dos novos integrantes de nossa aviação. Sim, conseguimos evoluir de uma polivalência utilitária para o “status de ameaçadora plataforma de emprego do Poder Aéreo, valiosa arma para a defesa da Pátria e dos interesses nacionais”. Estamos trazendo orgulho aos que nos antecederam e aos bravos combatentes que, naquele terceiro dia do mês de fevereiro de 1964 ingressaram, tripulando dois helicópteros H-19 da ONU, em território dominado pelo inimigo em missão de paz das Nações Unidas no Congo, para resgatar missionários e freiras que estavam sob ameaça de um violento grupo guerrilheiro. Somos vitoriosos! Mas nunca nos esqueçamos do quanto custou. Continuemos a valorizar os esforços de nossos antecessores. Eles merecem e é o que a Força Aérea Brasileira espera de nós. Aos rotores, o sabre! TEN BRIG AR GILBERTO ANTONIO SABOYA BURNIER Comandante do COMGAR - Comando-Geral de Operações Aéreas