AEROVISÃO nº 234 - Out/Nov/Dez - 2012

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Criada em 1941, a Força Aérea Brasileira (FAB) abriu suas portas para o corpo feminino em 1982 e, hoje, as mulheres representam quase 13% do efetivo militar JUSSARA PECCINI

las esperaram quatro décadas para vestir a farda azul. No início dos anos 80, as primeiras militares foram recrutadas para digitação, programação e enfermagem, como cabos e sargentos. Hoje, elas também são oficiais, participam das mais diversas atividades na Força Aérea Brasileira (FAB), pilotam aviões de caça, de transporte, de reconhecimento e helicópteros e, no futuro, estarão concorrendo às vagas de oficiais generais. As pioneiras dessa história estão hoje na faixa dos 50 anos e algumas ainda estão no serviço ativo. Outras já se aposentaram. Elas foram testemunhas do avanço do corpo feminino na Força Aérea, que ocupou primeiro as funções administrativas e depois chegou às áreas operacionais. Apenas nos últimos dez anos, a presença feminina cresceu 185% - saltou de 3.249 militares em 2002 para 9.279 mulheres neste ano. A transformação reflete o avanço feminino na sociedade brasileira. As primeiras mulheres militares ingressaram na FAB em 1982 no Corpo Feminino da Reserva da Aeronáutica, que reunia o Quadro Feminino de Oficiais da Reserva da Aeronáutica (QFO) e o Quadro Feminino de Graduados da Reserva da Aeronáutica (QFG). As primeiras turmas de graduadas (cabos e sargentos) foram formadas em Belo Horizonte, no Centro de Instrução de Graduados da Aeronáutica (CIGAR) e as oficiais, para o Centro de Instrução Especializada da Aeronáutica (CIEAR), no Rio de Janeiro. Eram 306 militares no total. A Força Aérea teve que criar uma linha especial de uniformes para as mulheres recrutadas, promover reformas nas unidades militares para receber o efetivo feminino e estabelecer regras diferenciadas para a apresentação pessoal delas – corte de cabelo, pintura das unhas, tipo de sapatos, de bolsas etc. Algumas das primeiras instrutoras foram recém-incorporadas policiais militares mineiras – nessa época, no país, as PMs desempenhavam apenas funções

administrativas e sociais – e militares do quadro feminino da Marinha. Em dezembro de 1982, o então vice-presidente da República Aureliano Chaves viajou para Belo Horizonte para participar da formatura das primeiras alunas do Corpo Feminino da Força Aérea, integrantes da turma “Anésia Pinheiro Machado” - uma homenagem à primeira mulher aviadora brasileira que sobrevoou a cidade de Belo Horizonte na década de 20. A turma de oficiais, no Rio de Janeiro, recebeu o nome de “Demoiselle” – o mesmo dado a um dos aviões do inventor brasileiro Alberto Santos Dumont. Para entender melhor a trajetória das pioneiras é preciso voltar no tempo. A partir da segunda metade do século XX, as forças armadas de vários países do mundo começaram a admitir mulheres, que receberam formação idêntica a dos homens. Antes disso, elas ocupavam posições diferenciadas, como na área de saúde. No Brasil, a Marinha foi a pioneira ao chamar mulheres para os quadros de carreira (1980), dois anos antes da Força Aérea. Ao longo dos anos, situações exigiram que houvesse mudanças também na legislação para adequar as novas demandas do quadro feminino, como a criação da licença maternidade e a permissão para o casamento entre militares. Início - O concurso divulgado nos jornais da época atraiu moças que haviam acabado de terminar o colegial, hoje ensino médio, ou que estavam nos primeiros semestres da faculdade. Elas vislumbraram no concurso, além de uma carreira promissora e estável no serviço público federal, a possibilidade de ascensão profissional. Quase 8 mil mulheres disputaram as cerca de 300 vagas oferecidas pela Força Aérea. Josmari Montes, hoje tenente da FAB e com 49 anos, já estava na faculdade de Ciências Contábeis em Fortaleza quando decidiu realizar a prova para sargento da Aeronáutica. Ela disputou Aerovisão Out/Nov/Dez/2012

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