CB V. SANTOS / Agência Força Aérea
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á dez anos, a Força Aérea Brasileira começou a colocar em prática uma escolha singular: treinar seus futuros pilotos de caça em uma aeronave mais moderna, porém, mais lenta e menos manobrável que seu antecessor. O primeiro A-29 Super Tucano pousava pela primeira vez na Base Aérea de Natal em 7 de outubro de 2004 para substituir os jatos AT-26 Xavante. Houve quem tivesse dúvidas sobre a capacidade do A-29, mas após ser usado para formar 235 pilotos ao longo de uma década, o avião atestou o acerto da FAB. “O A-29 cumpre plenamente a função de formar o piloto de caça”, resume o Brigadeiro Mário Jordão, comandante da Terceira Força Aérea, que reúne as unidades de caça e de reconhecimento. A diferença do A-29 para outras aeronaves do mesmo porte está na sua cabine, criada para parecer ao máximo com a de um avião de combate de última geração. Do assento ejetável ao manche, todos os detalhes são semelhantes aos caças mais modernos. O mesmo acontece com os sistemas de bordo: quando entrou em operação, o A-29 era o avião mais avançado da FAB. O resultado aparece na transição dos aviadores que treinaram no Super Tucano para aeronaves de desempenho maior, como os F-5 modernizados. “Quando o piloto vai para a primeira linha ele não sente diferença nenhuma”, explica o Tenente-Coronel Rômulo Coutinho Lucas, atual comandante do Esquadrão Joker, unidade sediada na Base Aérea de Natal que tem como missão formar os futuros pilotos de caça. De acordo com o Tenente-Coronel Lucas, o fato de um F-5 poder superar os 1.700 km/h e o A-29 chegar somente a 593 km/h não é uma dificuldade para os pilotos. No atual estágio tecnológico da aviação, o Super Tucano oferece a possibilidade de o aviador já poder treinar a gestão dos sistemas de acordo com a missão. “Essa é a parte mais difícil, na verdade”, explica.
O A-29 é armado com duas metralhadoras de 12,5mm e pode levar mais 1.550 kg de bombas e foguetes. Os avanços da aviação de combate nas últimas décadas tornaram a pilotagem também mais facilitada, e o desafio agora não é mais “dominar” o avião, e sim saber utilizar seus sistemas para cumprir a missão. O Brigadeiro Jordão vai na mesma linha: “Ser gerente de sistemas é muito importante”. Segundo ele, a partir de 2006, quando começaram a voar nos esquadrões de caça os primeiros F-5 modernizados, se tornou mais comum haver dificuldades de adaptação de aviadores sem experiência no Super Tucano. “Os pilotos que não voaram o A-29 precisavam estudar muito”, explica. Para o comandante da Terceira Força Aérea, o treinador também irá cumprir bem o papel de preparar aqueles que futuramente voarão o Gripen NG, próximo caça da FAB. Primeiro voo em dois meses Formados na Academia da Força Aérea em Pirassununga (SP), os Aspirantes-a-Oficial selecionados para o curso de formação de pilotos de caça têm cerca de 50 horas de voo
em aviões T-25 Universal e 90 nos T-27 Tucano. Em Natal, eles passam pelo Curso de Tática Aérea, totalmente teórico, e em março se apresentam no Esquadrão Joker para iniciar os estudos sobre o Super Tucano e os treinos no simulador. Daí são seis voos na companhia de um instrutor até a primeira missão sozinhos na cabine. O chamado “solo” acontece por volta do mês de abril. Na segunda metade do ano, os aviadores aprendem a voar em formaturas táticas e realizam suas missões de ataque, interceptação e combate aéreo. “A gente dá a noção de todas as missões que o piloto de caça vai cumprir”, diz o Tenente-Coronel Lucas. As missões acontecem sobre o interior do Nordeste e sobre o mar, numa região onde a meteorologia ajuda a aproveitar todos os dias para voos. A 65 quilômetros da Base também está o estande de tiro de Maxaranguape, onde cada piloto treina a sua pontaria em alvos simulados no solo. Diferentemente dos aviões mais antigos, o Super Tucano permite o lanAerovisão
Jul/Ago/Set/2014
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