AEROVISÃO Nº 235 - Jan/Fev/Mar - 2013

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José Luís de França Neto / Instituto ABCD

Os alunos do ITA Márcio Araújo, Eric Gomes, o fundador Patrice de Camaret e a presidente Mônica Weinstein do Instituto ABCD

do, as crianças podem apresentar sinais, como substituir letras com sonoridade semelhante – o “q” e o “d”, por exemplo – e inverter palavras. Além disso, apresentam dificuldade em juntar sílabas e soletrar nomes. “Por conta desse obstáculo em decodificar as palavras, há uma defasagem de aprendizado em relação às outras crianças, que pode ter impacto na autoestima delas”, explica a psicóloga. Além da dislexia, a criação também pode ser usada no tratamento de outros problemas correlatos, como o Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), caso da bióloga Mariana Feigl Câmara, que só descobriu que tinha o TDAH aos 23 anos. Diante da dificuldade enfrentada desde cedo, aos sete anos professores a colocaram em uma sala com crianças menores por alguns dias porque ela não estava acompanhando a turma. “Foi horrível, sofri bullying durante muito tempo por conta disso”, relembra Mariana. “Na verdade, essas dificuldades por conta do TDAH prejudicaram minha autoestima por anos. No ápice do problema, cheguei a demorar 15 dias lendo 30 páginas do mesmo livro, pois não conseguia lembrar direito o que havia acontecido nas páginas iniciais”, explica. Com a descoberta do TDAH, a bi-

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óloga desenvolveu métodos próprios para ajudar na memorização do conteúdo que precisava estudar na universidade: passou a fazer esquemas com as informações principais das disciplinas e colá-los em toda parte da casa. Mariana usa a estratégia até hoje, já que possui grande dificuldade em compreender e memorizar rapidamente textos. Por conta dessas características relacionadas à aprendizagem, um portador de dislexia ou TDAH daria sinais do problema com poucos minutos de utilização do aplicativo desenvolvido pelos estudantes do ITA, uma vez que teriam as características do distúrbio maximizadas – a substituição exagerada e constante de letras, por exemplo – possibilitando a detecção precoce do transtorno e o tratamento adequado. O plano dos iteanos é disponibilizar o aplicativo para download gratuito, depois de submetê-lo a alguns retoques. Os alunos pretendem se valer dos ensinamentos em sala de aula para tornar o jogo mais complexo e com um maior número de fases. “No desenvolvimento do aplicativo, nós percebemos o quanto esse é um campo vasto pra ser explorado e que a tecnologia ainda tem muito a oferecer para as áreas da saúde e nós, aqui no ITA, estamos investindo nisso”, constata Márcio.

Personalidades com distúrbios de aprendizagem Os transtornos de aprendizagem, como a dislexia e o TDAH, podem representar desde cedo um entrave na vida de crianças e adultos. Por outro lado, os portadores desses distúrbios costumam ter o lado esquerdo do cérebro mais desenvolvido e, por conta disso, demonstram maior aptidão para realizar atividades ligadas à criatividade. A história está recheada de personalidades que sofreram, em maior ou menor grau, com esses problemas e ainda assim conseguiram desempenhar de forma magnífica suas atividades em áreas como o cinema, os negócios e as ciências. Albert Einstein, físico: O pai da teoria da relatividade apresentava sinais característicos de TDAH. Até os 3 anos de idade tinha dificuldades para falar e foi alfabetizado apenas aos 9. “Quando eu lia, somente ouvia o que estava lendo, e era incapaz de lembrar a aparência visual da palavra que lia”. To m C r u i s e , ator: O protagonista de Missão Impossível é disléxico e costuma falar sobre dislexia em programas de TV: “eu tinha que treinar a mim mesmo para concentrar minha atenção. Assim, me tornei muito visual e aprendi como criar imagens mentais para poder compreender o que lia”. Fonte: Dislexia.com.br e TDAH.com.br


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