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reguiçoso era o mais leve dos predicativos que a psicóloga Maria Estela Guimarães ouvia dos professores sobre o filho, Rodrigo Cerqueira, a cada reunião na escola. Só quando o menino chegou aos 12 anos, ela descobriu que o suposto corpo mole com os estudos, na verdade, era sintoma de um transtorno de aprendizado que atinge 4% dos brasileiros, a dislexia. O distúrbio afeta, principalmente, a capacidade de leitura, escrita e soletração. Pensando nas dificuldades enfrentadas por crianças como Rodrigo, alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), de São José dos Campos (SP), desenvolveram um aplicativo para auxiliar na identificação precoce do transtorno, bem como auxiliar no tratamento. Os autores da concepção e do desenvolvimento do aplicativo, Eric Conrado e Márcio Paiva, são iteanos do segundo ano de Engenharia. A dupla que inicia este ano os estudos na especialidade de Computação, faz parte do grupo ITABits que se reúne para desenvolver softwares. “Recebemos o desafio do Instituto ABCD que apóia profissionais que trabalham com pessoas com distúrbios de aprendizado” explica Eric. O desafio gerou uma competição interna no ITABits, vencida pelo Aramumo, nome dado ao aplicativo, formado pela combinação de letras dos nomes dos autores do projeto. A dupla criou um tipo de jogo para celulares e tablets para treinar o raciocínio e acelerar o aprendizado. O sistema trabalha memória, separação silábica, rastreamento visual, atenção, concentração e coordenação motora. Com sistema operacional Android, o Aramumo lembra um jogo de palavras cruzadas, com várias combinações silábicas que se movimentam pela tela e casas. O usuário tem de passar por quatro fases de complexidade.
Os alunos do ITA pretendem diponibilzar o aplicativo para download gratuito
De acordo com a Presidente do Instituto ABCD, Mônica Weinstein, a ideia surgiu a partir da carência de aplicativos em língua portuguesa que ajudem a melhorar a leitura e a escrita de crianças e jovens com dislexia. “Pensamos que seria uma oportunidade interessante convidar os alunos do ITA a participarem do desafio porque eles têm a competência para desenvolver o material e também, no futuro, podem se dedicar a contribuir para melhorar a ponte entre a tecnologia da informação e os desafios de alunos que têm dificuldade para aprender”, explica Mônica. Para a psicóloga Maria Estela Guimarães, que se formou na área depois do diagnóstico do filho Rodrigo, o jogo dos alunos do ITA é uma “sacada genial”. “Eles [os alunos] não têm a dimensão do quão maravilhoso é este aplicativo, tanto para tratar quanto para
diagnosticar problemas de aprendizado, porque o diagnóstico precoce é fundamental e a maioria dos professores e das escolas não estão preparados para perceber que a criança tem uma dificuldade”. Outra questão é do custo: o tratamento é muito caro, envolve uma série de profissionais, psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, por isso ter à disposição uma ferramenta como essa é realmente muito importante e, infelizmente, não existe nada igual”, analisa Estela. Para Rodrigo Cerqueira, que hoje tem 17 anos e cursa o terceiro ano do ensino médio, o sucesso do trabalho dos alunos do ITA está na utilização de tecnologias móveis como plataformas para o jogo: “O bacana é que pode jogar no celular, no tablet. Papel e caneta já não tem mais nada a ver!”, diz o adolescente. A dislexia se torna mais perceptível por pais e professores durante o processo de alfabetização, que acontece por volta dos 6 anos de idade. Nesse períoAerovisão Jan/Fev/Mar/2013
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