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Segredos do grão úmido Colheita antecipada produz alimento com menor custo nas propriedades leiteiras
Para bovinos, é recomendável quebrar o grão em cinco ou seis pedaços
Professor Ciniro Costa, da FMVZ da Unesp de Botucatu
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C
Fernanda Yoneya
om vantagens agronômicas, zootécnicas e econômicas comprovadas, a silagem de grão úmido, como alimento concentrado energético, ganha cada vez mais adeptos entre os produtores de leite. Mas, assim como a silagem de planta inteira (alimento volumoso), é fundamental que sejam adotados cuidados, da escolha da variedade e colheita à abertura do silo, para garantir um nutriente de boa qualidade. Características como adaptação à região, produtividade e sanidade são fundamentais na escolha de um híbrido para este fim. O milho é a planta mais indicada para a produção desse tipo de material, desde que colhida no chamado “ponto ótimo” de corte e devidamente armazenada. Outros grãos de cereais, no entanto, também são opção para o produtor: sorgo e milheto (cereais de verão) e triticale, aveia, centeio e cevada (cereais de inverno). Uma das vantagens desse alimento em relação ao volumoso de grãos secos é a colheita antecipada em três a quatro semanas, o que permite adiantar a instalação de outra cultura (milho safrinha, sorgo ou culturas de inverno). Além disso, há menos perdas por tombamento de plantas e grãos que “espirram”
Mundo do Leite – ago/set 2018
da colheitadeira, assim como a redução do ataque de pássaros, carunchos e fungos (menor risco de micotoxinas). Também não é necessário fazer a pré-limpeza e secagem dos grãos, que podem ser armazenados por longo período sem alterações do valor nutricional. “A silagem de grãos úmidos é o produto da conservação de grãos de cereais logo após a maturação fisiológica, com teor médio de umidade de 28%”, resume o professor Ciniro Costa, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu. “O armazenamento de grãos úmidos na forma de silagem é cerca de 10% mais econômico em relação à conservação na forma de grãos secos, principalmente por eliminar as etapas de pré-limpeza, secagem e monitoramento dos grãos ensilados”, diz Ciniro. “A utilização de animais cada vez mais produtivos têm obrigado técnicos e produtores a buscar alternativas que permitam atender a maiores exigências nutricionais sem comprometer a viabilidade econômica do sistema. Nesse contexto, a ensilagem de grãos úmidos de cereais vem se destacando pela maior eficiência na conservação de alimentos concentrados energéticos para a alimentação animal.” No caso do milho, a maturação fisiológica ocorre aos 50-55 dias após a polinização ou “espigamento”, independentemente do híbrido e da época de semeadura. “A maturação fisiológica se caracteriza pelo momento em que cessa a transferência de nutriente da planta para a formação dos grãos. Quando falamos de milho, temos a formação de uma ‘camada preta’ na base dos grãos. Nessa fase os grãos apresentam teores de amido e umidade elevados, ao redor de 30% a 32%”, afirma o professor, titular do Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal. Para determinar o momento correto da colheita no campo, o produtor ou um técnico deve selecionar espigas de diferentes pontos da lavoura. Elas são quebradas ao meio para que a “camada preta” seja identificada na base do grão. Isso ajuda a detectar a umidade entre 32 e 35% – ponto de maturação fisiológica. Segundo professor da Unesp, a colheita com umidade acima de 35% implica menor produtividade, uma vez que os grãos ainda não estão completamente