Revista do Meio Ambiente 54

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revista do meio Acesse: www.portaldomeioambiente.org.br

ONU alerta: extremos climáticos ameaçam

espécie humana

ano VII • dezembro 2012

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9772236101004

ISSN 2236-1014

AMBIENTE Rebia Rede Brasileira de Informação Ambiental

Os agrotóxicos, o novo holocausto invisível Desastres naturais no Brasil causaram perdas de R$ 15 bi Enquetes independentes revelam apoio à Rebia Regiões preservadas são alvo do tráfico de animais



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capa 12 ONU alerta: extremos climáticos ameaçam

Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental: organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com a missão de contribuir para a formação e mobilização da Cidadania Ambiental planetária através da democratização da informação ambiental e da educação ambiental com atuação em todo o território nacional, editando e distribuindo gratuitamente a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente. CNPJ: 05.291.019/0001-58. Sede: Trav. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba - Niterói, RJ 24370-290 – Site: www.rebia.org.br Conselho Consultivo e Editorial Adalberto Marcondes, Ademar Leal Soares, Aristides Arthur Soffiati, Bernardo Niskier, Carlos A. Muniz, David Man Wai Zee, Flávio L. de Souza, Keylah Tavares, Luiz A. Prado, Maurício Cabral, Paulo Braga, Raul Mazzei, Ricardo Harduim, Rogério Álvaro S. de Castro, Rogério Ruschel Diretoria Executiva Presidente: Vilmar Sidnei Demamam Berna, escritor e jornalista Moderadores dos Fóruns Rebia Rebia Nacional (Rebia-subscribe@ yahoogrupos.com.br): Ivan Ruela – gestor ambiental (Aimorés, MG) Rebia Norte (Rebianorte-subscribe@ yahoogrupos.com.br) – Rebia Acre: Evandro J. L. Ferreira, pesquisador do INPA/UFAC • Rebia Manaus: Demis Lima, gestor ambiental • Rebia Pará: José Varella, escritor Rebia Nordeste (Rebianordeste-subscribe@ yahoogrupos.com.br) – Coordenador: Efraim Neto, jornalista ambiental • Rebia Bahia: Liliana Peixinho, jornalista ambiental e educadora ambiental • Rebia Alagoas: Carlos Roberto, jornalista ambiental • Rebia Ceará: Zacharias B. de Oliveira, jornalista, mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente • Rebia Piauí: Dionísio Carvalho, jornalista ambiental • Rebia Paraíba: Ronilson José da Paz, mestre em Biologia • Rebia Natal: Luciana Maia Xavier, jornalista ambiental Rebia Centro-Oeste (Rebiacentrooestesubscribe@yahoogrupos.com.br): Eric Fischer Rempe, consultor técnico (Brasília) e Fabrício Fonseca Ângelo, jornalista ambiental Rebia Sudeste (Rebiasudeste-subscribe@ yahoogrupos.com.br) - Rebia Espírito Santo: Sebastião Francisco Alves, biólogo Rebia Sul (Rebiasul-subscribe@yahoogrupos. com.br) - Coordenador regional: Paulo Pizzi, biólogo • Rebia Paraná: Juliano Raramilho, biólogo • Rebia Santa Catarina: Germano Woehl Junior, mestre e doutor em Física. Rio Grande do Sul: Julio Wandam - Os Verdes de Tapes/RS e GT de Comunicação da Rede Bioma Pampa, filiada a APEDeMA/RS Pessoa Jurídica A Rebia mantém parceria com uma rede solidária de OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que respondem juridicamente pela finanças dos veículos de comunicação e projetos da Rebia: • Associação Ecológica Piratingaúna CNPJ: 03.744.280/0001-30 • Sede: R. Maria Luiza Gonzaga, nº 217, Ano Bom - Barra Mansa, RJ • CEP: 27323-300 • Utilidade Pública Municipal e isenta das inscrições estadual e municipal • Prima – Mata Atlântica e Sustentabilidade (Ministério da Justiça - registro nº 08015.011781/2003-61) – CNPJ: 06.034.803/0001-43 • Sede: R. Fagundes Varela, nº 305/1032, Ingá, Niterói, RJ CEP: 24210-520 • Inscrição estadual: Isenta e inscrição Municipal: 131974-0 www.prima.org.br

espécie humana

por Leandro Chaves

saúde e meio ambiente 6 Os agrotóxicos, o novo holocausto invisível por Graciela Cristina Gómez

mudanças climáticas 13 Desastres naturais no Brasil causaram perdas de R$ 15 bilhões

pesquisa 16 Enquetes independentes revelam apoio à Rebia

animais 18 Regiões preservadas são alvo do tráfico

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de animais

por Aldem Bourscheit 4 5 10 10 11 14 18 20 21 22 26 28 28 29 29 30 32

• A sustentabilidade e o poder • Precisamos de muito mais energia • ‘Resultado da Rio+20 podia estar em papel higiênico’ • China é o país que mais consome madeira no mundo • Estudo diz que porto de Eike salgou região no Rio • Jornalismo ambiental: fronteira desconhecida a ser desvendada • A nova lei florestal e a segurança jurídica • Soluções inacabáveis • As relíquias garimpadas no lixo • A civilização do lixo. Entrevista especial com Maurício Waldman • Os cinco tons de verde do ‘Oscar’ da ecologia • Conama: por que não descentralizar? • Jovens vão às ruas de Doha, no Catar, durante COP18 • Almanaque ecológico do Lucas • O fim do desmatamento é possível • A economia ao alcance das pessoas • Guia do Meio Ambiente

Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da Rebia.

Revista ‘Neutra em Carbono’

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A sustentabilidade e

Foto original: Colin Brough (sxc.hu)

texto Vilmar Sidnei Demamam Berna* (www.escritorvilmarberna.com.br)

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o poder

O poder de escolher não é igual para todos. Quando elegemos alguém, quando consumimos produtos que alguém colocou no mercado, transferimos para eles, de forma ativa, através de nosso apoio, uma parte de nosso poder de escolha Imagine que no futuro as novas gerações queiram saber, diante do meio ambiente destruído, da fome e da exclusão social, onde estávamos, se do lado que empunhava o machado e o chicote ou do que os combatia? Nossa resposta deveria nos remeter diretamente aos indicadores de sucesso que adotamos no presente. Se nossos indicadores de sucesso forem econômicos, deixar uma gorda conta bancária, patrimônios, ou uma posição invejável na lista dos mais ricos, poderá parecer um legado importante, e os sacrifícios que impusermos aos outros ou a nós próprios, parecerão suportáveis e até moralmente defensáveis. Nossa inteligência e capacidade de abstração consegue justificar o injustificável. O dinheiro, o poder, são capazes de cegar. Entretanto, devemos aprender com os erros, ou tenderemos a repeti-los. A história nos mostra que extinção não é novidade. A própria humanidade já passou por vários episódios de extinção de civilizações inteiras que não conseguiram se adaptar aos danos e sacrifícios de suas próprias escolhas e que desapareceram, como o Povo da Ilha de Páscoa, o Egito dos Faraós, etc. Do ponto de vista biológico, não eram diferentes de nós. Na época, também devem ter existido alertas para os riscos, mas tudo indica que não foram ouvidos. Enquanto alguns se importam com meio ambiente, justiça social, sustentabilidade, outros simplesmente parecem não se importar e acabam por encontrar desculpas para justificar suas escolhas. Ao contrário do que dizia o profeta, ‘gentileza não gera gentileza’. Pessoas que valorizam mais seus lucros econômicos, cargos, salários, posições políticas não se deixarão convencer facilmente. Do ponto de vista da utopia, pode ser reconfortante imaginar um mundo onde o amor irá superar tudo, onde as pessoas são boas naturalmente e no momento derradeiro irão mudar e se convencer. Infelizmente, a realidade nos mostra que não é bem assim, e que agora, nossa capacidade de causar danos e sacrifícios deixou de ter impactos locais para afetar o Planeta como um todo. Se evoluímos tecnologicamente, do ponto de vista do espírito humano continuamos nascendo um ‘vir a ser’ e, dependendo de nossas escolhas e de nosso amadurecimento, podemos tomar atitudes gananciosas ou solidárias, sermos oportunistas ou generosos, arrogantes ou humildes. Nem sempre a gentileza alheia é capaz de comover e contagiar outras pessoas. Tem gente que se for deixada sem limites pode se aproveitar da situação, tomando mais para si do que os outros. A bem da verdade, as pessoas são como são, e tem o direito de escolherem o que acham melhor para si próprias e suas organizações. O que não podem é ter o direito de impor aos outros os sacrifícios de suas escolhas e do seu jeito de ser. As empresas, a sociedade, as organizações, os governos são abstrações jurídicas. Por detrás delas estão pessoas, que amam ou odeiam, que são gananciosas ou generosas, brilhantes ou estúpidas, que sofrem ou causam sofrimento a outros, e, principalmente, que fazem escolhas que afetam, para o bem e para o mal, a vida de outras pessoas. Ao escolhermos a vida em sociedade abrimos mão de fazermos justiça pelas próprias mãos, em troca, recebemos a promessa das autoridades que aju-

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damos a eleger que terão a necessária isenção e o devido interesse público a fim de salvaguardar os interesses públicos. Entretanto, quando se afrouxa o tecido social, quando a cidadania cede lugar aos interesses privados, o aparelho do Estado que devia nos proteger pode se virar contra nós, capturado pelos poderosos que o usam para atingir seus fins privados. Neste sentido, a sustentabilidade, muito mais que apenas ser uma mudança de tecnologias, gestão ou economia, exige o estabelecimento de um novo pacto civilizatório, onde definitivamente precisamos aprender a conviver de uma outra maneira, diferente da que fizemos até aqui, com o meio ambiente, as demais espécies e nossos próprios semelhantes. Rever nossas relações com o poder é uma delas. O poder de escolher não é igual para todos. Quando elegemos alguém, quando consumimos produtos que alguém colocou no mercado, transferimos para eles, de forma ativa, através de nosso apoio, uma parte de nosso poder de escolha. E também fazemos isso de forma passiva, quando escolhemos não nos ‘meter’ com política, quando condicionamos nossa participação na esfera pública ou da ação da cidadania à obtenção de vantagens pessoais, quando nos recusamos a querer saber sobre assuntos que afetam a vida em sociedade ou à nossa existência no Planeta, quando aceitamos as promessas da propaganda ou de felicidade no consumo. Em vez de continuarmos concordando em ser massa de manobra dos poderosos para atingirem seus objetivos, temos o poder de dizer NÃO. E não por que somos ‘do contra’, mas por que somos a favor de um outro mundo que consideramos possível, ambientalmente sustentável, socialmente justo e, claro, viável economicamente. * Vilmar é escritor e jornalista, fundou a Rebia - Rede Brasileira de Informação Ambiental (rebia.org.br), e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente), e o Portal do Meio Ambiente (portaldomeioambiente.org.br). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas


energia

Investimentos em energias limpas precisam dobrar nos próximos anos, aponta AIE

e a melhoria da eficiência energética em todos os setores de consumo de energia. A publicação cita como exemplo as energias solar e eólica, que tiveram crescimento global médio de 42% e 27%, respectivamente, por ano, nos últimos dez anos. “Graças ao apoio de políticas estratégicas e sustentáveis nas fases iniciais de investigação, desenvolvimento, demonstração e aplicação no mercado, essas tecnologias atingiram uma fase em que o setor privado pode ter um maior papel, permitindo a diminuição progressiva dos subsídios”. Jones também informou que a AIE está trabalhando com o Brasil e outros parceiros na elaboração de um roteiro para o desenvolvimento sustentável de hidreletricidade, que deve estar pronto nos próximos meses. O secretário adjunto de Planejamento e Desenvolvimento Energético do ministério, Moacir Bertol, destacou a situação favorável da matriz energética brasileira, que tem participação de 45% de energias renováveis, sendo que a média mundial é de cerca de 13%. Segundo ele, a perspectiva do governo para 2020 é que a participação evolua para 47,7%, mantendo os altos níveis de uso de hidreletricidade e, simultaneamente, com o crescimento de biomassa, biocombustíveis e energia eólica.

Toby Marsh (fotolia.com)

Precisamos de muito mais

Os investimentos em energias limpas deverão ser duplicados até 2020, para limitar a 2°C o aumento da temperatura global a longo prazo. A conclusão está no livro Perspectivas tecnológicas de energia 2012: caminhos para um sistema de energia limpa, elaborado pela Agência Internacional de Energia (AIE), apresentado pelo vice-diretor executivo da entidade, Richard Jones, no Ministério de Minas e Energia, em Brasília. O livro mostra que é possível uma transformação tecnológica do sistema energético para permitir a redução da dependência em relação a combustíveis fósseis, além de aumentar a eficiência energética e reduzir as emissões nos setores da indústria, do transporte e da construção. Uma das recomendações da AIE para os ministros de Energia para reduzir a emissão de carbono é diminuir progressivamente os subsídios aos combustíveis fósseis. A agência também recomenda a aceleração em inovação energética, com o desenvolvimento de planos estratégicos

texto Sabrina Craide

energia 5

Fonte: Agência Brasil

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Os agrotóxicos,

o novo holocausto invisível

IFPRI -Images (flickr.com)

texto Graciela Cristina Gómez, para o Ecoportal tradução Cepat

6 saúde e meio ambiente

Anualmente, no mundo, cerca de 3 milhões de pessoas se intoxicam pelo uso de agrotóxicos. Mais de 220 mil morrem. Isto significa 660 mortos por dia, 25 mortes por hora. O programa de vigilância epidemiológica dos Ministérios da Saúde e da Organização Panamericana de Saúde de sete países da América Central, estima que cada ano 400 mil pessoas se intoxicam com venenos Vinte anos após a catástrofe de Bophal, na Índia, mais de 100 mil pessoas ainda sofrem doenças crônicas relacionadas à contaminação causada pelo vazamento. O dia 3 de dezembro foi estabelecido pela organização PAN International (Pesticide Action Network) para recordar as mais de 16 mil pessoas mortas no desastre ocorrido em 1984 pelo vazamento de 40 toneladas de gás tóxico metil isocianato, químico utilizado na elaboração de um pesticida da Corporación Union Carbide, adquirida em 2001 pela Dow Chimical. Só nos três primeiros dias morreram 8 mil pessoas. Em 2000, a Eveready, da mesma empresa (Union Carbide Argentina), foi denunciada de enterrar clandestinamente pilhas alcalinas não aptas para a comercialização. O depósito de resíduos tóxicos se encontrava em uma fazenda no quilômetro 752 da estrada 9, na cidade de Jesús María, província de Córdoba. A fábrica funcionou nesse lugar entre 1965 e 1987, mas desde 1994 funciona ali a empresa brasileira Iochpe-Maxion. Esta empresa fez um acordo com a Eveready, atualmente sob licença da empresa Ralston Purina Argentina S.A., para limpar o terreno e transladar os materiais tóxicos. A companhia Ailinco começou a remover os resíduos industriais no final de setembro para transladá-los em caminhões supostamente acondicionados para um local apropriado para ali serem enterrados ou tratados, localizado em Zárate, Buenos Aires. Anualmente, no mundo, cerca de 3 milhões de pessoas se intoxicam pelo uso de agrotóxicos. Mais de 220 mil morrem. Isto significa 660 mortos por dia, 25 mortes por hora. O programa de vigilância epidemiológica dos Ministérios da Saúde e da Organização Pan-Americana de Saúde de sete países da América Central, estima que anualmente 400 mil pessoas se intoxicam com venenos. A ONU considera que a taxa de intoxicações nos países do sul poderá ser 13 vezes maior do que nos países industrializados, razão pela qual declarou os agrotóxicos como um dos maiores problemas em âmbito mundial. Em 1991, calcula-se que 25 milhões de trabalhadores agrícolas tenham sofrido alguma intoxicação com pesticidas e que estes seriam responsáveis por 437 mil casos de câncer e de 400 mil mortes involuntárias. dez 2012 revista do meio ambiente

Do campo de guerra para o campo semeado Os agrotóxicos não foram inventados para a agricultura e não foram solicitados pelos agricultores; são um produto de guerra. E hoje, quando vemos os problemas ocasionados pelos agrotóxicos, temos que dizer o seu nome certo: Veneno – Arma Química – Agrotóxico. Na Primeira Guerra Mundial a Alemanha foi bloqueada e os aliados proibiram a importação do salitre chileno e outros adubos nitrogenados que poderiam ser utilizados na fabricação de explosivos. Quando a guerra terminou os alemães tinham um enorme estoque de nitratos, que já ninguém mais queria. A indústria química os reciclou e foram impostos aos agricultores. Assim nasceram os adubos nitrogenados. A agricultura foi uma espécie de lixeira para a indústria da guerra. Fruto da guerra, os agrotóxicos foram criados para matar o homem, para destruir suas plantações e não para benefício da humanidade. Quando a primeira bomba atômica explodiu, no verão de 1945, viajava na direção do Japão um barco americano com uma carga de fitocidas, então declarados como LN 8, e LN 14, suficiente para destruir 30% das plantações. Mais tarde, na guerra do Vietnã, estes mesmos venenos, com outros nomes, como agente laranja, serviram para a destruição de dezenas de milhares de quilômetros quadrados de florestas e plantações.


7 Também o DDT, usado para matar insetos, surgiu na guerra. Para combater a malária. Depois da guerra, novamente a agricultura serviu para canalizar as enormes quantidades armazenadas e para manter em funcionamento as grandes capacidades produtivas que haviam sido montadas. Mais de 500 mil toneladas de inseticidas obsoletos, proibidos ou que caducaram, se acumulam em quase todos os países em desenvolvimento, supondo uma grave ameaça para a saúde de milhões de pessoas e para o meio ambiente. • Nicarágua: Em um engenho, foram necessárias 986 pessoas mortas por efeitos do agrotóxico Nemagón para que a Assembleia Nacional da Nicarágua começasse a agir. Os resultados são dramáticos. Segundo cálculos, morreram 1.383 trabalhadores e nos últimos anos há uma média de 46 mortes mensais. • Argentina: Em Misiones, cinco de cada mil crianças nascem com mielomeningocele, uma deformação do sistema nervoso central. Em Misiones, estima-se que cerca de 13% da sua população tem alguma incapacidade. “Quando vemos o orçamento que a Monsanto tem para a América Latina, que tem sua grande agência aqui em Posadas, 30 bilhões de dólares são o que ela investe em agrotóxicos para que alguns poucos se enriqueçam e para que todos os demais sejamos incapacitados”. Ver também os relatórios por província do Grupo de Reflexão Rural, o relatório Pachamama (Ecos de Romang) e As derivações do caso Portillo (jornal El Día, Gualeguaychú), entre outros, que provocam vergonha e impotência em nosso país. • Paraguai: É o terceiro maior exportador e quarto maior produtor mundial de soja. 85% das sementes plantadas pertencem à Monsanto. O Ministério da Saúde registrou 430 casos de envenenamento e morte entre 1990 e 2000. Neste contexto, talvez o caso mais ressonante no Paraguai seja a morte do menino Silvino Talavera, ocorrida em janeiro de 2003 e que originou o primeiro julgamento de produtores, condenados a apenas dois anos de prisão. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) assinala que do total de 3 a 5 milhões de casos anuais de agricultores afetados, 40 mil morrem por intoxicações agudas. • Uruguai: O diretor do Registro Nacional do Câncer, do Ministério da Saúde Pública, Dr. J. A. Vasallo, em seu livro Câncer no Uruguai, de 1989, expressa que há um aumento de 64% nos últimos 30 anos. • Brasil: Está comprovada a contaminação transgênica das Cataratas! Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) no Parque Na-

cional do Iguaçu confirmou que os cultivos de soja transgênica que abundam em sua zona de influência são a causa da contaminação genética de diversas espécies vegetais. A plantação de soja na região limítrofe ao parque está proibida por lei. No primeiro semestre de 2004, a China embargou um carregamento de soja proveniente do Brasil que registrava contaminação com fungicida Carboxin e Captan. Este procedimento, segundo ambientalistas, é comum em exportações para países pobres, quando parte da carga comercial é misturada com grãos contaminados. Diante da recusa da China em aceitar o produto contaminado, acredita-se que a soja tenha sido adquirida por países com menor poder de impor restrições comerciais, como é o caso da Indonésia. No entanto, este mesmo lote com níveis de contaminação similares também pode ter parado na mesa dos brasileiros. • Colômbia: É muito difícil calcular as intoxicações na Colômbia e na América Latina porque a maioria dos casos não é registrada. As autoridades subestimam as queixas, como ocorre com milhares de intoxicações pelas fumigações aéreas de Roundup (glifosato) em zonas de cultivos de uso ilícito na Colômbia, em concentrações muito mais altas que as autorizadas pelo uso agrícola. Cabe recordar aquela ocorrida em 1967 em Chiquinquirá (Boyacá), Colômbia, que envolveu mais de 500 pessoas, 165 das quais precisaram de tratamento médico e 63 morreram. Dezenas de crianças se intoxicaram e morreram quando tomavam café com pão feito com farinha de trigo contaminada com Folidol (parathion). • Peru: A tragédia de Tauccamarca, ocorrida em outubro de 1999, onde 24 crianças foram envenenadas e mortas depois de ingerir um alimento contaminado com Parathion, pesticida produzido pela multinacional Bayer, 24 crianças morreram na comunidade cusquenha depois de terem consumido um lanche escolar. A morte foi quase instantânea, em meio a dores atrozes. Outras 22 crianças sobreviveram, mas é possível que seus sistemas nervosos tenham ficado seriamente prejudicados. Calcula-se em milhares as mortes causadas pelo herbicida paraquat da Syngenta (Gramoxone) no mundo todo. O Paraquat foi responsabilizado por numerosos problemas de saúde nos países em que é utilizado. A Malásia é um dos 13 países que o proibiram, mas há 120 que ainda o usam. Em compensação, a União Europeia o aprovou. • Costa Rica: desde 1980 e durante duas décadas tem sido registrado como o maior causador de envenenamentos e responsável por uma terça parte das mortes de centenas de trabalhadores agrícolas. Não se conhece antídoto nem tratamento eficaz para controlar um envenenamento com paraquat. Estima-se que 85% dos casos não são registrados. Em 2000, foram registrados 752 casos de intoxicação com pesticidas, 12 dentre eles resultaram em morte. Uma investigação recente sobre a água engarrafada na Índia mostrou altos níveis de lindano, entre outros pesticidas como o DDT e o malation, altamente tóxicos, e por isso houve uma campanha contra a Coca-Cola por vender seus refrigerantes contaminados. Isso na Grã-Bretanha não foi nenhuma novidade, depois de ter acusado a mesma empresa que sua água mineral Dasani tinha o dobro de bromato do que o permitido e de não ser potável, mas, tirada da torneira, a partir dessa data, essa água engarrafada faz furor na Argentina. • Chile: O lindano, apesar de estar proibido desde 1998 pelo Ministério da Agricultura para uso agrícola devido aos seus graves efeitos para a saúde das pessoas, segue sendo aplicado na cabeça de crianças para combater a pediculose. Longe de erradicar o mal, este fungicida provocou resistência e a pediculose se tornou endêmica, segundo reconhecem autoridades do Ministério da Saúde. • México: Os índices de câncer no México aumentaram a partir de 1989. Representa a segunda causa de morte do país. Nesse ano houve 40.628 mortes (48,2 sobre cada 100 mil habitantes). Curiosamente, na cidade de revista do meio ambiente dez 2012


texto Graciela Cristina Gómez, para o Ecoportal tradução Cepat

8 saúde e meio ambiente Comitán, região produtora de suínos, e na região Costa de Chiapas, o alto índice de pessoas com câncer de estômago situa a cidade no primeiro lugar em nível mundial nessa doença. Na região é muito usado o lindano para matar os piolhos e atacar a sarna nos porcos. Também é usado em pó, que se aplica no milho para armazená-lo e evitar que seja atacado por insetos ou para que os gorgulhos não estraguem o feijão. Nesta região fronteiriça são realizadas há anos constantes fumigações sobre plantios de comunidades indígenas que atinge também casas, animais domésticos, plantações de milho e de café. Grandes populações de abelhas foram eliminadas e, com isso, os produtores de mel. O lindano, além disso, contamina altamente os solos, rios, poços, lagoas e águas subterrâneas. Na Zona Altos o lindano também é frequentemente usado pelos agentes da Secretaria da Saúde para a aplicação em crianças de quatro meses para combater piolhos. A IARC, assim como a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (US EPA), classificou o lindano como possível cancerígeno humano. Para uso agropecuário, existem três empresas que comercializam o Lindano: Agromundo, Engenharia Industrial e Indústrias Gustaffson. Cabe destacar que esta última foi comprada em 2004 pela multinacional Bayer, uma verdadeira especialista em envenenamento planetário, e que vende o Lindano sob o nome Germate Plus. A Bayer havia comprado, além disso, em 2001, a empresa Aventis Crop Science, uma fusão do Laboratórios Helios, AgrEvo e Rhone Poulenc. Além de borrifar os indígenas de Chiapas com Baygon. A empresa Anaversa, em Córdoba, Veracruz, em maio de 1991, causou numerosas mortes por câncer e efeitos crônicos na população; a limpeza do local nunca foi feita, nem as vítimas compensadas, embora a empresa tenha cobrado o seguro contra acidentes. Um segundo caso é o da empresa produtora do inseticida Artivi, em Juchitepec, Estado do México. Um terceiro caso é o da Tekchem, em Salamanca, Guanajuato, que produziu por décadas inseticidas organoclorados persistentes, o que produziu problemas de saúde e contaminação ambiental. Em suas instalações, a empresa conserva 84 mil toneladas de resíduos organoclorados que deixou Fertimex mais de 45 mil toneladas de enxofre contaminado. Estas e outras substâncias encontram-se no relento. As fábricas do espanto • DuPont: Durante a Guerra Civil nos Estados Unidos, ela administrava a metade da pólvora usada pelo exército da União, também dinamites. Continuou sendo um provedor do exército norte-americano tanto na Primeira como na Segunda Guerra Mundial e também colaborou no Projeto Manhattan, sendo responsável pela fábrica de produção de plutônio no Laboratório Nacional Oak Ridge. A DuPont foi, ao lado da General Motors, o inventor dos CFC (substâncias danosas para a camada de ozônio). Em um relatório enviado por Saddam Hussein à ONU antes da invasão do Iraque revelou que a DuPont havia participado do desenvolvimento do programa nuclear iraquiano. Uma investigação da Agência de Proteção Ambiental acusou a DuPont de ocultar os efeitos do C-8 (um produto usado na obtenção do Teflon). Vários estudos sugerem que o efeito acumulativo deste material é cancerígeno, além de poder provocar deformações na gravidez. • Basf: A Basf é a maior empresa química do mundo. De origem alemã, compreende mais de 160 subsidiárias e conta com mais de 150 plantas de produção em todo o mundo. Entre seus produtos está a anilina, de efeitos cancerígenos para animais e seres humanos. A IG Farben foi fundada em 1925 a partir da fusão da Basf, da Agfa e da Hoechst. A IG Farben foi a única companhia alemã com seu próprio campo de concentração, onde morreram ao menos 30 mil pessoas, e muitos mais foram enviados para as câmaras de gás. A IG Farben construiu uma fábrica dez 2012 revista do meio ambiente

em Auschwitz, com uma força de trabalho de aproximadamente 300 mil escravos. O gás Zyklon B, que era utilizado nas câmaras de extermínio, era fabricado pela Degesch, uma subsidiária da IG Farben. Com este veneno foram executados milhões de judeus, ciganos e soviéticos. Acabada a Segunda Guerra Mundial, os países aliados, durante os Julgamentos de Nuremberg, ordenaram o desmembramento do consórcio. As empresas sucessoras da IG Farben na atualidade são a Bayer, Basf e Hoechst, que herdaram o total das propriedades da IG Farben, mas não as responsabilidades penais. Atualmente, a Basf lançou uma campanha publicitária que promove o agrotóxico de nome comercial Opera, que é um fungicida – um veneno para fungos – que se utiliza nas monoculturas de soja para controlar doenças de fim de ciclo, em particular a ferrugem asiática. A publicidade mostra uma criança sorridente, com uma pequena planta na mão e com uma extensa plantação de soja ao fundo. A imagem é acompanhada pela frase ‘A inovação Basf está aqui para melhorar sua qualidade de vida’. O idílico da imagem está longe da realidade que o cultivo de soja e seu pacote tecnológico associado representam para o nosso campo e seus habitantes. • Bayer: Produziu até a Primeira Guerra Mundial uma droga chamada diacetilmorfina, uma droga aditiva, vendida originalmente como tratamento da tosse, que depois passou a se chamar heroína. A heroína era uma marca registrada da Bayer, até que foi proibida antes da Primeira Guerra Mundial. De 1925 até 1951, a Bayer converteu-se em parte da IG Farben, conglomerado das indústrias químicas alemãs que formou a base financeira do regime nazista. O Dr. Fritz ter Meer, condenado a sete anos de prisão pelos crimes de guerra pelo Tribunal de Nuremberg, foi feito Diretor Supervisor da Bayer em 1956, depois que saiu da prisão. Também são de sua atribuição a criação de agentes químicos, tais como: gás mostarda (arma química) e tabun (gás nervoso). • Syngenta: Pesticida assassino e sementes Terminator. O Paraquat é vendido em mais de cem países com o nome genérico de Gramoxone – que representa uma parte importante dos lucros da transnacional radicada na Basileia que, em 2006, teve um lucro líquido declarado em cerca de 900 milhões de dólares – e causou milhares de mortes. Nascida em 2000 da fusão das divisões agroquímicas da suíça Novartis e do consórcio anglo-sueco AstraZeneca, o Gramoxone


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As crianças nascidas com deformações em Santa Fé e em Misiones nunca tiveram uma nota em nenhum jornal de Buenos Aires. Alguns jornais locais e as redes ecologistas brigam sozinhas, expondo estes temas e mostrando ao mundo, que, com pavor, repetem as notícias uma ou outra vez, enquanto a Argentina se cala segue sendo vendido em todo o mundo e sua expansão não para, como provam as novas fábricas que a empresa abriu na China. Em maio desse ano, diversas organizações da Ásia, África e Europa, apresentaram uma denúncia contra a Syngenta na FAO. A empresa não respeita seu artigo 3.5 que pede para evitar certos pesticidas extremamente tóxicos. Em julho passado, a Corte de Justiça Europeia também se pronunciou contra esse produto. As plantas do tipo Terminator produzem sementes estéreis que não dão mais que uma única colheita. Os camponeses não podem utilizá-la novamente como semente. Segundo a denúncia de março de 2006 das organizações suíças, o único objetivo dessa tecnologia é dominar o mercado de sementes e garantir o controle da alimentação mundial, o que implica em uma violação do direito humano da alimentação. No Brasil, uma milícia armada atacou camponeses em um campo experimental da multinacional Syngenta situada em Santa Teresa do Oeste, Paraná. Este campo foi ocupado e denunciado pelos camponeses, mas às 13h30 do dia 21 de outubro, foram atacados. Um membro da Via Campesina, Valmir Mota, de 32 anos, pai de três filhos, foi executado com dois tiros no peito. Outros seis trabalhadores rurais foram gravemente feridos. • Monsanto: Acusada de contaminar os moradores de Times Beach, as águas da população de Anniston, é criadora do Aspartame (Nutrasweet), adoçante de efeito tônico para o cérebro. Não satisfeita com isso, fornece a cafeína para a Coca-Cola. Foi condenada pelo glifosato Roundup ao ficar demonstrado seu caráter potencialmente cancerígeno e perturbador do sistema endócrino e de provocar efeitos nefastos ao ambiente no longo prazo. Seu milho transgênico foi aprovado para consumo humano pela União Europeia. Entretanto, dois de seus híbridos submetidos à aprovação contêm a modificação genética Nk603 – foram analisados recentemente pelo

instituto francês Criigen, que encontrou claros sinais de toxicidade nos dados apresentados pela empresa fabricante, a multinacional Monsanto. O terceiro milho aprovado, conhecido como Herculex, foi repetidamente denunciado porque as análises realizadas pelas empresas fabricantes – Pionner e Dow – revelaram sinais de toxicidade que exigem novas pesquisas. Amigos da Terra, COAG e o Greenpeace denunciaram reiteradamente a Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) por não exigir mais pesquisas antes de aprovar novos transgênicos e por não ter em conta as evidências sobre seus efeitos prejudiciais, já que enquanto não se produzir uma melhora radical da avaliação de riscos dos transgênicos, os processos de autorização devem ser suspensos. Na Índia, o Ministério da Agricultura reconhece que entre 1993 e 2003 ocorreram 100 mil suicídios de camponeses. E entre 2003 e 2006 (outubro) foram registrados 16 mil suicídios cada ano. No total, entre 1993 e 2006 houve cerca de 150 mil suicídios – 30 por dia durante 13 anos! Milhares de camponeses, cuja forma de vida foi destruída, recorreram ao suicídio como única escapatória. Recorreram ao algodão da Monsanto buscando reduzir o custo em inseticidas, mas a armadilha do endividamento rapidamente tomou conta deles porque as sementes do algodão da Monsanto são ainda mais caras. O debate negado e os silêncios da imprensa Essa é uma das principais conclusões feitas por uma meticulosa pesquisa realizada pelo Observatório de Imprensa da Agência Jornalística do Mercosul (APM), da Faculdade de Jornalismo e Comunicação Social da Universidade Nacional de La Plata (UNLP), da Argentina. Essa pesquisa desnuda as técnicas manipuladoras da imprensa hegemônica. Uma medição do Observatório de Imprensa da APM constatou que os principais jornais econômicos de Buenos Aires promovem o programa que converte a alimentação em gasolina para os ricos. A imprensa e os governos se negam a um debate sobre estes temas, negando e ocultando informação, quando justamente, conscientizando a população se evitariam tantas mortes e haveria um melhor manejo e prevenção dos agrotóxicos. No entanto: – Vemos na televisão dias atrás um vergonhoso programa de ‘Um mundo de baixo consumo’, aplaudindo os biocombustíveis, mostrando a cultura yanqui, e os carros híbridos, somente acessíveis a Bill Gates. Por que não foi feito no Paraguai, no Brasil ou em Santa Fé mostrando os estragos da soja? – O mesmo canal levanta uma nota a realizar-se com integrantes da Acción Ecológica sobre mineração, seguramente por pressões. – A Corte da Província de Catamarca anula um plebiscito sobre a instalação de uma mina de urânio a céu aberto, apoiando-se no artigo 124 da nossa Constituição Federal, sem levar em conta que o artigo 41 está em “Direitos e Garantias” da nossa Constituição, se não se deram conta, e que o povo é soberano e eles são um número, um mero representante desse soberano. – As crianças nascidas com deformações em Santa Fé e em Misiones nunca tiveram uma nota em nenhum jornal de Buenos Aires. Alguns jornais locais e as redes ecologistas brigam sozinhas, expondo estes temas e mostrando ao mundo, que, com pavor, repetem as notícias uma ou outra vez, enquanto a Argentina se cala. O milagre da soja, segundo alguns rafaelinos que escutamos, envergonhando-nos de serem santafesenses, em uma Universidade de Três de Fevereiro, Buenos Aires, falando de arte, agradecem à soja pela arte! Brindem com Roundup, senhores... Quando os inseticidas matarem até o último pássaro das montanhas que ainda nos restam, não agradecerão nem à Monsanto, nem à Bayer, nem à Syngenta e companhia. Porque estar no holocausto e não se dar conta já é estar morto em vida.

Fonte: ((o))eco

revista do meio ambiente dez 2012


j m griffin (sxc.hu)

texto Juliana Dal Piva, colaboracão para a Folha, do Rio

10 rio + 20

‘Resultado da Rio+20 podia estar em

papel higiênico’ Países recuaram até em temas que já eram consenso, disse canadense durante visita ao Brasil Partes do relatório final da conferência Rio+20, realizada pela ONU em junho no Rio, foram tão fracas que poderiam ter sido impressas “em papel higiênico”. A avaliação foi feita ontem pelo canadense Maurice Strong, 75, secretário-geral da Eco-92, conferência sobre ambiente, também da ONU, realizada na cidade há 20 anos. A Eco-92 acabou se tornando um marco dos encontros ambientais globais. “A parte oficial dos governos [na Rio+20] foi muito fraca, decepcionante. Por outro lado, a sociedade civil foi muito útil, com cerca de 50 mil pessoas presentes. Mas, para deixar as coisas claras, eu acho que o relatório final podia até ser impresso em papel higiênico”, disse. Em entrevista após palestra no Conselho Empresarial de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Strong disse que, no relatório final, governos chegaram até mesmo a voltar atrás em pontos que já haviam sido definidos nas reuniões preparatórias. “Infelizmente, em alguns momentos, a Rio+20 não esteve nem perto de ser discutida da maneira como ocorreu em 1992”, queixou-se. Para Strong, os governantes mundiais estavam – e ainda estão – mais preocupados com suas crises internas. Durante a palestra, o ativista elogiou os esforços brasileiros no combate às mudanças climáticas e citou o investimento na produção de etanol como exemplo. Apesar dos fracos resultados da Rio+20, avalia Strong, a cidade se tornou a capital mundial do ambiente e da sustentabilidade. O secretário-geral da Eco-92 disse ainda que pensa em instalar na cidade a sede da Earth Council Alliance, entidade criada por ele há 20 anos, que busca pressionar os governos a respeito de questões climáticas. Mas seu maior esforço atual, disse, é para que Brasil e China se aproximem e façam parcerias sustentáveis. Em sua opinião, por terem economias complementares, os dois países podem criar para o mundo um novo conceito de sustentabilidade. Fonte: Folha de São Paulo

dez 2012 revista do meio ambiente

China é o país que mais consome madeira

no mundo A China, principal responsável pela destruição das florestas tropicais, é o país que mais importa, exporta e consome madeira no mundo. É o que aponta o relatório da Agência de Investigação Ambiental, organização não governamental do Reino Unido, publicado no fim de novembro. Segundo o documento, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia tomaram medidas contra o desmatamento ilegal, na última década, a China passou a comprar maiores quantidades de madeira de origem questionável. “Entre 80% e 90% das árvores derrubadas em Moçambique (na África) têm como destino final a China”, afirmou a diretora da ONG britânica, Julian Newman, que também comentou que, 44% do volume importado são destinados para empresas públicas. A demanda interna do país é o principal fator de alta das importações do produto, de acordo com o relatório. A organização alerta para as atividades ilegais de extração de madeira, que estão acontecendo em diferentes regiões do mundo, a exemplo do que é registrado no Congo, Gabão, Guiné Equatorial, Madagascar, Serra Leoa e Tanzânia. Na China, mais de 50% das importações são da Birmânia, Papua Nova Guiné e Moçambique. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) revelou, em setembro, que até 90% da exploração madeireira realizada nas florestas tropicais de todo o mundo são feitas pelo crime organizado, conforme noticiado pelo EcoD. Segundo o relatório da organização, intitulado Carbono verde: negócio sujo, a extração ilegal de madeira representa entre 15% e 30% do comércio global, movimentando uma quantia de até US$ 100 bilhões ao ano. Fonte: Portal EcoD. http://www.

ecodesenvolvimento.org/posts/2012/novembro/ china-e-o-pais-que-mais-consome-madeira-no-mun do?tag=biodiversidade#ixzz2EgXGLXDd


Estudo diz que porto de Eike

Elias Francioni (flickr.com)

salgou região no rio

A construção do porto do Açu, da empresa LLX, de Eike Batista, provocou a salinização da água doce usada no trabalho de agricultores e de pescadores de São João da Barra (RJ), de acordo com estudo da Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense) A principal suspeita é de que a areia dragada do mar e depositada às margens da lagoa de Iquiparí tenha provocado o aumento da salinização das águas. Segundo pesquisadores da universidade, se nada for feito, um processo de desertificação da região poderá ser iniciado. Essa é a primeira consequência ambiental direta detectada após o início das obras no empreendimento. Os Ministérios Públicos federal e estadual instauraram inquérito para apurar o caso. A dragagem é feita para aumentar a profundidade do mar e do canal aberto pela empresa, a fim de permitir o acesso de grandes navios. A licença ambiental emitida permite a retirada de 65,2 bilhões de litros de areia do mar – 31 bilhões de litros já foram depositados em solo. O problema, apontam pesquisadores da Uenf, é que o material retirado traz consigo grande volume de água do mar. Depositado próximo à água doce usada por agricultores, a salinização foi a consequência. “A areia vem misturada com água. E ela escorre para algum lugar. A gravidade faz com que ela encontre outras regiões”, disse o biólogo Carlos Rezende. A LLX afirma que tem um sistema de drenagem que faz com que a água salgada retorne para o mar e não se misture à água da lagoa. Mas afirmou estar aberta a analisar os dados da Uenf. Sinais Os primeiros sinais do problema foram identificados no fim de outubro, quando o agricultor João Roberto de Almeida, 50, o Pinduca, viu parte de sua plantação de abacaxi nascer queimada. “Sempre usei essa água e nunca tive problemas. Não sou contra o desenvolvimento. Mas o que está acontecendo é desrespeito.” Parte dos abacaxis de Pinduca está com as folhagem torrada. Na região é possível ver também pastos queimados inundados de água com uma espuma branca. Onde está seco, um pó branco, como sal, brilha. A principal fonte de abastecimento dos agricultores é o canal Quitingute. Caracterizado como de água doce pelo estudo de impacto ambiental, tem atualmente 2,1 de salinidade -o adequado para irrigação é, no máximo, 0,14.

texto Ítalo Nogueira, da Folha de São Paulo

política ambiental 11

“A própria LLX descreve o canal como de água doce. Mas, com esse índice, ele não é mais”, afirmou a pesquisadora Marina Suzuki. Salinidade é histórica na região, diz LLX O diretor de sustentabilidade da LLX, Paulo Monteiro, afirmou que a salinização das águas da região próxima ao porto do Açu, em São João da Barra, antecede as obras no local. Mas afirmou estar aberto a receber informações sobre eventuais problemas causados pela intervenção. Segundo ele, a construção do porto tem sistema de drenagem que impede o vazamento de água do mar para o exterior do empreendimento. Pesquisadores apontaram que a obra causou a salinização de pontos de água doce de um distrito da cidade, prejudicando produtores rurais. “A água com areia retorna ao mar por canais de drenagem. Não vai para o lado do [canal do] Quitingute. Tudo foi calculado para jogar a água para o canal interligado com o mar”, diz Monteiro. O diretor da LLX disse que um dos indícios de que a salinidade da água do local sempre foi alta é o número de pessoas hipertensas na região, que é “muito forte”. “A água superficial sempre foi salobra. Tem que ir mais fundo para buscar água potável.” Os pesquisadores da Uenf apontam que já havia salinidade em alguns pontos, mas que ela subiu consideravelmente após as obras. Afirmam ainda que a região contava também com água doce, como o canal do Quitingute. Monteiro diz que qualquer agricultor pode procurar a LLX para receber assistência técnica ou ser ressarcido, caso seja esse o caso. Ele negou que haja a possibilidade de desertificação na região. Fonte: Folha de São Paulo

revista do meio ambiente dez 2012


espécie humana

ONU alerta: extremos climáticos ameaçam

Os extremos climáticos já são considerados normais e representam uma ameaça à espécie humana. Esse é o recado que o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon deu as representantes de mais de 190 países reunidos em Doha, no Catar, para a Conferência do Clima, a COP-18 Com o intuito de tentar destravar as negociações, o dirigente pediu ações conjuntas de todos os presentes para enfrentar os crescentes desafios das mudanças climáticas. “Ninguém é imune à mudança climática, nem ricos nem pobres. É um desafio existencial para toda a raça humana, o nosso modo de vida, nossos planos para o futuro. Nós, coletivamente, somos o problema. Então, devemos ter as soluções. Se agirmos em conjunto com o propósito claro, podemos enfrentar este desafio”, afirmou Ban Ki-moon. A conferência terminou no dia 7 e teve entre os seus principais objetivos a aprovação de uma nova etapa para o Protocolo de Quioto, que venceu no fim deste mês. O protocolo é único acordo internacional que fixa metas para países desenvolvidos de redução das emissões de gases de efeito estufa. “O Protocolo de Quioto continua o mais próximo que temos de um acordo global climático vinculante. Ele deve continuar. É uma fundação para se construir. Sua continuação em 1º de janeiro de 2013 irá mostrar que os governos continuam comprometidos com um regime climático mais forte”, disse o dirigente da ONU. Ban espera que os governos demonstrem, sem ambiguidade, que as negociações de um instrumento global e vinculante para enfrentar as mudanças climáticas continuam ativas, além de mostrar como pretendem agir sobre a distância entre as promessas de mitigação e o que é necessário para se alcançar o objetivo de manter a média de aquecimento global abaixo dos 2 graus Celsius. O aumento da temperatura para além do estabelecido pode causar sérios impactos climáticos. O Brasil está propondo um gatilho que permita aumentar as metas de corte de emissões durante a segunda fase do Protocolo de

dez 2012 revista do meio ambiente

Foto original de Jean Froidevaux (sxc.hu)

texto Leandro Chaves (leandrochaves@pagina20.com) fotos Diego Gurgel (Assessoria de Comunicação Setul)

12 capa

O Protocolo de Quioto continua o mais próximo que temos de um acordo global climático vinculante. Ele deve continuar. É uma fundação para se construir (Ban Ki-moon)

Quioto. “A ideia é que seja possível subir os valores a qualquer momento, sem ter de refazer a emenda ou passar por um novo processo de ratificação do acordo pelos países”, explica o negociador brasileiro, embaixador Luiz Alberto Figueiredo. Para ele, o segundo período de compromisso é a chave da negociação. “Se ele não for feito aqui, temo que os outros elementos não aconteçam”, diz. A Grã-Bretanha anunciou ontem o primeiro compromisso das nações ricas de prover um financiamento para medidas de adaptação das nações em desenvolvimento pelos próximos anos. A promessa é distribuir 1,8 bilhão de libras (cerca de US$ 2,9 bilhões) entre 2013 e 2015. Fonte: http://invertia.terra.com.br


Desastres naturais no Brasil causaram perdas de R$ 15 bilhões, revela Banco Mundial Elaborados pelo Banco Mundial em parceria com governos estaduais e a Secretaria Nacional de Defesa Civil, pesquisas mostram que o setor de habitação foi o mais afetado, com perdas de pelo menos 7 bilhões de reais Além de desmentirem a lenda de que o Brasil é um país livre de tragédias naturais, estudos do Banco Mundial lançados na terceira semana de novembro, durante o evento Entendendo o Risco Brasil, mostram quão devastadores foram os últimos desastres no país para as economias locais. De acordo com uma recente avaliação, a primeira do tipo feita depois dessas catástrofes, as perdas foram de aproximadamente 15 bilhões de reais. Os estudos se referem às enchentes em Santa Catarina em 2008, às chuvas em Alagoas e Pernambuco em 2010 e às inundações e deslizamentos de terra na Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011. Elaborados pelo Banco Mundial em parceria com governos estaduais e a Secretaria Nacional de Defesa Civil, tais pesquisas mostram que o setor de habitação foi o mais afetado, com perdas de pelo menos 7 bilhões de reais. O impacto mais forte foi sentido pela população de baixa renda, que vivia em encostas, margens de rios e outras áreas vulneráveis. Quando os desastres ocorreram, os governos locais liberaram verbas para ajudar as vítimas e financiaram a reconstrução de casas, o que pesa nos cofres públicos. “Em Santa Catarina, por exemplo, perdas e danos públicos devido às enchentes foram equivalentes a quase metade das despesas de pessoal no estado em 2008”, comenta a economista Fernanda Senra de Moura, uma das autoras. Os trabalhos também avaliaram as consequências para a infraestrutura, a educação, a saúde, a agricultura e o comércio. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a reconstrução de estradas consumiu 620 milhões de reais. Tais danos à infraestrutura de transportes interromperam uma série de atividades econômicas, causando prejuízos difíceis de me-

Valter Campanato/ABr

mudanças climáticas 13

Guaraciaba (SC) - A passagem do tornado trouxe destruição e prejuízos por todo o município. Na foto, voluntários ajudam na reconstrução

dir. “O gerenciamento do risco de desastres é um tema que só recentemente ganhou visibilidade no Brasil. Criar medidas preventivas exige planejamento urbano e financeiro, além de um compromisso de longo prazo”, avaliou Frederico Pedroso, consultor do Banco Mundial para esse tema. O primeiro passo rumo à implementação de políticas sólidas nesse setor foi tomado em agosto, quando o governo brasileiro lançou o Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais (2012-2014). Dos 18,8 bilhões de reais a serem investidos, 83% vão financiar obras capazes de prevenir e/ou diminuir os efeitos das catástrofes. Fonte: ONU Brasil

Criar medidas preventivas exige planejamento urbano e financeiro, além de um compromisso de longo prazo (Frederico Pedroso, consultor do Banco Mundial) revista do meio ambiente dez 2012


texto e fotos Dulce Tupy

14 comunicação ambiental

Jornalismo ambiental:

uma fronteira desconhecida a ser desvendada

O Sindicato dos Jornalistas do Estado do Rio de Janeiro apresentou entre as suas teses a defesa da criação do Prêmio Chico Mendes de Jornalismo Ambiental e de um curso de capacitação em jornalismo ambiental Os quatro delegados do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, Continentino Porto, Alvaro Brito, Dulce Tupy e Nilo Sergio, a estudante-delegada, Juliany Alvarenga, e um grupo de observadores, Osvaldo Maneschy, Mário Jakobskind, Mário Souza, Sérgio Caldieri, José Marques e o ambientalista Ernesto Galiotto, de Cabo Frio, participaram ativamente do 35º Congresso Nacional de Jornalistas, realizado em Rio Branco, no Acre. Pela relevância do tema que também foi abordado no nosso IV Congresso Estadual de Jornalistas do Rio de Janeiro, sobre Jornalismo, Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável no Estado do Rio, realizado em julho em Maricá, protagonizamos um papel decisivo. De início, fizemos uma revisão do termo “Floresta Amazônica”, em uma das teses que propunha a preservação dos biomas brasileiros, entre eles o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa, pois a Amazônia não é só floresta e sim rios, bacias hidrográficas, microbacias, clima, águas subterrâneas, solo e subsolo, minério, borracha, agronegócios, biodiversidade, desenvolvimento sustentável, etc. Nossa proposta foi aceita pela mesa diretora do 35º Congresso, assim como outras observações, principalmente quanto à necessidade de capacitação dos jornalistas para que se apropriem definitivamente dos termos “sustentabilidade” e “desenvolvimento sustentável”, baseado no tripé: econômico, social e ambiental. Também por nossa interferência, foi banida a expressão “social/ambiental”, pois hoje já se fundiram os conceitos num único termo “socioambiental”, consagrado mundialmente. Aparentemente, foram pequenas contribuições, mas que sob a ótica do jornalismo ambiental fazem toda a diferença. Entre as nossas duas teses ambientais apresentadas ao 35º Congresso, somente uma pôde ser levada ao plenário, pois, segundo a secretaria da Fenaj, elas não chegaram a tempo de serem incluídas no Caderno de Teses. Na defesa da nossa tese, sobre a criação do Prêmio Chico Mendes de Jornalismo Ambiental, a voz credenciada do jornalista ambiental e ambientalista histórico Vilmar Berna, únidez 2012 revista do meio ambiente

À esq.: A delegação do Sindicato do Rio de Janeiro foi liderada pelo seu presidente, jornalista Continentino Porto. Acima: No auditório da Fecomércio/AC, momento do lançamento do relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Violência e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2011, e da Comissão Nacional Memória, Verdade e Justiça, com o presidente da Fenaj, Celso Schröder; o assessor especial da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e coordenador do Projeto Direito à Memória e à Verdade, Gilney Viana; e a diretora do Departamento de Relações Institucionais da Fenaj Beth Costa

co detentor brasileiro, junto com Chico Mendes, do Prêmio Global 500 para o Meio Ambiente, da ONU. Vilmar Berna, associado do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, editor da revista e site da Rebia (Rede Brasileira de Informação Ambiental) e Juarez Tosi, do site EcoAgência, do Rio Grande do Sul, compuseram a principal mesa de debates sobre jornalismo ambiental no Congresso. A nossa proposta de criação da disciplina “Jornalismo Ambiental” nos cursos de Jornalismo foi encaminhada para o Conselho de Representantes da Fenaj, para uma discussão mais aprofundada, pois há uma posição segundo a qual o jornalismo ambiental deve ser um conceito transversal, a ser trabalhado em todas as disciplinas, embora já exista como matéria em cursos de jornalismo no Rio Grande do Sul e Minas Gerais. O 35º Congresso foi um momento favorável para essas e outras reflexões sobre o jornalismo ambiental que cada vez mais está e estará presente nas nossas pautas, no dia a dia do fazer jornalístico contemporâneo. Fonte: O Saquá



16 pesquisa

Enquetes independentes revelam apoio à

rebia

Enquetes realizadas pelo site www.enquetes.com.br revelam que a Rebia vem conquistando cada vez mais o respeito e a admiração dos brasileiros

Opinião dos leitores sobre o Projeto Rebia Projeto Excelente! (Nota 10)

59,80% (415 votos)

Bom (Notas 6 e 7)

3,89% (27 votos)

Fraco (Notas 2 e 3)

0,29% (2 votos)

Muito Bom (Notas 8 e 9) Regular (Notas 4 e 5) Ruim (Nota 1)

Outras / Ainda não sei Total

23,92% (166 votos) 0,72% (5 votos)

3,46% (24 votos) 7,92% (55 votos) 694 votos

Opinião dos leitores sobre o www.portaldomeioambiente.org.br Site Excelente! (Nota 10)

44,71% (1.693 votos)

Bom (Notas 6 e 7)

7,97% (302 votos)

Fraco (Notas 2 e 3)

2,17% (82 votos)

Muito Bom (Notas 8 e 9) Regular (Notas 4 e 5) Ruim (Nota 1)

Outras / Ainda não sei Total

29,71% (1.125 votos) 2,56% (97 votos)

8,85% (335 votos)

4,04% (153 votos) 3.787 votos

Perfil dos leitores da Rebia

Os leitores da Rebia são formadores e multiplicadores de opinião qualificados de informação e valores socioambientais para a sociedade. Leia a opinião de alguns deles: “O veículo é ótimo e sugiro que além de muito informativo ele tentasse expressar resultados de pesquisas das universidades no campo ambiental. Não parem nunca. Grande abraço.” Alexandre Pedrini (pedrini@uerj.br) “Considero este o mais importante veículo de comunicação de Informação Ambiental do Brasil, tanto na mídia impressa, quanto eletrônica, e cada dia fica melhor! Parabéns!” Berenice G. Adams (bere@apoema.com.br) “Continuen progresando en bien del ambientalismo. Muchos éxitos.” Daniel E. Gonzàlez (naculf@yahoo.com)

dez 2012 revista do meio ambiente

Visite, divulgue, compartilhe o novo site da Rebia – www.rebia.org.br – e a Rebia no Facebook

“Caro Vilmar, desejo a você e aos seus tudo de bom, esta grande obra do Portal do Meio Ambiente atende a todos e facilita a informação a quem a deseja. Parabéns!!!” Marco L. Gelman (marcoleaoturismo@gmail.com) “Parabéns e sucesso, coleto informações diariamente e já faz parte de nosso ‘mural’ na empresa.” Mauricio Padilha (padilha@igplan.com.br) “Este site é d+! Como professora de Ciências coloquei-o em meus favoritos, pois sempre uso do mesmo para obter notícias sobre o meio ambiente. Em meu site, www.ambientalistasdeplantao.siteonline.com.br recomendo o site do Vilmar!! Parabéns!!!” Luiza (ambientalistas2005@pop.com.br) “O site está de parabéns. Nele obtive varias informações que completam os meus trabalhos e pesquisas, pois sou estudante ambiental. Parabéns, continuem assim.” Viviane (vivianeambiental@yahoo.com.br) “Excelente site, tudo que um profissional do meio ambiente precisa consultar está aqui. Parabéns!” Alberto Ferreira Alebrante (aalebrante@usiparts.com.br)


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Quem é a Rebia

A Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental é uma Associação sem fins lucrativos, independente, sem vínculos partidários ou religiosos, que visa contribuir para a formação e fortalecimento da cidadania socioambiental planetária através da democratização da informação ambiental e da educação ambiental, com uma visão plural e democrática da questão socioambiental e da sustentabilidade. A Rebia mantém uma Rede de Colaboradores e Jornalistas Ambientais e diversos Fóruns Livres de Debates Socioambientais, que reúnem mais de 4000 membros ativos, através dos quais recebe sugestões de pauta, artigos e indicações de material publicado na mídia, ou que circula nas redes, envolvendo temas sobre meio ambiente, sustentabilidade, destacados como de grande interesse e importância. Este material, selecionado, é inserido diariamente no Portal do Meio Ambiente, e é gerado o boletim digital Notícias do Meio Ambiente, enviado diariamente por e-mail, através da Agência Rebia de Notícias Socioambientais, para mais de 200 mil leitores cadastrados, incluindo jornalistas especializados em meio ambiente. A partir do acesso dos leitores às notícias no Portal, um sistema de estatísticas indica as matérias preferidas que farão parte da seleção que irá compor a pauta da Revista do Meio Ambiente, veículo impresso produzido e distribuído mensalmente, no formato revista, com tiragem média de 35 mil exemplares, circulação nacional, distribuição dirigida e por assinaturas. Rede de Voluntários Ambientais Criando conexões, a Rebia abre à sua frente um enorme horizonte de possibilidades. Podem ser parcerias, trocas, amizades, afetos, novos valores e formas de convivência, criação de conhecimentos, aprendizados, apoios, diálogos, participação, mobilização, força política, conquistas e muito mais. Na Rebia cada membro, parceiro, organização, é um ponto de apoio importante na construção da rede. Entretanto, a força da Rebia nasce das conexões entre esses pontos. Pontos, sem linhas, não representam nada se não houver alguma

“O Portal do Meio Ambiente é tão bom que até pessoas desinteressadas pelos problemas relacionados a natureza, passaram a se interessar depois que eu comecei a enviar a página por email. Aliás todos deveriam experimentar fazer o mesmo!!” Valdemir Vieira (valvisilva@click21.com.br) “A Rebia está de tempos em tempos aprimorando as funções e conteúdos do site, observando seu código ético. Sob muitos aspectos é muito mais interessante que os sites de órgãos ambientais oficiais. Congratulações a todos e a seu editor Vilmar Berna.” João Gualberto P. Jr. (jgpj@pop.com.br) “O Portal do Meio Ambiente é um espetáculo! Pois nos dá uma visão mais ampla das questões ambientais, e principalmente nos faz refletir sobre como obter uma melhor qualidade de vida sem explorar indiscriminadamente nossos recursos naturais.” Maria do Carmo (maria.lobato@bol.com.br)

Revista do Meio Ambiente, um dos canais de comunicação entre a Rebia e os leitores ambientais

conexão entre eles. É o relacionamento entre os pontos que dá a força de uma rede. Por isso a dinâmica – e o desafio – da Rebia é ampliar o número de pontos e estimular estabelecer, fortalecer e estimular conexões. Quanto mais conexões, mais forte a Rebia! Sendo uma rede de democratização de informação socioambiental, a Rebia adotou a organização na forma de rede pois, segundo Fritjof Capra (A Teia da Vida), a circulação de informação de forma não-linear (isto é, aleatória, não controlada) é capaz de produzir um processo circular de aprendizagem crescente que leva, como consequência, à reorganização dos próprios elementos do sistema.

Saiba mais e participe da Rebia: www.rebia.org.br

“Parabéns pelo sítio, muito bom. Iniciativas como esta é que fazem a real diferença na conscientização das pessoas sobre a importância de se compreender todo o processo ambiental, inclusive a legislação.” Nelson Batista Tembra (nelsontembra@click21.com.br “Interessante e variado, é um dos melhores sites que já visitei. A visualização da terra em tempo real via satélite é demais. Parabéns.” Lucianne Reis (luciannereis@ig.com.br) “Acredito que vocês desempenham importante missão na preservação ambiental. Vossas matérias são excelentes, claras e concisas. Continuem firmes em vosso próposito.” Angelo Valerio Kalocsay (kalocsay@globo.com) “Era tudo que a área do meio ambiente precisava em termos de mídia. Este site é merecedor do apoio de todos, principalmente dos órgãos governamentais em particular o Ministério do Meio Ambiente, Ibama, ONGs. Vamos todos apoiar o jornalista Vilmar Berna” Abinael Morais Leal (leaniba@hotmail.com) “Ótimos assuntos abordados, super importantes para leitores e construtivos para educação ambiental.” Adão Jose Marins (adaojose@eln.gov.br)

revista do meio ambiente dez 2012


A primeira coisa que salta aos olhos é que teremos dois padrões de cidadãos: os que respeitaram as regras até então vigentes (Código Florestal antigo) e os que não respeitaram.

Senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA)

Wilson Dias/ABr

texto Raul do Valle*

18 legislação ambiental

A nova lei florestal

e a segurança jurídica

Desde outubro o Brasil tem uma nova lei florestal: a Lei Federal nº 12.651/12. Fruto de intensa e bem organizada mobilização de setores do agronegócio, insatisfeitos com a obrigação de ter de cumprir o Código Florestal até então vigente, ela nasce com objetivo certo: legalizar atividades agropecuárias irregularmente situadas em áreas ambientalmente protegidas. Ou, na linguagem do agronegócio, trazer “segurança jurídica”. É fundamental entender suas consequências, como ela pretende conferir aos produtores rurais a tão desejada segurança jurídica e qual o custo para toda sociedade. A primeira coisa que salta aos olhos é que teremos dois padrões de cidadãos: os que respeitaram as regras até então vigentes (Código Florestal antigo) e os que não respeitaram. Os primeiros, independentemente do tamanho de seu imóvel, terão de manter 50 metros de florestas ao redor de nascentes, 30 metros ao largo dos pequenos rios, respeitar a vegetação dos topos de morros e encostas e manter, no mínimo, 20% de seu imóvel protegido como reserva legal. Os outros não precisarão ter florestas em topos de morros e encostas, terão só 15 metros ao redor de nascentes e, dependendo do tamanho do imóvel, poderão nem ter mata ciliar ao largo dos pequenos rios ou reserva legal. É como se uma nova lei do Imposto de Renda reduzisse a alíquota apenas aos sonegadores. O que ganham os que sempre estiveram dentro da lei? Nada. Para eles não há qualquer compensação concreta que lhes premie por haver preservado nascentes e rios situados em seus imóveis. Pelo contrário, quem tiver 30% de sua área preservada estará dentro da lei tanto quanto alguém que tenha 3%, mesmo sendo vizinhos. Para os últimos, há tampouco qualquer incentivo concreto que lhes convença a ter uma árvore a mais do que o mínimo (bem mínimo) exigido em lei. Não se trata apenas de um problema moral, mas também de uma bomba ambiental. Apesar de a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), grande entusiasta da nova lei, repetir que o Brasil tem mais de 60% de vegetação nativa preservada, a verdade é que esta se encontra majoritariamente na Amazônia, na Caatinga e no que restou do Cerrado. No centro-sul do país, a situação é diametralmente oposta. Temos hoje pelo menos 38 bacias hidrográficas, nas quais vivem mais de 50% da população set 2012 revista do meio ambiente

brasileira, com menos de 20% de vegetação nativa. Algumas delas têm menos de 5%. Nessas regiões já há problemas ambientais permanentes, aos quais vamos nos acostumando, assim como ao trânsito nas cidades, mas que de maneira alguma devem ser encarados como normais: nascentes secas, rios assoreados, morros desabados, espécies extintas. Tudo decorrência de um desmatamento desmedido (e ilegal) no passado. Com a nova lei, e a anistia nela embutida, não teremos mais os meios legais para tentar trazer essas regiões para um patamar mínimo de conservação, algo só possível com o reflorestamento. Outro problema da nova regra será monitorá-la. Primeiro porque, com tantas exceções, praticamente não teremos mais um padrão a ser observado. Cada caso será um caso. Dois vizinhos terão de seguir regras totalmente diferentes, a depender do tamanho da propriedade e da época em que ela foi desmatada. Além disso, não temos imagens de satélite em resolução suficiente, com cobertura para o país inteiro, para saber o que estava ou não desmatado em 2008, data estabelecida pela lei como linha de corte da anistia. Portanto, é provável que desmatamentos feitos após essa data, que mesmo pela nova regra deveriam ser punidos, acabem sendo anistiados. Mesmo nas áreas ainda preservadas da Amazônia, o impacto será sentido e não devemos nos espantar se o desmatamento aumentar nos próximos anos. Não só porque muitas regras de proteção à floresta foram flexibilizadas (mais de 400 mil km² de florestas de várzea ficaram sem proteção), mas também porque a sinalização dada pela nova lei é de que uma nova anistia será concedida no futuro. A nova legislação tem de ser cumprida. A questão é saber como o proprietário rural, que acreditou que ela traria “clareza” e “segurança jurídica”, vai compreender uma regra que trata vizinhos de forma totalmente diferente. Mesmo assim esperamos que os setores representativos do agronegócio, que finalmente têm uma lei para chamar de sua, ao menos ajudem a implementá-la.

* Advogado e coordenador de Política e Direito

Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA)


texto Aldem Bourscheit

animais 19

Regiões preservadas são alvo do

tráfico de animais

O grande número de multas registrado em terras mineiras se deve à atuação da Polícia Militar Ambiental, conforme artigo publicado por analistas do Ibama no livro Enriquecimento da biodiversidade em um mundo diverso. O estudo também traça as principais rotas usadas pelo tráfico para retirar animais de onde a natureza está preservada e vendêlos em centros urbanos. Pelo alto grau de conservação, com mais de oito em cada dez hectares cobertos por Cerrado no norte de Minas Gerais, o Mosaico de Unidades de Conservação Sertão Veredas-Peruaçu está na mira dos traficantes. Parte dele toca o sudoeste baiano, onde a venda ilegal acontece principalmente ao longo da BR-116, com sérios impactos para aves nativas. No Mosaico é encontrada a maioria do animais conhecidos do Cerrado, muitos ameaçados de extinção pelo desmatamento e pelo avanço descontrolado da agropecuária e obras de infraestrutura. No fim de setembro, foram apreendidos 62 papagaios na Serra das Araras, distrito de Chapada Gaúcha (MG). Os animais estavam em situação precária, em caixas de madeira no porta-malas de um carro. Os dois detidos são de Januária (MG), mas venderiam os papagaios em São Paulo, de acordo com a Polícia Militar Ambiental. As aves foram entregues ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade em Chapada Gaúcha. Um dos traficantes é reincidente no crime, mas ambos foram liberados. “Os grandes remanescentes do país são o principal alvo da coleta ilegal de animais silvestres. O Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu é muito procurado pelos traficantes durante a reprodução anual dos psitacídeos (papagaios, araras e outras espécies de bico torto)”, disse um dos autores do estudo, Guilherme Gomes Destro, da Coordenação de Operações de Fiscalização do Ibama. O sargento da PM Eduardo Ferreira afirma que crimes ambientais são comuns na região. “Infelizmente sabemos que aqui (no Mosaico) o tráfico de animais silvestres e a caça são corriqueiros. Procuramos desenvolver trabalhos de educação e fiscalização, mas para chegarmos aos criminosos é muito importante que a comunidade nos ajude”, disse ao portal G1. De acordo com Júlio César Sampaio, especialista em Cerrado do WWFBrasil, o tráfico na região demonstra a necessária consolidação das áreas protegidas e o fortalecimento de ações conjuntas que levem à redução de práticas danosas ao meio ambiente. “O Mosaico é uma das regiões mais importantes para a conservação da biodiversidade, de culturas e de economias únicas do Cerrado. Governos, sociedade civil e setor privado precisam unir esforços para evitar que a região tenha o mesmo fim que metade do Cerrado, hoje totalmente desmatado”, ressaltou.

Daniel Andres Forero (sxc.hu)

Minas Gerais é o estado que mais contribuiu para a quantidade de multas aplicadas ao tráfico nacional de animais silvestres entre 2005 e 2010, especialmente de pássaros como canário-da-terra-verdadeiro, coleirinho, trinca-ferro-verdadeiro, curió e azulão. As maiores vítimas da ilegalidade são espécies cantoras ou de grande beleza que acabam em gaiolas como animais de estimação, e também as mais procuradas por criadores comerciais e amadores

Números alarmantes Cerca de 38 milhões de animais silvestres são retirados todo ano da natureza brasileira, principalmente aves. Apenas quatro milhões são vendidos, principalmente na Região Sudeste, onde se concentra a demanda por animais traficados. O restante acaba em gaiolas, é solto ou morre vítima do tráfico ou maus tratos. Aprisionar ou vender animais silvestres é uma prática ilegal, mas comum em todo o Brasil. O comércio ilegal de vida silvestre é estimulado pela procura de zoológicos e colecionadores, petshops e indústrias e também para pesquisa e biopirataria. As redes de escoamento de animais silvestres adotam métodos semelhantes aos usados por traficantes de drogas, armas e pedras preciosas para falsificar documentos, subornar, sonegar impostos e definir rotas de transporte nacional e internacional. A Rede WWF desenvolve uma campanha internacional contra o comércio ilegal ou insustentável de animais silvestres e subprodutos. Junto com a União Internacional para Conservação da Natureza, desenvolveu um programa de apoio à Convenção Internacional sobre o Tráfico de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres (Cites, sigla em Inglês). Toda ave tem uma função no ambiente natural, por exemplo, dispersando sementes que manterão a saúde das florestas ou controlando populações de insetos, muitos incômodos às pessoas, lembra o especialista em aves e analista de Conservação do Programa Amazônia do WWF-Brasil, Luiz Coltro. Além disso, ele ressalta que a coleta e o comércio ilegais podem levar espécies à extinção, pela redução ou empobrecimento genético das populações. “As aves não cometeram nenhum crime para terminar a vida atrás das grades”, lembrou. Fonte: WWF

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texto Lya Tatiana Ramos (elyatatiana@gmail.com)

20 artigo

inacabáveis

Soluções

No prefácio de Trust US, Jacqueline Lardelel declara: “A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (CMDS) em Joanesburgo confirmou a necessidade de engajar as empresas como parte da solução para os desafios do desenvolvimento sustentável que enfrentamos no mundo. Podemos ser aqueles que salvarão o planeta de uma futura catástrofe, mas, quem nos salvará das catástrofes que estão acontecendo, agora, neste exato momento em que escrevo e em que você lê esse artigo? O que mais parece é que não estamos nos importando com nós mesmos, nem com a geração presente. Os lixões estão cheio de gente, num momento em que tanto se fala em reciclagem, separação de lixo e educação ambiental. O povo sofre não com a seca, mas com a falta de assistência do que deve ser feito para a convivência com esse fenômeno natural que não acontece nem de ontem nem de hoje. Por outro lado outros sofrem com as inundações, tudo pela falta de planejamento. O esgoto corre a céu aberto, aqueles que constroem suas casas na beira dos morros são retirados do local em época de chuvas, ou melhor, quando as chuvas ocasionam desastres. Porque há a permissão, não em construir, talvez, mas a permissão no permanecer, ou seja, a sorte é lançada e caso ocorra algo, as vitimas são as culpadas e o verdadeiro réu passa a ser o herói. Pouco se faz e muito se diz fazer. Cadê as discussões sobre meio ambiente, ou melhor, as discussões estão por ai, o que não se vê nem se encontra são as ações. O termo meio ambiente parece até que surgiu com a palavra meio dando outra conotação, seria... ambiente pelo meio, discussões deixadas pelo meio do caminho ou ambiente meio assim? Dificilmente falamos, nós precisamos agora, essa geração necessita urgentemente de condições melhores para viver. Não, o que está em jogo e sempre em questionamento são as gerações futuras. E nós? O que poderemos fazer pelos outros quando não conseguimos fazer por nos mesmos? Que tal deixar de falar em reciclagem e separação de lixo, e começar a tornar tudo isso obrigatório, assim como os impostos que de nós são cobrados? Que tal uma lei onde todos fossem obrigados a separar o lixo, e desta forma juntar o respeito uns pelos outros. Que tal não pensar nem falar dos morros nem das catástrofes causadas pelas chuvas somente quando elas aparecem, mas, fazer com que parte da verba destinada a cada município seja destinada a solução desses problemas, ou melhor, que tal uma secretaria para assuntos climáticos, uma secretaria que fosse exclusivamente pensante e solucionadora dos problemas advindos do clima, fosse seca ou excesso de chuvas? Não falo das secretárias de “meio ambiente”, que muitas vezes atuam em coisas tão diferentes. Meio, repito essa palavra não cai bem. Nem sei como, nem pra onde direcionar o pensamento, e mais uma vez digo: muito se fala e pouco se faz. Será que existira proveito econômico num planeta sem condições climáticas favoráveis para a vida? Se olharmos bem direitinho para o caso em questão, a economia essa sim é muito bem pensada. Meio ambiente é mais um assunto pra quando faltam os demais para debater. Será que o tão viável alavanque financeiro através da redução de impostos para automóveis e eletrodomésticos é bom para ambiente, para a natureza? Será que abarrotar as ruas automóveis que muitas vezes carrega uma só pessoa, é melhor do que o investimento em transporte coletivo de melhor qualidade em se tratando de conforto e menor nível de poluição? dez 2012 revista do meio ambiente

Muito se fala no que acontecerá daqui a trinta anos ou mesmo até o final do século. É só ligar a TV para escutarmos notícias catastróficas do que poderá acontecer ao homem e seus descendentes. Será que não é uma falta de tempo nos focarmos assim em algo tão distante, quando temos um problema bem aqui, debaixo de nossos olhos, sentido em nossa pele?

A prioridade será da economia ou do ambiente? É, mas os questionamentos não param por aí. O que será que estamos fazendo? Agir é preciso, discussões não são mais necessárias. Discutir meio ambiente está ficando meio chato, pois aqui ou bem longe daqui, algo se aproveita dessas discussões. Esse assunto está virando o recheio da linguiça, ou seja, quando não se tem coisas mais importantes para falar, ou quando a ideia é dar conotação, ser notícia ou conseguir financiamentos, a saída é falar de meio ambiente. A questão meio ambiente por pouco não vira moeda, visto que muitos utilizam disso para gerar suas rendas da mais simples a mais exorbitante, isso sem fazer algo se quer pela causa propriamente dita. Tratar meio ambiente é como adornar o que está sem enfeite, ou adoçar o que não tem sabor. Não se enfeita mais nem coloca mais sabor ainda, porque o pouco que se faz ainda não é suficiente para dar beleza nem sabor à causa. Precisamos pensar, ou melhor, parar de pensar e agir. Sei que não podemos agir calados, mas também não podemos falar parados. Não precisamos só pra daqui a 30, 40 ou 90 anos, precisamos pra ontem, pra hoje. Se não fazemos para nós mesmos, somos fracos para construir para os outros. Os problemas não esperam soluções, e sim, atitudes. Existem muitas soluções por ai, mas a maioria apenas nos papéis, nos pensamentos. Será que somos tão incapazes assim? Acho que não. Apenas estamos dando prioridade a outras coisas, e transformando algo que é prioridade num fundo sem chão, em discussões intermináveis, em soluções inacabáveis.


É inimaginável a quantidade de relíquias que se perdem nos materiais separados para reciclagem, e principalmente naquilo que vai parar no lixo. Há verdadeiros tesouros submersos nas montanhas de resíduos que descartamos displicentemente todos os dias

texto André Trigueiro

Zsuzsanna Kilian (sxc.hu)

lixo e reciclagem 21

As relíquias

garimpadas no lixo Quis o destino que um professor universitário apaixonado por reciclagem ajudasse a organizar o primeiro projeto de coleta seletiva do Brasil em 1985 no bairro de São Francisco, em Niterói (RJ). Foi ele quem primeiro reparou na enorme quantidade de livros descartados diariamente junto com os recicláveis. Era algo que o atormentava. Um desperdício doloroso de informação e cultura. E se houver algo valioso sendo descartado entre as 20 toneladas de recicláveis por mês trazidas pelos catadores? Para eliminar esse risco, ele orientou os responsáveis pela coleta a separarem dos recicláveis coletados nas ruas não apenas os livros, mas eventuais revistas, fotografias, medalhas, moedas antigas e tudo o mais que parecesse “coisa antiga”. A ideia do garimpo deu tão certo que, a partir dela, foi possível organizar o maior e mais importante acervo de relíquias a partir dos resíduos do Brasil. O professor Emilio Eigenheer é um obstinado. Muito antes de o Brasil acordar para a urgência da coleta seletiva, ele já era uma autoridade no assunto. Lançou vários livros sobre a cultura dos resíduos, explicando como as civilizações do passado lidaram com seus medos, preconceitos e aversões ao que se convencionou chamar de lixo. Algo de que nós hoje ainda não nos livramos totalmente. O garimpo em Niterói resultou na doação de um acervo com 4 mil livros para a a biblioteca do Centro de Memória Fluminense da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Há ainda mil itens como revistas, jornais, fotos e mapas antigos catalogados e disponíveis para pesquisadores. O projeto deu origem a confecção de um site onde mil livros didáticos ou de interesse acadêmico (todos separados em Niterói) foram disponibilizados para venda pelo preço mínimo de três reais. Só podem comprar os livros

listados no site professores, alunos e funcionários da UFF ou do campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em São Gonçalo. A receita com a venda desses livros ajuda a custear as despesas do projeto. Outra importante fonte de renda é a venda direta de alguns livros para os “sebos”. Com sorte, chega-se a mil reais por mês. Não fosse o voluntarismo da equipe responsável, nada aconteceria. A consagração veio agora com o interesse da Biblioteca Nacional do Rio (a mais importante instituição do gênero da América Latina). A exposição Resíduos & Memória: o acervo raro recolhido pelo Programa de Coleta Seletiva do Bairro de São Francisco ocupa uma ala inteira da Biblioteca. São 72 itens do acervo produzido com a supervisão do professor Emílio que agora ocupam o seu devido lugar. Entre as peças mais valiosas aparecem os primeiros selos postais do Brasil, da série Olho de Boi (um de 30 réis e outro de 60 réis), de 1843, sonho de consumo de qualquer filatelista. Uma coleção de moedas antigas de 1369 e 1706. Uma medalha italiana da Primeira Guerra Mundial (1918) e outra cunhada à época da celebração do primeiro centenário da Independência (1922). Cartões postais de 1907 a 1930. Cartões de visita do século dezenove que trazem as fotos estilizadas (com direito a curiosas poses) de seus donos. O estado de conservação dos livros selecionados é impressionante. A obra mais antiga tem o pomposo título de História Imperial e Cesarea. Foi editado na Bélgica em 1578 e é a relíquia literária mais preciosa do acervo. Outros dois livros raros são a História da Guerra Civil na França (1660) e um Missário Romano (1820) que resistiram heroicamente às traças e ao abandono de seus donos. Há ainda um livro de 1850 que relata em detalhes a histórica festa em que 50 índios tupinambás atravessaram o Atlântico para saciar a curiosidade da corte francesa no século 16. Esta edição é ainda mais valiosa por trazer o carimbo de seu antigo dono, Salvador de Mendonça, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Seu carimbo marca a contracapa da edição. Em Cozinheiro Imperial (1881), o visitante poderá ver o esmero das ilustrações que ensinam algumas das mais apreciadas receitas culinárias da corte no Brasil. Por fim, uma edição rara do livro Nunca Mais…, de Cecília Meirelles, lançado em 1923 e ilustrado por seu marido, Correia Dias. Quem visita a exposição se delicia com o fato de que todo esse acervo precioso foi organizado a partir dos resíduos coletados por catadores de um bairro de Niterói. O sonho do professor Emílio é ver outros municípios organizando garimpos semelhantes. É inimaginável a quantidade de relíquias que se perdem nos materiais separados para reciclagem, e principalmente naquilo que vai parar no lixo. Há verdadeiros tesouros submersos nas montanhas de resíduos que descartamos displicentemente todos os dias. Haja peneira!

Fonte: http://g1.globo.com/platb/mundo-sustentavel/

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texto IHU Online

22 entrevista

A civilização do lixo. Entrevista especial com Maurício Waldman

Teleconexões são associações remotas. O que acontece em um lado do planeta pode ter efeito no outro lado. Um exemplo é o El Niño, fenômeno climático de origem tropical provocado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, produzindo seca no Nordeste brasileiro e chuvas intensas no Sul do Brasil, entre outros efeitos. Maurício Waldman é escritor, professor universitário, pesquisador e consultor ambiental. Tem graduação em Sociologia, mestrado em Antropologia e doutorado em Geografia pela Universidade de São Paulo – USP. É pós-doutor pelo Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Atualmente desenvolve, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp, seu segundo pós-doutorado em Relações Internacionais, na FFLCH-USP. Foi chefe da coleta seletiva de lixo da capital paulista e coordenador do meio ambiente em São Bernardo do Campo. É autor e/ou coautor de 15 livros, um dos quais é Lixo: cenários e desafios (São Paulo: Cortez Editora, 2010). Confira a entrevista realizada pelo IHU Online. IHU On-Line: De modo geral, como você define o problema do lixo na sociedade moderna? Maurício Waldman: Há um problema mundial relacionado ao lixo que é inegável. Neste prisma, um dado que chama a atenção é fornecido pela literatura técnica relacionada com o tema. Admite-se que atualmente exista um descarte mundial de 30 bilhões de toneladas de resíduos por ano. Seria meritório advertir que os lixos já assumiram os contornos de uma calamidade civilizatória. Em termos mundiais, apenas a quantidade de refugos municipais coletados – estimada em 1,2 bilhões de toneladas – supera nos dias de hoje a produção global de aço, orçada em 1 bilhão de toneladas. Por sua vez, as cidades ejetam rejeitos – 2 bilhões de toneladas – que superam no mínimo em 20% a produção planetária de cereais, demonstrando que o mundo moderno gera mais refugo que carboidrato básico. Contudo, mesmo esta notável volumetria de resíduos parece não satisfazer a obsessão em maximizá-los. O resultado disso é uma autêntica cascata de lixos. Exemplificando, a população norte-americana cresceu quase 2,5 vezes entre 1960 e o ano 2000. Porém, o já magnânimo descarte dos Estados Unidos praticamente triplicou desde 1960. Adicionalmente, outras peritagens mostram que no ano 2020 a União Europeia estará descartando 45% mais rebotalhos do que em 1995. Na União Europeia, um pormenor candente é que o lixo domiciliar se expandiu inclusive em países com evolução populacional pouco expressiva. No caso espanhol, sete anos (1996-2003), foram suficientes para incrementar os refugos em 40%. dez 2012 revista do meio ambiente

Divulgação

“O Brasil vivencia nos últimos 20 anos uma escalada na desova de descartes de uma forma que não têm precedentes. Entre 1991 e 2000 a população brasileira cresceu 15,6%. Porém, o descarte de resíduos aumentou 49%. Sabe-se que em 2009 a população cresceu 1%, mas a produção de lixo cresceu 6%”, constata o pesquisador

E no Brasil, como se situa este problema? Malgrado uma nebulosa peça acusatória culpabilizar os países do Norte pela geração do lixo, o Brasil – ao lado de outras nações do hemisfério Sul – ocupa uma incômoda posição na questão dos refugos. No caso, tanto pelas proporções como pela média per capita. Na verdade, o lixo brasileiro supera a maioria das nações periféricas. Não seria demasiado sinalizar, que conquanto corresponda a 3,06% da população mundial e 3,5% do PIB global, o Brasil seria, por outro lado, origem de um montante estimado entre 5,5% do total mundial dos resíduos sólidos urbanos. Dito de outro modo: o país é um grande gerador mundial de lixo e deve assumir sua responsabilidade em contribuir para com a resolução do problema. Quais os principais e mais urgentes desafios a serem enfrentados? A situação não admite vacilação e precisamos adotar de verdade os famosos quatro “Rs”: repensar, reduzir, reutilizar e reciclar. A ordem de aplicação é exatamente essa, começando com repensar e terminando com reciclar. Repensar a sistemática de ejeção dos lixos é fundamental, pois o problema, apesar de normalmente visto como uma problemática econômica, é, em larga escala, um tema também pavimentado por injunções sociais, políticas e culturais. No caso brasileiro, o país vivencia nos últimos 20 anos uma escalada na desova de descartes de uma forma que não têm precedentes. Entre 1991 e 2000 a população brasileira cresceu 15,6%.


23 Porém, o descarte de resíduos aumentou 49%. Sabe-se que em 2009 a população cresceu 1%, mas a produção de lixo cresceu 6%. Essas dessimetrias são também evidentes em dados como os que indicam a metrópole paulista como o terceiro polo gerador de lixo no globo. Perde apenas para Nova York e Tóquio. Mas devemos reter que São Paulo não é a terceira economia metropolitana do planeta. É a 11ª ou 12ª. Ou seja, gera-se muito mais lixo do que seria admissível a partir de um parâmetro eminentemente econômico. Qual a relação entre a questão do lixo e o consumo (e a consequente geração de lixo) como indicativo de desenvolvimento? A cultura organizacional da modernidade, cuja mola mestra são ritmos cada vez mais velozes impostos à produção, obrigatoriamente tem na reposição constante dos bens uma meta estratégica da sua reprodução material. Dito de outro modo: trata-se de conduzir o consumo para a satisfação de necessidades que não se justificam em si mesmas, mas prioritariamente constituem pressuposto para a produção. No seu entrosamento mais literal, validar o dinamismo do mercado implica promover o descarte contínuo dos bens, ejetados pelo carrossel do consumo. Na perspicaz argumentação do filósofo Abraham Moles, vivemos numa civilização consumidora que produz para consumir e cria para produzir, um ciclo onde a noção fundamental é a de aceleração. Consequentemente, quanto mais rápida for a substituição das mercadorias, tanto mais encorpado será o giro do capital. Quando antes e quanto mais os produtos se tornarem inúteis, tanto maiores serão os lucros. Ainda que a contrapartida seja sobreexplorar os recursos naturais e, é claro, maximizar a geração de lixo. Como seria possível arrematar, este conceito de economia é caduco, ambientalmente irresponsável e não tem condição nenhuma de manter continuidade. Não hesitaria em afirmar que ele se tornou uma ameaça para o futuro da espécie humana. Urge redirecionar a economia para outras vertentes: qualidade de vida, preservação ambiental, utilização racional dos recursos naturais, revisão do estilo de vida e da economia dos materiais. O que deveria fazer parte de um plano de gestão de resíduos municipal ideal? Essa é uma pergunta muito comum. O interessante é que as pessoas imaginam que seja possível criar um “plano padrão” para a gestão dos resíduos. Isto é, um programa capaz de ser aplicado em qualquer contexto. Para citar um exemplo, chegaram a entrar em contato comigo solicitando um plano para uma cidade de

200 mil habitantes. Como é que pode? Claro que o conhecimento do perfil demográfico importa para a confecção de um plano de gestão de resíduos. Todavia, esse dado por si só é insuficiente. Por exemplo, as cidades de Marabá (Pará), Presidente Prudente (São Paulo) e São Leopoldo (Rio Grande do Sul) possuem contingente populacional semelhante, em torno de 200 mil habitantes. Mas isso não significa que uma estratégia de gestão bem sucedida em São Leopoldo possa ser repetida em Marabá ou em Presidente Prudente. Então, é importante primeiramente obter dados do perfil do lixo de cada cidade, país ou região, assim como as dinâmicas responsáveis pela ejeção de descartes e, na sequência, trabalhar com os aspectos sociais, econômicos e culturais envolvidos naquilo que se joga fora. Não existe lixo: existem lixos. Expressão plural e não singular. Outro aspecto essencial é mudar a visão tradicional que observa o lixo unicamente como um resultado. Na realidade, o lixo reporta a um processo, a um dinamismo cujo monitoramento não tem como ser bem sucedido atendo-se a ele enquanto um resultado final. Objetivamente, o importante é pensar as causas, origem dos problemas – e não o fim da linha. Quais são os principais fatores que envolvem o gerenciamento do lixo no plano municipal? Entendo que existem duas diretrizes matriciais: uma de índole filosófica, que seria o caso, por exemplo, dos quatro “Rs” e outra, atinente aos aspectos logísticos de gestão do lixo. De qualquer modo, assevere-se que nosso temário é o lixo brasileiro, que é dotado de uma série de especificidades que devem estar colocadas no centro das atenções. Em nome dessas peculiaridades que o trabalho dos catadores deve, por exemplo, ser protegido, incentivado e valorizado pelas administrações municipais. Mas isso é o oposto do que acontece na maioria dos casos. Estigmatizados socialmente, o trabalho dos catadores – que corresponde a mais de 98% dos materiais encaminhados às recicladoras – segue, a despeito do seu enorme valor social e ambiental, repudiado, quando não hostilizado abertamente, pelas administrações municipais. É o que pondera nota oficial divulgada pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis em 2010. O manifesto recorda que apenas 142 municípios em todo o país (2,5% do total) mantêm relação de parceria com associações e cooperativas de catadores. Tal situação requer revisão imediata. Como estes fatores então devem ser levados em consideração? Entendo que o problema do lixo pode, ao menos, ser mitigado com o concurso de procedimentos inteligentes e práticas ambientalmente corretas. Um exemplo bem concreto: dependendo da bibliografia, o volume de detritos orgânicos no lixo domiciliar brasileiro pende entre 52% a 69,6% do total. Qual seja: independentemente da fonte, o que ninguém discute é a magnitude da fração úmida no lixo residencial. Normalmente, o sistema de limpeza urbana desova toda essa portentosa massa de sobras nos aterros. Mas existem outras soluções. Deveríamos priorizar a educação ambiental, trabalhar contra o desperdício. Afinal, um documento da FAO (órgão da ONU relacionado com a alimentação e agricultura), datado de 2004, revela que o Brasil está entre os dez países que mais jogam comida no lixo, com perda média de 35% da produção agrícola. Segundo levantamentos, cada família brasileira desperdiça cerca de 20% dos alimentos que adquire no período de uma semana e a Companhia Nacional de Abastecimento – Conab estima perdas em grãos em torno de 10% da produção. Outras avaliações indicam que praticamente 64% do que é cultivado no país acaba lançado na lata de lixo. Isso é um contrassenso manifesto numa nação rotineiramente assediada por campanhas de combate à fome. Portanto, devemos atacar a raiz do problema e parar de pensar que gestão dos resíduos se resume a tirar saquinho da calçada. A gestão dos resíduos deve se situar antes do saquinho, e não depois dele. revista do meio ambiente dez 2012


texto IHU Online

24 entrevista Mas ainda assim existirão sobras... Sem dúvida alguma. Inclusive aproveito o momento para questionar o conceito de Lixo Zero. Isso é uma mitologia, uma verdadeira peça de ficção. Toda atividade humana consome água, solicita energia e gera lixo. Essa ponderação vale inclusive para a atividade recicladora. Mas se eliminar lixo é uma afirmação insensata, por outro lado é perfeitamente possível pautar a redução dos rejeitos. Retomando o caso do lixo culinário, o meio ambiente e as cidades lucrariam muito mais na hipótese de se universalizar a compostagem doméstica do que ficar investindo em caros sistemas de logística de coleta de resíduos, em aterros e incineradores. Com a adoção de minhocários domésticos, a redução do lixo orgânico pode alcançar a proporção de 95% do total. Isso significa que os gastos com coleta de lixo urbano podem retrair em até 50%. Consequentemente, haveria grande economia para o erário público, propiciando mais verba para saúde e educação. Mesmo que apenas uma parcela da população adote o sistema, ainda assim os ganhos seriam consideráveis. Que tipo de lixo é o grande vilão? O domiciliar é um dos maiores? O lixo jamais constitui vilão. Ele é transformado em um estorvo em razão do papel que os resíduos assumiram na nossa civilização. Como recorda o geógrafo francês Jean Gottman, vivemos um período que poderia ser definido como a Era do Lixo. Esta é a primeira vez na história que os resíduos passaram a ocupar um nexo central nas preocupações humanas. Trata-se de um fato inédito cuja origem é o ineditismo de como os rejeitos são trabalhados pela modernidade. Quanto à questão do lixo domiciliar faz-se importante lembrar – no que causaria espécie a um difuso senso comum – que os rejeitos residenciais perfazem não mais que 2,5% do total do lixo mundial. Na realidade, o que é descartado pelas residências é suplantado de longe, em ordem de importância, pelos rejeitos da mineração, da indústria e da agropecuária. Note-se que esses três segmentos são responsáveis pela geração de aproximadamente 91% do lixo planetário, cabendo tanto para a pecuária quanto para a mineração algo mais que a terça parte do total, e para a agricultura cerca de 20%. Na sequência, temos o lixo industrial, com 4%, o entulho, com 3%, e os resíduos sólidos urbanos, com 2,5%. Entretanto, caberia sublinhar que, embora o lixo domiciliar seja 2,5% nessa conta, processualmente é o mais importante de todos. Isso porque tudo ou quase tudo que se produz no mundo acaba descartado no saquinho que colocamos na calçada ou na lixeira do prédio. O lixo domiciliar é o último elo de uma longa cadeia de geração de lixos. Segundo a ativista de sustentabilidade norte-americana, Annie Leonard, professora da Universidade Cornell, atrás de cada saquinho colocado na calçada existem 60 outros sacos de lixo descartados no processo da produção. Em resumo, o lixo domiciliar é o último avatar na ciranda da geração de lixos. Quanto lixo é gerado nos municípios brasileiros e o que é feito com ele? Os dados compilados mais recentes são de 2008. Constam na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB, um trabalho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Segundo este levantamento, em 2008 eram coletados 183,5 mil toneladas/dia de resíduos sólidos urbanos. Importa esclarecer que para o PNSB a categoria lixo urbano subentende os refugos procedentes do âmbito domiciliar e do comércio e atividades de serviços. De qualquer modo – para além dos dados impressionantes dos números do IBGE –, a situação da gestão do lixo preocupa no aspecto qualitativo. Por exemplo, na capital paulista cerca de 35% do lixo obtido pela coleta seletiva da administração municipal – que sendo materiais já segregados deveriam ser 100% reaproveitados – é encaminhado para aterros devido a falhas operacionais e logísticas do sistema. Mesmo Curitiba – cidade icônica em termos de reciclagem – 60% dos materiais desovados nos aterros seriam itens passíveis de reciclabilidade. Em terdez 2012 revista do meio ambiente

O lixo jamais constitui vilão. Ele é transformado em um estorvo em razão do papel que os resíduos assumiram na nossa civilização… …Esta é a primeira vez na história que os resíduos passaram a ocupar um nexo central nas preocupações humanas. Trata-se de um fato inédito cuja origem é o ineditismo de como os rejeitos são trabalhados pela modernidade. mos técnicos, não há nenhuma cidade de porte no Brasil com reciclagem em termos de excelência. Ademais, no país 60,5% dos municípios descartam lixo de modo inadequado. Para complicar, mais de 6,4 milhões de toneladas sequer são coletadas, sendo despejadas irregularmente ao longo das vias urbanas, em córregos, praias, etc. Na área rural, a coleta alcança apenas 33% dos domicílios. Ainda com base no PNSB, o documento revela que em 80% do território nacional existem lixões e aterros controlados (na verdade, “lixões melhorados”), sendo que isso acontece justamente nas áreas de maior interesse ambiental: Amazônia, Pantanal, áreas de mangue, cerrado, etc. Qual sua opinião sobre os aterros sanitários como destino do lixo? É a melhor alternativa? É óbvio que, sendo impossível existir uma sociedade sem resíduos, há um momento no qual o lixo deve ser encaminhando para algum tipo de disposição final. É importante frisar que o aterro sanitário ao menos atenua alguns dos agravantes relacionados com a disposição irregular dos detritos. Reconhecidamente, o lixo domiciliar origina efluentes líquidos (chorume) e gasosos (metano), que constituem complicadores ambientais de monta. O chorume é 200 vezes mais impactante que o esgoto quanto à demanda bioquímica de oxigênio (DBO). Em suma, atua como poderoso elemento destrutivo das águas doces. Quanto ao metano, trata-se de item crucial da agenda das mudanças climáticas. Ainda que as emissões de metano sejam inferiores às do dióxido de carbono (tido como carro-chefe do efeito estufa), seu efeito é consideravelmente maior: cerca de 20 vezes mais. A discussão relacionada com o metano conquista relevância especial pelo fato deste gás ser dotado de preocupante implicação quanto ao aquecimento global. Acredita-se que no Brasil o lixo domiciliar, devido ao elevado teor


25 de matéria orgânica, represente 12% das emissões brasileiras do gás, sendo que a disposição final responde por 84% desse valor. Ora, ao menos os aterros sanitários drenam o metano e coletam o chorume. Outro detalhe importante é que as áreas eleitas para acolherem aterros sanitários requisitam estudos geotécnicos e medidas de implantação precisas e rigorosas. Em 2008, existiam 1.723 destes equipamentos em operação no Brasil, recebendo 110 mil toneladas/dia de lixo: 58,3% do total nacional. Contudo, advirta-se que, apesar do rigor técnico sugerido pelos aterros sanitários, o modelo incorpora diversos questionamentos, a começar por obrigar a seleção de vastas áreas de terreno – cada vez mais escassas em todo o mundo – exclusivamente para confinar rejeitos. Outro dado é que a pontuação do aterro depende de pessoal técnico qualificado, o que não necessariamente está à disposição. Por fim, os aterros reclamam verbas pesadas para enterrar materiais cuja produção requisitou água, energia, recursos naturais e trabalho humano, um contrassenso a toda prova. E o que dizer dos chamados vazadouros a céu aberto, ou simplesmente lixões? Quais os danos que eles provocam ao meio ambiente e à saúde humana? Sem meias palavras, o lixão é um verdadeiro caso de polícia. As áreas de lixão no país exibem o que de pior existe na “não gestão” dos rebotalhos. Entre outros problemas temos emissões de chorume e de gás metano sem controle, insetos e toda uma fauna transmissora de doenças, ameaças ao meio ambiente e à população em geral. Essa é a sintomatologia de um lixão. Há aproximadamente 12 mil lixões em atividade ou desativados no território nacional. Nesse sentido, importaria assinalar que a tão propalada Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS de 2010, embora tenha por meta a extirpação do lixão como “equipamento” para confinamento dos resíduos, foi antecedida neste mister pela Lei de Crimes Ambientais de 1998. Para esta legislação, a deposição de resíduos a céu aberto já era considerada ilegal. Mas pelo jeito, foi uma lei que “não pegou”. Para complicar, não obstante a apologia que muitos técnicos do Ministério do Meio Ambiente teceram com abnegação inconsequente ao longo de 2010 quanto ao PNRS, existe o fato concreto de que até este momento, apenas 10% dos municípios elaboraram planos de gestão de resíduos. É um fato que preocupa, e muito, todos os especialistas da “lixologia”. Em especial, os que querem ver a erradicação final dos lixões no Brasil.

Qual a importância da reciclagem do lixo como alternativa para o problema? Essa pergunta é instigante, tanto pelo fato da reciclagem ser uma estratégia matricial na minimização dos impactos provocados pela verdadeira avalanche de lixo que está dominando o planeta quanto pelas próprias limitações da atividade recicladora – no que pode surpreender muitos leitores desta entrevista. Importa esclarecer os seguintes fatos: primeiro, que nas condições como a sociedade e a economia globais estão hoje estruturadas a reciclagem não tem como deter a disseminação do lixo e tampouco impor recuos na expansão dos rebotalhos; segundo, a reciclagem tem se articulado com a dinâmica maior do sistema de produção de mercadorias responsável pela depleção dos recursos naturais e gerador de rejeitos. Ou seja, foi cooptada pela lógica da produção incessante; terceiro, a reciclagem não contesta a espiral de consumo e apenas a apresenta sob nova roupagem, agora adornada com afetações ambientais e beatificada pelo evangelho do desenvolvimento sustentável. Em síntese, a reciclagem, conforme já sugeri, é somente o último dos quatro Rs. É antecedida em ordem de importância por repensar, reduzir e reutilizar. É viável apostar nela, considerando a sociedade capitalista em que vivemos, onde tudo deve gerar lucro, até o lixo? Viável ela é e deve ser incentivada. Outra coisa é transformá-la no ícone da defesa do meio ambiente, o que simplesmente não é correto. É preciso rubricar que a ciranda do sistema produtivo, articulada com o que denominei no meu livro Lixo: cenários e desafios, como “cornucópia dos lixos”, tem objetivamente nivelado a zero os ganhos advindos com a recuperação dos materiais. Exemplificando, embora no caso do papel a atividade recicladora tenha imposto certa desaceleração no crescimento da demanda por polpa de madeira, ela serviu bem mais como complemento do que substituto para a fibra virgem. Sabidamente, nunca se produziu tanta celulose na história humana quanto nos dias atuais. O consumo de materiais celulósicos cresce num nível tão rápido que suplanta a possível poupança de recursos promovida pela recuperação dos papeis. Outros itens de resíduos repetem o mesmo tipo de desempenho no contexto maior da engenharia econômica. Exemplificando, no Japão, entre 1966 e o ano 2000 a reciclagem do plástico PET cresceu 40%. Todavia, neste mesmo lapso de tempo o consumo duplicou, cancelando o quinhão de benefícios providos pela recuperação desta sucata. O resgate de metal das lixeiras também não consegue acompanhar o ritmo alucinante de consumo de cargas sequestradas do reino mineral. A produção de aço secundário (metal refundido proveniente da reciclagem) atinge 35% da produção mundial total. Mas os números globais não param de crescer. Assim, se em 1950 as siderúrgicas produziam 189 milhões de toneladas de aço, em 2008 a produção alcançou 1,3 bilhões de toneladas, quase sete vezes mais. Em tempo, precisamos acima de tudo repensar o conjunto da sociedade contemporânea. Gostaria de acrescentar mais algum comentário? Sim. Gostaria de destacar que a discussão do lixo põe em xeque a civilização do lixo, impondo uma revolução completa da forma como são produzidas as coisas, como são consumidas e como são descartadas. Cada um de nós deve fazer sua parte sabendo que toda contribuição é necessária e indispensável. É uma tarefa difícil, mas não impossível. Atentemos para as palavras do ambientalista Paul Hawken: “Não se deixem dissuadir por pessoas que não sabem o que não é possível. Façam o que precisa ser feito, e verifiquem se era impossível exclusivamente depois que tiverem terminado”. É isso: sigamos em frente! Fonte: www.ihu.unisinos.br

revista do meio ambiente dez 2012


26 destaque ambiental

Os cinco tons de verde do Hiram Firmino (premiohugowerneck.com.br)

‘oscar’ da ecologia 2012

A ministra Izabella Teixeira – que recebeu o “Oscar” em nome da presidente Dilma, liderou de pé os aplausos para a ambientalista Maria Dalce Ricas, vencedora na Categoria “Melhor Personalidade 2012”. Ao lado dela, o ex-secretário e ministro José Carlos Carvalho exibe prêmio recebido pelo conjunto de sua obra

A cerimônia que, este ano, na última lua cheia levou um público de 1.200 pessoas ao Grande Teatro do Sesc-Palladium, na capital mineira, confirmou as indicações de “Melhor Político” e “Melhor Destaque Nacional” respectivamente, à presidenta da República e à atriz global. Ambas tiveram este reconhecimento por causa da discussão do novo Código Florestal e do emblemático “Veta Dilma”, que parou o país e freiou os ruralistas, após repercutir internacionalmente nas redes sociais. Diante de autoridades e personalidades do mundo político e empresarial, como o prefeito Márcio Lacerda e o secretário Adriano Magalhães, representando o governador Antônio Augusto Anastasia, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira – que recebeu o “Oscar” em nome da presidente Dilma, em viagem à Argentina – liderou de pé os aplausos para uma outra mulher emblemática na história ambiental de Minas e do país: a ambientalista Maria Dalce Ricas, superintendente da AMDA/Associação Mineira de Defesa do Ambiente, vencedora na Categoria “Melhor Personalidade 2012”. Dalce dividiu esta homenagem com o ex-secretário e ministro José Carlos Carvalho, também vencedor este ano nesta categoria pelo conjunto de sua obra. Já a ex-deputada e secretária de Estado de Turismo, Maria Elvira Salles, venceu na Categoria “Melhor em Turismo”, pelo seu trabalho à frente da Associação das Caminhantes da Estrada Real (Acer), cujo projeto Árvore é Vida segue sua meta de conseguir o plantio de um milhão de árvores ao longo das estradas mineiras. Tons empresariais Já na área empresarial, os grandes vencedores do “Oscar da Ecologia” 2012 foram a AngloGold Ashanti (Melhor Parceira Sustentável), CBMM (Melhor Empresa), Cenibra (Destaque Especial) e a Cemig, cujo presidente Djalma Morais venceu as indicações de “Melhor Empresário”, por mantê-la há 13 anos consecutivos no Índice Down Jones de Sustentabilidade. dez 2012 revista do meio ambiente

A exemplo de Dilma Rousseff e Camila Pitanga, as mulheres verdes foram as grandes vencedoras do III Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza – o ‘Oscar’ da Ecologia 2012, promovido pela Revista Ecológico e os ambientalistas mineiros O “Destaque Estadual” foi dividido in memorian pelo biólogo e ex-presidente da Feam, Ilmar Santos e pelo promotor Paulo César Vicente de Paula, coordenador geral das promotorias de justiça por bacia hidrográfica do Ministério Público Estadual. Nas categorias técnicas levaram o “Oscar”: o músico e compositor mineiro Tavinho Moura (Melhor em Fauna), pela sua pesquisa fotográficas sobre as aves da Lagoa da Pampulha; Grupo Zema (Melhor no Comércio); Microcity (Melhor em TI); e Antônio Eustáquio (Tonhão), diretor do Parque Estadual do Rio Preto (Melhor em Água). Vencedores Prêmio Abap Já os vencedores do IV Prêmio Abap de Sustentabilidade que, este ano, também integrou o “Oscar da Ecologia”, foram: Estratégia de Posicionamento Regional criada pela Agência 18 Comunicação para a Vale (Melhor Campanha Institucional); Colhendo Chuva criada pela Agência Riot para a Pepsico (Melhor Campanha de Mobilização); Rede Minas Sustentável, criado pelo Núcleo de Artes da emissora (Melhor Campanha de Educação); e Cemig (Melhor Anunciante). O encerramento da solenidade foi feito pela também aplaudidíssima ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Fazendo referência ao famoso e erótico best-seller de E. L. James, ela lembrou que nem tudo é cinza na recente história ambiental brasileira: “Nós também temos os nossos tons de verde” – disse ela, às personalidades homenageadas, lembrando que nunca o país conseguiu reduzir como agora os índices de desmatamento da Amazônia. E tem em suas mãos a possibilidade de um novo, mais ecológico e ambiental código florestal para salvar o que nos resta de biodiversidade e verde natural. Para saber mais: www.premiohugowerneck.com.br



por que não descentralizar? As vantagens da proposta de descentralização O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) é um órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), cujo colegiado é representativo (apesar de cada segmento ter uma participação diferenciada em termos da composição global do plenário) de cinco setores: Governo Federal, Governos Estaduais e Municipais, Sociedade Civil Organizada e Setores Empresariais. As reuniões são realizadas em Brasília, oportunidade onde os seus mais de cem representantes se deslocam de seus estados para Brasília. A grande maioria inicia o deslocamento na véspera e retorna no dia seguinte à reunião, agregando-se, neste caso, o processo de hospedagem à emissão de bilhetes aéreos para a quase totalidade dos membros de seu plenário. Certamente fica a reflexão: porque não descentralizar o Conama por regiões geográficas ou por biomas, permitindo que os assuntos sejam deliberados não em um colegiado centralizado, mas sim diretamente nas regiões / biomas onde o assunto em pauta se mostra como um ponto a ser debatido. A descentralização aumentaria a participação de outras representações no plenário dos Conamas Regionais (hoje impossibilitadas de participação dado a limitação do atual Conama), minimizaria custos de deslocamento e hospedagem dos conselheiros e, o que nos parece o grande ganho da mudança, permitir a proximidade entre aqueles que decidem (conhecem) e a região / bioma onde o problema está sendo analisado (hoje, no Conama, conselheiros de regiões totalmente desligadas do problema em discussão, deliberam sobre as temáticas colocadas em votação). Esta proposta não é nenhuma novidade, pois o Estado do Espírito Santo – em decisão pioneira no Brasil – há muito descentralizou o seu Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) em cinco Conselhos Regionais (Conremas), deixando para os Conremas as decisões específicas ligadas à região de atuação do respectivo Conrema, transfrindo para o Consema Central as deliberações (macro) que envolvem a competência de dois ou mais Conremas. Outros estados já se adaptaram a mesma filosofia – por exemplo, Minas Gerais – o que mostra que a decisão de descentralização é uma opção que assegura a qualidade das decisões ligadas à temática ambiental. Sabemos que esta proposta inevitavelmente irá esbarrar em resistências de interesse de alguns dos atuais membros do Conama – apesar de não haver nenhuma restrição legal para que o processo de descentralização venha a ocorrer – porém tais posições pessoais não deveriam ser obstáculos à, no mínimo, discussão ampla da proposta. A proposta não exclui o Conama; ele continuará existindo para decidir os macro temas (envolvendo duas ou mais regiões / biomas; aos Conamas Regionais as decisões de temas ligados especificamente a uma dada região / bioma. Ou seja, não haverá – nem poderia – um enfraquecimento do Conama, mas sim, através de um novo modelo descentralizado, o fortalecimento de sua atuação. Vejamos um exemplo que induz a discussão da proposta de descentralização: tomo como base os temas inseridos na pauta da última reunião do Conama. Um caso típico de discussão apenas em Conamas Regionais. * Membro do Conselho Estadual de Meio Ambiente do ES

dez 2012 revista do meio ambiente

Jovens vão às ruas de Doha, no Catar,

durante cop18 Estudantes, ONGs e um recém-criado movimento árabe jovem andaram por 1,3 km pela avenida Al Corniche, uma das regiões mais suntuosas da capital A Conferência do Clima das Nações Unidas que aconteceu em Doha, no Catar, conseguiu ao menos um feito histórico. No dia 1º de dezembro, pela manhã, pela primeira vez no país árabe, ocorreu uma marcha de protesto. Estudantes, ONGs e um recém-criado movimento árabe jovem andaram por 1,3 km pela avenida Al Corniche, uma das regiões mais suntuosas da capital, cercada de um lado pelo Golfo Pérsico e do outro por arranhas-céus modernosos. Apesar de discreta, com apenas cerca de mil participantes e pouca audiência ao redor – afinal por ali os habitantes passam só de carro, com exceção do trabalhadores da construção civil que erguiam mais um prédio – os manifestantes puderam dizer o que querem num país não-democrático e agitaram a morna primeira semana da conferência. Ao longo de uma hora e meia, os manifestantes alertaram para a urgência do problema com frases como: “Líderes árabes, é hora de liderar”; “Sua ação é a nossa sobrevivência”; “Ação climática agora”; “Nosso futuro está suas mãos”; “Menos conversa, mais ação”; “Ajam agora por justiça climática”; “Dinheiro para o clima”; “Um novo mundo é possível”. Ao final da marcha, Fahad Bin Mohammed Alattiya, porta-voz do governo na conferência, falou aos participantes e disse esperar que eles sejam ouvidos pelos delegados. Fonte: O Estado de S. Paulo

texto Giovana Girardi

Conama:

cidadania ambiental Michael Oko/World Resources

texto Roosevelt da Silva Fernandes

28 artigo


Livro visa promover uma reflexão sobre a preservação do meio ambiente junto às crianças

almanaque

ecológico do Lucas

O livro chama a atenção da sustentabilidade de nosso planeta de uma maneira divertida e interessante. Apresentado pelo personagem Lucas, o duende ecológico, o almanaque apresenta textos com uma linguagem simples e didática, ilustrações e passatempos que incentivam práticas que conscientizam sobre a importância da preservação ambiental. O Almanaque Ecológico do Lucas é destinado para professores, alunos e escolas de todo o Brasil. Com o objetivo de dar suporte aos professores que buscam conteúdo e atividades de apoio à educação ambiental, a iniciativa da criação do almanaque foi desenvolvida pelo cartunista Léo Valença que em 2010, organizou um livro de coletânea intitulado Aquecimento Global em cartuns que reuniu cartunistas de vários cantos do país na publicação. A poluição dos rios e mares, a destruição das florestas ou o desmatamento em geral, o problema do lixo nas grandes cidades, e bairros, o avanço tecnológico versus preservação da natureza, entre outros problemas ambientais são colocados ao leitor, de maneira a conscientizá-lo da necessidade de ver o que se passa ao seu redor e de agir de maneira a não contribuir para o aprofundamento dos problemas ali denunciados (ou a tentar minimizá-los). O Almanaque Ecológico do Lucas visa contribuir ainda mais com a disseminação de valores fundamentais para construção de um mundo mais sustentável entre o público infantil de forma lúdica e descontraída. O livro pode ser comprado pelo site da editora PoD – Print On Demand ou seja, você encomenda seu livro e só depois disso ele é impresso. Com isso, nada de estoques parados nem de desperdício de papel. Dessa forma, a impressão sob demanda usa os recursos naturais de forma racional e inteligente, contribuindo para garantir a médio e longo prazo um planeta melhor. Acesse: www.podeditora.com.br/livros/infantis/

cidadania ambiental 29

O fim do desmatamento

É possível

texto Marcio Astrini*

ecoleitura

Petição pelo projeto de lei de iniciativa popular do desmatamento zero

O governo federal anunciou, no fim de novembro, a menor taxa de desmatamento já registrada na Amazônia: 4,6 mil quilômetros quadrados. Com ele, este é o quarto ano consecutivo de redução de uma taxa que há alguns anos já bateu os 27 mil quilômetros quadrados. Essa queda deixa claras duas coisas: o fim do desmatamento não só é necessário como perfeitamente possível. E só chegamos a ele por conta da pressão que eu, você e boa parte da sociedade fazemos sobre governos e empresas. Bom exemplo disso é o projeto de lei de iniciativa popular do desmatamento zero. Em poucos meses, mais de 640 mil pessoas já assinaram embaixo da proposta que quer zerar a destruição nas nossas florestas. É uma lei feita pelo povo e para o povo brasileiro.Assine a petição pelo Desmatamento Zero. Precisamos do maior número possível de assinaturas para levar o projeto ao Congresso. Apesar da redução do desmatamento, ainda temos 4,6 mil quilômetros quadrados de destruição pela frente. Isso equivale a quase dois mil campos de futebol desmatados a cada dia. Juntos, podemos dar um fim nisso. Junte-se a nós. * Marcio Astrini é Coordenador da Campanha da Amazônia/Greenpeace

PROJETO DE LEI DE INICIATIVA POPULAR N.o Institui o desmatamento zero no país e dispõe sobre a proteção das florestas nativas • Artigo 1º: Fica instituído o desmatamento zero no Brasil, com a proibição da supressão de florestas nativas em todo o território nacional. A União, os Estados, Municípios e o Distrito Federal não mais concederão autorizações de desmatamento das florestas nativas brasileiras. • Artigo 2º: A proibição de que trata esta lei não se aplica em questões consideradas de segurança nacional, defesa civil, pesquisa, planos de manejo florestal, atividades de interesse social e utilidade pública especificadas em resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e atividades de baixo impacto a serem regulamentadas por ato do poder executivo. • Artigo 3º: As proibições de desmatamento de que trata esta lei terão exceção para os imóveis rurais da agricultura familiar (Lei 11326/2006) por um período de cinco anos contados a partir de sua aprovação, condicionadas à implementação, por parte do poder público, nestes imóveis, de programas de assistência técnica, extensão rural, fomento à recuperação de florestas nativas, transferência de tecnologia e de geração de renda compatíveis com o uso sustentável da floresta. • Artigo 4º: Para efeitos desta lei, os desmatamentos em terras indígenas e populações tradicionais continuarão sendo regidos por legislação específica. • Artigo 5º: Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Assine a petição em http://ligadasflorestas.org.br/?utm_source=ciber&utm_ medium=emailBR&utm_content=btn&utm_campaign=2012-11-30

revista do meio ambiente dez 2012


texto Ricardo Abramovay (abramov@usp.br)

30 economia verde

a economia ao alcance das pessoas

A sociedade da informação em rede abre oportunidades inéditas ao fortalecimento do empreendedorismo de pequeno porte. O telefone celular é um dos produtos mais comprados quando o catador de resíduos sólidos tem acesso ao Crediamigo, o maior programa de crédito da América Latina, que atua em nove Estados nordestinos. Isso lhe abre possibilidades de ser localizado rapidamente, de saber onde coletar seus produtos e quais os centros disponíveis para sua entrega, poupando-lhe precioso tempo. O Magazine Luiza criou uma plataforma digital chamada Magazine Você, em que as pessoas usam seus conhecimentos e suas habilidades para vender produtos sobre os quais obterão uma comissão. O interessante é que se trata de uma loja virtual que se apoia nas redes sociais dos indivíduos, sem qualquer custo de armazenagem e entrega para o vendedor. Silvio Meira, professor da Universidade Federal de Pernambuco e presidente do Conselho do Porto Digital de Recife (um dos mais importantes polos de inovação do país), acredita que, longe de um exemplo tópico e localizado, esse tipo de negócio tende a se ampliar. Afinal, trata-se de utilizar a confiança que emerge dos vínculos pessoais e que nos faz consultar com muita frequência amigos e conhecidos antes de realizar uma compra, numa escala e com uma agilidade que só as mídias digitais podem propiciar. O modelo lembra um pouco aquele aplicado na venda popularizada de cosméticos, com duas diferenças essenciais: no Magazine Você, são valorizados os conhecimentos específicos do vendedor e não simplesmente sua capacidade de comercializar os produtos que as empresas fabricam. Além disso, a loja é virtual e não depende do vendedor bater de porta em porta oferecendo certos bens. Mas a economia ao alcance das pessoas, para a qual esses dois exemplos chamam a atenção, não se limita à comercialização de produtos e ao financiamento colaborativo de iniciativas inovadoras por meio de plataformas como Catarse. O potencial das mídias digitais vai muito além da informação, da cultura e da divulgação da atividade científica. Ele atinge o cerne da manufatura contemporânea e está na raiz daquilo que a revista The Economist, em dossiê recente, não hesitou em chamar de Terceira Revolução Industrial e a Wired de futuro da manufatura. Do que se trata? O dispositivo básico das transformações revolucionárias anunciadas pelas duas revistas é a impressora em três dimensões, ou seja, que não imprime letras ou figuras sobre um papel, e sim objetos. As coisas são fabricadas, camada por camada, num processo batizado, por esta razão, de manufatura aditiva. Podem ser encontrados facilmente na internet exemplos de impressoras que fabricam correntes de bicicletas, próteses dentárias e objetos decorativos, mas o horizonte é que um número cada vez maior de produtos a preços decrescentes vão emergir dessas novas técnicas produtivas. Muitas fábricas, no mundo todo, já incorporaram impressoras em três dimensões a seus processos produtivos. Mas as consequências socioambientais destas tecnologias superam seu potencial aumento da produtividade. Convém destacar quatro delas. Em primeiro lugar, a impressora em três dimensões reduz de forma considerável a importância da economia de escala na produção material. Isso significa que uma das bases decisivas do capitalismo (a separação entre os que concentram em suas mãos os meios de produção e os que dependem destes meios para exercer sua capacidade de trabalho) é fortemente abalada. Se hoje uma impressora em três dimensões ainda tem um custo considerável, os preços vêm caindo de maneira acelerada, correlativamente ao aumento da eficiência produtiva do equipamento. Hoje, 20 milhões de brasileiros

dez 2012 revista do meio ambiente

O potencial das mídias digitais vai muito além da informação, da cultura e da divulgação da atividade científica possuem um smartphone. Num futuro não muito distante, impressoras em três dimensões poderão fazer parte do aparato de utensílios dos quais as famílias dispõem. Jeremy Rifkin, em um livro recente, mostrou que a geração de energia pode ser descentralizada, transformando cada domicílio, cada escritório e cada fábrica não só num consumidor, mas também num produtor de energia para a rede. A impressora 3D tem potencial semelhante, mas no campo da produção material. A segunda consequência desses equipamentos é que, ao reduzir a importância da economia de escala na oferta de bens materiais, eles estimulam que sejam feitos produtos específicos, adaptados a necessidades concretas dos usuários e que podem ser desenhados por qualquer um que tenha talento para tanto. O poder individual do consumidor aumenta de forma impressionante, pois ele não tem que se adaptar ao que lhe é oferecido de antemão, mas pode ser protagonista da oferta e mesmo da produção do que deseja. A terceira consequência é sobre o mundo do trabalho: essa terceira revolução industrial abala o pilar central do mundo moderno que é a sociedade do trabalho. O aumento das chances de eficiência econômica no trabalho pessoal e a domicílio representa uma novidade cujos impactos ainda mal podem ser antevistos. Por fim, o tipo de material usado na fabricação de bens altera-se: compostos de fibra de carbono, terão importância muito maior que alumínio e aço. Mais que isso: a produção individualizada e voltada a uma demanda específica é muito menos geradora de resíduos do que os métodos consagrados pelas grandes concentrações industriais. Claro que há nisso tudo uma boa dose de futurologia. O fundamental é que estão criadas as condições para que o empreendedorismo de pequeno porte, a iniciativa econômica individual e associativa sejam dotados de meios técnicos que, em muitos campos da oferta de bens e serviços, competem com aqueles que, até aqui, pertenciam exclusivamente aos que dispunham de capital e de poder para manejá-los. Fonte: Folha de São Paulo

* Ricardo Abramovay, professor titular da FEA e do IRI/USP, pesquisador do CNPq e da Fapesp, é autor de Muito além da economia verde, ed. Planeta Sustentável.


PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA

RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)

COM ÁTILA NUNES FILHO

Permitir que dezenas de ouvintes diariamente entrem no ar para reclamar, protestar, denunciar, sem censura. Essa é a fórmula do sucesso de audiência do Programa Reclamar Adianta que vai ao ar de segunda à sexta feira pela Rádio Bandeirantes AM 1360 (RJ). Na verdade, esse sucesso é um resultado, e não o objetivo. O objetivo sempre foi - e é - de dar voz aos cidadãos que não tem acesso aos veículos de comunicação para externar seus pontos de vista.

Dezenas de profissionais trabalham hoje inteiramente dedicados à milhares de ouvintes que acompanham o programa ao vivo pela Rádio Bandeirantes ou pela internet, com o fundamental apoio do serviço de interesse público Em Defesa do Consumidor (www.emdefesadoconsumidor.com.br).

Todas as reclamações dirigidas à empresas ou às autoridades, recebem nossa atenção – de forma personalizada – que não se encerra quando acaba o programa ao meio dia. A partir desse instante começa o atendimento fora do ar. O monitoramento dessas reclamações pela nossa equipe continua no restante do dia, às vezes, do resto da semana, até a se alcançar a solução.

As três dezenas de profissionais que atuam no Programa Reclamar Adianta preparam-se para ampliar o atendimento nacionalmente.

O alcance dos assuntos foi ampliado, estendo-se às reclamações dos ouvintes em relação aos órgãos do governo federal, governos estaduais e prefeituras.

PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)

De 2ª à 6ª feira, entre 10h e meio dia, Acesse pela internet: www.reclamaradianta.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5588 twitter: @defesaconsumo www.emdefesadoconsumidor.com.br

A central telefônica, criada para atender durante as duas horas de programa, hoje funciona 24 horas por dia.

Tudo isso se deve, contudo, aos milhares de ouvintes que sintonizam a Rádio Bandeirantes AM 1360 do Rio de Janeiro, de segunda à sexta-feira, das 10h ao meio dia. Obrigado a todos. E guarde o número de telefone de nossa Central de Atendimento: (021) 3282-5588. Se preferir, nos mande um e-mail. O atendimento é 100% gratuito e personalizado. A equipe do Programa Reclamar Adianta

PROGRAMA PAPO MADURO

RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) De 2ª à 6ª feira, ao meio dia, Acesse pela internet: www.papomaduro.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5144


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ano VII • ed 54 • dezembro 2012

SIM, quero ser assinante-colaborador da Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental, uma organização sem fins lucrativos, assegurando meu livre acesso ao conteúdo do PORTAL DO MEIO AMBIENTE (www.portaldomeioambiente.org.br) e o recebimento da versão impressa e gratuita da REVISTA DO MEIO AMBIENTE sempre que for editada.Declaro concordar com o pagamento de R$ 100,00 (cem reais) referentes às despesas de manuseio e de postagem de 12 (doze) edições impressas, que receberei uma a uma, independente do tempo que dure. Farei o pagamento através de depósito bancário na Caixa Econômica Federal, Agência 3092 OP 003, C/C 627-5, em favor da PRIMA – MATA ATLÂNTICA E SUSTENTABILIDADE – CNPJ nº 06.034.803/0001-43, parceira da Rebia neste projeto pela democratização da informação socioambiental no Brasil. Após o pagamento, informarei pelo e-mail vilmar@rebia.org.br a data, hora e valor do depósito e os dados completos (nome completo, endereço completo) a fim de receber meus exemplares.

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