TIDIR 1º 2013 - Teatro no período do governo Geisel

Page 1

1

Teatro: No período do governo Geisel entre os anos 1974 a 1979. 1

NAZARENO, Ana Carolina

2

ANDRADE, Caroline Chaves 3 DOMINGOS, Cassia Regina Maia

4

TORRES, Ingrid Perez de Arruda 5 SANT’ANA, Julia Rey Canuto 6 DIAS, Regilane Maria

7

ANA SILVA, Rute de Santa

8

Resumo: Este trabalho tem como base apresentar por meio de pesquisas e análises o tema: O teatro mineiro no período do governo Geisel (1974 a 1979). É apresentado o contexto deste período. A fundamentação está baseada em entrevistas com quatro persona lidades do teatro, livros, jornais e revistas da época. Após apuração dos fatos, o trabalho foi desenvolvido com o material pesquisado, passando desde o início do AI-5 (Ato Institucional número 5), quando a repressão atingiu o auge, até o governo Geisel, q uando a censura ficou mais branda. Nesse período o teatro mineiro sofreu uma grande repressão, mas após a extinção do AI-5 e o fim da censura, o teatro conseguiu ter mais autonomia. Palavras Chaves: Teatro– Censura - Governo Geisel.

1- Introdução

O teatro é uma das formas mais livres de expressão da humanidade, é também uma arte cênica bem específica, apesar de ter como ponto de partida um texto literário (drama, comédia, romance e outros gêneros), determina uma transformação da literatura em espetáculo cênico e por sua vez sua transformação direta com o público.

1

Trabalho apresentado no ExpoUna, requisito parcial de avaliação da disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirig ido do curso de Jornalismo Multimíd ia do Instituto de Arte e Comunicação do Centro Universitário UNA, orientação professora Cândida Emilia Borges Lemos. 2 Ana Caro lina Nazareno é estudante de jornalis mo Mult imídia do Centro Un iversitário UNA 3 Caroline Chaves Andrade é estudante de jornalis mo Multimíd ia do Centro Universitário UNA 4 Cassia Reg ina Maia Do mingos é estudante de jornalis mo Multimíd ia do Centro Universitário UNA 5 Ingrid Perez de Arruda Torres é estudante de jornalis mo Multimíd ia do Centro Universitário UNA 6 Julia Rey Canuto Sant’Ana é estudante de jornalis mo Multimíd ia do Centro Universitário UNA 7 Regilane Maria Dias é estudante de jornalis mo Mult imídia do Centro Un iversitário UNA 8 Rute de Santa Ana Silva é estudante de jornalismo Mu ltimídia do Centro Universitário UNA.


2

O teatro é também uma manifestação social, e está sujeito as reedificações populares no contexto histórico em que está inserido. Por isso, não há teatro com um significado absoluto, sem mudanças ou com regras permanentes, mas há diversos teatros, estes se diferenciam pela época, estilo e discussão política da época.

Este trabalho tem como base apresentar por meio de pesquisas e análises o tema: O teatro mineiro no período do governo Geisel (1974 a 1979).

Assim, foi realizada a pesquisa sobre o assunto escolhido, pois o trabalho tem como objetivo apurar, pesquisar, entrevistar pessoas que fizeram parte do teatro nesse período, além de conhecer as limitações à liberdade de expressão e como agiu a censura durante o governo Geisel. As informações partiram a princípio do jornal “De Fato”, do livro “O Que é Teatro”, de Fernando Peixoto e do livro “3x30 Os Bastidores da Imprensa Brasileira”, dos jornalistas Carmo Chagas, José Maria Mayrink e Luiz Adolfo Pinheiro.

A fundamentação está baseada nas entrevistas com quatro personalidades do teatro: o diretor, ator, produtor, gestor cultural, professor e atualmente diretor do Teatro da Cidade, Pedro Paulo Cava; o também diretor, ator, dramaturgo e gestor cultural José Geraldo Dangelo - Jota Dangelo; e o ator, diretor, dublador e autor Jonas Bloch.

2- Objetivo

2.1- Objetivo geral

Apresentar como foi o teatro no período do governo Geisel (1974 a 1979) e mostrar como foi censurado, tendo peças proibidas, relatar sobre a falência dos grupos teatrais daquela época, ocasionado pela pouca plateia devido à censura, e por fim como o teatro vence a repressão política com o passar dos anos.


3

2.2- Objetivo específico

Este trabalho proporcionará às pessoas conhecer um pouco mais sobre o teatro, como eram produzidas e apresentadas as peças, o processo em que cada peça era obrigada a passar para ser liberada ou não a exibição e como foi possível conseguir reagir no período. Pretendemos mostrar mais sobre o teatro através de pesquisas em geral e entrevistas com pessoas, e artistas que vivenciaram esse período da ditadura.

3- O teatro no pe ríodo do governo Geisel (1974 a 1979)

O teatro sofreu muita repressão durante os anos em que estava em vigor a ditadura milit ar, várias peças foram proibidas de serem encenadas e com isso vários grupos deixaram de existir. Porém no governo do general Ernesto Geisel a censura já estava mais branda, mas ainda existia, nesse período o Brasil já caminhava para uma abertura gradual e assim a redemocratização.

Foi uma das manifestações artísticas mais perseguidas pela censura e para fugir dessa censura profissionalizada os grupos teatrais começam a camuflar seus textos a partir de figuras de linguagem, usa-se principalmente a metáfora, mas também a prosopopéia, a ironia e o eufemismo. Com isso muitas peças que continham críticas árduas ao governo passaram despercebidas, sendo encobertas as ideologias, as críticas e pensamentos, mas perceptíveis nas entrelinhas.

A peça de teatro Maria Minhoca foi escrita pela autora mineira Maria Clara Machado no ano de 1968, e dirigida em 1973 por Pedro Paulo Cava, sendo um clássico infantil da literatura teatral brasileira. O resultado é uma h istória de amor contrariado, com direito a militar fanfarrã o e ajudante engenhoso para levar os protagonistas a seu objetivo [...] A jovem minhoca, filha do autoritário Mister João Buldog recebe, obrigada pelo pai a corte de certo Capitão Quartel, o qual imp ressiona o candidato a sogro com seus dotes de soldado e de poeta, a moça porém prefere o modesto e fracotecivil Chiquinho colibri e este tentará conquistar a mão dela passando pelo caminho necessário [...]. (CAMPOS, 1998, p.196)


4

É possível perceber a crítica que Maria Clara Machado faz na peça Maria Minhoca, pois Maria tinha duas opções de escolha o fanfarrão Capitão Quartel que faz alusão a ditadura militar e ao fraco civil Chiquinho Colibri. Maria então escolhe Chiquinho Colibri e ele tem que tentar durante a trama conquistar o pai de Maria Minhoca. Segundo Campos (1998) “ Yan Michalski propõe que se considere Maria Minhoca “não como peça infantil ou juvenil, mas como comédia tout court, uma versão nalve da oposição poder civil/poder militar”.

Figura 1: peça de teatro Maria Minhoca - 1973

Fonte: Acervo de Pedro Paulo Cava.


5

3.1- Delimitação do Tema

Em 1968 surgiu o Ato Institucional numero 5 (AI-5) e um de seus atos influenciavam diretamente nas peças teatrais, impunham a censura prévia a revistas, jornais, peças teatrais, livros e músicas.

Mesmo sendo transformado em função do processo histórico, o teatro conversa, através dos tempos, uma série de elementos que o distinguem enquanto expressão artística. É verdade que muitos às vezes são esquecidos ou, circunstancialmente, relegados a segundo plano, para, em novas condições, voltarem a ser recuperados. O teatro tem u ma h istória específica, capítulo essencial da história da produção cultural da humanidade. Nesta trajetória o que mais tem sido mod ificado é o próprio significado da atividade teatral: s ua função social. (PEIXOTO, 1986, p.11-12).

Tudo que fosse exibido ou circulado teria que passar antes pela autorização do Conselho Nacional da censura do Governo Federal, os que não eram autorizados deveriam reformular até se encaixarem nos padrões exigidos. No período do governo Geisel a oposição estava começando a ganhar força, por isso para manter a ditadura a repressão continuava a fimde impor o seu poder sobre a população.

Com a morte de pessoas como o jornalista Vladmir Herzog em 1975 e do operário Manoel Feiel Filho os movimentos populares foram ganhando força na segunda metade da década de 1970, e os grupos formados começaram a fazer reivindicações, dentre estes estavam presentes grupos estudantis e os sindicatos. (ABREU, 2005)

Com toda pressão em cima do general Ernesto Geisel e seu governo, o presidente foi forçado a uma abertura gradual. Porém, lançou o pacote de abril em 1977 que instituía algumas mudanças que contradizia o plano de abertura gradual. As principais medidas eram o fechamento do Congresso, ampliação do mandato presidencial de cinco para seis anos e eleições indiretas para 1/3 dos senadores e estes candidatos seriam indicação do presidente e concordariam com os interesses do governo. No fim do seu mandato revogou todos os atos institucionais voltando assim o habeas corpus dentre outros direitos. (COTRIM, 2005)


6

O regime ditatorial já estava em decadência no governo do general Ernesto Geisel. A sociedade civil se organizava em defesa dos direitos humanos, os grupos estudantis começavam a se mobilizar indo às ruas e promovendo passeatas, havia a intensificação do movimento pela anistia e nas eleições legislativas o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) possuía vitórias expressivas apesar de suas limitações. (LEMOS, 1988)

3.2- Libe rdade de Imprensa

Durante o período da ditadura militar, a liberdade de imprensa e expressão não eram livres para qualquer tipo de pensamento politico e filosófico, sendo bloqueado qualquer tipo de manifestação contrária contra o governo, às guerras, preconceitos de raça e classe social. Na própria constituição de 1967, no titulo II, Capitulo V e o parágrafo 8º determinava:

É liv re a manifestação de pensamento, de convicção política ou filosófica e a prestação de informação sem sujeição à censura, salvo quanto a espetáculos de diversões públicas, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros, jornais e periódicos independe de licença da autoridade. Não será, porém, tolerada a propaganda de guerra, de subversão da ordem ou de preconceitos de raça ou de classe.(BRASIL, 1967)

Conforme a constituição de 1967 foi criado o Conselho Regional de Censura a lei de nº 5.536, em 21 de novembro de 1968, no Governo Geisel, que determinou a repressão por faixas etárias dos programas de TV, jornais e eventos culturais, mas a maioria dos vetos se amparava na lei mais antiga da ditadura militar: o Regulamento do Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP), que determinava qualquer assunto a ntes de ir ao público sem uma censura prévia com validade de cinco anos. (BRASIL, 1968)

Porém a nova constituição de 1988 pôs fim na censura, a comunicação tornou-se um direito, como no art. 5º Inciso IX da Constituição: “a expressão da atividade intelect ual, artística, científica e de comunicação um direito individual fundamental, independentemente de licença ou censura”, e no parágrafo 2º “é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. (BRASIL, 1988)


7

5- Indignação ao que ocorria

No período analisado (1974 a 1979), pode-se perceber que a censura e a repressão já estavam mais brandas em relação ao período em que foi instituído o Ato Institucional número 5 (AI-5) em 1968, durante o governo de Costa e Silva. Como afirma o ator e diretor Jota Dangelo: O período terrível fo i depois do AI-5, depois guerrilha de 1968. Até 1974 fo i muito bravo o período do Araguaia. A partir do ano 1974 as coisas já co meçaram a ficar mais tranquilas. Apresentar as peças era mais tranquilo, ainda existia a censura, mas ela não estava mais co m aquele rigor. (DÂNGELO, 2013, info rmação verbal) 9

Apesar de no governo Geisel a censura em relação ao teatro ter sido mais branda, os grupos teatrais haviam sofrido muito anos antes e com isso várias peças foram proibidas e muitos grupos foram extintos. Os anos após a instituição do AI-5 foram de uma intensa repressão, com isso vários grupos ficaram endividados e passaram por dificuldades durante o comando do presidente Geisel. Esta análise está de acordo com as entrevistas realizadas com Pedro Paulo Cava e Jota Dangelo.

Jonas Bloch fala como o teatro mineiro sobreviveu à ditadura: O Teatro sofreu agressões, como na peça "Roda Viva", em que os atores foram espancados. O espetáculo "Calabar" não pode estrear, com enorme prejuízo para todos. O espetáculo "Oh!Oh!Oh! Minas Gerais", acabou sendo censurado, mas a classe artística, além de se arriscar co m a manifestação contra a Censura, não parou de produzir textos que clamavam por Liberdade.(BLOCH, 2013, informação via email) 10

Com o surgimento das grandes telenovelas no ano de 1969, houve a desvalorização do teatro. O público não comparecia, pois basicamente quem dava apoio para o teatro e a cultura era o movimento estudantil. Com a comodidade que as TVs ofereciam para as pessoas em casa, o teatro mineiro praticamente parou de realizar peças, entrando assim em decadência. (DE FATO, n. 6, 1976, p. 10)

Não só as peças de teatro eram censuradas, os autores mineiros, também foram censurados pelo governo, pois não tinham a liberdade para expressar, os próprios pensamentos e a realidade vivida pelo país naquela época. O atual diretor do teatro da cidade, Pedro Cava, 9

DÂNGELO, Jota. Belo Horizonte, 16 maio 2013. Entrevista concedida as integrantes deste trabalho. BLOCH, Jonas. Belo Horizonte, 19 junho 2013. Entrev ista concedida por e-mail as integrantes deste trabalho

10


8

destacou no jornal De Fato que em 1968, existiam 19 produções mineiras e em 1969 apenas cinco entre as peças adultas e infantis. (DE FATO, n. 6, 1976, p. 10-11)

O teatro é uma forma livre de expressão onde se pode colocar toda indignação do que estava acontecendo naquela época. Mas no período da ditadura as peças teatrais antes de serem apresentadas ao público, tinham que ser exibidas para a censura analisar o que seria permitido. Jota Dangelo descreve o processo em que as peças deveriam passar antes de serem exibidas: Na época do AI-5 você tinha que fazer u m ensaio para censura depois a peça era censurada em Brasília, depois você tinha que fazer apresentações para a censura com a luz e figurino. Ninguém podia estar na plateia, só eles. Se eles não gostavam cortavam mais. (DÂNGELO, 2013, in formação verbal) 11

De acordo com Cava, “a palavra é um instrumento perigoso, então a partir do AI-5 a censura federal era insipiente, mas ela passa a se profissionalizar, o que antes o oficial de carreira fazia no exercício da censura se tornou uma obrigação, pois o governo criou cursos de capacitação”. (CAVA, 2013, informação verbal) 12

Segundo Pedro Cava, quando o general Ernesto Geisel assumiu a presidência ele nomeou para o Ministério da Educação o ex- governador do Paraná, Nei Braga, um oficial do exército que era apreciador do teatro. O Serviço Nacional do Teatro (SNT) que possuía sede no Rio de Janeiro estava ligado ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) que na época era um só. (CAVA, 2013, informação verbal) 13 De acordo com Jota Dangelo, Nei Braga juntamente com Orlando Miranda diretor do Serviço Nacional do teatro (SNT) estabeleceram uma redefinição das políticas culturais. Com essa medida fizeram com que o teatro fosse ampliado para outros estados, pois antes havia uma polarização entre Rio de Janeiro e São Paulo. A partir desse momento foi convocada em 1974 uma reunião em Petrópolis onde havia pessoas do país inteiro com o intuito de criar uma

11

DÂNGELO, Jota. Belo Horizonte, 16 maio 2013. Entrevista concedida as integrantes deste trabalho. CA VA, Pedro Paulo. Belo Ho rizonte, 07 maio 2013. Entrevista concedida as integrantes deste trabalho. 13 CA VA, Pedro Paulo. Belo Ho rizonte, 07 maio 2013. Entrevista concedida as integrantes deste trabalho. 12


9

Federação Nacional de Teatro. Cria-se então a Federação Nacional de Teatro Amador (FENATA), que teve como seu primeiro presidente Jota Dângelo: Foi criada então a Federação Nacional de Teatro Amador – FENATA cujo objetivo era fazer co m que cada estado tivesse sua própria organização de teatro. Eu acabei sendo eleito o 1º presidente da fundação, criei a FETEM IG (Federação de Teatro de Minas). Então eu precisei conhecer o pessoal de minas e viajei pelas pequenas cidades de Minas Gerais para conhecer os grupos teatrais e se inscreverem na FETEMIG. (DÂNGELO, 2013, informação verbal) 14

A FETEMIG (Fundação de Teatro de Minas) então foi criada após a reunião em Petrópolis e assim os grupos teatrais que não eram de Belo Horizonte começaram a ter mais visibilidade e a serem mais conhecidos. Essas foram às primeiras relações do poder público na área da cultura e educação com as artes. (CAVA, 2013, informação verbal) 15

Em 1975 efetivou-se o agrupamento de incentivos e desenvolvimento às artes sendo criado o Instituto Nacional de Artes Cênicas (INACEN) e a Fundação Nacional de Artes (FUNART). Segundo as autoridades da época essas foram medidas para promover, incentivar a prática de atividades artísticas e assim incentivar a liberdade de criação. Pode-se perceber que essa era mais uma medida de tentar controlar a situação ao estabelecer alguns direitos e algumas brechas por parte do governo e já pelos atores e diretores da época foi uma forma de se libertar da censura e se sentir amparado. (SOUZA, 2011)

A peça Pelos Caminhos de Minas Gerais foi escrita por Jota Dangelo e Jonas Bloch e dirigida por Jota Dangelo no ano de 1975. A peça foi produzida logo a criação FENATA e durante o processo de criação da FETEMIG e também quando o Teatro Experimental passa a se chamar O Grupo. (DANGELO, 2013, informação verbal) 16

Foi apresentada em diversas cidades do interior de Minas Gerais e na Capital, o grupo fazia a apresentação nas cidades e ao mesmo tempo conversava com os outros grupos teatrais e com 14 15 16

DÂNGELO, Jota. Belo Ho rizonte, 16 maio 2013. Entrevista concedida as integrantes deste trabalho. CA VA, Pedro Paulo. Belo Ho rizonte, 07 maio 2013. Entrevista concedida as integrantes deste trabalho. DANGELO, Jota. Belo Horizonte, 16 maio 2013. Entrevista concedida as integrantes deste trabalho.


10

a autoridades da cidade, para que as companhias de teatros filiassem a FETEMIG. (DANGELO, 2013, informação verbal) 17

Figura 2: peça de teatro Pelos Caminhos de Minas Gerais- 1975

Fonte: Portal de Teatro Profissional. Fotógrafo: Mauro Sérvalu

Durante a ditadura militar, surgiram jornais alternativos e entre eles o jornal De Fato, que ao contrário dos grandes jornais publicava toda a repressão e a censura em diversas áreas das artes, da cultura e da informação jornalística. No jornal foi possível encontrar cinco matérias em que o assunto era o teatro.

O jornal De Fato publicou uma matéria intitulada Qual é a do teatro mineiro?, no qual foi realizado um debate, reunindo 14 pessoas dentre atores, produtores, diretores e autores (Pedro

17

DANGELO, Jota. Belo Ho rizonte, 16 maio 2013. Entrevista concedida as integrantes deste trabalho.


11

Paulo Cava, Jota Dangelo, Rottan, Belizário, José Mayer, dentre outros), dando ênfase sobre suas trajetórias e experiências no teatro em Minas Gerais. (DE FATO, 1976, p.09-13)

Um dos temas no debate foi sobre teatro popular com a seguinte pergunta– O que significa o fazer teatro? Seria teatro diversão ou teatro que incomoda? Os entrevistados responderam que para eles fazer teatro é uma opção profissional como qualquer outra, pois eles tinham a necessidade de mostrar a arte do teatro dentro da sociedade, sendo que para eles tinha que incomodar, mas antes de tudo ser uma diversão para o público que em 1976 viviam em um país capitalista e subdesenvolvido. (DE FATO, n. 6, 1976, p.10)

A diversão do teatro no Brasil divertia os donos do poder, pois quem via teatro nesta época era a classe média e a burguesia. Por causa da repressão, a censura, a estrutura política e o modelo econômico, mudaram o teatro, por isso estava parado em 76, para Pedro Cava fazer teatro naquela época era uma forma de participação política. (DE FATO, n. 6, 1976, p.10-11)

Figura 3: editorial da sexta edição do jornal De FATO

Fonte: DE FATO, 1976, p. 9.


12

Em uma outra edição é destacado o depoimento do ator argentino Oscar Martinez, que conta sua experiência com o teatro. Martinez citou a dificuldade de abandonar a escola de teatro convencional e atuar com teatro de rua. Com o tempo foi percebendo que a linguagem do teatro convencional não se cabe no teatro de rua, assim adaptou e criou uma linguagem própria, para que o público entendesse o real objetivo do teatro. (DE FATO, n. 19, 1977, p. 17)

No texto ele da ênfase em uma peça teatral chamada Contratando, uma peça sobre educação. O grupo foi convidado pelo sindicado dos professores, para levar mensagens do próprio sindicado de uma forma diferente, pois perceberam que houve um aumento no interesse dos professores pelas atividades dadas pelo sindicato após as apresentações de teatro. (DE FATO, n. 19, 1977, p. 18)

O objetivo da peça era levar questões sindicais aos pro fessores, mas com o tempo o foco foi sendo dirigido para outro lado, as discussões eram para mostrar aos professores suas reivindicações. Após algumas apresentações decidiram rescindir o contrato, assim, foi surgindo novas oportunidades de apresentar teatro em escolas, universidades e dentre outros lugares. (DE FATO, n. 19, 1977, p. 18)

Surgiram diversas oportunidades de ministrarem palestras e cursos de teatro, Martinez finaliza, e afirmou que o Brasil, foi uma experiência grande, pois começou a ter coragem de realmente tomar liberdades no teatro, e entender a importância de ter a interação com público. (DE FATO, n. 19, 1977, p. 18)

E uma última matéria publicada sobre o tema, intitulada A propósito de Teatro I. A matéria inicia com um agradecimento ao jornal De Fato pela iniciativa de promover um debate sobre teatro desde o ano anterior (1976), pois diz que falar sobre algo, debater é tornar conhecido para aquele que se interessa e busca sobre o assunto. (DE FATO, n. 14, 1977, p. 15)

A seguir a matéria trás o seu propósito: discutir sobre o teatro do interior, universitário e comentar sobre o profissional. O tema é em relação a quem pegou a "rebarba" de 1968, quando houve a repressão e houve debates, manifestações que em 77 pouco era visto. (DE FATO, n. 14, 1977, p. 15)


13

Fala-se sobre mulheres, futebol, moda e entre outros, e pouco sobre teatro ou algo relevante do momento que o país vivia. Os teatros do interior que tem crescido juntamente com a cidade, e depois passam para a capital, não tem grande conteúdo cultural, essa é a crítica em si. (DE FATO, n. 14, 1977, p. 15)

Critica-se a limitação e um comprometimento com o modo de vida capitalista, onde o teatro era visto mais como um investimento e não uma ideologia onde se podia criticar, colocar pra fora o que estava acontecendo, era uma forma de grito da sociedade. As peças atualmente (1977) faziam algumas críticas à censura, mas não havia nada de novo como propostas para uma melhoria, além das que já existiam. (DE FATO, n. 14, 1977, p. 15)

É citado na matéria um grupo de teatro chamado Dinossauro que veio realizar um processo de trabalho mais dialético, e a proposta de que as pessoas que trabalham com teatro podem realizar boas peças sem tanto investimento, algo mais artesanal, onde desde os que trabalhavam na montagem até os que encenavam participavam de todo o processo, de forma que não houvesse uma alienação e cada um fizesse aquilo que sabia fazer. (DE FATO, n. 14, 1977, p. 15)

Além disso, pretendia viajar para vilas, instituições pretendendo levar o teatro para outro grupo de público, fora aquele tradicional dos grandes teatros (da época). Esse era o debate do grupo Dinossauro, sobre as raízes do que era teatro, e não algo como era no modo capitalista, onde mais se prezava o lucro do que o real debate da peça. (DE FATO, n. 14, 1977, p. 15)

Ainda na página 15 e intitulado A propósito de Teatro II. A segunda matéria relata brevemente sobre o grupo de teatro amador Amadeu. O grupo existiu na cidade de Salvador desde 1975 tentando fazer teatro popular. A matéria relata algumas peças e comenta sobre a peça "Gran Circo Raíto de Sol" que foi censurada, fazendo com que o grupo teatral perdesse 6 meses de trabalho, causando reflexos negativos na estruturação do grupo. (DE FATO, n. 14, 1977, p. 15)

A reportagem relata sobre a dificuldade de realizar peças sem ajuda dos órgãos oficiais, dificuldades que vão desde a produção do espetáculo até a passagem de transporte para o pessoal participar do ensaio. Informam que estão com uma peça nova e a matéria finaliza com


14

agradecimentos do grupo para todos aqueles que os estão ajudando direta ou indiretamente. (DE FATO, n. 14, 1977, p. 15)

Contudo, toda repressão e censura de um período conturbado para o país não fizeram com que muitos desistissem de lutar pelos seus ideais, e a busca pela liberdade de expressão. Foi assim com o teatro, apesar da repressão ter sido menor durante o governo do presidente Geisel os anos anteriores aniquilaram muitos grupos e com eles muitos ideais, mesmo assim aqueles que continuaram de pé passaram por diversos momentos, passaram pelo corte das peças, pela falta de dinheiro e de incentivo e ainda assim lutaram para que reestabelecesse o regime democrático e os seus direitos. Lutaram pela valorização e o incentivo do teatro.

6- Conside rações Finais

Portanto, o teatro mineiro durante o período do governo Geisel sofreu repressões, sendo até mesmo proibidas algumas peças. Perseguidos pela censura, os atores, diretores, sofreram agressões durante todo este período de ditadura. De acordo com os e ntrevistados que ajudaram na construção deste artigo, em Minas Gerais à repressão ocorria sempre, pois era um grande cenário para o teatro. As companhias que não eram financiadas tinham que passar por vários processos antes de serem apresentadas ao público. Apesar de algumas peças teatrais terem partes censuradas, os atores tentavam de todo forma passar a mensagem contra a censura e a repressão vivida na época.


15

7- Referências

ABREU, Alzira Alves de. A mídia na transição democrática brasileira. Soc iologia, Problemas e Práticas [online]. 2005, n. 48, pp. 53-65. ISSN 0873-6529. Disponível em: <HYPERLINK "http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/spp/n48/n48a05.pdf" www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/spp/n48/n48a05.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2012.

BRAICK, Patrícia Ramos; MOTTA, Myriam Becho. História- das cavernas no terceiro milênio. p 165 e 166. São Paulo: Moderna, 2005.

BRASIL. Cultura. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/sobre/cultura/teatro>. Acesso em: 02 abr. 2013.

CAMPOS, Claudio de Arrudas. Maria Clara Machado. São Paulo: EDUSP, 1998.

CHAGAS, Carmo et. al. 3x30 os bastidores da imprensa brasileira. São Paulo: Best Seller, 1992.

COTRIM, Gilberto. História Global- Brasil e Geral. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

DE FATO. Belo Horizonte: 6ª Edição. Set. 1976. Disponível em: <http://jornaldefato.plusinfo.com.br/edicoes/De-Fato-n6-Setembro1976.pdf>. Acesso em: 29 maio 2013.

DE FATO. Belo Horizonte: 11ª Edição. Fev. 1977. Disponível em: <http://jornaldefato.plusinfo.com.br/edicoes/De-Fato-n11-Fevereiro1977.pdf>. Acesso em: 29 maio 2013.

DE FATO. Belo Horizonte: 13ª Edição. Abr. 1977. Disponível em: <http://jornaldefato.plusinfo.com.br/edicoes/De-Fato-n13-Abril1977.pdf>. Acesso em: 29 maio 2013.


16

DE FATO. Belo Horizonte: Belo Horizonte: 14ª Edição. Ma io 1977. Disponível em: <http://jornaldefato.plusinfo.com.br/edicoes/De-Fato-n14-Maio1977.pdf>. Acesso em: 29 maio 2013.

DE FATO. Belo Horizonte: 19ª Edição. Nov. 1977. Disponível em: <http://jornaldefato.plusinfo.com.br/edicoes/De-Fato-n19-Novembro1977.pdf>. Acesso em: 29 maio 2013

INFOESCOLA. Constituição de 1967. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historiado-brasil/constituicao-de-1967/>. Acesso em: 27 mar. 2013.

INFOESCOLA. Constituição de 1988. Disponível em: <http://www.infoescola.com/direito/constituicao-de-1988/>. Acesso em: 27 mar. 2013.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia cientifica.São Paulo: Atlas S.A, 1991.

LEMOS, Cândida. Uma legião urbana clama: “Toque m o meu coração, façam a revolução”! – Os reflexos do autoritarismo no comportamento dos jovens nos anos 80. 1988.179 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Pública) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1988.

PEIXOTO, Fernando. O que é Teatro.8. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.

PORTAL DE TEARTO PRIMEIRO SINAL. Galeria. Disponível em: < http://primeirosinal.com.br/galeria/banco-de-imagens?page=12> Acesso em: 27 jun. 2013.

SOUZA, Miliandre Garcia. A gestão de Orlando Miranda no STN e os paradoxos da “hegemonia cultural de esquerda”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo: jul. 2011.


17

TEATRO. A orige m do teatro no Brasil. Disponível em: <http://www.teatro.noradar.com/origem-do-teatro-no-brasil.htm>. Acesso em: 02 abr. 2013.

ZERO HORA. Saiba o que mudou com a constituição de 1988. Disponível em: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/noticia/2008/09/saiba-o-que- mudou-com-a-constituicao-de1988-2206963.> Acesso em: 27 mar. 2013.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.