Revista caminhar S.vicente

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Caminhar NG’S

PLATAFORMA DAS ONG’S

Revista da Plataforma das ONG’s de Cabo Verde • Novembro de 2011 • Distribuição Gratuita

Associativismo em São Vicente

Sustentabilidade é o grande desafio

Um mundo de ONG reconhecidas nacional e internacionalmente


Sumário 3 – Editorial 4, 5 e 6 – Entrevista com Marco Silva Associativismo em São Vicente: Sustentabilidade é o grande desafio

8 e 9 – Atelier Mar, a “senhora” ONG 10 e 11 – Morabi: Uma acção direccionada para o empreendedorismo social 16 e 17 – Amigos da Natureza: A reflorestação de São Vicente é sua marca maior 20 e 21 – Centro Comunitário Novos Amigos: Um projecto ambicioso com rosto de mudança 24 e 25 – Skibosurf Club: Ousadia no incremento de actividades náuticas desportivas 28 e 29 – Biosfera I: Ambiente na boca do povo 36, 37 e 38 – Associação de Pescadores de São Pedro: Reencontrar-se com segurança

e união

– Associação Comunitária de Desenvolvimento de São Pedro: Aposta nas pessoas

... MAIS ...

• 7 – FCS apoia pessoas em situação de risco • 12 – ADEF em busca de financiamento para continuar a ajudar • 13 – OMCV engajada no desenvolvimento local • 14 – Aposta nos jovens para mudar o rosto de Ribeira de Craquinha e Pedra Rolada • 15 – Presidente da ADECO: O ideial seria se todos os cabo-verdianos fossem sócios • 18 e 19 – Verdefam: Entre cuidados de SSR e promoção de comportamentos saudáveis – Posto móvel ao serviço dos utentes em todas as localidades • 22 – Liga das Associações Juvenis: O reforço do movimento juvenil é o limite • 23 – ETNASA em nome do salvamento aquático • 26 – FIF: As crianças são prioridade • 27 – Cruz Vermelha “Viver sem medo” apoia pessoas em situação de risco • 30 – Centro Social SOS do Mindelo: Ofertas para melhorar a vida de crianças • 31 – Associação Agro-Pecuária de Calhau e Madeiral: A pensar numa agricultura mais rentável • 32 – Andorinha entre desporto e empoderamento juvenil • 33 – Pa Piknin d’Calhau: O mais importante: protecção ambiental • 34 – Associação de Pescadores de Salamansa: Em busca de mais peixe e apoios • 35 – Associação Comunitária para o Desenvolvimento de Salamansa: Prioridade às pessoas mais pobres • 39 – Associação dos imigrantes Senegaleses em Cabo Verde: Legalização e integração são as prioridades

Ficha Técnica

• Propriedade: Plataforma das ONG – Achada São Filipe • C.P.: 76 - C – Praia - Santiago • Telefone: 2617843 • Fax: 2617845 • Email: platongs_05@yahoo.com.br • Site: www.platongs.org.cv • Delegação de São Vicente – Centro Social do Madeiralzinho C.• Tel.: 2313245 • Fax: 2326522 - Mindelo - São Vicente • Design Gráfico: Bernardo Gomes Lopes • Impressão: Tipografia Santos


o r t i a i l d E

C

abo Verde mudou com as ONG e São Vicente também. O que as organizações da sociedade civil da ilha e pelo país inteiro têm tentado fazer é procurar combinar soluções educativas, produtivas, organizativas, culturais e políticas para dar resposta a problemas de grupos sociais que vêem o mundo a avançar enquanto eles não recebem os benefícios do desenvolvimento. O impacto social dos projectos das ONG e associações comunitárias em São Vicente são enormes, mesmo enfrentando no dia-a-dia o desafio da sustentabilidade, sendo, hoje, o grande desafio do movimento associativo local a mobilização de novas fontes de financiamento e a consolidação das tradicionais parcerias para as acções de desenvolvimento.

Apesar das dificuldades em que trabalham as organizações da sociedade civil sanvicentina, elas conquistaram um espaço importante, têm maior capacidade de organização e de actuação, estando, também, muito mais exigentes em termos de expectativa daquilo que poderá e deverá ser a sua capacidade de resposta face às inúmeras necessidades que afectam as populações. Um segundo desafio está no reforço do espírito associativo, ao que se alia a necessidade de desenvolvimento da capacidade empreendedora das pessoas e das comunidades locais na busca de soluções que conduzam à melhoria das suas condições de vida.

Tudo isso tem mobilizado muito esforço e dedicação por parte das ONG e associações e tem resultado em mais oportunidades para os pobres, os desfavorecidos e os excluídos da ilha de São Vicente.

O trabalho em prol das comunidades tem-se traduzido em inúmeras actividades e projectos de luta contra a pobreza com ganhos palpáveis e dificuldades também visíveis, visto que a mobilização de recursos tem sido cada vez mais difícil, os parceiros escasseiam e o Governo não disponibiliza verbas específicas para o trabalho voluntário das organizações da sociedade civil a braços com crescentes e imensas demandas sociais e a vários níveis.


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Entrevista com Marco Silva

Associativismo em São Vicente

Sustentabilidade é o grande desafio “O associativismo em São Vicente passa por uma fase muito particular em que as organizações começam a pensar na sua sustentabilidade a longo prazo, nos resultados das suas acções e não apenas na realização de actividades”, defende o delegado da Plataforma das ONG em São Vicente, Marco Silva. Admite serem desafios da Delegação o reforço institucional, a mobilização de parcerias e a intensificação das suas acções em comunidades mais afastadas de São Vicente, esperando uma participação mais activa das ONG e associações da ilha para continuar a contrbuir para uma melhor vida das suas popualções. Na qualidade de delegado da Plataforma das ONG, que avaliação faz do associativismo em São Vicente? O associativismo em São Vicente continua dinâmico e demonstra resultados claros de engajamento das organizações da sociedade civil na resolução de alguns problemas sociais da ilha e do país. Hoje, contamos com 52 associações inscritas na Plataforma, um número significativo em relação às outras ilhas, tornando-se São Vicente uma das ilhas com mais organizações não governamentais (ONG). São Vicente conta com ONG que são reconhecidas nacional e internacionalmente, que trazem eventos de nível internacional para a ilha e que já receberam prémios internacionais na luta por causas sociais. São associações que criaram capacidades de captação de recursos e de gestão de projectos de milhares de contos, que têm uma forte preocupação com a sua auto-sustentabilidade e que criam formas de contornar as dificuldades que a nossa sociedade apresenta. Infelizmente, esta não é a posição da maioria, onde a capacidade de intervenção face aos problemas reais da ilha tem sido bastante limitada a pequenas acções que, geralmente, são financiadas por entidades governamentais ou pela autoridade local. Daí advém um dos maiores problemas do associativismo cabo-verdiano, e São Vicente não foge à regra, que é a enorme dependência financeira das instituições públicas e, consequente-

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mente, a demasiada partidarização das organizações não governamentais e a sua instrumentalização pelas mesmas autoridades, o que deveria ser o contrário. Esta postura, tanto das autoridades como das ONG, sufoca a sociedade civil, tornando-a omissa em relação aos problemas reais da ilha, sem uma posição crítica face às políticas de desenvolvimento local e silenciosa face à condição em que se encontra. Para além da fraca capacidade financeira de toda ONG. A fraca capacidade de captação de recursos directamente dos concursos internacionais também tem sido uma das fraquezas


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das associações em São Vicente. Embora a Plataforma tenha realizado inúmeras formações em elaboração de projectos, os concursos internacionais, por vezes, requerem que as associações tenham dados os mais descritivos possíveis sobre as problemáticas em que pretendem intervir, bem como soluções inovadoras, provas de viabilidade e sustentabilidade da mesma, conjugadas com os objectivos dos financiadores. Exige-se que estas organizações tenham dados concretos (que estejam realmente no terreno), que tenham capacidade de enquadrar os objectivos do projecto ao país e aos objectivos do financiador, que tenham uma boa organização administrativa e financeira, sendo esta última um problema endógeno das associações e aparentemente de fácil resolução. Entretanto, o fraco engajamento dos sócios, tanto na participação em actividades de planificação e de organização como no pagamento de quotas, dificulta imenso os trabalhos da direcção: por um lado, não tem quem faça esse trabalho e, por outro, não tem como pagar por esses serviços ou para ter um espaço próprio e/ou garantir a manutenção do mesmo. Como qualificaria, neste momento, a família ONG sanvicentina? O associativismo em São Vicente passa por uma fase muito particular em que as organizações começam a pensar na sua sustentabilidade a longo prazo, nos resultados das suas acções e não apenas na realização de actividades. Tem surgido também associações que se desenvolveram rapidamente e que estão integradas nas zonas e nas camadas mais problemáticas e que, com parcos recursos, conseguem resultados inesperados. De uma forma geral, vê-se um esforço enorme das associações e dos seus dirigentes para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, mesmo quando as dificuldades e os desafios sociais parecem intermináveis.

Delegação da Plataforma Qual tem sido o papel da Plataforma em termos de apoios? Em termos de apoios financeiros para o reforço das ONG, nestes últimos anos, não trabalhamos neste sentido já que saímos do fundo FADOC (Fundo de Apoio ao Desenvolvimento das Organizações Comunitárias) desde 2010.

No domínio da educação e reforço das ONG, realizaram-se várias acções de formação no domínio de elaboração de projectos, associativismo, VIH-SIDA, informação, educação e comunicação (IEC). Seminários e encontros, no âmbito da divulgação do Código de Ética, têm tido lugar, assim como sobre outros temas, nomeadamente as TIC (tecnologias informacionais), e tem sido garantido apoio para a mobilização de parcerias com instituições públicas, portanto, a intervenção da Plataforma tem sido mais no domínio da educação e capacitação das organizações comunitárias de base (OCB). Mas a Plataforma também ajuda a divulgar as actividades das associações através do seu site, revistas e meios de comunicação social, nomeadamente no espaço “Mundo Solidário”, na televisão e na rádio.

“Um dos maiores problemas do associativismo cabo-verdiano, e São Vicente não foge à regra, é a enorme dependência financeira das instituições públicas e, consequentemente, a demasiada partidarização das organizações não governamentais e a sua instrumentalização pelas mesmas autoridades, o que deveria ser o contrário” Em relação ao Programa do Fundo Global, que financia a luta contra o VIH-SIDA, além dos recipientes secundários que executam as acções – OMCV, Morabi, Verdefam, Fundação Infância Feliz (FIF) e Fundação Cabo-verdiana de Solidariedade -, contamos com o apoio de várias associações e organizações comunitárias de base para que os apoios dados no âmbito do programa cheguem aos que realmente precisam. Neste sentido, foi possível apoiar vários jovens em formação profissional e no ensino secundário e pessoas com micro-crédito e cestas básicas. Sendo o problema de financiamento considerado o maior constrangimento por que passam as associações, a Delegação tem buscado oportunidades de financiamento, divulga-as e apoia as ONG e associações na elaboração de projectos, o que vem tendo alguns resultados. Algumas organizações já conseguiram financiamento directo de doadores internacionais, através da informação e assessoria técnica. Há uma insistência para que estes actores se candidatem, porque, mesmo que não consigam à primeira, o projecto fica pronto para outra oportunidade ou outro financiador. Na sua perspectiva, quais são os grandes desafios da Delegação? A Delegação tem como maiores desafios conseguir melhores condições de representação e atendimento das organizações da sociedade civil. Precisa de um espaço próprio com capacidade para reuniões, formações, receber estagiários, com gabinetes ou departamentos de projectos, de mobilização de parcerias, de comunicação e de formação

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e de um automóvel para deslocações às comunidades mais afastadas e missões a Santo Antão. Outro grande desafio desta estrutura consistirá em ampliar o seu raio de actuação para outras ilhas e intensificar as suas acções em comunidades mais afastadas de São Vicente e das ilhas vizinhas, o que dependerá do reforço do seu funcionamento, muito embora a Plataforma trabalhe com representações não executivas nas outras ilhas, as antenas. A Delegação precisa também de uma maior participação, ou seja, uma participação mais activa das associações de São Vicente e de Barlavento no que diz respeito à Plataforma das ONG, dos caminhos a percorrer e dos novos desafios para a região. Estamos em crer que a Plataforma terá que criar mais espaços de discussão sobre o seu papel na dinâmica associativa e as necessidades estruturais para atingir os objectivos pretendidos na região e não apenas no âmbito nacional. Há, ainda, que incentivar a criação de mais projectos ligados à juventude, ao empreendedorismo social e ao desenvolvimento sustentável, bem como a formação de parcerias com as instituições de ensino superior públicas e privadas, com empresas públicas e privadas, sendo necessário que estas comecem a ter políticas de responsabilidade social mais activas e integradas que levem em conta as organizações da sociedade civil. É certo que problemas sociais como a violência urbana acabam por afectar

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“Há, ainda, que incentivar a criação de mais projectos ligados à juventude, ao empreendedorismo social e ao desenvolvimento sustentável, bem como a formação de parcerias com as instituições de ensino superior públicas e privadas, com empresas públicas e privadas, sendo necessário que estas comecem a ter políticas de responsabilidade social mais activas e integradas que levem em conta as organizações da sociedade civil”

a produtividade e o consumo, portanto há que “abrir” os olhos das empresas para o investimento social, seja ela pelo mecenato ou marketing, mas que seja responsável e credível.

Adopção do Código de Ética Existirão, a seu ver, algumas apostas a ganhar ainda. A adopção, de facto, do Código Ética é uma das grandes apostas que as organizações da sociedade civil e a Pla-

taforma das ONG têm pela frente. São Vicente recebeu o seminário regional do Código de Ética, que teve uma participação activa das ONG e onde foram dadas várias sugestões e feitas diversas propostas na fase final da sua elaboração e aprovação. Devemos, também, continuar a apoiar a implementação do Programa do Fundo Global, no seguimento dos recipientes secundários, e a formação profissional, hoje um dos maiores desafios da Delegação, pois o sucesso desse programa só é possível com o envolvimento de todos, o que requer capacidade de mobilização dos actores sociais. Neste sentido, o passo a seguir deverá ser o reforço da Delegação para ter um papel cada vez mais activo e capacidade de cobrir a zona norte do país. E como se tem comportado o voluntariado, de uma forma geral? O voluntariado é de certeza uma das alternativas para o bom funcionamento das ONG que, com parcos recursos, estão a ter grandes ganhos. A Delegação participa activamente nas reuniões de parceiros promovidas pela Agência Local de Voluntariado, sendo a Plataforma um dos parceiros do Programa a nível central. Fomentar o voluntariado e capacitar as ONG para a criação de um plano para o trabalho do voluntariado é um compromisso já assumido com a Agência local que se encontra em fase de planificação das acções.


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FCS apoia pessoas

em situação de risco

A Fundação Cabo-verdiana de Solidariedade, FCS, em São Vicente, apoia crianças, idosos e carenciados. No seu Gabinete de Acção Social beneficia sobretudo crianças e adolescentes, mas precisa de recursos para continuar a ajudar.

A

coordenadora Eneida Gomes informou que o Gabinete atende diariamente cerca de 50 crianças e adolescentes até os 18 anos nos dois períodos do dia. “Todos são crianças em situação de risco e vivem em situação de pobreza e de alguma negligência das famílias”, disse. Estão no Gabinete no período em que não têm aulas, havendo mais 30 que recebem apoios, mas não frequentam esse espaço todos os dias, explicou. Os beneficiários diários, fez saber, têm acompanhamento escolar para o ensino primário e secundário, uma refeição quente (almoço), apoio psicológico e na área da saúde, sem esquecer os kits escolares que recebem no início do ano lectivo. No seu trabalho, o Gabinete conta com uma psicóloga, que é a própria coordenadora, e duas monitoras e a FCS beneficia da parceria do Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA), da Promoção Social, da Delegação do Ministério da Educação e Desporto, da Delegacia de Saúde, do Hospital Baptista de Sousa, do Centro de Juventude e da Fundação Cabo-verdiana de Acção Social Escolar (FICASE).

Eneida Gomes

De uma forma geral, Eneida Gomes considera que tem valido a pena o trabalho desenvolvido nestes dois anos de funcionamento do Gabinete, que já conseguiu apoiar mais de 100 crianças. Confessa que não tem sido possível atender a todos os que precisam. “Através de pedidos que recebemos, fazemos um levantamento socioeconómico, visitas domiciliárias e recolha de informações na escola e só depois aceitamos as crianças mais carenciadas”, confirmou, esclarecendo que alguns provêm de instituições como o ICCA. O Gabinete realiza uma reunião mensal com as famílias, sendo que uma boa parte dos beneficiários é órfã e vive com avós ou familiares, para além de visitas que faz às famílias e às escolas onde estudam essas crianças. O maior desafio, para Eneida Gomes, é ter um espaço maior e mais funcionários com formação na área da educação para dar melhores respostas ao público utente do Gabinete. Paralelamente, gostaria de poder contar com mais apoios para beneficiar alunos que pretendam seguir formação superior com “uma pequena bolsa” ou um subsídio. Neste momento, o Gabinete funciona com o apoio do Fundo Global de Luta contra o VIH-Sida e também o subsídio do Governo, havendo algumas casas comerciais que têm ajudado com géneros.

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Atelier Mar, a O Atelier Mar é, sem dúvida, uma ONG cujo nome determinou e muito as mudanças sociais em São Vicente, em Santo Antão e noutras partes do território nacional. Criada em 1979, tem na arte e cultura, a par da economia solidária e do desenvolvimento comunitário, o pilar da sua acção de décadas. Maria Miguel Estrela é, há 18 anos, a mentora do projecto Atelier Mar que, juntamente com o seu criador, o artista Leão Lopes, deu corpo a um mar de sonhos a partir da arte e da cultura e, desde 1987, o desenvolvimento comunitário foi um veio “quase” que natural. Os sub-temas, sim, variaram, como diz: formação, produção, organização de artesãos, economia solidária, tecnologias alternativas e valorização de matérias primas endógenas em volta da mesma área. A assunção do desenvolvimento comunitário foi consequência das intervenções com o público-alvo com que o Atelier Mar trabalhava na formação e produção de artesanato, tendo, por isso, assumido esse desafio na sua actuação de forma transversal e integrada. “E para produzir mudanças positivas na vida das pessoas”, admite Maria Estrela, ao assumir que tudo se deveu a “muito trabalho, muitas alegrias, algumas derrotas e muita satisfação pessoal para todos os membros da equipa”. Os maiores ganhos conseguidos, revela, são a nível da economia solidária, que traz benefícios para todos, e a valorização da arte e da cultura ao ponto de ter sido a matriz da criação de um instituto universitário, a M_EIA, Mindelo_Escola Internacional de Arte.

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Mas 32 anos são um feito e o Atelier Mar regozija-se de ter contribuído para o aumento da auto-estima, o empoderamento individual e de grupos e a autonomia que fez com as pessoas se sintam capazes de seguir em frente sozinhas.

Consolidar o presente Na filosofia de actuação do Atelier Mar o voluntariado faz parte do caminho construído todos os dias, com uma rede de colaboradores que são chamados em momentos pontuais, com ou sem dinheiro. Presentemente, tem em curso, com o financiamento da Cooperação Portuguesa, um projecto a nível das comunidades de pesca, que também tem beneficiado dos apoios da Cooperação Espanhola, tanto em São Vicente como no Maio. A ONG belga Solidarité Socialiste, a nível do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento das Organizações Comunitárias (FADOC), tem apoiado institucionalmente as comunidades de base. Boas colaborações tem despertado o projecto de promoção do empreendedorismo juvenil em São Vicente e no Paul, que está a ser implementado com a ONG portuguesa ISU e o financiamento da União Europeia, fez saber Maria Estrela, confirmando que o Atelier Mar trabalha


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“senhora” ONG Maria Miguel Estrela

com associações juvenis e em três áreas: associativismo, interligação com os actores estatais e não estatais e formação profissional com três cursos piloto.

Seguir em frente O caminho que se segue está na base de uma reflexão que o Atelier Mar internamente está a fazer para ver que modelo, formato jurídico e metodologia de intervenção futuros para a ONG. A mudança necessária, para Maria Estrela, “é encontrar um formato de funcionamento que pudesse capitalizar mais a experiência acumulada e as conquistas alcançadas e colocá-las à disposição de outros que as quisessem usar”. Isso significaria menos intervenção directa na comunidade e mais acção no sentido de oferecer a experiência do Atelier Mar para dar força ao movimento associativo, que está “com uma dinâmica muito interes-

sante, havendo muitos jovens a se interessarem pela vida associativa”, defende. A consolidação da Escola de Arte, o reforço das organizações comunitárias de base, a nível da Rede Rassol criada no âmbito do FADOC, e o desenvolvimento do turimo solidário em Santo Antão são as metas do Atelier Mar nos tempos próximos.

“Muito trabalho, muitas alegrias, algumas derrotas e muita satisfação pessoal para todos os membros da equipa”

M_EIA: Ambição com razão e frutos Com a assinatura do Atelier Mar, a Mindelo_Escola Internacional de Arte (M_EIA), criada em 2007, constitui a marca maior dessa ONG cuja ambição é que esta instituição sirva Cabo Verde. Forma professores e designers na área das artes nos seus cursos de pós-graduação e licenciaturas em cinema, design, gestão cultural e artes visuais, para além de oferecer cursos profissionais e cursos livres. Os professores da M_EIA são licenciados, mestres e doutores cabo-verdianos, portugueses, brasileiros e já teve um sul-africano. Os alunos vêm de quase todas as ilhas e pagam propinas de 15 contos mensais, sendo que a maioria beneficia de bolsa de estudo. Actualmente, são maiori-

tariamente de São Vicente e Santo Antão, mas também já houve estudantes do além fronteiras: Senegal, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Brasil e Portugal. Em termos de apoios, tem sido “muito difícil”, confessa Maria Estrela, assinalando que, a nível do Estado de Cabo Verde, a Escola contou com a cedência temporária do edifício onde está instalada. Contudo, está convencida que, com o tempo, chegarão contributos porque se trata de um projecto para Cabo Verde. E o seu valor social tem sido cada vez mais visível pelos frutos que apresenta enquanto espaço educativo mais importante na área do ensino artístico em Cabo Verde e a primeira escola de arte criada de raiz, por nacionais, em todo o mundo lusófono africano.

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Uma acção direccionada para o empreendedorismo social Desde Março de 2008, a Morabi, Associação de Apoio à Auto-Promoção da Mulher no Desenvolvimento, tem-se destacado pelas intervenções na economia solidária ao mesmo tempo que apoia grupos sociais desfavorecidos.

Fátima Alves

De acordo com a coordenadora Fátima Alves, a Delegação da Região Norte, que cobre São Vicente, Santo Antão e São Nicolau, tem por objectivo favorecer aos grupos desfavorecidos o acesso aos três grandes programas da Morabi: micro-crédito (que já alcançou a sua autonomia administrativa e financeira), formação e mobilização social. Na área do micro-crédito, confirmou o aumento da capacidade e da qualidade de resposta da Delegação,

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particularmente em São Vicente, onde a demanda aumentou, tendo beneficiado homens e mulheres. “Temos a modalidade de crédito familiar e o comércio continua a ser o grosso da demanda, para além de serviços, sector produtivo, agricultura e pecuária”, explicou. Em São Vicente, o crédito à agricultura tem respondido a demandas crescentes provenientes de Calhau, Ribeira de Calhau, Ribeira de Vinha, Chão de Holanda, etc. Com a parceria do Millenium Challenge Account (MCA), a Morabi beneficiou agricultores da bacia hidrográfica do Paul, cuja primeira fase já terminou, sendo grande preocupação o escoamento dos produtos para São Vicente, Sal e Boa Vista.

São Nicolau também foi contemplado com o financiamento do MCA para os agricultores da bacia de Fajã, enquanto a Direcção-Geral do Ambiente apoiou o reforço da capacidade das populações das áreas protegidas de Monte Gordo, através da consolidação da sua capacidade financeira e técnica de gestão.

Reforço da capacidade das populações A mobilização social, o desenvolvimento comunitário e o reforço da capacidade das populações são outras áreas de intervenção da Morabi, tendo Santo Antão sido a grande contemplada.


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A coordenadora destacou, neste particular, o reforço das capacidades para a gestão sustentada dos recursos do parque natural de Paul, Cova e Ribeira da Torre, com acções formativas e criação de três unidades de transformação do sisal, que, neste momento, têm como grande desafio melhorar o design e a qualidade dos produtos, a produção de artigos utilitários e a sua colocação no mercado nacional. Uma experiência piloto em todo o país foi a promoção da produção, nessas três localidades, de 15 mil plantas para repovoar o parque em cerca de oito hectares com espécies endémicas (a maior parte com qualidade medicinais). Paralelamente, desenvolveram-se acções de educação sócio-ambiental para a sua conservação e tudo foi possível graças ao apoio do Fundo Mundial para o Ambiente e do Ministério do Desenvolvimento Rural, co-financiado pela Morabi, fez saber Fátima Alves.

Prioridade a mulheres e jovens O reforço da capacidade das mulheres empresárias, com formação em gestão, informática e assistência técnica na elaboração (e financiamento) do plano de negócios foi outra aposta da Morabi com o apoio da Cooperação Espanhola no sentido de ajudar a elevar o seu nível empresarial. Os jovens são outro público-alvo da Morabi, que atende jovens até 35 anos que queiram iniciar ou reforçar uma actividade económica, pese embora o baixo poder de compra com que se depara a nível de São Vicente. As mães de crianças que se encontram nas aldeias SOS vêm sendo beneficiadas com formação e micro-

-crédito, ao abrigo de um protocolo com a Morabi. Fátima Alves reconheceu, entretanto, a grande necessidade de investir na área de formação profissional e habitação social, sobretudo para pessoas que vivem com o VIH-Sida (PVVIH-Sida). Esta é uma área em que a Morabi intervém com outras actividades através de projectos, como é o caso do sub-programa de saúde sexual e reprodutiva que beneficia de parcerias, nomeadamente com a Plataforma das ONG, no âmbito do Programa do Fundo Global, e com a Enda Santé, do Senegal, que é financiada pela Cruz Vermelha do Luxemburgo. A finalidade é reduzir o impacto do VIH-Sida, estando as intervenções focalizados em grupos de risco como portadores do VIH, homossexuais, profissionais de sexo e usuários de droga, bem como famílias afectadas e grupos de muita mobilidade, com duas componentes fortes: apoio social e prevenção. Fiel ao seu mandato, a Morabi continua a apostar forte em acções de informação, educação e comunicação (IEC), destacando-se a prevenção do cancro da mama e, claro está, do VIH-Sida, cujos portadores são beneficiados com atendimento médico, aconselhamento para a mudança de

comportamento e apoio social, em parceria com outras instituições. Como desafios futuros, Fátima Alves gostaria de ver criado, em São Vicente, um pólo de formação da organização para ministrar cursos de nível III que privilegiem a área do turismo em que há uma grande necessidade, o reforço da capacidade das associações, etc., mas em parceria com instituições locais, o que não acarretaria custos de maior. A coordenadora sonha também com a transformação do embrião que já existe num centro de informação e apoio psicossocial de grupos vulneráveis, designadamente de portadores do VIH e famílias afectadas. De resto, é trabalhar juntamente com parceiros locais – públicos, privados e da sociedade civil – para dar resposta às necessidades das pessoas com necessidades, levando para mais perto delas os serviços sociais que a Morabi presta, concluiu.

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ADEF em busca de financiamento

para continuar a ajudar

A Associação de Desenvolvimento e Formação de Pessoas de Condições Especiais de Cabo Verde (ADEF) vive dias difíceis por falta de apoios para continuar a apoiar as crianças, como vem fazendo desde 1999.

O

presidente Daniel Gomes recordou que a ADEF começou do nada, mas, desde então, marcou a diferença graças ao seu Centro de Reabilitação de Crianças Ana Monteiro, aberto em 2006, que atende diariamente 12 crianças, a maior parte com paralisia cerebral, das 8:00 às 16:00. Com uma despesa de 130 contos por mês, o Centro tem como parceiro principal a Direcção-Geral da Solidariedade Social e recebe igualmente apoios na área de consultas médicas e fisioterapia. A Associação de Agricultores e Pescadores de Calhau também aju-

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Daniel Gomes

da com verduras e há um mini-mercado local que oferece frutas para a dieta das crianças que frequentam o Centro, que é à base de líquidos e de duas em duas horas. Para além de São Vicente, onde tem o seu projecto mais importante, a ADEF abriu em Outubro, na cidade do Porto Novo, um espaço

de atendimento para 30 crianças a quem são garantidas uma refeição diária e formação em linguagem gestual. A Câmara local financiou o aluguel do espaço, mas o funcionamento é assegurado por um financiamento da organização americana ADF em sete mil e 500 contos, durante dois anos. A ambição é transformá-lo também num centro, disse Daniel Gomes, o mesmo sonho que acalenta para a ilha do Sal e também para o interior de Santiago. Na Praia, a ADEF trabalha em parceria com a Associação Acarinhar, que beneficia crianças com paralesia cerebral. A formação em linguagem gestual e braile é outra preocupação da ADEF, que gostaria de ter técnicos com essas competências para trabalhar com as crianças que atende.


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OMCV engajada no desenvolvimento local Criada a 27 de Março de 1981, a Organização das Mulheres de Cabo Verde (OMCV) em São Vicente continua fiel à sua filosofia de ser um instrumento de luta para uma melhor vida em Cabo Verde, particularmente das mulheres e respectivas famílias. Segundo a coordenadora pela região de Barlavento, Lily Tavares, a delegação de São Vicente continua a privilegiar acções que contribuam para o desenvolvimento da ilha com a participação da população local e a criação de um ambiente de ampla participação de vários intervenientes no desenvolvimento local. Paralelamente, a OMCV tem priorizado actividades de apoio à integração das mulheres chefes de família, crianças e jovens e a criação de espaços de intervenção e de concertação com vários intervenientes para o combate à pobreza e exclusão social.

(VBG) e o VIH-Sida, bem como de apoio psicológico e material a pessoas afectadas e infectadas pelo VIH-Sida. Os jardins infantis continuam a merecer a atenção da OMCV, que preside, actualmente o Conselho Directivo da Comissão Regional de Parceiros (CRP) de São Vicente do Programa de Luta contra a Pobreza no Meio Rural.

Aumento da auto-estima da mulher O maior desafio da Delegação continuará a ser a orientação das mulheres para o aumento da sua auto-estima, com vista a construir para si e suas famílias uma vida decente, com base na realização pessoal e uma profissão que as permitam garantir o seu sustento. A OMCV depara-se, contudo, com a falta de recursos para dar corpo a todos esses desígnios. De entre os parceiros mais importantes, Lily Tavares destaca o Governo de Cabo Verde, a Espanha, os Estados Unidos da América e o Luxemburgo. Os resultados da acção da OMCV, realçou a coordenadora, são bem visíveis, estando a mulher sanvicentina a participar, de forma activa, nas associações comunitárias em pé de igualdade com os homens, ainda que estes continuem a dominar nos cargos de chefia.

A procura de recursos e meios que propiciem uma maior intervenção da mulher no mundo do trabalho, com realce para o sector de micro e pequenas empresas, é, no dizer dessa responsável, o desafio permanente da organização. E as acções da OMCV, confirmou, são sempre dirigidas no sentido do empoderamento da mulher sanvicentina com projectos dirigidos à orientação e inserção da mulher, através do seu Gabinete de Orientação e Inserção Profissional da Mulher (GOIP- Mulher), capacitação profissional e atribuição de micro-crédito para actividades geradoras de rendimento. Nesse esforço, a organização desenvolve também acções de sensibilização sobre a violência baseada no género

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Aposta nos jovens para mudar o rosto de Ribeira de Craquinha e Pedra Rolada O mérito é da Associação Espaço Jovem (AEJ), que vem gerindo o Projecto Zona Sudeste do Mindelo, nos centros sociais de Ribeira de Craquinha e de Pedra Rolada e restante periferia do Mindelo, criando espaços alternativos para a ocupação dos tempos livres dos jovens. Segundo o director do Projecto, Ibrantino Delgado, beneficiam das acções dos dois centros, que são propriedade da Câmara Municipal de São Vicente, crianças, jovens e adultos a nível de actividades educativas, culturais e desportivas. Com vários grupos de dança e música, existe também uma orquestra que anima a programação de ambos os centros, com o desporto a enriquecer a oferta nas modalidades de basquetebol, andebol, futebol - com equipas que participam nos campeonatos regionais de São Vicente, nos escalões sub 17 e sub 19 -, aeróbica, taybox, entre outras. No plano cultural, o investimento tem sido na promoção de conferências e palestras, teatro e música, mas o combate à violência protagonizada por gangs constitui uma das grandes apostas da AEJ, que se tem distinguido pelo seu trabalho para a mudança de comportamento desses jovens, com acções de sensibilização e orientação profissional.

Ganhos da educação social Francisco Delgado, membro do conselho directivo que se dedica ao Centro de Ribeira de Craquinha, defende a mobilização de mais parceiras para as actividades da organização. Só assim, o Centro de Ribeira de Craquinha poderá continuar com acCaminhar • Novembro 2011

A parceria com organizações italianas, no dizer de Francisco Delgado, trouxe ganhos enormes para a Associação que, de Setembro de 2005 a Maio de 2006, em Turim, Itália, conseguiu formar dois educadores sociais. A AMSES e outros parceiros externos financiaram a construção do salão de espectáculos no primeiro piso do centro onde foram construídos também camarins e uma sala de música, no valor de mais de dois mil contos.

Mais recursos precisam-se

tividades na sala de jogos, biblioteca, espaços para ensino e salão de espectáculos, além de apoiar no estudo 50 crianças da primeira à sexta classes provenientes da escola que se situa ao lado, tendo como orientadores voluntários da comunidade. A AEJ ajuda, igualmente, seis estudantes do ensino superior, fez saber. Presidida por Frei Silvino, da Congregação de São Francisco de Asis, a AEJ tem contado com o apoio de associações italianas: Musica Spccia, Luminanda e a Associação de Capuchinhos AMSES e, no biénio 2010/2011, a Cooperação Francesa tem sido outro parceiro da Associação.

Ibrantino Delgado reitera que mais apoios e financiamentos são precisos para continuar a fazer esse grande trabalho que o projecto começou e no que conta com a parceria de outras instituições, destacando-se a Câmara Municipal, as Aldeias SOS, o Atelier Mar e a Plataforma das ONG na apresentação de projectos e acções de formação. A AEJ, confirmou, está a tentar parcerias também com o Ministério da Educação e as polícias nacional e militar, para conseguir melhorar as perspectivas de vida dos jovens da cintura do Mindelo. Da parte da Associação, são necessários quadros mais preparados e recursos financeiros para dar resposta às crescentes demandas da juventude sanvicentina.


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Presidente da ADECO

O ideial seria se todos os cabo-verdianos fossem sócios Este é o grande desafio da Associação de Defesa do Consumidor, ADECO, defende o seu presidente, António Pedro Silva, para quem a organização que dirige precisa também de mais recursos para poder enfrentar todos os poderes económicos do país. A ADECO, confirmou António Pedro Silva, já tem sócios em todas as ilhas e alguns até na diáspora – Portugal, Holanda, Estados Unidos, França, Itália -, mas “o ideial seria se todos os cabo-verdianos fossem associados da ADECO”. Pela concentração de pessoas e também de problemas que tem, a Cidade da Praia, na sua opinião, é onde a ADECO precisa crescer mais. Por uma questão de princípio, a Associação não apoia somente os cerca de dois mil membros que tem, razão porque tem necessidade de recursos visto que, explicou António Pedro Silva, “a ADECO é das poucas organizações em Cabo Verde que tem de enfrentar todos os poderes económicos.” Isso a faz ter um âmbito de actuação “de longe maior que todas as agências de regulação juntas, embora não tão profundo”, mas precisa de técnicos especializados, sobretudo juristas, para a assessorar, em várias áreas: energia, designdamente combustíveis e água, economia, banca, finanças, saúde, telecomunicações, entre muitas outras. Isso num país em que em cada mil cabo-verdianos apenas quatro contribuem para a ADECO, que, após em 14 anos de vida, continua ainda a viver essencialmente do voluntariado e alguma “carolice” dos seus membros, sendo certo que muitas instituições têm dado mais de si “por causa da ADECO”, lembrou António Pedro Silva. A educação financeira é uma aposta forte da ADECO e tem várias dimensões: informar, sensibilização e fazer pressão para levar à acção. A ambição da Associação é, com o envolvi-

António Pedro Silva

mento de instituições públicas, privadas e ONG, munir os cabo-verdianos de informações e conhecimentos para que possam conhecer melhor os seus direitos e exigi-los sempre.

Direito e cidadania No seu trabalho, a ADECO conta com parceiros internacionais, designadamente do Alto Comissariado das Nações Unidas, no quadro do projecto “Juventude na promoção de direitos humanos”, em curso desde há quatro meses. Numa primeira etapa, prevê a criação da “Orquestra da batucada dos direitos humanos”, que vai trabalhar com crianças e jovens da Ilha de Madeira considerada a zona mais difícil de São Vicente, onde a ADECO vai promover aulas de direitos humanos e cidadania, iniciação musical, aulas práticas de batucada e de economia doméstica e gestão.

O objectivo é capacitar os jovens para abandonarem os comportamentos de risco e para o exercício de uma profissão de forma interligada com a comunidade e a criação da sua própria orquestra, se for o caso, depois do que esta experiência piloto poderá ser multiplicada em outras zonas e ilhas. O Festival da Juventude para os Direitos Humanos é um segundo projecto que, a 18 de Dezembro, no Mindelo, terá a sua primeira edição com a chancela da ADECO, que se propõe promover os direitos humanos através da música, dança, grafite e outras expressões culturais. Se houver apoios, podem ser convidados jovens de outras ilhas, prometeu António Pedro Silva, cujo sonho é que este festival sirva de tribuna para a produção de cultura e cidadania, espaço de divulgação de boas mensagens e momentos de sã convivência. A ADECO tem sido, ao longo dos anos, uma instituição credível e descentralizada, assegurou o presidente, ao justificar a criação de uma delegação na Praia como um grande desafio, devendo as eleições ser a próxima etapa nesse esforço de ter uma representação forte na capital do país. Em termos de recursos, a Associação conta com uma verba anual de mil contos do Governo central, dos quais recebeu apenas 500, igual quantia que recebe da Câmara Municipal de São Vicente, mas que também chegou ainda a metade e com muito atraso, sem esquecer uma contribuição de 75 contos da Câmara do Porto Novo e cerca de 400 contos da edilidade salense todos os anos. Caminhar • Novembro 2011


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A reflorestação de São Vicente é sua marca maior

Na galeria das ONG de São Vicente, a Associação Amigos da Natureza, AAN, presidida por António Canuto, tem um lugar de destaque, há já 34 anos. A reflorestação da Ilha do Monte Cara é a sua marca maior, ao mesmo tempo que apoia pessoas vulneráveis com formação profissional, micro-crédito, melhoria habitacional, ligação domiciliária de esgotos, entre outras áreas. “Toda a reflorestação e actividade florestal é feita sobre mil e 500 hectares pertencentes ao Estado e ao município de São Vicente”, disse o director executivo da AAN, Aguinaldo David, explicando que a Associação trabalha mais três hectares que lhe pertencem, onde desenvolve as suas actividades produtivas e demonstrativas, sobretudo de formação prática e difusão de novas técnicas e tecnologias de produção. É que a Associação, garantiu, trabalha com uma tríade de objectivos: introdução de novas técnicas e tecnologias de produção, formação e procura de sustentabilidade no sentido de cada actividade ser sustentável em si e, tanto quanto possível, gerar mais-valia para sectores que podem, à partida, não ter

Aguinaldo David

viabilidade de curto prazo, nomeadamente a questão ambiental e a reflorestação. A AAN dedica-se aos sectores da pecuária com suinicultura, caprinicultura, ovinicultura, cunicultura, horticultura e transformação agro-alimentar com produção de queijo, devendo brevemente enveredar-se pela transformação de carnes.

A produção de rações é outra área de intervenção da Associação, que produz para consumo e venda em várias ilhas, mas essa é uma actividade empresarial separada da AAN, fez saber Aguinaldo David, que também é gestor dessa unidade produtiva. A formação profissional, no âmbito da qual partilha o Centro de Formação Profissional Meste Cunco com a Organização Nacional da Diáspora Solidária (ONDS), é outro projecto em que a Associação tem deixado o seu carimbo, ao mesmo tempo que tem contribuído para a melhoria de raças em todo o país. A AAN promoveu a construção de mais de 100 habitações através do sistema de entreajuda que beneficiou trabalhadores que não eram apenas da Associação, sem esque-

Amigos da Caminhar • Novembro 2011


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cer as 440 ligações domiciliárias de água feitas em 2010 com o apoio de vários parceiros. Nestas décadas todas, os Amigos da Natureza têm contado com parceiros de longa data como a Shell Cabo Verde e a SITA, a Câmara Municipal, o Governo e a Plataforma das ONG, para além de ter beneficiado de donativos e projectos financiados ou apoiados por instituições internacionais. Graças às diversas actividades que desenvolve, a AAN consegue à volta de 50 por cento dos recursos globais de que necessita para todas as suas intervenções.

Reconhecimento internacional Recentemente, a AAN acabou de executar o Projecto de Desenvolvimento Durável da Agricultura financiado pelo PNUD e pela União Europeia e teve como parceira a ANET, Associação Portuguesa de Engenheiros Técnicos, presidida por um cabo-verdiano. Orçado em mais de 288 mil contos (198.600 euros), a AAN foi uma das 50 organizações escolhidas de entre 650 concorrentes da Europa Leste, África Norte, América Cen-

tral, Ásia e África Sub-sahariana e o objectivo global desse projecto foi contribuir para o relançamento da agricultura e da pecuária como actividades económicas, criação de condições duráveis para as populações rurais e valorização dos recursos, contribuindo para o crescimento económico do país. O projecto investiu na capacitação de quadros, formação de agricultores em hidroponia, micro-irrigação, produção animal, abate e transformação, bem como na formação de formadores em transformação agro-alimentar, caprinocultura, produção de queijo tradicional, empreendedorismo, entre outras áreas. Esse esforço dos Amigos da Natureza em aumentar a contribuição do sector rural na luta contra a pobreza, na segurança alimentar, no reforço da coesão e da solidariedade social das comunidades rurais tem-lhe valido muito reconhecimento não só dos beneficiários como de instituições nacionais e estrangeiras. Da parte das Nações Unidas, destaca-se o diploma de mérito que recebeu do Global 500 Award 1989, Programa das Nações Unidas para o Ambiente, tendo, em 2000,

conquistado o Prémio Micadinaia desse ano pela Academia de Ciências e Culturas Comparadas. A AAN recebeu a 1ª Classe da Medalha de Mérito de Cabo Verde, em 2005, das mãos do Presidente da República Pedro Pires, enquanto o Governo atribuiu-lhe a menção honrosa do 1º Grau 2008. A ambição da AAN é continuar o percurso iniciado em 1977 com a abertura a áreas novas, embora viva, neste momento, uma grande incógnita em virtude de a Shell ter mudado de dono. Contudo, Aguinaldo David acredita que a multinacional continuará a ser um dos seus parceiros privilegiados, sendo um grande desafio mobilizar mais parceiros e parcerias para continuar a concretizar sonhos possíveis. É que, a curto e médio prazos, a Associação mantém como objectivos desenvolver, de forma sistemática, a plantação de árvores e a luta contra a desertificação, sensibilizar a população para a preservação do ambiente, promover a educação cívica das populações nesse domínio e disciplinar a criação de gado, para além de apostar em outras actividades que não só o comércio em torno dos centros urbanos e em iniciativas semelhantes noutras ilhas, rematou.

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Entre cuidados de SSR e promoção de comportamentos saudáveis

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Verdefam, Associação Cabo-verdiana para a Protecção da Família, tem o mérito de ser a única ONG no país inteiro que se dedica com exclusividade à saúde sexual e reprodutiva (SSR). Surgiu, em 1995, na Praia, com o mandato de dar o seu contributo nessa matéria, ser parceira do Ministério da Saúde e estar mais próxima das famílias e jovens numa matéria que exige muita proximidade. Desde que abriu as portas em São Vicente, em 1998, recordou a coordenadora local da organização, Odete Medina, a Verdefam tem trabalhado em todos os domínios da saúde sexual e reprodutiva, mas privilegia os jovens. As acções têm sido direccionadas para mulheres, homens e grupos vulneráveis e em situação de risco, fez saber essa responsável, realçando que as visitas domiciliárias e acções de proximidade junto às escolas e comunidade são constante no seu plano de actividades. A Verdefam intervém também na prevenção do VIH-Sida, na promoção dos preservativos (feminino e

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masculino) e prevenção do câncer de foro ginecológico, da gravidez precoce e do aborto, da mesma forma como oferece serviço de aconselhamento em SSR, consultas de planeamento familiar, ginecologia, pediatria, clínica geral, colposcopia e ecografias. Os seus principais parceiros são o Ministério da Saúde, as Nações Unidas, através do Fundo para a População (UNFPA), as câmaras municipais, o Instituo Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género (ICIEG), o CCS-SIDA, a Plataforma das ONG e várias associações comunitárias e ONG e é filiada no IPPF (Federação Internacional de Planeamento Familiar). Os maiores desafios da Verdefam continuam a ser integrar os homens nos serviços de SSR e combater mitos. Actualmente, a maior preocupação é diminuir a incidência do VIH-Sida e da gravidez precoce e reforçar a mudança de atitude face a comportamentos de risco. Em termos de prioridade, Odete Medina defendeu que no topo das atenções da Verdefam estão e vão continuar a estar a adolescência, o aborto e a prevenção VIH-Sida.


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Posto móvel ao serviços dos utentes em todas as localidades A Verdefam é a única ONG que trabalha com saúde sexual e reprodutiva (SSR) a levar o atendimento e os cuidados a todas as localidades de São Vicente, através do seu posto móvel. De acordo com a responsável do posto móvel de São Vicente, Jacqueline Cid Cruz, várias são as ofertas do posto, destacando-se consultas de clínica geral, de IST (infecções sexualmente transmissíveis), aconselhamento e despistagem de VIH-Sida e promoção e distribuição de preservativos feminino e masculino. A vantagem do posto móvel, que foi introduzido pelo Programa do Fundo Global de luta contra o VIH-Sida, reside no facto de ir ao encontro das pessoas nos locais onde moram, defende a médica, assegurando que a “grande mais valia é que trabalha junto e nas comunidades, com adultos, jovens e crianças, pessoas vulneráveis, levando informações, muitas das quais as pessoas desconhecem”. Com um ano de actividade, o posto móvel é já conhecido de todos os sanvicentinos e tem um programa de deslocações às comunidades a partir das 16:00, quatro vezes por semana, fez saber essa responsável que, na Delegacia de Saúde de São Vicente, também trabalha na área das IST/VIH-Sida. “O balanço da actividade do posto é positivo”, confirma Jacqueline Cruz, para quem o posto móvel privile-

Jacqueline Cid Cruz

gia todos os bairros do Mindelo, dando especial atenção às comunidades mais pobres, sendo seu alvo preferencial jovens e adultos vulneráveis, usuários de droga e profissionais de sexo. O maior desafio do trabalho que vem realizando continua a ser a mudança da mentalidade das pessoas, de modo a fazer com que passem a se cuidar mais. “E já há pessoas que procuram o preservativo feminino porque lhes dá prazer e isso é um ganho”, frisou. A preservação vai continuar a ser a mensagem chave do trabalho do posto móvel, promete a médica, ao destacar o investimento na informação e sensibilização como uma conquista a ser ganha todos os dias. Como prioridades Jacqueline Cruz apontou a necessidade de dotar o posto móvel de um(a) enfermeiro(a) em regime permanente ou uma técnica social para o terreno, dado que, até agora, apenas a médica é fixa, havendo outros técnicos da Verdefam que prestam serviços aos utentes e uma psicóloga que apoia o trabalho que vem sendo desenvolvido. A aquisição de mais um posto móvel para São Vicente é vista pela médica como uma forma de melhorar a oferta da Verdefam, que poderia estar mais tempo e em lugares diferentes ao mesmo tempo, diversificando a oferta.

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Centro Comunitário Novos Amigos

Um projecto ambicioso com Graças ao financiamento das Cooperações Alemã e Francesa, em 2004, a Associação Comunitária Novos Amigos (ACNA) construiu o Centro Comunitário Novos Amigos onde funciona a sua sede social e o jardim infantil.

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ctualmente, o Centro está a passar por uma requalificação e transformação num centro de desenvolvimento juvenil e social com o apoio da Cooperação Austra-

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liana, mas o jardim infantil “Novos Amigos” será certamente o projecto mais conhecido da Associação. Já lá vão 17 anos, o jardim dá conta de 300 crianças das zonas de Fernado Pó e Ribeira de Craquinha, nos dois períodos do dia. José Lopes é o gestor do Projecto de Desenvolvimento da Associação, que tem como meta dar sustentabilidade a essa infra-estrutura que vai ter um pátio totalmente coberto, mais um gabinete

de atendimento, mais uma casa de banho, para além de introduzir melhorias nas salas, cinco das quais do jardim. O Ministério que tutela a solidariedade social é o grande parceiro nacional da ACNA a quem contempla com 600 contos anuais, assim como o Ministério da Educação coloca quadros e assegura apoio técnico-pedagógico ao jardim, para além do Programa Nacional de Luta contra a Pobreza.


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rosto de mudança A Câmara local contribui com 150 contos por ano, a Fundação Cabo-verdiana de Acção Social Escolar (FICASE) apoia com igual valor em géneros alimentícios e o Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA) apadrinha crianças e tem apoiado com técnicos. As Aldeias SOS, a ASA, a Plataforma das ONG e alguns emigrantes são outros parceiros com que a ACNA conta no seu trabalho. Os novos mobiliários para o jardim foram oferta do Fundo Canadiano. Os pais que podem contribuem com mil escudos mensais para o jardim e os que não podem dão outro tipo de ajuda, confirmou José Lopes, depois de explicar que a ANCA explora, em Ribeira de Vinha e por um período de 10 anos, uma horta num terreno do Ministério da Agricultura.

Melhorar atendimento O objectivo da ACNA é melhorar o atendimento que presta à comunidade, anunciou o gestor do

Centro, ciente de que há dois grandes investimentos a serem feitos: ajudar na reinserção dos jovens no mercado de trabalho e ter um espaço de acolhimento de crianças para garantir o seu desenvolvimento harmonioso. Para o futuro, a ACNA, como disse José Lopes, precisa de mais parceiros para desenvolver actividades destinadas aos jovens e investir na formação profissional, que privilegiará mães solteiras, além de reforçar as intervenções nos domínios de saneamento, melhoria habitacional e apoio a idosos com cesta básica e assistência medicamentosa. Para a pretendida sustentabilidade do Centro, a ACNA pensa na promoção de actividades geradoras de rendimento, através do empreendedorismo jovem para a exploração de algumas áreas produtivas e após investir na formação dos promotores. Os 21 anos de vida da ACNA valeram a pena, esta é a opinião de José Lopes, destacando como prova das realizações conseguidas os ser-

José Lopes

viços que assegura à comunidade e que constituem uma referência até para os parceiros internacionais. Com 85 membros, a Associação tem pela frente uma grande “batalha”: a luta contra a delinquência juvenil que tem aterrorizado a comunidade de Ribeira de Craquinha nos seus oito bairros sociais. A inserção, na opinião do gestor, deverá ser a resposta da ACNA, que vai trabalhar em parceria com instituições vocacionadas, na formação profissional e programas de ocupação dos tempos livres dos jovens com actividades de música, teatro, desporto, etc.

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Liga das Associações Juvenis

O reforço do movimento juvenil é o limite A Liga das Associações Juvenis tem o mérito de ter transformado o mundo associativo juvenil em São Vicente, onde já não se fala tanto em grupos ou maltas, o que, segundo o seu presidente, Helmer Fortes, se deve ao grande envolvimento da organização que lidera.

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ste é um dos grandes resultados do trabalho da Liga, garante Helmer Fortes, no entendimento de que as associações juvenis passaram a ser uma referência do activismo social e cívico em São Vicente, porquanto as associações estão, hoje, mais empoderadas e capacitadas para apresentar e negociar projectos. Reconhece como um grande investimento a ser feito a definição de estratégias de actuação por parte de cada associação ou grupo membro da Liga, sendo prioridade reforçar o movimento juvenil em São Vicente. Para a Liga, um dos objectivos da nova direcção, que tomou posse em Setembro de 2010, é fazer o mapeamento dos grupos sociais juvenis de São Vicente para ter uma ideia real da mobilização juvenil na ilha e também recolher dados para a definição de estratégias de intervenção que vão de encontro às necessidades de cada associação, assegura Helmer Fortes.

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Helmer Fortes

Parte do financiamento desse projecto, já em curso, veio do Ministério da Juventude, Emprego e Desenvolvimento dos Recursos Humanos e da Rede Rassol no valor de 600 contos. Contudo, a acção mais visível da Liga, segundo o presidente, tem sido a capacitação das associações, com destaque para a gestão associativa, liderança juvenil, liderança feminina e empreendedorismo, no que conta com as parcerias do Centro de Juventude, Câmara Municipal, Rede Rassol, Direcção-Geral do Ambiente, bem como da Associação Altair, da Galiza, Espanha, que promove a educação não formal.

Com 87 organizações juvenis formais e informais, a Liga, criada em Março de 2005, tem como grandes desafios ter novas instalações e a promoção da lei do mecenato juvenil de modo a levar as empresas a apoiarem projectos juvenis. Paralelamente, a Liga pretende investir na promoção de assembleias locais feitas por zona com a finalidade de conhecer as necessidades e potencialidades de cada localidade e de cada organização e ver como a Liga poderá ser mais útil na sua acção. Em parceria com o Programa dos Voluntários e a Plataforma das ONG, a Liga vai participar na feira dos três sectores, que será realizada em Dezembro provavelmente, na FIC, onde tanto o Estado como as empresas deverão apresentar os seus feitos em serviço social. Nesse evento, confirmou, as ONG e associações vão mostrar as diferentes áreas de intervenção, estando em negociação apoios por parte da Rede de Organizações Mobilizadoras de Voluntariado.


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ETNASA em nome do salvamento aquático A Escola Técnica de Natação e Salvamento Aquático, ETNASA, é uma associação desportiva e cultural que, desde 2005, promove a natação e o desporto humanitário de salvamento aquático, com vista a desenvolver e fomentar a prática regular e massiva de modalidades desportivas aquáticas que estimulem o interesse dos praticantes da natação e melhoria da habilidade e vontade pelo salvamento em meio aquático. Alexandrino Dias, presidente da ETNASA, destaca como actividades mais importantes da Escola a realização de cursos de monitores de natação e desporto humanitário de salvamento aquático, o ensino de natação básica de níveis NS-0 e 1 e acções de sensibilização de jovens sobre preservação ambiental, VIH-Sida, droga, alcoolismo e violência doméstica. A Escola desenvolve também formações em salvamento aquático para nadadores e reciclagem de técnicos, faz concursos de natação e provas de DEHUSA e tem participado em várias acções de formação, incluindo de promotores de saúde. Realiza palestras para públicos diversos sobre “Poluição marinha e segurança no meio aquático”, que faz cursos de natação básica grátis para carenciados e participa em campanhas de sensibilização. Com presença no Open Sandy 2011 e na VII edição dos Jogos Desportivos Aquáticos, a ETNASA conta com a Plataforma das ONG como parceiro, assim como com os Sindicatos de Trabalhadores em São Vicente, a Direcção-Geral do Desporto e o Skibosurf Club do Mindelo. Os seus maiores desafios continuam a ser a falta de uma sede e de recursos materiais e financeiros para a realização dos seus planos de actividade. Alexandrino Dias queixa-se, igualmente, da falta de sensibilidade, interesse e incentivos para a natação desportiva que tem poucos praticantes e da ausência de infra-estruturas de apoio à natação e outras modalidades aquáticas. Na sua óptica, em São Vicente, exceptuando o futebol, as restantes modalidades desportivas padecem de fraca dinâmica e excessivo individualismo.

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Ousadia no incremento de actividades náuticas desportivas Fundado oficialmente em 20 de Dezembro de 1993 por um grupo de amigos surfistas da praia da Laginha - berço do skimming, surf e do bodyboard mindelense -, o SkiBoSurf Club Mindelo, desde cedo, personificou o antigo e o pequeno sonho de adolescência de alguns jovens mindelenses de criar um clube que representasse todas essas modalidades desportivas.

Os projectos do Club têm sido essencialmente desportivo e ambiental, dada a ligação da cultura do surf com a natureza, explica o secretário Ivan Guimarães, avançando que todos os eventos desportivos incluem a tradicional campanha de limpeza das praias com o engajamento de todos quantos praticam a modalidade e os que frequentam as praias. O Club tem deixado a sua marca através da realização de outras actividades, merecendo menção o I Workshop “Surf, Ambiente & Cidadania”, que teve como atracção especial a bodyboarder Dora Gomes que foi profissional de Bodyboard durante 17 anos, com várias vitórias mundiais, e também a formação de júris e membros de direcção de eventos, ministrada pelo antigo júri da Federação Portuguesa de Surf, João Cortez. No “Fim-de-semana 100% Surf” foram ministradas aulas de bodyboard para crianças com palestra sobre bodyboard animada pela

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campeã portuguesa e europeia de bodyboard, Rita Pires, enquanto o projecto “Surfista Salva-Vidas”, implementado em parceria com a Escola Técnica de Natação e Salvamento Aquático, ETNASA, formou 25 surfistas em técnicas de salvamento aquático.

Formação em primeiro plano O Workshop Surf & Turismo, com significativa adesão de operadores, estudantes de turismo, atletas e membros da sociedade civil, foi oportunidade para debater a inter-relação entre a prática do surf

e outros desportos náuticos e o desenvolvimento da actividade turística em Cabo Verde. O mesmo contou com intervenções de Jason Mascarenhas, atleta e sócio-fundador do Skibosurf, e convidados internacionais como Victor Henrique Ferreira, professor universitário de Turismo no Brasil, MBA em Gestão de eventos culturais e consultor em planeamento turístico e hoteleiro. Em parceria com as Aldeia SOS, o SkiBoSurf Club Mindelo realizou, em Abril de 2011, um programa de surf para crianças beneficiárias da instituição, e o Dia do Surf, cuja primeira edição contou com várias


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sub-actividades: aquecimento ambiental, aulas de surf e bodyboard e confraternização. O projecto “Surf nas escolas” constitui outra iniciativa do Club, com a particularidade de ser um projecto-piloto em todo o país e prevê a integração das escolas no desenvolvimento de actividade náuticas desportivas, principalmente nas comunidades piscatórias de São Vicente. Segundo Ivan Guimarães, o Club regozija-se pelos parceiros que tem, com destaque para Câmara Municipal de São Vicente, ETNASA, ADECO, FINICONTAS, TACV, LOD ESCUR e ENAPOR, entre outras empresas. Mostra-se, por outro lado, convicto que valerá a pena cooperar com os Ministérios que tutelam o

Desporto e o Turismo em projectos de capacitação de jovens para monitores de surf e bodyboard, de forma a prestar um serviço de qualidade para o turismo e o desenvolvimento dos desportos náuticos. Ivan Guimarães acredita que as prioridades são desenvolver projectos que integram jovens no desporto náutico aliados ao desenvolvimento de actividades geradoras de rendimento.

Mas o Club SkiBoSurf Club Mindelo também deve continuar a luta por instalações adequadas, junto de instituições que poderão ajudar nessa matéria, o que permitiria uma melhor organização e dinamismo da Associação.

Formações para o desenvolvimento de actividades geradoras de rendimento figuram igualmente das preocupações do Club, que se propõe apoiar na inicialização de negócios, nomeadamente na área do surf/turismo (surf guides/surf school). A sensibilização de mulheres para participarem activamente nas actividades da Associação é uma pretensão a ser posta em prática, assim como a promoção de acções de informação e educação dos jovens, sobretudo nos zonas piscatórias e periféricas. O reforço institucional e a sustentabilidade da Associação constituem, como não podia deixar de ser, duas metas a atingir, a par da aquisição de equipamentos para actividades desportivas e sócio-culturais e um sistema de som apropriado para eventos nas zonas costeiras. E sonhos outros existem, nomeadamente o de trazer um campeo­ n ato mundial de body­ board para Cabo Verde, que já participou no campeonato mundial nas Canárias.

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FIF: As crianças são prioridade A FIF está em São Vicente desde Dezembro de 2002, altura em que foi criado o núcleo da Fundação com apenas três voluntários que pôs de pé o seu projecto mais querido: o jardim infantil da Ribeira de Calhau. Tudo começou com a formação de orientadoras para o jardim, que começou a funcionar em Setembro de 2004, recordou a volutária da FIF Lourença Bernarda Lopes, para quem, de lá para cá, as coisas têm corrido de forma satisfatória. “Achamos que o balanço é positivo”, assegurou Lourença Lopes, crente de que a FIF tem dado uma boa contribuição para a educação na ilha de São Vicente. O ano de 2008 constitui outro marco para a Fundação que fez uma capacitação de líderes comunitários, gestores de pólos e professores para poderem ter uma intervenção com alguma qualidade no terreno.

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Lourença Bernarda Lopes

“Quando apareceu o Programa do Fundo Global (de luta contra o VIH-Sida nos grupos vulneráveis), a FIF candidatou-se para recipiente secundário e passou a trabalhar com escolas e a apoiar alunos de três liceus, beneficiando adolescentes vulneráveis ou órfãos, alguns dos quais infectados pelo VIH-Sida”, fez saber.

Desde Outubro de 2010, a FIF tem apoiado, igualmente, 10 doentes crónicos com cesta básica e algum atendimento sócio-afectivo, sendo todos portadores de VIH-Sida. A volutária lamentou o facto de a organização não dispor de respostas aos pedidos de apoio que tem endereçado a diversas instituições para poder atender às demandas de mais pessoas vulneráveis. Mas grande visibilidade tem tido a Fundação com os concursos de pequenos cantores e pequenos bailarinos. “O objectivo é levar as crianças a terem respeito pela nossa cultura para a poderem preservar”, explicou Lourença Lopes, para quem, no último ano, a FIF teve dificuldades em realizar essas actividades. Recorde-se que, no primeiro ano das suas actividades na ilha, foram parceiros da FIF a Shell, a Enapor e a Igreja de Jesus Cristo dos últimos dias.


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Cruz Vermelha

“Viver sem medo” apoia pessoas em situação de risco A Cruz Vermelha (CVCV) de São Vicente destacou-se, nos últimos anos, pelo seu apoio a pessoas em situação de risco, designadamente usuários de droga, portadores de VIH e profissionais de sexo, no âmbito do Projecto “Viver sem Medo”, único em todo o país. O coordenador local da organização, João Paulo Lima, informou que o Centro, que trabalha das 8:00 às 22:00 todos os dias, acolhe 13 pessoas fixas, das quais apenas três mulheres, garantindo diversos apoios: assistência médica, de enfermagem e de psicologia, medicamentos, análises clínicas, alimentação, alojamento e condições para tomarem banho e lavarem a sua roupa. Segundo a psicóloga Patrícia Baptista, estão cinco pessoas a dormir no Centro porque não têm onde fazê-lo e isso é uma forma de não ficarem “ao Deus dará”. Beneficiam, igualmente, do projecto mais quatro pessoas com alguns apoios específicos (análises, consultas e medicamentos), havendo mais 10 pessoas que recebem ajuda ao domicílio, cesta básica e até kits escolares, principalmente os três órfãos contemplados. O Centro investiu também na ocupação dos seus beneficiários, tendo ministrado uma formação na área de

João Paulo Pina

cerâmica e batik, em parceria com o Centro de Emprego. “Foi a melhor coisa que fizemos, porque mudou o comportamento dos nossos utentes”, defendeu João Paulo Lima, ao mostrar as diversas peças produzidas e que já estiveram em algumas exposições que a CVCV realizou. A aposta da Cruz Vermelha é que os formandos comecem a trabalhar em equipa. Já foram compradas ferramentas para o efeito, tendo a Câmara Municipal oferecido um espaço para alojar uma eventual “oficina”, para além de ter dado trabalho a dois deles na área do saneamento. O Centro foi aberto em 2007 com 25 pessoas, com o apoio do CCS-SIDA. Dos que o deixaram, há registo de um único óbito, havendo um ou outro que conseguiu um projecto de vida, mas são poucas as famílias que apoiam os seus membros atendidos pelo Centro, garantem esses responsáveis.

Lar da terceira idade de Ribeirinha O lar da terceira idade da Cruz Vermelha foi criado há mais de 15 anos pela Câmara Mu¬nicipal e é o único espaço de acolhimento de idosos de todo o país em regime de internamento. Neste momento, acolhe 22 idosos, a maioria homens, para além de quatro pessoas que o frequentam das 8:00 às 17:00. Os apoios incluem ali¬mentação, vestuário, assistência médica, medicamentosa e psicológica, animação, etc., mas usufruem de actividades externas como visitas domiciliárias a idosos acamados, aniversários co¬lectivos e passeios. Segundo João Paulo Lima, o lar conta com o apoio de vários parceiros, desta¬cando-se a Câmara Municipal que é o proprietário do espaço onde funciona, as confissões religiosas,

algumas em¬presas locais, a Delegacia de Saú¬de, o Hospital Baptista de Sousa e a Emprofac com medicamentos. O lar conta com um consul¬tório médico, onde o clínico geral vem uma vez por semana para dar consultas aos seus beneficiários, assistidos também por um psicólo¬go, um nutricionista e um médico maxilo-facial. O lar tem um serviço de camarotes para homens e para mulheres, uma sala de convívio/refeitório, um es¬paço de lazer, um pátio para banho de sol diário e espaços de higienização. Contudo, admitiu João Paulo Lima, o lar precisa ser ampliado para criar condições para actividades didácticas, educati¬vas, recreativas e de lazer e uma pequena biblioteca.

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Ambiente na boca do povo A Associação para a Defesa do Meio Ambiente, Biosfera I, considera que, nos seus três anos de existência, conseguiu um feito notável que foi colocar na boca de todos, pela primeira vez, a palavra ambiente.

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residida por José Melo, esta Associação marcou a sua aparição pública durante a Ecofeira de 2006, a primeira realizada em Cabo Verde. Sob o lema “Conhecer para proteger”, o evento teve como objectivo alertar e despertar a população para os problemas e ameaças que rondavam o nosso ambiente. Durante 15 dias, no Mindelo, a Ecofeira abordou temáticas relacionadas com problemas ambientais, nomeadamente extracção de inertes, preservação de aves marinhas, apanha de tartarugas e ovos, degradação de praias e oceanos pela poluição, uso de técnicas destrutivas de apanha de produtos marinhos, pesca da lagosta

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desrespeitando as leis vigentes e pescaria desenfreada dos tubarões. Informação, sensibilização e educação ambiental nas escolas e fora delas tem sido uma grande aposta da Biosfera I, que criou um centro de recuperação de animais selvagens que já devolveu ao mar quase 100 tartarugas, entre elas uma caretta caretta e uma tartaruga verde. O acampamento ecológico é outra iniciativa dessa Associação desenvolvida com alunos dos liceus, professores e biólogos, tendo uma expedição ao Ilhéu Raso, em 2007, sido um marco importante, porquanto permitiu fazer a cobertura de uma matança que ascendeu as 12.000 crias e cujas imagens foram expostas em Mindelo, Praia e Lisboa, Setubal e Leiria (Portugal). Os tubarões têm sido outra “paixão” da Biosfera I com denúncias sobre a sua pescaria desmedida e insus-


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tentável patenteada em exposição no Mindelo, pelo Dia Internacional dos Oceanos, 8 de Junho, acompanhada de palestras sobre a importância desses animais, tendo a Praia acolhido igual inciativa. Em 2008, a Biosfera I esteve na onda com uma gincana ecológica recheada de jogos de temática ambiental, limpeza do fundo marinho da zona da praia da Laginha, torneio de futebol de areia, natação e muitas outras actividades. O “Ilhéu Raso 2008” foi o tema que mobilizou a atenção numa campanha de sensibilização nas comunidades piscatórias e nos principais centros urbanos do país e além fronteiras em prol da defesa das cagarras, seguida de uma acção de protecção das suas crias no seu próprio habitat.

Tenacidade e perseverança Com a preservação na ponta da língua, a Biosfera I tem participado em eventos nacionais e internacionais levando a mensagem da protecção ambiental e apontando soluções para as ameaças actuais. Vencedora do projecto SGF da PRCM no valor de 39.719 euros, a Biosfera partiu para a conservação de aves na Área Marinha Protegida (AMP) de Santa Luzia e Ilhéus, estando, actualmente, a trabalhar nisso, tendo como parceiros a Direcção-Geral do Ambiente, a WWF Cabo Verde, o INIDA, a Associação Amigos do Calhau, a SPEA Portugal e a Universidade de Cambridge. Há já alguns anos, a Universidade de Cabo Verde tem sido outra parceira da Biosfera I, sobretudo na for-

mação de técnicos nacionais em metodologias de anilhagem e monitorização de aves, com o apoio de um técnico da SPEA e de um antigo caçador de cagarras. A Enacol apoiou na aquisição de uma embarcação semi-rígida que será utilizada conjuntamente com as autoridades na fiscalização da AMP de Santa Luzia e Ilhéus. De Fevereiro a Maio de 2010, a Biosfera I concentrou os seus esforços na sensibilização e educação ambiental nas escolas secundárias sobre a legislação vigente no que toca às espécies em perigo, manuseio das aves, etc. Em Junho de 2010, esteve no Ilhéu Raso juntamente com o seu parceiro português (SPEA) com a finalidade de catalogar, com pontos de GPS, a área de nidificação das 270 cagarras. Em Julho/Agosto do ano passado, iniciou a sensibilização de estudantes de várias escolas e crianças mais desfavorecidas com acampamentos em praias afastadas dos centros urbanos, onde os mesmos aprenderam as boas práticas para a preservação do ambiente. Em Maio des ano, a Biosfera realizou a primeira campanha de protecção das tartarugas marinhas, depois do que fez uma expedição a Santa Luzia para limpar uma das praias que recebe tartarugas na época de nidificação, ao mesmo tempo que continuou o trabalho de protecção e monitorização das cagarras durante todo esse mês. A formação e a orientação dos agentes de autoridade quanto à legislação e manuseio das aves foi outra aposta da Biosfera I, que tem sensibilizado a população através da comunicação social e exposições temáticas, neste seu (e nosso) combate pelo ambiente em Cabo Verde.

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Centro Social SOS do Mindelo

Ofertas para melhorar a vida de crianças O Centro Social SOS do Mindelo pertence à Fundação Aldeias SOS de Cabo Verde e acolhe, diariamente, 120 crianças a quem garante cuidados e ocupação diariamente. Tem apenas três anos e o seu maior desafio continua a ser apoiar as famílias para poderem cuidar dos seus filhos, defende Miguel Lopes Monteiro, responsável da formação profissional do Centro. O objectivo do Centro, que se localiza em Ribeira Julião, é atender crianças em risco: crianças de rua, filhos de pais toxicodependentes e que consomem álcool e também de pais que saem durante o dia, ao mesmo tempo que desenvolve actividades com 160 famílias, apoiando-as na procura de emprego, capacitação, promoção e financiamento de actividades geradoras de rendimento. Em média, 120 crianças passam pelo Centro, que funciona das 8:00 às 16:00, onde têm três refeições diárias. Há situações de internamento de crianças em situação mesmo difícil, mas são os casos mais graves, explica Miguel Monteiro, admitindo ser o centro apenas uma “casa de passagem” onde 12 crianças já foram atendidas, tendo ficado até dois anos, sob os cuidados de uma mãe e uma tia. Criado em 2008, o Centro tem na formação profissional um investimento importante e garante capacitação em várias áreas, algumas no seu espaço e outras através do encaminhamento para outros parceiros: Câmara Municipal, Escola Celesiana e Centro Nhô Djunga. No seu espaço, há sempre jovens em formação e, neste momento, decorre uma capacitação de costura para 10 ra-

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Miguel Lopes Monteiro

parigas. Ao longo do ano passado, foram capacitados 22 jovens. Sempre são mais mulheres as beneficiadas, sobretudo com micro-crédito para as actividades geradoras de rendimento, tendo já 48 recebido financiamento para pequenos negócios, havendo muitos casos de sucesso.

Recursos precisam-se A captação de recursos é outra aposta do Centro que, para o efeito, abriu, agora, o Gabinete GEMOR, que tem por finalidade a mobilização de fundos junto de parceiros nacionais e internacionais. A meta é aumentar e diversificar a oferta, sobretudo para atender mais fa-

mílias carenciadas que não têm trabalho, vivem em condições pouco dignas e não podem responder às necessidades dos seus filhos. A ideia do programa, segundo Miguel Monteiro, é ajudar a preparar as famílias para a vida, dando lugar a outras em situação difícil. Com base na experiência adquirida, o Centro elegeu o trabalho com as comunidades como uma forma de dar resposta à desresponsabilização das famílias em relação aos filhos, sendo certo que muitas se esforçam para melhorar e os casos mais difíceis rondam 40 famílias com as quais o trabalho não tem sido fácil. Tratando-se da única instituição virada para essa problemática, o Centro, garantiu esse responsável, vai continuar a sua estratégia de trabalhar com crianças, mas no seio das respectivas famílias e lá nas comunidades onde residem. Precisará de mais apoios, razão porque, da parte do Governo, Miguel Monteiro acha que deveria haver muito mais atenção para as instituições que trabalham essa problemática. Para conhecer o programa de cada uma, promover sinergias e estender a mão para um investimento comum em prol das crianças sanvicentinas, concluiu.


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Associação Agro-Pecuária de Calhau e Madeiral

A pensar numa agricultura mais rentável Com espírito de luta por melhores condições de vida para os agricultores, criadores e as populações de Calhau e Madeiral, a Associação Agro-Pecuária de Calhau e Madeiral tem protagonizado a dinamização do sector. Para José Fortes, presidente desta Associação criada em 2007, a prioridade é o desenvolvimento da agricultura e pecuária e a organização a que preside tem tido um papel reivindicativo nessa matéria. Graças a isso, informou, foi possível conseguir a legalização das parcelas agrícolas de Calhau que, desde os anos 60 do século passado, começaram a ser exploradas pelos seus pais, depois fez-se o desassoreamento dos diques, permitindo, assim, aumentar a capacidade de retenção da água. Trata-se de um investimento feito pelo Ministério do Desenvolvimento Rural (MDR), que também tem dado financiamento para apoiar agricultores, sobretudo na introdução de rega gota a gota, na construção de tanques e na recuperação de poços e aerobombas, o que foi muito bom porque Calhau foi vítima de 10 anos de seca, nos últimos tempos, e muitas hortas estavam inactivas. Em termos de resultados do trabalho que vem sendo desenvolvido pela Associação, José Fortes destacou a realização da feira/exposição de produtos de Calhau em 30 de Julho último, onde, em stands diver-

José Fortes

sos, fez-se a amostra de produtos da agricultura e pesca, produtos transformados e animais vivos. Apesar de haver 160 parcelas agrícolas trabalhadas em Calhau pelos mais de 200 agricultores locais, da Associação fazem parte cerca de 70 agricultores. No espaço cedido pelo MDR, funciona a sede da organização, equipada com o apoio da Rede Rassol, e um telecentro que teve apoio do Centro de Juventude. A maior dificuldade com que se depara a Associação é o clima que é adverso, admitiu José Fortes, reconhecendo, contudo, que os dois poços disponíveis têm garantido a água necessá-

ria para as actividades de agricultura. Mas a acção da Associação não se limita apenas à agricultura e pecuária, confirmou esse líder associativo ao destacar o desenvolvimento comunitário como uma parte muito importante do trabalho que vem sendo feito na localidade. Com base em parcerias com a Morabi, Câmara Municipal, Centro de Juventude, entre outros, a Associação tem realizado campanhas de informação, educação e comunicação (IEC) para a prevenção das infecções sexualmente transmissíveis (IST) e VIH-Sida, consumo de drogas e álcool, violência baseada no género e promoção dos direitos humanos. No âmbito do Programa “Casa para Todos”, a Associação prevê conseguir apoios para a reabilitação de 30 casas na zona de Madeiral. No futuro, José Fortes acha que valerá a pena partir para a modernização da agricultura com estufas, agricultura protegida, rega gota a gota e hidroponia. Tudo vai começar com a sensibilização dos agricultores para a introdução de novas técnicas e dos jovens para mostrar que o sector pode ser uma alternativa para sair da pobreza. Caminhar • Novembro 2011


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Andorinha entre desporto e empoderamento juvenil

Jailson Coelho

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A Associação Desportiva Andorinha Futebol Clube não se dedica apenas à promoção e desenvolvimento da modalidade na Ribeira de Calhau. A sensibilização de jovens em palestras, encontros e sessões de animação cultural tem ocupado boa parte da energia desta Associação com mais de 70 sócios, cuja equipa está trabalhando para um lugar de destaque no futebol inter-zonas. Segundo o presidente Jailson Coelho, a equipa criada em 1993 já conquistou mais de 100 taças, tendo conseguido o segundo lugar no torneio inter-zona, há dois anos. A Associação, fez saber, tem trabalhado também em outras áreas para a angariação de fundos para a escola e o jardim da Ribeira de Calhau, em 2010, recolha de materiais escolares para crianças pobres, doação de sangue, entre outras iniciativas. Neste momento, a prioridade da Associação oficializada em 2008 é construir uma sede, muito embora ainda não tenha conseguido um terreno na Câmara. Enquanto isso, Jailson Coelho assegurou que a Andorinha vai continuar a apostar na formação futebolística, estando a pensar na criação de uma equipa da velha guarda para os jovens com mais de 35 anos no seio dos quais o alcoolismo é um problema sério.


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Pa Piknin d’Calhau

O mais importante: protecção ambiental A Associação Comunitária Pa Piknin d’Calhau, criada em 2006, tem na protecção ambiental a sua grande bandeira. O projecto “Calhau Verde” implementado em 2010 tem mobilizado a organização liderada por João Fernandes. João Fernandes

Ao todo, foram plantadas 400 árvores de entre palmeiras, acácia rubra, nim e purgueira e foram distribuídas 40 árvores no âmbito da iniciativa “Cada família uma árvore”, pelo Dia Mundial do Ambiente, 5 de Junho. “Calhau limpo” foi, entretanto, a primeira etapa desse engajamento a favor do ambiente, que permitiu, no 1º de Maio de 2009, altura em que a praia local recebe inúmeros grupos para passeios, realizar uma mega campanha de sensibilização e recolha de lixo em todas as praias ao redor de Calhau, assegurou João Fernandes. “Sabores de Calhau” foi outra experiência realizada pela Associação para apresentar e saborear a comida típica da zona com oferta de pratos variados que incluíram cachupinha, petiscos, mariscos, cuscus, queijo, etc. A melhoria das condições de vida das camadas mais pobres da comunidade, com realce para crianças e idosos, constitui outro objectivo da Associação que, nestes cinco anos de vida, também se dedicou à afirmação da organização, cuja sede é única em toda a ilha de São Vicente: um contentor oferecido pela Alfândega da Praia e onde funciona um cyber espaço. Graças aos apoios que chegam de muitos parceiros, nacionais e estrangeiros, Pa Piknin d’Calhau ajuda crianças com transporte escolar, garantiu João Fernandes. Para “premiar” alunos da sexta classe que estudaram bem, a Associação promoveu, em 2009 e 2010, um passeio a Santo Antão para conhecer a ilha vizinha durante três dias e isso com o apoio de sócios portugueses da Associação que financiaram a iniciativa. Com o pólo educativo local, Pa Piknin d’Calhau assinalou, em 2010, o 1 de Junho, Dia da Criança, e as actividades recreativas e culturais juntaram 770 alunos de Madeiral/Calhau. Apesar das suas dificuldades financeiras, os fundos próprios angariados com actividades que gerem receitas (exploração da Internet e jogos), a Associação apoiou, no valor de cem contos, a electrificação de duas casas, em Madeiral e Calhau. A nova direcção eleita, em Setembro último, pensa continuar a reforçar a capacidade de intervenção de Pa Piknin d’Calhau em prol das populações vulneráveis locais.

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Associação de Pescadores de Salamansa

Em busca de mais peixe e apoios A Associação de Pescadores de Salamansa está sedeada na Casa dos Pescadores, cedida pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento das Pescas (INDP), que funciona como centro social local, depois de remodelada em 2006 com o financiamento da Cooperação Espanhola, através do Atelier Mar.

na localidade acidentou-se e a sua reparação No âmbito desse projecto, foi adquicusta mais de cinco mil e 500 contos, um rido um camião que apoia no transporte montante que o seu proprietário não consede pescadores, que fixam os seus botes na guiu arrecadar. Baía das Gatas, e do peixe para a cidade, Neste cenário, a Associação vê como disse o vice-presidente Carlos Brito. uma das prioridades conseguir um barco Muitas acções de formação têm benefipara acompanhar os botes de boca aberta ciado os membros da Associação com 78 na faina da pesca, como fazia a embarcação pescadores e 26 peixeiras inscritos, conagora inoperante. templados com outros apoios, como é o O financiamento, explicou Carlos Brito, caso de caixas térmicas para a conservaCarlos Brito pode ser conseguido junto do INDP, mas ção do pescado, oferecidas pelo INDP e são necessários fiadores que os pescadores a Cooperação Espanhola distribuídas pela e a Associação não conseguem, para além da taxa de juro metade do seu preço real. ser de seis por cento, o que considera muito alto. Carlos Brito mostra-se, entretanto, pouco optimista A segurança dos homens do mar continua sendo uma porque há cada vez menos peixe, o que faz pensar em preocupação constante da Associação, que já pensa num alternativas para os jovens de Salamansa. Primeiro, porencontro com o Instituto Nacional da Previdência Social que não se interessam pela profissão, depois porque está para se informar sobre as condições e as possibilidades sendo cada vez mais difícil exercê-la, pelo que gostaria do regime existente. de ter outros equipamentos para poderem ir mais longe O grande desafio da Associação, de acordo com o preem busca de peixe. sidente Alfredo Aldeia, é investir na sensibilização e eduSanta Luzia, no seu dizer, poderia ser a escolha, mas cação dos pescadores para a mudança de mentalidade e com os 33 botes de boca aberta, com 6.5 ou 7 metros de de atitude face à sua actividade e também na criação de que dispõem os pescadores de Salamansa não é seguro um fundo de apoio aos pescadores de Salamansa. fazer essa rota. O único barco de 10 metros que existia

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Associação Comunitária para o Desenvolvimento de Salamansa

Prioridade às pessoas mais pobres A Associação Comunitária para o Desenvolvimento de Salamansa, Djimily, foi criada em Março de 2011, estando em curso o processo da sua legalização. Enquanto isso, tem estado activa e o seu maior feito foi a recuperação da casa de um casal de idosos. Orlando Silva

O vice-presidente Orlando Silva explica que antes era um grupo que vinha acompanhando o desenvolvimento da comunidade, tendo trabalhado, com o Ministério da Educação, na recuperação de algumas salas de aula em Salamansa. As camadas mais favorecidas sempre mereceram a atenção do grupo, hoje transformado em Associação, que fez um levantamento dos diversos problemas da comunidade, sendo sua intenção investir na formação e capacitação dos jovens. Uma vez que Salamansa é das zonas mais carenciadas de São Vicente, que vive quase exclusivamente da pesca, Orlando Silva entende ser a habitação uma das maiores prioridades, assim como o saneamento, dado que mais do 60 por cento das casas não têm casa de banho. Na sua opinião, uma cozinha e uma casa de banho para cada família são prioridades da Associação, também preocupada com a situação de famílias que não podem manter na escola todos os seus filhos. Fazer as diferentes instituições conhecer a situação local é outro dos objectivos da Associação, que já se orgulha de estar a mudar a vida em Salamansa realizando e participando em actividades na zona e fora dela. Orlando Silva fez saber que jovens de Salamansa têm frequentado pequenas acções de formação no Atelier Mar, tendo a Associação participado na plantação de árvores, no âmbito da iniciativa do Ministério do

Desenvolvimento Rural “Cada família uma árvore”. Mas a acção mais visível da Associação foi a remodelação completa da casa de um casal de idosos muito pobre, que incluiu até a reconstrução

do muro de protecção que chegou a cair em cima do proprietário, tendo o investimento realizado sido de 300 contos. Tudo foi possível com a mobilização de toda a comunidade e a Associação também aproveitou a vinda dos emigrantes em França que contribuíram com dois dias das suas férias para trabalhar nas obras e um montante de 28 contos. A Comissão Regional de Parceiros, CRP, entrou com 60 contos, tendo os membros colaborado para o restante, nomeadamente o vice-presidente que, sendo marceneiro, fez todo o trabalho de carpintaria, o eletricista que elaborou o projecto praticamente de forma gratuita, o mesmo que aconteceu com pedreiros, pintores, entre outros. A ambição da Associação é continuar a contribuir para mudar as condições de vida na comunidade. Para começar, já entregou um projecto na CRP para a construção de 50 pocilgas em Salamansa, estando já garantido o financiamento de pelo menos 22 pocilgas por parte dessa instituição. O grande projecto mesmo, segundo Osvaldo Silva, é conseguir um transporte escolar misto para os alunos de Salamansa, estando a Associação Comunitária também empenhada na formação de jovens, nomeadamente na área do turismo, em conseguir colocar contentores de lixo mais próximos das famílias e na sensibilização da população para a problemática ambiental e do lixo.

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Associação de Pescadores

Reencontrar-se com seguran

Amilton Martins

A criação da Associação de Pescadores de São Pedro, na visão do vice-presidente Amilton Martins, veio dar resposta à questão da segurança dos operadores da pesca nessa localidade, que viu desaparecer no mar 12 pescadores, de uma vez só, no regresso da costa de Santa Luzia. Neste momento, preside a Federação de Pescadores Artesanais da Área Marinha Protegida de Santa Luzia e a segurança continua a ser prioridade maior.

Criada em 2002, a Associação desenvolveu como primeiras actividades a formação de pescadores sobre organização e segurança no mar e há muitos ganhos, já que tanto o Governo como entidades estrangeiras têm financiado as acções que vêm sendo implementadas nestes quase 10 anos de vida. Um grande ganho, refere Amilton Martins, está no assento que a Associação tem no Conselho Nacional de Pesca, ao mesmo tempo que tem levado o nome dos pescadores de São Pedro para fora do país, através da participação em eventos internacionais tanto na Europa como em África sobre a problemática da pesca artesanal. Mas o projecto maior da Associação foi financiado pelo Fundo Global para o Ambiente (GEF) e terminou há cerca de cinco meses, tendo como principal objectivo a criação da Federação de Pescadores Artesanais da Área Marinha Protegida de Santa Luzia, onde estão representadas as comunidades de São Pedro, que a preside, Salamansa, Calhau, Sinagoga e Tarrafal de São Nicolau.

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Neste momento, decorre o processo de legalização da Federação e a procura de novos membros para a nova organização criada em 28 de Maio passado, cujo primeiro projecto vai ser formação e sensibilização de pescadores e suas associações. Uma segunda acção prevista será uma reflexão sobre a política da pesca artesanal em Cabo Verde, estando programadas, igualmente, a realização de estudos, com o apoio da Universidade de Cabo Verde e do Instituo Nacional de Desenvolvimento das Pescas (INDP), e acções piloto para a implantação de recifes artificais. A Associação dos Pescadores de São Pedro, assim como as organizações de Palmeira (Sal) e Rincão (Santiago), faz ainda parte da Rede de Operadores da Pesca Artesanal de Cabo Verde, ROPA-CV, que integra a Rede sobre Políticas de Pesca na África Ocidental. A Associação, que funciona na antiga fábrica de gelo do INDP, tem trabalhado muito no reforço institucional, elabo-


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nça e união ração de projectos, mobilização de financiamentos e sensibilização e apoio a pescadores. Um grande parceiro da Associação é o INDP, que ajuda com os seus técnicos, informações e sensibilização, assim como o Fundo de Desenvolvimento das Pescas (FDP) tem apoiado nesse esforço. De todas as dificuldades por que passam os pescadores de São Pedro a falta de peixe é a maior, reconhece Amilton Martins, para quem as embarcações (mais de 30) também estão bastante envelhecidas. Este ano, não houve atum, que é a pesca principal em São Pedro, sendo que, na época de defeso da cavala, também se pesca pouco, confirma esse responsável, anunciando o desejo de modernização e equipamento dos barcos existentes e a introdução de pequenos barcos com motor de fundo para, em condições de segurança e com capacidade de conservação, ir buscar o peixe lá onde se encontra. Um primeiro passo já começou a ser dado para a remodelação do barco Cruzinha, que é do INDP, realça, dizendo que tudo vai custar 18 mil contos, no que espera contar com o apoio do FDP (Fundo de Desenvolvimento das Pescas), para além de ter enviado o projecto para diversas cooperações e embaixadas. Um outro projecto na mira da Associação, com 110 pescadores e 30 mulheres, entre as quais peixeiras, é a aquisição de uma embarcação de nove a 11 metros no Luxemburgo com possibilidades de pescar mais longe da costa de São Vicente. O sonho mesmo, confessa Amilton Martins, é ter um banco, um fundo voltado para a pesca artesanal, para garantir maior acesso a recursos e apoios para os pescadores.

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Associação Comunitária de Desenvolvimento de São Pedro

Aposta nas pessoas O bem estar da comunidade de São Pedro é o grande objectivo da Associação Comunitária de São Pedro, assegura a presidente Ludmila da Luz, garantindo o engajamento dessa organização em continuar a apoiar actividades económicas, sociais e culturais.

Ludmila da Luz

Mas existe alguma falta de motivação das pessoas, sendo também baixa a taxa de escolaridade dos jovens em São Pedro, diz a líder associativa, ao confirmar os esforços que estão a ser desenvolvidos para mudar essa atitude perante a vida e a pobreza que atinge a maioria dos habitantes de São Pedro. Tendo como maior parceiro o Atelier Mar, a Associação, desde 2003, tem apostado no apoio a idosos e desenvolvido projectos de empoderamento local. Neste momento, destaca Ludmila da Luz, financiou no valor de 450 contos o projecto “São Pedro a caminho do progresso”, que já criou um espaço para a venda de materiais escolares. Mais 400 contos foram disponibilizados para a Associação criar um cyber espaço com telefone instalado no centro comunitário local, onde fun-

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ciona a sede da própria organização remodelada no âmbito desse financiamento. Um desafio importante da Associação é a formação dos jovens, uma forma de prepará-los para o emprego, revela a presidente, para quem um outro investimento vai continuar a ser a melhoria habitacional, área em que já participou na construção de 22 casas apoiada pelo Atelier Mar. O apoio a idosos, incluindo ajuda domiciliar, continuará a ser uma das acções da Associação, que prevê apoiar alunos com transporte escolar, trabalhar na área ambiental e promover outras actividades que gerem recursos para suportar outras intervenções. De forma continuada, a Associação pretende ser uma voz na promoção de comportamentos saudáveis e na luta contra a droga e o consumo do álcool e contra a violência baseada no género.


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Associação dos imigrantes Senegaleses em Cabo Verde

Legalização e integração são as prioridades São Vicente acolhe já um número considerável de cidadãos senegaleses e a sua legalização e integração têm sido os maiores desafios da delegação local da Associação dos Imigrantes Senegaleses em Cabo Verde, defende o coordenador Mamadou N Dao.

S

egundo esse responsável, os objectivos gerais da Associação são, efectivamente, garantir a representação dos senegaleses e dos seus interesses em Cabo Verde, a integração social e a defesa dos direitos dos imigrantes desse país amigo que acolhe uma grande comunidade cabo-verdiana. A grande maioria dos associados é do sexo masculino, sendo as mulheres cerca de 10 por cento e, grosso modo, todos se dedicam ao comércio e artesanato. As actividades culturais sobressaem nas suas intervenções sociais, sendo as maiores as festas da independência de Senegal e do Dia de África, bem como festival de cinema e animação musical. Actividades desportivas, torneios de futebol principalmente, surgem como oportunidade dos seus membros confraternizarem e interagirem com outras associações e comunidades, da mesma forma como promovem aulas de francês e de árabe para os associados. Mamadou N Dao considera que, em geral, tem havido facilidades de integração e acesso a serviços, embora, por vezes, os seus compatriotas sofram de discriminação. Por isso, a integração na sociedade

Presidente : Mamadou N Dao

sanvicentina é um investimento necessário para a Associação, que quer trabalhar para a legalização dos senegaleses na ilha com vista à obtenção do cartão de residência.

Existem indivíduos com mais de 10 anos em Cabo Verde e que ainda não conseguiram o seu cartão, revela esse responsável, assegurando que o objectivo é que os imigrantes senegaleses beneficiem das oportunidades que o país oferece e se integrem na sociedade assim como os imigrantes cabo-verdianos que vivem no Senegal. Em São Vicente, a delegação tem como parceiros mais próximos a Alliance Française, a Câmara Municipal de São Vicente e o Centro Cultural do Mindelo e mantém boas relações com as outras associações de imigrantes dos países africanos no Mindelo, mais concretamente com as Associações dos Imigrantes de Gana, Guiné-Bissau, Guiné-Conakry, Gâmbia, Costa do Marfim e Mali.

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Ao serviço das ONG e Associações Cabo-verdianas

PLATAFORMA DAS ONG’S

NG’S

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