Revista Plant Project #ED.42

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

ÁGUA É VIDA

As ações do agro brasileiro para proteger o mais precioso dos recursos naturais

Potência máxima Como a ampliação do Mercado Livre de Energia cria oportunidades no campo

MAIS COM MENOS O QUE O BRASIL PRECISA FAZER PARA CONTINUAR NA VANGUARDA DA PRODUTIVIDADE

ONDE NASCE A INOVAÇÃO POR QUE PIRACICABA SE TORNOU O “VALE DO SILÍCIO” DOS NEGÓCIOS RURAIS OS BILHÕES DO ETANOL A NOVA ONDA DE INVESTIMENTOS NOS COMBUSTÍVEIS RENOVÁVEIS DE PONTA A PONTA O avanço do rastreamento das cadeias produtivas

Quando o PIB brasileiro deixará os voos de galinha para trás? Por mais que o desempenho de 2023 tenha superado as previsões dos analistas e apesar do aumento das projeções para o crescimento econômico em 2024, fato é que o País está muito longe de realizar o seu potencial. Diversas razões explicam o PIB modesto. Uma delas diz respeito aos investimentos na produção. Nesse aspecto, nós falhamos. Atualmente, a taxa brasileira de investimento em relação ao PIB é de 16,5%. Estudos mostram que, para a economia evoluir com consistência, seria preciso que o índice fosse de ao menos 22%.

Outro entrave é o desequilíbrio fiscal brasileiro. A dificuldade dos governos para fechar as contas públicas no azul aumenta os níveis de endividamento do País, acelera o processo inflacionário e, como resultado final, retarda o crescimento econômico. Enquanto o Brasil não mudar esse ciclo, continuaremos condenados a crescer pouco.

Há um terceiro fator fundamental para o desenvolvimento: a produtividade. É ela que, quase sempre, define o destino das nações. “A produtividade não é tudo na economia, mas no longo prazo é quase tudo”, ensinou Paul Krugman, economista que recebeu o Prêmio Nobel em 2008. Nesse aspecto, enquanto outros setores falham, o agronegócio tem grandes exemplos a oferecer. Basta dar uma olhada em um estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que avaliou o desempenho de 187 nações, para entender como o agronegócio brasileiro foi longe. Entre 2000 e 2019, o crescimento anual médio da produtividade agrícola nacional foi de 3,1%, muito acima da média global de 1,6%.

A conclusão é óbvia: sem o agro, o Brasil não sai do lugar.

Boa leitura!

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PARA O
Para quem pensa, decide e vive o agribusiness venda proibida distribuição dirigida ÁGUA É VIDA As ações do agro brasileiro para proteger o mais precioso dos recursos naturais Potência máxima Como a ampliação do Mercado Livre de Energia cria oportunidades no campo MAIS COM MENOS O QUE O BRASIL PRECISA FAZER PARA CONTINUAR NA VANGUARDA DA PRODUTIVIDADE ONDE NASCE A INOVAÇÃO POR QUE PIRACICABA SE TORNOU O “VALE DO SILÍCIO” DOS NEGÓCIOS RURAIS OS BILHÕES DO ETANOL A NOVA ONDA DE INVESTIMENTOS NOS COMBUSTÍVEIS RENOVÁVEIS DE PONTA A PONTA O avanço do rastreamento das cadeias produtivas
O QUE É PRECISO FAZER
PIB CRESCER MAIS? Editorial

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Diretor Editorial

Amauri Segalla amauri.segalla@datagro.com

Diretor

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Comercial

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Sérgio Siqueira sergio.siqueira@plantproject.com.br João Carlos Fernandes joao.fernandes@plantproject.com.br

Tida Cunha tida.cunha@plantproject.com.br

Arte

Thaís Rodrigues (Direção de Arte) Andrea Vianna (in memorian – Projeto Gráfico)

Colaboradores

Texto: André Sollitto, Lucas Bresser, Marco Damiani, Paula Pacheco, Romualdo Venâncio e Ronaldo Luiz

Design: Bruno Tulini

Produção

Lau Borges

Revisão

Rosi Melo

Eventos

Luiz Felipe Nastari

Administração e Finanças

Cláudia Nastari

Sérgio Nunes publicidade@plantproject.com assinaturas@plantproject.com

Impressão e acabamento: Piffer Print

pág. 8

AGRIBUSINESS g pág. 21 F FRONTEIRA r pág. 77 W WORLD FAIR pág. 85

S STARTAGRO pág. 91

M MARKETS pág. 114

EDITORA UNIVERSO AGRO LTDA. Calçada das Magnólias, 56 - Centro Comercial Alphaville – Barueri – SP CEP 06453-032 - Telefone: +55 11 4133 3944 Índice
G GLOBAL
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O momento das biossoluções é agora

Há mais de 100 anos transformamos a indústria com soluções inovadoras e sustentáveis para impulsionar o desempenho de nossos clientes e parceiros.

Apoiamos a indústria do etanol de milho desde seu início, estando presente do primeiro ao mais recente startup de uma nova planta, trazendo enzimas e leveduras com a mais alta robustez e confiabilidade do mercado.

Na Novonesis, acreditamos que as soluções baseadas na biologia são fundamentais para enfrentar os desafios que nossos clientes e o mundo enfrentam.

Sob pressão

Ajuda a produtores da Ucrânia gera tensão na Europa

GGLOBAL

O lado cosmopolita do agro

foto: Shutterstock

GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

UCRÂNIA

TERRA DE CONFLITOS G

Medidas da União Europeia para proteger produtores ucranianos incomoda outros países

Desde o início da invasão russa na Ucrânia, o agronegócio do país foi afetado de forma severa. Para ajudar os ucranianos, a União Europeia aprovou, ainda em junho de 2022, um pacote de medidas que incluía a liberação do pagamento de tarifas de importação de produtos agrícolas transportados por via terrestre e distribuídos em outros países do bloco europeu. O pacote foi renovado em 2023 e, novamente, em 2024, por mais um ano. “Ao renovarmos essas medidas, demonstramos o nosso apoio inabalável à Ucrânia, protegendo ao mesmo tempo o mercado interno de aumentos excessivos nas importações de certos produtos agrícolas sensíveis”, afirmou Hadja Lahbib, ministra dos Negócios Estrangeiros da Bélgica, que detém a presidência rotativa da União Europeia.

Em uma tentativa de proteger outros produtores europeus da concorrência, há um mecanismo de emergência que estabilizaria os volumes médios de importação em 2022 e 2023, principalmente para produtos mais sensíveis,

como aves, ovos e açúcar. Isso significa que, se as importações desses produtos excedessem os volumes médios, tarifas seriam reimpostas para garantir que o mercado não fosse prejudicado. A medida emergencial foi incluída para tentar satisfazer os produtores locais, que consideram a entrada de produtos ucranianos sem imposto uma competição injusta.

Os produtores poloneses estão entre os mais furiosos com as medidas. Embora a Polônia tenha apoiado a Ucrânia desde o início da invasão russa, desafios logísticos têm feito com que muitos dos produtos ucranianos não sejam levados para outras regiões da Europa e fiquem parados em terras polonesas, prejudicando o mercado interno. Depois que a União Europeia anunciou a renovação do pacote de medidas, produtores organizaram bloqueios em diversos pontos do país, fechando rodovias com tratores. A situação é complexa. Se há a necessidade de oferecer ajuda à Ucrânia enquanto a invasão persistir, é preciso encontrar meios de não prejudicar outros mercados.

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está em nossa sustentabilidade

NÓS OLHAMOS PARA A AMAZÔNIA E ENXERGAMOS ALÉM DA FLORESTA. VEMOS PESSOAS. VEMOS POTÊNCIA. VEMOS FUTURO.

É com essa perspectiva que atuamos hoje e avançamos em direção ao legado que queremos deixar. Com integridade e respeito às leis e à natureza. Com responsabilidade corporativa e desenvolvimento social. Com inovação para superar desafios e parceria para evoluir com nossos colaboradores, clientes, parceiros e toda a sociedade. Com orgulho de onde viemos e de tudo que estamos produzindo juntos para tornar a palma sustentável uma referência brasileira.

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Saiba mais sobre nossa atuação desata conteudo .com.br

O DESTINO DO DINHEIRO

Nos últimos anos, o ecossistema de startups do agro recebeu um fluxo constante de investimentos. Durante um período, incluindo os anos críticos da pandemia, o campo foi visto como a maior fronteira da inovação global. Tendências importantes despontaram, como as proteínas alternativas à base de vegetais, a agricultura de precisão e a automação. Agora, porém, a empolgação com as possibilidades do agro está diminuindo. O novo relatório Global AgriFoodTech Investment 2024, elaborado pela plataforma de investimentos AgFunder e uma das principais ferramentas do setor, aponta que o investimento caiu 50% em 2023 em relação ao ano anterior – trata-se do pior resultado em seis anos. Confira a seguir o destino do dinheiro.

TOTAL DE INVESTIMENTOS

EM 2023: US$ 15,6 BILHÕES

REDUÇÃO DE 49% EM RELAÇÃO A 2022

• INVESTIMENTOS POR REGIÃO

Américas – US$ 6,1 BILHÕES

Europa – US$ 5,1 BILHÕES

Ásia – US$ 3,8 BILHÕES

África – US$ 260 MILHÕES

• PAÍSES QUE RECEBERAM MAIS

INVESTIMENTOS

Estados Unidos – US$ 5,4 BILHÕES

Reino Unido – US$ 1,3 BILHÃO

China – US$ 1,3 BILHÃO

Índia – US$ 790 MILHÕES

Alemanha – US$ 776 MILHÕES

• CATEGORIAS MAIS POPULARES

Bioenergia e biomateriais – US$ 3 BILHÕES

Biotecnologia agrícola – US$ 1,9 BILHÃO

Alimentos inovadores – US$ 1,6 BILHÃO

Marketplaces e fintechs – US$ 1 BILHÃO

Robótica, mecanização e equipamentos – US$ 760 MILHÕES

• INVESTIMENTO POR ESTÁGIO

Pré-Seed a Série A – US$ 4,6 BILHÕES

Série B e C – US$ 4,6 BILHÕES

Série D adiante – US$ 4,3 BILHÕES

Dívida – US$ 2 BILHÕES

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RAÍZEN APROVEITA

Maior produtora global de etanol de cana-de-açúcar investe em alternativas como E2G, biometano, bioeletricidade, Hidrogênio Renovável e etanol para aviação e combustível marítimo, todos derivados do processamento da planta Plant +

VERSATILIDADE DA CANA PARA REDEFINIR O FUTURO DA ENERGIA

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cana-de-açúcar é uma das matérias-primas mais versáteis do mundo quando se trata de produção de combustíveis e energia. Ela também é um dos trunfos do Brasil na transição energética para matrizes mais limpas e sustentáveis, colocando o País como referência global em pesquisa e inovação para o aproveitamento total dessa planta.

A Raízen, companhia integrada de origem brasileira referência em bioenergia e com amplo portfólio de produtos renováveis, lidera esse desenvolvimento e aproveita todas as possibilidades da cana para produzir etanol em suas diversas variações – biogás/biometano, Hidrogênio Renovável e combustível para aviação e transporte marítimo, como mais uma alternativa para transição dos fósseis para renováveis.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, 15,4% da energia oferecida no Brasil em 2023 vieram da cana-de-açúcar. Isso torna a cana a principal fonte renovável no País, seguida pela hidráulica, com 11%.

A sustentabilidade dessa matéria-prima se deve tanto à variedade de combustíveis e subprodutos energéticos que podem ser extraídos dela quanto ao fato de que a própria cultura da cana-de-açúcar desempenha papel importante na captura de CO₂ da atmosfera. Uma pesquisa conduzida pela Agroicone, Embrapa e Unicamp revela que, ao longo das últimas duas décadas, a cana-de-açúcar absorveu cerca de 200 milhões de toneladas de CO₂. Isso equivale ao plantio de aproximadamente 1,4 milhão de árvores, em uma extensão de terra correspondente a 1 milhão de campos de futebol. Entre os combustíveis produzidos a partir da cana, o etanol é o principal e mais conhecido. Além do Etanol de Primeira Geração, a Raízen investe fortemente no chamado E2G, o Etanol de Segunda Geração. Originado do bagaço de cana resultante da produção de Etanol de Primeira Geração, o E2G é produzido por meio de um processo altamente tecnológico que envolve o pré-tratamento da biomassa, seguido pela hidrólise e fermentação. Esse método assegura que o E2G mantenha a pureza e eficácia do Etanol de Primeira Geração, ao mesmo tempo que emite até

30% menos CO₂ na atmosfera quando comparado com o 1G, ou 80% menos, quando comparado com gasolina comum. Como maior produtora do mundo de etanol de cana, a empresa espera ter em operação 20 plantas de E2G, representando um investimento aproximado de R$ 24 bilhões.

Outra aplicação dos resíduos é na geração de biogás e biometano, derivados da fermentação da vinhaça e da torta de filtro, subprodutos do processamento da cana. O biogás pode ser refinado para se tornar biometano, um tipo de gás natural renovável. E o biometano, por sua vez, pode ser utilizado como alternativa ao diesel em veículos de grande porte e até mesmo como substituto do gás de cozinha. Além disso, é possível gerar bioeletricidade a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar. A queima do bagaço produz vapores que acionam turbinas geradoras de eletricidade.

Na vanguarda da transição energética global, a Raízen também busca impulsionar o Hidrogênio Renovável, que pode ser usado como uma solução de baixo carbono para transporte pesado e outras indústrias. O hidrogênio é produzido a partir da eletrólise da água, o que requer uma quantidade significativa de energia elétrica. Para ser classificado como “verde ”, o hidrogênio deve ser produzido exclusivamente a partir de eletricidade proveniente de fontes renováveis, como os biocombustíveis extraídos da cana. Em outra frente inovadora, a Raízen foi a primeira empresa do mundo a conquistar a certificação ISCC CORSIA Plus, confirmando que seu etanol atende a todos os requisitos internacionais para a produção de Combustível Sustentável de Aviação.

A companhia também está testando, em conjunto com a finlandesa Wärtsilä, o uso do etanol como combustível marítimo para reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) no setor.

Dessa forma, a Raízen usa a cana-de-açúcar para redefinir o futuro da energia com soluções renováveis, apoiando a jornada de descarbonização dos seus clientes e do mundo.

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ABACAXI PARA LIMPAR A CASA

A província de Thanh Hoa, no norte do Vietnã, é conhecida como a terra dos abacaxis são pelo menos 1.120 hectares dedicados à fruta. Com tantos insumos, os empreendedores Do Xuan Tien, Le Duy Hoang e Bui Thi Bich resolveram testar uma tecnologia capaz de aproveitar os resíduos da fruta e transformá-los em matéria-prima para produtos de limpeza. Depois de três anos de desenvolvimento do projeto, fundaram a startup FUWA3e, e o negócio prosperou. As cascas de abacaxi são fermentadas junto com açúcar

mascavo, o que dá origem ao que a startup chama de ecoenzima, um líquido dotado de grandes propriedades de limpeza e menos danoso para a pele. Atualmente, a FUWA3e é capaz de produzir 200 mil produtos por mês. O portfólio é amplo e inclui detergentes, sais para lava-louças e produtos para o chão, banheiro e cozinha. A solução já foi apresentada em um painel do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e os produtos podem ser encontrados na Amazon americana.

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VIETNÃ
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FS RECEBE CERTIFICAÇÃO SUSTENTÁVEL PARA PRODUZIR COMBUSTÍVEL DE AVIAÇÃO A PARTIR DO MILHO

Selo ISCC CORSIA Low LUC Risk confirma que métodos de produção atendem aos padrões internacionais para fabricação e fornecimento de etanol e óleo de milho destinados ao Combustível Sustentável de Aviação

Atransição energética para matrizes menos poluentes é uma meta de todos os setores da economia. Para alguns, no entanto, esse objetivo é especialmente desafiador. A aviação, que responde por aproximadamente 3% de todas as emissões globais de carbono e 14% das emissões dos transportes, é uma dessas áreas. Os rígidos padrões de operação e segurança inerentes à indústria restringem as opções tecnológicas viáveis. Além disso, a longa vida útil das aeronaves implica que os aviões construídos atualmente ainda estarão no ar daqui a 30 anos. O setor também construiu complexas interdependências industriais que são difíceis e caras de serem alteradas. Apesar disso, as alternativas existem.

Uma delas é a utilização de biocombustíveis de baixa pegada de carbono, produzidos a partir de matéria vegetal, como o Combustível Sustentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês). Recentemente, a FS, uma das principais empresas do Brasil na produção de etanol, alcançou um marco ao se tornar a primeira indústria nacional de etanol de milho a ser certificada pelo International Sustainability & Carbon Certification (ISCC), confirmando que seus métodos de produção atendem aos padrões internacionais para a fabricação e fornecimento de etanol e óleo de milho destinados à produção de SAF.

A FS, que também é pioneira global ao receber a certificação de Baixo Risco de Mudança no Uso da Terra (Low LUC Risk), é a primeira indústria de etanol do Brasil que utiliza milho de segunda safra em 100% da produção. “Essa certificação é uma importante validação de que o etanol de milho de segunda safra brasileiro é matéria-prima de baixo carbono para produção de biocombustível para setores de difícil

descarbonização, como a aviação”, diz Rafael Abud, CEO da FS. “As companhias aéreas poderão contar agora com nosso etanol como uma fonte competitiva e altamente escalável para atender globalmente esse mercado.”

A certificação do etanol da FS abarcou um processo longo e complexo, desde a etapa agrícola e insumos, passando pela produção do biocombustível até o transporte ao produtor de SAF. A parcela referente à produção agrícola foi realizada com a colaboração de um dos seus fornecedores, a fazenda Água Santa, parte da GGF. Dessa maneira, além de avaliar a pegada de carbono do combustível desde a fase agrícola, foi confirmado que o Impacto Indireto do Uso da Terra do milho de segunda safra foi nulo, conferindo à Certificação ISCC CORSIA o atributo de Low LUC Risk. Trata-se do primeiro registro de certificação desse tipo no mundo.

Atualmente, a FS possui três plantas de produção de etanol de milho, localizadas nas cidades de Lucas do Rio Verde, Sorriso e Primavera do Leste, todas no Mato Grosso. A empresa produz anualmente 2,2 bilhões de litros de etanol – e planeja expandir essa capacidade para 5 bilhões de litros nos próximos anos. Além disso, a FS dispõe de tecnologia avançada para a produção de coprodutos destinados à nutrição animal, conhecidos pela sigla DDG (Dried Distillers Grains), bem como óleo de milho e bioeletricidade. No ano passado, 14,2% do etanol produzido no Brasil teve o milho como matéria-prima. Para o próximo ciclo, a expectativa é elevar essa participação para 20%, segundo as projeções da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

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IRLANDA

CARNE COM PROCEDÊNCIA

A indicação geográfica protegida (PGI, na sigla em inglês) é um reconhecimento de procedência e mostra que determinado produto é elaborado seguindo regras específicas em um local determinado. É o caso dos espumantes de Champagne, na França, ou do queijo Parmigiano Reggiano, na Itália. Agora, a carne bovina grass fed, produzida na Irlanda, também receberá a certificação, válida para toda a ilha. Alguns critérios precisam ser atingidos. O gado deve passar ao menos 220 dias por ano no pasto, e 90% de sua alimentação precisam vir da grama. Apenas animais de qualidade superior são elegíveis. Registre-se que só três outros produtos, todos bebidas, têm o mesmo reconhecimento, na Irlanda: o uísque, o Poitín, um destilado feito de cevada maltada, e o licor Irish Cream, como o Bailey’s. Há outros produtos regionais irlandeses reconhecidos com a certificação, mas limitados à República da Irlanda, no sul, ou à Irlanda do Norte.

ESTADOS UNIDOS

NFL VAI PARA A FAZENDA

Irmão de Travis Kelce, o astro da NFL que roubou a cena no Super Bowl ao lado da namorada, a cantora Taylor Swift, o também jogador Jason Kelce, do Philadelphia Eagles, anunciou sua aposentadoria dos gramados no início de março. Foram 13 anos de carreira, com a conquista do Super Bowl em 2018. Agora, Kelce diz que pretende passar sua aposentadoria no campo. Em 2022, comprou algumas vacas para sua propriedade no Missouri, e manifestou a vontade de criar animais em uma entrevista recente. “Sempre me interessei pelo campo, e o gado é o que mais me chama a atenção”, afirmou. Kelce não será o único ex-jogador da NFL a se tornar agricultor. Jason Brown, que foi um dos mais bem pagos da liga antes da aposentadoria, em 2012, tem uma fazenda de 400 hectares na Carolina do Norte que produz batata doce e uma série de vegetais. O campo atrai as estrelas da NFL. O jogador ofensivo Adam Timmerman tem uma fazenda em Dakota do Sul e várias filiais da fabricante de tratores John Deere. Jordy Nelson, vencedor do Super Bowl com o Green Bay Packers em 2011, retornou para a fazenda da família no Kansas, onde trabalha com o pai e o irmão.

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EMPREENDEDORISMO SUSTENTÁVEL: CULTIVANDO UM LEGADO PARA UM FUTURO RENOVÁVEL

ALD Bioenergia lança seu primeiro relatório de sustentabilidade, destaca ações para proteção do meio ambiente e foca na harmonia entre produção de energia e uso de recursos naturais.

s margens da Rodovia BR 364, em Nova Marilândia, Mato Grosso, a visão inovadora de 24 produtores rurais vem ganhando cada vez mais força por meio do compromisso com a sustentabilidade e do fortalecimento da cadeia produtiva local e o desenvolvimento regional. A ALD Bioenergia, fundada em 2019 pela união desses agricultores, transformou-se numa das mais importantes usinas de etanol de milho da região – em 2023, produziu aproximadamente 110 mil metros cúbicos. Mas não é apenas na fabricação desse biocombustível essencial para a descarbonização global que as metas ousadas da ALD são visíveis.

Com o lançamento de seu primeiro relatório de sustentabilidade, a empresa demonstra mais uma vez o compromisso com a transparência e a responsabilidade. O documento é a materialização do empenho da ALD Bioenergia em divulgar estratégias e ações alinhadas aos princípios fundamentais ESG (Environmental, Social e Governance), evidenciando o contínuo esforço em promover práticas sustentáveis e impactar positivamente o meio ambiente e as comunidades da região.

Além de incorporar tecnologia de ponta à produção de biocombustível, a ALD promove iniciativas e programas destinados ao desenvolvimento sustentável e à prosperidade de todos os envolvidos na cadeia de valor. Entre as ações práticas, destacam-se:

GERAÇÃO DE ENERGIA LIMPA Em 2023, a empresa gerou 98% de toda a energia utilizada em seu processo produtivo. Essa energia provém do consumo de biomassas, promovendo a economia circular e a redução de emissões de gases de efeito estufa.

MONITORAMENTO DE GASES DE EFEITO ESTUFA (GEE) Em conformidade com as exigências regulatórias, a ALD Bioenergia realiza sistematicamente o monitoramento de GEE, visando mitigar os impactos ambientais derivados de suas operações.

REDUÇÃO DE CO2 Como produtora de etanol de milho, a ALD Bioenergia contribui significativamente para a redução de emissões de gás carbônico (CO2), promovendo a transição para fontes mais sustentáveis de energia.

CERTIFICAÇÃO NO RENOVABIO A unidade possui certificação no Programa RenovaBio, fomentando a produção e o consumo de biocombustíveis de forma eficiente e sustentável. A ALD Bioenergia se destaca nacionalmente na produção de Créditos de Descarbonização (CBios), evidenciando seu compromisso com a descarbonização da matriz energética. Um CBio equivale a uma tonelada de carbono evitada na atmosfera.

USO CONSCIENTE DOS RECURSOS HÍDRICOS A empresa trata toda a água captada no processo produtivo e reutiliza grande parte dos efluentes para fertirrigação.

Em 2024, a ALD Bioenergia mantém o foco nos princípios de sustentabilidade e segurança. “Somos defensores dos biocombustíveis como uma solução para o futuro do planeta, que depende da harmonia da produção sustentável de energia.”, afirma Marco Orozimbo Freer Rosas, CEO da companhia. “O Brasil tem um grande potencial e competência para aumentar a produção, facilitando a substituição dos combustíveis fosseis.” Segundo o executivo, a empresa também continuará investindo na gestão e valorização das pessoas.

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ITÁLIA

A CRISE DO RISOTO

Em 2022, a região do Rio Pó, o mais longo da Itália, foi afetada pela pior seca em 200 anos. A Itália é a maior produtora de arroz da União Europeia, responsável por 50% de todo o grão cultivado. A maior parte das plantações está no Vale do Pó, composta por uma série de complexos canais construídos entre a Idade Média e os anos 1800, e que compõem a principal fonte de irrigação dos arrozais. Naquele ano, 26 mil hectares foram perdidos. Em 2023, a seca persistiu e outros 7,5 mil hectares foram prejudicados. O principal problema é o impacto em variedades importantes de arroz para a gastronomia italiana, como o carnaroli clássico. Conhecido por resistir a altas temperaturas de cocção e absorver sabores, é o mais indicado para a preparação de risoto, mas muito suscetível às mudanças climáticas. A queda na produção tem preocupado produtores, já que apenas o carnaroli e outras variedades similares são ideais para os risotos. Pesquisadores estão desenvolvendo outras, mais resistentes, mas o processo ainda está longe de ser concluído. Enquanto isso, muitos temem a perda de um dos grandes clássicos italianos.

ÍNDIA

DIVINDADE NO CAMPO

Tradicionalmente, grandes produtores são os primeiros a adotar novas tecnologias e práticas agrícolas mais sustentáveis, enquanto pequenos fazendeiros, sem tantos recursos, demoram para migrar para uma agricultura mais eficiente. Para ajudá-los, a startup indiana Vahara, cujo nome é uma referência à divindade Vishnu, que levantou a Terra do oceano cósmico para recuperá-la, criou um sistema que busca incentivar os produtores a buscar maior sustentabilidade. Primeiro, a empresa avalia as condições do solo e das práticas agrícolas de cada propriedade. Depois, usa sensores remotos e machine learning para validar as práticas adotadas. Em seguida, quantifica as reduções de emissões e sequestro de carbono, e gera créditos que são comprados por parceiros. Os agricultores ficam com 60% do valor dos créditos, enquanto a startup embolsa 20% e os parceiros recebem o restante. Segundo os empreendedores, o objetivo é incentivar os produtores a adotar boas práticas e, assim, receber um valor extra a cada colheita. A proposta da Vahara cativou investidores, e a startup recebeu US$ 8,7 milhões em uma rodada da série A. Com os recursos, vai expandir as operações para a Ásia e países do leste africano.

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CALDEIRA COM GRELHA VIBRATÓRIA

ADA DANPOWER PROMOVE MAIS EFICIÊNCIA

COM MENOR CUSTO

Ao aplicar soluções para aumentar a eficiência térmica, reduzindo as perdas de calor, empresa criou produto com grau de eficácia inédito, melhorando resultados e diminuindo as emissões de gases de efeito estufa

s caldeiras desempenham papel fundamental em uma variedade de setores industriais, desde a produção de energia elétrica até processos de fabricação. Em meio aos desafios contemporâneos de sustentabilidade e produtividade, aprimorar o desempenho desses sistemas é mais importante do que nunca, especialmente quando se trata de eficiência energética. A DanPower, empresa 100% brasileira especializada no desenvolvimento customizado de caldeiras e equipamentos para geração de vapor, acaba de inovar ao desenvolver a grelha vibratória para suas caldeiras, que possui as menores perdas de calor entre todas as tecnologias disponíveis no mercado.

De acordo com dados fornecidos pela Agência Internacional de Energia (AIE), caldeiras representam cerca de 30% do consumo total de energia industrial. Para atingir os números inéditos de eficiência, as caldeiras com grelha vibratória da DanPower foram especialmente projetadas para máximo desempenho em duas frentes.

A primeira frente em que a caldeira com grelha vibratória da DanPower se destaca é nas perdas de calor por incombustos, ou seja, no calor perdido pelo carbono que sai do sistema de combustão e demais pontos de coleta de cinzas. O sistema da DanPower possui o menor índice de perda por incombustos do mercado, na ordem de 0,5% a 1%. Esses números são apenas comparáveis ao leito fluidizado, que, no entanto, tem custos operacionais e de aquisição consideravelmente mais elevados.

A segunda é a redução de perdas devido ao calor sensível no gás quente, ou seja, o calor lançado pelos gases que saem da chaminé. Para melhor eficiência, a temperatura final dos gases, após o último recuperador, deve ser a mais baixa possível, dentro de uma margem segura para que não ocorra condensação e corrosão dos equipamentos. Todo ar além do necessário para a combustão sairá como excesso (O2), aumentando as perdas pelos gases quentes. Nesse sentido, a caldeira DanPower com grelha vibratória permite a combustão da biomassa com menor excesso de ar, somente comparada a tecnologias de alto custo de investimento e operacional, como o leito fluidizado. Assim, é possível ter menor perda de calor sensível no gás quente, com redução no consumo de combustível e emissões de gases de efeito estufa.

Investir em tecnologias que melhorem a eficiência energética desses sistemas resulta em benefícios significativos. Esses ganhos permitem não apenas reduzir o consumo de energia (combustíveis), mas também promovem impactos positivos no meio ambiente. A diminuição das emissões de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono (CO2), está intrinsecamente ligada à eficiência energética. Com o aumento da conscientização sobre as mudanças climáticas, a redução das emissões tornou-se uma prioridade global. A DanPower, que desde 2001 promove soluções customizadas para o mercado nacional, está na vanguarda dessas ações.

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REINO UNIDO

ABELHAS INTELIGENTES

Por muito tempo, cientistas que tentaram decifrar o que torna os humanos mais capazes intelectualmente do que outros animais cravaram que a cultura era um fator determinante. Contudo, eles descobriram que chimpanzés, baleias e algumas espécies de pássaros também tinham hábitos sociais dentro de suas sociedades. Agora, acredita-se que a capacidade que os humanos têm de aprender uns com os outros é o que os diferencia. Mas um novo estudo com abelhas também questiona essa descoberta. Pesquisadores da Universidade Queen Mary de Londres criaram um quebra-cabeça que consiste em uma gota de açúcar escondida sob uma tampa de

plástico. As abelhas precisariam empurrar duas abas na sequência correta para alcançar o açúcar. Sozinhas, mesmo após horas de tentativas, elas não solucionaram o desafio. Depois que um humano mostrou o segredo, elas foram capazes de transmitir a informação para outros grupos de abelhas, e mesmo animais que não haviam tido contato com o quebra-cabeça antes conseguiram resolvê-lo. Embora o comportamento tenha sido observado em um ambiente controlado, aponta que a inteligência coletiva das abelhas é muito superior ao que se acreditava anteriormente. A descoberta foi publicada na revista científica Nature

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revolução

O esforço do agro para preservar as águas do planeta

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Empresas e líderes que fazem diferença

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Empresas e líderes que fazem diferença

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ÁGUAS PASSADAS

AS INICIATIVAS DO AGRONEGÓCIO PARA PROTEGER O MAIS PRECIOSO DOS RECURSOS NATURAIS

Por Paula Pacheco

André Luiz Rodrigues Junqueira se sentia provocado a buscar uma solução sempre que via o volume de água que sua empresa, a Marajoara Laticínios, descartava depois de cada processo cuidadoso de limpeza de tanques e equipamentos. Não bastava fazer o armazenamento do líquido. Para o empresário, era possível encontrar alternativas que melhorassem o seu uso. A decisão de adotar um novo modelo ambiental começou a se concretizar há seis anos, quando o empresário passou a investir em uma nova infraestrutura na fábrica e na propriedade, em Hidrolândia, a 40 quilômetros de Goiânia. Agora, o que é usado na indústria passa por uma série de processos que permite a devolução da água para a natureza em condições muito melhores do que no passado. Além disso, o material orgânico resultante do processo ganhou nova função ao ser usado como biofertilizante por Junqueira e alguns criadores de gado da região na pulverização dos pastos.

“Não criava gado, mas vi que tinha uma área com potencial para pastagem e a criação de animais de corte”, diz ele. “Além de ser uma fonte

adicional de renda, com a venda de bezerros, devolvemos uma água de qualidade da irrigação para o lençol freático.” Hoje em dia, o presidente da Marajoara cria 200 cabeças de gado, mas no regime de pasto atual pode chegar a 280. Se o pasto fosse cultivado de forma convencional, não poderia passar de 70 cabeças. “Podemos ter capim o ano inteiro, não existe entressafra.”

Com as mudanças na propriedade, o presidente da Marajoara, que distribui seus produtos, como o leite, em todo o País, conseguiu fechar o círculo de uso da água. O líquido é extraído do poço artesiano, usado na limpeza, segue para a estação de tratamento e só então, livre de resíduos, volta para o rio. A virada na gestão ambiental da Marajoara permitiu que a empresa devolva para o lençol freático 900 mil litros do 1 milhão de litros de água que consome por dia.

A Marajoara é um exemplo de como o agronegócio tem buscado novas formas de se relacionar com o recurso natural. Há muitos outros. Em Vacaria (RS), a Rasip, fabricante de alimentos e produtora de maçãs, alcançou 2,6

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A TECNOLOGIA AJUDA NA PRESERVAÇÃO

bilhões de litros de água tratada em seis anos. A empresa tem seu próprio gado leiteiro, que abastece a fábrica de queijos. A operação da empresa conseguiu fechar a torneira graças a técnicas como o reúso de água para limpeza dos ambientes de confinamento dos animais, a coleta e uso da água das chuvas e o tratamento do que é utilizado na limpeza dos equipamentos.

Atualmente, a Rasip tem 1,2 mil vacas holandesas alojadas. A companhia produz 50 mil litros de leite por dia, que vão 100% para a produção de queijo – são 150 toneladas por mês. Os animais são distribuídos por cinco free stalls, um tipo de estrutura usado no confinamento de rebanhos leiteiros que conta com áreas com camas individualizadas, corredores de acesso e pistas de trato. No seu caso, a água é usada em diferentes processos. Por exemplo, na limpeza de cada free stall para a retirada de dejetos e palhas, e também no

As estações de tratamento de água têm exercido papel cada vez mais vital para o reaproveitamento do precioso líquido

processo de ordenha, onde só pode ser utilizada a água limpa. São entre 300 mil e 400 mil litros por dia, conta Celso Zancan, diretor da Rasip.

Sem todo o investimento em tecnologia e cuidados nos processos, seriam gastos cerca de 500 milhões de litros de água, em média, por ano. Mas a empresa consegue reciclar em torno de 400 milhões de litros. A serragem sobre a qual os animais dormem, os restos de comida, de fezes e de urina, quando lavados, são destinados para um depósito. Os resíduos sólidos são destinados a biodigestores para a produção de biogás, queimado nas caldeiras para a fabricação de queijo. A técnica de reaproveitamento possibilita à empresa deixar de comprar 40 mil litros de diesel por mês para uso nas caldeiras.

A água tratada é bombeada e volta a ser usada na limpeza dos free stalls. O líquido que já foi usado algumas vezes na limpeza é

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destinado a uma lagoa impermeabilizada, onde fica depositado por até 40 dias. Ao final do processo, é usado na fertirrigação para a produção de alimentos, como milho, silagem e gramíneas. O investimento nas adaptações, entre tanques, equipamentos de separação dos resíduos sólidos, biodigestores e decantação, foi de cerca de R$ 5 milhões. A conta não levou muito tempo para se pagar, já que a empresa arcava com uma despesa de R$ 200 mil por mês apenas com a compra de diesel.

O amadurecimento das iniciativas no negócio fez com que a direção da empresa decidisse começar a fazer o seu balanço de carbono, que deve sair do papel com a ajuda de um software a partir de maio. A meta é buscar o carbono zero, com a neutralização das emissões. “O mapeamento vai nos ajudar a fazer um acompanhamento permanente quanto às áreas que estão indo bem e as que precisam de ajustes”, diz Zancan.

Há inegáveis vantagens financeiras com a decisão de tratar os recursos hídricos como um bem prioritário. “Graças a esses cuidados, temos a preferência de compra junto a muitos clientes e condições diferenciadas nos financiamentos”, afirma Zancan. “Quando a ajuda à natureza é bem planejada, existe, sim, retorno financeiro.”

Na Raízen, o principal desafio é buscar o aproveitamento máximo da água proveniente da cana, na forma de condensados, assim como a otimização das trocas térmicas em seus parques de bioenergia. Os processos são feitos como forma de maximizar a eficiência energética aliada à eficiência hídrica, utilizando a economia circular como uma ferramenta na gestão dos recursos hídricos e de redução de impacto ambiental.

Até 2030, a empresa tem o compromisso de reduzir 15% da captação de fontes externas no período de moagem. Atualmente, já alcançou 13,8% desse indicador.

Em 2015, a empresa lançou o programa Reduza, de incentivos às melhores práticas para reúso do recurso natural nas operações industriais e o aproveitamento da própria água proveniente da

AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SÃO UM DESAFIO

cana-de-açúcar – 70% da planta é composta por água –, reduzindo, assim, o consumo e a captação de fontes externas. “A partir do programa, temos por objetivo capturar o máximo de valor do reúso de águas, aliando gestão hídrica à conservação de energia e aumento de eficiência”, diz José Orlando Ferreira, gerente de Qualidade Integrada da Raízen. “Para se ter ideia, na safra 2023/24, a Raízen economizou mais de 2 bilhões de litros de água, o equivalente a 871 piscinas olímpicas. desde a criação do programa, houve uma economia de 17 bilhões de litros de água não captada, equivalente ao volume de uma cidade de 420 mil habitantes por um ano.

A agricultura é a principal consumidora de água no Brasil, responsável por metade do consumo. No entanto, os especialistas alertam que é preciso olhar o número sob um espectro mais amplo. Isso porque o dado da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) aponta para esse percentual apenas quando leva em consideração a água outorgada pelo poder público (União e órgãos estaduais) para explora ção, que responde por menos de 4% do recurso disponível no País. Os rios brasileiros têm uma vazão de 280 mil m3 por segundo – 95% vão para os oceanos. “Temos muita água”, diz Lineu Neiva Rodrigues, pesquisador da Embrapa Cerrados.

O desafio, na sua avaliação, não está na falta de água, mas nas dificuldades de acesso aos recursos para disseminar a irrigação, o que acaba agravando as diferenças sociais. “O controle da água é fundamental, porque se trata de um bem precioso”, afirma o especialista. “É fato que um país só se desenvolve se tiver água e energia. Do contrário, o que se vê são movimentos migratórios, guerras e pobreza. Por isso é tão importante fazer uma boa gestão.”

As mudanças climáticas trouxeram novos desafios. Até pouco tempo atrás, diz a assessora técnica da Comissão Nacional de Irrigação da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Jordana Girardello, a irrigação era viável quando fazia a segunda safra, como a safrinha no Centro-

26 Reportagem de Capa
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-Oeste. Hoje em dia, com as mudanças climáticas e as chuvas caindo de forma muito concentrada e em períodos diferentes, só a chuva artificial é capaz de manter a produtividade. “Se, antes, a irrigação era para a segunda ou terceira safra, agora é para garantir a safra. Ou seja, ela se tornou indispensável”, diz Girardello.

Segundo a edição mais recente do estudo Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil, da ANA, a irrigação é responsável pelo maior uso da água no País, correspondendo à metade da água retirada em território nacional. A irrigação, registre-se, utiliza um conjunto de equipamentos e técnicas para compensar a deficiência total ou parcial de água para as culturas. Atualmente, o Brasil conta com 8,5 milhões de hectares (Mha) equipados para irrigação. De acordo com o

estudo da ANA, projeta-se um aumento de 42% das retiradas de água nos próximos 20 anos, passando de 1.947 m³/s para 2.770 m³/s, um incremento de 26 trilhões de litros anuais extraídos de mananciais. “Esses dados reforçam a necessidade de ações de planejamento para termos segurança hídrica, principalmente quando considerados os efeitos das mudanças climáticas no ciclo da água”, alerta a agência. Jordana pondera que as projeções de crescimento do uso da água na irrigação estão atreladas ao crescimento populacional no planeta e à necessidade de aumentar a produção de alimentos. Para a especialista, a preocupação quanto ao uso da água já é uma realidade no campo. “Agora, faz parte da gestão do negócio o manejo da água para que ela permafoto: Shutterstock

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USO CONSCIENTE DA ÁGUA TRAZ RETORNOS

neça no solo e não haja escoamento ou carreamento de terra”, diz a especialista. Parcerias entre produtores e diferentes tipos de indústrias são fundamentais para o uso responsável da água. Além de mirar a economia dos recursos hídricos no processo industrial, a PepsiCo Brasil estimula a redução do uso de água também na cadeia produtiva, incluindo os fornecedores agrícolas. A companhia se assume como agrícola na sua “essência”, já que tem como principais matérias-primas a batata, o milho, o coco e a aveia – a grande maioria produzida no Brasil. “Somos uma das maiores compradoras de produtos agrícolas do País, com 450 mil toneladas de insumos adquiridos por ano, o equivalente a US$ 250 milhões”, diz Ricardo Galvão, diretor de Agronegócio da empresa.

Alexandre Figueiredo, da Bracell: a água está no centro das preocupações ambientais da empresa

Daí a decisão da PepsiCo de apoiar práticas sustentáveis no campo junto aos produtores parceiros. “Na cultura da batata, estão em testes tecnologias como um sistema de captação de água da chuva, o reaproveitamento do recurso que seria descartado nas últimas etapas e a instalação de hidrômetros para monitorar e controlar o consumo”, diz o executivo da PepsiCo. Ainda de acordo com Galvão, foram adotadas outras práticas, como a utilização de aguapés nos tanques de decantação para filtrar e melhorar a água reutilizada e a instalação de sistemas de energia solar para diminuir o consumo energético.

A partir da adoção dessas medidas, o consumo médio de água nas beneficiadoras de batata caiu 28%, o que representa uma redução de 45 milhões de litros por ano – o volume equivale ao consumo de uma cidade de 225 mil habitantes por um dia. O projeto está sendo ampliado para mais oito estações de beneficiamento de batata parceiras da PepsiCo no Brasil. Ainda em 2024 serão realizadas novas medições para aferição dos resultados do projeto.

A PepsiCo tem em desenvolvimento um estu-

do sobre novas tecnologias de irrigação na cultura da batata. A iniciativa apontou que a substituição da irrigação realizada com canhão por um sistema de aspersão pode trazer maior eficiência no uso do recurso natural. Nos testes conduzidos pela PepsiCo, foi estimado, nesse caso, um consumo 22% menor de água por tonelada de batata produzida por hectare. A adoção da irrigação por aspersão, segundo a empresa, resultaria em incrementos de rendimento de campo em cerca de 27%.

No setor de papel e celulose, as empresas também investem em soluções voltadas à redução da demanda por recursos hídricos. A Bracell, uma das líderes globais na produção de celulose solúvel, pertencente ao grupo RGE, de Singapura, anunciou uma nova fábrica, em 2019, em Lençóis Paulista (SP), que agora é uma das cinco maiores do mundo e uma das mais sustentáveis. A água é um dos pontos centrais das estratégias ambientais da companhia para o negócio. Reportagem de

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A ÁGUA É UM BEM CADA VEZ MAIS ESCASSO

Quando a fábrica foi projetada, uma das orientações era que fosse reutilizada a maior quantidade possível de água, conforme diz Alexandre Figueiredo, gerente sênior industrial da Bracell. Com isso, foi construída uma grande lagoa para a captação de água, reduzindo o consumo do Rio Tietê, que abastece a região. A lagoa, a 22 km da fábrica, tem a água bombeada para o sistema de tratamento, que faz o direcionamento para a unidade de produção.

A mudança nos processos para o uso racional de água começou a partir de 2020. Figueiredo lembra que não foi uma trajetória simples. “O processo de conscientização não é fácil, às vezes parecia que estávamos pregando no deserto”, diz. “Nas primeiras iniciativas, sempre tínhamos de conversar, lembrar sobre a importância da proposta. À medida que o resultado aparece, a adesão se torna natural e nossos colaboradores levam aquela conscientização também para casa.”

As empresas do setor investem em diferentes

frentes de trabalho para melhorar o relacionamento com a água. Na atividade de hortos florestais, a CMPC Brasil possui projetos que consistem no reúso de água e monitoramento hidrológico, como detalha o diretor florestal José Luiz Bazzo.

A implantação de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) no viveiro Barba Negra fez toda a diferença. O efluente gerado no processo de produção das mudas é tratado para o uso novamente, garantindo a qualidade necessária para o retorno ao sistema de produção.

O sistema capta, armazena, trata e utiliza a água da chuva no processo. No caso do monitoramento hidrológico, a empresa acompanha fatores que podem influenciar o curso de águas superficiais e subterrâneas. “A água é um bem público que vem se tornando cada vez mais escasso e de difícil acesso para as empresas e a população”,diz Bazzo. Por isso mesmo, o agronegócio tem buscado, de forma persistente, proteger o mais precioso dos recursos naturais.

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ICM IMPULSIONA CRESCIMENTO DO ETANOL DE MILHO NO BRASIL

Empresa atua em todas as etapas do negócio, desde os estudos iniciais até a implantação de equipamentos nas usinas

Omercado brasileiro de etanol de milho tem experimentado um notável crescimento nos últimos anos, impulsionado por uma série de fatores favoráveis. Na safra 2022-2023, 14,2% dos 31 bilhões de litros do biocombustível produzidos foram feitos a partir desse grão. Trata-se, de fato, de um aumento expressivo em comparação com dez anos atrás, quando essa proporção era inferior a 0,1%. As projeções da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sugerem que a tendência de crescimento continuará no próximo ciclo, com a produção podendo ultrapassar 6 bilhões de litros, o que representará 20% do total.

A presença de importantes parceiros como a ICM, que fornece tecnologia, equipamentos e serviços para os projetos de biorrefinarias à base de milho, tem desempenhado papel crucial nesse avanço, contribuindo para a superação de desafios e o aproveitamento de oportunidades. “A tecnologia de processo é o coração da biorrefinaria”, diz Daniel Yamada, gerente de desenvolvimento de negócios da ICM. “Escolher o provedor é chave para o sucesso do projeto.”

Segundo o executivo, a seleção da tecnologia correta para a usina pode representar uma diferença de produção de até 55 litros de etanol a mais por tonelada de milho, além de ter impactos significativos no rendimento de óleo de milho, consumo de vapor, leveduras e enzimas. “Esses projetos têm capex elevado, com alto investimento. Por isso, o provedor de tecnologia precisa ter experiência comprovada e forte presença local”, diz Yamada.

Uma das vantagens do milho é a sua menor suscetibilidade a fatores sazonais, podendo ser armazenado por longos

períodos. A produção de etanol de milho também resulta em produtos adicionais como óleo de milho e farelos para alimentação animal, produtos com maior valor agregado que geram fluxos de receitas significativos para a biorrefinaria.

Esses são alguns dos fatores que explicam o crescimento desse biocombustível no Brasil e o aumento no número de pedidos de autorização para novas plantas. Um levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostra que, para além das plantas já em operação, há atualmente 8 unidades com solicitações de expansão para incorporar o milho como matéria-prima, além de 9 pedidos para a construção de novas usinas aptas a produzir etanol a partir desse grão.

A ICM é líder global em tecnologias de implantação de usinas de etanol de milho. Atualmente, cerca de 75% de todo o etanol produzido nos Estados Unidos vem de uma usina que utiliza tecnologias da ICM. Esse volume é tão significativo que representa um terço do etanol produzido no mundo, independentemente da matéria-prima. No Brasil, mais de 40% de todo o etanol de milho vem de uma planta projetada pela ICM. “Nós acompanhamos os clientes durante todo o ciclo de vida do projeto”, afirma Yamada. “Vamos desde os estudos iniciais e modelos de viabilidade econômica até a aplicação de tecnologia de ponta, engenharia de processo, design, supervisão de campo e fornecimento de equipamentos proprietários para garantir o desempenho da planta.” Com 30 anos de atuação, a ICM contabiliza cerca de mais de 125 biorrefinarias implantadas pelo mundo, incluindo 4 no Brasil.

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A DISPARADA BILIONÁRIA DO ETANOL

Uma fabulosa rodada de investimentos em novas plantas capacita o Brasil para desbravar um mercado que não para de crescer

Em meio à maior alta de reconhecimento internacional da sua história, o etanol brasileiro disparou em todas as projeções sobre qual será, de agora para as próximas décadas, o combustível renovável mais requisitado na transição energética global. A resposta é unânime. Num mix que envolve metas ambientais crescentes no setor global de aviação, investimentos bilionários diretos no Brasil de gigantes da indústria automobilística e avanços sensíveis na legislação brasileira para biocombustíveis, os primeiros três meses deste ano foram formidáveis para o aumento na relevância desse produto extraído da cana-de-açúcar e do milho. A virada do etanol está sendo coroada

pela mais espetacular rodada de investimentos na criação de agroindústrias já verificada desde a criação do Proálcool, em 1975. No início de março, o tradicional grupo 3Tentos anunciou R$ 1 bilhão em investimentos em uma nova indústria de etanol de milho em Porto Alegre do Norte, no estado do Mato Grosso. O início das operações está previsto para 2026, em linha com o calendário que projeta maiores mercados para o combustível renovável. A implantação deve proporcionar cerca de 2,5 mil empregos e gerar outras 500 vagas de trabalho na operação da nova planta industrial. De dimensão semelhante, uma parceria entre a Petrobahia; a Impacto Bioenergia,

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O etanol recebe o maior volume de investimentos para a criação de agroindústrias desde o Proálcool, em 1975

encarregada da operação; a J&H Sementes; e a americana ICM, que fornecerá tecnologia, anunciou no início de março R$ 902 milhões para a construção da primeira biorrefinaria do estado da Bahia dedicada à produção do etanol a partir do milho. O funcionamento está previsto para o segundo semestre de 2026. A planta industrial terá capacidade para gerar 258 mil metros cúbicos de etanol anidro por ano, além de diversos outros produtos. “ O etanol e o óleo vegetal que iremos produzir são ótimas matérias-primas para a produção de biocombustíveis de segunda geração, o que inclui o diesel renovável (HVO), e-metanol e o SAF (Combustível Sustentável de Aviação, na

tradução da sigla em inglês) para a aviação ”, enumera o presidente da Petrobahia, Thiago Andrade. “ As perspectivas são as melhores .” Em março, os grupos Mafra e CMAA (Companhia Mineira de Açúcar e Álcool) anunciaram R$ 2 bilhões, com aporte de R$ 600 milhões até o final do ano, na construção de uma biorrefinaria de etanol de milho em Redenção, no sudeste do Pará. A previsão é de que a industrialização já comece em 2025, utilizando a safrinha do milho. As duas companhias formam a Grão Pará Bioenergia, que projeta gerar 600 empregos diretos com a nova planta e 3 mil indiretos na região. “A pauta da sustentabilidade converge totalmente com a estratégia de investimentos

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A FS tornou-se a primeira indústria brasileira de etanol de milho a receber a certificação internacional ISCC

das nossas organizações”, afirma Carlos Mafra Júnior, diretor da companhia.

Acompanhando a safra alta de investimentos, a Raízen anunciou R$ 1,2 bilhão para a construção de duas novas usinas de etanol de segunda geração (E2G), em Morro Agudo e Andradina, em São Paulo. Em Houston, no Texas, durante a conferência de energia CERAWeek, o vice-presidente comercial da Raízen, Paulo Neves, disse à agência Reuters que a companhia está buscando onde erguer a primeira usina de SAF à base de etanol do Brasil. “Estudamos até mesmo o local e as condições que são necessárias para construí-la”, afirmou. Concretizada, a usina será a segunda do mundo voltada exclusivamente para a produção de SAF, após a inauguração, em janeiro, da primeira unidade, nos Estados Unidos, pertencente à LanzaJet Inc. O executivo da Raízen externou à agência de notícias todo o seu otimismo sobre o aproveitamento do mercado de SAF pelos produtores brasileiros. “Não há óleo de cozinha usado ou sebo suficiente disponível no mundo para produzir todo o SAF que é demandado”, disse Neves. O mercado brasileiro de etanol vive, de fato, um momento único. Recentemente, a FS tornou-se a primeira indústria brasileira de etanol de milho a receber a certificação internacional ISCC (International Sustainability & Carbon Certification), atestando que o seu processo produtivo atende aos requisitos internacionais para a produção e fornecimento de etanol e óleo de milho para o mercado de SAF. Não é só isso. A empresa é também a primeira produtora de etanol no mundo a obter a certificação de Low LUC Risk em colaboração com um de nossos fornecedores de milho de

segunda safra, o Grupo GGF. Atualmente, a FS produz 2,2 bilhões de litros de etanol por ano, mas a meta é expandir a capacidade para 5 bilhões de litros no futuro próximo.

As apostas bilionárias na produção de etanol estão todas calçadas no posicionamento do produto como um dos principais vetores da transição energética no mundo. “O etanol tem pela frente um mercado virgem de 450 bilhões de litros por ano na aviação global para desbravar”, disse à PLANT PROJECT o presidente do Conselho do Agronegócio da Fiesp, Jacyr Costa. “O uso do SAF pelos aviões é peça central do compromisso da IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos) de zerar as emissões no setor até 2050. A rota do SAF pelo etanol traz vantagens ambientais, porque reduz três vezes mais as emissões do que quando utilizado o óleo vegetal”, aponta o especialista.

Dos mais de 22 milhões de voos anuais comerciais pelo mundo, apenas 2% utilizam o SAF atualmente, ou cerca de 400 mil. “Essa tecnologia é relativamente nova e o setor de combustíveis para aviação é muito complexo”, ressalva a pesquisadora Laís Forti Thomaz, da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação (RBQAV). “Há entraves como escala de produção e custo, mas o seu desenvolvimento é um caminho sem volta no qual o etanol está inserido”.

Em contraste com a quebra de expectativas na safra de grãos, as boas notícias para o etanol chegam de todos os lados. De Brasília, a aprovação do projeto Combustível do Futuro, que deve ser chancelado pelo Senado, determinou o aumento da adição imediata do produto à gasolina. A margem de mistura subiu de 22% para 27%, podendo chegar até 35% nos próxi-

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As apostas bilionárias na produção de etanol se devem ao posicionamento do produto como vetor da transição energética no mundo

mos anos. Da frota nacional atual de cerca de 40 milhões de veículos leves, 83% são modelos flex, o que dá uma dimensão da mudança de patamar no consumo. “Depois de décadas de incentivos à produção e uso de combustíveis fósseis, finalmente conseguimos uma legislação para a ampliação do mercado do etanol, renovável e limpo”, assinala o gerente financeiro e de planejamento do grupo Moreno, Wagner Ferreira. “A produção, as vendas internas e a exportação têm tudo para disparar nos próximos períodos, porque o aumento da demanda, tanto aqui como lá fora, será gigantesco”.

A legislação favorável à ampliação do uso do etanol para a geração de energia limpa acontece

em meio ao anúncio de mais de mais R$ 100 bilhões em investimentos no País, até 2030, pelas maiores montadoras de veículos do mundo. Num arco que envolve uma dezena de montadoras e vai da Hyundai, com previsão de aportes de R$ 1,1 bilhão, à Stellantis, cuja promessa é de R$ 48,7 bilhões, as companhias passam a ter foco nos carros elétricos movidos por energia renovável. Esses veículos já vão sendo chamados de bioelétricos. O interesse no etanol brasileiro como elemento central dessa estratégia de propulsão motivou cada um dos anúncios. Relator do projeto Combustível do Futuro, o deputado federal Arnaldo Jardim aponta a múltipla utilidade do etanol como a sua maior

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qualidade. “ A cadeia produtiva do etanol pode resultar em biometano, para mitigar emissões dos setores de carga pesada e equipamentos agrícolas, o diesel verde, em substituição ao fóssil, e o hidrogênio, que é o vetor energético do futuro ”, aponta. “ Mais de 60 países já adotam o etanol na mistura obrigatória nos combustíveis fósseis, com tendência de mais adesões no curto prazo .”

O etanol extraído do milho tem vantagens econômicas sobre o produto que também pode ser obtido pela cana-de-açúcar. “O mix na produção das usinas tem sido, nos últimos anos, mais para o lado do açúcar”, lembra a consultora de produção e manejo Patrícia Resende Fontou-

O COMBUSTÍVEL

DO FUTURO

A SUBSTITUIÇÃO DO PETRÓLEO POR BIOCOMBUSTÍVEIS LEVARÁ

A DEMANDA POR ETANOL A SER 9,4 VEZES MAIOR DO QUE A ATUAL ATÉ 2050

Oconsumo do etanol hidratado no mercado brasileiro de combustíveis pode superar a marca de 2 bilhões de litros em março, com um crescimento projetado para 29%, acima dos 26% registrados em fevereiro. Segundo números divulgados durante a oitava edição do Santander DATAGRO Abertura da Safra – Cana, Açúcar e Etanol, em Ribeiro Preto (SP), o uso do etanol hidratado cresceu, em janeiro, 68% em comparação ao mesmo mês de 2023. Ao mesmo tempo, o consumo de gasolina declinou 3,1% no mesmo período, totalizando 2,656 bilhões de litros em janeiro, contra 1,776 bilhão de litros para o etanol. O presidente da Datagro, Plinio Nastari, calcula que a substituição do petróleo por biocombustíveis na economia global levará a demanda por etanol, em 2050, a ser 9,4 vezes maior do que a atual. Para abastecer esse mercado, o Brasil está em condições de multiplicar por quatro a sua produção de etanol até a mesma data.

“Há ainda um trabalho muito grande a ser feito de educação da população brasileira em torno da descarbonização da economia”, diz Nastari. “As pessoas precisam saber que o etanol é o que está por trás do ar limpo das nossas cidades, que ele promove emprego descentralizado no interior do País, desenvolvimento e, também, a economia circular. A renda do etanol fica dentro do Brasil, circulando, ao contrário do que acontece com os combustíveis fósseis.”

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A legislação favorável à ampliação do uso do etanol ajudou a atrair bilhões em investimentos da indústria automotiva

ra. “Os incentivos obtidos agora pela cadeia do etanol, no entanto, devem aumentar a colocação e melhorar a precificação do produto. Em consequência, isso vai beneficiar as usinas alcooleiras, que estavam precisando de uma boa injeção de ânimo como essa.”

Hedge da área de agronegócios do banco Santander, Caroline Perestrel diz que a capacidade instalada das usinas do setor sucroenergético absorve as atuais demandas de mercado. “Mas o aumento da adição do etanol na gasolina vai gerar uma nova reorganização entre a produção de açúcar e etanol”, projeta. “O Combustível do Futuro tem ganhos para o etanol no curto prazo, mas também já sinaliza que a transição energética brasileira passará pelo produto em todas as etapas de longo prazo. Isso contribui muito para as decisões de

investimentos dos empresários do setor.”

A cadeia produtiva do etanol ainda pode saborear a tramitação, no Senado, de um projeto de lei que proíbe a venda no Brasil de carros movidos a gasolina ou diesel, a partir de 2030, e o fim da circulação desses veículos de 2040 em diante. Polêmico, de autoria do senador Ciro Nogueira, o projeto conta com boas justificativas do relator Carlos Viana. “Uma legislação forte como essa reafirma os compromissos internacionais do Brasil na redução de emissões de gases de efeito estufa e sinaliza o nosso compromisso com a descarbonização da economia brasileira”, diz o senador. Por qualquer ângulo que se olhe, o etanol se tornou a bola da vez para ganhar espaço na transição energética em que o Brasil vai obtendo, cada vez mais, status de líder global.

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LALLEMAND BIOFUELS & DISTILLED SPIRITS – LBDS

APLICA EXPERIÊNCIA CENTENÁRIA PARA IMPULSIONAR LUCRATIVIDADE DE BIORREFINARIAS NO BRASIL

Companhia presente em mais de 50 países inova para desenvolver enzimas, leveduras e outros microrganismos para processos de fermentação

os biocombustíveis se consolidaram nos últimos anos como importantes aliados da transição energética para uma matriz mais limpa e sustentável. Não à toa, eles avançam no mundo. Segundo levantamento feito pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a produção mundial saltou quase 70% na última década – e novas marcas serão quebradas nos próximos anos. Com produtos presentes em vários momentos da produção, e que geram impactos positivos na produtividade e lucratividade, a Lallemand Biofuels & Distilled Spirits – LBDS lidera essa transformação.

A Lallemand é uma empresa centenária, que há mais de um século preza e investe no pioneirismo em gerar soluções biotecnológicas de alta performance. A Lallemand Biofuels & Distilled Spirits é líder mundial em Biotecnologia de Fermentação para produção de biocombustível. Fundada no Canadá, no fim do século 19, está presente em mais de 50 países de cinco continentes. É especialista em pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização de leveduras, enzimas, agentes antimicrobianos e nutrientes, com mais de 40 centros de produção e mais de 10 centros de pesquisa distribuídos pelo mundo.

No Brasil, os produtos biotecnológicos da Lallemand, produzidos no centro de produção localizado em Piracicaba (SP), são responsáveis por atender, com alta performance, biorrefinarias de cana e milho na produção de energia e bebidas destiladas. Sua avançada tecnologia faz diferença no aumento de rendimento e redução de custos no processo de fermentação. Além disso,

toda a jornada de implementação é acompanhada de perto por um time técnico altamente especializado. Desde 2012, a empresa tem sido pioneira na introdução de biotecnologia no setor. Começando com o etanol de milho na América do Norte e expandindo para o etanol de cana-de-açúcar no Brasil em 2016, a companhia estabeleceu um histórico notável. Esse pioneirismo permitiu a expansão de centros de pesquisa de excelência e a formação de um grupo de especialistas técnicos experientes. O resultado é a garantia de soluções que priorizam o desempenho, a sustentabilidade e a lucratividade. Com profundo conhecimento dos processos e dos desafios do setor, a LBDS consegue impulsionar oportunidades de diversificação, enquanto se apoia na estrutura técnico-científica necessária para desenvolver soluções lucrativas para os produtores. Com a experiência que só uma companhia verdadeiramente inovadora e global pode ter, a LBDS vê no Brasil um celeiro de oportunidades, com sua vasta biodiversidade e potencial agroindustrial. Para a empresa, o País se destaca por uma série de fatores, incluindo o clima favorável e o avanço tecnológico. A abundância de matéria-prima de qualidade, profissionais capacitados, acesso a soluções inovadoras e tecnologias integradas também têm grande peso nesse cenário. E é nele que a biotecnologia emerge como um elemento essencial para garantir a competitividade – e como uma ferramenta abundante para enfrentar as flutuações potenciais nas margens das indústrias, seja devido aos custos da matéria-prima ou à baixa precificação dos produtos.

de produção da Lallemand em Piracicaba (SP)

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Complexo

O DESAFIO DA PRODUTIVIDADE

REFERÊNCIA GLOBAL EM EFICIÊNCIA NO CAMPO, O BRASIL

PRECISA INVESTIR CADA VEZ MAIS EM DISSEMINAÇÃO DE CONHECIMENTO, PESQUISA CIENTÍFICA, DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E QUALIFICAÇÃO DE MÃO DE OBRA PARA SEGUIR

NA VANGUARDA DO AGRONEGÓCIO

Produção Ag
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Produtividade e eficiência são termos onipresentes nas metas de qualquer corporação moderna. Produzir mais com menos, otimizar recursos, inovar para gerar valor: em grande medida, é assim que os mercados globais seguem crescendo. O agronegócio não é diferente. A busca por maior produtividade guia grande parte das decisões estratégicas que norteiam o campo – e, em especial, as gigantes corporações do agro. Nesse quesito, o Brasil é referência global. Desde a virada do milênio, o País ascende como líder em crescimento da produtividade agrícola global.

Essa posição de destaque, conforme indicado por um estudo do Serviço de Pesquisa Econômica (ERS) americano, vinculado ao Departamento de Agricultura dos Estados

Unidos (USDA), abrange um espectro de 187 nações. Entre 2000 e 2019, o crescimento anual médio da produtividade agrícola brasileira foi de 3,18%, muito acima da média global de 1,66% e à frente de nações como Índia, China e Estados Unidos. Na análise dos dados completos, que abrangem índices desde 1961, o Brasil também aparece na liderança, com crescimento anual médio de 2,43%, ligeiramente à frente de Chile e Espanha, ambos com 2,4%. Agora, o grande desafio dos produtores é encontrar maneiras de manter o crescimento da produtividade em meio a um cenário de drástica mudança climática, flutuações econômicas e desafios sociais.

Afinal, como é calculada a produtividade agropecuária de um país? Segundo a Secretaria

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Produção Ag
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Desde a virada do milênio, o Brasil é líder em crescimento de produtividade agrícola, com índices superiores aos de outros países

de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária, a chamada Produtividade Total dos Fatores (PTF) é a relação entre dois índices: de um lado, o Índice do Produto Total; do outro, o Índice dos Insumos. O PTF é calculado pela diferença entre as taxas de crescimento do Produto Total e dos Insumos. O Índice do Produto Total agrega tudo aquilo que resulta do cultivo das lavouras e da produção animal. Já o Índice dos Insumos inclui área de terras (lavouras e pastagens), máquinas agrícolas, mão de obra, fertilizantes e defensivos. Portanto, só é possível falar em aumento de produtividade se o Índice do Produto Total crescer num ritmo maior que o Índice dos Insumos.

Segundo o próprio Ministério da Agricultura e Agropecuária, múltiplos fatores explicam o salto de produtividade no Brasil. Entre eles, destacam-se: reformas abrangentes, abordando áreas como financiamento, política de preços, redução de subsídios, seguro rural e outras medidas; aumento significativo de recursos, especialmente no crédito para investimentos, com o estabelecimento de linhas de financiamento para agricultura comercial e familiar; investimentos substanciais em pesquisa e desenvolvimento de novos sistemas de produção, como o plantio direto e sistemas integrados envolvendo lavouras, pecuária e florestas.

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Paulo

Para os especialistas entrevistados por PLANT PROJECT, o País vem colhendo os frutos de anos de investimento. “Nas últimas quatro décadas, calcada no empreendedorismo do produtor rural brasileiro, com apoio de um conjunto de políticas públicas que envolveram desde a infraestrutura até o apoio à produção e a comercialização, passando por pesquisa, desenvolvimento e inovação, o Brasil aumentou em cinco vezes a produção de grãos, com aumento de apenas 60% na área plantada”, diz Eduardo da Silva Matos, pesquisador da Superintendência Estratégica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Todas essas políticas tiveram como eixo central os ganhos de produtividade dados pela inovação, a produção em escala e o acesso aos mercados internacionais”, complementa Pedro Abel Vieira Júnior, também da Embrapa.

Segundo a Embrapa, a estratégia de pesquisa, desenvolvimento e inovação na agricultura brasileira passou por duas fases distintas. Inicialmente, houve um esforço para adaptar técnicas agrícolas de regiões de clima temperado ao contexto nacional. Posteriormente, focou-se no desenvolvimento de tecnologias específicas para a agricultura em ambientes tropicais, possibilitando assim a expansão da produção em larga escala no Cerrado e na Caatinga. Os resultados são aumento anual da produção, melhoria da qualidade dos alimentos, incremento das exportações, exploração de fontes alternativas de energia, preservação ambiental e geração de conhecimento estratégico para o País. “A Embrapa e o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), sem dúvida, deram uma contribuição espetacular, especialmente a partir dos anos 1970 e 1980”, diz Paulo de Tarso Ziccardi, diretor

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Produção Ag

Em quatro décadas, o Brasil aumentou em cinco vezes a produção de grãos, enquanto a área plantada cresceu apenas 60%

de Agronegócios da gigante de consultoria

Accenture. “Mais recentemente, também temos os grandes produtores de sementes e insumos como importantes pesquisadores. Há ganhos significativos em qualidade de sementes, manejo, defensivos e novos insumos. Evoluímos, mas o caminho não termina por aqui.”

mercado mais geral. Se você tornar isso mais espalhado, o ganho será expressivo.”

Serigati salienta que, para absorver as inovações, o campo deve estar sustentado por um modelo financeiro robusto – seja na figura do crédito bancário, seja no autofinanciamento pelos atores setoriais – e apoiado por uma cadeia logística eficiente, que não encareça o recebimento dos insumos nem o escoamento da produção. Para o especialista da FGV Agro, culturas como milho, café, trigo e hortifrúti são algumas das que mais têm a ganhar com a difusão do conhecimento. Serigati também afirma que essa evolução demanda um olhar atento para a gestão do negócio agropecuário. “ A tecnologia, a inovação, a máquina, a semente melhorada, tudo é importante, mas por trás disso há muita evolução em termos de gestão do negócio ”, diz. foto:

Qual é, então, o caminho para manter o crescimento da produtividade? Mais uma vez, os fatores envolvidos são diversos, mas todos se encontram na necessidade de desenvolver e espalhar cada vez mais o conhecimento, a tecnologia e a inovação entre todos os players do setor. “Uma boa parte dos ganhos virá da difusão de conhecimentos e tecnologias que já são aplicadas hoje em dia, mas que ainda podem estar restritos a um ou outro setor”, diz Felipe Serigati, pesquisador da FGV Agro. “Existem aqueles que estão na liderança e existe o

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O aumento da produtividade depende diretamente do avanço científico

Eduardo Matos, pesquisador da Embrapa: as políticas em prol do aumento da produtividade devem estimular a inovação

Fato é que, cada vez mais, o agronegócio deverá andar lado a lado com o desenvolvimento científico, a evolução digital e o uso intensivo de dados. “Mudanças climáticas, descarbonização, insumos biológicos, bioeconomia, métricas de sustentabilidade, novas exigências dos consumidores, o conceito de saúde única, ciências ômicas, edição gênica, nanotecnologia, big data, automação, agricultura digital e de precisão, ciências cognitivas e tantas outras abordagens são essenciais para a agropecuária dos próximos 50 anos”, diz Daniela Biaggioni Lopes, da Embrapa.

Sim, a sopa de termos é capaz de deixar até os agricultores mais experientes confusos. No entanto, essa é uma realidade que veio para ficar. “O próprio Ministério da Agricultura e Pecuária lançou o programa Agro 4.0, que oferece apoio financeiro a projetos de implanta-

ção de tecnologias 4.0 no setor agrícola”, diz o consultor agropecuário Carlos Cogo. “Essas iniciativas e tecnologias, quando implementadas corretamente, podem trazer ganhos significativos de eficiência para o campo brasileiro.” E não são apenas os produtores que saem ganhando. Consumidores, meio ambiente e a economia do País também se beneficiam.

Diante de um cenário tão grande de possibilidades e da pressão constante por mais produtividade, impulsionada especialmente pelo mercado externo, o campo deverá, cada vez mais, ser capaz de medir os resultados das ações adotadas. Se hoje muitos dos fatores de produtividade são avaliados segundo médias ou com base em materiais acadêmicos nem sempre atualizados, o futuro próximo demandará informações bem mais específicas. “Será preciso entender a terra, a capacidade de produção, o

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Produção Ag
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efeito da insolação, da chuva, da quantidade maior ou menor de adubo para cada talhão específico”, diz Paulo de Tarso Ziccardi, da Accenture. “Hoje em dia, ainda não se faz um cruzamento de tudo o que foi aplicado versus tudo o que foi extraído.”

Segundo o especialista, a tendência é de que os líderes do agronegócio passem a colocar menos foco na gestão dos ativos de produção e mais no valor que pode ser gerado pela plantação ou pela criação, com olhar atento para áreas de maior produtividade e retorno. Isso, no entanto, exigirá uso massivo e intenso de dados. “É preciso transformar os dados em informação, em correlação, e ganhar granularidade”, diz Ziccardi. Para que isso seja possível, mais uma vez, a tecnologia terá papel fundamental, tanto para coleta e processamento quanto para transformação desse mundo de

IMPACTO POSITIVO

COMO O AUMENTO DA PRODUTIVIDADE BENEFICIA DIVERSOS ATORES NO CENÁRIO NACIONAL

Produtor rural

O aumento da produtividade agrícola pode resultar em maior rendimento e lucratividade. Além disso, o investimento de capital é considerado a variável com maior impacto sobre a produtividade agrícola no Brasil.

Consumidor final

O aumento da produção permitiu abastecer regularmente o mercado interno, com queda real de 41,49% no custo da cesta básica entre 1975 e 2023.

Meio ambiente

A agricultura regenerativa e de baixo carbono traz diversos benefícios ambientais, incluindo: aumento da biodiversidade; recuperação, manutenção e proteção do solo; redução na conversão de áreas nativas em agrícolas; melhoria do ciclo hidrológico; redução das emissões de gases de efeito estufa.

Economia brasileira

A agricultura brasileira é um dos setores que mais contribuíram para o crescimento do PIB nacional. Ela responde por 24% da soma de todas as riquezas produzidas, 33% de todos os empregos diretos e indiretos e 43% das exportações brasileiras, chegando a US$ 165 bilhões em 2023.

Fonte: Carlos Cogo, consultor da Cogo – Inteligência em Agronegócio

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dados em algo mais palatável, inclusive com uso de inteligência artificial.

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Cassio Rodrigues, da consultoria exagro: melhorar a qualificação dos profissionais do campo é cada vez mais fundamental

O campo estará pronto para absorver tudo isso? Um dos desafios da produtividade começa antes mesmo de qualquer semente cair no solo. “É preciso um olhar atento para o aperfeiçoamento profissional, o processo de sucessão familiar e o preparo desses jovens que vêm para o campo”, diz Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). Na visão de Cassio Rodrigues, diretor da consultoria Exagro, o problema da qualificação de mão de obra começa ainda mais cedo. “Nossas escolas estão iguais ou piores que há 20 anos, ou seja, nossos trabalhadores continuarão com baixa qualificação nos próximos dez anos ”, diz. “ É incompatível operar sistemas intensivos em uso de insumos, máquinas e tecnologia com pessoas com dificuldade de ler, interpretar textos e fazer cálculos. ” Para que o campo possa produzir cada vez mais, a semente da educação e do conhecimento deve ser plantada cedo.

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Divulgação Produção Ag

TIM LEVA CONECTIVIDADE AO AGRO E IMPULSIONA INOVAÇÃO

Empresa líder em cobertura no campo oferece internet móvel de alta velocidade a mais de 16 milhões de hectares no Brasil

Arevolução digital é uma realidade no agronegócio brasileiro. A integração de tecnologia, dados e inteligência impulsiona a produtividade e ajuda a criar um setor mais resiliente e “à prova do futuro”. Segundo um estudo do Serviço de Pesquisa Econômica (ERS) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), entre 2000 e 2019 o crescimento médio anual da produtividade agrícola brasileira foi de 3,18%, acima da média global de 1,66% e à frente de países como Índia, China e Estados Unidos. No Brasil, boa parte desse desempenho deve ser atribuída ao aumento da conectividade no campo. Nesse aspecto, a TIM tem exercido papel vital para o desenvolvimento do setor. Atualmente, a TIM leva a cobertura 4G para 16 milhões de hectares no território brasileiro. Para evoluir ainda mais, a empresa acaba de lançar uma nova frente de atuação, TIM IOT Solutions, que busca alavancar a transformação digital em setores prioritários da economia brasileira, inclusive o agro. É graças à cobertura de internet móvel que os produtores rurais podem trabalhar com plenitude a agricultura digital, utilizando dados geoespaciais para gerenciar a produção no campo, através de mapas, considerando as variabilidades. Além disso, a Internet das Coisas (IoT) possibilita o monitoramento remoto de equipamentos, o que otimiza a gestão agrícola. A adoção de drones e sensores também contribui para o mapeamento de áreas extensas, a captura de dados e a rápida identificação de problemas. Essas tecnologias não apenas melhoram a produtividade, mas também promovem sustentabilidade e competitividade.

“Hoje, temos engenheiros agrônomos como parte de nossa equipe, falando a linguagem do cliente e entendendo todas as suas

necessidades”, diz Alexandre Dal Forno, diretor de Desenvolvimento de Mercado IoT & 5G da TIM Brasil. “Estamos aqui para mostrar que a TIM está realmente trabalhando e preparada para fazer toda essa transformação digital.” Dal Forno explica que, para o campo, as redes 4G representam uma solução melhor de conectividade do que o 5G. Isso porque o 4G opera na frequência de 700 MHz, que, por ser mais baixa, alcança maior cobertura. “Em 99% dos casos de uso, o 4G atende as necessidades de IoT do agro”, diz Dal Forno. Um exemplo dos benefícios do agro conectado vem do projeto-piloto Fazenda Conectada, apoiado pela TIM. Localizado em Água Boa (MT), o projeto compreende uma área plantada de mais de 198 mil hectares e área total de 7,5 milhões de km2. Segundo Dal Forno, o projeto da Fazenda Conectada da CASE IH mostra que a safra 2022-2023 foi 18% maior do que a anterior e 13,4% melhor do que a média brasileira. Não é só. A conectividade foi responsável por um aumento de 3,5% da produtividade, resultando em 2,35 sacas de soja a mais por hectare. “Também houve ganho de eficiência operacional, com redução de 5,7% no tempo de motor ocioso e aumento de 4,2% no tempo de trabalho das máquinas, além de redução de 25% no consumo de combustível em litros por hectare”, diz o executivo.

Para 2024, a expectativa da TIM é crescer em mais 4 milhões de hectares a cobertura – o dobro da meta estabelecida para 2022 –, chegando à marca de 20 milhões de hectares conectados com 4G. Segundo a empresa, essa conectividade, além de beneficiar diretamente os produtores, também cumpre papel social. “Com a conectividade, o trabalhador rural ou o filho daquele operador de máquina podem ter mais acesso à educação, a projetos culturais e ao entretenimento”, conclui Dal Forno.

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foto: Shutterstock Energia Ag

CAMPO ILUMINADO

AMPLIAÇÃO DO MERCADO LIVRE DE ENERGIA, COM ACESSO TAMBÉM PARA CONSUMIDORES DE MÉDIA TENSÃO, CRIA

OPORTUNIDADES PARA DIFERENTES ÁREAS DO AGRONEGÓCIO

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No final da década de 1990, o processo de privatização deu início a uma grande transformação no sistema de telefonia do País. A mudança trouxe descentralização da prestação de serviços, incentivo à concorrência, avanços tecnológicos, benefícios e estímulo a investimentos. Segundo a Conexis Brasil Digital, entidade que reúne as empresas de telecomunicações e conectividade, o setor recebeu, entre 1998 e o primeiro trimestre de 2023, R$ 1,036 trilhão em recursos. Esse é um exemplo do que pode ocorrer também com o mercado nacional de energia elétrica.

A perspectiva tem se fortalecido porque, no dia 1º de janeiro deste ano, entrou em vigor a Portaria 50/2022, do Ministério de Minas e Energia (MME), que permite a migração de consumidores de média tensão para o Mercado Livre de Energia (MLE), também chamado de Ambiente de Livre Comercialização (ALC). Na prática, consumidores de energia elétrica de alta e média tensão podem deixar o mercado cativo, no qual a venda da eletricidade e do serviço de abastecimento é feita direta e exclusivamente pelas distribuidoras de energia. No MLE, os clientes escolhem de qual comercializadora vão comprar a eletricidade. O fornecimento, registre-se, continua sob responsabilidade das distribuidoras.

A abertura possibilita encontrar o melhor negócio, tanto do ponto de vista de custo, que pode ser reduzido em até 40%, quanto da adequação do contrato, com negociações sob medida. Além disso, pode-se optar pela compra de energia de uma fonte 100% renovável, fator que ajuda a iluminar o caminho das metas de sustentabilidade. Estima-se que a alteração permita que 72 mil unidades consumidoras ingressem no mercado livre, entre os quais encontram-se proprietários de comércios e empresas de pequeno e médio portes. Esse grupo engloba também pequenos e médios produtores rurais, além de outras áreas do agronegócio.

Embora tenha sido bem recebida por quem tem envolvimento direto com o setor de energia elétrica, a notícia chegou com bastante atraso. O Mercado Livre de Energia existe no Brasil desde 1995, e a expectativa era de que dali a oito anos

Luiz Fernando Vianna, do Grupo Delta: “é factível que a abertura total do mercado ocorra em 2030, mas nós acreditamos já em 2026”

todos os consumidores poderiam acessá-lo, inclusive os de baixa tensão. Ou seja, o plano estaria concretizado já em 2003. Mas isso não ocorreu. “Segundo o Ministério de Minas e Energia, é factível que a abertura total ocorra em 2030, mas nós acreditamos que é possível já em 2026”, afirma Luiz Fernando Leone Vianna, vice-presidente Institucional e Regulatório do Grupo Delta Energia.

Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Comercializadores de Energia (Abraceel) mostrou que empresas dos setores rural, comercial e industrial poderiam reduzir em até R$ 10,7 bilhões por ano seus custos com eletricidade. Os três segmentos reúnem aproximadamente 11 milhões de unidades consumidoras, das

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Energia Ag

Sergio Romani, da Genial Energy: “além de reduzir o custo de consumo de energia, podemos oferecer um seguro para a empresa”

quais 4,5 milhões estão no meio rural. Para esse grupo específico, a economia seria de R$ 2,8 bilhões por ano, em comparação com os custos atuais com eletricidade.

Enquanto o cenário não se concretiza, é fundamental conhecer as condições e as vantagens trazidas pelo Mercado Livre de Energia. Uma das mais relevantes é a customização. “O agricultor poderá buscar soluções de comercialização de energia da mesma maneira que procura soluções de insumos agrícolas, como os defensivos”, diz Vianna. O executivo chama a atenção para a possibilidade de contratar energia elétrica de acordo com o ritmo de produção. “Uma queijaria, por exemplo, que tenha maior ou menor produção, dependendo do período, pode definir a

compra da energia elétrica a partir dessa demanda”, afirma o executivo. “A questão da sazonalidade no agronegócio combina muito com o comércio customizado.”

Vianna está familiarizado com o setor. Até porque, desde 2008, o Grupo Delta atua também no segmento de etanol, com uma unidade de armazenamento do combustível em Ribeirão Preto (SP). Em um complexo de 50 mil metros quadrados, a empresa mantém 15 tanques com capacidade total de estocagem de 96 milhões de litros. Em 2010, com a inauguração da Delta Biocombustíveis, em uma área de 70 mil metros quadrados no município de Rio Brilhante (MS), a companhia passou a contar com a fabricação de 600 mil litros de combustível limpo por dia, a partir de gordura animal e óleo vegetal. Outra unidade, com 50 mil metros quadrados e capacidade total de 1 milhão de litros, começou a operar em 2019, em Cuiabá (MT).

O acesso do MLE aos consumidores de média tensão reforça a fina sintonia entre o setor de energia e o agronegócio. É o caso da Genial Energy, companhia do grupo Genial Investimentos, que inaugurou um escritório na capital mato-grossense, no final de 2023, com o intuito de ampliar seu atendimento a clientes do agro, segmento no qual já atua há dois anos e meio. Se o MLE já oferece condições de personalizar a comercialização de energia, a Genial Energy pretende ir além. “Queremos que o cliente esteja embarcado no sistema financeiro”, diz Sergio Romani, responsável pela Genial Energy. “Além de reduzir o custo de consumo de energia, podemos oferecer um seguro para a empresa ou para seus funcionários, a possibilidade de câmbio e outras soluções financeiras.”

O executivo destaca ainda que, ao migrar para o mercado livre, o consumidor se liberta das bandeiras tarifárias, ferramenta criada pelo governo para ajudar a pagar a conta no momento em que o custo de fornecimento é maior. Para Romani, os benefícios da combinação de melhores serviços com menor custo podem se converter em reinvestimento,

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VALE A PENA?

AS VANTAGENS DO MERCADO LIVRE DE ENERGIA

COMPETITIVIDADE

A permanente concorrência entre geradores e comercializadores pelo atendimento aos consumidores torna o mercado livre mais competitivo, reduzindo preços e promovendo aumento da eficiência. O mercado livre também estimula a inovação em relação aos produtos e serviços oferecidos e possibilita diminuir os gastos com eletricidade.

FLEXIBILIDADE

Todas as condições de contratação de energia são negociadas livremente entre o consumidor e o fornecedor. A negociação pode envolver preços ou quantidades diferentes de energia conforme a época do ano.

PREVISIBILIDADE

Caso deseje, o consumidor poderá fechar um contrato para os próximos anos, estabelecendo uma forma de reajuste. Isso dá previsibilidade em relação aos custos de energia elétrica, o que é relevante para indústrias que precisam orçar esses custos. Os riscos associados a mudanças repentinas que ocorrem nas revisões de tarifas de energia, por exemplo, não são necessariamente percebidos pelos consumidores do mercado livre, pois os preços podem estar previamente definidos no horizonte do contrato. Ressalte-se que o consumidor livre não paga pelas bandeiras tarifárias.

SUSTENTABILIDADE

É no mercado livre que o consumidor de energia elétrica conseguirá adquirir energia 100% limpa e renovável, escolhendo exatamente a fonte de geração que deseja. Trata-se de um aspecto fundamental no cenário de transição energética global.

Fonte: Abraceel

PASSO A PASSO

SAIBA COMO INGRESSAR NO MERCADO LIVRE DE ENERGIA

• A unidade consumidora deve ser conectada em alta e média tensão (grupo A).

• Entrar em contato com uma empresa comercializadora de energia para fazer sua contratação de energia no mercado livre.

• Com o suporte da empresa de comercialização, realizar a adesão e modelagem da empresa na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), incluindo a abertura da conta custódia em uma agência bancária (essa etapa não se aplica aos consumidores que migrarem para o mercado livre por meio de um agente varejista).

• Pela legislação, o processo de migração para o mercado livre deve respeitar o prazo mínimo de 180 dias.

Fonte: CCEE

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alimentando um ciclo virtuoso. “Ficamos muito tempo andando de lado no setor elétrico, mas agora vamos dar uma guinada”, diz. “Estamos no momento em que o consumidor será beneficiado.”

A ampliação do acesso ao Mercado Livre de Energia cria a possibilidade de os produtores rurais recuperarem o benefício conquistado em 2013, conhecido como Tarifa Rural. A iniciativa criada pelo governo federal à época garantia um desconto de até 30% na conta de energia. Contudo, o Decreto federal nº 9.642, de dezembro de 2018, eliminou o subsídio tarifário. “Com o MLE, será possível retomar essa economia”, afirma Fábio Marcelino gerente comercial da Raízen Power. “Poderemos desenvolver soluções para o fornecimento de energia de forma personalizada.”

A explicação do executivo é sustentada pelo vínculo que a empresa tem com a produção rural. Criada em 2023, a Raízen Power é o braço da Raízen no segmento de energia, e surgiu exatamente para reforçar a atuação da companhia no setor. A ampliação dos negócios começou a se concretizar, de maneira mais abrangente, em 2018, quando a Raízen comprou 70% da comercializadora de energia WX Energy. “No ano passado, o que fizemos foi apresentar uma nova marca, pois a atuação no setor já existia”, diz Marcelino. “A Raízen atua no segmento de energia elétrica desde a sua fundação, gerando eletricidade a partir do bagaço de cana-de-açúcar.”

A gigante do setor sucroenergético vem há tempos se preparando para a abertura do mercado livre, e não apenas para a mudança que entrou em vigor no início deste ano. A meta da companhia é alcançar, até 2030, 10% de market share em todo o MLE, oferecendo energia limpa e barata. “Por isso, investimos tanto no segmento e na construção de um portfólio cada vez mais amplo”, afirma o profissional da Raízen Power. Ele faz questão de reforçar o conceito de que o entendimento e a transparência da comercialização têm fundamental importância no processo de evolução da abertura do MLE. De acordo com o

Fábio Marcelino, da Raízen Power: “Poderemos desenvolver soluções para o fornecimento de energia de forma personalizada”

executivo, o Brasil já tem uma boa infraestrutura, tem avançado no quesito regulamentação, mas precisa garantir a conscientização do consumidor de que há outras opções de consumo de energia limpa e renovável.

Esse entendimento passa por uma comunicação específica para cada grupo de consumo, com linguagem adequada sobre a comercialização e o produto. Da mesma forma que é feita a negociação, atendendo às peculiaridades de cada demanda. “ O consumidor vai passar a ter uma fatura de energia elétrica, e não apenas uma conta de luz ”, diz Marcelino. Não há dúvida: daqui por diante, o agronegócio brasileiro ficará cada vez mais iluminado.

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Energia Ag

CITI ESTÁ OTIMISTA COM AS OPORTUNIDADES PARA O SETOR DE BIOCOMBUSTÍVEIS NO BRASIL

OBanco destaca diversificação de fontes e estruturas de financiamento disponíveis para apoiar investimentos de empresas sólidas e alinhadas a agendas globais relevantes – como as do setor bioenergético

s biocombustíveis têm papel crucial na agenda sustentável global, oferecendo uma alternativa aos combustíveis fósseis e contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa. O Brasil – e, em especial, o agronegócio – é protagonista desse cenário. O País se destaca pela expertise e liderança na produção e uso de biocombustíveis, especialmente etanol e biodiesel, e avança em frentes como o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) e o biometano. A força do Brasil no setor é catalisada pelo apoio de agentes do sistema financeiro. Entre eles, destaca-se o Citi, que tem se consolidado nos últimos anos como um dos principais parceiros do agronegócio brasileiro.

“Uma das grandes funções dos bancos é juntar as pontas: investidores com interesse em apoiar e aportar capital para transição energética com aqueles com projetos

estratégicos de investimento”, diz André Cury, head do Commercial Bank do Citi para o Brasil e América Latina. “O Citi historicamente apoia empresários e companhias brasileiras, com operações que vão além do trivial, que ampliam as possibilidades de capital de longo prazo e com condições alinhadas às suas necessidades.”

Em fevereiro, o banco estruturou uma operação de US$ 75 milhões para a Usina Coruripe por meio de pré-pagamento à exportação. Em janeiro, o Citi já havia atuado como coordenador global da oferta da FS Bio no mercado internacional de green bonds (instrumentos de renda fixa emitidos por empresas, governos e organizações multilaterais com o propósito de financiar projetos sustentáveis), no valor de US$ 500 milhões. Da mesma forma, o Citi atuou como coordenador global da oferta de estreia da Raízen de emissão

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de green bonds internacionais, numa operação de 10 e 30 anos que captou US$ 1,5 bilhão.

Para o Citi, o sucesso de tais operações é interpretado também como um reconhecimento por parte do mercado e dos investidores da solidez do setor no Brasil e do papel central dos biocombustíveis na agenda global.

A relevância dos biocombustíveis reside na capacidade de mitigar os impactos ambientais associados ao uso de combustíveis fósseis, como a emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros poluentes atmosféricos. Por serem produzidos a partir de fontes renováveis, como cana-de-açúcar, milho, soja e outras biomassas, os biocombustíveis têm um ciclo de vida de carbono mais favorável. Isso significa que, durante a produção e queima, os biocombustíveis liberam uma quantidade equivalente ou até menor de CO2 do que a absorvida pelas plantas durante o crescimento, resultando em emissões líquidas reduzidas.

É por causa desses benefícios que iniciativas como o chamado “projeto de lei dos combustíveis do futuro” têm ganhado tração. O texto, originado de uma iniciativa do Poder Executivo, está no Congresso. O projeto está dividido em seis eixos, estabelecendo uma nova proporção para a inclusão de recursos renováveis na mistura de combustíveis fósseis. Assim, a adição de etanol à gasolina aumentaria de 22% para 27%, podendo chegar a 35%.

Além disso, a partir de 2025, seria gradualmente acrescentado 1 ponto percentual de biodiesel à mistura do diesel convencional, alcançando 20% até março de 2030.

O texto também prevê incentivos fiscais para usinas de biocombustíveis e destilarias que produzam combustíveis renováveis a partir de fontes como cana-de-açúcar, milho e soja. “Se aprovado, o impacto desse projeto na cadeia produtiva será bastante significativo”, diz Cury. “Olhando apenas para o acréscimo de etanol à gasolina, se ficarmos na proporção de 27%, já será necessário elevar em pelo menos 5% a produção de etanol nacional. Se formos até o topo da faixa, os 35%, será preciso um salto ainda mais expressivo.”

Para o head do Commercial Bank do Citi para o Brasil e América Latina, o setor tem condições de absorver a maior demanda e aproveitar a oportunidade para crescer ainda mais. Na safra de 2023/2024, a moagem de cana-de-açúcar, principal matéria-prima do etanol, atingiu um marco histórico no Centro-Sul. Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), entre abril e dezembro, foram processadas 638,4 milhões de toneladas. Comparadas às 539,6 milhões de toneladas da safra anterior, trata-se de um aumento significativo de 18,3%. Além disso, a União Nacional do Etanol de Milho (Unem) projeta que a produção desse biocombustível em 2024 será recorde, atingindo 6,3 bi-

André Cury, head do Commercial Bank do Citi para o Brasil e América

Latina: “O etanol brasileiro é sólido e profissional ”

lhões de litros – um salto de 36% em relação ao ano passado e de 800% nos últimos cinco anos. Segundo Cury, a maturidade do setor também favorece o crescimento. “O etanol brasileiro é sólido e profissional. Os principais players atendem a elevados critérios socioambientais, têm governança robusta e finanças organizadas”, diz.

Mais uma prova do compromisso do Citi com os biocombustíveis é a destinação de recursos próprios para o setor. “Apoiamos inúmeras empresas do setor, com crédito bilateral, dentro das nossas metas para temas de transição energética e sustentabilidade. O Citi tem como meta alcançar US$ 1 trilhão em financiamento a projetos sociais e ambientais até 2030.” Entre as iniciativas que serão contempladas pelo Citi no período com esse montante estão investimentos em energias renováveis e tecnologias limpas, bem como programas de saúde e habitação acessível.

O Citi tem o agronegócio em seu DNA e uma longa história de sucesso no setor no País. “Temos proximidade, presença, tecnologia e know-how para ajudar o agronegócio.” Na estrutura do banco, não só a área comercial, mas também o investment banking, as áreas de produtos, de análise de crédito e de risco contam com profissionais dedicados ao agronegócio. O Citi também é o único banco global com cobertura nacional, por meio de nove escritórios espalhados pelo Brasil, em cidades como Porto Alegre, Curitiba, Ribeirão Preto, Campinas e Brasília, além de bases no Centro-Oeste e no Nordeste. “Nosso objetivo é ajudar esse ecossistema em todos os seus projetos com financiamento, assessoria estratégica, produtos de câmbio e cash management, mas também governança e conteúdo”, conclui Cury.

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NO RASTRO DA SUSTENTABILIDADE

PROGRAMAS DE MONITORAMENTO DA CADEIA EVOLUEM EM RITMO ACELERADO E JÁ CONTEMPLAM BOA PARTE DOS PRODUTORES DO PAÍS

Por André Sollitto

foto: Shutterstock Tecnologia Ag

á dez anos, quando as principais iniciativas de rastreamento de cadeias do agronegócio foram anunciadas pela primeira vez, a ideia de garantir que 100% da produção, seja ela direta ou indireta, fosse totalmente verificada e sem nenhum passivo ambiental parecia distante. Agora, contudo, algumas empresas estão próximas de alcançar o ambicioso objetivo. Um dos casos mais surpreendentes é o da Bunge. A gigante do setor anunciou, em 2015, um programa de verificação socioambiental, rastreabilidade e monitoramento de fornecedores. A meta final era alcançar cadeias livres de desmatamento em 2025. Depois de atingir 100% de monitoramento da cadeia direta de fornecedores de soja em 2020, a empresa anunciou no ano seguinte que passaria a estender o sistema para a cadeia de fornecimento indireta por meio do Programa Parceria Sustentável. Hoje em dia, já alcança 82% desses fornecedores.

Trata-se de um conjunto de protocolos e ferramentas para verificar qualquer passivo socioambiental. As medidas incluem a checagem permanente de listas públicas de áreas embarga-

Na Bunge, 100% da cadeia direta de fornecedores de soja é monitorada. na cadeia indireta, o índice é de 82%

O que a Bunge faz é oferecer todo o suporte para que as revendas parceiras possam monitorar os produtores de quem compram a soja. “As revendas que participam do Parceria Sustentável têm metas e recebem incentivos para progredir gradualmente na rastreabilidade de suas cadeias”, diz Pamela Moreira. O programa começou com revendedores de grãos que trabalham com volumes maiores. A partir dos bons resultados alcançados com esses parceiros, a empresa passou a trabalhar com as revendas de Tecnologia

das pelo Ibama e do Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas às de escravo. “Checamos também compromissos públicos setoriais dos quais somos signatários, como a Moratória da Soja, na Amazônia, e o Protocolo Verde de Grãos, no Pará”, afirma Pamela Moreira, gerente sênior de Sustentabilidade da Bunge para a América do Sul. “Propriedades que apresentam restrições socioambientais ou não conformidade aos compromissos mencionados são bloqueadas em nossos sistemas e impedidas de comercializar com a Bunge.”

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menor porte para garantir monitoramento integral das fontes indiretas. Para alcançar a meta proposta, especialmente em áreas prioritárias, com risco de desmatamento – como o Cerrado brasileiro ¬–, é fundamental contar com a participação de todos os elementos da cadeia. “Estamos confiantes de que vamos atingir nossa meta de rastreabilidade integral das fontes indiretas de abastecimento em alinhamento com a data determinada em nossa política”, afirma a profissional da Bunge.

A Bunge não é a única a investir em processos de rastreamento de sua cadeia. A JBS, maior produtora de proteínas do mundo e a segunda maior empresa de alimentos, monitora, via satélite, 100% do rebanho de bovinos de seus fornecedores diretos na Amazônia. A tarefa é complexa, já que inclui 50 mil fazendas distribuídas por 45 milhões de hectares. Em 2020, a empresa passou a ampliar o monitoramento também para os chamados fornecedores de fornecedores, como os criadores de bezerros. A decisão, que faz parte de seu

programa Juntos pela Amazônia, também tem como objetivo alcançar uma cadeia totalmente livre de desmatamento ilegal e de outros passivos ambientais, como invasão de terras indígenas e unidades de conservação ambiental.

Há inúmeros casos notáveis no Brasil. Amaggi, uma das maiores empresas do agronegócio brasileiro, também estipulou o ano de 2025 como data-limite para alcançar o monitoramento completo de sua cadeia de fornecedores de grãos. Em 2016, lançou a plataforma Originar, que cruza dados das fazendas dos fornecedores de grãos e outros insumos, como biomassa, com os critérios socioambientais da empresa, e faz análises de inteligência territorial, uso do solo e monitoramento de desmatamento. No ano seguinte, divulgou um compromisso de enfrentar o desmatamento, que foi atualizado em 2021 para incluir a produção agrícola, originação e financiamento da produção de grãos de fornecedores diretos, intermediários e indiretos.

Tecnologia Ag

O sucesso dessas iniciativas depende, em grande medida, da participação das revendas e de outros parceiros agrícolas das empresas. Especialmente no caso dos fornecedores indiretos, são as revendas que estão em contato direto com eles e podem intervir ao identificar alguma irregularidade. Para incentivar a participação desses agentes da cadeia, as companhias têm oferecido vantagens, como linhas de crédito diferenciadas e outros benefícios. Alguns desses incentivos só são oferecidos à medida que as revendas avançam no monitoramento de seus parceiros.

Na jornada de rastreabilidade, a tecnologia desempenha papel fundamental. No caso da Bunge, o grande trunfo é o acesso à plataforma Lyra, desenvolvida pela agtech Vega. Criada em 2018, a startup integra o Grupo Imagem, especializado em TI e geotecnologia. O sistema criado pelos empreendedores usa sensoriamento de dados com a ajuda de satélites de ponta e a inteligência de dados, construída a partir de uma extensa base de

A JBS desenvolveu uma solução de blockchain para garantir uma camada adicional de proteção em sua cadeia de

informações, para identificar mudanças no uso do solo e plantio de soja, além de mostrar a abertura de novas áreas de plantio. Se houver qualquer irregularidade, é possível fazer a verificação com grande precisão. Atualmente, o Programa Parceria Sustentável monitora 16 mil propriedades, que somam cerca de 20 milhões de hectares. Além da Bunge, a plataforma Lyra é usada por outras grandes companhias do agronegócio brasileiro, como Bayer, Cargill e Raízen, entre outras.

A JBS desenvolveu uma solução de blockchain para garantir uma camada adicional de proteção em sua cadeia de monitoramento. Por meio do sistema, a empresa pode acessar as Guias de Trânsito Animal (GTAs), de forma automatizada e com o consentimento dos produtores parceiros, e identificar exatamente a procedência de cada animal do rebanho. De um lado, o sistema de monitoramento via satélite identifica as fazendas que têm algum passivo ambiental. E as GTAs mostram de onde o gado veio. Cruzando as

foto: Shutterstock

O consumidor quer cada vez mais informações sobre o que está comprando. por isso a rastreabilidade é tão importante

informações, é possível apontar infratores. Nessa cadeia, a tecnologia blockchain, que garante o sigilo dos dados, permite que informações sensíveis do ponto de vista comercial presentes nas GTAs não sejam acessadas aleatoriamente.

A Bunge também vai desenvolver uma solução semelhante com blockchain. Em outubro do ano passado, anunciou a colaboração com a Bangkok Produce Merchandising Public Company Limited (BKP), uma empresa subsidiária da Charoen Pokphand Foods Public Company Limited (CPF), líder mundial em alimentos, para criar um sistema de rastreabilidade de soja e produtos livres de desmatamento. O acordo envolve grãos originados pela Bunge no Brasil com destino a diversos países na Ásia, onde a CPF e a BKP produzem e vendem rações e alimentos. Inicialmente, a parceria vai realizar estudos de viabilidade técnica e operacional antes de colocar em prática a cadeia integrada digitalmente.

Em um cenário de crescente pressão do mercado por cadeias produtivas mais responsáveis, o compromisso das empresas com a rastreabilidade dos produtos e o monitoramento dos produtores e parceiros é parte fundamental das políticas que cumprem a agenda ESG. As boas práticas ambientais, sociais e de governança passam, obrigatoriamente, por vários dos fatores analisados por esses programas. Por enquanto, os programas de rastreabilidade

têm ajudado os produtores infratores a regularizarem a situação. Isso envolve o fornecimento de conhecimento e ferramentas para uma transição para boas práticas agrícolas, bem como incentivos financeiros que devem ajudar nesse processo. “Entendemos que temos o papel de engajar e instrumentalizar a cadeia para apoiar produtores e clientes na transição para uma agricultura ainda mais sustentável e de baixo carbono”, afirma Pamela Moreira, da Bunge. “Em nossa abordagem, mostramos aos produtores o que as práticas sustentáveis significarão para eles no curto, médio e longo prazos e fornecemos conhecimentos, assistência técnica e soluções financeiras para promover a expansão sustentável e desestimular a abertura de novas áreas.” Estratégia semelhante foi adotada pela JBS em sua Plataforma Pecuária Transparente. Até 2025, a adesão dos produtores será voluntária. Nas áreas de abate da região amazônica, a companhia instalou o que chama de “Escritórios Verdes”, onde fornecedores com problemas poderão realizar a regularização de suas propriedades e terão acesso à assessoria técnica e ambiental. Eles contarão com auxílio jurídico e ferramentas para migrar para práticas mais responsáveis. De acordo com a empresa, há uma demanda do próprio mercado por maior transparência na origem dos produtos. Ou seja, o consumidor quer cada vez mais informações sobre o que está comprando. Tecnologia

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A A VEZ DO ETANOL DE PRECISÃO

Plataforma de leveduras de alto desempenho da IFF ajuda a indústria de etanol de cereais a atingir objetivos únicos de cada planta

indústria de etanol de cereais no Brasil está em um momento decisivo. Com a Agência Internacional de Energia (AIE) estimando que a produção global de biocombustíveis sustentáveis precisa triplicar até 2030 para atender às metas de emissões líquidas zero estabelecidas pela ONU¹, o Brasil, cuja produção de etanol de milho aumentou 800% nos últimos cinco anos, segundo dados da Unem, tem uma oportunidade única de liderar essa transformação energética.

Para alcançar esse objetivo ambicioso, a biociência avançada surge como uma aliada essencial e a IFF está na vanguarda dessa revolução, utilizando big data para apoiar as plantas na tomada de decisão, e oferecendo um portfólio robusto de soluções que incluem enzimas, leveduras e auxiliares de processo. “Ter uma fermentação bem-sucedida significa gerenciar uma série de fatores que podem afetar o rendimento geral. Na IFF, trabalhamos em parceria com o produtor de etanol de cereais para desenvolver um plano de sucesso que considera os objetivos e as condições específicas de cada planta”, afirma Mario Cacho, diretor de Vendas para Grain Processing na América Latina da IFF. Por trás dessa estratégia está a Plataforma de leveduras SYNERXIA®, projetada para otimizar o desempenho na produção de biocombustíveis, e que proporciona aos produtores de etanol flexibilidade para alternar entre leveduras ou combinações de leveduras que melhor atendam aos objetivos específicos de cada planta. “Leveduras industriais mais robustas, com soluções que aten-

dam às distintas demandas de cada planta de etanol, podem ajudar a indústria a superar os desafios e aumentar a rentabilidade. Alimentada por nossa ferramenta digital XCELIS® AI, a Plataforma SYNERXIA® ajuda ao produtor a obter a combinação perfeita de rendimento de fermentação, velocidade e robustez para desbloquear todo o potencial da planta”, explica Mario Cacho.

Isso é possível por meio da redução de subprodutos e da robustez aprimorada na fermentação, o que garante que o produtor de etanol termine a fermentação completa e consistentemente e consiga, consequentemente, melhorar o rendimento e obter DDGs de melhor qualidade. Aperfeiçoamentos genéticos também possibilitam o desenvolvimento de leveduras que expressam fortemente a glucoamilase, enzima necessária ao processo de fermentação. Uma enzima como essa permite que produtores de etanol reduzam significativamente a quantidade de glucoamilase adicionada na fermentação, sem impacto negativo no rendimento.

O avanço tecnológico abre oportunidades para a indústria, que consegue alcançar resultados cada vez mais precisos. Ter um programa sob medida deixa ao alcance do produtor a escolha por ter mais produtividade, mais rendimento ou elevar a produção de etanol e coprodutos, de acordo com as variações do preço do milho e as exigências do setor.

¹ IEA Net Zero by 2050. A Roadmap for the Global Energy Sector.

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fotos: Shutterstock Ambiente Ag

CARNE SUSTENTÁVEL

ESTUDO INÉDITO DA EMBRAPA MOSTRA COMO A PECUÁRIA PODE CONTRIBUIR PARA A REDUÇÃO DAS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA

Por Evanildo da Silveira

Apecuária é a segunda atividade que mais emite gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, sendo responsável por 18% do total. A boa notícia é que o índice pode ser reduzido – e muito. Um experimento realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) demonstrou que é possível produzir carne rentável e ambientalmente correta diminuindo as emissões de metano, o segundo GEE mais abundante gerado pelo ser humano, 86 vezes mais poderoso do que o primeiro, o dióxido de carbono.

O metano é produzido pelo gado durante a digestão. Trata-se de um processo chamado de “fermentação entérica”, uma parte natural do metabolismo dos animais ruminantes, como bovinos, caprinos e ovinos, em que os açúcares são quebrados em moléculas mais simples para absorção na corrente sanguínea deles. Esse gás foi responsável por cerca de 40% das emissões da agropecuária nos últimos 20 anos.

O experimento da Embrapa foi feito para validar o protocolo – ou marca-conceito – conhecido como “Carne Carbono Neutro (CCN)”. “O objetivo era fazer a validação em uma fazenda real, mas com alta adoção de tecnologias, como genética zebuína superior, manejo adequado das pastagens, avaliação do consumo e eficiência alimentar dos animais”, diz a zootecnista Giovana Maciel, da Embrapa Cerrados, unidade da empresa localizada em Brasília, responsável pela condução do estudo. Além do CCN, a Embrapa desenvolveu e validou anteriormente o protocolo Carne Baixo Carbono (CBC). Os dois servem para atestar que a produção de bovinos de corte em sistemas pecuários neutraliza ou reduz, respectivamente, a emissão do metano resultante da digestão do gado e de carbono.

A diferença é que o primeiro exige a presença de árvores

O experimento realizado pela Embrapa reduziu em até 15% a emissão de metano pelos animais

no pasto, em sistema Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF ou silvipastoril), pois considera o carbono sequestrado e armazenado nos troncos e sua utilização como produtos de madeira com valor agregado. No estudo, as espécies de árvores usadas foram teca, eucalipto, mogno e nim (Azadirachta indica, também conhecida como amargosa).

No segundo, não há árvores na área destinada aos animais. Nesse caso, as emissões de GEE são mitigadas pelo próprio processo produtivo, por meio da redução na idade do abate, da melhoria da dieta e do aumento do estoque de carbono no solo, como resultado de boas práticas agropecuárias, o que envolve recuperação e manejo sustentável das pastagens e sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP). No estudo, a área era composta por milho para silagem consorciado com capim.

O experimento para validar o protocolo CCN foi realizado na Fazenda Experimental da parceira no estudo, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), em Uberaba (MG), no período de 2022/23 e até o abate dos animais, em julho do ano

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passado. A pesquisa envolveu animais de genética superior, todos resultados do cruzamento de Nelore com outras raças. Eram 32 Brahmanel (Brahman/Nelore), 32 Guzonel (Guzerá/Nelore), 25 Sindinel (Sindi/Nelore) e 26 Tabanel (Tabapuã/ Nelore), adquiridos por sua excelência genética.

Foi então separado um lote de 32 animais, oito de cada cruzamento, dividido em dois grupos. “Um deles permaneceu no pasto com árvores plantadas em linhas simples, com espaçamento de 30 a 40 metros entre elas”, afirma Giovana. “O outro ficou em um piquete sem a presença delas.” Um terceiro grupo, composto de 115 animais, permaneceu em áreas comuns, seguindo o manejo costumeiro da fazenda, que tem uma área de 20,3 hectares de pasto cultivado com a gramínea Brachiaria brizantha, da cultivar BRS Paiaguás, desenvolvida pela Embrapa.

Quando a pesquisa começou, em maio de 2022, os animais tinham entre 6 e 8 meses e acabado de ser desmamados. Eles ficaram 280 dias no pasto, 140 na estação seca e 140 no período chuvoso. Em seguida, os bovinos

foram confinados por 105 dias, em currais com cochos eletrônicos e balanças. “Durante essa fase, foram medidos o consumo alimentar e de água e, por fim, a eficiência alimentar”, diz Giovana. “Os animais foram pesados a cada 28 dias, para avaliação do desempenho deles.”

Durante essa etapa de confinamento, o desempenho dos animais foi avaliado a partir de diversos parâmetros. “Por meio de uma equação, baseada no desempenho animal, qualidade da dieta, consumo alimentar, quantificou-se as emissões de GEE nos dois sistemas, considerando pasto com árvores (CCN) e pasto sem árvores (CBC)”, acrescenta a pesquisadora.

De acordo com ela, os principais resultados observados foram os altos desempenhos dos grupos genéticos avaliados, mostrando que o manejo bem feito é lucrativo e ambientalmente correto. “Os animais manejados no piquete com árvores tiveram suas emissões reduzidas, porque elas são capazes de sequestrar o gás emitido pelos animais”, diz Giovana. “Outro ponto importante é a eficiência no desempenho. Quanto mais rápido é o

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A conclusão do estudo é animadora: a atividade pecuária pode, sim, reduzir as emissões de gases de efeito estufa

ganho de peso a pasto, menor é a emissão de GEE, ou seja, por quilo de peso vivo ela é menor do que em sistemas com baixo desempenho.”

Em números, o experimento mostrou que a aplicação dos protocolos CCN e CBC em uma fazenda comercial reduz em 12 e 15%, respectivamente, a emissão de metano entérico pelos animais durante a fase de recria a pasto. Considerando as fases de recria e terminação em conjunto, no entanto, a redução foi de 2 a 5%, e o aumento na produtividade, de 4 a 8%, respectivamente, em relação ao manejo tradicional.

quando normalmente os bovinos alcançam o peso ideal. Além desses indicadores, o estudo constatou queda no custo de produção.

Segundo Giovana, a mensagem principal do estudo é que atividade pecuária pode contribuir, sim, para a redução das emissões de GEE. “Esse trabalho mostra que o Brasil está na vanguarda da produção de carne com emissão de carbono neutra e que temos soluções tecnológicas acessíveis e exequíveis para isso”, diz. “A Embrapa, em parceria com ABCZ, mostrou isso aos pecuaristas brasileiros.”

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O experimento também constatou um ganho de peso dos animais maior do que o do sistema comum. No caso do protocolo CCN, o ganho médio foi de 21,6 quilos por animal. Com a aplicação do CBC, o número subiu para 22,4 quilos. Essas marcas representam um aumento do ganho de peso de 4 a 8%, respectivamente, em relação ao rebanho em manejo tradicional da ABCZ. Outro bom resultado do uso dos protocolos de criação foi a redução da idade do abate dos animais para 21,5 meses, abaixo dos 22,

O protocolo CCN está disponível na plataforma Agri Trace Rastreabilidade Animal, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), para os produtores interessados em adotá-la. O CBC, por sua vez, deverá ser oferecido ainda em 2024. Para aderir à certificação, a propriedade deverá, já na auditoria inicial, estar em conformidade com os 20 requisitos mínimos obrigatórios para sua implantação, de um total de 67 que serão requeridos progressivamente ao longo de avaliações bienais.

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ATVOS INICIA SAFRA 2024/25 DE OLHO

EM NOVOS MERCADOS PARA EXPANDIR

ATUAÇÃO NO SETOR SUCROENERGÉTICO

Para se manter como uma das líderes do processo de transição da matriz energética no Brasil e no mundo, empresa já se estrutura para projeto de biometano em MS

Reconhecida como uma das maiores produtoras de biocombustíveis do Brasil, a Atvos vem passando por um intenso processo de transformação que tem como objetivo ampliar, ano após ano, a sua capacidade de produção. No ciclo passado, a companhia atingiu o recorde histórico ao processar 27,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em suas oito unidades agroindustriais, e já almeja superar a marca de 32 milhões de toneladas até o ano-safra 2025/2026.

Atualmente, a companhia pode produzir 3,2 bilhões de litros de etanol, que podem movimentar mais de 60 milhões de veículos compactos, bem como cogerar 4,2 mil GWh de energia elétrica limpa, suficientes para abastecer uma população de 20 milhões de pessoas. Além disso, pode emitir mais de 4 milhões de Créditos de Descarbonização (CBIOs).

Com uma trajetória de mais de 15 anos no setor sucroenergético, a Atvos agora mira também desbravar novos mercados para ampliar seu portfólio de soluções sustentáveis, como etanol de milho, SAF (biocombustível sustentável de aviação, na sigla em inglês) e biometano. Esta última fonte energética, inclusive, já figura como uma das mais importantes alternativas em substituição aos combustíveis fósseis, sobretudo em regiões não atendidas por gasodutos ou mais afastadas dos grandes centros urbanos.

Nesse sentindo, a companhia acabou de anunciar, neste mês de abril, a assinatura de um Memorando de Investimentos para a construção de sua primeira unidade de biometano a partir de resíduos da cana-de-açúcar. A unidade ficará localizada em Nova Alvorada do Sul (MS), onde a companhia já possui uma planta responsável pela produção de etanol, e

deve receber investimentos superiores a R$ 350 milhões.

A nova operação, que utilizará como insumos a vinhaça e a torta de filtro, resíduos resultantes da cadeia produtiva da cana, ocupará uma área de 150 mil metros quadrados e terá capacidade instalada de 28 milhões de metros cúbicos de biometano. Com o empreendimento, que fortalece o posicionamento da Atvos como uma das protagonistas do processo de transição da matriz energética no País, a companhia também reforça seu compromisso com o desenvolvimento socioeconômico de Mato Grosso do Sul, onde gera diretamente 4 mil empregos, além de mais de 11 mil de forma indireta.

“A implantação da fábrica de biometano na Unidade Santa Luzia (USL) marcará a entrada da Atvos no mercado de gás natural de origem renovável, com o diferencial de produzi-lo em larga escala para atender uma demanda que não para de crescer. Ao mesmo tempo, ampliamos nosso portfólio de soluções sustentáveis, e, sobretudo, contribuímos efetivamente para a transição da matriz energética, seguindo um conceito de economia circular, ao darmos destino e gerarmos novas receitas a partir de resíduos da nossa cadeia de produção”, afirma Bruno Serapião, CEO da Atvos.

A expectativa é que o projeto entre agora em fase de análises de engenharia para aprovação final e que as obras sejam iniciadas ainda neste ano de 2024. Nessa linha, a companhia, que gera mais de 10 mil empregos diretos no País, segue firme em seu propósito de produzir energia limpa que move o mundo e transforma vidas.

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Caiu na rede

A piscicultura avança no Brasil e abre novas oportunidades de negócios

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As regiões produtoras do mundo
foto: Shutterstock

As regiões produtoras do mundo

CULTIVO SOB AS ÁGUAS

PISCICULTURA ENFRENTA DESAFIOS CLIMÁTICOS E SANITÁRIOS, MAS MOSTRA QUE TEM FÔLEGO PARA GANHAR

MAIS VOLUME NO MERCADO BRASILEIRO DE ALIMENTOS

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foto: Shutterstock

No último 7 de março, o pescado in natura entrou na lista de alimentos da cesta básica da população brasileira, juntamente com a sardinha e o atum enlatados, que estão entre os produtos minimamente processados. A inclusão veio com a Portaria nº 966/2024, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), em resposta a uma solicitação do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Sob diversos aspectos, ela estimula o consumo de pescado no Brasil e a expansão da cadeia produtiva, além de ser uma clara demonstração do prestígio conquistado pela piscicultura nos últimos anos.

No ano passado, foram produzidas no País 887 mil toneladas de peixes de cultivo, segundo a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). Mesmo diante de adversidades de ordem climática e sanitária, houve crescimento de 3,1% em relação ao volume registrado em 2022. O avanço constante no período entre 2014 e 2023 coloca a piscicultura em destaque na comparação com outras atividades e alimenta o entusiasmo de quem mergulha diariamente nos temas do setor. “Nunca tivemos uma proteína com crescimento médio de 5,3% durante dez anos seguidos”, diz Francisco Medeiros, presidente da Peixe BR. “Essa performance deverá continuar nas próximas décadas.”

O principal item desse universo é a tilápia, que caiu no gosto dos consumidores brasileiros e já representa 65% de toda a produção nacional de peixe de cultivo. O pescado aparece até nos cardápios da região Norte, onde não é cultivado. Em 2023, foram produzidas 579 mil toneladas do pescado, volume 5,3% maior do que o resultado do ano anterior.

As espécies nativas, como tambaqui, pacu, pirapitinga, pirarucu e pintado, aparecem na segunda posição desse ranking, com participação de 30% no mercado total de peixe de cultivo. Contudo, o volume produzido caiu. Em 2023, foram 263 mil toneladas, índice 1,3% menor do que o de 2022. Para Medeiros, a retração no segmento de espécies nativas não é suficiente para dizer que o balanço foi negativo, até pela influência de problemas fora da cadeia. “A questão ambiental é prioritária, assim como é necessário definir – e levar adiante – um modelo de negócios atrativo para o investimento da iniciativa privada ”, afirma o executivo da Peixe BR. As outras espécies de cultivo –entre as quais estão carpas, trutas e pangasius – somaram 44 mil toneladas no ano passado, mantendo a estabilidade de produção. Esse volume representa 5%

Francisco Medeiros, da Peixe BR: “Nunca tivemos uma proteína com crescimento médio de 5% durante dez anos seguidos”

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Piscicultura foto: Shutterstock
foto: Divulgação

da soma total de peixes de cultivo do País.

O avanço da piscicultura no País tem relação direta com os dez anos de existência da Peixe BR e as ações desenvolvidas durante esse período. Entre outras iniciativas realizadas pela entidade está a constante aproximação com órgãos governamentais, sobretudo no âmbito federal. A estreita relação com o MPA é um exemplo. “Quando assumi a pasta, meu primeiro evento oficial fora de Brasília foi o lançamento do Anuário Peixe BR, em São Paulo”, afirmou o ministro André de Paula, ao participar da apresentação da publicação na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Na ocasião, André de Paula destacou a importância dessa sinergia, reforçando o compromisso de cuidar pessoalmente de questões cruciais para a piscicultura, como o uso das águas da União e a legislação ambiental. O ministro diz que uma de suas prioridades é se debruçar sobre a retomada do acesso do pescado brasileiro ao mercado europeu, suspenso em janeiro de 2018. “Voltar a exportar para lá é uma prioridade de governo, não só do MPA”, afirmou André de Paula. A expectativa é de que até o meio deste ano o Brasil receba uma

visita técnica de autoridades sanitárias europeias, para uma reavaliação da cadeia produtiva.

Os bons resultados para a piscicultura vindos desse livre acesso da Peixe BR ao governo federal não se resumem ao MPA, ainda mais em situações emergenciais. A movimentação do setor, representado pela entidade, para evitar novos desafios sanitários levou o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) a suspender importações de tilápias do Vietnã. O motivo: impedir a entrada de uma doença altamente perigosa existente no país asiático, a Tilapia Lake Virus (TiLV), homônima a seu patógeno. O Brasil é uma área livre desse vírus. Embora não ofereça riscos aos consumidores, a TiLV é uma grande ameaça à piscicultura nacional, por causar mortalidade em massa, podendo dizimar de 10 a 90% da população de peixes, tanto em ambientes naturais como de cultivo.

Medeiros também quer aproveitar o bom relacionamento para garantir condições de os piscicultores, e a cadeia como um todo, ampliarem os caminhos em direção ao crédito. Em 2023, o setor captou R$ 980 milhões, segundo dados do Banco Central, sendo R$ 900 milhões para custeio e R$ 80 milhões para investimento. O

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valor total foi 18% maior do que no ano anterior, mas o dirigente da Peixe BR acredita que é possível ir muito além. “Podemos passar para R$ 5 bilhões, e ainda dá para fazer isso durante este governo”, afirmou.

O Paraná é, de longe, o estado brasileiro que mais produz peixes de cultivo, com participação de 24% nesse mercado. Em 2023, a liderança foi garantida com 213 mil toneladas, volume 10% superior à produção do ano anterior. A performance dos paranaenses contribui para assegurar a posição de destaque da região Sul na atividade, com 296 mil toneladas de peixes de cultivo no ano passado e crescimento de 7% sobre 2022.

A segunda posição entre os estados continua sendo ocupada por paulistas, mas houve retração de 1% entre 2023 e 2022. No ano passado, São Paulo produziu 82 mil toneladas, contra 83 mil no ano anterior. Em seguida está Minas Gerais, com produção de 61 mil toneladas em 2023 e uma surpreendente evolução de 12 % na mesma

EM EXPANSÃO

comparação. Com o maior crescimento entre os estados – o único de dois dígitos –, os mineiros ganharam a posição de Rondônia e deram sinais de que podem ir além. “Minas Gerais pode logo estar brigando pela segunda posição com São Paulo”, disse Francisco Medeiros, da Peixe BR.

Tal perspectiva tem explicação. A disparada da produção de peixes de cultivo em Minas Gerais é resultado de uma combinação de fatores que poderia favorecer a atividade no País todo: avanço na regularização de áreas aquícolas, desenvolvimento da atividade em tanques-rede, aprimoramento da industrialização, maior disponibilidade de crédito e um grande mercado consumidor.

Morada Nova de Minas se tornou uma referência de profissionalização da piscicultura. Cercada pelas águas da Represa Três Marias, a cidade tem 2,08 mil quilômetros quadrados, 9 mil habitantes e já responde por mais de 50% da produção de peixes de cultivo de Minas Gerais. “Há uma ação empreendedora de pequenos

OS LÍDERES

DE MERCADO

A PRODUÇÃO DE PEIXES DE CULTIVO POR ESTADO

Fonte: Peixe BR

Fonte: Peixe BR

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Piscicultura
Ano Volume Evolução (toneladas) 2023 887.029 3,1% 2022 860.355 2,3% 2021 841.005 4,74% 2020 802.930 5,93% 2019 758.006 4,9% 2018 722.560 4,5% 2017 691.700 8% 2016 640.510 0,4%
A PRODUÇÃO NACIONAL DE PEIXES DE CULTIVO
Estado 2023 2022 Evolução (toneladas) (toneladas) Paraná 213.300 194.100 9,9% São Paulo 82.400 83.400 -1,2% Minas Gerais 61.600 54.700 12,6% Rondônia 56.500 57.200 -1,2% Santa Catarina 56.100 54.300 3,3% Maranhão 49.143 50.300 2,3% Mato Grosso 44.900 42.800 4,9% Mato Grosso do Sul 34.100 34.450 -1% Bahia 34.000 34.000Pernambuco 32.200 31.960 0,7%
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empresários que são grandes produtores”, afirmou Medeiros, lembrando que já há oito frigoríficos de pescados na cidade.

Não por acaso, Morada Nova de Minas tornou-se a quarta região para coleta semanal de dados de mercado do Indicador de Preços de Tilápia, ferramenta de informação criada pela Peixe BR e realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/ USP). A atividade local ainda ganhou fôlego com a presença da cooperativa de crédito Sicoob, confirmando a relevância do incentivo financeiro. E, desde 2006, os produtores locais contam com o suporte da Cooperativa dos Piscicultores do Alto e Médio São Francisco, a Coopeixe, que nasceu exatamente para fortalecer o setor e multiplicar as oportunidades de negócios.

Um dos cooperados é Elói Pereira Rodrigues, proprietário da Cardume Brasil, empresa que toca em sociedade com os filhos. Com produção mensal de 120 toneladas de tilápia, a companhia

No brasil, o consumo de tilápia aumentou 93% nos últimos dez anos e projeções mostram que o alimento seguirá em alta

fatura entre R$ 12 milhões e R$ 15 milhões por ano. Para isso, Rodrigues mantém o alojamento de aproximadamente 180 mil peixes por mês, entre alevinos (cerca de 80%) e juvenis.

Entre as estratégias de Rodrigues para manter o negócio em evolução está a oferta constante de peixes, que levam seis meses para ficar prontos, da chegada na propriedade ao abate. O processo é sincronizado para que todo mês um novo ciclo comece. Até por isso, o pescado não pode ficar na empresa além do semestre de produção. “É preciso já liberar espaço para os novos alevinos”, diz Rodrigues. “Além disso, se passar desse período, a conversão alimentar já começa a piorar.”

Diante das boas perspectivas da piscicultura e do crescente consumo de tilápia no Brasil – nos últimos dez anos aumentou 93%, segundo a Peixe BR –, Rodrigues planeja dobrar a produção da Cardume Brasil. “O peixe é a proteína animal que mais cresceu nos últimos anos e, com mais espaço, posso aproveitar ainda mais essa condição.”

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foto: Divulgação

HPB INOVA EM SOLUÇÕES PARA GERAÇÃO DE VAPOR

Empresa proporciona soluções exclusivas que combinam eficiência energética, elevada robustez operacional e baixo impacto ambiental

AHPB, empresa brasileira com 30 anos de história, se destaca no mercado ao oferecer soluções integradas para a geração de vapor, impulsionando a inovação e sustentabilidade na indústria. Com um compromisso contínuo com pesquisa, desenvolvimento e inovação, a HPB proporciona soluções exclusivas que combinam eficiência energética, elevada robustez operacional e baixo impacto ambiental.

Utilizando biomassas renováveis e residuárias como combustíveis, a HPB emprega diversas tecnologias na geração de vapor, tendo por destaque as caldeiras leito fluidizado borbulhante, reconhecidas como o estado da arte na geração de vapor. Essas caldeiras não apenas garantem eficiência energética superior, mas, também, oferecem uma disponibilidade operacional incomparável, resultando em um menor consumo de biomassa combustível e menor custo total ao proprietário, gerando valor.

Para o tratamento dos gases de combustão, a HPB utiliza precipitadores eletrostáticos de última geração, que não só reduzem as emissões atmosféri-

cas, mas também eliminam a necessidade de água nesta operação, minimizando a pegada ambiental e preservando os recursos hídricos.

As soluções HPB destacam-se, ainda, por suas baixíssimas emissões atmosféricas e compromisso com zero carbono fóssil. Tais soluções não só asseguram uma eficiência energética superior, como ainda oferecem construção modular comprovada de rápida instalação.

Com mais de 170 unidades fornecidas ao mercado latino-americano, todas com performance 100% comprovada pelos clientes, a HPB posiciona-se na vanguarda do setor. Além disso, a empresa oferece serviços de assistência técnica especializados, tanto local quanto remoto.

Acreditando no Brasil como protagonista mundial na transição energética, a HPB continua a investir em soluções renováveis e de baixo impacto ambiental. Com sua experiência, espírito inovador e compromisso com a sustentabilidade, a HPB está na vanguarda da geração de vapor, contribuindo para um futuro mais limpo e sustentável para o País e o mundo.

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sabor caseiro: Novos rótulos de gim apostam em biomas brasileiros

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A grande feira mundial do estilo e do consumo
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As regiões produtoras do mundo

A Y VY possui seis gins em seu portfólio, cada um dedicado aos diferentes biomas brasileiros

SABORES NATIVOS

Após vasta pesquisa pelos biomas brasileiros, a mineira YVY criou rótulos de gim que valorizam ingredientes tradicionais e pouco conhecidos

Há dez anos, quem fosse a um supermercado ou loja especializada em bebidas em busca de uma garrafa de gim encontraria pouquíssimas opções. Além de marcas tradicionais, a maior parte delas inglesas, seria possível comprar talvez um único rótulo nacional, certamente inspirado no London Dry, estilo mais clássico do Reino Unido. Hoje em dia, contudo, a situação mudou. Com a popularização do gim-tônica, coquetel elaborado com o destilado e água tônica e criado originalmente para proteger os soldados da malária, o Brasil viu o consumo disparar. Dados do International Wine and Spirits Research (IWSR) apontam que, em um período de cinco anos, o aumento médio no consumo anual do gim no País foi de 74%. Com isso, a oferta de opções também cresceu significativamente. Agora, além dos importados, provenientes de países como Espanha, Escócia, Estados Unidos e Romênia, há um movimento crescente de destilarias brasileiras desenvolvendo receitas autorais, que valorizam os ingredientes locais.

Entre os destilados, o gim tem uma das histórias mais surpreendentes. Os registros apontam para o surgimento de tônicos elaborados por monges no século 13, a partir do zimbro, planta com propriedades medicinais conhecidas há ainda mais tempo. Os romanos usavam as bagas para a purificação, e os médicos medievais enchiam suas máscaras com zimbro para se proteger da peste negra. No século 17, o gim passou a ser vendido em farmácias como tratamento para uma série de males, e oferecido aos soldados em guerras. Depois, acabou se popularizando mesmo como uma alternativa bem mais barata ao brandy francês. O consumo aumentou tanto no século 17 que o período conhecido como “Loucura do Gim” exigiu que o governo tomasse medidas para restringir o acesso. Mais tarde, técnicas modernas de destilação fizeram

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com que o líquido ficasse mais puro. E, aos poucos, tornou-se uma bebida aceita pela sociedade, foi incorporada às cartas de coquetéis de bares e se tornou um dos destilados obrigatórios no acervo de qualquer bartender.

E foi assim que chegou ao Brasil. À medida que o mercado amadurecia e as cartas de drinques locais ficavam mais atualizadas, o interesse pela bebida cresceu. Ainda assim, todos os rótulos eram importados. “Eu tive bar e vi o impacto na operação quando um gim como Beefeater estava em falta no mercado”, afirma o empresário André Sá Fortes. Foi a partir dessa necessidade que ele criou a YVY, destilaria cujo nome, em tupi-guarani, quer dizer território. “Vi que tinha espaço, oportunidade e vontade de criar um projeto de destilados premium, com preço competitivo, com DNA brasileiro”, conta. Fortes fez cursos de destilação com foco em cachaça, mas entendeu que seria preciso ir à Inglaterra aprender com os profissionais que fazem a bebida há muito tempo. Seu primeiro sócio, Darren Rook, é um mestre destilador conhecido por passagens em diversas empresas do setor. Com esse conhecimento, elaborou um plano de negócios e, assim, surgiu a YVY, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

A estratégia previa a criação de três gins diferentes. O primeiro, Mar, seria focado na experiência dos imigrantes que vieram para o Brasil. A bebida levaria especiarias clássicas das rotas de navegação, e seria mais próxima de estilos consolidados, como o London Dry Terra, dedicado aos saberes dos povos originários, e Ar, focado no Brasil contemporâneo. Antes de bater o martelo sobre as receitas, Fortes e os sócios fizeram uma extensa pesquisa de campo, estudando ingredientes e possibilidades. O projeto “Territórios” foi dividido por biomas brasileiros, e a equipe viajou para o Jalapão, regiões de Mata Atlântica, Caatinga cearense e os Pampas gaúchos, entre outros locais. “Nas comunidades locais, aprendemos muito sobre o bom uso de botânicos regionais”, diz Fortes. Os viajantes levaram um kit de destilação portátil e, em alguns casos, faziam as experiências no meio do trajeto. “Às vezes, os experimentos não davam certo, mas descobrimos coisas muito interessantes.”

Atualmente, o portfólio da YVY é formado por uma série limitada, com seis gins diferentes, cada um dedicado a um dos biomas brasileiros. A versão da Caatinga leva maracujá, aroeira, xique-xique e cajá, entre outros. O rótulo do

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andré fortes ( na página ao lado ) e alguns de seus produtos: parceria com a gigante ambev deverá acelerar a produção e melhorar a distribuição dos rótulos da destilaria

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Pampa é produzido com erva-mate, pinhão, araucária, flor de sabugueiro e carqueja. Já o gim do Pantanal é elaborado com botânicos pouco conhecidos fora da região, como laranjinha-de-pacu, assa-peixe, nó-de-cachorro e picão-preto, além de manga e mel-de-arara. Esses são produzidos em quantidades limitadas. Mas os principais são os três rótulos fixos, Terra, Mar e Ar. Nas viagens, Fortes e os sócios também estabeleceram relações com produtores responsáveis pelo fornecimento de botânicos. “Procuramos principalmente ecoextrativistas”, diz o empresário. Foi assim que conheceram a comunidade quilombola do Vão das Almas, no Cerrado, que fornece a pimenta-de-macaco. Outro fornecedor é o projeto La Ferme Moderne, de Avaré (SP), que produz frutas nativas do Sudeste em sistema agroflorestal. O sabor adocicado e levemente ácido casou com a proposta do gim. E, assim, fecharam um acordo de fornecimento. No início, eles eram capazes de produzir apenas 6 quilos de moranguinhos por mês. “Estabelecemos uma parceria organizada de demanda futura, o que contribuiu para o crescimento da produção.” Hoje, entregam 50 quilos mensais, e se preparam para ampliar a capacidade para 300 quilos.

Em abril do ano passado, a YVY fechou um acordo com a gigante Ambev para acelerar a produção e distribuir os rótulos em canais de grande volume, como o app Zé Delivery. Será necessário produzir ainda mais, e talvez seja preciso buscar outros parceiros. “É muito bonito dizer que usamos ingredientes nativos, mas muitas vezes usamos tão pouco que aquela quantidade não vai fazer diferença na vida do produtor”, afirma Fortes. “Acreditamos que a escala que vem com uma parceria como essa.”

Além de levar os rótulos para mais consumidores, a YVY está expandindo o portfólio. Hoje em dia, além dos gins, há uma vodca elaborada com babaçu, que dá um perfil sensorial diferente de outros concorrentes. Existe também uma linha de coquetéis prontos, em lata, feitos com os destilados da casa. Os próximos produtos a chegar ao mercado serão um rum e uma cachaça brancos. Mais para a frente, o objetivo é lançar um destilado feito de agave cultivado no sertão da Bahia. No México, o agave-azul é usado na produção de tequila e mezcal. Aqui, é diferente, sendo muito aproveitado para a fibra da corda de sisal, uma indústria em declínio. Mas que, afinal, pode ser usado para produzir bebidas.

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NEOMILLE IMPULSIONA PRODUÇÃO DO BIOCOMBUSTÍVEL NO BRASIL

UFilial da Cerradinho Bioenergia recebeu investimentos de mais de R$ 1 bilhão para construir a nova unidade, que processará 608 mil toneladas do grão na primeira fase de operações

ma das maiores transformações da história do agronegócio vem ganhando corpo a partir do etanol de milho. O biocombustível originado do grão, que dez anos atrás representava apenas 0,1% do total de etanol feito no País, terminou a safra 2022-2023 respondendo por 14,2% dos cerca de 31 bilhões de litros produzidos por aqui. Para o próximo ciclo, espera-se uma expansão ainda mais significativa, com projeções da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontando para uma produção que pode ultrapassar os 6 bilhões de litros – o que significará uma participação de 20%. Trata-se de um incrível salto de 800% nos últimos cinco anos. Uma das empresas que estão na vanguarda da revolução é a Neomille, filial da Cerradinho Bioenergia, que no início deste ano inaugurou sua segunda fábrica, em Maracaju (MS). A nova planta da Neomille é fruto de um investimento de R$ 1,080 bilhão. Desde o começo das operações, a unidade vem atingindo todas as metas planejadas de produção, não apenas de etanol de milho, mas também de coprodutos como ração animal (DDGS), óleo e energia. A fábrica tem capacidade de processar 608 mil toneladas de milho nesta primeira fase, contribuindo para as iniciativas sustentáveis que, cada vez mais, ganham relevância no cenário nacional e internacional. “Estamos entrando em uma nova era para os negócios da

Cerradinho Bioenergia e para o Brasil”, diz Renato Pretti, diretor executivo do Negócio Milho da Cerradinho Bioenergia. “A Neomille está inserida no movimento de descarbonização, comprometida com a excelência operacional e a sustentabilidade.”

Milho e cana-de-açúcar são matérias-primas complementares na produção de etanol. Uma das vantagens do milho é sua menor volatilidade sazonal. Enquanto a cana precisa ser utilizada imediatamente após a colheita, o milho pode ser armazenado por longos períodos sem perder suas características. Além disso, o milho oferece uma alternativa para atender à demanda por etanol quando a fabricação de açúcar se mostra mais lucrativa para os produtores de cana. “O etanol é um produto especial, uma solução pronta para o processo de descarbonização do planeta”, diz Pretti. “Temos que valorizar tudo que construímos e sustentar a competitividade desse produto.”

Segundo projeções da Unem, o setor deverá receber investimentos que ultrapassam os R$ 20 bilhões em toda a cadeia de produção nos próximos anos. Além de impulsionar a produção de etanol de milho, a Neomille também busca extrair o máximo valor do grão a partir dos coprodutos. Com capacidade para gerar 161 mil toneladas de DDGS, 10 mil toneladas de óleo de milho e 51 GWh de energia, a empresa contribui para a diversificação da matriz energética e para o desenvolvimento do País.

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Alta Tecnologia

Como o PwC Agtech se tornou o principal hub de inovação para o agro do País

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As inovações para o futuro da produção
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As inovações para o futuro da produção

O VALE DO SILÍCIO DO AGRO

Em Piracicaba, o PwC Agtech Innovation tem 400 startups cadastradas, cria produtos de aceitação crescente e se destaca com um sistema que integra grandes empresas, academia, poder público e jovens desenvolvedores

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Tudo começou em uma pequena garagem. Aquele que é hoje o maior hub tecnológico do Brasil voltado para a agroindústria nasceu em 2012, nas dependências de uma casa de família, no centro de Piracicaba, interior de São Paulo. Ali, o engenheiro químico José Augusto Tomé abriu as portas do primeiro coworking brasileiro voltado para a inovação em agropecuária, com ênfase na cana-de-açúcar, destaque da região. A iniciativa se mostrou uma verdadeira antecipação do futuro. Jovens criadores de soluções se aproximaram, o lugar virou um polo de encontros e novas ideias, cresceu e mudou de mãos. Hoje em dia, pertencente a uma multinacional de pesquisa e consultoria, o Agritech Garage tornou-se o PwC Agtech Innovation, reconhecido no mercado como o “Vale do Silício” do agro brasileiro. Mais de 400 startups e agritechs de todos os portes estão cadastradas no banco de dados do hub. Pelo menos 80 delas têm relação regular com o centro tecnológico, ocupando alternadamente os espaços físicos para desenvolver projetos, estimular seus times e atingir o que se chama de “inovação aberta”, repleta de interações e compartilhamentos. Por meio de pagamento de diárias, mensalidades ou anuidades, essas companhias podem deter de uma simples cadeira, para marcar presença no ambiente de ideias e negócios, até salas inteiras para trabalhos de longo prazo. Há instalações de última geração para a realização de reuniões virtuais e podcasts, além de espaços de descanso que incluem uma rede esticada com almofadas a 5 metros de altura do solo. Tudo é adaptável às necessidades das empresas conectadas à modernidade. A estrutura física do hub causa impacto. Instalado no epicentro de uma área de mais de 2 milhões de metros quadrados pertencente à holding Aguassanta, controladora do Grupo Cosan, o edifício tem 2,4 mil metros quadrados de área construída. Exemplar de

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Pelo menos 400 startups e agritechs de todos os portes estão cadastradas no banco de dados do hub localizado em Piracicaba

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arquitetura moderna, foi planejado em detalhes para estimular encontros e criatividade. Em seus diferentes ambientes, envolvidos por vidraças, aberturas e transparências que valorizam a entrada da luz natural e tornam a atmosfera mais informal, gigantes do campo têm a oportunidade de entrar em contato com líderes de startups dos mais variados portes, firmar parcerias, semear tecnologia de ponta e garantir a destacada posição global brasileira

em inovação no agro.

“ Procuramos extrair o máximo das oportunidades criadas a partir desse polo de inovação ”, diz a líder de Geração de Valor e Inovação Aberta da John Deere, Débora Rodrigues. A cada 15 dias, sem falta, times da multinacional americana de máquinas e equipamentos agrícolas são tirados de seus escritórios tradicionais para ocupar a sala transparente da companhia no hub. “Oxige -

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No agro do século 21, a inovação está no centro dos negócios. Sem ela, não é possível competir em condições de igualdade com os protagonistas do setor no mundo

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nar e renovar”, resume ela. A pauta, nessas ocasiões, é tecnologia e desenvolvimento. De modo permanente, representantes da empresa se encarregam de manter canais abertos com as startups que, por sua vez, passam a conhecer demandas específicas e procurar as soluções mais adequadas. Um processo formal, mas com jeito de atividade lúdica. Nos últimos anos, em razão das interações bem-sucedidas com as startups, a John Deere

passou a fazer parte do conselho do Agtech Innovation. “Aqui, renovamos diariamente o nosso compromisso de alinhamento com o futuro, garantindo aos nossos clientes uma posição na fronteira das descobertas que irão fazer a diferença em produtividade e economia”, acrescenta Débora. “Acreditamos na proposta e queremos contribuir para o seu desenvolvimento.” As multinacionais Bunge, maior processadora de alimentos do mundo; OCP, líder global em

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COMO NASCE A INOVAÇÃO

CROMAI FAZ DO HUB UM CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Na constelação de startups presentes no PwC Agtech Innovation, a Cromai é uma das estrelas mais reluzentes. Fundada em 2017 por três amigos interessados em agricultura, pecuária e tecnologia, a empresa somou 55 colaboradores em dezembro de 2022 e, no mesmo mês do ano passado, tinha um time de 162 pessoas, entre elas 50 são desenvolvedores de tecnologia. “Nosso propósito é um só: revolucionar o agronegócio pelo uso da inteligência artificial”, define o sócio Henrique Del Papa, médico veterinário, cofundador e diretor de Operações da Cromai. Para ele, a presença física em uma sala de 20 metros quadrados é estratégica. “Cem por cento do nosso pessoal trabalha em home office, mas o nosso espaço aqui dá visibilidade para a empresa, traz contatos, proporciona informação e cria as condições para parcerias de desenvolvimento”, diz Del Papa. “A vivência dentro do hub é muito rica. A própria administração busca, informa e compartilha informações de mercado e promove mentorias com players. Aqui, as pessoas se ajudam, há uma forte conexão entre as companhias presentes.”

Nos últimos três anos, a Cromai se destacou entre as startups no ecossistema do agronegócio pela grande capacidade de atrair investimentos diretos. O primeiro aporte, em 2021, foi de US$ 1 milhão, feito pelo grupo Stoller, de nutrição foliar, mais tarde comprado pela Corteva por R$ 1,5 bilhão. Após o produto conhecido como Cromai Serch, de pesquisas sobre áreas cultivadas, ganhar espaço no mercado, a startup iniciou a sua série A de captações. A primeira fase rendeu uma injeção total de R$ 15 milhões, enquanto a segunda rodada obteve outros R$ 17 milhões. Mais recentemente, aportes da Totvs, maior empresa brasileira de desenvolvimento de sistemas, e family offices dos Ermírio de Moraes e de outros clãs do agronegócio proporcionaram mais R$ 30 milhões para sustentar as pesquisas –e desfrutar dos resultados da Cromai. Para 2025, a meta é faturar R$ 50 milhões com a colocação

de produtos inovadores no mercado.

“A Cromai, sem dúvida, é uma das nossas principais parceiras no hub”, afirma a executiva Débora Rodrigues, da John Deere. A startup conseguiu contribuir com algumas de suas descobertas aos sistemas de controle remoto de tratores e máquinas da companhia. Neste momento, o sucesso da startup se assenta sobre dois produtos exclusivos. O Scan Weed e o Sentinel têm encontrado grande aceitação no setor da cana-de-açúcar e começam a ter espaço entre os produtores de soja. O primeiro é um identificador e classificador de plantas daninhas nos canaviais. Após obter fotografias tiradas por drones simples, o equipamento aponta exatamente onde as plantas daninhas estão e quais são suas características. De posse da informação, obtida em questão de minutos sobre áreas de grandes extensões, o produtor recebe as coordenadas exatas das infestações e, ainda, as especificações dos defensivos a serem usados. Ganha, assim, em tempo, numa checagem que levaria dias pelo método tradicional, e dinheiro, porque evita o desperdício do produto a ser usado no combate às pragas.

O Sentinel é outro sucesso descoberto pela Cromai. Instalado nos laboratórios das usinas de cana, o equipamento faz análises instantâneas sobre a pureza vegetal das plantas que chegam para a moagem. Com base em inteligência artificial, ele determina o teor de pureza em cerca de 30 segundos. O modelo manual de avaliação demanda cerca de uma hora para ser completado. Esse incremento de produtividade no processo de seleção foi assimilado com rapidez. Em três anos, o Sentinel ampliou seu mercado de uma para 50 usinas. “Desenvolvemos tudo, não compramos nada”, afirma o líder Del Papa. “Já temos parcerias com nove dos dez maiores grupos do agronegócio brasileiro, e já estamos ao lado de dois dos dez maiores produtores de grãos do Brasil. A internacionalização das nossas soluções é questão de tempo”, conclui.

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Henrique Del Papa, cofundador da Cromai ( acima ): “A vivência dentro do hub é muito rica e há forte conexão entre as empresas”

fertilizantes; e a própria John Deere, além das brasileiras Ceva, do setor de alimentação animal; e Dexco, de madeiras e cerâmicas, assinam a lista de companhias que lideram os contatos de tecnologia feitos a partir do hub de Piracicaba.

No mesmo vale, em interligações por alamedas asfaltadas, os prédios à volta do Agtech Innovation se alinham com a proposta do desenvolvimento tecnológico. Logo à entrada, do lado direito, sobressai o edifício do Pulse, o braço de inovação do grupo Raízen. Mais à frente, no lado oposto, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) mantém um campus avançado. Bem perto, a prefeitura de Piracicaba cuida do funcionamento de um escritório voltado para contatos formais com órgãos públicos e autoridades governamentais. Entre esses endereços, restaurantes, lojas de conveniência, quadras para esportes de areia e áreas de convivência e lazer compõem um cenário organizado e descontraído, talhado para a missão disruptiva das mais de mil

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Segundo empresários do campo, compartilhar conhecimento e trocar experiências é vital para o desenvolvimento do setor

pessoas que ali trabalham todos os dias. Flutuante, essa população cresce quando são realizados eventos de tecnologia ou são feitas visitas de delegações nacionais e internacionais, compostas por funcionários de grandes companhias e seus convidados.

Referência global de prestação de serviços e consultoria a grandes empresas, a PricewaterhouseCoopers (PwC) acompanhou de perto o crescimento do hub tecnológico de Piracicaba –e gostou do que viu. Em 2017, comprou e modernizou as suas instalações, colocando-se, com esse movimento, no centro do processo de desenvolvimento tecnológico do agronegócio. A PwC detém hoje informações em primeira mão de centenas de parceiros estratégicos. “O hub tem sido um pilar importante para apoiar os nossos clientes, da estratégia à execução, em serviços focados em inovação aberta ”, diz Dirceu Ferreira Júnior, sócio da PwC e COO do Agtech Innovation. “ Trabalhando de forma integrada com outras áreas, consolidamos e ampliamos soluções com a nossa marca para

o agro brasileiro. Desde que assumimos essa posição, aumentamos a nossa capacidade de prever tendências e aportar conhecimento tanto para o nosso pessoal como para os times dos nossos clientes. ”

Todos os anos, desde que a PwC assumiu a operação, o Agtech Innovation publica relatórios que norteiam os diversos setores do agronegócio em relação aos rumos da inovação. O primeiro de 2024, divulgado no final de março, estabelece, conforme diz sua apresentação, “novos paradigmas para a inovação no agro”. As dicas recentes mostram que o leque do uso da tecnologia de ponta se amplia. “Estão amadurecendo o uso da inteligência artificial, da cibersegurança e o desenvolvimento de soluções criadas a partir das demandas dos produtores rurais, além de novos horizontes como da fintechzação do agro e uso de moedas digitais e tokens no setor”, enumera o relatório. Para o produtor interessado em não perder o fio condutor da inovação, o PwC Agtech Innovation é mesmo um porto moderno e seguro.

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BRASIL NA VANGUARDA DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL

E DA DESCARBONIZAÇÃO

Santander DATAGRO Abertura de Safra – Cana, Açúcar e Etanol, tradicional evento de arranque da nova temporada do setor sucroenergético, reuniu 1,7 mil pessoas em Ribeirão Preto (SP)

P or r onaldo l uiz

os dias 6 e 7 de março, representantes do setor sucroenergético estiveram reunidos em Ribeirão Preto (SP) para o 8º Santander DATAGRO Abertura de Safra – Cana, Açúcar e Etanol 2024/25. O Taiwan Centro de Eventos recebeu 1,7 mil pessoas, entre empresários, executivos de usinas, produtores, fornecedores e lideranças políticas. Realizada de maneira híbrida, a oitava edição do Abertura de Safra também contou com público on-line. Presencial ou a distância, todos os envolvidos tiveram acesso aos insights dos mais renomados especialistas para o planejamento da temporada 2024/25.

Com a presença de autoridades, como representantes de ministérios, secretários de Agricultura e parlamentares, dirigentes setoriais, usineiros, produtores de cana, executivos de empresas de insumos e do mercado financeiro, entre outros agentes envolvidos com a cadeia produtiva do setor sucroenergético, a solenidade de abertura destacou a relevância de Projetos de Lei em tramitação no Congresso Nacional, em particular o do “Combustível do Futuro” (PL 4.516/23), para a consolidação de políticas públicas favoráveis à mobilidade sustentável e de descarbonização por meio da adoção de biocombustíveis na matriz de transportes no Brasil. Já aprovado na Câmara dos Deputados, o PL do Combustível do Futuro passava por análise do Senado até o fechamento desta edição.

Em linhas gerais, a proposta contempla três itens-chave para o setor agro de energia limpa e renovável: etanol, biodiesel e biometano. Entre outros pontos, a matéria endereça avanços no uso do etanol, incluindo a ampliação da faixa de variação para até 35% de adição à gasolina, além do uso de etanol de milho e outras fontes. No caso do biodiesel, engloba a mistura do biocombustível no diesel – hoje em 14% –, com previsão de chegar a 20% e até mesmo 25% em breve.

“O PL do Combustível do Futuro coloca o Brasil na vanguarda do controle de emissões de gases de efeito estufa e de iniciativas concretas para descarbonização”, ressaltou o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, que acrescentou: “O projeto também abarca critérios para medição de emissões do berço ao túmulo em todo o ciclo de

produção automotiva, o que vai ao encontro das entregas ambientais dos biocombustíveis”.

Uma das autoridades presentes à cerimônia, o diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Marlon Arraes, acentuou que o PL do Combustível do Futuro é um marco para a indústria nacional de biocombustíveis. Arraes adiantou que a pasta abrirá a agenda de trabalho com o objetivo de discutir a viabilidade de elevação da mistura de 30% do álcool anidro na gasolina.

Entre outros destaques da solenidade de abertura, o vice-presidente da Orplana, Bruno Rangel, lembrou do potencial do Brasil para a fabricação de Combustível Sustentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês), e a Head Corporate Agro do Santander, Caroline Perestrelo, lembrou da oportunidade que o Brasil terá na Conferência do Clima da ONU em 2025 para apresentar todo o seu potencial em energia limpa e renovável, citando, por exemplo, o RenovaBio (Política Nacional de Biocombustíveis).

SAFRA DE CENTRO 592 MILHÕES DE TONELADAS

O primeiro painel do evento destacou as previsões da DATAGRO para a temporada 2024/25. A consultoria prevê 592 milhões de toneladas de cana para o Centro-Sul, volume 9,8% inferior ao do ciclo 2023/24. Em relação à produção de açúcar, projeta-se 40,45 milhões de toneladas para a região, que, caso se confirme, representaria queda de 4,8% ante a temporada anterior – mix açucareiro de 51,6% (+2,7%). Já a produção de etanol é estimada em 30,42 bilhões de litros, recuo de 9,3% ante 2023/24 – 14,20 bilhões de litros de anidro (+5,1%) e 16,22 bilhões de litros de hidratado (-19%). Segundo a DATAGRO, com a recuperação do consumo de etanol, os preços aos produtores devem reagir na safra 2024/25.

SAFRAS NA ÍNDIA E TAILÂNDIA

A DATAGRO prevê que a safra 2023/24 de açúcar da Índia deve fechar em 32,4 milhões de toneladas – considerando 1,74 milhão de toneladas de açúcar equivalente desviadas para o etanol –, próximo ao volume de 2022/23. Para

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o ciclo 2024/25, a consultoria projeta a produção indiana do adoçante em 31 milhões de toneladas, considerando 2,8 milhões de toneladas de açúcar para o biocombustível.

A estimativa da produção de açúcar na Tailândia na safra 2023/24 é de 8,4 milhões de toneladas. Para o ciclo 2024/25, a DATAGRO destaca que há uma tendência de alta, uma vez que o preço da cana se recuperou, superando o retorno do cultivo de outras culturas, a exemplo da mandioca. Na oportunidade, Ulysses Carvalho, trader sênior da Sucden, lembrou, ainda, da capacidade de crescimento da Indonésia, que desponta como uma potência no Sudeste Asiático.

MELHORAMENTO GENÉTICO DA CANA

Especialistas reunidos em painel sobre tecnologia para a cultura da cana discorreram sobre desafios e oportunidades para novos avanços nos processos de melhoramento genético da planta em busca de menos custos e mais produtividade dos canaviais. O presidente da CropLife Brasil, Eduardo Leão, destacou que, do ponto de vista de tecnologia agrícola, a cana-de-açúcar é a cultura do agro brasileiro que mais utiliza o controle biológico para o combate a pragas e doenças, com mais de 50% da área plantada protegida por esse modelo.

Além disso, o setor sucroenergético também vem adotando cada vez mais o uso de variedades transgênicas. No entanto, segundo Leão, o Brasil carece de um ambiente regulatório mais estável, que possa tanto preservar esses avanços quanto atrair novos investimentos em pesquisa e inovação.

O diretor da empresa argentina Chacra Experimental Agrícola, Germán Serino, lembrou que o melhoramento genético da cana está atrasado se comparado ao que é desenvolvido para os grãos: “Na cana, o investimento está mais setorizado por país e com menor participação de multinacionais”. Por sua vez, o diretor executivo da Boyd Biotech do Brasil, William Burnquist, pontuou que o segmento busca novas cultivares, com maior variabilidade genética, que possam assegurar o potencial produtivo dos canaviais.

PRODUTIVIDADE DOS CANAVIAIS

Modelo de projeções da DATAGRO estima queda de 10,7% na produtividade média dos canaviais, prevista em 78,8 toneladas por hectare, na safra 2024/25, o que coloca o rendimento das lavouras como principal desafio de contraponto aos custos de produção do próximo ciclo. Foi o que destacou o analista de dados da DATAGRO, Paulo Bruno Craveiro.

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“Mesmo com a estimativa de queda, a produtividade ficará acima do rendimento médio registrado nas últimas cinco safras.”

Segundo Craveiro, no que diz respeito aos custos, a expectativa é de recuo nos preços dos principais insumos agrícolas (defensivos e fertilizantes) para a temporada 2024/25. Conforme o analista, os valores de arrendamento da terra devem ficar estáveis, enquanto a mão de obra pode apresentar ligeira alta. “Já o diesel deve ter leve aumento, devido à recomposição dos impostos federais e da elevação da mistura de biodiesel.” De acordo com Craveiro, com a projeção de menor oferta, o preço pago ao fornecedor de cana avançará 6,6%.

Também participantes do painel, o diretor financeiro da Usina Lins, Celso Roxo, e o diretor administrativo da Usina Cocal, Ailton Santos, citaram a boa gestão de riscos e hedge de preços, assim como investimentos em tecnologia, em tratos culturais e cuidado especial com a mão de obra como medidas fundamentais para manutenção da competitividade e saúde financeira da operação.

ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL

A análise de risco socioambiental de atividades agropecuárias, o que inclui o setor sucroenergéti-

co, ganha terreno como critério nas operações de financiamento agrícola e crédito rural, destacou a head Corporate Agro do Santander Brasil, Caroline Perestrelo: “A diferenciação entre o negócio que segue princípios de ESG e o que não segue já é considerada pelo financiador para concessão de recursos”. De acordo com a executiva, o Santander já tem feito operações de crédito com fundos específicos, a fim de canalizar investimentos para negócios com etanol e de proteção de florestas. “Não são linhas de prateleira, mas já existe este endereçamento.” O painel também contou com a participação do gerente operacional da Peterson Projects & Solutions, Danilo Blanco, e do gerente comercial da Grunner, André do Amaral, que falaram, respectivamente, que seguir os preceitos de ESG faz o negócio agrícola se tornar mais resiliente e que o uso de máquinas inteligentes no campo reduz a pegada de carbono da atividade, com a diminuição, por exemplo, do consumo de diesel.

PLANTIO MECANIZADO

Intitulado “Inovações em Plantio para Aumento de Eficiência”, o painel deixou como principal recado que, entre idas e vindas de plantio manual e mecanizado, quem persistiu no último obteve mais êxito. “Tratos culturais e colheita já estão com

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a mecanização mais avançada, diferentemente da etapa de plantio”, disse o consultor sênior da DATAGRO, Valmir Barbosa.

De acordo com o gerente de Marketing da DMB Máquinas e Implementos Agrícolas, Auro Pardinho, dados do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) mostram que o plantio mecanizado na cana diminuiu de 80% em 2018 para empatar em termos de adoção de uso com o manual em 2021. “Com o avanço da tecnologia, o plantio mecanizado traz maior assertividade na operação, com menos falhas.”

O painel também contou com a participação dos gerentes agrícolas da Usina São Manoel e Alta Mogiana, respectivamente, Murilo Gasparoto e Luiz Augusto Contin, que discorreram sobre a experiência do plantio mecanizado em seus grupos.

COMBATE A INCÊNDIOS, FERTILIZAÇÃO E CONTROLE DE PRAGAS

O consultor sênior da DATAGRO, Valmir

Barbosa, pontuou que as medidas de prevenção e controle de incêndios precisam ser discutidas em nível estratégico das empresas, não ficando

restritas à tomada de decisão das equipes operacionais de combate ao fogo. “É um tema sensível, porque traz riscos aos ativos de negócios, ambientais e de mão de obra da empresa.”

Já o CEO da Agrion, Ernani Judice, abordou o modelo de negócios da empresa, especializada na fabricação de fertilizantes organominerais, com a instalação de plantas dentro ou muito próximas às usinas. Nesse formato, salientou o executivo, resíduos do processamento da cana, como a torta de filtro e vinhaça, são utilizados como matérias-primas para produção do adubo.

Um primeiro case já está em operação com a usina Aroeira, em Minas Gerais, que passou a ser autossuficiente em fertilizantes, com o excedente passando a ser comercializado no mercado. “Esse modelo propicia redução de custos de produção e logísticos para as usinas, bem como dá mais previsibilidade para a oferta do insumo e também cria uma nova fonte de receita.”

O professor da Unesp, Odair Fernandes, alertou que o inseto conhecido popularmente como “bicudo da cana” é a maior ameaça aos canaviais paulistas, do Mato Grosso do Sul e

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de Minas Gerais, com sua infestação sobrepondo-se às da cigarrinha e da broca. Segundo Fernandes, os modelos de manejo integrado de combate a pragas e doenças não estão dando conta do controle eficaz do bicudo e que a principal recomendação hoje é evitar sua presença a qualquer custo.

RENOVABIO COMO INDUTOR DE EFICIÊNCIA

A busca pela geração de CBios (Certificados de Créditos de Descarbonização), peça-chave da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), que são adquiridos pelas distribuidoras de combustíveis e precisam cumprir metas de redução de emissões, está fazendo com que, além de se tornarem mais sustentáveis, as usinas de biocombustíveis passem também a registrar ganhos de eficiência, tanto nas atividades agrícolas quanto nas operações agroindustriais, com resultados para todo o negócio.

Foi o que destacou o head de Relações Internacionais da Embrapa, Marcelo Morandi. Em sua exposição, o pesquisador explicou que a jornada de descarbonização realizada pelas

usinas para se tornarem elegíveis a ingressarem no RenovaBio vem fazendo com que as empresas tenham que usar de maneira mais racional os insumos agrícolas, diminuir o consumo de combustíveis no maquinário, em particular o diesel, refinar toda a cadeia de processos, e assim por diante.

De acordo com Morandi, essas medidas promovem automaticamente a mitigação da pegada de carbono das usinas e, ao mesmo tempo, endereçam menos custos, incrementos de produtividade e maior assertividade na realização das tarefas do dia a dia do negócio. “Os números mostram isso: de 2020 a 2023, tivemos a geração de 800 mil CBios a mais com a mesma capacidade instalada do setor de biocombustíveis”, disse.

Também participaram do painel o CEO da JBR Engenharia Industrial, João Bortolussi; o gerente industrial do Grupo São Martinho, Fernando Cullen; o presidente da Cerradinho Bioenergia, Paulo Motta; e o diretor-geral da SJC Bioenergia, Abel Uchoa. Eles falaram sobre os desafios e oportunidades da integração cana e milho para a produção de etanol.

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UM OCEANO AZUL PARA O ETANOL DE MILHO

Primeira edição da Conferência Internacional UNEM DATAGRO destaca que setor tem potencial para ir além da fabricação do biocombustível e do uso do DDG

P or r onaldo l uiz

osegmento de etanol de milho tem registrado forte avanço nos últimos anos e finalmente ganhou um grande evento para chamar de seu. Organizada pela DATAGRO Experience, foi realizada no dia 21 de março, em Cuiabá (MT), a primeira edição da Conferência Internacional UNEM DATAGRO sobre Etanol de Milho, que reuniu mais de 500 participantes, entre produtores, empresários, executivos do setor, autoridades, dirigentes de entidades e outros agentes envolvidos na atividade. “O uso do milho para produção de combustível sustentável leva a um círculo virtuoso, beneficiando a indústria e o comércio e com impacto positivo para o meio ambiente”, destacou, na oportunidade, o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari.

O deputado federal Arnaldo Jardim, relator do projeto Combustível do Futuro, aprovado na Câmara dos Deputados e que agora tramita no Senado, integrou um dos painéis. Também participaram Pedro Lupion, deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, e representantes da Apex Brasil, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Embrapa, Ministério das Relações Exteriores, Agência Nacional do Petróleo (ANP) e Unicamp, entre outras importantes instituições.

O Brasil é atualmente o segundo maior produtor de etanol de milho do mundo. Desde o início da operação da primeira indústria full deste biocombustível, em 2017, a produção passou de 500 mil litros para 6,27 bilhões de litros na safra 2023/24, que se encerrou em março. Todo esse potencial vai ao encontro das novas demandas mundiais por combustíveis renováveis e menos poluentes.

De acordo com o presidente executivo da União Nacional de Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco, a cadeia do etanol de milho e cereais está inserida em um círculo virtuoso de investimentos que integra as atividades de grãos, pecuária, floresta e biocombustíveis. “O Brasil tem grande responsabilidade para fornecimento de alimentos e biocombustíveis produzidos de forma sustentável e complementar”, disse Nolasco. “Por

meio da industrialização do grão produzido em segunda safra, é possível dobrar a produção de etanol nos próximos dez anos e, ao mesmo tempo, contribuir para intensificação da pecuária e a ampliação da oferta de alimentos.”

Mato Grosso, que sediou o evento, lidera a produção de etanol de milho entre os estados brasileiros, com 11 plantas em funcionamento, sendo seis exclusivas de etanol de milho e cereais. “São estes investimentos que vão alavancar a produção de matérias-primas sustentáveis para a produção de bioenergia, que inclui o biodiesel, o etanol e o biometano, e Mato Grosso é um exemplo nessa direção”, disse Nolasco.

REGRAS INTERNACIONAIS DE TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Em um cenário geopolítico conflituoso, no qual a agenda global de mobilidade sustentável e descarbonização pode, em alguns casos, ser usada como artifício para defesas de mercado sem respaldo técnico-científico, o Brasil precisa participar de forma ativa da construção de regras internacionais relativas à transição energética. Foi o que destacou Laís Garcia, chefe da Divisão de Energia Renovável do Ministério das Relações Exteriores (MRE).

Segundo Laís, é necessário que haja uma referência global comum para as regras de transição energética, ancorada em uma metodologia-padrão que aponte o que pode ser e o que não pode ser considerado medida de descarbonização. “Se isso não ocorrer, cada país e região terá a sua norma em um cenário fragmentado, sem conexão.”

Dentro desse raciocínio, disse o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, o critério definitivo que precisa nortear as discussões é o do ciclo de vida, que contempla a análise de descarbonização de produtos e serviços do berço ao túmulo. Citando que as realidades dos países são diferentes e que, exatamente por isso, é preciso um regramento universal, Nastari lembrou que, no Brasil, a dicotomia entre agricultura alimentar e energética não existe.

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“Diferentemente da Europa, aqui há integração entre as cadeias produtivas, com entrega de benefícios mútuos, sem competição por área.”

No âmbito doméstico, o presidente da DATAGRO pontuou a importância de projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional, com destaque para o do “Combustível do Futuro” e o “Mover”, como políticas públicas para impulsionar a descarbonização no Brasil. “Estabelecidas as regras, o setor privado segue a vida e os investidores se sentem seguros em investir.”

Mauro Mattoso, chefe do Departamento do Complexo Agroalimentar e Biocombustíveis do BNDES, salientou que, quanto mais claras forem as políticas públicas, fica mais fácil para o banco desenhar produtos de financia-

mento. Por sua vez, Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, diretor do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), afirmou que o agro precisa sempre reforçar que as tomadas de decisão do setor são amparadas na ciência.

PROTAGONISMO DO BRASIL

A demanda por combustível sustentável de aviação (SAF, do inglês Sustainable Aviation Fuel) está dada, tanto em nível doméstico quanto internacional, cabendo ao Brasil o desafio de organizar a cadeia produtiva em torno do SAF para que o País possa, de fato, aproveitar todo o seu potencial e ser protagonista na produção dessa nova fonte energética. O cenário foi traçado por Marcela Anselmi, gerente de Meio Ambiente e

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Transição Energética da Agência Nacional de Aviação (Anac). “O que chegar ao mercado de SAF será consumido, porque as companhias aéreas precisam cumprir seus mandatos de descarbonização”, disse, acrescentando que “o Brasil se destaca porque tem matéria-prima, domina a tecnologia de produção e dispõe de políticas públicas para o tema”.

Gonçalo Pereira, professor titular da Unicamp, afirmou que, de fato, o Brasil possui um conjunto de matérias-primas para a fabricação de SAF, bem como de outros combustíveis “verdes” – para navegação marítima, por exemplo –, mas precisa ir além, buscando viabilizar o processo industrial internamente. “Não podemos somente fornecer a matéria-prima para ser industrializada lá fora.”

Também participante do painel, Maria Auxiliadora Nobre, coordenadora de Gestão do RenovaBio da ANP, discorreu sobre como a Política Nacional de Biocombustíveis tem contribuído para que o Brasil reduza suas emissões de gases de efeito estufa, que estão atreladas aos compromissos do País no âmbito do Acordo do Clima de Paris.

CADEIA PRODUTIVA

Assim como ocorre no setor de cana-de-açúcar, a cadeia produtiva do etanol de milho tem potencial para ir além da fabricação do biocombustível e do uso do DDG – sobras da produção, que são utilizadas para ração animal. Foi isso o que disse Alexandre Alonso, chefe-geral do Centro

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Nacional de Pesquisa de Agroenergia da Embrapa. “Existe amplo espaço para o desenvolvimento de novos produtos dentro do segmento de etanol de milho, em particular bioprodutos a partir da biomassa, bioeletricidade, matérias-primas para a indústria alcoolquímica, conexão com florestas plantadas para produção de cavaco, e assim por diante”, ressaltou.

DDG/DDGS TÊM ELEVADO VALOR ENERGÉTICO

Subproduto da industrialização do milho nas plantas de produção de etanol, o DDG e o DDGS são extraídos a partir do processamento do grão. As fibras dão origem a diferentes produtos, que geram suplementos nutricionais para bovinos,

suínos, frangos de corte e assim por diante. “Os resultados que temos em Piracicaba (SP) são consistentes em mostrar, de forma muito contundente, que estes coprodutos, sejam fibras úmidas, secas e o DDGS, contam com valor energético mais alto do que milho e farelo de soja, milho e caroço de algodão, milho e farelo de algodão, todas essas combinações muito comuns nas dietas convencionais de confinamentos”, afirmou Flávio Augusto Portela, engenheiro agrônomo da Esalq/USP, que lidera estudos na área financiados pela iniciativa privada.

Em 2024, o setor deverá produzir cerca de 3 milhões de toneladas de DDG. Indústrias do segmento estimam que a produção salte para 7 milhões na safra 2029/30. Líder de pesquisa da

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DATAGRO Pecuária, João Otávio Figueiredo diz que a cadeia integrada garante maior segurança no fornecimento da suplementação. “O grande desafio que se tinha na intensificação do boi no Brasil era a entrega de suplemento, de matéria-prima, e hoje, com a cadeia integrada com etanol de milho, você consegue ter essa garantia.”

Uma pesquisa da DATAGRO mostra que, atualmente, existem 22 usinas de etanol de milho em operação no Brasil, com uma capacidade combinada de produção de 6,65 bilhões de litros do biocombustível por ano. Isso representa uma demanda de 16,43 milhões de toneladas de milho. “Além disso, existem cinco usinas de etanol de milho em construção, com uma capacidade de produção combinada de 1,62 bilhão de litros de

etanol por ano, ou 4,10 milhões de toneladas de milho por ano”, salientou João Figueiredo.

Para a safra 2023/24, a DATAGRO estima a produção brasileira de etanol de milho em 6,14 bilhões de litros, e a de DDG em 4,82 milhões de toneladas. Para a próxima temporada, são projetados 7,12 bilhões de litros do biocombustível e 5,59 milhões de toneladas de DDG.

A primeira edição da Conferência Internacional UNEM DATAGRO sobre Etanol de Milho contou com o patrocínio de ALD Bioenergia, DanPower, FS Fueling Sustainability, HPB, ICM, IFF, Inpasa, Lallemand, Neomille, Novonesis, Agrion Fertilizantes, Air & Parts, Benri, Deag, Gemma, OCC, Puro, Startagro, Aprosoja, Caldema e Weg.

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