Revista Cena, Café e Conversa

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tiveram uma sentença. E naquele momento de

Por isso, neste laboratório foi imprescindível

minha trajetória acadêmica e artística, com a

fazer um movimento de rememoração e retornar

queda

Pátria

ao início da minha jornada, acessando camadas

Educadora, em 2016, a universidade em greve de

da minha identidade e intimidade que se refletiu

servidores e vendo meus planos ruírem com a

em cena, na performance. Assim, foi necessário

eleição de 2018, eu me sentia como elas, pois,

também vasculhar a memória coletiva, com o

precisava lutar contra um Estado cada vez mais

propósito

opressor, que ceifava meu direito e meus sonhos.

históricos não caíssem no esquecimento. Sobre

do

programa

de

governo

de

rememoração,

que

alguns

Walter

acontecimentos

Benjamin

afirma

que

Então, eu precisava traçar algumas estratégias

consultar a memória desenlaça o que vem a

de sobrevivência e reconheci a Mitodologia em

seguir:

Arte (Lyra, 2015) como uma plataforma para

interrogavam o tempo para saber o que ele

criação que lança mão de práticas feministas

ocultava em seu seio não o experimentavam nem

com o autocuidado e o autoconhecimento da

como

atuante,

de

rememoração desencadeava o futuro, ao qual

procedimentos permite guiar o corpo e a mente

sucumbiam os que interrogavam os adivinhos”

da artista para que ela possa expressar seus

(1987,

desejos,

memória é como a brisa, porque passa, acaricia,

pois,

seu

faltas,

sistema

angústias

rizomático2

e,

sobretudo,

a

abertura de espaços para a imaginação, atuando

“certamente,

vazio

p.

nem

232).

os

como

No

adivinhos

homogêneo

processo

de

que

[...]

criação,

a

a

agita e move um corpo... meu corpo

em um entre lugar de tempos, o passado, o presente

e

universo

o

que

virá

atemporal.

adiante,

Destes

criando

um

procedimentos

mitodológicos destaco aqui: Os descansos (Lyra, 2015, p. 58), em que traçamos a linha de nossa vida

e

vamos

marcando

momentos

transformadores da jornada a partir de uma pergunta que decidimos fazer a nós mesmas. E também a Mandala cartográfica ou dramatúrgica (Lyra,

2015,

p.

72),

que

é

uma

síntese

do

processo, onde colocamos escritas ou de forma estética nossas impressões da experiência em laboratório de criação.

Bibliografia BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. 3.ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. LYRA, Luciana de Fátima Rocha Pereira de. Mitodologia em artes no cultivo do trabalho do ator: uma experiência de f(r)icção. 2015. Relatório Final de Atividade (Pós-Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, 2015. RODRIGUES, Brisa Mirele Barbosa. A Bárbara: o corpo bandeira da mulher revolucionária e as práticas feministas nas artes. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Artes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, 2018.

1 A Bárbara

é um solo e dramaturgia feminista tecida durante o processo de

Bárbara: o corpo bandeira da mulher revolucionária e as práticas 2018). Parceria com Luciana Lyra, diretora, dramaturga e

escrita da dissertação “A

feministas nas artes”

(Rodrigues,

também orientadora do mestrado junto ao

Programa de Pós-graduação em Artes (UERJ). 2 Refiro a Mitodologia em Arte como um sistema rizomático, pegando conhecimento, em que rizoma são os

ramos enraizados das plantas, as raízes. Levanto esta imagem para

falar sobre o processo de criação via mitodologia, pois, ele faz profundos.

este termo de outra área do

vários

caminhos

e

cruzamentos


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