boletim
Continuação da pastoral
c) Descompromisso - Nessa modernidade detentora de novos valores, os membros da família passam a ter compromisso somente com a sua satisfação pessoal. O hedonismo marcante dos nossos dias - em que a satisfação e o prazer pessoais precisam ser alcançados a qualquer custo - é também decorrente dessa modernidade que, ao promover uma superficialidade de relacionamentos, também impõem um total descompromisso para com o outro. O próximo como alvo de atenção humanitária e cristã {como no exemplo do “Bom Samaritano” (Lc 10.25-37) ou do ensino de “amar ao próximo como a si mesmo” (Mc 12.28-34)} deixou de ser a quintessência da virtude solidária, para ser “o inimigo”, “o competidor”, “o frustrador de sonhos”. Ninguém quer se comprometer com nada nem com ninguém. Já temos problemas demais para resolver. d) Competitividade - Então, estes tempos modernos nos jogam dentro do cruel alçapão da competitividade. Temos que ser bons para prevalecer. Mais que isto, temos que ser os melhores. E isto não só com relação ao mercado de trabalho, mas também em todos os demais aspectos da vida: cultura, sociedade, esportes e até família. Foi deflagrado um processo de competição geral em que estamos sempre nos medindo, comparando, batendo com o outro para conferir quem sabe, quem faz e acontece e quem é o melhor. Então o outro deixa de ser parceiro para ser adversário. E a vida vai se tornando cada vez mais árida e atroz. e) Urgência - Paralelo a tudo isto se impõe um angustiante sentido de urgência. O que precisa ser feito deve ser feito já. Vivemos uma sociedade apressada, onde a correria é sua marca e o frenesi sua paixão. Não paramos, pensamos, ponderamos. Agimos. E no agir desavisado e tresloucado, nem sempre a presença da sensatez e do equilíbrio, mas a ânsia da realização para se conquistar um lugar ao sol. E muitas vezes isto contamina as famílias cristãs e a própria igreja que cai num ativismo “emburrecedor” que consome energia e aniquila esperanças. A modernidade, com sua herança nem sempre bendita, precisa ser avaliada face aos problemas enfrentados pelas famílias de nossos dias a fim de que não haja maiores prejuízos do que os que já estão ocorrendo. Que Deus abençoe cada um de nós a vivermos de acordo com sua vontade e a construirmos famílias biblicamente ajustadas.
informativo
dominical TIMÓTEO | EDIÇÃO 1 | N°01 05 DE JANEIRO DE 2020
A FAMÍLIA EM FACE DA MODERNIDADE Josué Ebenézer
Se há uma instituição que sofreu com as grandes transformações ocorridas no mundo a partir das décadas finais do século XIX e ao longo de todo o século XX esta instituição foi a família. Os novos valores, a industrialização crescente, a busca desenfreada por progresso, as doutrinas humanistas e materialistas, a ode a um tipo de liberdade que se opõe à moral cristã, tudo isso contribuiu para desajustes internos que levaram a uma nova formulação do “ser família” e, em muitos casos, às perdas irreparáveis para aqueles que não conseguiram se adequar aos novos tempos. Dentre tantas influências e resultados impostos à família pela modernidade, vamos destacar alguns que marcaram este momento e de alguma forma engendraram mudanças no contexto familiar. a) Perda do referencial - A família sempre foi o lugar do “eterno retorno”. Podíamos sair para trabalhar, estudar, viajar e nos divertir, mas sabíamos que tínhamos um lar para onde, ao voltar, tudo se ajustaria novamente a uma normalidade tranquilizadora. A modernidade trouxe alternativas. O indivíduo ampliou o seu mundo e de uma visão intralar, passou a cultivar uma visão exo-lar ou extra-lar. A casa já não mais é acolhedora, ela é conservadora e consequentemente inibidora de descobertas, de crescimento, de expansão, como o mundo de ofertas lá de fora insiste em nos alcançar. Então, a família passou a ser o epicentro de abalos morais e relacionais que expulsavam o indivíduo para fora - num sentindo inverso de sua vocação -, instigado que era pelas tentações advindas do poder desmantelador das seduções da modernidade sobre sua vida. b) Superficialidade - A perda do referencial familiar - numa transição sutil do poder de influência, principalmente sobre os mais novos membros da família (crianças, adolescentes e jovens) -, transição esta do poder de coerção da família para o poder liberalizador da sociedade, da mídia e do dinheiro, fez com que surgisse uma era de relacionamentos superficiais, descartáveis, bem ao gosto de cada um e de interesses menos nobres. Esta superficialidade gerou novos relacionamentos intra-lar dos tipos: “cada-qual-vive-como-quer” e “ninguém-é-de-ninguém”, onde relacionamentos frios, distantes, vivendo-se sob a sombra do amor e da comunhão do passado, vão transformar a residência em mero dormitório ou lugar de passagem para voltar a ganhar o mundo de fora no dia seguinte. Continua na última página