REVISTA PHOCAL PHOTOVISIONS Nº 07 AGOSTO 2012

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helena lagartinho

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elena Figueiredo Lagartinho (HelLag) nasceu em Março de 1959, no Monte-Estoril e reside há vários anos em Cascais. Enfermeira, trabalha num hospital em Lisboa e foi nesta área específica que despertou para a fotografia quando da realização e apresentação de trabalhos em vários congressos ou acções formativas ; rigor na execução mas numa área muito específica de actuação. Claro que nas férias, as fotos eram mais que muitas, rolos e rolos, negativos e negativos mas sem ainda a preocupação da técnica mas tão somente a captação

sta é a minha primeira colaboração neste espaço de excelência dedicado à fotografia e só possível com o incentivo de Pedro Sarmento. Bem haja. Nela poderão observar fotos relacionadas com a minha profissão, razão pela qual chamei a este artigo “DoOutroLado”! Um mundo particular que todos ouvimos falar, nem todos conhecem mas que muitos já vivenciaram; por experiência própria, de familiares, de amigos ou conhecidos. Este é o meu olhar. Torna-se sempre mais fácil fotografar para trabalhos académicos (nesta área foi aí que comecei) pois as imagens têm uma função específica e o interesse científico está normalmente enfatizado no acto médico, na técnica usada, no procedimento, no equipamento utilizado, no material consumido, na cirurgia, entre outros aspectos. Claro que há temas de saúde que visam assuntos menos técnicos e cuja importância são a relação estabelecida com as pessoas, a forma de comunicar, de escutar activamente, a linguagem corporal, o toque, a postura, a reacção e muito mais. Numas e noutras teremos imperativamente de proteger a identidade das pessoas, proteger a sua intimidade como se de um tesouro se tratasse. Aliás, a motivação para divulgar as fotos veio exactamente da parte de vários colegas, após apresentação de trabalhos em congressos ou encontros no âmbito dos cuidados de saúde; de trabalhos meramente científicos parti para trabalhos que representassem o quotidiano num hospital e que traduzissem também os sentimentos e emoções dos profissionais de saúde. E com este incentivo aventureime também a divulgar fotos em grupos como o PhocalPhotoVisions. Costumo dizer que não “tiro fotografias”; prefiro dizer que capto imagens que falam comigo. Mas a maior parte das imagens que falam comigo, falam de emoções, de sentimentos, de vivências muito pessoais e em contextos muito difíceis tanto para os utentes como para os familiares, até mesmo para os profissionais. E neste sentido, o respeito pelas pessoas sobrepõem-se a tudo o que queiramos divulgar mesmo que certa fotografia esteja o “máximo” em termos de imagem mas que desrespeita a individualidade de cada um. Confronto-me frequentemente com este dilema; divulgo ou não divulgo? Mesmo que tenha havido consenti-

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vida - DoOutroLado de momentos vividos com paixão. Aos 50 anos decide aventurar-se e partilhar as suas fotos; e porque não criar um blogue? Assim pensou, assim fez! E com alguma surpresa mas imensa satisfação, a reacção das pessoas foi muito favorável, incentivando-a a continuar. Já participou em exposições colectivas e pode encontrar alguns dos seus trabalhos a preto e branco em “Black and White…Only” Costuma dizer que deixa muita coisa para o amanhã mas o amanhã pode não chegar, e como a vida é para ser vivida e não apenas consumida, nada melhor que caminhar nesta aventura e sentir-se feliz!

mento informado, o mesmo é sempre dado para um determinado contexto académico e/ou científico e como tal, não estará implicitamente para efeitos de divulgação pública mesmo em sites pessoais. Assim, e como é um mundo diferente, prefiro sempre editar a maior parte das fotos, transmitindo uma ambivalência entre o real e o imaginário; desfoques, crops, tonalidades e outros efeitos que tenho acesso através do Picasa dado não saber trabalhar no Photoshop. Não posso falar de técnicas fotográficas pois delas ainda estou muito verde mas posso partilhar do que faço com orgulho e com paixão; congelar momentos que falam comigo! As fotos seleccionadas dizem respeito a momentos captados do quotidiano no hospital, seja no bloco operatório ou nos cuidados intensivos e revelam o meu próprio sentimento sobre os nossos actos e o respeito pelo alvo da nossa atenção; as pessoas. Não são fotos intencionais e preparadas mas apenas simples momentos do nosso trabalho que partilho convosco quando “deslizo” suavemente pelos serviços no âmbito da supervisão dos cuidados; e assim, vou captando imagens de gestos e posturas que retratam o nosso fazer e que com paixão os partilho. Neste “teatro de operações” existem pessoas que tratam e cuidam de pessoas, muitas vezes não lhes vemos as caras e vestem-se todas de igual. Mas poderemos sentir o seu olhar, espreitar a sua alma e comunicar de forma tão particular. Para lá das portas, há sentimentos e emoções, há desafios, há esperança mas também sofrimento e angústia. Por detrás das máscaras há pessoas, há sorrisos e boa disposição, há más disposições, há esforço, há cansaço, há alegria e tristeza, há satisfação e também desilusão. Nestes contextos há cor e vida mas outras vezes não! E há muito mais; há responsabilidade, há profissionalismo, há amor, carinho e compaixão, há o dar a mão, o tocar e ouvir com atenção. Sempre presente que, no meio de todo o equipamento técnico à disposição, no meio de todos aqueles fios, dos monitores, das bombas infusoras e muito mais, está ali, bem ali, o alvo da nossa atenção. Aquela e tão particularmente, aquela pessoa!


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