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O U T U B R O
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FOTÓGRAFOS
COLUNISTAS FOTOGRAFIAS ESCRITAS
CARLOS PEREIRA CRISTINA SOARES NANA SOUSA DIAS ANTÓNIO JORGE NUNES FERNANDO JORGE GONÇALVES
RODRIGO BELAVISTA DELIRIOS & UTUPIAS MARTA FERREIRA OPINIÃO BLACK & WHITE ROGÉRIO FERREIRA PATRIMÓNIO CULTURAL ALDEIAS HISTÓRICAS LUIS MATA LAGARADA TRADICIONAL JOÃO CARROLA MITHOS EXPRESSO DO ORIENTE ETÃ SOBAL COSTA PHOTO TOUR’S SERRA DA ESTRÊLA SONIA GUERREIRO CONCURSOS REFLEXOS ESCADAS AFETOS DESAFIOS PONTES PORMENORES STREET PHOTO GRANITO GALERIAS DE MEMBROS IMAGENS QUE INSPIRAM
Número 10 - OUTUBRO 2012
fotógrafos & projectos convidados NANA SOUSA DIAS ANTÓNIO JORGE NUNES FERNANDO JORGE GONÇALVES CARLOS PEREIRA
Revista do grupo
CRISTINA SOARES
phocal photo visions
Steve McCurry
www.facebook.com/groups/phocalphotovisions/ Edição e Direção da Revista Pedro Sarmento Editorial Pedro Sarmento Colaboradores nesta Edição
Foto de capa: NANA SOUSA DIAS
Wista 45 DXII, Nikkor W 150/5.6, Kodak Tmax 100 Guincho, 2004
Marta Ferreira Rodrigo Belavista rogério gonçalves Sónia Guerreiro Luis Mata João Carrola Etã Sobal Costa Periodicidade mensal Distribuição On-line / PAPEL IMPRESSÃO ÁREA GRÁFICA NÚMERO DEPÓSITO LEGAL 350102/12 TIRAGEM 100 EXEMPLARES Contactos: Email: phocal.photovisions@gmail.com revista.phocal.photovisions@gmail.com Website http://phocal-photovisons.weebly.com/index.html
sumário
03 04 18 20 24 28 32 84 88
editorial pedro sarmento galeria imagens que inspiram delirios & utúpias marta ferreira blak & white rogério ferreira
Lagarada tradicional | SENDIM joão carrola
património cultural luis mata
|
aldeias historicas
fotografias escritas rodrigo belavista photo tour’s
| serra Sónia Guerreiro
da estrêla
mithos | expresso do oriente etã sobal costa
PROJECTOS & FOTÓGRAFOS
34 48 58 66 76
nana sousa dias antónio jorge nunes fernando jorge gonçalves carlos pereira cristina soares
Concursos & Desafios
92 93 94 95
reflexos escadas afetos vencedores desafios domingueiros
pedro sarmento|The Arcad’s| DEZ 2012 | LISBOA | pentax k5 | pentax 18-55WR | F6.7 1/125 ISO 80 2 | phocal photovisions
PEDRO SARMENTO
editorial
MAIA – PORTUGAL APNSARMENTO.SANTOS@GMAIL.COM | HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/PEDRONSARMENTO | WWW.PEDROSARMENTO.COM TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © PEDRO SARMENTO
Acabaram as férias Black & White é sinónimo de fotografia... e paixão. E foi com a habitual paixão pela fotografia que decidimos fazer um número dedicado à Fotografia a preto e branco. Metemos como habitualmente mãos á obra e conseguimos reunir um lote de 5 fotógrafos com grande qualidade. Ao desfolhar este Nº 10 da Phocal Photovisions percebemos essa qualidade, quer na obra apresentada quer nas 5 trocas de impressões muito interessantes que com eles mantivemos, com muitos pontos de vista deveras importantes para serem lidos com atenção. Apesar da fotografia a cores ter começado nos anos 60 com um crescimento que acompanhou toda a evolução da sociedade até aos dias de hoje, a fotografia a preto e branco é ainda um momento fatal…. Muitos não lhe resistem, ela tem um dom especial, uma forma transcendente de ver a vida a cores..... apesar do preto e branco.
Isso é também notório em todas as fotografias e artigos de membros do Grupo Phocal que nos chegaram, e que demonstram ainda o muito apoio que os membros dão à sua Revista, mês após mês. E porque é importante que assim continue, nós não temos muitas dúvidas do caminho que queremos seguir, não confundimos nomes nem projetos, não chamamos Revistas a Portfólios e vice versa. Começámos determinados em 15 de Março com este projeto, e assim nos manteremos. Pelas páginas da Phocal já passou imensa gente cheia de qualidade, fotógrafos premiados já nos deram os parabéns por sermos a Revista de Fotografia que maior qualidade tem em Portugal o que para todos nós que colaboramos neste projeto é motivo de orgulho. Já tivemos Steve McCurry..... é verdade.....impensável para muitos eu sei, e teremos brevemente outros nomes do panorama internacional, apesar de privilegiarmos os fotógrafos Nacionais, e são tantos e tão bons os que pretendemos trazer às nossas páginas. Na Phocal falamos de fotografia e mostramos fotografia, e continuaremos a fazê-lo, mas respeitamos quem assim não pensa ou o não faz. Felizmente, vivemos em democracia e até na fotografia o respeito pelos outros é uma coisa muito bonita.......e nós na Phocal damos um bom exemplo disso........................................ Boa Revista.
António Kool | Nas trevas da luz | Canon 7D | Sigma 10-20mm (df12mm) | F/25 28seg ISO 100
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Pedro Machado | A vida | Sony Cybershot | Lente-Vario-Sonnar 20mm 1/125
daniel duarte | algĂŠs | canon eos 1100d | 18-55mm IS II | 1/3,200 sec, f/5.59, ISO 1600
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imagens que inspiram
Paulo Mendonรงa | Salinas de Alcochete | Sony SLT-A33 | 28-105 mm | 1/50s f/11 ISO100
MARIO MEDEIROS SANTOS | ABRANTES | CANON EOS 50D | CANON 18-200 | 48s, f/18 ISO 100
phocal photovisions | 5
César Torres| Fé| Nikon D90| Sigma 17-70mm OS| F/4.5;1/1000seg;ISO 640; 17mm joão ribeiro | Rochedo CANON 1000d 18mm 1/60 f/16 ISO100 23/9/2012
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FĂ TIMA MENDES | MINUETTO | Hewlett-Packard Photosmart Mz 60 | F/2.8 1/339 seg ISO 100 pedro miguel | Dandelions | Canon 550 D | Canon 55-250mm |F/4-5.6 II | F/5.6 1/125 seg. ISO 100
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JOSÉ SOBRAL | O RAPAZ DA FISGA | Canon 550D | canon 15-80 | F/5 ISO-100 Telmo Simoes | Percival GUILDHOUSE, RUGBY UK | CANON EOS 7D | EF 50mm f/1.8 II | f/8.0 1/250 ISO - 400
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JORGE FONSECA | Contrastes do Mar | Canon 550D | sigma 10-20mm | f/11 45 seg. Iso 100 Carla Quelhas Lapa | À espera | Nikon D3100 | Sigma 18-55mm 3.5 | f11 ISO 100 1/500s
phocal photovisions | 9
Fátima Condeço | o vinho | Nikon D90 | Tamron 18-250 | F4/5, 1/50 s; iso 400 Paulo Dionísio | “We Are Not Alone” | Canon EOS 450D | Canon 18/55mm | 1/125 F: 10 ISO 100
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Luís Lobo Henriques | Duna de Tatajuba | Canon EOS 300D | Canon 18-55mm | 1/250 ISO-100 F/9 Ricardo Vilela | Neblina na Arrábida | Canon EOS 500 D | EF-S18-55mm f/3.5-5.6 IS | f/14.0 - 1/6 - ISO 400
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Sandro Porto | “Torre de Belém” | Nikon D3000 | NIKON 18-55 | f/8 ISO 100 30”
luciano magno |OLHAR INOCENTE | nikon-d7000 | sigma 17 50mm 2.8 | f4 ISO 200 1/2500s
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Afonso Chaby | Forty Second Street| New York | CANON 5D MKII Jo達o Vaz Rico | Matriz | Canon EOS 60D| Cannon 18-135 F 5,6 | F 4,6 | ISO 100 | 1/60
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Luis Silva | Mystical Pier | Canon 60D | Canon 10-22 mm | F9 ISO 200 1/5” Nélia Botelho | casa materna | Canon EOS 550D | 55/250 | F 9.5 1/1750 seg Iso 800
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Jaime Carvalho | Retrato de um... pĂŠ | Canon EOS 7D | Sigma EX 10-20mm | F/7.1 1/8 ISO 100 Hugo Augusto| SOLITUDE | CANON 5D MK II | CANON 17-40mm f/4L USM | 68s, f/13, ISO100, 17mm
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Maria Fernanda|”gomos”|Nikon D90| Nikkor 18/135| F6.3 1/640 ISO 200 Tila Santos | “run to nowhere” | NIKON D3100 | Nikkor 18-55 mm | F: 5.6 ISO 250 1/1250 seg
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Sara Bento | La Dolce Vita | Panasonic DMC FZ7 | 1/30 seg - F 2.8 ; 38mm ISO 80
Sim達o Matos |DESEJO | CANON-550D | CANON 70-200mm | f2.8 ISO 1600 1/125s)
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eventos
MARTA FERREIRA valongo – PORTUGAL mf@mfotografia.com | https://www.facebook.com/mf.mfotografia | www.mfotografia.com TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © MARTA FERREIRA
Delírios & Utopias (Devaneios Fotográficos) Os Devaneios Fotográficos foi como muitos sabem um dos projetos que mais gostei de concretizar nos últimos tempos. Tal como muitas outras coisas na vida para seguir caminho há que virar a página, e por essa razão decidi criar um novo projeto: Delírios & Utopias, não é o mesmo, mas sim a continuidade, pois o que amamos devemos cuidar, e deste modo tudo continua. Tal como sempre conto com todos, sabendo que todos juntos somos muitos. Beijos Fotográficos | Marta Ferreira O próximo Devaneios é já dia 24 de Novembro e a azáfama já paira no ar... um corre corre, uma luta de telefonemas, uma carrada de emails e deslocações... para que nesse dia tudo seja perfeito e todos (ou a maioria) saiam satisfeitos. O tema é Glamour, pois certo dia um amigo (Paulo Gandra) comentou comigo que gostaria muito de fotografar modelos com vestidos de gala compridos num ambiente sofisticado ou com classe... O local ainda está em negociações portanto mantem-se o
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segredos dos Deuses, a estilista convidada a participar é Maria Sabino, e teremos modelos novos e cheios de estilo da parceria que fiz com o concurso Miss e Mister facebook de autoria de (Paulo César). Outras lojas de roupa se irão juntar a nós assim como cabeleireiros e maquilhadores, mas não posso ainda avançar com os nomes, porque não estão bem definidos quais serão. Conto ainda com a presença de Manuela de Oliveira Acessórios e com a Ponto M (roupa de mulher), Anaas Produções (roupa gótica), a Sinopse fará os possíveis para estar presente e registar tudo em vídeo, conto ainda com a presença e ajuda do professor Fernando Bagnola, que sempre me apoiou em todos os projetos. Além do Glamour e da moda, espero surpreender-vos com algo muito arrojado da parte da manhã, com pessoas convidadas e escolhidas a dedo para desempenhar papéis que certamente vão adorar fotografar ... Um dia que promete... conto convosco... vão estando atentos á página do facebook, para terem acesso as restantes informações. https://www.facebook.com/pages/Devaneios-Del%C3%ADriosUtopias/412644978778986?ref=hl
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JOÃO CARROLA VILA REAL - PORTUGAL HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/JOAO.CARROLA.7 | HTTP://OLHARES.AEIOU.PT/JCARROLA| TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © JOÃO CARROLA
João Carrola nasceu em França em 1971. È docente na UTAD tendo terminado recentemente o doutoramento em Ciências do Ambiente (relacionado com o efeito da poluição na saúde dos peixes). Fotógrafo amador que sempre gostou da natureza e vida selvagem é membro da NUTAGRAFIA, associação de fotografia de natureza de Portugal. A paixão pela fotografia despertou de forma mais dedicada com a aquisição de primeira máquina reflex analógica em 2008. Mas foi com o digital que as coisas mudaram, e ai começou o primeiro projeto, o de fotografar o Jardim Botânico da UTAD um dos maiores da Europa e que coincide com um dos mais belos Campus universitário da Europa. As suas fotos são utilizadas na divulgação da UTAD e do Jardim Botânico, em diversas atividades, jornadas, congressos nacionais ou internacionais, etc. - https://www. facebook.com/#!/FotosdoCampusdaUTAD. A seguir surgiu um projeto pessoal o de fotografar o Douro. ens Da Utad Lagarada tradicional - Sendim - Miranda do Duro Perto de Miranda do Douro podemos encontrar a vila de Sendim, em mirandês Sendin e em documentos medievais aparece o nome Sindin. Com cerca de 1400 habitantes foi elevada a vila em 1989, e é parte integrante da área em que se fala o mirandês, na sua variedade sendinês. Sendim pertence a uma região com características geográficas muito particulares e está inserida no planalto Mirandês, em pleno Trás-os-Montes e bem no interior do Portugal. Situada a poucos quilómetros do rio Douro identifica-se com as arribas características dessa região, sendo mesmo denominada a “Capital das Arribas”, as quais proporcionam vistas magníficas e são mais um local interessante para fotografar. É uma zona rica em fauna e flor, inserida no Parque Natural do Douro Internacional, sendo uma das zonas mais interessantes do país em termos de avifauna nidificante. A atividade predominante em Sendim é a agricultura, e dentro desta, e para além da produção animal (e da famosa posta mirandesa), temos ainda a cultura do azeite e da vinha, entre outras. As vinhas desta região dão origem a um produto valioso recentemente premiado em concursos nacionais. É uma fonte de rendimento importante, para as gentes desta região, e ultimamente com a seleção de castas, a melhoria na cultura da vinha e rigor na vinificação, juntamente com o clima da região, levou ao aperfeiçoamento dos vinhos produzidos, tanto por particulares como também pela Cooperativa Agrícola Ribadouro. E é com base nessa atividade ancestral que esta Cooperativa Agrícola e a Câmara Municipal de Miranda do Douro, juntamente com o apoio de outras instituições públicas e privadas organizaram uma lagarada tradicional, tal como se fazia há 50 ou 60 anos atrás. Esse evento visa lembrar memórias e tradições antigas há muito esquecidas, e no caso dos mais novos, nem sequer conhecidas. É mais um motivo para fazer registos fotográficos desta linda região, mal conhecida da maior parte dos portugueses. Sendo assim, e logo pela manhã juntaram-se os vindimadores na Cooperativa Agrícola de Ribadouro para o mata-bicho e algum convívio. Posteriormente foi realizada a deslocação a pé, dos vindimadores mas também dos animais de carga, até á vinha do Rosal, onde decorreu a vindima. No fim da jornada as uvas foram transportadas em cestos antigos, carregados aos pares pelos burros e mulas, até ao lagar 20 | phocal photovisions
de vinho primitivo Curral del Tiu Pino. Nesse lagar típico onde as uvas foram esmagadas usando o método tradicional, a pisa a pé, que permite obter o mosto que irá depois fermentar. A primeira fase da pisa a pé é a do “corte”, e consiste em esmagar as uvas para libertar o sumo e a polpa das suas peles. A segunda etapa chama-se “liberdade” os pisadores agora trabalham individualmente, movendo-se de forma aleatória assegurando que as peles de uva são mantidas submersas. Apesar de cara e trabalhosa, a pisa a pé ainda é a melhor forma de alcançar a extração suave mas completa, produzindo vinhos com profundidade de estrutura e de sabor equilibrado. Depois disso o bagaço resultante desta pisa foi prensado usando um processo antigo, pouco comum e muito interessante: um lagar de prensa de vara. Isto é, foi utilizado um sistema de prensa com vara (com de 5 metros de comprimento), um fuso (parafuso de madeira) que permite fazer subir ou descer o peso que se encontra na extremidade (um pesado cilindro de pedra) e que permite fazer pressão usando apenas a gravidade, para prensar o bagaço: um processo antigo mas que se mostrou eficiente. Este evento reaviva as tradições passadas e mostra a realidade da agricultura antiga baseada numa agricultura sustentável e autónoma, baseada na força de trabalho animal sem esquecer claro esforço e suor dos agricultores, fundamental na maior parte das tarefas do campo. Os burros e as mulas eram incansáveis companheiros dos agricultores, sempre prontos para transportar os donos, as cargas, e o que fosse preciso para além de participar noutras tarefas, numa altura onde apenas se descansava um pouco aos domingos e as jornadas eram bem longas, de sol-a-sol (nessa altura os dias com 8 horas de trabalho estavam longe ser imaginados) o rendimento era parco, e era necessário muito trabalho para poder manter a família, normalmente numerosa nessa época. A agricultura mudou muito nas últimas décadas, com a intensificação das produções, elevada mecanização, utilização das novas tecnologias, aplicação de pesticidas e adubos químicos, etc. o que torna esta lagarada tradicional ainda mais relevante, principalmente para os mais novos, inundados de novas tecnologias, afastados do campo, fechados muitas vezes em apartamentos e na escola, desconhecedores das atividades e costumes antigos e do que se passava há algumas décadas atrás. No fundo, o tipo de vida porque muitos pais e avós passaram. A vida no campo era uma vida dura, que corria lentamente, ao sabor do frio e do calor das várias estações.
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ROGÉRIO FERREIRA VILA NOVA DE GAIA - PORTUGAL ROGERIO.FSF@GMAIL.COM | HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/RFERREIRAPHOTOGRAPHY TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © ROGÉRIO FERREIRA
Rogério Ferreira nasceu em Espinho, distrito de Aveiro, no norte de Portugal, em Março de 1979. É formado em Sistemas de informação e Multimédia, e a paixão pela fotografia nasce cedo e inspirado pela frase de Francine de Mattos, ‘If your pictures aren’t good enought, you’re not close enought’ tenta crescer e aperfeiçoar ao máximo a técnica fotográfica. Anda sempre de máquina em punho tentando ter o registo de momentos que possam mostrar o olho e criatividade. Com alguns trabalhos pessoais já desenvolvidos, o seu gosto pela Foto Reportagem, Retrato, Alta Velocidade e P&B são os temas com que mais se identifica.
A expressividade do Preto e Branco Quando a Fotografia surgiu oficialmente, em 1826, a imagem captada pela câmara obscura de Niépce era em tons de cinza. Hoje, praticamente dois séculos depois, a fotografia em preto e branco ainda está em auge. Da heliografia (“gravura com a luz do sol”, o processo de Niépce) ao digital, a elegância e o charme do estilo prevaleceram a uma série de evoluções técnicas. Na Fotografia, as cores têm o poder de trabalhar com as emoções de quem observa. Consciente ou inconscientemente, a composição cromática influencia em como alguém define a imagem – positiva ou negativamente. Em preto e branco, como não existem cores além dos tons presentes na escala de cinza, essa teoria funciona com o preto, o branco e o cinza. O preto é a cor do absolutismo, do poder; na Fotografia, funciona da mesma maneira que na Moda, concedendo elegância e superioridade. O branco transmite o oposto, tornando-se a personificação de pureza e delicadeza e ampliando os sentidos de espaço e percepção. Cinza, a cor mais presente em toda a imagem monocromática (ironicamente chamada de “preto e branco”), representa a estabilidade e o equilíbrio. Uma fotografia em escala de cinza pode conter várias justificativas. Alguns fotógrafos preferem utilizar os recursos monocromáticos para deixar a imagem naturalmente mais expressiva. Num retrato, sem a atenção voltada às cores, a observação se concentra na expressão de quem é retratado. Em qualquer imagem, contraste é a alma da interpretação, seja ele acentuado ou não. E na fotografia em preto e branco, o assunto é ainda mais importante. O contraste é o efeito visual que a iluminação produz sobre o objeto. É a famosa diferença entre a luz e a sombra, onde as áreas claras são chamadas “altas-luzes” e as escuras “baixas-luzes”. Alterá-lo significa aumentar ou diminuir a intensidade da diferença entre as altas e as baixas luzes. Na fotografia monocromática essa é a característica mais importante e, por isso, é preciso entender como domar a iluminação. Como fotógrafo, é possível controlar os efeitos do contraste de cena através de alterações físicas no esquema de iluminação. Ao mover a fonte de luz para mais perto do assunto, por exemplo, aumenta-se o contraste. Posicionando-a lateralmente, o efeito se destaca ainda mais. Além de truques como esses, uma série de equipamentos podem ser utilizados, como rebatedores e difusores. De fato, a fotografia em preto e branco é uma explosão de sentimentos. 24 | phocal photovisions
Expressiva e forte com seus contrastes, encanta os fotógrafos por abrir a posição de mistério quanto às reais cores que fizeram parte do clique. É psicologicamente inquestionável e imensuravelmente encantadora e envolvente. Associações Cinza: Antiguidade, chuva, cidade, cimento, decadência, elegância, inverno, máquinas, neblina, neutralidade, passado, pó, refinamento, sabedoria, seriedade, tédio, tristeza, velhice. Preto: Angústia, crime, desgraça, dor, eterno, extinção, fim, frigidez, maldade, miséria, morte, noite, prudência, seriedade, sobriedade, sombra, sordidez, sujo, tristeza. Branco: Ausência, bem, casamento, castidade, cisne, frio, gelo, harmonia, leite, limpeza, neve, ordem, paz, pureza, simplicidade.
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LUÍS MATA LISBOA – PORTUGAL MATA@NETCABO.PT| HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/LUIS.MATA.58173?FREF=TS TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © LUÍS MATA
Luís Mata começou a fotografar para recordar as viagens que fazia. Quando comprou uma reflex da Canon em 2008, o prazer de fotografar deixou de ser apenas para fixar na memória determinado lugar. Em 2009, fez um workshop com o Joel Santos que lhe mudou a forma de ver e de captar o mundo que o rodeia e o motivou a melhorar a técnica fotográfica. Médico radiologista de profissão, vive rodeado de imagens, mas a imagem fotográfica funciona como um escape para o desgaste da vida diária. Continua apaixonado pela fotografia de viagem, da paisagem natural e urbana. A fotografia a preto e branco tem vindo a ocupar um papel cada vez mais importante na forma como pretende transmitir aquilo que vê e que sente. Viajar é uma das formas mais sublimes de viver. Para tirarmos prazer não é necessário viajar para muito longe à procura de paisagens inebriantes ou de povos exóticos. Em Portugal, temos uma série de pequenas aldeias e vilas que nos conseguem fazer viajar no tempo. Foi criado um plano de recuperação de aldeias históricas que tem permitido a sua recuperação cuidada e tentado criar condições de desenvolvimento turístico que permitisse criar empregos e evitar a desertificação. Oficialmente incluem-se: Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso. Conheço todas elas, algumas pequenas e quase desertas, outras já com algum desenvolvimento turístico, mas é sempre um grande prazer visitá-las, entrar nas suas igrejas e subir aos seus castelos, calcorrear as suas ruas empedradas e conhecer
as suas histórias e lendas. A fotografia a preto e branco adequa-se na perfeição à minha visão destas aldeias, criando registos intemporais. Neste pequeno artigo, vou apenas mostrar algumas delas, aldeias beirãs de granito. Em Castelo Mendo, é a igreja românica de Santa Maria, no interior do castelo, que mais nos chama a atenção. Destelhada, mas com fortes paredes de granito que persistem em lutar contra o passar dos anos. Belmonte, a terra de Pedro Álvares Cabral, manteve durante séculos uma comunidade judaica que, não deixando transparecer para o exterior, manteve intacta a sua fé e as suas tradições. A pousada localizada no Convento da Nossa Senhora da Esperança, é um exemplo de reabilitação. Castelo Novo, apesar do nome “novo” mostra vestígios
Belmonte
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CASTELO MENDO CASTELO RODRIGO
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remotos como uma lagariça do século VII. O castelo semidestruido mantém uma torre intacta que domina a povoação e tenta contrariar o volume imponente da serra da Gardunha. Castelo Rodrigo, apesar do castelo em ruínas, mantém um conjunto urbano muito interessante. Quando entramos por uma das portas da muralha e subimos a rua do relógio, em direção ao castelo, sentimo-nos dentro da história. O pelourinho persiste em manter a importância e a dignidade de outros tempos. Quando terminamos uma viagem por estas aldeias sentimos,
desde logo, vontade de regressar e de conhecer as restantes. Como disse José Saramago, “o fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira de verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.”
CASTELO NOVO
CASTELO MENDO
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MARIALVA
Belmonte
CASTELO RODRIGO CASTELO RODRIGO
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fotografias escritas
RODRIGO BELAVISTA
lisboa – PORTUGAL aminhacaixademail@gmail.com| https://www.facebook.com/ruimaosdecenoura TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © RODRIGO BELAVISTA
O peso de uma curva. A curva que existe no teu dorso é o resultado de um hábito, o frequente desafio à dor. Quando tentas levantar-te, dez mil músculos gemem à passagem, apetece-te resignar na posição, não levantar a voz, esconder a altura, continuar a pesca do que não existe. Em ti nasce outro esgar, novamente a dor na tentação de erguer. Não tens um bloco de notas para as descrever, tão pouco um comprimido que te faça esquecer. Às vezes, neste propósito de sobreviver, a opção da dor acaricia-teo vício de um corpo moldado, de uma mente atropelada pelas teias cinzentas dos que te dizem para fazer: permanecer de cócoras. Ao longe, uma canção entoa, no eco da serra. Os seus acordes afrontam a aspereza dos cantos, a palavra parida enfrenta o retorno das paredes de cal fina e desencantada, nascem frases descontentes, arrumam-se as gentes para as cantar. E, nem assim, te consegues levantar. Maldita posição em que te deixaram. O céu não existe. O céu não existe. Acontece. Como uma vidraça tão limpa e brilhante, azarado diamante que se deixou resgatar. Ali, onde o perto parece tão longe. Andar de calças nos bolsos da admiração, sorver o que é possível, enganar aquele dia. Aquele dia em que não. E o céu à vista. A torcer pescoços e rodopiar cabeças e olhos e mais os braços que tentam lá chegar e nunca o alcançam, naquele momento em que apetece. Porque o céu não existe, apenas acontece.
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Gente. Parado. Momento parado; Instante suspenso. A vida, congelada. E, nela, gente. Gente variada; De tez diferente, Aparentemente igual. Os dias encenam, Também outra gente, De olhar diferente; Mais profissional. Mau sinal. Parado. Retrato tirado; Eternizado. E [nele] gente.
A culpa da memória. Insustentável, esta forma de acreditar; Em cegas golfadas, Muito aquém de te conseguir tocar. Admirável, a força de um jeito; Nascido de nada, Na impossível escalada para o teu peito. Sofrível, o ganho pela tua atenção; Mote disfarçado, Estilo condenado de um coração. Feroz e audível, o destemido modo de fingir; Neste plano sonhado, Roubado à forma das coisas que me fazem sorrir. Assim, admirado, permaneço; Sorvendo a dor; Que só dói porque não a esqueço. E o fim, logo que a bruma levantar; Feita de culpa, E insaciadas memórias, ainda por matar.
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NANA SOUSA DIAS ericeira– PORTUGAL nanasousadias@gmail.com | https://www.facebook.com/nana.s.dias.9?ref=ts&fref=ts | http://photo.net/photodb/user?user_id=521294 TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © nana sousa dias
Nascido em Torres Vedras em 1957, Nanã Sousa Dias é um apaixonado pela fotografia e música. A sua paixão pela fotografia começou na adolescência e desde logo começou a fotografar, mas forçado pela crise económica, após a revolução de 1974 abandonou a fotografia. Em 1997 retomou a atividade fotográfica e montou um pequeno laboratório em casa, e começou a praticar com uma uma Hasselblad dos anos 60, que entretanto havia adquirido. Começou desde logo a assimilar o máximo de informação técnica e artística possível na altura, através de livros, revistas, visitas a exposições e também através da internet. No ano 2000 associou-se ao website “Fotografia em Português” e 15 dias depois recebeu uma menção honrosa e pouco depois foi considerado Autor do Mês, o galardão máximo do website. Nessa altura foi convidado a integrar o colectivo de júris do website, e participou inclusive no livro editado pelo website, contendo algumas fotografias da sua autoria. Nanã Sousa Dias foca-se principalmente na fotografia de paisagem, retrato, nu em estúdio e fotografia urbana, maioritariamente a preto e branco. Tem várias influências, desde Ansel Adams, Edward e Brett Weston, John Sexton, Robert Mapplethorpe, Jeanloup Sieff, entre muitos outros. É seguidor do Sistema de Zonas, criado por Ansel Adams e Edward Weston, imprime os seus trabalhos em laboratório convencional e é um amante da fotografia “Fine Art”, médio e grande formato. Ao longo dos últimos anos tem participado em vários sites dos Estados Unidos, Brasil, Rússia, Dinamarca, Alemanha e Portugal, tendo recebido numerosos prémios e distinções. Alguns dos seus trabalhos já foram publicados em revistas nacionais e estrangeiras, bem como em livros técnicos, distribuídos em todo o mundo por uma conceituada editora de livros e revistas de fotografia. Um dos reconhecimentos mais importantes dos últimos anos foi feito por uma revista americana “B and W Magazine”, que publicou um artigo com uma entrevista e fotografias de Nanã Sousa Dias, colocando-o entre os mais importantes fotógrafos de Paisagem da atualidade. Exposições: Almada (Galeria Municipal) 2001 | Almeirim (Galeria Municipal) 2003 | Torres Vedras (Paços do Concelho) 2003 | Castelo Branco (Galeria do IPJ) 2004 | Torres Vedras (Cooperativa de Comunicação e Cultura) 2004 | Porto de Mós (Galeria do Castelo) 2004 Lisboa (Galeria do Sacramento) 2004 | Figueira da Foz (Centro de Artes e Espectáculos) 2005 | Galeria do Casino Solverde (Espinho) 2006 | Galeria Colorfoto (Porto) 2006 | Galeria Dois Paços – Torres Vedras - 2006 | Castelo Branco – Cine-teatro, IPJ, Centro Multimédia - 2007 | Castelo de Paiva – 2007 | Galeria Municipal – Torres Vedras – 2007 | Leiria - Galeria IPJ – 2007 | Estoril –Galeria municipal – 2007 | Sardoal – Centro Cultural – 2007 | Espaço Sousa Valles – Lisboa – 2008 | Galeria 1 e 2 dos Paços do Concelho – Torres Vedras – 2008 | Biblioteca de Silves – Silves – 2009 | English Centre – Caldas da Rainha – 2010 | Galeria OÁ, Vitória, Brasil – 2010 | Galeria Municipal do Seixal – 2010 | Ourém – Galeria Municipal – 2011 | Porto – Galeria Cervartes – 2011 | Casa Ranzini - S. Paulo – Brasil - 2011 Trabalhos publicados em revistas e jornais: Super Foto Practica – (Portugal) 2000/2001/2003 | 1º de Janeiro – (Portugal) 2003 | Egoísta – (Portugal) 2003 | Fotografe Melhor – (Brasil) 2004 | Elle – (Portugal) 2004 | Egoísta – (Portugal) 2005 | Fotoplus – (Portugal) 2005 | B & W Magazine – (USA) 2005 Imagem Profissional – (Portugal) 2006 | Digital Photographer – (Rússia) 2006 | Revista de bordo Sata – 2007 | Revista Attitude – 2007 Egoísta – (Portugal) 2008 | Super Foto Digital - 2010 | Egoísta (numero dedicado exclusivamente à fotografia) - 2010 Livros: Fotografia em Português - Portugal 2001 | Outdoor Lighting Nudes – UK 2003 | Camera Craft Nudes – UK 2003 | Camera Craft Black & White – UK 2004 | Guide to Outdoor Photography – UK 2004 | Composition – UK – 2006 | Paz – Egoísta – 2006 | D’Aquém e D’Além Mar (Ministério da Defesa) Portugal - 2008 | Basics Photography: Working in Black-and-white – UK – 2008 | Da Vinha ao Vinho – 2008 | A Praça - 2010 Capas de Álbuns e promoção de Artistas: Rui Veloso | Vitorino | Boss AC | Tito Paris | Mafalda Sacchetti |Janita Salomé | Sérgio Godinho |Paulo Gonzo | João Melo Filipe Mukenga | Carlos Barretto |Gonçalo Salgueiro |Zé Carvalho | Lura |Rodrigo Gonçalves | Rita Guerra | Paula Oliveira Bernardo Moreira Pedro Sarmento – Nanã Sousa Dias, como é que um homem ligado á música desde sempre aparece na fotografia? Nanã Sousa Dias – Bem, na realidade, eu sempre gostei de fotografia, comecei a fotografar aos 12 anos com uma Kodak Instamatic. 34 | phocal photovisions
Aos 14/15 anos, comecei a fotografar com uma Olympus Pen e aos 17 com uma Yashica TL-Electro, de 35mm. Infelizmente, tive de abandonar a fotografia por razões económicas, sem me ter iniciado seriamente, coisa que só aconteceu por volta dos 40 anos.
Entretanto, sempre fui fotografando mas de um modo completamente amador, com 35mm. Nessa época, fotografei os meus filhos, alguns pores de sol, os cães, os gatos, enfim, o trivial para um fotógrafo completamente amador. Um pouco antes do ano 2000 comprei uma Hasselblad e um ampliador, usados e resolvi dar mais uma chance à fotografia. Nessa época ainda não se viam quase nenhumas máquinas digitais e as que existiam tinham baixa qualidade. Resolvi optar pela Hasselblad porque, desse modo, não poderia ter desculpas com o equipamento…se as coisas não saíssem bem, eu teria a certeza de que a culpa era só minha. Por outro lado, se não conseguisse atingir o nível que procurava atingir, poderia revender a máquina sem perder muito dinheiro, pois a Hasselblad, tinha e continua a ter um bom valor comercial no mercado de usados. PS – A tua vontade de fotografar de forma continuada e ao nível a que o fazes, começou na época em que o digital desflorava em força. Ainda assim tu optaste pelo analógico e dentro dele pelo Médio formato . Porquê? NSD – Bom…no meu trabalho comercial eu uso quase exclusivamente o digital mas, relativamente ao meu trabalho artístico, eu optei pelo médio formato analógico porque a minha intenção era fotografar a preto e branco e poder revelar as películas, bem como ampliar os negativos no meu próprio laboratório. Ainda hoje continuo a preferir uma boa ampliação em papel de fibra baritado do que uma ampliação em jacto de tinta. Quanto à opção pelo médio formato, a razão principal foi a qualidade de imagem, muito superior à do 35mm, mantendo
alguma mobilidade e facilidade de operação. PS – É para ti importante, mais do que ver uma foto impressa, poderes acompanhar todo o processo, desde a concepção até ao papel? NSD – Para mim é fundamental ser eu a realizar todas as operações, desde a tomada de imagem até à ampliação. É um processo cujos estágios estão interligados. Muitas vezes, quando estou a fotografar, estou já a pensar no trabalho que vou realizar no laboratório e até na revelação das películas, pois fotografo quase sempre “dentro” do Sistema de Zonas, desde a fotometria, passando pela escolha de filtros utilizados no acto de fotografar, controle do contraste através do tempo de revelação das películas, etc. Quando estou a fotografar, principalmente, paisagem, eu “pré-visualizo” a imagem final, já depois de todas as manipulações que vou fazer, desde a tomada da imagem até ao produto final. PS – Num edição B&W da nossa Revista, um pergunta comum a todos os fotógrafos é, se a vida é a cores porque B&W, o que é que a ti particularmente te fascina? NSD – O que me fascina no preto e branco é um conjunto de coisas bem simples…primeiro, o facto de se afastar da realidade… o que permite um grau de manipulação da imagem muito maior do que na fotografia a cores. Nós estamos habituados a ver o mundo a cores, então, se manipularmos demasiado uma imagem, qualquer pessoa, mesmo que não seja entendida em fotografia, se aperceberá de que a imagem foi manipulada.
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No preto e branco, nós podemos manipular a imagem bastante mais, pois qualquer pessoa “aceitará” bastante mais facilmente essa manipulação, já que o preto e o branco não existem na natureza. Isso dá-nos um campo muito mais vasto para tratar uma imagem. Podemos, por exemplo, transformar um céu “normal” num céu bastante dramático sem que essa manipulação se torne demasiado óbvia. Outra coisa que me fascina no preto e branco é poder “trabalhar” com todas as gamas desde o preto até ao branco, passando, obviamente, por imensas gamas de cinzento, sem ter as cores a “atrapalhar”. Eu acho o trabalho de preto e branco bastante mais simples que o de cores, as cores “travam-me” bastante. Isto não significa que não goste, gosto bastante de fotografia a cores, quando essas cores são bem “distribuídas”. PS – Formação..... como foi a tua formação fotográfica, fotógrafas á muitos anos, acumulaste experiência e qualificações de monta, mas tu próprio como começaste? Como auto didata?? Qual foi depois a tua evolução? NSD – Eu divido a minha vida de fotógrafo em duas fazes bem distintas: pré-Sistema de Zonas e pós-Sistema de Zonas. Sou autodidacta mas, estudei muito, fotografei muito e queimei muita pestana no laboratório. Algumas vezes chegava de um concerto às 4 da manhã, preparava as máquinas, lentes, películas, etc, tomava um duche e saía às 5 para fotografar…agora, com 55 anos, essas actividades abrandaram um pouco. Uma coisa da qual não abdico é ver fotografia ao vivo, em exposições e também em livros e revistas. Acho que é muito importante ver a fotografia no papel, pois o monitor dá-nos uma imagem retro-iluminada, que, muitas vezes não corresponde à realidade. A minha “formação” deve-se, basicamente a quatro vertentes: Internet, livros/ revistas/manuais, práctica no terreno/estúdio/laboratório e visionamento de fotografias em exposições. PS – Tu és um fotógrafo que privilegia a paisagem e o retrato porquê?? Como é que te sentes numa e noutra área? NSD – É curioso, muita gente me diz isso mas, além dessas duas “disciplinas”, eu tenho também muitas fotografias urbanas e nus. Eu nasci e sempre vivi perto do mar, que sempre me fascinou, principalmente no inverno e outono…não consigo resistir a fotografar o mar, no entanto, só comecei a fazê-lo em 2002, quando o meu grande amigo Fernando Correia, um excelente fotógrafo amador, practicamente, me arrastou até ao Cabo Raso, em Cascais. Nesse dia fiz a minha primeira fotografia de mar e essa continua a ser uma das minhas preferidas. Para mim, sair de manhã bem cedo e passar todo o dia a fotografar na praia, é uma espécie de tónico e ao mesmo tempo, vício. Tenho um lado um pouco eremita, preciso de me isolar algumas horas por dia e o mar é o meu “terreno de caça” favorito, mesmo em dias frios e tempestuosos. Por outro lado, gosto muito de retrato, de interagir com pessoas, tentar “entrar” no seu íntimo, conseguir aquele olhar que nos transmite a sensação de que acabámos de conhecer intimamente essa pessoa e registámos o momento. PS – Ainda sobre o retrato, a mundo da música onde tu és também um profissional reconhecido permite-te “praticar” bastante. Como é fotografar por exemplo Rui Veloso, que é 36 | phocal photovisions
um “tipo” fantástico e brincalhão? Que outras pessoas da música já tiveste oportunidade de fotografar? NSD – Eu conheço o Rui há cerca de 30 anos, comecei a tocar com ele em 1983. Temos muitos episódios passados na “estrada”, no estúdio de gravação, etc, temos ainda muitos amigos em comum, de modo que, para mim, sempre foi muito fácil fotografá-lo. Já fotografei o Vitorino, Janita Salomé, Tito Paris, Rita Guerra, Boss AC, João Melo, Mafalda Arnaud, Mafalda Sacchetti, Filipe Mukenga, Paulo Gonzo, Nelson Cascais, Lura, Rodrigo Gonçalves, Lúcia Moniz, Sérgio Godinho, Gonçalo Salgueiro, Carlos Barreto, Ana Paula Oliveira, Bernardo Moreira, Zé Carvalho, etc. PS – Ainda na música, o teu estatuto de fotografo tem-te permitido trabalhar para vários músicos como fotógrafo. O facto de simultaneamente trabalhares com eles como músico e como fotografo aumenta o grau de exigência dos teus trabalhos, quando produzes capas de álbuns para vários músicos? NSD – Tenho feito fotografias para capas de alguns discos em que participei também como saxofonista/flautista, o que é uma experiencia curiosa, no entanto, nunca misturo as coisas e sou sempre bastante exigente comigo próprio, como músico e como fotógrafo. PS – Há quem te reconheça em termos fotográficos, o estatuto de “mestre” já ouvi até dizer “Nana Sousa Dias é o meu mentor”; Como é que te sentes quando as pessoas reconhecem a qualidade dos teus trabalhos e sabes que há outros fotógrafos ou candidatos a fotógrafos que aspiram seguir as tuas pisadas? NSD – Tenho uma certa dificuldade em lidar com isso, pois considero-me ainda numa fase de aprendizagem, então, o que costumo sugerir é que sigam as pisadas dos verdadeiros Mestres, tais como Ansel Adams, Edward Weston, Minor White, Paul Strand, Eugene Smith, Imogen Cunningham, Richard Avedon, Arnold Newman, Brett Weston, etc… PS – Tens várias fotógrafos que admiras, Ansel Adams, Edward Weston, Brett Weston, John Sexton, Henri Cartier- Bresson, Elliot Erwitt, Helmut Newton, Richard Avedon, Yousuf Karsh, Robert Mapplethorpe, Jeanloup Sieff, Arnold Newman etc, consegues destacar deste um deles que te tenha influenciado mais? NSD – Cada um deles me influenciou (e continua a influenciar) um pouco, em variados temas. Acho muito importante ter referencias, pelo menos, numa fase inicial, a qual ainda não abandonei. Acho que não tenho ainda um estilo definido e não sei se alguma vez o virei a conseguir mas, o que posso garantir é que até agora, me tem dado muito gozo percorrer este caminho. Espero, um dia, numa qualquer encruzilhada, descobrir o meu próprio caminho mas, para já, isso não me preocupa muito. PS – Formação..... tens dado workshops por esse Portugal fora e não só. As tuas ações de formação são sempre momentos não só de aprendizagem mas também de relax e boa disposição? NSD – Faço os possíveis para que isso aconteça e tenho tido alguma sorte, pois tenho conseguido reunir grupos de participantes muito interessados em aprender mas, também, com sentido de humor e bons conversadores. Nos meus workshops fala-se não só de fotografia mas de tudo um pouco, principalmente, durante os almoços, lanches,
Pentax 645, 135mm Macro, Kodak Tri-x, Caxias, 2003
etc.Isto tem acontecido não só cá em Portugal mas também no Brasil onde já dei workshops nos últimos três anos. Tento sempre evitar que se fale demasiado em equipamento e se fale mais de fotografia, pois como todos sabemos, quase todos os fotógrafos têm um carinho especial pelas suas ferramentas de trabalho, no entanto, não me canso de frizar que as máquinas, objectivas e inúmeros acessórios devem servir um fim especifico, que é a fotografia e não se devem tornar um objecto de culto. PS – Tens tido trabalhos teus publicados um pouco por todo o lado. Consideras ter chegado á B & W Magazine o culminar do reconhecimento do teu trabalhos enquanto fotógrafo? NSD – Bem, sinceramente, espero que não!!!! Espero conseguir que o meu trabalho seja publicado em muitas outras revistas e livros, embora, obviamente, tenha sido uma grande honra, para mim, ter sido publicado na B&W Magazine, considerada uma das melhores revistas do mundo da fotografia Fine Art. Muitos dos melhores fotógrafos do mundo foram publicados na B&W, isso abriu-me algumas portas, nomeadamente, o contacto regular com alguns desses fotógrafos, através de email e com os quais tenho aprendido muito. Em todo o caso, o caminho é para a frente e espero vir a ser publicado em muitas outras revistas e livros. PS – O que achas do panorama fotográfico português, o país está bem servido de fotógrafos? NSD – Acho que temos excelentes fotógrafos no nosso país, com qualidade de nível mundial, não só profissionais mas, principalmente, amadores. Basta darmos uma volta por alguns dos sites interactivos
nacionais para verificarmos isso. Tive a oportunidade de assistir de perto ao que talvez possamos chamar de “nascimento” dum movimento fotográfico intenso, no primeiro site dedicado exclusivamente à fotografia em Portugal, o extinto foto@pt. Isto aconteceu em 2000. O site cresceu muito rapidamente tendo atingido os 5000 participantes em menos de dois anos. Tenho sempre acompanhado as novidades em vários sites portugueses (embora eu publique mais fotografias em sites estrangeiros) e tenho verificado que o nível geral tem subido bastante nos últimos 5 anos. A fotografia digital, contribuiu imenso para essa subida de qualidade. PS – Para terminar, projetos para o futuro em termos fotográficos, tens alguma ideia pensada para colocar em prática? Livros por exemplo está na hora de uma próxima edição?? NSD – Tenho dois grandes projectos em curso mas, de momento, ainda não posso divulgar. Quanto a livros, continuo à espera de encontrar uma editora que queira editar um livro meu com os requisitos que eu considero indispensáveis, o que não é fácil, pois não farei qualquer concessão. Talvez, entretanto, consiga uma editora estrangeira, estou a trabalhar para isso. Não exijo muito, exijo apenas que o livro tenha uma impressão irrepreensível, o que é uma condição necessária e suficiente para um livro de fotografia Fine Art….
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Pentax 645, 135mm Macro, Kodak Tri-x, Caxias, 2003
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Wista 45 DXII, Nikkor W 210/5.6 Kodak Tmax 100, Caxias, 2003
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Pentax 67, 90mm, Kodak Tri-x, Caxias, 2001
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Pentax 67, 90mm, Ilford HP5+, Caxias, 2000
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Pentax 67, 90mm, Ilford Delta 400, Guincho, 2004 phocal photovisions | 43
Pentax 67, 135mm Macro, Agfa APX 100, Caxias, 2004
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Pentax 67, 90mm, Kodak Tmax 400, Guincho, 2004
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Pentax 67, 90mm, Kodak Tmax 400, Guincho, 2004 phocal photovisions | 47
ANTÓNIO JORGE NUNES portalegre – PORTUGAL INFO@ANTONIONUNES.COM | WWW.FACEBOOK.COM/ANTONIONUNES?REF=TS&FREF=TS | HTTP://WWW.ANTONIONUNES.COM TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © ANTÓNIO JORGE NUNES
António Jorge Nunes nasceu em Angola corria o ano de 1971. Vive em Portugal desde meados da década de 1970, tendo deambulado por diversas regiões do país. Apaixonado pelas artes visuais, em especial o cinema, a pintura e a fotografia, encontrou nesta última a forma de expressão com que se identifica. Desenvolve trabalho fotográfico comercial, mas é na vertente de autor que encontra a realização suprema. Os grandes espaços são o tema da sua predileção. Procura uma representação própria do mundo, quase sempre com ausência do elemento humano. Acredita que a fotografia é um ato solitário mas que o seu resultado deve ser partilhado. Com um espírito quase nómada, as suas imagens, registadas um pouco por todo o mundo, são reflexo das suas vivências e estados de alma. Exposições: Setembro/Outubro 2005 - “Povos de África” - Centro Cultural de Belém - com Sofia Brás Monteiro Julho/Setembro 2005 - “África” - Badoca Park - com Sofia Brás Monteiro Julho 2004 - Fotomós 2004, “Olhares” - Ecoteca - Câmara Municipal de Porto de Mós - Individual Abril 2004 - Exposição Comemorativa 2º Aniversário 1000imagens - Ílhavo - Colectiva Junho 2003 - “Um Olhar Sobre Amarante II” - Posto de Turismo - Câmara Municipal de Amarante - Individual Junho 2003 - “Con(tacto)” - Centro Cultural de Fronteira - Colectiva Abril 2003 - Exposição Comemorativa 1º Aniversário 1000imagens - Chamusca - Colectiva Março 2003 - “Olhares Sobre o Mar” - Biblioteca Municipal Almeida Garrett - Porto - Colectiva Dezembro 2002 - “Con(tacto)” - Hotel D. Luis - Coimbra - Colectiva Julho/Agosto 2002 - “Quod Erat Demonstrandum” - Hotel D. Luis - Coimbra - Colectiva Junho 2002 - “Um Olhar Sobre Amarante” - Câmara Municipal de Amarante - Colectiva Abril 2002 - “Solidão / Imensidão” - Faculdade de Filosofia de Braga - Colectiva
Pedro Sarmento – António Nunes, como é que começou a fotografia na tua vida. Foi um desafio pessoal, tiveste influências familiares ou a necessidade de um hobby por exemplo? António Jorge Nunes – Não há nenhuma história especial. Sempre gostei da linguagem visual. Fotografia, cinema, publicidade, pintura. Gosto especialmente dos pintores impressionistas, pela representação distorcida, pela ordem no aparente caos, pela luz. Quando surgiu a fotografia digital, que permitiu, embora com um custo de aquisição elevado, fazer muita experimentação sem custos e controlar todo o processo desde a aquisição da imagem até à impressão, percebi logo que era o meio e linguagem que me servia. E assim foi. PS – Tens algum tipo de formação em fotografia, ou és um auto didata? AJN – Sou auto didata. O acesso à informação está hoje de tal forma disseminado que se torna simples dominar qualquer área de conhecimento; haja interesse. Em todo o caso, considero importante a formação, especialmente porque nos permite uma curva de aprendizagem mais rápida e a fazer as escolhas certas e porque nos põe em contacto com outras pessoas com os mesmos interesses e objetivos. Quando se é auto didata anda-se muitas vezes perdido, à procura de um rumo, de uma linguagem. Isto tudo no que respeita à componente técnica. Porque a formação em fotografia não se resume a velocidades e aberturas. PS – Como vês a formação na fotografia, achas que basta receber formação para ser um bom fotógrafo? AJN – Uma galinha podia fazer muitos cursos de vôo e nun48 | phocal photovisions
ca conseguiria voar em condições. Por outro lado, na formação em fotografia também se aprende o discurso e qualquer galinha consegue mostrar-se como uma grande criatura voadora. A perceção do valor e o valor são coisas distintas. Mas tudo isto é tão subjetivo que qualquer posição extremada é necessariamente falhada. PS – Que tipo de equipamento usas na tua fotografia, és uma pessoa sempre a olhar para as novidades do mercado, ou por outro lado achas que o equipamento não faz o fotografo? AJN – Normalmente, uma máquina, um cérebro, um coração e um dedo.. Mais a sério, neste momento uso um sistema Canon full-frame digital 35mm.Quanto às novidades de mercado, gosto de saber como vai evoluindo a tecnologia e estou atento às novidades e às possibilidades que estas abrem, mas não sinto, neste momento, qualquer pressão em ter o último equipamento lançado. Um martelo diferente não faz necessariamente de alguém um melhor carpinteiro. PS – O tema da Phocal deste mês é o B&W, área da fotografia que abordas com regularidade. Se o mundo é a cores, porquê a fotografia a preto e branco? AJN – Se entendermos a fotografia como mera representação do mundo, fará sentido a pergunta. O mundo também não é quadrado ou retangular, nem bi-dimensional. Parte do meu trabalho em fotografia pretende conseguir uma resposta emocional. Não me preocupam formatos ou linguagens, desde que a imagem transmita o que eu sinto. As minhas imagens são muitas vezes estados de espírito e uma forma de manifestação. Já na fotografia documental ou de
publicidade os objetivos são outros. Basicamente, se eu achar que a cor funciona como elemento catalisador do que pretendo transmitir, uso-a. Se funciona como elemento de distração ou não adiciona nada ao que pretendo, uso preto e branco ou duotone, que permitem por vezes conferir dramatismo, ambiente ou simplesmente um estado de alma. PS – Quando escolhes um local para fotografar, o que é que mais te fascina, por exemplo a capacidade de criar algo novo num local que já conheces ou o desconhecido de um novo spot? AJN - Um lugar novo traz necessariamente um desafio diferente do de um lugar que conhecemos bem. Dependendo das condições, pode ser mais espontâneo; o fator de deslumbramento é maior. Por outro lado, dá-me gozo conseguir algo novo de um lugar já explorado. PS – Em termos fotográficos há alguma área que gostes mais de abordar, sentes-te mais á vontade por exemplo em paisagem do que em retrato, ou numa outra que queiras abordar? AJN - Gostar e à vontade são coisas distintas. Gosto especialmente dos grandes espaços, de sentir o que me
rodeia e de tirar desses lugares o que me transmitem e, na maioria dos casos, com total ausência do elemento humano. Gosto de me encontrar nas imagens que faço. Deu-me grande gozo a fotografia de vida selvagem no Quénia, uma série de retratos que desenvolvi numa aldeia portuguesa ou até algum trabalho de estúdio. Sou eclético no gosto e na abordagem. PS – És uma pessoa viajada, tens fotos tiradas em diversos países e continentes. Dos que já visitaste qual o que não deixarás de voltar e porquê? AJN - Tenho um amigo que disse um dia que o mundo é grande demais e a vida demasiado curta para se repetir um destino. Tenho tendência a concordar com ele. Em todo o caso, voltaria de bom grado a muitos dos sítios onde estive, sem necessidade de enumerar nenhum. Durante muito tempo senti uma quase necessidade de visitar África, talvez pelo facto de ter nascido em Angola e ter vindo para Portugal muito pequeno. Esse sonho já realizei e não sinto nenhum chamamento. O mundo está a diluir-se e as diferenças a desvanecer-se. Os destinos deixaram de ser estanques e, por norma, não temos acesso aos países reais. Viajamos, na maioria das vezes, phocal photovisions | 49
para visitar uma imagem fabricada e moldada aos gostos e hábitos dos visitantes. É um privilégio visitar um qualquer destino e poder ver como realmente vivem, quais são os seus reais interesses e cultura, como são os seus lugares vistos de sítios que não os miradouros.
seja ao virar da rua ou do outro lado do mundo. Sou curioso e gosto de pensar que tenho uma mente aberta. Viajar é algo de que gosto muito. A minha visão é necessariamente toldada pelo meu percurso e forma de olhar, mas aprecio o facto de não me sentir de lado nenhum.
PS – E que país não deixarás de visitar caso surja oportunidade? AJN - A lista é enorme e há muitos destinos no topo da lista. Como se pode comparar e escolher entre o Outono no Canadá e os glaciares na terra do fogo? O deserto e os recifes de coral? As auroras boreais nos países nórdicos e a calma planície africana? O exotismo asiático ou a sofisticação das grandes metrópoles? Este planeta é uma coisa tão fantástica e tem uma capacidade tal de nos surpreender e nos dar uma sensação da nossa real escala (somos mesmo pequeninos enquanto indivíduos e mesmo enquanto espécie) que podemos encontrar algo especial,
PS – Como é que surgiu a ideia do 1000imagens.com e do iso1000.com, como foi para ti e para as pessoas que colaboraram contigo, pensar e colocar em prática esse projeto? Como tem corrido? AJN - A ideia surgiu de forma natural há mais de 10 anos, numa conversa de amigos. Na altura, pertencíamos ao fotopt. net e o site lidava com dificuldades que levaram ao seu fecho. Queríamos um espaço para partilhar as nossas imagens numa altura em que não havia Flickr, Facebook, Instagram ou Google+. As ideias foram surgindo e o site foi crescendo. O 1000imagens tem estado em constante mutação pela
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forma como as pessoas hoje se relacionam e pelos avanços tecnológicos. Temos ainda muitas ideias para pôr em prática.Do ponto de vista humano é uma experiência enriquecedora. Fizeram-se muitas amizades e aprendi muito sobre a fotografia e sobre as pessoas no processo. No fundo, uma comunidade online é uma amostra da nossa sociedade a uma escala mais pequena. Há coisas boas e coisas menos boas, mas no final o balanço é positivo. Muitos nomes passaram por lá; uns seguiram outros rumos, outros estão connosco desde a primeira hora. Gosto de pensar que há ainda um espaço para comunidades especializadas, onde os assuntos são mais aprofundados e vividos, sem ter como único objetivo a montra e a pseudo-notoriedade. A divulgação e discussão da fotografia continua a ser o principal objectivo. Pelo caminho, pediam-nos muitas vezes ajuda para ter um espaço pessoal na internet e assim surgiu o iso1000. PS – Tens feito várias exposições, como é que tem corrido, como é a aceitação das pessoas ao teu trabalho? AJN - Geralmente boa. Também não me recordo de alguém ir a uma exposição e dizer ao autor “O seu trabalho é execrável” (a não ser que o autor seja tão bom que suscite tal tipo de reação), se bem que mesmo uma reação dessas será sempre mais interessante do que a indiferença. As melhores reações vêm de quem não conhecemos e não precisam de nada em troca. Entre fotógrafos ou existe geralmente idolatria ou competição exacerbada e nenhuma das duas é boa para a nossa afirmação enquanto indivíduos com
um olhar próprio. Tenho o privilégio de ter um grupo de amigos com diferentes pontos de vista e percursos fotográficos, que se permite criticar, gostando ou não, sem quezílias. É ótimo quando temos uma opinião imparcial e verdadeira sobre o que partilhamos. De resto, tenho livros de visitas carregados de comentários de pessoas de todo o mundo e a abrangência e carinho com que receberam o meu trabalho é sem dúvida fator de regozijo e motivação. PS – Projetos para o futuro , tens algum ideia em mente para colocar em prática? AJN - Este ano publiquei um livro de fotografias em conjunto com um grupo de amigos de diferentes correntes e gostos fotográficos, de título “(in)finito” e que pode ser visitado (e comprado) em http://br.blurb.com/bookstore/detail/3064776. Estou a preparar um livro de fotografias minhas, que será uma resenha do trabalho dos últimos 10 anos. Não tem data marcada, mas está a servir também de reflexão para o que virá a seguir. O meu site pessoal será renovado em breve e permitirá mostrar de forma mais ampla tudo o que faço na fotografia. Pretendo também continuar com a realização de trabalho de imagem para publicidade e naturalmente, em alimentar projetos como o 1000imagens.com. Há muita coisa em cima da mesa. Quando nos dispersamos em vários projetos pode acontecer sentirmos uma certa perda de identidade e esta é fundamental enquanto criadores. Este é também um momento de reflexão e mudança.
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PS – Como é que surgiu a possibilidade do teu portfólio no Courrier Internacional, uma publicação com bastante prestigio e logo com 8 páginas? AJN – Viram o meu trabalho no Quénia e mostraram interesse na publicação. Daí a estar nas bancas foi uma questão de acertar conteúdos e seleção de portefólio. PS – Como vês a forma como a imprensa nacional trata a fotografia em Portugal. Muitos fotógrafos entendem que a fotografia é tida como uma arte menor, qual é a tua opinião? AJN - Julgo que são os próprios fotógrafos que criam essa imagem de “arte menor” para a fotografia. Existe uma necessidade exacerbada de se mostrarem e aparecerem sem olhar a meios. As publicações especializadas aproveitam isto para criarem conteúdos sem custos financeiros e, em muitos casos, a criar a ideia de que basta ter uma máquina e ler uns artigos para se ser o próximo Ansel Adams ou Cartier-Brésson. A democratização dos meios de produção de imagens leva também a essa ideia de que a fotografia é “fácil” e que basta estar lá e carregar no botão.
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Muitas pessoas que conheço acham que porque compraram uma máquina cara, podem ganhar dinheiro com isso, esquecendo que ser fotógrafo profissional não é gostar de fazer uns cliques. É como achar que um comediante não tem problemas e o seu trabalho é ótimo porque aparentemente passa a vida a rir-se. PS – Usas esta frase de Ansel Adams: “There are no rules for good photographs, there are only good photographs.”. Achas que hoje ainda faz sentido, não faz sentido nenhum, ou cada vez concordas mais com ela? AJN - Há outras frases dele de que gosto mais, mas acho que esta faz o mesmo sentido de sempre e que é intemporal. Para mim faz sentido, mas não é necessariamente uma verdade absoluta. Não há regras para boas fotografias, não há fórmulas. Além de que teríamos que definir o que são boas fotografias e não sei se há uma resposta cabal para isso.
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FERNANDO JORGE GONÇALVES alcochete – PORTUGAL contaforte@gmail.com | https://www.facebook.com/pages/Photography-by-Fernando-Jorge/220110561380256 TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © FERNANDO JORGE GONÇALVES
Fernando Jorge, nasceu em Lisboa no ano de 1972, na Maternidades Alfredo da Costa, no dia 9 de Fevereiro. Cresceu em Odivelas. Fez o percurso escolar normal, completando o ensino superior com grau de Mestre em Fiscalidade. Ao longo do seu percurso de vida, praticou atletismo no Benfica. Já em idade adulta realizou diversas viagens pelo mundo, sendo a sua estada em São Tomé e Príncipe um momento de referência de contribuição para esta população, participando em diversos projetos culturais de cooperação. O gosto pela fotografia despoletou nesta ilha, em que o registo da realidade S. Tomense era peremptório. Durante estes últimos anos criou duas empresas de serviços de contabilidade e fiscalidade, que se mantêm ativas presentemente, sendo esta a sua maior ocupação. No âmbito da fotografia realizou várias exposições coletivas e individuais, nomeadamente Tu- Transições, exposição editada e impressa pelo próprio autor.
Exposições: Biblioteca de Alcochete - 2010 | Palácio Cabral - 2011
Pedro Sarmento – Fernando Jorge uma pergunta que se impõe é como é que a fotografia aparece na tua vida, quando e porque razão? Fernando Jorge Gonçalves – A fotografia apareceu como uma necessidade de registar a realidade S.Tomense, por ser de alguma forma impressionante, chocando-me pela negativa. Por outro lado, a natureza destas ilhas era de uma riqueza tamanha. PS – A tua ocupação profissional não têm nada a ver com fotografia, consegues de forma simples conciliar as duas coisas, andas sempre com a máquina contigo? FJG – Sim. A máquina faz parte da minha indumentária! Durante a hora do almoço sai sempre um registo ou outro. PS – Tu és de uma zona que têm “produzido” bons fotógrafos. Alcochete é um sem fim de oportunidades para a fotografia bela beleza e pelas suas gentes? FJG – Alcochete é uma terra bonita, com gentes de tradições, havendo sempre motivo para fotografar, seja por do sol, seja rio, pescadores e as zonas envolventes que incluem a reserva natural do estuário do Tejo. PS – Como é que nasceu esse Projeto da Associação de Fotografia e Cultura de Alcochete? FJG – Partiu de um grupo de nove conhecidos dos Raids de fotografia, que sentiram a necessidade de dinamizar e divulgar esta arte da fotografia junto da população de Alcochete, que até então não existia. PS - Falando da tua fotografia, és muito um fotografo de rua, um “Steet Photographer”, é assim que te sentes bem? FJG – A street Photography veio um pouco por influência de outros fotógrafos amigos, nomeadamente do Rui Palha. Mas, o meu inicio foi no âmbito da fotografia da natureza e paisagem. No presente, sim, tenho feito muita fotografia de “rua”. Independentemente do tipo de fotografia, tenho sempre uma iniciativa constante para fotografar o que me rodeia. PS – Para ti andar pela rua, contactar as pessoas é uma forma de imortalizares os teus momentos em que através da fotografia te sentes livre para criares momentos? 58 | phocal photovisions
FJG – A fotografia serve de alavanca para a recordação, os momentos estão lá no papel, por muitos anos, mas apenas os registo, não é minha política criar momentos. PS – B&W porquê? Se tudo o que vemos é a cores porque razão temos..... e tens tu também tendência a editar trabalhos fotográficos em B&W ? Pensas que o B&A oferece uma sedução diferente daquilo que vemos e captamos a cores por exemplo? FJG – Como tenho vindo a descrever, o que realmente interessa é a forma como olhamos o momento, todo o resto é distracção, nomeadamente a cor. De alguma forma, o B&W realça a mensagem da fotografia. #8 PS – Como é o teu equipamento, andas sempre muito carregado, és um utilizador/comprador compulsivo de novas tecnologias ou nem por isso? FJG – Por norma não compro nada que não necessito, mas não prescindo de um equipamento adequado. Actualmente ando com a X1 da Leica, para não andar carregado. PS – Recentemente tiveste oportunidade de fotografar Eduardo Gageiro que é só o o fotógrafo português mais premiado. Tens “mentores” ? Fotógrafos que admires e que de alguma forma tenham influenciado o teu trabalho enquanto fotógrafo? FJG – Todos nós temos um estilo, mas a influência dos nossos fotógrafos favoritos está lá, no enquadramento, no objecto fotografado… por aí. Não tenho um mentor em particular, mas vejo muitos livros de fotografia e tenho-os como referência. PS – Outro fotografo que eu sei que admiras muito é o Rui Palha, alguém que a Phocal Photovisions espera um dia poder ter nas suas páginas, achas que o Rui é um marco na Street Photo, e como vês o panorama Fotográfico Português, estamos bem servidos de fotógrafos Nacionais? FJG – Sim, o Rui já deu mais que provas, e continua a ser um dos melhores em fotografia de rua. Lá fora, infelizmente, tem tido maior reconhecimento que no seu próprio país. É de facto, uma referência na fotografia de rua, isso está estampado no seu livro “Street Photography” by Rui Palha. Os fotógrafos portugueses não estão mais divulgados, por falta de cooperação entre colegas, mas sim, temos muito bons fotógrafos.
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PS – A fotografia têm-te levado a vários locais, escolhes os locais que visitas pensando também em fotografia? FJG – Estaria a mentir se não dissesse que sim. Escolho os meus locais de descanso ou passeio, tendo em vista alguma atracção fotográfica. 12 PS – Que lugar, cidade país etc não gostarias de perder a oportunidade de visitar e fotografar? FJG – O meu próximo destino de eleição, será New York. 13 PS – Exposições fotográficas, tens algo programado para
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um futuro próximo? FJG – Em breve, haverá novidades da Exposição em fotografia Fine Art. 14 PS – Para terminar Fernando , na fotografia a perfeição existe, ou é sempre possível fazer melhor? Tens algumas fotos daqueles que eu costumo dizer – Aquela devia ter sido feita por mim - a tua melhor foto ainda está para ser feita? FJG – Com a maturidade vamos olhando e enquadrando com maior perfeição. Sim devem estar por fazer as minhas melhores fotos, ou não
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CARLOS PEREIRA TORRES VEDRAS – PORTUGAL carlosmpereira.58@gmail.com |https://www.facebook.com/carlos.pereira.580920?fref=ts TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © CARLOS PEREIRA
Carlos Pereira é natural de Torres Vedras, e tem 54 anos. Sente e vive a fotografia como uma linguagem de expressão artística, à qual deverá ser concedida a mesma liberdade criativa que possuí o pintor, o escultor ou o escritor. É, por isso, avesso às regras e aos paradigmas aplicáveis à Fotografia. Este é, no entanto, um posicionamento relativamente recente, que decorre de um processo de auto-aprendizagem e da evolução do seu processo criativo e da sua relação com as ferramentas à sua disposição. O seu percurso pela fotografia iniciou-se há já 38 anos atrás, quando tinha 16 anos, em apenas 10 imagens esta é a retrospectiva possível desse processo evolutivo. Pedro Sarmento – Carlos Pereira como começou a fotografia na tua vida, e porquê a fotografia e não uma outra qualquer forma de arte? Carlos Pereira – Honestamente, o aparecimento da fotografia na minha vida ocorreu há tanto tempo atrás (mais de 35 anos) que já nem consigo recordar com precisão quais foram as verdadeiras motivações para que tal acontecesse. Tenho, no entanto, a ideia de que a revista francesa de fotografia Photo, a mais importante revista sobre esta matéria que se publicava então, e que eu lia com alguma regularidade, terá tido a sua quota-parte de responsabilidade… PS – Tens alguma formação em fotografia, tens feito workshops por exemplo ou és um auto didata que atingiu já uma qualidade fotográfica muito boa? CP – Durante muitos anos, mais precisamente até há cerca de 8 ou 10 anos atrás, fui evoluindo na fotografia exclusivamente como auto didata. Como sou um fotógrafo muito intuitivo, nunca dediquei excessiva atenção ao lado técnico da fotografia; sempre me foquei mais nos resultados obtidos, que no processo para lá chegar. E foi motivado por esta vontade de explorar novas áreas da fotografia, que surgiu a vontade de frequentar alguns workshops temáticos: fotografia de estúdio, de moda, nu e retrato. Realço um workshop sobre Retrato Contemporâneo, que frequentei em Santa Fé (Estados Unidos) que representou um marco importante na forma como me relaciono com a fotografia atualmente. PS – A tua fotografia, ou a grande maioria dela evoca o ser humano, retrata pessoas em situações do dia-a-dia. Pensas que é de alguma forma ao fazeres este tipo de fotografia, a tua forma peculiar de ver a vida registando os que nos rodeiam aqueles que connosco se cruzam nas ruas? CP – Uma das várias perspectivas sobre as quais encaro a fotografia, é exatamente essa. Estando hoje em dia a imagem tão banalizada; existindo uma tal profusão de fotografias dos mais diversos tipos, a única forma de podermos adicionar algo de diferenciador às fotos que produzimos, passa pela capacidade de cada um, de adicionar às imagens que faz, algo de verdadeiramente pessoal. PS – Consideras-te por isso mais um fotógrafo de Street Photography, ou é mesmo a questão humana que te chama, em vez de te atrair para a paisagem os animais etc.? 66 | phocal photovisions
CP – Respeitando eu todo o tipo de fotografia, e sendo observador atento do que se faz em todas as áreas de produção fotográfica, não me sinto minimamente atraído pela fotografia de natureza. Até há bem pouco tempo, considerava-me um fotógrafo de pessoas. Na rua, em casa, no trabalho, no lazer…as pessoas eram o denominador comum de toda a fotografia que fazia. Atualmente sinto-me muito atraído para uma abordagem mais experimentalista e conceptual, sendo mais fácil conceber a fotografia “sem pessoas”. PS – Mais uma vez e este mês repito-me, se o mundo é a cores porquê o B&W? No teu caso especial o que é que te atrai?? CP – Não sendo eu, um fundamentalista do B&W, entendo que, por vezes, a cor distrai o olhar daquilo que é essencial. PS – Como é que organizas a tua fotografia, sais simplesmente para a rua, ou tentas idealizar um momento, um tema, e um local? CP – Durante anos e anos fui fotografando o que via, aquilo com que me cruzava quotidianamente e que, por qualquer motivo, me prendia a atenção. Evolui depois para uma atitude mais próxima do “caçador de imagens”, que se coloca num determinado local, previamente identificado, com a convicção de que a sua “presa” irá passar por ali (uma das fotos que aparecem no meu portfólio publicado nesta edição da Phocal, foi obtida depois de quase duas horas de espera). Atualmente, tento fotografar mais numa lógica de projeto; significa isto que passo a distribuir o tempo que dedico à fotografia de forma muito distinta, sendo que a concepção, idealização e planificação, consomem bastante mais tempo que o ato da tomada de imagens. PS – Equipamento, és como muitos outros fotógrafos, um dependente da tecnologia e das novidades? O que é que não dispensas na tua mochila? CP – Já fui muito mais dependente da tecnologia do que sou hoje. Na minha mochila, quando a levo, estão sempre: dois corpos Canon (uma velhinha 20 D e uma 5D Mark II) e duas objectivas igualmente Canon (24-70 mm USM L f:2.8 e 70-200 mm USM L f:2.8). Para além disto, tenho sempre à mão algumas objectivas Holga e/ou Diana, que utilizo nos meus projetos mais conceptuais.
No entanto, faço muita fotografia recorrendo apenas à câmara fotográfica do meu telefone. Tenho planeada a realização de um projeto fotográfico utilizando exclusivamente este último equipamento. PS – A fotografia têm regras, és um fotógrafo que quebras as regras tendo em conta aquilo que te rodeia, ou por outro lado tens uma preocupação constante em as não quebrar? CP – Tal como referi anteriormente, sou muito intuitivo e pouco formal na fotografia que faço. De todas as regras que a fotografia pode ter, talvez me sinta de alguma forma condicionado pela regra dos terços, que tenho muito presente (involuntariamente, confesso) no momento da composição de muitas das minhas fotos. De resto, nesta fase mais experimentalista em que atualmente vivo, sinto-me estimulado a adoptar abordagens que têm muito pouco de convencional e/ou regulado. PS – Tens fotógrafos que tenham de algum modo influenciado o teu trabalho fotográfico? CP – O meu crescimento pessoal enquanto fotógrafo, tem sido feito tendo por base dois pilares fundamentais: ver muita fotografia, e fazer muita fotografia! Assim, é óbvio que existe uma lista significativa de nome que, direta ou indiretamente influenciam aquilo que vou fazendo: Bresson, Depardon, Aitget, Lange, Kertész, McCurry, Koudelka, … PS – És um utilizador habitual de Photoshop ou outro software no sentido de simples edição ou gostas de alterar as tuas fotos digitalmente? CP – Sou um utilizador básico de ferramentas de pós-produção digital. Utilizo o Adobe Lightroom, quase exclusivamente para pequenos ajustes de exposição, contraste e/ou saturação. PS – Quando fotografas, gostas de o fazer sozinho ou tens
grupos com quem habitualmente te juntas, no sentido não só de convivência, mas também no que diz respeito a partilha e troca de conhecimentos? Achas isso importante? CP – Fotografar e partilhar conhecimentos e experiências sobre fotografia são, para mim, duas atividades fundamentais mas totalmente distintas. O acto de fotografar é, na minha perspectiva, um ato eminentemente solitário. Já tentei algumas vezes fazer saídas com amigos, e o resultado é, normalmente desastroso. Não me concentro, não dedico a cada tomada de imagem o tempo que a mesma necessita/merece, não me relaciono eficazmente com o espaço onde estou. Quanto à partilha, faço-o sempre que posso, conversando com amigos, participando em tertúlias… PS – Como é que vês o panorama fotográfico Português? Achas que a fotografia tem o reconhecimento que merece no mercado nacional? CP – Existem em Portugal fotógrafos de altíssima qualidade, com projetos muito criativos e com trabalho desenvolvido muito meritório. No entanto, considero que, no nosso mercado, a fotografia continua a ser considerada como um parente pobre entre as diversas formas de criação artística. PS – Tens participado em exposições, ou tens algum projeto desse tipo em mente para um futuro próximo. CP – Até 2006 apenas tinha participado em duas exposições colectivas, uma delas logo no início do desenvolvimento desta paixão pela fotografia, talvez em 1976. De 2006 para cá, fiz 5 exposições individuais, e participei noutras tantas exposições ou mostras de fotografia colectivas. Tenho alguns projectos em fase de amadurecimento, sendo possível que daí venham a surgir oportunidades de voltar a expor. PS – Para terminar duas perguntas numa só... gostava que nos phocal photovisions | 67
dissesses, quando andas pelas ruas de máquina na mão o que vês e de que forma o vês? E por outro lado se sabes qual foi aquela foto que ainda não conseguiste fazer?
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CP – Tento sempre dedicar particular atenção à relação do Ser Humano com o contexto social em que se insere. A fotografia que ainda não fiz? Aquela que verdadeiramente me satisfaça!
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CRISTINA SOARES LISBOA – PORTUGAL cristinasoares@sapo.pt | https://www.facebook.com/cristina.soares.777363 TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © CRISTINA SOARES
Crsitina Soares nasceu em Lisboa a 23 de Agosto de 1959 cidade onde ainda vive. É Fisioterapeuta de profissão, atividade que adora e á qual se dedica com empenho. É uma apaixonada pela fotografia, que faz aprte da sua vida, tendo frequentado e finalizado o curso profissional de fotografia da Oficina da Imagem em 2009, tendo recebido uma menção honrosa pelo projeto final e a chancela da AFP.
Pedro Sarmento – Cristina a fotografia faz hoje parte da tua vida, não passas sem ela, mas como foi que tudo isso começou? Cristina Soares – Não te sei dizer como tudo começou. Tenho a sensação que sempre fotografei e formei as imagens dentro de mim, mesmo sem câmara. Desde pequena que roubava a máquina fotográfica ao meu pai para fotografar o cão ou o canário, mas talvez te possa dizer que tenha começado nos anos 80 quando comprei a minha velha Minolta para torturar os meus filhos, eles eram o principal motivo para fotografar . Nessa altura tinha um pequeno laboratório em casa onde revelava a preto e branco, embora nunca tenha sido uma atividade muito regular. Ainda guardo a minha ampliadora e ando agora a pensar tirá-la do sótão. PS – Tens algum tipo de formação em fotografia? CS – Em 2009 ofereci a mim mesma um curso de fotografia e uma máquina nova. Inscrevi-ma na Oficina da Imagem e fiz o curso avançado, foi um ano em que aprendi imenso sobre a técnica da fotografia, com professores de uma dedicação e conhecimento inestimáveis. Tenho que agradecer, em particular, ao ex-diretor da escola, prof. Curado Matos pelo amor e seriedade que põe naquilo que faz. Depois disso tenho feito alguns workshops de cariz mais “alternativo”, seja lá o que isso for, que me têm satisfeito o lado mais rebelde. PS – Achas que basta receber formação para ser um bom fotógrafo? CS – Acho que fazeres formação te ajuda a controlar as variáveis, e só isso. Um bom fotógrafo tem muito para além da técnica, do conhecimento das regras e do equipamento. Acho que esta banalização da fotografia fez com que se perdesse algum respeito por ela, hoje em dia todas as pessoas com um workshop de uma semana e uma boa reflex se apelidam de fotógrafos. Talvez um dia alguém me ouça dizer que sou fotógrafa mas hoje em dia o que digo é que tiro fotografias. Ser fotógrafo vai muito para além do que faço. Talvez por isso mostre pouco o meu trabalho, por respeito. PS – O que pensas da manipulação da fotografia? CS – Acho que há lugar para tudo. Penso que a pós-produção 74 | phocal photovisions
está para o digital como a revelação estava para o analógico, os ajustes que podes fazer num ficheiro raw não desvirtuam em nada o processo fotográfico. Quanto à manipulação, propriamente dita, acho que depende dos objectivos de cada um e quando assumida pode dar coisas fantásticas. No meu projeto final de curso, por exemplo, recorri ao Photoshop para fundir imagens de manchas de tinta com corpos em contraluz. PS – O tema da Phocal deste mês é o B&W, que é um bocado a “tua praia”. Se vemos o mundo a cores, porquê editar ou fotografar a preto e branco? CS –Eu não sei bem se tenho “uma praia”, também fotografo a cores, dependendo muito do motivo e do estado de espírito. O preto e branco tem talvez a ver com o meu gosto pelo singelo e genuíno, proporciona uma pureza dirigida ao que a fotografia tem a dizer. Como na música são as pausas que fazem a composição, na fotografia são as sombras que lhe dão o interesse e para isso não há como o preto e branco. PS – Dentro da fotografia, existe alguma área que prefiras abordar ou em que te sintas tecnicamente mais á vontade? CS –Tenho uma predileção especial pela figura humana e pelo corpo como objecto extraordinário de variabilidade e precisão. Gosto particularmente de fotografar dança, talvez por ter estado envolvida nela durante muitos anos. PS – Quando pensas a fotografia, o que é que te vêm á cabeça, apenas aquilo que vês ou tens a capacidade de criar momentos difíceis de repetir? CS –Os momentos podem-se recriar, o que está dentro de nós no momento do disparo e como nos apercebemos do que nos rodeia, não, e isso faz toda a diferença. Num dos workshops que fiz, com a fotógrafa Susana Paiva, andei a fotografar de olhos vendados, foi uma experiência fantástica que me fez sentir a fotografia e não só registar a imagem que os teus olhos projetam fazendo-te abstrair dos outros sentidos. Sou uma amadora, e gosto disso, amador é aquele que ama e não está constrangido pelas imposições de um outro, por isso, tenho o privilegio de fotografar o que me vai na alma sem sofrer pressões de ninguém, como um empregador, coisa que não aconteceria se me dedicasse à fotografia profissionalmente.
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PS – És uma pessoa que pensa muito a fotografia, ou és muito de impulsos? CS –Há a fotografia que tiro com a compacta que anda sempre comigo e há a fotografia que construo... Cada vez penso mais a fotografia. Quando comecei a fotografar disparava em todas as direções, hoje em dia levo mais tempo a conceber a imagem dentro de mim do que a fotografar. Posso até ir para a rua sem saber quem vou fotografar mas há-de ser naquele local, aquela hora, com aquela luz. PS – Quando fotografas gostas de o fazer em Grupo ou preferes a tua “própria solidão” que te permita outro tipo de atenção ao que te rodeia? CS – Não gosto mesmo nada de fotografar em grupo, aliás esse foi um dos meus problemas durante o curso de fotografia. Quando saíamos para fotografar sentia sempre uma necessidade enorme de me afastar. Acho que a fotografia é um processo tremendamente solitário. PS – És uma pessoa que gosta de ver o teu trabalho impresso em papel? Costumas fazê-lo? CS – Gosto muito de ver o meu trabalho impresso e penso mesmo que esse devia ser o seu destino final. Faço-o menos do que gostaria por imensas razões, disponibilidade, custos, espaço físico, etc. PS – Exposições já fizeste, já pensaste em organizar, é algo que te esteja em mente caso ainda o não tenhas feito? CS – Já participei numa colectiva de fotógrafos mas, como te disse, não acho que esse seja o meu papel. Acho que se deve mostrar o que é extraordinário e eu considero-me muito longe disso. É curioso fazeres-me essa questão porque tenho um espaço, tipo armazém, que estou em vias de remodelar, e penso convidar amigos que queiram expor sem grandes ostentações. Nada muito “oficial”. PS – És uma pessoa atenta ao panorama fotográfico nacional,
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ou seja estás atenta ao trabalho de muitos dos nossos amigos, gostas de “cuscar” o que de bom se faz por aí?? CS – Ando permanentemente a cuscar tudo, do que se passa no panorama nacional e internacional, e fazem-se coisas muito boas. O facebook, com todos os defeitos que possa ter, é um excelente veículo, uso-o quase exclusivamente para isso. PS – E fotógrafos que de alguma forma te tenham marcado e que te sintas tentada a seguir os seus ensinamentos ou forma de fotografar, mesmo que de uma forma muito tua? CS – Há duas senhoras que me marcaram particularmente, Julia Cameron, por se ter afirmado na fotografia no século XIX, apesar da sua idade e sexo, e Vivan Maier, a baby sitter que morreu deixando um verdadeiro tesouro, que ninguém conhecia até um desconhecido encontrar um caixote numa feira de velharias. De resto, há muitos fotógrafos que de uma forma ou de outra me influenciam, seja pela técnica, pelas qualidades artísticas, pela originalidade... No panorama nacional gosto particularmente do Edgar Martins, grupo Kameraphoto, Portfolio Project e tantos outros. No panorama internacional, o incontornável Helmut Newton e posso-te citar dois fotógrafos japoneses que descobri recentemente, já que estamos a falar de B&W, Tomohide Ikeia e Hiroshi Hamaya. Mas podia dar-te uma lista infindável. PS – Estamos quase a terminar Cristina, mas não posso deixar de perguntar, se és uma pessoa viciada em tecnologia, se abrimos a tua mochila o que é que encontramos? CS –Tenho que admitir que sou viciada em tecnologia, sim. Está-me nos genes, o meu pai foi uma das primeiras pessoas a trabalhar em computadores neste país. Não passo sem o meu Mac o meu IPhone e a minha compacta no dia a dia. Quando vou fotografar, aí a mochila complica-se! PS - Como ultima questão e agradecendo desde já a tua participação na Phocal Photovisions de outubro, que fotografia não gostarias de perder a oportunidade de fazer e onde? CS – Olhando para a fotografia do ponto de vista social, gostaria de fotografar o nosso ex-primeiro ministro em Caxias.
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photo tour’s - hot spot
SÓNIA GUERREIRO LISBOA – PORTUGAL https://www.facebook.com/soniaguerreiro.photo iinfo@soniaguerreiro.com | www.soniaguerreiro.com TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR © SÓNIA GUERREIRO
É no ponto mais alto de Portugal, na Serra da Estrela, essa montanha imensa, cativante e mística, onde a noção do espaço e do tempo é outra que não aquela que conhecemos que o Outono consegue ser mais surpreendente. Por entre vales, bosques, rios e cascatas, o Outono instalase devagar na montanha. Damos por ele porque as temperaturas ficam mais frescas à noite o que faz com os bosques de caducifólias se vistam a preceito experimentando tons de amarelo, laranja e vermelho, num muito esperado prelúdio Outonal. As águas dos rios correm mais rápidas ao sinal das primeiras chuvas. Instala-se aquele cheiro a terra molhada pela manhã e por onde quer que caminhemos já vimos as primeiras castanhas espalhadas pelo chão. Ao final da tarde sentimos aquele odor tão familiar das primeiras lareiras a serem acesas... O estalar das folhas secas debaixo dos nossos pés, as primeiras cascatas que revelam a sua exuberância e o vento que corre desenfreado entre as árvores dão a nota final a este cenário real.
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O Outono já não é uma promessa. Chegou. A imponência dos Cântaros, percorrer todo o Vale Glaciar do Zêzere com as suas cascatas que descendem a toda a velocidade da Ribeira da Candeeira, o Covão da Ametade, o Poço do Inferno com as suas cristas proeminentes e cascatas escondidas, as lagoas da Serra entre tantos outros locais representam um convite irresistível para fotografar. É muito fácil perdermo-nos nestes cenários... Não acredita? Então veja por si. Está na altura de tirar as botas de montanha do armário, o seu impermeável mais quente e uma boa quantidade de cartões já formatados prontos a registar momentos únicos que só aquele local proporciona. Deixe-se encantar pelas suaves cores e melodias desta estação tão especial. De 16 a 18 de Novembro de 2012 decorrerá um passeio fotográfico na Serra da Estrela. Está desde já convidado. Se quiser mais informações consulte o site: www.soniaguerreiro.com/phserraestrela.
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ETÃ SOBAL COSTA SINTA - PORTUGAL etasobal@gmail.com | https://www.facebook.com/EtaSobalCostaFotografia TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © ETÃ SOBAL COSTA
Etã Sobal Costa iniciou-se na fotografia amadora mais “a sério”, como costuma dizer, em Julho de 2011. Desde então, participou em algumas exposições, foi premiada em concurso, e viu as suas fotos publicadas em revistas. Praticamente nasceu a viajar. Já morou em 21 cidades distribuídas por quatro países (e três continentes), tendo ainda visitado, em férias ou a trabalho, outros 15. Esta viagem “na rota do Expresso do Oriente” foi um presente em todos os sentidos, sendo também uma oportunidade de fazer outra das coisas que mais gosta: escrever. Juntar viagem, fotografia e narrativa de viagem foi, segundo afirma, a “cereja no topo do bolo”. “Que mais se pode querer?”, pergunta.
Na rota do Expresso do Oriente (Diário de Viagem) – Parte I Viajar é sempre um prazer aliciante. Costumo dizer que se fosse paga para viajar (e fotografar essas viagens) seria uma criatura imensamente (mais) feliz! Uma viagem, por mais pequena que seja, transforma-nos, enriquece-nos, permite-nos “sonhar a realidade” e realizar os sonhos, ainda que por breves dias. Encerra um misto de expectativa e mistério. Permite o contacto com mundos próximos e distantes, com culturas diferentes, com gentes interessantes. Quando a proposta é fazer a rota do Expresso do Oriente, então, parece que tudo isso é elevado a uma potência incalculável! Lembro-me de ter lido, ainda adolescente, “Murder on the Orient Express” e de me ter imaginado naquele comboio, passeando pelas suas luxuosas carruagens, admirando as paisagens (ainda que estivesse a nevar)... Claro que o comboio não é o mesmo hoje (o original foi reativado e faz a rota uma vez por ano, a preços que não cabem no orçamento do comum mortal), mas a mística
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permanece, e o facto de poder percorrer cinco países sobre carris foi algo que deixou o meu coração aos saltos! Assim, depois de quatro horas de voos, intercalados por seis horas de espera em aeroportos, eis que surge a primeira paragem deste circuito: Viena. Imponente e majestosa, a maior cidade sobre o Danúbio é um importante centro de música erudita, e um exemplo de organização e limpeza, ocupando o primeiro lugar nas listas de cidades com melhor qualidade de vida no Mundo. Plena de histórias e tradições, nela nasceu o “velho” Freud, e também Schubert, Strauss, Klimt e Stefan Zweig. Romântica, mas ao mesmo tempo austera, Viena é uma cidade por onde apetece caminhar completamente sem rumo, visitar as suas imponentes igrejas, sentar nos suntuosos cafés, saborear um bolo de chocolate no Sacher, ao lado da Ópera... ah, e ir, obviamente, à Ópera. Na receção do hotel, encontrei-me com os primeiros elementos do grupo, futuros companheiros de viagem nessa aventura... os demais, juntar-se-iam a nós mais tarde, a medida que os seus respetivos voos fossem chegando.
Jantamos num bar/restaurante ao lado do hotel, e fomos dormir cedo. No dia a seguir, já revigorados pela noite bem dormida, começamos a caminhada. Viena é cheia de palácios e jardins, com catedrais de telhados coloridos, prédios de arcadas grandiosas e cúpulas em tons de verde e dourado. As carroças, puxadas por imponentes cavalos, cruzam as ruas centrais levando turistas. Pessoas em passos apressados e olhares perdidos passam ao lado de outras de câmeras fotográficas em punho, deslumbradas com a nobreza arquitetónica da cidade. A paragem na Ópera é obrigatória. Lá, fomos recebidos por Laura, uma portuguesa agradecida por voltar a falar “a sua” língua. Laura mostrou-nos os recantos dos grandes salões, contou-nos um pouco da história do lugar e apresentou-nos o palco em plena construção para o espetáculo daquela noite (cada dia tem apresentações diferentes). A velocidade com que o cenário é montado é impressionante! Ficou a vontade de voltar um dia para apreciar, dum camarote, um dos inúmeros cartazes que por lá desfilam diariamente. O bilhete pode ser adquirido via internet e, com os diversos voos low cost, faz-se um fim-de-semana diferente na capital austríaca. Mas o tempo não para, e continuamos a andar pelas ruas e praças, a fotografar os monumentos, a apreciar a fauna local. A dada altura, numa das necessárias pausas para o café, encontramos duas personagens exóticas no mesmo sítio: uma vendedora de bolos com óculos invulgares e uma simpatia contagiante, e o maître do bar/restaurante Zum Schwarzen Kammel, com a sua extravagante fatiota. Pedi-lhe para tirar uma foto, ao que ele acedeu rapidamente. Depois, todo orgulhoso, tirou duma gaveta do balcão a fotocópia duma revista vienense que se apressou em me oferecer, dizendo: “Leia, fui citado aí como um dos 100 sítios obrigatórios para visitar em Viena”. Fica, então, a recomendação! phocal photovisions | 89
À noite embarcámos no primeiro comboio, este de curta duração, em direção à Budapeste. A estação de comboio da capital Húngara é um excelente cartão-de-visita da cidade, com a sua elegante fachada em ferro e vidro. Ficámos hospedados em Peste, no Cotton Club (uma cópia do de Chicago), onde artistas famosos do jazz, do blues e do cinema “emprestam” seus nomes a cada quarto. À chegada, fomos convidados para um drink no bar do hotel, num ambiente a meia-luz, quente e sugestivo. O bar fica na cave, onde também está alojada a sala de jogos, com um ar ligeiramente clandestino. Lembrei-me, nesse momento, que devia retomar a leitura de “Budapeste”, do querido Chico, que agora começa a fazer mais sentido... Aqui, voltamos a encontrar o Danúbio, que separa Buda (de ruas medievais e muralhas grandiosas, com um belo miradouro sobre o rio e a cidade vizinha) de Peste (grande, cosmopolita, cheia de energia). De elétrico, ainda em Peste, fomos até a entrada da ponte, que atravessámos a pé, como a pé também subimos até ao cimo do castelo (dispensando o funicular). Do alto da colina, a vista é incrível! Lá também encontramos uma feirinha medieval, onde uma senhora de olhar doce tocava realejo. O dia passou rápido, entre passeios, almoço, cafés e livrarias de paragens obrigatórias. Ao cair da tarde, atravessámos a Praça dos Heróis, rodeada por dois importantes edifícios, o Museu de Belas Artes de Budapeste, à esquerda e o Palácio da Arte, à direita, e chegámos aos tão esperados banhos termais nos extraordinários banhos públicos de Szechenyi, com águas deliciosamente quentes, onde ficamos por horas. Revigorados e relaxados, estávamos, finalmente prontos para embarcar no primeiro comboio noturno, em direção a Belgrado, na Sérvia. No comboio, as cabines-cama fazem-nos pensar se não haverá outro crime no Expresso do Oriente. Mas a noite correu sem percalços e dormimos o sono dos justos. 90 | phocal photovisions
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Vencedora - MARIA LÁZARO EM ESFORÇO | COSTA DE CAPARICA | SETEMBRO
17º concurso phocal - reflexos 4
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2º lugar: António Sousa
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As Cores do Tejo| Moita |Setembro 2011
7
8 3º Lugar - ANITA NUNES NAS ASAS DO MEU SONHO | COSTA CAPARICA | AGO 2012
9
10
foto 04 - Mário Medeiros Santos | Na minha cidade há um rio...| Abrantes | Abril 2011 foto 05 - JOÃO VAZ RICO | PASSAGEM | PORTO | AGOSTO 2012 foto 06 - Luís Mata | “Guggenheim” |Bilbao | Setembro 2012 foto 07 - PEDRO SARMENTO | UPSIDE DOWN | CHAVES | AGO 2010 foto 08 - Pedro Carmona Santos | two bridges | Lisboa | JAN 2012 foto 09 - Carla Quelhas Lapa | Ao abandono Local- Lagoa de Albufeira - Sesimbra |SET 2012 foto 10 - PAULO MENDONÇA | OS PAVILHÕES DO PARQUE | CALDAS DA RAINHA | DEZ 2011 92 | phocal photovisions
18º concurso phocal - escadas
VENCEDOR: PEDRO SARMENTO POR AQUELA ESCADA ACIMA.... | FONTAINHAS | 2011
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2º lugar - MARIA FERNANDA Branco do Alentejo - Monsaraz - Abril 2010
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3º lugar - fatima condeço a porta do sol| santarém |2011
foto 04 - Luís Mata, | “VERTIGO” | Farol São Pedro de Moel | Fev. 2012 foto 05 - MARIA LÁZARO | REGALEIRA | SINTRA | JUL 2012 foto 06 - JOÃO VAZ RICO | ZEN STAIRS| BOMBARRAL | JUNHO 2012 foto 07 - José Sobral | Iniciático | Sintra | Junho 2008 foto 08 - César Torres | Interiores | Londres | Fevereiro 2012
phocal photovisions | 93
19º concurso phocal - afetos
Vencedora - FÁTIMA MENDES DESTE-ME FLORES e BEIJOS | LISBOA | ABR 2010
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2º lugar - Helena Lagartinho UCI | estou aqui | Set2012
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8 3º lugar - JOÃO VAZ RICO DESCULPA| TOMAR | JUL 2011
foto 04 - Jorge Fonseca | Paixão | Praia S.Rafael | Dez 2011 foto 05 - Paulo Mendonça | Pares | Lisboa | JUL 2012 foto 06 - Maria Fernanda | Ligações Eternas | Sintra | Out 2011 foto 07 - Luís Mata | “Cumplicidade” | Mafra | Jun 2012 foto 08 - Raquel Branquinho | Brindas sonhos ao relento | Paris foto 09 - PEDRO SARMENTO | O QUE É MEU É TEU | porto | 2010 foto 10 -Fatima Condeço| O bebé | Lisboa | Set 2012
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3º desafio domingueiro - “pontes” Luís Mata | “Ponte de Bujaruelo”
desafios domingueiros
4º desafio domingueiro - “pormenores” PEDRO SARMENTO | ALONE 5º desafio domingueiro - “Street Photo” PEDRO SARMENTO | WALK ON THE PHONE | PORTO | 2012
6º desafio domingueiro - “Granito” JOÃO VAZ RICO | TESTEMUNHA| MONSANTO | NOVEMBRO 2011
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DESIGN & COMUNICAÇÃO É nosso objectivo criar as mais eficientes estratégias de comunicação adaptadas à realidade e dimensão do nosso cliente. Uma identidade gráfica coerente deve manter a mesma eficiência em todas as suas aplicações, desde o cartão pessoal até à brochura institucional. Conscientes do valor de uma marca, procuramos responder às necessidades do nosso cliente de forma séria e eficaz. É fundamental que, preservando a sua identidade gráfica lhe acrescentemos valor, só assim podemos criar uma relação benéfica para ambas as partes. Estaremos sempre disponíveis para o aconselhar na sua estratégia de comunicação. Podemos assim: Criar e gerir identidades corporativas Logótipos Imagens institucionais Manuais de normas Compor e editar peças de comunicação gráfica. Brochuras Flyers Catálogos Relatórios de contas
PRODUÇÃO GRÁFICA Encaramos cada nova encomenda como um novo desafio. Com 10 anos de experiência, estamos convictos que aconselhamos, sempre, a melhor técnica de produção e garantimos o acompanhamento gráfico, salvaguardando desta forma o melhor resultado ao produto final. Catálogos Brochuras Flyers Cartões comerciais Relatórios de contas Posters Desdobráveis Economato Álbuns fotográficos Direct mailings Etc
MEIOS PUBLICITÁRIOS Num mundo em constante mudança, a rapidez de resposta é essencial para se afirmar perante o mercado. A nossa equipa está consciente disto, pelo que se encontra sempre à disposição para responder em tempo útil às solicitações mais exigentes dos nossos clientes.
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Decoração de Stands de feiras e exposições. Outdoors Roll-ups Stand-ups Decoração de espaços comerciais. Decoração de montras ou vitrinas. Revestimento decorativo de paredes interiores. Revestimento de pavimentos com fim publicitários (Floor Graphics) Decoração de viaturas comerciais Cobertura total ou parcial de viaturas comercias.
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