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Produção de alimentos e consumo de energia

Autores: Luan Aparecido Batista e Vinícius Fernandes Castro

Atualmente, a utilização de energia elétrica em sistemas de produção animal é um fator crucial em relação ao sucesso da atividade. Vivenciamos uma crescente demanda por alimentos, ocasionada pelo aumento do consumo das populações e, visando atender esta necessidade a produção animal apresenta uma participação fundamental na produção de alimentos mundial, produzindo alimentos nutritivos e com qualidade. Entretanto, o consumo de energia que torna possíveis todos os processos envolvidos na produção de alimentos de origem animal em agrossistemas modernizados, é um tema bastante discutido por todo o mundo.

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De acordo com FAO (2016), estima-se que a energia consumida na produção de alimentos em agrossistemas corresponde a cerca de 30% da demanda global por energia elétrica; e observando estes dados, é possível notar que este consumo tende a subir cada vez mais, pois esta crescente demanda por alimentos, impulsiona uma constante implementação de tecnologias que fazem uso da eletricidade, por toda a cadeia produtiva, desde o seu início no campo, até a disponibilização do produto final ao consumidor. A preocupação acerca do uso da eletricidade em agrossistemas, decorre das matrizes energéticas empregadas na atividade. Atualmente inúmeros cultivos ainda consomem de fontes de energia não renovável, como derivados de petróleo por exemplo.

Diante do exposto, o que deveríamos fazer? Deixar de utilizar energia elétrica na agropecuária? A resposta para a segunda pergunta é que, de forma alguma, poderíamos abandonar o uso de eletricidade. Para a FAO (2013), o crescimento da produtividade foi primordial, por criar condições que elevaram a oferta por alimentos acima da demanda global, em uma cenário

pós-revolução tecnológica no campo e, vale ressaltar que esse aumento de produtividade está ligado à utilização de tecnologias, que na maioria das vezes dependem de fontes de energia elétrica.

Fica claro que nos dias de hoje, a eletricidade tem um papel fundamental na produção de alimentos, tanto de origem animal quanto vegetal e, a partir deste fato podemos voltar nossa reflexão à primeira pergunta, e afirmar que a atitude mais coerente é buscar e empregar cada vez mais, o uso de fontes de energia limpa, assegurando o sucesso das atividades agropecuárias e simultaneamente adotando uma postura sustentável e de compromisso com a humanidade.

A preocupação com a forma com que a energia é utilizada do ponto de vista da eficiência energética deve estar presente no planejamento dos sistemas agropecuários. Partindo do princípio que a otimização do uso de energia em qualquer meio pode ser dado pelo uso de sistemas, técnicas e equipamentos mais eficientes energeticamente, fomentar o uso dos mesmos na agropecuária se faz necessário para fortalecer os ganhos que as energias limpas têm a oferecer. Altoé et al. (2017), após uma discussão acerca das políticas públicas brasileiras de eficiência energética, propõem que para atingir o potencial de aumento da eficiência energética de 4,4% a 7,8% para 2030 em relação a 2010, será necessário articular a promoção do uso racional de insumos energéticos pelos diferentes setores econômicos e pela população em geral por meio de ações como a modernização da indústria, implementação de políticas de combate ao desperdício de energia e o aumento do rigor das normas de eficiência energética.

A fim de validar a busca pela eficiência energética no meio agropecuário como alternativa vantajosa pelos quesitos ambiental e econômico, cabem ser citados caminhos promissores como forma de estimular esse movimento. Sistemas mistos como a integração lavoura pecuária (ILP), além de proporcionar diversidade de renda ao produtor e amenizar efeitos de

sazonalidade dos preços dos produtos no mercado, proporcionam produtos agrícolas que carregam tanto em balanço energético quanto em produção absoluta de energia renovável (oriunda de biocombustíveis derivados de lavouras como milho e soja) valores condizentes com aqueles produzidos em sistemas especializados (apenas lavouras) (SÁ et al., 2013), fortalecendo ainda mais os benefícios de se implementar a ILP.

Um exemplo a destacar pode ser o caso da produção de suínos, na qual o uso de biodigestores é reconhecido pelo efeito de tratar dos dejetos e destiná-los à produção de fertilizantes e de biogás. Os dejetos constituem 30% da energia de saída total dos sistemas produtivos e sua reutilização no próprio sistema reduz o impacto ambiental e minimiza as despesas energéticas da propriedade (ANGONESE et al., 2006).

Retomando a provocação previamente proposta “O que deveríamos fazer ?” , enfatizar a preocupação a respeito das fontes energéticas, bem como a da eficiência energética dos sistemas agropecuários, entre os profissionais envolvidos no planejamento da atividade agropecuária pode ser um caminho para moldar um sistema produtivo cada vez mais preocupado com a sustentabilidade e que compartilha dos interesses propostos nos ODS 7 e 13 ,que dizem respeito a energia e ao meio ambiente.

Referencias

ALTOÉ, L. A. et al. Políticas públicas de incentivo à eficiência energética. Estudos Avançados, São Paulo, v. 39, n. 89, p. 295,2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0103-40142017.31890022. Acesso em : 22 jun. 2021.

ANGONESE, A. R. et al. Eficiência energética de sistemas de produção de suínos com tratamentos dos resíduos em biodigestor, Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 10, n. 3, p. 745-750, 2006. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1415-43662006000300030. Acesso em: 22 jun. 2021.

DE SOUZA, A. C. et al. O PAPEL DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL NA MINIMIZAÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA NA INDÚSTRIA DE ABATE DE ANIMAIS. Revista Eletrônica de Gestão e Tecnologias Ambientais (GESTA), v. 5, n. 1, p. 13-25, 2017.

FAO, Fao statistical yearbook 2013 world food and agriculture. Food and Agriculture Organization of the United Nations, Romep. 307, 2013.

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. ENERGY, AGRICULTURE AND CLIMATE CHANGE: Towards energy-smart agriculture. 2016. Disponível em: http://www.fao.org/3/i6382e/i6382e.pdf. Acesso em: 27 mai. 2021.

KOZIOSKI, G. V.; CIOCCA, M. L. S. ENERGIA E SUSTENTABILIDADE EM AGROECOSSISTEMAS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. Ciência Rural, Ciência Rural, Santa Maria, v. 30, n. 4, p. 737-745, 2000. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cr/a/6bPnkgxGmt9pV5z8swcjB3r/? lang=pt&format=pdf. Acesso em: 29 mai. 2021.

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA MME. Empresa de Pesquisa energética. Balanço Energético Nacional 2019: Relatório Síntese / Ano Base 2018. Rio de Janeiro: MME, Maio 2019. 67 p. Disponível em: https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-377/topico470/Relat%C3%B3rio%20S%C3%ADntese%20BEN%202019%20Ano%20 Base%202018.pdf. Acesso em: 29 mai. 2021.

SÁ, J. M. et al. Balanço energético da produção de grãos, carne e biocombustíveis em sistemas especializados e mistos, Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.48, n.10, p. 1323-1331, 2013. DOI: 10.1590/S0100-204X2013001000003. Acesso em: 22 jun. 2021

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