A onda rosa choque

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segmentos, sua administração se marcaria por um claro compromisso com a “criatividade”, com a “figura humana e real da pessoa que cria”, demarcando a fronteira entre os criadores, de um lado, e os que só podem almejar o consumo ou a fruição do bem cultural, de outro: “A partir deste momento em que assumo o Ministério da Cultura, cada artista, cada criadora ou criador brasileiro pode ter a certeza de uma coisa: o meu coração está batendo por eles. E o meu coração vai saber se traduzir em programas, projetos e ações” (HOLLANDA: 2011, on-line). Ao término de seu discurso, como forma de acentuar ainda mais o recado, a primeira Ministra da Cultura da história do Brasil formulou a sentença definitiva: “não existe arte sem artista”. Era a deixa definitiva que indicava o desmonte de uma política baseada no equilíbrio entre as dimensões cidadã, simbólica e econômica, que marcara a gestão anterior. Ainda que tenha dito explicitamente que não reverteria processos iniciados durante o governo Lula, a forma como assumiu seu compromisso com uma parcela da classe artística despertou desconfiança – por parte dos grupos que foram incorporados politicamente durante a gestão de Gil e Juca – de que o país poderia vivenciar um retorno ao clientelismo individual, que é, como descreve Marilena Chauí (1995, p. 81), o “modo tradicional” de relação dos produtores e agentes culturais das elites com o Estado, conformando um “grande balcão de subsídios e patrocínios financeiros”. Em sua primeira intervenção pública, Ana de Hollanda fazia amplificar uma leitura parcial e falsa sobre o desprestígio dos artistas na gestão Gil-Juca, os quais teriam sido preteridos em relação aos demais agentes da cultura brasileira10, demarcando assim qual seria o norte de seu trabalho.

10 Um artigo público que expressa essa visão reproduzida pela ministra em seu discurso de posse foi escrito pelo compositor Fernando Brant, em O Globo, em 07/09/2012, intitulado “No baile do ministro Banda Larga, autor não entra”. Disponível em: <http://www.joaodorio. com/site/index.php?option=com_content&task=view&id=81&Itemid=47>. Acesso em: 28 maio 2012.


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