Produção Cultural no Brasil volume 3

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ou menos quatro horas, e a única regra é não repetir música. Dá para virar a noite fácil, só cantando primeira estrofe e refrão. Estamos até negociando um programa na Rádio Nacional agora, só falta resolver umas coisas burocráticas. Como você encara a questão da sexualidade nas letras de funk? A sensualidade é um traço muito forte do funk carioca, mas muitas vezes alguns artistas rompem a barreira da ética. Os caras começam a falar muito palavrão, aí fica proibitivo. Não pode ouvir muito alto, que a vizinha reclama, sua namorada se ofende, mas é importante ressaltar que o funk não é só isso. Há uma quantidade imensa de MCs do Rio de Janeiro que falam de tudo: da dengue, da chuva, do barraco que está quase caindo, da menina bonitinha que ele está a fim de namorar. As músicas românticas dos MCs cariocas são muito bonitas! Enfim, as pessoas têm que entender que cabe tudo no funk. Você consegue colocar o Hino Nacional, Bolero de Ravel, a Sexta Sinfonia, tudo. Essa é a riqueza do ritmo. E ele se doa muito bem a outros gêneros – como o rock. Gravamos com o Tihuana no ano passado, por exemplo, e foi muito louco cantar o “Rap das armas” em cima de bateria e guitarra e tudo mais. Gravamos com Fernanda Abreu, gravamos uma participação no show do Lulu Santos. Qual a projeção do funk fora do Rio de Janeiro? Tem um mercado em Porto Alegre, uma molecadinha lá fazendo show. Acho isso do caramba. Brasília tem uns MCs, mas não pagam os meninos direito. Se a gente quisesse arrumar um segundo Rio de Janeiro, teria de ser Santos. Em terceiro lugar, vem o Espírito Santo, onde se enxerga um movimento bem nitidamente. Tem um pessoal em Minas – Juiz de Fora, Belo Horizonte, há muito MCs lá. E tem diferença de som entre eles? Não, não tem muita diferença, não. Eles ficam sempre muito ligados no que se passa no Rio de Janeiro. Um rapaz que tem feito muito sucesso agora no Rio, chamado Romeu, teve uma trajetória interessante: começou aqui, não conseguiu arrumar nada, e rumou para Juiz de Fora, onde fez um público considerável. Conseguiu produzir sua música lá e hoje é primeiro lugar em rádio carioca. Ele conta a história de um rapaz que larga o crime por amor. Uma história com início, meio e fim, como não se vê há um tempo no funk carioca. 260


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