Produção Cultural no Brasil volume 1

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Claro. Aliás, só existe salvação pela cultura. Essa para mim é a questão. Sem nenhuma conotação religiosa ou política, mas somente a cultura salva, de fato. Por que é que eu digo isso? Porque eu estou falando de informação, de conhecimento, de valorização do ser humano, da inteligência humana, como a capacidade fundamental do ser humano. O que nos diferencia dos demais seres vivos? É a nossa capacidade de refletir, de aprofundar, de ter cultura, no sentido mais amplo possível do termo. Ter cultura não só no sentido de informação, mas com informação elaborar, criar, desenvolver, refletir, avançar, entender melhor, conhecer melhor o que está à sua volta, refletir sobre o que está acontecendo. O que falta no mundo de hoje, no mundo político, econômico, social, religioso, e muitas vezes até em outros campos também, é cultura. Todos deveriam ter uma visão mais completa: os nossos dirigentes, políticos, líderes e todo mundo que tem poder deveria ter uma cultura, no sentido mais amplo. Porque cultura não é informação, é articulação da informação de um modo inteligente. Como evitar o uso puramente instrumental da cultura, como forma de inclusão social? Realmente, busca-se muito essa coisa do instrumental da cultura, até mesmo para desenvolver o social. Tem muita instrumentalização inadequada. A cultura é indispensável, independente da condição social. É indispensável para pobre, para rico, para todo mundo. Aliás, tem gente que acha que cultura é bom só para pobre, e vão fazer projeto social. A cultura é importante para rico também, porque tem que abrir a cabeça desse povo para que eles entendam melhor a realidade à sua volta. Todo reducionismo é muito perigoso. Alguém que diz, por exemplo: “Olha, nós temos um projeto cultural significativo, importante, porque na favela nós estamos lidando com teatro, não sei o quê.” Bárbaro! Bárbaro! Mas isso não é resolver o problema do Brasil. Isso aí é trazer a possibilidade de ampliar uma informação, que é importante, mas não é tudo. A discussão tem que ser colocada na mesa de maneira intensa, a política cultural tem que ser assumida como uma política, realmente, de Estado. Ela não tem que ser do Ministério da Cultura; ela tem que ser de todos os ministros e, sobretudo, assumida pela presidência da República.

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