Produção Cultural no Brasil volume 2

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mentação que organizaria o cuidado com os animais, criaria o RG do animal, um registro para animais em trânsito no país. Não existe legislação para isso. A tentativa era criar uma lei para o animal em trânsito e desmembramentos dessa lei para cada categoria de animais, para cada espécie ter um critério de como seria a sua jaula, de qual seria o tamanho mínimo, de qual seria o tipo de cuidados. E se alguém infringe esse tipo de lei é devidamente punido, mas não retirariam mais o animal assim, subitamente. A grande dificuldade para discutir isso, a lei, foi a pressão de ONGs com as quais eu conversei em separado e falei: “Gente, deixa uma lei que regulamente o trabalho com os animais e no passo seguinte partam para a proibição.” Eu já fiz a provocação num espetáculo de teatro, eu coloquei um jumento como um grande astro, até para mostrar que não tem problema nenhum. Mas eu acho que há uma dificuldade nessa questão do pensamento. Como produzir para uma atividade que é por natureza itinerante? E como fazer política pública para uma atividade que é itinerante? Primeiro, precisaria ter um grande mapeamento da atividade. Um circo está restrito a certa região. O Brasil, até a última estimativa que tive, na Funarte, tinha em torno de trinta circos de médio e grande porte, de setecentos até dois mil lugares de acomodação. É uma quantidade muito grande de circos, em torno de vinte famílias que administram e gerenciam cerca de trinta circos. Os circos de até oitocentos lugares são em torno de sessenta. E um montante enorme, mais de duzentos – a gente estima muito mais que isso, mas o que a gente conseguiu contar é em torno de duzentos – de circos muito pequenos, que suportam até trezentas pessoas na plateia. O que significa isso? Que a maior parte dos circos brasileiros são muito pobres, em geral de estrutura familiar, um núcleo familiar único, de oito, dez pessoas. O circo de grande porte consegue circular nos grandes centros, ainda que sem os animais, e vive de bilheteria, não têm foco na obtenção do patrocínio. Já nos circos menores, a relação é outra. Um artista de circo, hoje, não é só o artista, ele é também o comerciante do circo, porque ele é contratado por um cachê para fazer o seu número e parte dos seus recursos vem da venda de produtos na entrada do circo. Da pipoca, que é um produto nobre, até bonequinhos. Isso é dividido entre todos os artistas do circo tradicional, para que ele possa ter uma fonte de recurso maior. Em geral, o ganho do artista é praticamente o subemprego, porque também o dono do circo classifica 207


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