Produção Cultural no Brasil volume 2

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me sinto um pouco desnecessário. Eu posso ir nele todo dia, conversar com o diretor um momento, mas acho que se estou no escritório vou produzir muito mais do que no set. E também, como produtor, acredito que quanto menos gente naquele lugar, melhor, para que ele funcione bem. Então tenho que dar um pouco desse exemplo. Em alguns desses filmes, além de produtor, acumulei a produção executiva também, ou sozinho ou dividindo com alguém. Eu estava muito presente, acabava tendo um conhecimento muito grande do que se queria fazer, da articulação, do acompanhamento do dia a dia, das contas, da relação com as pessoas. Eu não sei se no futuro essa possibilidade ainda vai ser possível, mas me sinto também mais seguro hoje porque eu entendo todo o processo de produção de um filme. Você quer dizer que entende as necessidades desse processo, e aprendendo sobre elas você antecipa problemas? Sim. Se você é um produtor que não tem a obrigação de estar no set acompanhando, pode não entender porque a alimentação custa tão caro para uma equipe que trabalha 12 horas. Mas se passou pela executiva antes, ou se foi diretor de produção, você avalia isso tudo com muito mais tranquilidade, sabe os reais motivos. O produtor que tem que fazer as articulações e reunir ali aquelas fontes de financiamento, garantir prazos. Mas eu estou falando de um modelo próximo a mim, que são os filmes de baixo orçamento, de uma empresa produtora que está no Recife, que tem dez anos e só fez cinco longas, o que não é um número tão significativo assim quando você vê outras produtoras, mas que é bastante para entender de planejamento. Fala um pouco sobre as novas tecnologias e a internet. O que isso representa para o cinema? Eu acho que, quando se fala em tecnologia e internet, a primeira coisa que a gente pensa é no acesso democrático que isso trouxe para tantas gerações. Eu lembro que há uns quatro anos eu vi um palestrante da Petrobras falando sobre editais, que na área de tecnologia e novas mídias, coisas desse tipo, eles tinham ficado surpresos porque metade dos projetos era do Recife. O que não deixa de ser engraçado quando você se reporta ao Recife dos anos 1990, quando as pessoas sentiam que moravam na pior cidade do mundo. Então, sem dúvida, essa questão do acesso é maravilhosa e ajudou muito o crescimento da produção na cidade. O que me preocupa um pouco, e isso 176


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