Produção Cultural no Brasil volume 2

Page 155

O que deve ser o conteúdo, como deve ser pensado esse conteúdo? É uma questão difícil, porque aí a gente está topando de frente com todos os equívocos nacionais sobre a questão indígena. Não é fácil. É evidente que é uma decisão politicamente ousada e bem-vinda, e que estamos aqui para ajudar a implementar isso. Tem que haver um grande investimento na formação dos professores e na produção de material. O Vídeo nas Aldeias acabou de distribuir três mil kits para escolas públicas do ensino médio, e escrevemos um livro chamado Guia para professores e alunos, exatamente tentando combater os grandes equívocos do senso comum sobre a realidade indígena, ou seja, que índio é tudo igual, que vão desaparecer, que as culturas são atrasadas. Estamos tentando trabalhar também numa releitura da história do Brasil. Quer dizer, conforme a perspectiva, o lado em que você está, a versão da história é uma. Porque a história tem muitas versões e muitas leituras. Pretendemos trazer a versão dos índios, dos períodos históricos em que eles viveram. Os do Acre viveram o ciclo da borracha, que é um período histórico. Dá para fazer uma releitura da história do Brasil. Esse é um trabalho experimental nosso. Insistimos nas escolas e queremos retorno. Tem filmes que já foram vetados, por exemplo, são muito provocativos. Tem um filme sobre os cantos do cipó, sobre a religiosidade acreana em torno do Ayahuasca, que parece que foi unânime, disseram: “Esse filme não passa na minha sala de aula.” E aí estávamos comentando, por que, poxa, esse não é um assunto para ser tratado nas escolas? Falar de drogas com adolescentes. Mas a resposta é: “De jeito nenhum!” As escolas não estão preparadas, então tem alguns filmes que vão chocar. Estamos pedindo um retorno, que digam qual o filme que agradou, quais os temas de debate, tentando coletar esse feedback para ter um entendimento. Inclusive para orientar futuras produções para esse público escolar. Para fazer um estudo de como esses filmes estão sendo vistos, interpretados e sentidos. E a distribuição comercial deles, é possível? Ou eles ficam presos à marginalidade do audiovisual? A demanda por ele em festivais está crescendo? Sem dúvida. Eu comecei em 1986. O primeiro filme foi para a TV Cultura. Pensamos: “Vamos remontar o filme?” Não era o formato, não era a linguagem, não era o tamanho, não cabia na grade. Hoje, a TV Cultura já passou mais de quarenta filmes nossos, domingo, às 18h30min, no horário nobre. Quer dizer, nesses trinta anos houve uma abertura, que é um movimento 153


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.