A BOBA - Café

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o sentar à mesa, lá pelas cinco ou seis da tarde, não nos damos conta da trajetória imensa que o café servido ali, naquele momento tão familiar aos brasileiros, teve de passar para chegar ao país. Muito menos nos lembramos de que se não fosse pelo cultivo desse grão, o Brasil que nós conhecemos hoje, seria completamente diferente. O café é uma fruta do cafeeiro, uma planta originária das montanhas da Etiópia, próxima à região do chamado chifre africano. As propriedades estimulantes do café são conhecidas pelos africanos desde a antiguidade. Eles o utilizavam como parte da ração de animais e, também, na alimentação de guerreiros. Os etíopes, na época, não conheciam a agricultura, por isso utilizavam o café que colhiam nas montanhas. Os árabes, exímios navegadores e comerciantes, foram os primeiros não africanos a terem contato com o café e seus benefícios. As primeiras plantações de que se tem notícia se localizavam ao sul da península arábica, no atual Iêmen. Os primeiros a torrar o grão do café foram os persas, até então se fazia uma emulsão do fruto. A influência é tão importante que a palavra café, para alguns especialistas, tem origem na árabe qah’wa, que significa vinho, e a principal espécie de café se chama arábica. Pelo fato de a religião muçulmana proibir o consumo de bebidas alcoólicas, o café virou um substituto para seus seguidores. Tomar café tornou-se um evento social. Com isso surgiram lugares para conversar e consumir: as cafeterias. A B BA

O grão chegou à Europa em 1595 quando a primeira cafeteria foi aberta na cidade de Constantinopla, recém-conquistada pelo Império turco otomano. Logo depois, o café chegou à Itália, através do contato entre os comerciantes árabes e venezianos, que, nesta época, monopolizavam o comércio no Mediterrâneo. A Igreja Católica, no início, fez campanha contra o café, por ser uma bebida consumida por maometanos (muçulmanos). Isto só mudou quando o papa Clemente VIII, por volta de 1600, após experimentar a bebida, declarou: “Esta bebida é tão deliciosa que seria um pecado deixá-la somente para os infiéis. Vençamos Satanás, dando-lhe nossa bênção e tornando-a verdadeiramente cristã”. Após o aval do papa, a bebida se tornou uma febre na Itália e, logo após, em toda a Europa, que deixava o feudalismo da Idade Média e entrava no mercantilismo da Idade Moderna. Nesses novos tempos os produtos vindos do oriente faziam a cabeça dos europeus, especialmente da nobreza e da recém-nascida burguesia com seu ascendente poder financeiro. A população começou a deixar os campos e se dirigir às cidades. Os cafés se tornaram ponto de encontro, contudo, até o século XIX, eram uma bebida cara, e se restringiu às elites. A Holanda foi o primeiro país a tirar o monopólio árabe-italiano do comércio, após conseguir algumas mudas na ilha de Bornéu, no sul da Ásia (região que travava intensos contatos comerciais com os árabes). A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais começou a plantar, com sucesso, o café nas Antilhas. Os franceses – então os maiores consumidores do mundo – após terem acesso a mudas, também começaram a plantar

em suas colônias na América, principalmente na Ilha de Santo Domingo, onde se encontram os atuais Haiti e República Dominicana. O Haiti era a mais próspera colônia da França, com enormes plantações de cana de açúcar – um dos maiores concorrentes do Brasil – mas, principalmente, o café fazia a riqueza dos fazendeiros da ilha e da coroa francesa. A falta de concorrência mantinha o preço altíssimo do café, sendo que a escravidão barateava a produção. Os portugueses se interessaram pela produção de café, mas os holandeses e franceses, adotaram, nas regiões cafeeiras, a mesma postura que os próprios lusitanos sustentavam nas suas regiões auríferas: a proibição da entrada de estrangeiros para, assim, manter os seus lucros e o monopólio intacto. Em 1727, sob o pretexto de resolver uma questão fronteiriça, o Sargento-Mor Francisco de Melo Palheta, a mando do, então governador do Maranhão e Grão Pará, Manuel de Machado Lobo, foi enviado para a Guiana Francesa para conseguir uma muda de café. Na época, a colônia francesa era muito pobre, com uma população e economia diminuta. Para transformar essa situação, os franceses estavam fazendo experiências com inúmeras culturas agrícolas, dentre elas, o café. O sargento Palheta viu que era impossível chegar à região produtora, muito bem vigiada, mas conseguiu uma muda na sua última noite em território francês. O oficial português conseguiu obter a simpatia da esposa do governador da Guiana Francesa, que lhe deu como presente de despedida uma muda do café. As primeiras experiências com o café nas regiões norte e nordeste do Brasil – assim como as tentativas da Guiana Francesa –


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