Pedro Calapez - obras escolhidas 1992-2004

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anything but static, since they are defined

Um exemplo particularmente marcante desta vontade de expansão – aliada a um alto grau de capacidade de reacção

above all by one thing, their dialogical

composicional – é, finalmente, o de um trabalho mural, intitulado campo de sombras, criado por Pedro Calapez em

quality. Correspondingly, they do not aim

1997 para uma exposição na Fundació Pilar i Joan Miró em Maiorca. Tal como as sombras, enquanto reflexos escuros,

for a clear and unalterable identity, but see

devem a sua existência aos objectos da realidade corpórea, assim também as obras de Calapez apresentadas na Fun-

themselves as instruments of dialogue or

dação devem o seu nascimento à inspiração do mundo poético e surreal de Joan Miró. Miró tinha pendurado nas pare-

confrontation. In this way, they liberate art

des do seu atelier maiorquino postais e recortes de jornais e achados de toda a espécie, que lhe serviram de ponto de

from the image’s Babylonian captivity,

partida para a sua imaginação até à morte, em 1983. Quase quinze anos mais tarde, eles parecem não ter perdido essa

which as an absolutist postulation cares nothing for the picture’s contexts and associations. This could never be said of Calapez’s oeuvre. His paintings, drawings and prints are partners in conversation with space, with his narratives and, not least of all, with the viewers, who find in the proliferating imagery of Pedro Calapez’s

força inspiradora, pois também Pedro Calapez se deixou estimular por esses objectos (e naturalmente também pelo espírito do lugar) para os seus trabalhos. Isto é documentado pelo quadro intitulado muro 2, que cita achados do atelier de Miró. Assim, vê-se no canto inferior direito um desenho de pernas estranhamente «tatuadas», gravadas na superfície pastosa da tinta, que recuperam um motivo da parede do atelier de Miró. Também as fases da Lua sobre o Capitólio têm aí a sua origem, num recorte de jornal (?). Mas Calapez não se limita a esta actividade de copista, uma vez que outras partes do quadro dificilmente poderão ser relacionadas com um modelo. Não ficamos esclarecidos, por exemplo, sobre se os elementos pintados às riscas em muro 2 recorrem aos painéis de madeira das

pictures enough substance and enough

paredes do atelier ou citam as cores da Catalunha. Não é possível, nem tem de o ser, o esclarecimento de todos

gaps to use as jumping-off places for their

estes aspectos particulares. Mais importante é a impressão de nos confrontarmos com um mundo proliferante de

own fantasy.

imagens cujos elementos podem ser ampliados ou redefinidos a cada momento. Por esta razão, Calapez reserva-se o direito de submeter a novos arranjos o patchwork dos seus quadros. Eles são tudo menos uma grandeza estática, e definem-se acima de tudo por uma marca própria, a sua qualidade dialógica. De acordo com isto, não pretendem ter uma identidade clara e imutável, mas entendem-se antes como instrumentos de diálogo ou de confrontação. Com isso, libertam a arte da prisão babilónica da imagem que, tomando-se por postulado absoluto, não dá a mínima importância aos seus contextos e efeitos sobre o público. Nada disto se aplica à obra de Calapez. Os seus quadros, desenhos e gravuras são interlocutores do espaço, das suas histórias, e, é claro, das pessoas, que encontram nos mundos proliferantes de Pedro Calapez material e lacunas suficientes para os utilizarem como trampolim da sua própria imaginação.

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