Santo Antônio de Caraguatatuba - Revista Histórica

Page 1

Um Esbo莽o da Hist贸ria | Agosto de 2013

1


editorial

expediente Jornalistas responsáveis (textos) Bruna Vieira Guimarães – MTB 32.441 Paulo Rogério de Arruda – MTB 36.577 Fotos Marcelo Souza; Arquivo Público Municipal; Arquivos Pessoais dos entrevistados, de Bruna Vieira, da Igreja Matriz e da Diocese de Caraguatatuba Arte Gráfica Paulo Henrique Ferraz Colaboraram na Pesquisa Marcelo Souza, Jessyca Biazini, Juliane Ropero, Pamela Borges e Evelyn Graziele Entrevistados Adriana Vieira de Moura Lopes Ferreira Brás Custódio Ercília Maria Carlota Briti João Oliveira (Jotta) José Matias dos Reis Junior (Zezinho) Maria Clébia Ivo Maziero Maria Josefina Leirião Belato Maria Tereza Miranda da Silva Nanete Sukow de Oliveira Osiris Nepomuceno Sant’Ana Filho Rosalva Oliva de Almeida Garcia Revisão dos Textos Pe. Marcos Vinícius Rosa, Inês Leite dos Santos e Maria Josefina Leirião Bellato Paróquia Matriz de Santo Antônio Pároco - Padre Marco Vinícius Rosa e-mail: pe.mvrosa@gmail.com Vigário - Padre Luiz Ernesto Santos e-mail: luizernestocaragua@yahoo.com.br Praça Cândido Mota, 35, Centro, Caraguatatuba,SP. Tel.: (12) 3881-1422, 3882-1611 www.paroquiamatrizsantoantonio.com.br Horário de funcionamento da Secretaria Segunda a Sexta - das 8h às 18h Sábado - das 8h às 12h Horário de Missas Segunda às 19h30 De terça a Sábado às 7h15 e 19h30 Domingo às 8h, 18h e 20h

A revista “Santo Antonio de Caraguatatuba Um esboço da história” é uma produção da

Tel.: (12) 3882-5264 www.gentecom.com.br E-mail: jornalismo@gentecom.com.br

2

Festejar a história de Santo Antônio em Caraguatatuba

O

estilo de vida e o modo de ser do Santo de Pádua refletem muito do espírito presente em nossa comunidade nos dias de hoje. Atuante, era assim que o nosso padroeiro imprimiu sua marca em favor dos pobres. Suas pregações revelam o Cristo humano, aquele que denuncia o sofrimento e a miséria do próximo, na cobrança pela justiça. Com esse espírito atuante foi que a comunidade Matriz de Santo Antônio se edificou em Caraguatatuba, sempre pronta a atender o irmão necessitado, seja nas celebrações da Santa Missa ou nas nossas pastorais, no qual a igreja leva auxílio espiritual aos doentes da alma e do corpo, como também doa bens materiais àqueles que vivem em condições precárias. Se hoje sabemos desses acontecimentos é porque nossos antecessores registraram a história da Paróquia Santo Antônio nos livros tombos. Nesses livros temos a certeza de que a nossa comunidade foi formada por homens e mulheres de fé, que na sua humildade doavam parte do seu tempo para ajudar na construção de um mundo mais igualitário. Pretendemos com a revista “Santo Antônio de Caraguatatuba: Um esboço da história”, aliar passado e presente, e mostrar a importância de registrar desempenhado pelos atores da ação cotidiana na igreja e na comunidade local. Sabemos que o grande volume de acontecimentos vivenciados por toda nossa comunidade é não foi nossa pretensão esgotá-lo nesta edição da revista. São relatos de vida do nosso povo e, principalmente, conta como a Igreja Católica sempre esteve preocupada em trazer mais dignidade para os menos favorecidos. Nas reportagens veremos que os milagres por intercessão de Santo Antônio, se concretizam diariamente em nossas vidas, basta estar atento. Se você tem fotos e histórias para contar sobre a Paróquia Matriz de Santo Antônio, entre em contato (msantoantonio@superig.com.br ou 12 - 3882.1611) e ajude a registrar acontecimentos importantes da nossa vida em comunidade.


índice

17

Os passos de Antônio

8

36

Treze Horas de Silêncio e Devoção 4 5 11 14 19 23 26 29

Igreja Missionária Hoje A origem da fé Igreja atuante Evangelização: “Novos Horizontes” As reformas da Igreja Matriz O Padroeiro A Igreja e a Comunidade O Apostolado da Oração

A igreja chega a Caraguatatuba

39 Um Caso de Amor e Fé A Matriz no centenário Nasce um Hospital A Festa de Santo Antônio Turismo Cultural e Religioso Na Trilha da Fé Caminhando pela História A Criação da Diocese Cronologia dos padres da Matriz

30 31 33 39 42 44 48 51

Um Esboço da História | Agosto de 2013

3


INÍCIO DE CONVERSA Antes de revelar, por meio desta revista, os primórdios da igreja católica no mundo, no Brasil e em Caraguá, queremos que você leitor saiba que a “Igreja” que falamos é missionária, viva, ativa e transformadora. E para introduzir as reportagens desta publicação, rememoramos alguns trechos do livro “Paróquia Missionária à Luz do Documento de Aparecida”, do padre José Carlos Pereira (2012).

IGREJA MISSIONÁRIA A comunidade é o corpo místico de Cristo. Quando afirmamos isso, remetemos ao trabalho que juntamente com o clero é realizado pelos leigos. O livro do padre José Carlos Pereira diz exatamente isto: “Jesus não criou paróquias, instituições, estruturas e nem fez aliança com o poder político. Apenas constituiu uma comunidade que partilhava a fé e o pão”. A palavra “paróquia” pouco aparece no documento principal da Igreja Católica, a Constituição Dogmática Lumen Gentium A doutrina conciliar não está interessada em instituições. Ao contrário, para indicar a Igreja visível, foi usada a palavra “comunidade”. A comunidade é feita de pessoas e de relações. As pessoas tem coração, as estruturas não têm. A missão é, principalmente, uma questão de coração. Por isso, é impensável que uma paróquia se torne missionária. Somente uma comunidade cristã pode se tornar missionária”. Se pensarmos na Igreja como uma estrutura, isso pode significar o fim da missão: uma coisa estática, burocrática, sem alma nenhuma, que cumpre apenas com suas obrigações. Se imaginarmos a Igreja como mistério, corpo místico, sacramento universal de salvação, povo de Deus a caminho, comunidade viva, serviçal e aberta a todos, então é possível de falar de “paróquia missionária”. O Documento de Aparecida mostra que somos uma célula viva e que “a missão nasce do amor e não da autoridade: a missão é caridade, relações fraternas e verdadeiras, simétricas e dialógicas, estendidas a todos, sem excluir ninguém”. Nesse sentido, a perspectiva da “paróquia missionária” representa um caminho de renovação para a comunidade eclesial, no sentido de sermos missionários e realizarmos o que o próprio Cristo nos ensinou. Essa comunidade atuante é o que encontramos na Paróquia Matriz de Santo Antônio de Caraguatatuba. Boa leitura.

4


a Origem da fé

"O VERBO": A BASE DO CRISTIANISMO

Pedro e Paulo propagadores da verdade ao mundo

N

propósito de seus ensinamentos ao se debruçar sobre a pobreza espiritual e material do homem. Porém, como está descrito na Bíblia e no Catecismo da Igreja Católica, todos os momentos decisivos de sua missão estiveram pautados na oração atuante, que age, realiza. A PROPAGAÇÃO DOS ENSINAMENTOS DE CRISTO POR MEIO DAS PREGAÇÕES E AÇÕES DOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO LEVOU A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO POR TODA ÁSIA E EUROPA E CUMPRIU A ORDEM DE JESUS CRISTO: “IDE A TODO MUNDO E PREGAI O EVANGELHO A TODA CRIATURA” (MC 16, 15).

PEDRO E PAULO Após a morte de Jesus Cristo, no ano 33, iniciou-se em Jerusalém a perseguição contra os cristãos. No comando da caçada estava Saulo, natural de Tarso, região da Cilícia da Ásia Menor. Doutor da Lei estudou na Escola de Gamaliel, fato que mais tarde o ajudou a se livrar de muitas prisões por ser considerado cidadão romano. Homem de decisão firme e muito inteligente era implacável contra os cristãos e via Pedro e os demais apóstolos escolhidos por Cristo como seus maiores inimigos, pois não se intimidavam em anunciar as boas novas do reino. “Vinde a mim e vos farei pescadores de homens”. Com essas palavras, conforme relatam os evangelhos de Mateus (4, 19) e Marcos (1, 17), Jesus chamou o rude e quase analfabeto pescador Simão Pedro, que jun-

Reprodução/Ecclesia.com.br

o princípio era “O Verbo” (Jo. 1,1). O prólogo do Evangelho de João é direto: Jesus é a luz que ilumina o homem. O evangelista ainda relata que as pessoas não O compreenderam, porém os que tiveram esse privilégio conheceram a Verdade. Muitos são os estudos teológicos sobre a constituição da Igreja Católica Apostólica Romana, entretanto nesses escritos as figuras dos apóstolos Simão Pedro e Paulo são de fundamental importância na disseminação da doutrina cristã. Neles a Igreja promove as primeiras questões sociais dando continuidade ao maior mandamento: “Amarás teu Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39). Antes de sua morte Jesus deixou vários exemplos do

Pilares da Igreja: Pedro e Paulo a difusão das palavras e das ações que levam a Cristo Um Esboço da História | Agosto de 2013

5


tamente com seu irmão André, pescava no mar da Galileia. A esse pescador ignorante, mas de caráter firme, Jesus confiou à constituição da sua igreja. “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Apesar das classes sociais distintas ambos tinham muitas semelhanças, a personalidade forte, a teimosia, a impaciência, a esperança no Cristo, tudo isso aproximava Pedro e Paulo.

Reprodução/ Pintura de Rafael - Victoria and Albert Museum (1515)

DE PENTECOSTES A DAMASCO Mesmo perseguidos os apóstolos buscavam meios de propagar os ensinamentos. Abatidos e desorientados não sabiam como anunciar o Cristo para as pessoas que estavam em Jerusalém, uma vez que a maioria delas vinha de outras regiões. Mas um evento mudaria esse cenário e os encorajaria. Segundo consta na Bíblia, no Atos dos Apóstolos, chegado o dia de Pentecostes, eles se reuniram no cenáculo e começaram a orar, quando um forte vento entrou no local

e apareceu sobre a cabeça dos doze uma espécie de língua de fogo. Ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar e compreender outras línguas. Pedro saiu da casa com os demais apóstolos anunciaram as palavras de Jesus, todas as pessoas entenderam e se converteram. Estudiosos da teologia apontam que a partir de Pentecostes os apóstolos assumiram plenamente a missão de disseminar o cristianismo. Prova disso, são os milagres que eles também realizaram. A cura do coxo de nascença na porta Formosa do templo, descrito nos Atos dos Apóstolos, mostra o destemor Pedro perante a sociedade. “Não tenho ouro, nem prata, mas o que tenho te dou, em nome de Jesus Cristo Nazareno levanta-te e anda!”. Muitas conversões ocorreram neste período, à ação dos apóstolos irritava sacerdotes, chefes do templo e saduceus, que em repressão os prendiam. “Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, os entregava à prisão” (At 8,3), até conseguir seu intuito a morte de um deles; Estevão.

Jesus elege Pedro como detentor das chaves do céu

6

A sede de Saulo de Tarso em prender todos que professavam a doutrina do Cristo o fez seguir para Damasco. No caminho, como relata os Atos dos Apóstolos, uma forte luz o fez cair do cavalo, ficou cego por três dias e só voltou a enxergar quando Ananias, ordenado por Jesus, foi batizá-lo no Espírito Santo. APÓS SUA CONVERSÃO SAULO PASSOU A PROCLAMAR JESUS CRISTO A TODOS OS JUDEUS QUE, AMEDRONTADOS, NÃO ENTENDIAM COMO AQUELE HOMEM QUE HÁ POUCO TEMPO OS PERSEGUIA, AGORA SEM TEMOR DE RETALIAÇÕES PREGAVA COM TAMANHA EFUSÃO. AO RETORNAR À JERUSALÉM, FOI POR BARNABÉ QUE SAULO CHEGOU ATÉ A IGREJA DE JERUSALÉM, ONDE SE ENCONTROU COM TIAGO, O JUSTO, E PERMANECEU CERCA DE QUINZE DIAS COM PEDRO, CONFORME CONTA NA CARTA AOS GÁLATAS.


Reprodução/ Pintura de Rafael - Victoria and Albert Museum (1515)

Paulo prega em Atenas

EXPANSÃO DO CRISTIANISMO A Igreja de Jerusalém, sob o comando de Tiago, o Justo, seu primeiro bispo, via inicialmente o cristianismo como uma reforma religiosa para o “povo eleito”, no caso os judeus. Pelas leis era proibido ter contato ou pregar para os pagãos e os gentios, pois esses eram considerados impuros. Para que Pedro, considerado primeiro papa, pudesse pregar o evangelho nas cidades vizinhas, incumbiu Tiago de ficar a frente da Igreja local. Em uma de suas viagens Pedro teve uma visão e foi conduzido a Cesareia, na casa do Centurião Cornélio. “Vós sabeis que é proibido a um judeu aproximar-se dum estrangeiro ou ir à sua casa. Todavia, Deus me mostrou que nenhum homem deve ser considerado profano ou impuro” (At. 10,28). Ao retornar a Jerusalém os fieis circuncidados repreenderam Pedro que lhes explicou o ocorrido, no final

concordaram que Deus também concedia aos pagãos o arrependimento. Ao saber que os dispersos durante a perseguição que culminou com a morte de Estevão haviam chegado à Fenícia, Chipre e Antioquia, Tiago encaminhou Barnabé para esses lugares que se alegrou ao ver que o Evangelho havia chegado aos judeus. No retorno foi direto para Tarso a procura de Saulo e juntos retornaram para a Igreja de Antioquia. Não se sabe ao certo qual o momento em que Saulo adota o nome de Paulo. Na Bíblia o primeiro registro aparece durante a conversão do procônsul, título de poderio dado aos emissários do imperador, da ilha de Pafos, Sérgio Paulo. A partir dessa primeira viagem, Paulo batizava a judeus e gentios que estivessem dispostos a adotar o cristianismo, indistintamente. Durante 16 anos, Paulo realizou quatro grandes viagens e fundou igrejas na Síria, na Ásia, na Grécia e em Roma. Escreveu quatorze epistolas que enviava para as

comunidades. Enfrentou a Tiago quando introduziu gentios no templo e brigou com Pedro sobre a questão da circuncisão para os não judeus. Preso pelos romanos, Paulo viveu sobre prisão domiciliar e recebia em sua casa vários romanos que aderiram ao cristianismo. Quando saiu a sentença de morte, o apóstolo, por ser considerado cidadão romano, recorreu a César, mas foi decapitado por volta do ano 64. No mesmo período Pedro também foi preso e crucificado de cabeça para baixo, pois dizia não ser digno de morrer como Jesus Cristo. Àquela altura o número de cristãos já havia ultrapassado todas as fronteiras. O Evangelho de Jesus Cristo tinha muitos seguidores, entre judeus, gentios, pagãos convertidos e romanos. A Igreja despolitizou-se para ampliar seu diálogo com as culturas e conquistar o mundo o que veremos nas próximas reportagens.

Um Esboço da História | Agosto de 2013

7


os passos de antônio

PEGADAS FRANCISCANAS

Antonio seguiu os exemplos de seu pai espiritual Francisco, se dedicou a pobreza e desenvolveu por meio dela seu pensamento social

N

a primeira temporada do seriado “Tapas & Beijos”, exibido pela Rede Globo, a personagem Sueli tinha um estreito relacionamento com Santo Antônio. Para conseguir um marido a moça deixou a imagem do santo de cabeça para baixo dentro de um copo com água. Segundo a tradição popular o santo tem fama de casamenteiro, além de ser considerado um poderoso intercessor. O que muitos devotos não sabem é que Santo Antônio é um dos doutores da Igreja Católica e seus textos refletem o princípio da ordem franciscana com foco nos pensamentos sociais. Foi ele, com a permissão de São Francisco, que ensinou teologia aos franciscanos no começo da Ordem. A Ordem dos Frades Menores foi criada por São Francisco de Assis, na Itália em 1209. Após receber um chamado de Deus, o jovem rico Francisco, largou todos os bens e a família. Na sua vida religiosa viveu e pregou a pobreza, a castidade e a obediência. Segundo o estudioso dos pensamentos antonianos, José Antônio de Camargo R. de Souza, professor titular aposentado da Universidade Federal de Góias, essa foi a oportunidade para que Antônio pudesse se inteirar da realidade social e religiosa dos lugares que passava. No livro “O pensamento social de Santo Antônio”, o professor diz que o santo por meio de seus sermões falava com facilidade a todos; dos mais simples aos mais intelectualizados.

8

Antônio recebeu autorização de São Francisco para ensinar Teologia aos franciscanos

FERNANDO MARTINS DE BULHÕES, ESSE ERA O VERDADEIRO NOME DE SANTO ANTÔNIO. ANTES DE INGRESSAR NA ORDEM DOS FRADES MENORES, O JOVEM PORTUGUÊS NASCIDO EM 15 DE AGOSTO DE 1190, ESTUDOU COM OS CÔNEGOS REGULARES AGOSTINIANOS NA CIDADE NATAL, E EM COIMBRA, NA CANÔNICA, JUNTO À IGREJA DE SANTA CRUZ, ONDE FOI ORDENADO SACERDOTE, PROVAVELMENTE EM 1218. DOIS ANOS MAIS TARDE, TORNOU-SE FRADE MENOR, OCASIÃO EM QUE MUDOU O SEU NOME DE BATISMO PELO QUAL SE TORNOU CONHECIDO.

A FORMAÇÃO Nas duas primeiras congregações Frei Antônio recebeu sua formação cultural, intelectual, moral e religiosa. Aprendizados que o permitiram desenvolver seu trabalho com primor junto aos frades menores. No livro “Vida e Milagres de Santo Antônio de Lisboa”, publicado em 1830, o monge Fortunato de S. Boaventura mostra que esses estudos juntamente com o trabalho na Ordem Menor permitiram a ele compreender melhor a Igreja e o Cristianismo. Para o professor Souza, tal fato possibilitou examinar a composição individual e comunitária dessa Igreja, sua organização, direção e finalidade para poder saber como arrebanhar a comunidade marginalizada.


Reprodução/fratersantoantoniodelisboa.blogspot.com.br

OS POBRES Com a morte de São Francisco em 3 de outubro 1226, a Ordem Menor não vivia um momento tranquilo. Pressionados pelo papa Gregório IV, que estava decidido implantar as reformas pedidas no IV Concílio de Latrão e queria o apoio dos franciscanos. A divisão da ordem era evidente enquanto um número considerável de frades menores, conhecedores da teologia e com tino administrativo, acreditavam que o grupo deveria servir melhor a Cristo, estando do lado do Papa e de seus projetos. Outro grupo defendia viver na Regra estabelecida no Testamento de Francisco, a qual mantinha

o carisma e as ideias iniciais; a vivência simples, na pobreza e humildade propagando os valores do evangelho. OS SERMÕES E O PENSAMENTO SOCIAL Na idade Média poucos teólogos haviam pensado sobre a sociedade por dois motivos: de um lado a Igreja Cristã Ocidental entendia que somente os batizados estavam a serviço da Igreja de Roma e, também, pelo modelo do regime feudal. Antônio saiu em missão passando por vários lugares até chegar a Pádua, na Itália. No decorrer de suas viagens, estudiosos apontam que o frade tenha iniciado seus

Reprodução/conventosaofrancisco.com.br

Muitos dos milagres de Antônio foram realizados ainda em vida Um Esboço da História | Agosto de 2013

9


Reprodução/fratersantoantoniodelisboa.blogspot.com.br

Sermões Domicais, também chamados em latim de Opus evangeliorum. Os textos elaborados por ele são as pregações dos evangelhos lidos aos domingos, porém de maneira bem esmiuçada. Certa vez o papa Alexandre IV, tocado pelo modo como Antônio explicava à Palavra de Deus, pediu que o mesmo redigisse sobre a vida dos Santos. Parte do seu modo de pensar o mundo pode ser lida nos 77 sermões publicados em sua obra; Sermões Dominicais e Festivos. Esses sermões foram pesquisados e atestados primeiramente pela equipe de Antônio Maria Locatelli, e posteriormente foi aperfeiçoado e publicado em três volumes. Segundo o professor José Antônio Souza, ao estudar os sermões escritos por Santo Antônio é possível conhecer as características da espiritualidade antoniana, que seriam: 1) a devoção intensa à

Trindade, em especial, a Segunda Pessoa da mesma, Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro; 2) a devoção a Maria imaculada, medianeira da salvação; 3) a devoção aos santos; 4) a frequência regular aos sacramentos da Penitência e à Eucaristia; 5) a guarda, pelos fiéis em geral, dos domingos e dias santificados e as orações devocionais particulares e aos clérigos, ainda, o canto ou a recitação do Ofício divino, a oração pública, oficial da Igreja. 6) a observância do Decálogo, dos Mandamentos da Igreja e, em especial, do mais importante de todos, o do Amor fraterno, que se concretiza mediante as Obras de Misericórdia.

Em busca de um novo modo de vida, Antonio deixou os Agostinianos e ingressou na Ordem dos Frades Menores

10

A espiritualidade antoniana revela seu pensamento social e seu desejo do Santo Antônio da conversão do pecador, processo que só conseguirá conseguir se obedecer aos mandamentos e respeitar os sacramentos.


igreja atuante

CONSTRUTORES DA SOCIEDADE

A partir da Revolução Industrial a Igreja buscou meios para reavaliar o contexto social e entender a “relação capital e trabalho”

A Revolução Industrial a Igreja lançou novo olhar para as questões dos mais carentes

A

lém de propagar os valores cristãos na sociedade, a Igreja Católica se viu desempenhando outro papel; o de ir ao encontro dos mais pobres explorados pelos detentores do capital. De Pedro até Francisco nos dias atuais, todos os papas buscaram solucionar os problemas sociais sob a luz do Evangelho. No entanto, foi o papa Leão XIII, que em 1878, agiu de forma concreta para que a desigualdade fosse diminuída por meios de documentos que compõe a Doutrina Social da Igreja, conjunto de textos elaborados e declarações feitas pelos Papas, que busca

A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA SEMPRE ESTEVE BASEADA EM PRINCÍPIOS E VALORES QUE EVIDENCIAM A PREOCUPAÇÃO COM O BEM ESTAR E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. estabelecer princípios a respeito da organização social e política. O pensamento social da Igreja se abriu para essa urgência durante as décadas de 1700, quando assistiu a duas grandes revoluções: a revolução Francesa e o surgimento das máquinas a vapor. Esses dois fenômenos se tornaram mais latentes a partir de 1800, quando ocorre o progresso técnico industrial e o homem ultra-

passa os limites da natureza com as máquinas e da ciência. Os reflexos dessas mudanças são logo percebidos com o trabalho exploratório dos operários e a concentração da riqueza na mão de poucos. No decorrer da história vários papas lançaram olhares sobre as questões sociais, dentre esses cinco tiveram papel de destaque: Leão XIII, Pio XI, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II. O papa Leão XIII ao perceber as necessidades desse novo tempo publicou a encíclica Rerum Novarum, que trata das condições dos operários. Estudiosos consideram que o documento consiste na abertura da Igreja Católica a assuntos ligados ao novo modelo social, não Um Esboço da História | Agosto de 2013

11


CONCÍLIO VATICANO II Em 1958, o cardeal Angelo Roncalli é eleito papa e passa adotar o nome de João XXIII. Durante os quase cinco anos de seu papado a Igreja Católica deu grandes avanços no que compreende a Doutrina Social. Apesar do curto pontificado é considerado um dos papas mais populares sendo a ele conferido o título de o “Papa Bom”. João XXIII saiu do Vaticano e se debruçou sobre as questões pastorais da Igreja indo ao encontro dos pobres, dos doentes e dos detentos. Além disso, seu bom relacionamento com os lideres das outras religiões cristãs era favorável a prática do ecumenismo. Via a

12

DEVE HAVER UM EQUILÍBRIO ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO E A RESPONSABILIDADE DO CIDADÃO NA INTEGRAÇÃO DA VIDA SOCIAL. No decorrer do processo João XXIII faleceu e seu sucessor Paulo VI foi quem deu continuidade às reuniões do Concílio. Com a presença das autoridades da Igreja e teólogos, o Concílio Vaticano II, ocorreu no decorrer de quatro anos, 1962 a 1965, trouxe reflexões importantes para Doutrina Social da Igreja. Suas decisões estão expressas nos documentos que foram debatidos profundamente nesse decorrer e do qual saíram: 4 constituições, 9 decretos e 3 declarações. Como resultado desse processo a Igreja se voltou mais para as questões pastorais nas quais estão intimamente ligadas aos processos sociais que visa a dignidade do homem. PRINCÍPIOS E VALORES O Catecismo da Igreja Católica parte de uma ação mais contundente, trata da responsabilidade do Estado em conduzir a aplicação dos direitos humanos no setor econômico, en-

1- Papa Pio XI e o Quadragésimo Ano. 2- Papa Leão XIII e o Rerum Novarum. 3- Papa João XXIII inicia o Concílio Vaticano II. 4- Papa Paulo VI implanta o pensamento social na Igreja. 5- Papa João Paulo II e o amor aos pobres

fatiza o papel dos empregadores em não mirar-se somente no lucro e que os empregados possam ter um salário justo afim de que para que haja igualdade. Desse pensamento parte o conteúdo demais princípios: bem comum, subsidiariedade e solidariedade. O princípio do bem comum representa a responsabilidade de todos para que o homem atinja a perfeição, independente da questão 1

Reprodução/amadosfranciscanos.com.br

necessidade da igreja se renovar e buscar novas formas de explicar a doutrina católica para o mundo moderno, pensamento que culminou na convocação do Concílio Vaticano II, em 1962. Segundo João XXIII, conforme a bula papal Humanae salutis, o intuito do Concílio Vaticano II era discutir a ação da Igreja nos tempos atuais e “promover o incremento da fé católica e uma saudável renovação dos costumes do povo cristão, e adaptar a disciplina eclesiástica às condições do nosso tempo”. Para o escritor George Weigel, no livro “A verdade sobre o catolicismo”, o “Papa Bom” “imaginava o Concílio como um «novo Pentecostes»[...]; uma grande experiência espiritual que reconstituiria a Igreja Católica” não apenas como instituição, mas “como um movimento evangélico dinâmico [...]; e uma conversa aberta entre os bispos de todo o mundo sobre como renovar o Catolicismo como estilo de vida inevitável e vital”.

Reprodução/ ccpg.puc-rio.br

somente a questão salarial objeto de problemas, mas a estrutura deficitária nos serviços ligados a área da saúde e educação. Para a Igreja o homem seria o autor, o centro e o fim de toda a vida econômica e social, conforme explica o professor Felipe Aquino no artigo, “Você sabe o que é a Doutrina social da Igreja?”. Leão XIII entendia que as soluções para se eliminar as diferenças estava numa ação combinada entre Igreja, Estado, empregadores e empregados. “É necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a que eles estão, pela maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria imerecida”, pregava o papa. Em 1931, o papa Pio XI escreve a encíclica Quadragesimo Anno. A carta trata da restauração e aperfeiçoamento da ordem social a luz do Evangelho e reintera o que foi publicado há 40 anos na Rerum Novarum. No texto há também uma resposta a Grande Repressão de 1929, momento em que milhares de operários ficaram desempregados devido à crise econômica que assolou vários países. Nesse contexto Pio XI critica a economia a partir do livre comércio que só objetiva o lucro. ”À avidez do lucro seguiu-se a desenfreada ambição de predomínio; toda a economia se tornou horrendamente dura, cruel, atroz”. Tanto para Leão XIII e Pio XI a regulamentação racional do mercado e das iniciativas econômicas, devem buscar princípios e valores que almejem o bem comum.


econômica. Na encíclica Mater et Magistra, João XXIII exalta que o bem comum seja acessível a todos de maneira igualitária. Já o princípio da subsidiariedade tem suas raízes na carta de Pio XI, e objetiva que o respeita a liberdade e proteção dos corpos sociais, como família, grupo, associações, entre outras agregações que partem do povo. O papa João Paulo II, na encíclica Solicitudo

Rei Socialisi sintetiza a essência do princípio da solidariedade. Segundo ele om a globalização cresce a possibilidade de relacionamento entre os homens. “A solidariedade, portanto, não é um sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas, próximas ou distantes, pelo contrário, é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo

bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todo”. Para o professor Felipe Aquino, da Canção Nova, a Igreja nunca se omitiu dos problemas que atingiram a sociedade desde a Revolução Industrial, ao contrário sempre apresentou propostas sólidas para diminuir a miséria e exploração econômica. E assim faz até os dias atuais.

Reprodução/amigodaalma.com.br

3

Reprodução/ madreigrejaemfotos.blogspot.com.br

2

5

4

Reprodução/catedraldase.org.br

Um Esboço da História | Agosto de 2013

13


evangelização

NOVOS HORIZONTES

A igreja católica chega ao Brasil e transforma a realidade social dos pobres

A

formação do povo brasileiro são percebidas em diversas áreas do saber. Na arte, por exemplo, favoreceu o desenvolvimento do trabalho do artista plástico Aleijadinho. Para garantir a disciplina social começou a realizar trabalhos administrativos e ajudou na preservação de hospitais e Santas Casas, em contrapartida tinham o aval do Estado para a construção de novas igrejas. Com a nomeação do Marquês de Pombal para administrar as coisas do império, houve o afastamento da Igreja das ações do Estado. Nesse período os Jesuítas sofreram perseguição por parte do administrador da coroa. Do Descobrimento à Proclamação da Independência, na história do Brasil, a Igreja Católica esteve presente na luta pelos mais pobres. Frei Caneca foi um dos símbolos na luta

Reprodução/obra de Victor Meirelles (1860)

Igreja Católica cumpriu um papel importante na constituição e formação das novas civilizações do ocidente. No Brasil uma das primeiras ações realizadas pelos portugueses, ao aportarem aqui, foi à missa celebrada por Frei Henrique Soares de Coimbra, em 1500 no sul da Bahia. Ao “descobrirem” as terras brasileiras, os portugueses, que tinham estreita relação com a Igreja, trouxeram por volta de 1549, os primeiros jesuítas que colaboraram na formação das vilas e cidades. Nesse período o grande número de índios que habitavam todo o continente brasileiro, foi evangelizado por jesuítas, franciscanos e carmelitas. As contribuições da igreja católica na

14

Primeira missa celebrada por Frei Henrique Soares de Coimbra

pela democracia no país. O franciscano foi fuzilado por reivindicar a instalação de uma nação ancorada numa constituição que fosse fruto de um pacto feito entre o cidadão e o país, conforme aponta Kelly Cristina Azevedo de Lima, no artigo “Frei Caneca: Entre a liberdade dos antigos e a igualdade dos modernos”. Segundo a articulista, ele “Enfatizou sempre os deveres e os direitos deste cidadão, ressaltando a profunda necessidade de serem esses últimos garantidos por lei”. Na República apesar do Brasil se proclamar um país laico, os padres católicos sempre atuaram em defesa da sociedade. AÇÃO CATÓLICA BRASILEIRA A Ação Católica Brasileira era “uma organização de leigos participando do apostolado hierárquico da Igreja fora de qualquer filiação política, com a finalidade de estabelecer o reino Universal de Jesus Cristo”, segundo aponta o estudioso Ralph Della. O papa Pio XI procura concretizá-la efetivamente em 1935, tanto no Brasil como na Itália. No Brasil, o cardeal Sebastião Leme da Silveira Cintra foi o responsável pela sua implantação e contou com a participação de intelectuais católicos, dos quais muitos faziam parte do Integralismo, doutrina política conservadora. No Brasil o movimento se intensificou na capital de São Paulo, quanto no


Reprodução/obra de Antonio Parreiras (1918)

O julgamento de Frei Caneca

interior, em cidades como São Carlos, Taubaté, Jundiaí, Cruzeiro, Lorena, São José dos Campos, Piquete e Jacareí. O sul do país também desenvolveu núcleo em Santa Maria, Passo Fundo e Bagé. Os trabalhos da Ação Católica contavam com cinco organizações destinadas aos jovens; o JAC (Juventude Agrária Católica), o JEC (Juventude Estudantil Católica), o JIC (Juventude Independente Católica), o JOC (Juventude Operária Católica) e o JUC (Juventude Universitária Católica). O envolvimento estudantil promovido pelas organizações tinha em sua pauta as chamadas reformas de base, entre elas a reforma agrária. O movimento contribuiu para a criação de um partido político desvinculado da Igreja com antigos integrantes do JUC. CNBB Em 1952 é criada a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Dois anos depois, chega ao país, Dom Armando Lombardi, emissário do papa Pio XII que possibilitou o desenvolvimento dos

trabalhos da entidade, cujo foco estava atrelado aos programas sociais do meio estudantil, operário e camponês. O Brasil desse período vivia uma estagnação social. A desigualdade crescia e a CNBB começou a interferir nessa realidade, por meio de suas publicações. Era 1 de abril de 1964, quando o regime Ditatorial foi implantado no país. A população teve seus direitos civis cassados e muitos dos integrantes dos movimentos católicos foram perseguidos ou levados à prisão. Nesse período, alguns representantes entre eles os arcebispo Dom Helder Câmara, no Recife e Dom Paulo Evaristo Arns, em São Paulo se mobilizaram ativamente em defesa dos Direitos Humanos e nas denúncias contra as torturas. A Igreja também exerceu, nesse contexto, função de organizadora social. A Ditadura contribuiu na formação de grupos acadêmicos bastante críticos ao regime, no entanto foi a Igreja o lugar encontrado para poder dialogar sobre o cotidiano. Essas reuniões deram início as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs),

que influenciadas pela Teologia da Libertação se tornou movimento de resistência popular. Com o enfraquecimento da Ditadura a Igreja teve papel fundamental no período de transição para o regime civil. Segundo Thomaz Bruneau, no livro que discute o papel da Igreja na transição, aponta que ela foi ferrenha com o governo para que se elaborasse uma nova Carta Constituinte. ARNS E CÂMARA O Regime Militar no Brasil foi amplamente enfrentado por Dom Helder Câmara, que desenvolveu um trabalho com foco nos problemas sociais. O arcebispo de Recife foi perseguido e seu nome vetado de circular nos meios de comunicação. Conforme o registro do Centro Nacional de Fé e Política (CEFEP) o regime autoritário brasileiro transformou o representante da igreja em persona non grata. O sistema o via como demagogo e comunista símbolo da resistência à ditadura para os defensores dos direitos humanos.

Um Esboço da História | Agosto de 2013

15


Reprodução/teologiadalibertacao.blogspot.com

Reprodução/arquidiocesedecampogrande.com.br

Para amedrontá-lo as forças de repressão chegaram a metralhar sua residência duas vezes e por fim sofreu um duro golpe com a morte de seu colaborador, Padre Henrique Pereira Neto. Durante esse período ajudou na elaboração da Confederação Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB), onde por meio das Campanhas de Fraternidade apresentavam e revelavam as questões sociais. Em São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns desenvolvia seu trabalho junto aos moradores das periferias da capital. Dedicou-se aos trabalhadores e a formação das comunidades eclesiais de base, movimento inclusivo ligado a Igreja Católica que teve no Concilio Vaticano II sua propagação, que vinha em defesa dos mais pobres e da promoção dos direitos humanos. Juntamente com Dom Helder Câmara, enfrentou a Ditadura notabilizou-se na luta pelo fim das torturas e restabelecimento da democracia no país, junto com o rabino Henry Sobel, abrindo uma ponte entre o judaísmo e igreja católica em solo paulista. Dom Arns mobilizou-se juntamente com o Pastor Jaime Wright num projeto que evitou o desaparecimento dos docu-

16

Dom Helder Câmara denunciou as mazelas em que o povo brasileiro vivia

mentos durante o processo de redemocratização do país. O material copiado do Superior Tribunal Militar foi microfilmado e enviado para o exterior afim de que não fosse apreendido ou desaparecesse.

HOJE

Na década de 1990, a CNBB lançou três ações sociais da Igreja: Semanas Sociais Brasileira que visam o enfrentamento das questões sociais; o movimento Grito dos Excluídos que denunciava a subordinação da nação ao capital estrangeiro; e a Campanha do Jubileu 2000 que contou com um plebiscito no qual mais de seis milhões de pessoas disseram não ao modelo de submissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Hoje a Igreja aprendeu como se articular melhor e faz com que as ações de suas pastorais sociais e demais dimensões promovam a dignidade da pessoa humana. Dom Paulo Evaristo Arns lutou contra a Ditadura no país


a igreja a caraguá

P

NASCE A VILA DE SANTO ANTÔNIO...

ertencente à Comarca de São Sebastião, a Vila de Santo Antônio de Caraguatatuba consistia numa praça, com duas ruas e um beco, com algumas centenas de habitantes. No livro organizado por Jurandyr Ferraz de Campos (2000), consta o censo de 1929, no qual a cidade tinha 2.917 moradores e 22 imóveis, entre públicos, comerciais e residenciais e mais a Capela de Santo Antônio, como bem demonstra a foto abaixo. Documentos pertencentes à Igreja revelam que a Matriz de Santo Antônio pertenceu à Arquidiocese de São Paulo, Diocese de Taubaté, Diocese de Santos e, desde 1999, integra a Diocese de Caraguatatuba. Terezinha Miranda recorda que até a década de 1930 muitos freis de São Sebastião tomaram conta da Matriz, até a chegada do frei Pacífico Wagner em 1946. Já José Matias considera a igreja o quintal de sua casa. Na infância, ele lembra de ter assistido missas rezadas com o padre de costas e em latim. “Com certeza, hoje vejo uma abertura mui-

Capela de Santo Antônio na década de 1920

to grande da igreja católica com os novos movimentos, mas muita tradição se perdeu”, considera. Desde a sua criação, a Igreja Matriz Santo Antônio teve participação direta na construção e história da cidade, seja no abrigo do primeiro cemitério municipal; na construção da Casa de Saúde Stella Maris, Asilo Vila Vicentina, Fórum, Asilo Santo Antônio (hoje Pró+Vida) e como ‘mãe’ de muitas capelas e paróquias. No livro tombo da Matriz de 1962 consta que as capelas supervisionadas eram a Santa Cruz, na Massaguaçu; São João Batista, no Pau D´Alho; São Benedito, no Queixo D´Anta; Nossa Senhora Aparecida, na Fazenda Vieira; São Pedro, no Camburu e Nossa Senhora das Necessidades, no Poiares. Também nesta época, o livro tombo revelou um censo da religião dos alunos do Grupo Escolar local, sendo 809 meninos e meninas católicos, 87 protestantes e 47 espíritas (em 1963). Nas escolas rurais eram 391 católicos, 50 protestantes e 24 espíritas.

CRIAÇÃO DA VILA E CONSTRUÇÃO DA MATRIZ EM 1840 Nas décadas de 1600 se formou a primeira Vila nesta Caraguatatuba, quando sobreveio uma epidemia que dizimou parte dos moradores. Desanimado, o restante do povo mudou-se para Ubatuba, levando consigo o Cartório deste lugar e lá elevaram uma nova freguesia. Passado algum tempo e de volta para cá, estabeleceram-se na mesma Vila de Santo Antônio de Caraguatatuba que acabava de se tornar município. A Capela de Santo Antônio foi erigida no século XVI. Um dos primeiros registros da Capela remonta a um inventário de 1835, presente na obra organizada por Jurandyr Ferraz de Campos (2000), que descreve os bens existentes dentro da igreja, entre eles uma imagem de Santo Antônio, com seu

Foto: Arquivo Público Municipal / PMC

Um Esboço da História | Agosto de 2013

17


A Vila de Santo Antônio de Caraguatatuba consistia numa praça com duas ruas, um beco, casas simples, a Capela e o cemitério atrás

menino; uma imagem do Senhor Crucificado; castiçal, toalhas de altar, missal etc. Em 12 de junho de 1840, o Pe. Manoel Pereira de Castro solicitou ao bispo de São Paulo Dom Manuel Joaquim Gonçalvez de Andrade e obteve a provisão da autoridade religiosa para o “reconhecimento” da Capela. Tratava-se, apenas, de uma formalidade preliminar, pois a capela já existia. A CAPELA MOR JÁ ESTAVA PRONTA E, EM NOVEMBRO DE 1858 JÁ HAVIAM SIDO CONSTRUÍDOS 33 PALMOS DE PAREDE LATERAL ATÉ A ALTURA DE 12 PALMOS, COM TRÊS JANELAS E A PORTA QUE DÁ PARA O CORO, 44 PALMOS DE FRENTE, NA ALTURA DE QUATRO PALMOS E TAMBÉM 32 PALMOS, COM ALTURA DE 12 PALMOS NA TORRE, CONFORME OFÍCIO DE, DA CÂMARA MUNICIPAL À ASSEMBLEIA PROVINCIAL. A primeira visita pastoral registrada no livro do tombo foi feita pelo bispo Dom Antonio Joaquim de Melo que escreveu: “Fazemos saber que no dia 20 de outubro de 1853, visitamos pessoalmente a Igreja Matriz Santo Antônio de Caraguatatuba, em presença do Reverendíssimo Pároco Pe. Manoel Antônio da Silva e o povo da mesma. Tudo achamos com muita pobreza. Determinei portanto que fosse nomeado todos os anos um Festeiro para o Padroeiro”. Na parte litúrgica, Dom Antonio Joaquim de

18

Melo destacou a orientação dada aos adultos, catequese para as crianças e missa cantada na Festa do Padroeiro. Em 1857, o corpo da igreja em construção, começou a receber auxílio das autoridades, tendo o Pe. Manuel Antônio da Silva como o vigário da igreja.

Moças e rapazes em frente à Matriz

Os apelos da Câmara Provincial foram também mais frequentes. Ofício da Câmara de 1860 confirma que todas as paredes da igreja estavam concluídas e prontas para receber madeiramento de telhado. Três anos depois, devido a novos esforços do povo, a igreja foi coberta. Nos anos de 1866 e 1867, a Vila de Santo Antônio, com auxílio da Câmara, na sessão ordinária de 05 de dezembro de 1867, restaurou o velho telhado da Capela Mor. O vigário Pe. Manoel Esteves de Pociúncula, em 1870 registrou no livro do tombo, o número de óbitos, casamentos e batizados de brancos e escravos.

Fotos: Arquivo Público Municipal / PMC

O Pe. João Vicente Cabral nomeou uma comissão de obras, que em janeiro de 1872 apresentou orçamento de um conto de reis para assoalho e forro da Capela Mor e Sacristia; dois contos de reis para o forro do corpo da igreja e assoalho; reboco e caiação; um conto e quinhentos reis para o frontispício (fachada principal); quatro contos de reis para a torre. Os pedidos às autoridades eram via Câmara Municipal para a Assembleia Provincial de São Paulo. O povo ajudava com dinheiro e material. Na Lei do Orçamento de 1875 foi aprovado o repasse de dois contos de reis em favor da Matriz para reparos e paramentos. Concluída a obra na Matriz passou-se a cuidar de suas alfaias (roupas, utensílios e enfeites). Em 1877, falava-se de novo em reforma do telhado, frontispício e assoalho. E nem se passava ainda uma década, o templo estava sem condições, devendo o vigário celebrar missa numa casa particular. Eis o que diz o requerimento do Pe. João Vicente Cabral, em 1886, no livro tombo, endereçado ao bispo Dom Lino Deodato Rodrigues Carvalho: “Achando-se a respectiva Matriz inteiramente arruinada e imprestável, precisando de reconstrução e não de uma nova, não tem o pároco onde celebrar o Santo Sacrifício da Missa e exercer outros atos paroquiais e atos religiosos, em cuja falta muito sofre o povo, convindo por isso remediar tais inconvenientes”. Mais adiante, a história da Matriz revelaria que foram frequentes as reformas e benfeitorias feitas em seu prédio (como leremos na próxima reportagem).


reformas da matriz

RIQUEZA DA ARQUITETURA COLONIAL

A

Nanete Sukow de Oliveira lembra que, quando criança, na década de 1930, a praça da Matriz era só areia. “Na frente da igreja passava um riacho. Era a única igreja e por isso toda minha família a frequentava. Depois teve o cemitério atrás da Matriz e a casa paroquial. Os vitrais não eram altos e cada família doou um vitral nos idos de 1945. A primeira imagem de Santo Antônio era pequena e ficava no altar. Veio da Itália. Tinha a pia batismal de prata, com tampa e tudo. Ficava na entrada da igreja (onde hoje fica o pessoal do dízimo) e depois levaram embora.

A PRIMEIRA IMAGEM DE SANTO ANTÔNIO ERA PEQUENA E FICAVA NO ALTAR. VEIO DA ITÁLIA. Tem o mezanino em cima da porta de entrada onde o pai do Osíris Santana tocava órgão e cantava ladainha”, relembra. Osíris Nepomuceno Sant’Ana Filho confirma que seu pai foi organista da Matriz e que outra reforma importante aconteceu na década de 1990, dobrando a capacidade da igreja.

Fotos: Arquivo Público Municipal / PMC

Igreja de Santo Antônio tem estilo colonial como as construções arquitetônicas feitas no Brasil entre 1500 (Descobrimento) a 1882 (Independência). Os traços coloniais podem ser verificados por meio das portas da Matriz, janelas, telhados e beirais simples, que foram inseridos de forma harmônica no cenário local. Com a chegada de frei Pacífico Wagner em 1946, a Matriz iniciou dois anos depois, a sua primeira grande reforma. Terezinha Miranda, esposa do falecido Quincas (Joaquim Pereira da Silva), revela que o marido foi motorista do frei Pacífico. “O Quincas buscou o altar da igreja no Liceu em São Paulo (instituição de ensino salesiana). Esperou ficar pronto para trazer. Antes (em 1939), na época do padre Américo, era uma igreja pequena, uma portinha simples, tinha os pilares grandes e quem chegava atrasado à missa acabava ficando atrás”, relata Terezinha. Em 1949 a igreja recebeu a cúpula do sino e a parte lateral, descaracterizando a arquitetura original e, por isto, o prédio não pode ser tombado posteriormente. O projeto da reforma dos 819,554m² da Matriz foi atribuído ao engenheiro Eduardo da Costa Júnior. “Mudou a estrutura da igreja. A fachada foi alterada e os padres que vieram depois mantiveram assim. Foi preciso aumentar a igreja, pois era muito pequena. Lembro que tinha altares de Nossa Senhora e do Coração de Jesus, mas depois tiraram e só deixaram Santo Antônio”, confirma Terezinha que ainda hoje integra o Apostolado da Oração na igreja.

Um Esboço da História | Agosto de 2013

19


4

Preciosas artes no interior da Matriz A riqueza da Igreja Matriz não se limita a arquitetura externa. A parte interior é dotada de imagens sacras, vitrais coloridos (ver páginas 44 a 36), painéis de azulejos pintados que retratam episódios da vida de Santo Antônio, nicho central composto por altar de madeira e imagem do santo padroeiro, com 1,20 metros, como confirma o inventário da Matriz de 1943, que ainda traz registros de outros altares nos corredores laterais, além de dois livros de tombo, um iniciado em 1853 e o segundo em 1938; um livro de casamentos, quatro de batizados; bandeiras da cruzada infantil, de marianos, do Brasil e papal; quatorze quadros da via sacra etc. O devoto João Oliveira, o Jotta, 74 anos, revela detalhes de como foi feita a atual mesa e cadeiras do altar da Matriz, cuja madeira trabalhada dos ‘pés’ remetem a figuras de 12 peixes, simbolizando os 12 apóstolos, além da uva (vinho) e o pão, remetendo ao corpo e sangue de Cristo. “Certo dia, conversando com um amigo revelei que os fiéis da Matriz queriam uma nova mesa de altar, digna de estar na ‘casa do pai’. Este meu amigo conhecia o escultor Luiz que morava em Passa Quatro. Fomos até lá, mas o Luiz nem deu bola pra nós. Desanimei. Quando estávamos retornando, o escultor disse para comprarmos umas madeiras que ele iria estudar o que fazer. Depois de umas semanas voltamos lá e a mesa do altar estava linda. Um dom de Deus. E o Luiz contou que tinha começado a fazer uma cadeira para o papa que viria no Brasil. A cadeira estava inacabada, então pedi para ele terminar, que também colocaríamos no altar da Matriz. Outra obra prima”, relata.

5

6

7

Fotos: Marcelo Souza

1

3

8

2

1. Detalhe da mesa do altar com figuras de peixes, uva e pão; 2. João Oliveira, o Jotta, encomendou a mesa do altar do escultor meneiro Luiz;

20

3. Altar principal com a imagem de Santo Antônio; 4. Santo Antônio lava pratos, 5. Santo Antônio entrega pães aos carentes; 6. Santo Antônio prega para os peixes;

7. Santo Antônio encontra São Francisco; 8. Sacrário com Painel de azulejos pintados retratando a última ceia de Jesus Cristo com os Apóstolos.


No destaque, reforma mais recente da Matriz. À direita, as várias fachadas da história da Igreja de Santo Antônio

Fotos: Arquivo Público Municipal/PMC

REGISTROS NOS LIVROS TOMBOS Foram realizadas várias nalgumas ampliações e reformas na Matriz, sendo as principais: 1940: frei Menando Kamps aumenta a sacristia e faz um quarto para o padre. 1943: o telhado da Matriz estava em condições de perigo. Feito reboco das paredes esburacadas com ajuda de soldados e militares que passavam a páscoa aqui. 1945: colocados vitrais trazidos de São José dos Campos, iluminação nos altares e nova porta na sacristia. 1946: obra do telhado feita por meio de leilões e rifas. A Festa de Santo Antônio e a Festa do Coração de Jesus arrecadaram verbas em prol da reforma. 1947: começou a reforma da fachada. 1948: foi iniciada a construção de um pequeno salão para reuniões das imaculadas, catecismos e solenidades cívicas. Torre e escadaria reformadas. 1950: para garantir o terreno da entrada ao lado esquerdo, fez-se um muro e um galpão. Substituída a escada da entrada por degraus mais amplos. 1951: construída uma casa paroquial, no terreno atrás da Matriz onde era o antigo cemitério e começou a construção de um jardim de infância. 1955: inaugurado o serviço de alto falante por ocasião da passagem do ano e da hora santa. Instalado amplificador. 1956: no dia de finados foi inaugurado o novo

cemitério municipal, no Indaiá, num lugar mais amplo e bem murado. O centro do Cemitério ganhou a Cruz Grande que vivia ao relento atrás da velha Matriz. 1961: foi comprada a primeira casa paroquial (patrimônio); em 1963 foi adquirida a segunda casa; em 1965, aquisição da terceira casa, e em 1967, da quarta casa. Reforma do jardim de infância, fórum provisório e compra de veículo novo. 1987: criado o Conselho Administrativo e de Obras para a construção de nova igreja. As obras foram iniciadas com a reforma e ampliação do salão de festas. Para a Festa de Santo Antônio, a imagem recebeu pintura feita pela paroquiana Carmem de Assis. 1988: no dia 20, aniversário de Caraguatatuba, teve missa solene e entrega da pintura da igreja. Inicia a reforma elétrica e quase todo material foi fruto de doação. 1989: reforma do serviço de som da Igreja, por meio de verbas arrecadadas de paroquianos e turistas. Parte do telhado do Galpão desabou, mas não houve feridos. 1990: aprovado o projeto de reforma e ampliação da Matriz. Inicia o trabalho de terraplenagem, com a presença de máquinas da SUDELPA (Superintendência do Desenvolvimento do Litoral Paulista) e caminhões particulares, após derrubada das garagens, secretaria e árvores ao redor da casa. 1991: instalado o forro da igreja, os alicerces da secretaria e rebocos na parede. Imagem de

Nossa Senhora das Graças com três metros foi colocada na Matriz. 2001: novo piso, no qual cada paroquiano assumiu 1 m². Foi feito um quadro mural com 1000 números vendidos e simbolizando as doações. O bingo do carro na Festa de Santo Antônio arrecadou verbas para a troca do piso. Vitrais restaurados e patrocinados por famílias paroquianas. 2002: construção de quatro novas salas para serem usadas pelas pastorais. 2005: salão paroquial passou por reforma, troca do forro, piso, construção de um palco, troca das janelas para outras de alumínio. Inaugurado o Espaço Cultural conta Cristoteca. 2007: obra da troca do telhado da Matriz, reforma do relógio, restauração da torre, foram refeitas a rede elétrica, melhora na qualidade do som e na potência dos microfones, troca do Sacrário que trouxe harmonia ao Santíssimo Sacramento. 2008: colocados 18 exaustores no teto da Matriz. Obras do salão do bingo, pilares e vigas. Troca dos murais da entrada do átrio e instaladas molduras e fundo de alumínio. 2009: troca de piso, revestimentos, serviço de gás, colocação de balcões de ardósia e portas de ferro vazadas na cozinha da igreja. Serviço de manutenção e pintura do nicho do altar de Santo Antônio. Reforma das calhas, porta principal, fachada e rampa ao lado da pia batismal para facilitar a locomoção das pessoas deficientes, em ocasião da Festa de Santo Antônio.

Um Esboço da História | Agosto de 2013

21


Marcelo Souza

O PADROEIRO

FÉ EM SANTO ANTONIO

Os mais distintos pedidos feitos pelos caraguatatubenses são atendidos. A devoção pelo padroeiro remonta a formação da cidade

“A

s pessoas de Caraguatatuba sempre foram muito devotas”. As palavras de Maria Tereza Miranda da Silva, conhecida como Terezinha do Quincas, exprime o sentimento latente e impregnado em todos os entrevistados dessa reportagem: a fé em Santo Antônio. Em Caraguatatuba, a devoção teve início na constituição da V ila. O primeiro a manifestar confiança no Santo de Pádua foi o fundador Caraguatatuba, Manuel de Faria Doria, ao levantar nestas terras uma pequena capela. A fé no santo foi trazida de Portugal pelos franciscanos e se espalhou devido aos seus inúmeros milagres. O pesquisador Jurandyr Ferraz de Campos, no livro “Santo Antônio de Caraguatatuba”, relata que mesmo após a epidemia que dizimou os moradores da vila,

22

a devoção pelo santo foi mantida. O fato se confirma no livro tombo, que relata que o padre Luiz Pacheco Coelho ajudou a manter viva a fé das pessoas em Santo Antônio. No século XVIII, as atividades na vila já haviam voltado e a vida religiosa retomava seu curso. Hoje a relação da população de Caraguá continua estreita com o padroeiro, seja pelas graças alcançadas ou simplesmente por terem se tornado íntimos. VIDAS Osíris Nepomuceno Sant’Ana Filho tem sua história de vida entrelaçada com a da Matriz, onde foi batizado, fez primeira comunhão e crisma. Ele lembra com saudade do período em que seu pai era organista da igreja. “Em maio, mês de Maria, ele tocava na igreja. Chamava o frei Jorge Kneipp, que morava em São Sebastião, para tocar com

ele nas festas especiais”. Terezinha conta que a Igreja de Santo Antônio teve papel muito importante na vida de sua família. O relacionamento, segundo ela começou quando seu esposo Quincas veio morar em Caraguatatuba e conheceu frei Pacífico Wagner, pois faziam as refeições na Pensão do Fachini: “A Igreja foi tudo na minha vida, conheci meu marido, fiz primeira comunhão, casei, batizei meus filhos e completei bodas de prata, tudo na Santo Antônio”. “Você pode ter tudo na vida, mas se você não tiver Deus você não tem nada”, com os olhos marejados de lágrimas, Brás Custódio conta que hoje está mais próximo da igreja. O paroquiano relembra dos momentos difíceis que a cidade enfrentou como a Catástrofe de 1967. Para ele se não fosse o auxílio do Santo a cidade não teria se reerguido.


Foto: Bruna Vieira Foto: Marcelo Souza

Terezinha do Quincas pediu interseção do santo para encontrar um anel de brilhante

o anel num monte de areia e ninguém encontrava. “Ela parou e orou para Santo Antônio prometendo que subiria o Morro se encontrassem o anel. Em seguida a joia apareceu”, relata e lembra que, certa vez, sua família estava para se mudar de Caraguatatuba, pois o marido havia sido transferido para Lins, na região de Ribeirão Preto. “Nós não queríamos mudar de cidade. Meu marido entrou na Igreja e rezou para Santo

comungou duas vezes. Anos atrás Cléa Liberato atribuiu uma cirurgia bem sucedida, devido a sua fé no santo, assim como o próprio casamento. “Com 14 anos, brinquei com Santo Antônio que precisava ‘achar’ uma pesSANTO ANTÔNIO S EMPRE ES TEVE PRES ENTE NA VIDA DOS C ARAGUATATUBENS ES . G RANDE É O NÚMERO DE PES S OAS Q UE DOAM BOA PARTE DE S EU TEMPO, E POR Q UE NÃO DE S UAS VIDAS , PARA P ROPAGAR A FÉ NO SA NTO. CADA DEVOTO T EM UMA HIS TÓRIA PA RA COMPARTILHAR. RELATOS T RANS FORMADORES QUE CONTRIBUÍ RAM PA RA O CRES CIMENTO E O DES ENVOLVIMENTO D A VIDA RELIGIOSA DA CIDADE.

soa. Foi na quermesse daquele ano que conheci meu futuro marido. Ficamos casados 15 anos. Até hoje minhas irmãs lembram do pedido que fiz a Santo Antônio”, relatou. Outra intercessão do santo é contada por Terezinha que durante o período de férias recebeu a cunhada em sua casa. A cunhada tirou do dedo um anel de brilhantes de casamento e colocou em cima de Brás lembra que se Santo Antônio foi quem ajudou a reconstruir a cidade após a uma prateleira. O filho caçula jogou Catástrofe de 1967

Foto: Bruna Vieira

OS MILAGRES Com o passar dos anos a fé em Santo Antônio só aumentou. Os devotos cada vez mais fervorosos fazem seus pedidos àquele que é conhecido por inúmeros milagres, entre eles: a pregação para os peixes em Rimini (Itália); o coração do avarento encontrado dentro do cofre; a mula em adoração ao Santíssimo Sacramento; o recém-nascido que fala em favor da mãe inocente; o pé decepado que o santo une novamente à perna; a menina que recebe o bilhete e ganha moedas de acordo com o peso do papel, depois de recorrer ao santo para conseguir ajuda e não precisar se prostituir, e tantos outros. Confiantes, os fiéis de Caraguatatuba alcançam graças quando recorrem a Santo Antônio. Na maioria das vezes os pedidos são referentes a problemas do cotidiano como questões financeiras, encontrar objetos desaparecidos e cura de doenças. Um desses casos é a conversão do senhor Antonio Nardi como está relatado no livro tombo em 1956. Segundo consta, antes de seu falecimento, ele estava muito doente e sofria assédio de seus familiares espíritas que faziam com que seu estado de saúde piorasse. Um pedido da filha ao Santo fez com que toda sua família se convertesse ao catolicismo. Antes de sua morte Antônio

Nanete orou para Santo Antônio quando sentiu dor de parto na hora de ter um de seus filhos Antônio e Santa Edwiges. Sua devoção o manteve aqui”. A devota Nanete Sukow de Oliveira, hoje com 82 anos, lembra que pediu ajudou de Santo Antônio no nascimento dos filhos. “As parteiras faziam o parto e quando complicava, só restava rezar. Tive problemas na hora do nascimento do meu filho Aldo e, devido a Santo Antonio, consegui chegar a São José dos Campos para tê-lo lá”. Na família de Nanete a devoção ao padroeiro aprende-se desde pequena. Segundo ela, seu irmão Olavo, já falecido, teve a perna ferida por um cabrito. “Com medo de sequelas, minha mãe pediu para Santo Antonio melhorar a perna do meu irmão. E ele melhorou”. Milagroso, Santo Antônio continua a ouvir os diversos pedidos e intercede junto a Cristo para que os Um Esboço da História | Agosto de 2013

23


mesmos sejam atendidos por meio de sua oração: “Se milagres desejais, contra os males e o demônio, recorrei a Santo Antônio e não falhareis jamais. Pela sua intercessão, foge o erro, a peste e a morte; quem é fraco fica forte, mesmo o enfermo fica são. Rompem-se as mais vis prisões, recupera-se o perdido, cede o mar embravecido, no maior dos furacões. Penas mil e humanos ais se moderam, se retiram: isto digam os que viram, os paduanos e outros mais”.

CAUSO DE SANTO ANTÔNIO E SÃO BENEDITO

L

eopoldo Ferreira Louzada, nascido em 07 de maio de 1904, Caraguatatuba/SP, relata: “Quando eu era pequeno que tinha uns dez anos, o meu pai me contou esse causo verdadeiro, porque meu pai era um homem verdadeiro, com a graça de Deus. Santo Antônio e São Benedito, de primeiro andavam na Rua de Caraguatatuba, eles saia do Artar deles e passeava na rua. Mas sabe qual foi Santo Antônio? Santo foi achado ali perto da fábrica de tijolo, ali prá lá da Vila Vicentina. Tinha um capão de pinheiro, e meu tio, tio do meu pai, que também chamava de tio, foi roçá aquele capão de pinho prá prantá cana de açúcar e roçando que fosse, achou lá um Santo, achou Santo Antônio, a imagem de Santo Antônio, Perto, tinha um pocinho de

24

água e um pé de ciosa, aquela cheirosa. Aí tio Bento falou assim: Puxa vida, quem trouxe esse Santo aqui, ali não entrava nem grilo, ali era só serrado. Aí foram roçá o capão prá prantá a cana e acharam aquele Santo, Nossa Senhora que lindo Santo, era um santo grande, parecia um rapaz. Aí trouxeram prá igreja e lavaram, isso foi no tempo da Dona Presciliana de Castilho que trabalhô aqui, que tomava conta da igreja. Ela lavô o Santo Antônio, tratô bem tratadinho e pois cheiro, bem cherizinho, botô lá no artar, aquele Santo era uma maravilha, era um Santo milagroso. E daí, quando foi um dia, chegaram na porta da igreja, rastinho de areia, o artar de Santo Antônio tava cheio de areia e a sandalinha cheio de areia. Então o povo falava: Tá vendo esse Santo, tá andano na rua, esse Santo é vivo, arguma coisa vai acontecê nessa cidade, arguma coisa vai acontecê. Quando foi um dia, foram roçá lá prá baxo, na rua Perna de Pau, lá tinha um poço d’água chamado banheira. Acharam São Benedito, outro Santo jogado na beira da banheira, também cheio de limo. Trouxeram ele, lavaram, botaram lá na igreja,

ficaram os dois Santo lá. Uma noite, São Benedito ia passear, outra noite Santo Antônio ia passear e aquilo era alegria prá todo mundo, era festa. Mas quando foi uma vez, veio aí um Padre alemão, gordo, ele tinha uma mula, levava a mula na igreja, entrava com a mula e botava água benta na mula, muntava e saia na coitada, ele benzia a mula. Quando contaram prá ele que Santo Antônio tava saindo da igre-

ja, passeando, sabe o que ele feiz? Pois fogo, botô os dois prá queimá, queimô os dois Santo. Quando o Santo tava quimando, ele ficô loco na rua, virava cambota que nem um toro bravo. Meu pai me contô quando eu tinha dez anos, não esqueci disso até hoje. Esse Padre alemão, sumiram com ele daqui porquê ele ficô loco, perderam dois santo, queimô, o povo ficô tudo triste”.


a igreja e a comunidade

A FUNÇÃO DA IGREJA NA FORMAÇÃO DO HOMEM Administrar, orientar, organizar, educar são algumas de suas atribuições

C

om toda certeza alguém já ouviu a seguinte expressão: “É uma típica cidade do interior, com uma igreja no centro da praça, um coreto e os moradores”. Não estranhe se isso lhe for familiar, pois existe um motivo para essa construção, que está atrelada a função desempenhada pela Igreja Católica desde o tempo medieval. Com a expansão da fé nos países da América do Sul essa realidade foi inserida no cotidiano das vilas que se formavam no século XVI. Portugal era um país católico e sua religião foi trazida ao Brasil durante a colonização. Segundo a tradição portuguesa, para um povoado se tornar vila deveria ter uma cadeia, uma câmara, um pelourinho e uma capela dedicada ao padroeiro para a proteção do povoado. E assim aconteceu em Caraguatatuba. A Vila se formou no entorno da Capela de Santo Antônio que, além das atribuições religiosas e espirituais, desempenhou funções de caráter civil e administrativo, que hoje são de competência do Estado. A ação estendia-se aos setores assistencial, pedagógico, econômico, político e cultural.

Em 1770, como retratado no livro “Santo Antônio de Caraguatatuba”, o capitão geral da Capitania de São Paulo, Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão, ordenou ao sargento Joaquim da Silva Coelho, responsável pela Vila de São Sebastião, que concedesse condições para ressurgir o povoado de Santo Antônio de Caraguatatuba: “Desde logo o lugar para Casa da Câmara, cadeia e mais edifícios públicos, visto que já tem a Igreja da invocação de Santo Antônio, para a qual fará ajustar um capelão que, ao depois, quando se formar vila da dita povoação, sirva de pároco dela; para o que lhe concedo os poderes necessários, em ordem a efetuar, sem dúvida alguma, o referido; e de tudo o que obter neste particular me dará parte para lhe ordenar o mais que julgar conveniente”. Apenas no final do século XVIII, com poucas casas, moradores distantes e vivendas na área rural, a Igreja que pertencia ao Estado, passou a “administrar” a vida das pessoas que moravam aqui, cumprindo atribuições de Cartório. Assim sendo, os primeiros registros de nascimentos, casamentos e obituários foram expedidos pela

Igreja. Coube também a Matriz organizar e administrar o primeiro cemitério da cidade, que ficava atrás da Igreja, e que só foi desativado em 1948 devido à inauguração do cemitério municipal no Indaiá. No período do Império a Matriz serviu como Câmara de Vereadores até a primeira sede em 1857 ficar pronta. Registros no livro tombo dão conta de que as reuniões dos vereadores ocorriam no prédio da Igreja, bem como eles destinavam ajuda para a reforma que ocorria no prédio da paróquia. Na área da saúde, a Igreja também foi atuante em Caraguatatuba. O pároco da Matriz, padre Américo Virgílio Andriozi doou na década de 1950 o terreno onde hoje está a Casa de Saúde Stella Maris. Os fiéis da Paróquia também arrecadaram verbas para o início da construção, repassando o que tinham as irmãs Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, que administram o Hospital. EDUCAÇÃO E AUXÍLIO Outra contribuição importante da Igreja Católica para a comunidade local foi na Educação, pois eram poucas escolas. A maioria dos alunos (pobres) dividia

Arquivo Pessoal/Clébia Maziero

Ação Social desenvolvida pela Paróquia de Santo Antônio auxilia famílias carentes na década de 1990.

Um Esboço da História | Agosto de 2013

25


Fotos: Marcelo Souza

o tempo entre os estudos e a ajuda aos pais para aumentar a renda da família. E por isto, muitos precisavam fazer reforço escolar, oferecido na Paróquia Santo Antônio. Maria Tereza Miranda da Silva lembra que sua mãe foi professora na Matriz. “Antigamente não tinham tantas professoras e a igreja selecionava voluntárias interessadas em ensinar. Minha mãe Maria Borges Miranda, foi uma das mulheres que ajudou muitas crianças a compreender as primeiras letras. As aulas eram na Igreja”, conta. Nas décadas de 1950 e 1960, teve aula de costura no grupo integrado por Haidée, Antoninha, Ciloca, Ana Fachini e outras senhoras. O livro tombo de 1962 registra que houve Jardim de Infância na

26

Paróquia, e que as atividades foram interrompidas com a saída da irmã responsável. Mais tarde, a professora Presciliana Leite de Castilho voltou a desenvolver a atividade em caráter particular. Mais recentemente foi feito na Matriz um cursinho preparatório para vestibulandos terem acesso à universidade. Houve também capacitação para professores ministrarem o Ensino Religioso nas escolas. Em 1972 teve a inauguração do “Centro Social Nossa Senhora do Cenáculo”, que funcionou como semi-internato. A finalidade era instruir e proteger meninas de 08 a 17 anos As irmãs Maria Angélica e Maria José, responsáveis pelo trabalho filantrópico e caritativo, ensinavam atividades manuais, culinária e religião as jovens que eram preparadas para a vida familiar

Clébia Maziero veio morar em Caraguá na década de 1960. Desde então adotou a Santo Antônio como sua Paróquia. Nos livros tombos constam os registros mais importantes da Paróquia Santo Antônio.

e social. Com o encerramento do Centro Social, o trabalho passou a ser realizado por pastorais. ZELO Recentemente a Igreja passou a cuidar da formação do homem como propôs o Documento do Concílio Vaticano II. Na Matriz de Santo Antônio, os trabalhos visam estimular a dignidade das pessoas e daqueles que estão à margem da sociedade, como ocorreu no grupo da Ação Social. Apesar de ter atuado junto à comunidade entre os anos de 1995 a 1998, as atividades realizadas pela Ação Social, até hoje são lembradas pela população. Sob a orientação do padre João Chungath, o grupo presidido por Maria Clébia Ivo Maziero teve início com 12 mulheres que integravam o Clube Social da Mulher. Clébia se recorda que juntamente com outros movimentos da Igreja, entre eles os Vicentinos, realizavam cadastramento, faziam visita às famílias, davam encaminhamentos, distribuam alimentos, entre outros “recursos para promoção humana dos assistidos como indicação de emprego, cursos, remédios e demais ações sociais”. As mulheres se reuniam na igreja para costurar e organizar as ações em favor dos mais carentes. “Fazíamos roupas, costura e bordado o ano inteiro. Juntávamos isto e mais os cobertores e mantas para distribuir aos carentes no Dia de Santo Antônio”, confirma. Segundo registros, no Natal de 1996 a Ação Social organizou uma festa para 150 crianças carentes que receberam presentes e doces. O dinheiro para o evento foi arrecadado nos bazares da pechincha e bingos. Doações em dinheiro também


eram recebidas e o excedente entregue “a equipe de Santo Antônio que utilizada a verba para comprar alimentos e melhorar as cestas básicas”, conta Clébia. Hoje as ações desenvolvidas pelas Pastorais contribuem para a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. Exemplos disso são os trabalhos da Pastoral da Sobriedade que ajuda e orienta dependentes químicos e familiares. Já a Pastoral da Saúde sensibiliza as pessoas a respeito do sofrimento do outro, promove dignidade ao enfermo, por meio de um

trabalho humano, ético e cristão. Na Pastoral do Idoso o serviço desenvolvido não é diferente. Ao promover a integração dessas pessoas por meio de eventos, passeios e atividades diversas, busca estimular a velhice ativa e sua interação com as outras gerações, valorizando a história de vida, as experiências e a espiritualidade do idoso. Outro trabalho que demonstra a dedicação e preocupação para com os pobres é o feito pelos Vicentinos, que por muitos anos ficou sob os cuidados de Olímpio Arquivo Pessoal/Clébia Maziero

Cestas básicas eram reforçadas com alimentos comprados pela Paróquia. Na foto: segunda da direita para a esquerda: Clébia Maziero e colegas da Ação Social.

José de Oliveira. Mensalmente eles arrecadam alimentos e roupas para doar as famílias assistidas (menos favorecidas) de Caraguá. fÉ E POLÍTICA A conscientização política também está presente neste trabalho por meio da Pastoral da Campanha da Fraternidade, que propaga o tema anual com o intuito de conscientizar a população sobre questões importantes que refletem a preocupação da igreja. Além disso, no ano de 2004, a Pastoral Fé e Política, organizou um debate com os três candidatos ao Executivo Municipal. O evento ocorrido no salão paroquial teve a presença de 250 pessoas, entre lideranças, padres, convidados e imprensa. Já na Praça da Matriz, mais de duas mil pessoas acompanharam o debate pelo telão. Dois anos antes, os fiéis juntamente com os catequizandos do Crisma receberam a cartilha “Voto não tem preço... tem consequências”, na qual trazia orientações de como escolher com responsabilidade seu candidato, contudo sem ser político ou partidário. O material fui objeto de leitura e discussão entre os crismandos. Nas eleições, o trabalho desenvolvido demonstrou um amadurecimento das pessoas em relação à escolha dos candidatos. A MATRIZ HOJE A Matriz Paróquia de Santo Antônio sempre desempenhou papel importante nas comunidades católicas da cidade. Administrada pelo pároco padre Marcos Vinícius Rosa, com o auxílio do vigário, padre Luiz Ernesto Santos, os trabalhos das pastorais, movimentos e grupos colhem frutos no campo espiritual e social. Para melhor funcionalidade, padre

Um Esboço da História | Agosto de 2013

27


Arquivo Pessoal/Clébia Maziero

Cestas básicas eram reforçadas com alimentos comprados pela Paróquia. Na foto: segunda da direita para a esquerda: Clébia Maziero e colegas da Ação Social.

Marcos dividiu seus serviços em três núcleos a qual denomina Pastoral de Conjunto: Litúrgico, Catequético e Social/ Pastoral. No núcleo Litúrgico, estão os integrantes do Dízimo, Coroinhas e Cerimoniários, Ministros e Liturgia. O núcleo Catequético compõe a Pastoral da Infância e Adolescência Missionária, Crisma, Juventude, Catequese, Catequese com adultos (RICA), Apostolado da Oração, Renovação Carismática Católica (RCC) e a Escola de Teologia. Já as ações do núcleo Social/Pastoral, são integradas pela Acolhida, Campanha da Fraternidade, Comunicação, Pastoral da Criança, Eventos, Idoso, Vicentinos e Encontro de Casais com Cristo (ECC), Legião de Maria, Fami-

28

liar, Saúde, Sobriedade e Mãe Peregrina. Além orientar as pastorais, a Matriz Paróquia de Santo Antonio é responsável pela manutenção espiritual e estrutural das comunidades Divina Providência (Rio do Ouro), que abriga moradores de rua; Capela Nossa Senhora das Graças (Rio do Ouro); Capela São Francisco de Assis (Ponte Seca); Capela São Vicente de Paulo (Asilo Vila Vicentina - Centro) e Capela Nossa Senhora do Rosário (Hospital Stella Maris). As decisões do que fazer, tanto na Matriz como nas comunidades, são tomadas por integrantes do Conselho Pastoral Paroquial (CPP), responsável gestão da Paróquia, que se reúnem uma vez por mês

para debater as providências para o bom andamento da vida pastoral. NOVOS TEMPOS A história revela que a Igreja sempre amparou o povo nos mais diferentes aspectos. O ministro da eucaristia, Brás Custódio, opina que: “A Matriz sempre foi à mãe que deu assistência espiritual e financeira as outras paróquias da cidade. Poucos conhecem este papel. Nossa igreja não teve apenas a missão de cuidar da religiosidade do povo, mas se debruçou nas questões sociais. O trabalho feito no século XVII, na então Capela de Santo Antônio, hoje é colhido diariamente para que homens se mantenham na fé de Jesus Cristo”.


mulheres de fé

O Apostolado da Oração lugar de minha mãe como zeladora, devido ao seu falecimento em 30/08/1947”. As zeladoras ajudavam na limpeza da igreja e até levavam para suas casas as toalhas do altar para lavar. Nos 52 anos que atuou fervorosamente, Maria Conceição exerceu diversas funções, só abdicando do cargo quando a doença não mais permitia. “Entreguei então a nossa presidente Haidée a documentação e passei meu cargo”, como consta no diário. Nanette Sukow de Oliveira ingressou no Apostolado em 1948. Hoje, com 82 anos, relata que as reuniões acontecem toda primeira sexta-feira do mês com missa. “Na época, vó Mariquinha fazia as atas, pois era secretária. Eu fui tesoureira por muitos anos. [As doações] eram (sic) moedinhas que colocávamos na ata”, e complementa: “O uniforme usado na época era um vestido preto e hoje foi substituído por camiseta branca”. Ela conta que somente as casadas podiam ingressar, pois participar do Apostolado da Oração caracterizava respeito. “Casei-me no dia 8 de setembro 1948 e já no dia 12 ingressou no grupo. As mulheres de família tinham que casar e fazer parte do Apostolado”, afirma Nanete. O trabalho realizado por estas mulheres suscitou várias outras atividades dentro da Igreja, sempre com base na oração.

Trecho do diário de Maria Conceição Pacheco que ingressou no Apostolado em 1947

Imagens: Arquivo Pessoal/ Ercília Carlota

O

relacionamento entre homem e Deus é um dos pontos mais marcantes das funções da Igreja. A espiritualidade aproxima o cristão do sagrado. O Apostolado da Oração, movimento de leigos que propaga a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, chegou ao Brasil pelas mãos do padre Bento Schembi, em 1867, na cidade de Recife/PE. Em 1871 se expandiu devido ao trabalho do padre Bartolomeu Taddei, da cidade paulista de Itu. Em 1913, o movimento já reunia mais de três milhões de devotos em aproximadamente 1400 cidades de todo país. O movimento completou 100 anos de Brasil, em 2012. Em Caraguatatuba, estima-se que as primeiras reuniões das mulheres devotas do Sagrado Coração de Jesus tenha se iniciado na década de 1930, na Matriz de Santo Antônio. Esta suposição tem como base o documento de “admissão” de Hercília Alves de Oliveira, datado de junho de 1937. As mulheres se reuniam para oração e intercessão pela comunidade e Igreja. Ás páginas do diário de Maria Conceição Pacheco, falecida em 2007, revelam a importância do trabalho do Apostolado da Oração para suas integrantes. Muitas seguiam os passos das mães, como relatado no diário: “Entrei para o Apostolado a pedido do frei Pacífico que falou para eu ficar no

Diploma de Zeladora e Carteirinha de Admissão de Hercília de Oliveira no Apostolado de Oração da Paróquia Santo Antônio

Um Esboço da História | Agosto de 2013

29


centenário da cidade

A MATRIZ NO CENTENÁRIO

1a fila, da esquerda para a direita: bispo Idílio José Soares, prefeito Altamir Tibiriçá Pimenta, monsenhor Sampaio, padre Joaquim Clementino Leite, padre Nivaldo V. dos Santos 2a fila: monsenhor João Leite, Sr. Benedito Vicente dos Santos, monsenhor Benedito Vicente dos Santos Junior e monsenhor Francisco Lino, chanceler do bispado.

30

M

issa campal com o bispo diocesano, iluminação festiva da cidade e da fachada da Igreja Matriz de o Santo Antônio, 1 campeonato municipal de futebol, espetáculo pirotécnico na praia, baile de gala, cinema ao ar livre nos bairros, demonstrações de televisão em praça pública, inauguração da Rádio Oceânica e distribuição da “Revista Fagulhas” – edição do Centenário de Caraguatatuba. Tudo isto integrou o Programa do Aniversário de 100 anos de Caraguatatuba, completados no dia 20 de abril de 1957. O vigário da Igreja Matriz de Santo Antônio, padre Joaquim Clementino Leite, celebrou uma missa campal com a presença de todas as associações religiosas da paróquia às 9 horas da manhã do dia 21 de abril. No livro do tombo da Matriz, consta o que estava acontecendo na igreja de Santo Antônio naquele mês de abril: “Várias obras primas e de assistência social vem sendo atacadas pelo zeloso pároco de Caraguatatuba [padre Joaquim], destacando-se no momento a ampliação da atual Matriz que irá ficar com o dobro do espaço”.

O bispo da época, Dom Idílio José Soares, da Diocese de Santos (a qual a Matriz de Caraguá fazia parte), também participou das festividades de 1957. Ele chegou à cidade na tarde do dia 27 de abril e, já à noite participou da sessão solene na Câmara Municipal. Na manhã do dia 28 de abril, o bispo diocesano celebrou outra missa solene. Revista Fagulhas - O “Programa das Comemorações da Semana do Centenário de Caraguatatuba, de 20 a 28 de abril de 1957”, foi publicado na íntegra na Revista Fagulhas, de Taubaté, que lançou uma edição histórica do Centenário de Caraguá, a qual foi possível relembrar estes fatos. Neste Programa consta que no dia 20 de abril teve hasteamento de bandeiras pelo prefeito Altamir Tibiriçá Pimenta e outras autoridades, bateria de 100 tiros na praia, retreta (apresentações culturais) no Coreto da Praça, e iluminação em ruas da cidade e na fachada da igreja. No dia 21, além da missa campal com o pároco, teve “imponente espetáculo pirotécnico na praia” e baile de gala no Praia Hotel em homenagem aos visitantes sob os acordes do Jazz Municipal. O Sr. Luiz Caramurú Nogueira também realizou demonstrações de televisão em praça pública. No dia 28, foi inaugurado o monumento ao engenheiro João Fonseca, na Praça da Caputera, futura Praça I Centenário, e espetáculo de gala na sucursal do Clube das Américas, na Ponta da Praia, onde foi exigido traje a rigor nas cores branco, azul marinho ou preto. Também teve “Marche au Flameaux” patrocinado pelos professores do Ginásio Estadual local e a Congada se apresentou nos dias 21, 27 e 28. Entre estes dias, foi inaugurada a Rádio Oceânica. Tudo isto demonstra que, há 60 anos atrás, Caraguá já era uma cidade ativa e com grandes eventos.


Reprodução Arquivo Público Municipal

nasce um hospital

DOAÇÃO A FAVOR DA SAÚDE DO POVO O Hospital Stella Maris foi inaugurada oficialmente no dia 24 de maio de 1952

Reprodução Revista Fagulhas

redouras, desfez-se de todos os seus lares em doações várias ao Instituto das Pequenas Missionárias que foi então dado um grande terreno na estrada Caputera. Nele foi iniciada a construção da Santa Casa local, pois a grande lacuna de Caraguatatuba e cidades circunvizinhas era a completa ausência de assistência hospitalar”. O texto da Revista continua: “No dia 24 de maio de 1952 era inaugurada uma grande parte da Santa Casa que, embora incompleta, já abrigava muitos enfermos. Após três anos, no mesmo dia 24 de maio, a mercê de Deus e graças à generosidade dos caiçaras e amigos do litoral, inaugurou-se um novo Pavilhão. Nestes anos tem a Santa Casa local desenvolvido grande trabalho de assistência aos enfermos pobres”. Reprodução Arquivo Público Municipal

As irmãs do Instituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, que sob a direção de Madre Maria do Sagrado Coração (centro da 2a fila), administram a Casa de Saúde Stella Maris - Santa Casa de Caraguatatuba.

A

té hoje Rosalva Oliva de Almeida Garcia, 75 anos, lembra que em 1947, junto com sua irmã e um grupo de amigas da Paróquia Santo Antônio, encenaram uma peça de teatro e arrecadaram 800 mil réis para o alicerce da Santa Casa. A peça era sobre a vida de Santa Margarida Maria de Alacoque, uma santa italiana que viu o Sagrado Coração de Jesus. “Minha irmã Terezinha Miranda interpretou a Santa Margarida, a Cidinha encenou o demônio e eu ajudei na preparação da peça. Lembro que o irmão São Francisco de Sales trabalhou muito para a construção do Hospital Stella Maris. Fizemos pedágio para arrecadar dinheiro”, confirma Rosalva. Além das verbas arrecadadas pelas jovens, outro personagem importantíssimo na criação do primeiro hospital de Caraguá, foi o padre Américo Virgílio Andriozi, que com a herança que recebeu de sua família estrangeira, comprou o terreno para a construção da Casa de Saúde e doou para as irmãs Missionárias de Maria Imaculada. O lançamento da pedra fundamental da construção ocorreu no dia 10 de julho de 1949. A Revista Fagulhas, publicada em 1957, relembrou que: “Nasceu esta obra do coração nobre e humilde de um desprendido sacerdote, o padre Américo Virgílio Andriozi que, não buscando senão riquezas imor-

Casa de Saúde na Catástrofe de 1967

Estes relatos e registros mostram a importância da Matriz de Santo Antônio na construção e nos primeiros anos de funcionamento do hospital. As irmãs missionárias, além de desempenharem papel relevante nos cuidados com os enfermos, foram e são ativas nos trabalhos da Paróquia. Um Esboço da História | Agosto de 2013

31


eventos religiosos

FESTEJANDO NOSSO PADROEIRO

S Fotos: Pascom/Matriz Santo Antônio

Imagens da 160a Festa de Santo Antônio (2013)

32

enão a única, Caraguatatuba é uma das raras cidades brasileiras a aprovar uma lei municipal (em 2003) que dedica o mês de Junho a Santo Antônio. A devoção do povo caiçara pelo Santo foi crescendo com o passar dos anos e a Festa do Padroeiro se consolidou como uma das mais prestigiadas e tradicionais da região. São 160 anos de Festa de Santo Antônio completados em 2013. A Programação atual conta com trezena, casamento comunitário, bingo, procissão, benção de pães, caminhada até o Morro onde acontece a missa campal no dia 13 de junho, e de onde o piloto José Mário salta de asa delta, tendo em suas mãos a imagem do santo que abençoa a cidade. No passado e no presente, a festa do padroeiro sempre foi regada de muita fé, devoção, fraternidade e alegria. Antes, a festa se resumia a quermesse divertida com barraquinhas de comidas típicas e leilões feitos com as prendas arrecadadas pelos casais festeiros. “Na voz do leiloeiro Dito Germano, um caiçara rústico, os prêmios ganhavam vida. O povo dividia bezerro, garrafa de vinho, frango...”, relembra João Oliveira, o Jotta (com dois tt mesmo), 74 anos. Os antigos leilões deram lugar à ação entre amigos que sorteia carros zero quilômetros, motos e outros prêmios bons. A população comparece não só para o bingo, mas para se deliciar com o bolinho caipira, doces, guloseimas e beber vinho quente. A

renda é revertida em benfeitorias da paróquia e para os trabalhos das pastorais. É costume durante a festa, os fiéis fazerem a campanha do quilo, arrecadando mais de 2.000 quilos de alimento não perecível distribuído a comunidades carentes. As senhoras se revezam “horas a fio” nas tardes que enrolam o tradicional bolinho caipira, sob a direção de dona Jane, escondem o cansaço com o sorriso no rosto. “Tudo é feito para que a festa seja um sucesso”, revela Maria de Lourdes Buono. Todas as pastorais colaboram, trabalhando no bingo, na venda de cartelas, na cozinha e no balcão. Outro momento esperado da Festa do Padroeiro é a hora de cortar o “Bolo de Santo Antônio”, confeccionado por dona Inês, Jane e Equipe de Eventos, que preparam mais de 500 pedaços de bolo, que sob ‘benção’, no dia 13 de junho, é vendido a preço simbólico. A Paróquia também já fez “Bolo dos Namorados”, reforçando a crença do povo no “santo casamenteiro”, este, entregue no dia 12 de junho. PEREGRINAÇÃO DA IMAGEM E TREZENA LITÚRGICA Em 1997, a Peregrinação da Imagem de Santo Antônio nas comunidades pertencentes à Paróquia, aconteceu nos festejos que antecederam a Trezena Litúrgica. A imagem saiu da Matriz, percorreu cada dia uma comunidade, acompanhada de oração, fogos e devotos.


Notícia do 1 o Casamento Comunitário realizado na Matriz em 1998 e, abaixo, os três casais que se uniram sob as bênçãos do padre João Chungath

As missas da Trezena da Litúrgica, até a década de 1980, eram, cada dia, da responsabilidade de um segmento da sociedade como famílias tradicionais, comerciantes, escolas, entidades beneficentes e pastorais. Hoje, há sorteio de uma pequena imagem de Santo Antônio, aos fiéis presentes em cada um dos treze dias de oração.

festas são mais divulgadas e longas. Teve um ano que foram 23 dias de festa”. Já Zezinho, o José Matias, lembra que fez muito bolinho caipira com a receita de Ana Fachini, que inclusive hospedava muitos padres em sua pensão. “As festas de Santo Antônio sempre foram alegres”. O livro tombo da Matriz revela que em maio de 1984, na Festa do Padroeiro foi

Arquivo Pessoal de Clébia Maziero

CASAMENTO COMUNITÁRIO E OUTROS REGISTROS Rosalva Garcia, 75 anos, lembra que na década de 1940, com o frei Pacífico Wagner, a Festa do Padroeiro se estendia até o chafariz da praça. “Na época dos padres João, Caetano e André começaram os bingos. O padre Jacob fez grandes quermesses e incentivou o retorno da distribuição do bolo de Santo Antônio depois da missa das oito da manhã, no dia do padroeiro”, confirma. “Nas festas de Santo Antônio as barraquinhas eram montadas em frente à Igreja e sempre contávamos com a colaboração dos paroquianos e comerciantes. Quem preparava a festa eram os Festeiros de Santo Antônio. Eu e meu marido, Benedito Pinto de Faria, fomos festeiros. Os preparativos começavam três meses antes e arrecadávamos prendas como ventiladores, fogões e geladeiras. Terminada a festa, o padre já sorteava os casais festeiros do próximo ano”, revela Terezinha Miranda. A festeira Terezinha continua: “A barraca mais famosa da festa era do coelho. Todos se divertiam porque era um monte de buracos e tinha que adivinhar onde o coelho ia entrar. A barraca da pesca também era bem famosa. Nas apresentações culturais sempre tinha Congada, Folia de Reis e levantamento do mastro”, lembra. Brás Custódio explica que as festas do padroeiro duravam poucos dias. “Hoje as

PARA OS NAMORADOS, CARAGUÁ DE SANTO ANTÔNIO SE APRESENTA COMO LUGAR PARA CONVIVER E CONSOLIDAR UMA PAIXÃO; PARA OS NOIVOS, É O LUGAR PARA PEDIR BENÇÕES AO CASAMENTO “PRESTES A ACONTECER”; AOS RECÉM-CASADOS, É O LUGAR IDEAL PARA A LUA DE MEL; PARA OS CASADOS, É UM LUGAR PARA ESTIMULAR O CONVÍVIO E PROPICIAR PAZ E REFLEXÃO. PARA QUEM QUER UM NAMORADO, É O LUGAR IDEAL PARA PEDIR A SANTO ANTÔNIO.

Um Esboço da História | Agosto de 2013

33


Fotos: Arquivo PMC

O MELHOR PROGRAMA DE JUNHO É CURTIR O MÊS DE SANTO ANTÔNIO DE CARAGUATATUBA. UMA DAS FESTAS MAIS BONITAS E ANIMADAS DA REGIÃO. TEM ATRAÇÃO PARA TODA A FAMÍLIA COM BARRACAS DE COMIDAS TÍPICAS, BINGO COM SORTEIO DE CARRO 0 KM, PROCISSÃO, CASAMENTO COMUNITÁRIO, CAMINHADA E MISSA CAMPAL NO MORRO COM VISTA PANORÂMICA DA CIDADE. Fiéis se deliciam na barraca de doces (acima) e se divertem no bingo (ao lado) na Festa de Santo Antônio

realizada uma quermesse no pátio da igreja, de 04 a 12 de junho. Anos depois, a Festa de 1993 foi marcada pela simplicidade e colaboração, segundo um dos organizadores, Antônio Francisco de Moura: “A Festa do Santo Antônio, apesar da chuva, teve participação cheia, alegre e de comunhão, materialmente um resultado acima das expectativas”. Em 1998, teve peregrinação do Santo pelas comunidades pertencentes à Paróquia, até as mais longínquas, com coordenação na parte social de Vantuilde Ferreira e Ana Maria. Foi realizado o primeiro casamento comunitário (unindo três casais, entre eles Néia e Guilherme), até então fato inédito na Festa de Santo Antônio. No ano de 2000, o casamento comunitário destinou-se a casais de todo o município e não somente da Paróquia. A Festa do Padroeiro teve oito equipes e aconteceu no salão da Igreja (e não na Praça de Eventos). Em 2003, o casamento comunitário rendeu

34

Moção de Congratulações na Câmara de Caraguá ao pároco vigente, Pe. Jacob Puthenkandam, devido “a sensibilidade e criatividade de tornar possível às pessoas mais simples, a realização do sonho de casar”. Nos últimos dez anos, a festa do Padroeiro de Caraguá foi incrementada com concursos de trovas, apresentações de esquetes teatrais, edição do livreto “Lendas de Santo Antônio” que apresentou histórias populares sobre o santo em sua “vida” na região, seminário com historiadores, procissão marítima que reviveu o costume dos fiéis virem de longe para participar da festa do padroeiro. SEMANA SANTA E FESTAS RELIGIOSAS A Paróquia de Santo Antônio, por ser a primeira da cidade, sempre realizou festas do Coração de Jesus, de outros santos e procissões. Seus paroquianos participam, por exemplo, da Encenação da Paixão de Cristo, iniciada em 2006, durante a Semana Santa, na Praça de Eventos, envolvendo 150

atores. A Procissão de Corpus Christi, tem o Cristo Eucarístico “levado” pelas ruas centrais, abrindo caminho para, dias depois, passar a imagem do padroeiro. “Meu pai Benedito de Moura trazia a areia para fazer os tapetes da Semana Santa. Eu estudava no Thomaz Ribeiro de Lima e valia nota acordar cedo para fazer os tapetes. São 25 anos de ‘confecção’ de tapetes de rua. É muito gratificante”, revela Adriana de Moura, 40 anos. Outra personagem fiel da Semana Santa em Caraguá é “Verônica”, mulher que enxugou o rosto de Jesus no caminho do calvário. Há 44 anos, Ercília Carlota interpreta Verônica: “Comecei em 1969, quando o viário era o monsenhor Airan. Depois passei a cantar nas missas de domingo na Matriz e faço isto há 30 anos. Fui ‘filha de Maria’, uma congregação de moças na década de 1960 e participávamos das procissões com o vestidos iguais do uniforme”, rememora.


Fotos: Arquivo Público Municipal / PMC

Procissão de Corpus Christi

Um Esboço da História | Agosto de 2013

35


Fotos: Arquivo Público Municipal

matriz na catástrofe

TREZE HORAS DE SILÊNCIO E DEVOÇÃO

J

Matriz na década de 1960.

Família de Caraguá vai ao Santuário de Aparecida pagar promessa por ter sobrevivido a Catástrofe

36

á se passaram 46 anos. Os moradores antigos de Caraguatatuba lembram do dia 18 de março de 1967, quando a cidade foi arrasada por uma Tromba D’Água que provocou centenas de mortes. A Serra do Mar avançou sobre os bairros Rio do Ouro, Centro, Jaraguazinho, Poiares, Caputera, Ponte Seca, Estrela D’Alva, Indaiá e outros, despejando toneladas de lama e vegetação. O Rio Santo Antônio teve suas bordas alargadas de 40 metros para 200 (fotos à direita e abaixo). Foram treze longas horas de silêncio e isolamento, até que o radioamador Thomaz Camanis Filho conseguiu comunicação com a cidade de Santos. A partir daí, o estado, o país e o mundo se comoveram. Muitos alimentos, roupas, medicamentos e ‘gente nova’ chegaram à cidade. A dor deu lugar ao esforço de muitos fiéis que ajudaram a reconstruir a cidade. Neste período, o pároco José Almeida dos Santos abriu as portas da Igreja Matriz de Santo Antônio, acolheu os desabrigados, doou alimentos, roupas e ofereceu conforto espiritual. Terezinha Miranda, do Quincas, confirma que na Catástrofe o volume de água e lama no Rio Santo Antônio era tão grande que podia ser visto da porta de sua casa. “Eu coloquei mais de 100 pessoas na minha casa e lembro que a Matriz ajudou bastante. A água não chegou à Igreja, mas aqui se tornou um ponto de apoio aos desabrigados”, confirma. Brás Custódio morava na Rua Engenheiro João Fonseca e teve que deixar a

sua casa para se deslocar a parte mais alta da cidade, abrigando-se com a esposa Elza Gomes Custódio e a filha Isabel Cristina, de seis meses, na escola Adaly Coelho Passos, onde hoje fica o Museu. Segundo ele chovia há dias e se a ponte não tivesse rompido a tragédia teria sido maior. “A mão de Deus fez com que a ponte do Rio Santo Antônio fosse carregada pela lama, sobrando só o prédio do Hospital (vide foto na página 38). Todos foram solidários. Passamos a noite na escola e voltamos para casa no outro dia. Umas 200 pessoas permaneceram no Adaly”, relata Brás. Três dias depois da Tromba D’Água, Brás ajudou a resgatar pessoas ilhadas no Jaraguazinho. “Tinha um menino de um ano que trouxemos no braço, hoje ele é adulto. Com fé e ajuda dos fiéis, a cidade foi reconstruída. Abaixo de Deus, só Santo Antônio. Aqui em Caraguá, tudo gira em torno do Santo Antônio. O nome da


O Rio Santo Antônio teve suas bordas alargadas de 40 metros para 200. Ainda na foto vê-se a Casa de Saúde Stella Maris à esquerda.

cidade já foi e deveria permanecer Santo Antônio de Caraguatatuba, pois de forma simples, foi graças a ele que nos reerguemos”, confirma. Zezinho, como é conhecido José Matias dos Reis Junior, também lembra que a Igreja Matriz acolheu muita gente na

tragédia, inclusive pessoas de outras religiões. “Minha casa era a única que tinha telefone e ficava perto do atual Supermercado Silva, no Sumaré. Pouco antes da Serra desabar, Mariazinha tinha ido para a casa telefonar. Foi muito rápido, quando saímos na porta de casa, vimos o morro caindo e o barro descendo. Ao ver aquela tragédia pensei comigo: o mundo está acabando. Vou encontrar meu pai (falecido) no céu. E fiz uma oração. Como minha casa era mais alta e não tinha alagado, minha família pode acolher alguns idosos”, confirma. RELEMBRANDO A HISTÓRIA Durante as semanas que antecederam o dia 18 de março de 1967, choveu o correspondente a três meses na cidade. Naquele sábado de aleluia os moradores de Caraguatatuba não dormiram. O céu

escureceu mais cedo do que o normal. Por volta das quatro da tarde, o dia virou noite. Um estrondo forte foi ouvido e sentido pelos moradores. Era a primeira barreira na Serra do Mar que desmoronava. Não deu tempo de quase nada. A chuva de granizo tinha encharcado o solo da vegetação sem raízes profundas. Uma “avalanche” de árvores caídas, troncos enormes, lamaçal e muita água “rolou serra abaixo”, dizimando grande parte da cidade. A ponte do Rio Santo Antônio, próxima ao Hospital Stella Maris, acumulou os troncos e, por isso, a lama com água começou a se desviar invadindo bairros, até que a força das águas rompeu a ponte, abrindo caminho para o lamaçal chegar ao mar. A população que sobreviveu, passou sede, fome e frio nos primeiros dias após

Ponte provisória no Rio Santo Antônio. Um Esboço da História | Agosto de 2013

37


Fotos: Arquivo Público Municipal

O SENTIMENTO DE TRISTEZA PROFUNDA SE UNIU COM A VONTADE DE VIVER DOS SOBREVIVENTES. CHEGARAM ALIMENTOS, CAIXAS DE REMÉDIOS, GALÕES DE ÁGUA, ROUPAS, CALÇADOS E TUDO O QUE OS FLAGELADOS PRECISAVAM. o episódio. A rodovia de acesso estava tomada pela lama e formaram-se bolsões de veículos na Serra, entre uma barreira e outra. O número oficial de mortos foi 197 mortos, mas nunca se saberá ao certo quantas pessoas perderam suas vidas com a tromba d’água. Muitos corpos foram arrastados para o mar, outros soterrados sem deixar pistas. Cerca de 3.000 pessoas ficaram desabrigadas e 400 casas desapareceram. Calcula-se a queda de 30 mil árvores e 5.000 troncos. Foi necessária a ajuda da Marinha, Exército e do Governo do Estado de São Paulo para a cidade tornar a crescer.

O espírito de solidariedade invadiu a cidade.

38

Por milagre, o Hospital Stella Maris não foi levado na Catástrofe.


turismo

UM CASO DE AMOR E FÉ

A estreita relação de Caraguá com seu padroeiro, Santo Antônio

É Fotos: Marcelo Souza

evidente a vocação de Caraguá tem para o turismo. É uma cidade presenteada pela natureza, com profundas raízes capazes de propiciar condições para o amor, a união e a melhoria de vida a todos que a visitam. Semelhanças da história da cidade com a vida de Santo Antônio são tidas como um dom pela população. Não é por acaso que mais de 200 cidades brasileiras têm Santo Antônio como pa-

droeiro. No entanto, Caraguá se diferencia das demais cidades por causa de sua vocação turística cultural e religiosa, sustentada por autênticas edificações, como a Igreja Matriz, e outros atrativos naturais como o Morro, o Rio, e o Mês de Julho dedicado a Santo Antônio. Esta relação de cumplicidade pode ser conferida na história de vida de Nanete Sukow de Oliveira, 82 anos, que veio morar em Caraguá ainda criança. Na Igreja ela se

casou em 1948 com Melquíades de Oliveira, hoje com 92 anos. Fez questão de batizar os quatro filhos e foi onde eles fizessem primeira comunhão e crisma. “A Matriz de Santo Antônio sempre foi o principal ponto turístico da cidade. Tenho amor por esta igreja. Desde a década de 1940 participo de trabalhos sociais e do Apostolado da Oração. Faria tudo de novo”, revela Nanete. A confirmação que a Matriz realmente é um dos principais pontos turísticos da cidade também está registrado no livro tombo de dezembro de 1987 que confirma a presença de grande número de turistas visitando a Igreja, o que alterou sua rotina. PRIMEIRA CAPELA - MARCO ZERO A primeira capela dedicada a Santo Antônio não foi a Matriz teria existido nas margens do Rio Santo Antônio, em frente ao atual Teatro Mário Covas, como conta o livro organizado por Jurandyr Ferraz de Campos (2000). EDIFICAÇÃO HISTÓRICA - MATRIZ Registros confirmam que a atual Igreja Matriz de Santo Antônio, localizada na Praça Cândido Mota, data do século XVII. O prédio atual tem no seu interior quatro painéis de azulejos pintados que retratam episódios da vida de Santo Antônio e encantam os turistas que a visitam. Saindo da igreja, a menor rua da cidade também recebeu o nome do santo.

Fachada atual da Igreja Matriz, um dos principais pontos turísticos da cidade. Acima à esquerda, Nanate Sukow. Um Esboço da História | Agosto de 2013

39


Foto: Bruna Vieira

Vista panorâmica do Morro Santo Antônio

Foto: Zé Mário/ High Fly Brasil

ESTÁTUA ANTIGA Durante décadas, procissões foram realizadas no trecho da Igreja Matriz até o Morro. Nelas, os fiéis carregavam nas mãos uma imagem do Santo. Já no Morro Santo Antônio foi erguida uma estátua do santo no final dos anos 50, com cerca de 1,40 m de altura sem contar a base (foto abaixo). A imagem era bastante visitada por peregrinos que vinham cumprir promessas e participavam da procissão durante a festa do padroeiro. José Matias dos Reis Junior, o Zezinho, fica admirando o Morro da porta de sua

40

JUNHO EM CARAGUÁ COM A PROTEÇÃO DE SANTO ANTÔNIO. PODE TRAZER AS ALIANÇAS QUE AS BÊNÇÃOS ESTÃO GARANTIDAS.

Fotos: Arquivo Público Municipal

MORRO SANTO ANTÔNIO Com 373 metros de altitude, o Morro Santo Antônio propicia a vista panorâmica mais linda de Caraguá. De lá, avista-se o Centro com seus novos prédios, toda a baía, a Praia do Camaroeiro colorida pelos artesanais barcos de pesca, a Praia Martim de Sá e o imenso verde da Fazenda Serramar. Desse lugar, pilotos de voo livre utilizam as duas rampas do Morro para saltar de asa-delta e paraglider. A estrada de acesso foi pavimentada em 2008, com concreto simples nos 2,5 Km de extensão, recebeu bancos, lixeiras, drenagem, colocação de guias, sarjetas e galeria de águas pluviais. A caminhada até o topo do Morro leva cerca de 40 minutos. Quem vai de carro gasta apenas 15 minutos.

casa. “A construção da primeira imagem veio para trazer alegria e mostrar a devoção do povo”. Esta primeira estátua acabou danificada e foi retirada na década de 90 com a promessa de ser substituída por uma nova imagem projetada por artistas plásticos, após a realização de um concurso promovido pela Prefeitura. O concurso foi realizado e deu vitória a Mieko Ukeseki, mas o resultado não foi respeitado, pois o Morro ganhou outra estátua recentemente.

Antiga estátua de Santo Antônio no Morro foi erguida no final dos anos 50, sendo bastante visitada por peregrinos que vinham cumprir promessas. À direta, grupo de jovens, na década de 70.


Peregrinação no caminho do Morro Santo Antônio por ocasião da missa campal no dia do padroeiro, 13 de julho.

suscita a curiosidade. Num único domingo mais de 300 turistas visitam o local. A pavimentação facilitou o acesso e aumentou o número de praticantes de voo livre”, relatou na época da inauguração da atual estátua, Karla Passos de Moraes.

Foto: Bruna Vieira

RIO SANTO ANTÔNIO Outro atrativo natural é o Rio Santo Antônio que corta trechos centrais da cidade. A orla do Rio foi reurbanizada e atrai pescadores amadores nos pequenos píeres. O trecho final passa em frente ao Teatro Mário Covas, onde teria existido a primeira capela dedicada ao Santo. Em 2003, tendo o Pe. Jacob Puthenkandam como pároco, ocorreu pela primeira vez a Procissão Marítima de Santo Antônio que cobriu o mar com embarcações, saindo da Praia do Massaguaçu até o Camaroeiro. Grande número de pessoas acompanhou em escunas e barcos de pesca. Já em terra, a imagem do Santo foi transportada em grande carreata até a Matriz. Foto: Bruna Vieira

ESTÁTUA ATUAL A atual estátua de Santo Antônio tem 16 metros, sendo iluminada a noite, e com projeção para ser vista por 80% da cidade. Foi inaugurada em 2008, sendo obra de Irineu Migliorini. No entanto, os fiéis ainda hoje pedem uma estátua que tenha como modelo a réplica de 200 anos que se encontra no altar da Igreja Matriz. “A imagem de Santo Antônio, por si só

O trecho final do Rio Santo Antônio passa em frente ao Teatro Mário Covas, onde teria existido a primeira capela dedicada ao Santo. Um Esboço da História | Agosto de 2013

41


na trilha da fé

OS CAMINHOS DO PADROEIRO

E

m 2004, o poder público com apoio da iniciativa privada discutiu a criação do “Caminho de Santo Antônio de Caraguatatuba”. Tratava-se de um percurso de caminhada por diversos bairros da cidade, passando por locais turísticos e históricos relacionados a Santo Antônio. Mas, o Caminho não foi viabilizado.

42

O fato é que estes pontos turísticos continuam sendo visitados pelos turistas. E, a intenção desta Revista Comemorativa foi mostrar, por meio do mapa ilustrativo abaixo, a vocação da cidade para desenvolver o turismo cultural-religioso. COMO SERIA O CAMINHO Os trechos do percurso seriam fei-

tos em dois dias de caminhada, com aproximadamente 25 Km por dia, passando por diversos tipo de solo: areia da praia, rochas costeiras, trilhas na Mata Atlântica, estradas rurais, paralelepípedos, bloquetes e asfalto. O percurso não tinha ponto de partida nem de chegada. Englobava uma área que vai da foz do Rio Juqueriquerê, na região sul até a Capela da


Santíssima Trindade, na Massaguaçu, região norte. O trecho principal

da peregrinação passava pelo local onde existiu a Primeira Capela e que receberia uma réplica. Seguia-se pelo Rio Santo Antônio que ganharia uma estátua do santo conversando com os peixes, refe-

rindo-se ao milagre da multiplicação dos peixes. Passaria pela Praia do Indaiá até a Catedral do Divino Espírito Santo, prosseguia ao Morro de Santo Antônio com a estátua e terminaria na Igreja Matriz. Os idealizadores do projeto foram inspirados em Caminhos como o

de Santiago de Compostela na Espanha, e no Brasil, entre tantos há o Caminho da Fé, com 350 quilômetros, de Águas da Prata a Aparecida do Norte (SP); e mais recentemente o Caminho Passos de Jesuítas - Anchieta, que vai de Peruíbe, passando por Caraguá até Ubatuba (SP), com 360 quilômetros.

Um Esboço da História | Agosto de 2013

43


CAMINHANDO

PELA HISTÓRIA 1

2

4

3

44

1. Frei Pacífico Wagner (ao centro), com os religiosos padre Daniel (à esquerda) e Umberto Peroni (à direita). 2 e 3. Em 1945 os caraguatatubenses saíram em procissão até a praça da Bandeira, passando pela rua Altino Arantes, para participar de uma missa campal, com registrou do fotógrafo Euzébio. 4. Anúncio com o Programa da Festa de Santo Antônio e São Benedito de 1950, tendo embaixo, o visto de frei Pacífico Wagner. 5. Meninos de 8 a 10 anos participaram da Cruzada Eucarística, da Paróquia de Santo Antônio, no final da década de 1940. Foto do arquivo de Nanete Sukow.

5

6

6. Recém casados posam para a foto, tendo aos fundos a Matriz com fachada da década de 1930. 7. A foto da lateral da Igreja Matriz de Santo Antônio revela


Os doze vitrais que ornamentam a Igreja Matriz de Santo Antônio foram instalados em 1945. Retratam trechos da vida do padroeiro e foram doados por várias famílias dentre elas: Antônio Corrêa; Joaquim Evilásio Amaral; Altamir Tibiriçá Pimenta; Hildebrando Leite dos Santos; João Garcia, Família Garrida e Família Oliveira. Posteriormente os vitrais se deterioram e se perdeu o nome das demais famílias que fizeram a doação.

No destaque, a Matriz de Santo Antônio, em 1938, tendo nos fundos o cemitério da cidade. 7

8

9

a casa paroquial que ficava no fundo da igreja e o espaço onde até 1948 funcionou o cemitério. 8. Na década 1940, frei Pacífico Wagner juntamente com

uma comitiva de fiéis fizeram romaria até Aparecida. 9. Na década de 1950 alunos da quinta série da professora Adaly Coelho Passos receberam a Primeira Eucarística. Um Esboço da História | Agosto de 2013

45


10

11

15 14

16

20

46

10. A foto de 1938 doada por Hirtes Fernandes ao Arquivo Público Municipal mostra a devoção dos caraguatatubenses ao padroeiro. A pequena igreja não comportava tantos devotos tendo muitos que participar da missa do lado de fora. 11. Frei Pacífico Wagner participa de uma festa em sua homenagem na Fazenda Poiares, oferecida por Eduardo Correa da Costa Junior. Na foto vemos o sacerdote ladeado pelo

17

21

prefeito Altamir Tibiriça Pimenta, do senhor Joaquim Evilásio Amaral e de suas respectivas esposas. 12. Cadeira principal no altar da Matriz feita pelo escultor mineiro Luiz e trazida para a Matriz de Caraguá pelo Jotta. Esta cadeira, inicialmente, seria usada pelo papa João Paulo II em sua visita ao Brasil. 13. Brás Custódio (à esquerda) relatou que a cruz loca-


12

13

18

22

lizada no altar central foi feita com destroços da Catástrofe de 1967. Já Jotta revela que a madeira da cruz foi retirada do telhado original da Matriz (numa das últimas reformas). 14. Padre ladeado por coroinhas momentos antes de iniciar a procissão de Corpus Christ, na década de 1970. 15. Fachada da Matriz após a reforma de 1949, sob os cuidados do frei Pacífico Wagner.

19

23

16: Os tapetes que enfeitam as ruas na festa de Corpus Christ iniciam na porta da Igreja Matriz e percorrem várias ruas do Centro de Caraguatatuba. Os tapetes são feitos de serragem de madeira colorida, pó de café, casca de ovo entre outros produtos. 17. No ano de 1998, as integrantes da Ação Social realizaram uma pequena homenagem ao padre João Chungath que deixava a Paróquia.

18. Padre Nino posa para foto juntamente com as integrantes do Ação Social, da Matriz de Santo Antonio. 19. Comemoração festiva tendo o padre Nino Carta (à esquerda), padre Marcos Vinícius Rosa (no centro) e o primeiro bispo de Caraguatatuba, Dom Frei Fernando Mason (à esquerda). 20, 21 e 22. A primeira edição do casamento comunitário ocorreu em 1998. Dez anos depois, outros casais se unem perante a Igreja. Em 2013, novamente foi celebrado a cerimônia coletiva de casamento no dia de Santo Antônio. 23. Marco da Reforma de 1948 (fixada na fachada lateral da Matriz) que teve como responsável o engenheiro arquiteto Eduardo Corrêa da Costa Júnior. Um Esboço da História | Agosto de 2013

47


A CONCRETIZAÇÃO DE UM SONHO

A

ssim como outras paróquias, a Igreja Matriz de Santo Antônio de Caraguatatuba participou do processo de criação da Diocese de forma ativa, devido ao envolvimento participativo de seus fieis e párocos. No início dos anos 1990, inúmeros eventos eram realizados pela Matriz. Uma pequena parte da verba arrecadada tinha como destino a Diocese de Santos, na época responsável pela Paróquia Santo Antônio, sendo o restante revertido para a obra de construção de uma catedral. A obra foi idealizada pelos padres Miguel Rosseto, Luiz Carlos Passos e uma comissão de aproximadamente 10 pessoas da Matriz.

48

“Para tornar este sonho real, começamos a realizar bingos e rifas, durante os finais de semana. Todo o dinheiro arrecadado foi investido na construção da lgreja do Divino”, relembra Maria Josefina Leirião Bellato, 74 anos, secretária de finanças da Matriz de Santo Antônio. Maria Josefina conta que no livro do CAE (Conselho Administrativo e Econômico), por algum tempo, a tesouraria da Igreja Santo Antônio e do Divino Espírito Santo, eram vinculadas. O livro mostra o quanto à Matriz trabalhou para a construção da Igreja do Divino, que com a criação da Diocese, se tornou catedral. “Além das rifas e bingos, conseguíamos arrecadar dinheiro em coletas, batizados, casamentos,

Fotos: Arquivo Diocese de Caraguatatuba

a diocese

aluguéis. Nós também contamos com a colaboração da Diocese de Pinerolo, na Itália”. Em abril de 1994, o padre Miguel deixa a comunidade do Litoral Norte e seu sucessor, padre Nino Carta, deu continuidade aos trabalhos de construção da Catedral. Em 1996, Dom José Castanho, bispo auxiliar de Santos, veio para Caraguatatuba com o propósito de criar a Diocese, o que de fato ocorreu três anos depois. Ainda como mantenedora, a Igreja Matriz ofereceu sua pia batismal para a futura catedral. O ANÚNCIO DE CRIAÇÃO DA DIOCESE No dia 3 de março de 1999, às 12 horas, em Roma, na Itália, o Papa João Paulo II, anunciou a criação da Diocese de Caraguatatuba, mudando a história da Igreja Católica na região. O anúncio surpreendeu a todos, principalmente ao padre Miguel Rosseto, V igário Episcopal, que acompanhou e trabalhou muito ao longo de seis anos (1989 a 1994) no processo. “Dizem que quando alguém sonha sozinho, o sonho permanece sonho, mas quando muitos sonham juntos, então ele se torna realidade”, relatou o padre. Em 1 o de maio do mesmo ano, cerca de sete mil pessoas estiveram reunidas no Centro Esportivo Municipal Ubaldo Gonçalves para rece be r a s Relíquias de Santo Antônio (vide foto ao lado), participar da cerimônia de Instalação da Dio-


Da esquerda para a direita: Dom Fernando Mason, Dom Antônio Carlos Altieri e o atual bispo da Diocese de Caraguatatuba, Dom José Carlos Chacorowski

Imposição das Mãos do bispo da Diocese de Santos, Dom David Picão, na ordenação de Frei Fernando Mason, primeiro bispo da Diocese de Caraguatatuba.

“SEMPRE QUE SE CRESCE E AMADURECE, SURGEM NOVAS RESPONSABILIDADES E ESTAS, ANTES DE TRAZER PESO, TRAZEM ALEGRIA. EIS O PORQUÊ DA FESTA QUE O ANÚNCIO E SUA REALIZAÇÃO TROUXERAM. SOMOS FELIZES POR RECEBER A INCUMBÊNCIA DO EMPENHO, E DA LUTA QUE ESTE EMPENHO TRAZ, DE TORNAR PRESENTE ENTRE NÓS, DE MANEIRA AINDA MAIS EFICAZ, A ATUAÇÃO DO BOM PASTOR, NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”

cese de Caraguatatuba e ordenação de seu primeiro bispo, Dom Frei Fernando Mason. S ob sua orientação as paró q uia s d o Lito ral N orte cresceram em con sciência e trabalho. O traba lho permitiu ampliar o número d e pa róquias que passou de 07 pa ra 17 , assim co mo , o número de pa d res no serviço às comunidades q ue em 2013 soma 32 sacerdotes. Novos pastores Em 2 5 de maio de 2005 a com un id a d e do Litoral N o rte recebeu a n otícia da transferência de Dom Fernando Maso n para a D io ces e d e Piracicaba. N o perío do em q ue ficou sem a presença de um b is po , chamado de Sé Vacante, a Diocese foi administrada pelo en tã o Pe. V ilso n D ias de O liveira. Em 2 6 de julho de 2006 , a Santa S é n omeou o segundo bispo da Dioces e de Caraguatatuba, D o m An ton io Carlo s A ltieri, que tomou posse n o dia 05 de novembro do m esm o ano. N este tempo , assumiu a fun çã o de bispo assessor respon s á vel pelo Setor Juventude d o Esta do de São Paulo (Regional S ul1) . Dom A ntonio Carlo s A ltieri, salesia n o, deu vida e espaço para o s joven s fortalecendo o Seto r de Juven tud e da D iocese. O rdenou 18 sa cerd otes. O rganizou os diversos Con selhos Co nsultivo s - Admin istra tivo, Econô mico e Pastoral- , foi a n imado r de missõ es e investiu n a formação de leigo s e leigas. Em jul ho 2012, D om A ltieri foi n om ea d o A rcebispo de Passo Fun-

do/R S, mas antes de ence r ra r s e u s trabalhos em Caraguatatu ba rece beu em 10 de agosto a v i s i ta i n é dita do N úncio Apo stó l i co D o m Giovanni D ´A niello , re pre s e n tante do papa Benedito X V I, po r ocasião da inauguração d a s n ova s instalações da C úria Di o ce s a n a lo calizada na R ua Santos D u m o n t , n. 100, na região central . D o m A ltieri se des ped i u d a D iocese no dia 7 de sete m bro d e 2012, desde então a Di o ce s e fo i administrada pelo Padre In o c ê n c i o Xavier. Em junho de 2013, o Pa pa Fra n cisco nomeou D om Jo s é Ca r l o s Chacorowski co mo o terce i ro bi s po da D iocese de Carag u a ta tu ba . A cerimônia de po sse a co n tece no dia 17 de ago sto, na Ca ted ra l D ivino Espírito Santo. Jo s é Ca r lo s o cupava o cargo de a u x i l i a r da A rquidio cese de São L u í s d o Maranhão e, durante se u m i n i st é rio pasto ral, atuou na fo r m a ç ã o d a D iocese de Palmas (PR ), e steve n o Co ngo, na Á frica, para ati v i d a d e s missionárias e na equipe d a pa s toral ro doviária. També m a tu ou co mo pároco na D io cese d e Pa ranaguá (PR ) e fo i direto r d a s F i lhas da Caridade da Prov í n c i a d a A mazônia. A DIOCE SE HOJE A D i o ce s e d e Ca ra g u a ta tu ba é co m p o sta p o r 1 7 Pa r ó q u i a s d i s t r i b u í d a s n a s q u a t ro c i d a d e s d o L i to ra l N o rte . Atu a l m e n te é fo r m a d a p e l a Ca ted ra l d o D i v i n o E s p í r i to S a n to ( I n d a i á ) , N o s s a S e -

Um Esboço da História | Agosto de 2013

49


Arquivo Maria Clébia Ivo Maziero

Pesquisas realizadas para a produção desta publicação Livros Consultados CAMPOS, Jurandyr Ferraz de (Org.). Santo Antônio de Caraguatatuba: memórias e tradições de um povo. Caraguatatuba/SP: Fundacc, 2000. Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. Estudos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) n.104. São Paulo: Paulus, 2013.

Fachada da Catedral do Divino Espírito Santo em 1999 (destaque), e seu interior (à esquerda)

Arquivo Diocese de Caraguatatuba

POR SER A PRIMEIRA IGREJA DE CARAGUATATUBA A MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO AUXILIOU NA FORMAÇÃO DE NOVAS PARÓQUIAS COMO A SÃO JOÃO BATISTA E A IGREJA DIVINO ESPÍRITO SANTO, ESTA ÚLTIMA SE TORNOU CATEDRAL COM A CRIAÇÃO DA DIOCESE.

50

n h o ra d a G l ó r i a ( Tra ve s s ã o ) , S ã o J o ã o Ba ti sta ( Po i a re s ) , S ã o J o s é ( M o r ro d o A l g o d ã o ) , M a t r i z d e S a n t o A n t ô n i o ( C e n t ro ) , S a n t a Te re z i n h a ( M a r t i m d e S á ) e N o s s a S e n h o ra d a V i s i t a ç ã o ( M a s saguaçu), na cidade d e Ca ra g u a t a t u b a . Em Ilhabela, pela Matriz Noss a S e n h o ra D ’ A j u d a ( C e n t ro ) . N o m u n i c í p i o d e S ã o S e ba s t i ã o , fa z e m pa r te d a D i o ce s e à s pa r ó q u i a s S ã o J o s é d e S ã o S e b a s t i ã o ( To p o l â n d i a ) , N o s s a S e n h o ra d o A m pa ro ( S ã o Fra n c i s c o ) , S ã o S e b a s t i ã o ( C e n t ro ) e S a g ra d o C o ra ç ã o d e J e s u s ( B o i ç u ca n g a ) . E m U ba tu ba , i n te g ra m a D i o ce s e a s pa r ó q u i a s I m a c u l a d a C o n ce i ç ã o ( Pe re q u ê A ç u ) , N o s s a S e n h o ra d e F á t i m a ( I p i ra n g u i n h a ) , N o s s a S e n h o ra d a s D o re s ( I t a g u á ) , E x a l t a ç ã o d a S a n t a C r u z ( C e n t ro ) e N o s s a S e n h o ra d a s G ra ç a s ( M a ra n d u b a ) , o n d e s e p re te n de construir um Santuário dedicado a Santa.

PEREIRA, Pe. José Carlos. Paróquia Missionária à Luz do Documento de Aparecida: Procedimentos Fundamentais. Brasília: Edições CNBB, 2012. SOUZA, José Antonio de Camargo R. O pensamento social de Santo Antonio. Porto Alegre/ RS: EDIPUCRS, 2001. WOODS JR. Thomas E. Como a igreja católica construiu a civilização ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008. AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada. Lorena/SP: Cléofas, 2008. Documentos Pesquisados A Voz do Litoral – Jornal, Edições de 1954, 1955 e 1957 Arquivo da Diocese de Caraguatatuba Arquivo Pessoal dos Entrevistados Arquivo Público de Caraguatatuba Livros tombos da Igreja Matriz de Santo Antônio - 1853 a 2013 De Praia em Praia - Boletim, Edição 41, Ano 4, Maio de 1999 Revista Fagulhas - Abril de 1957


CRONOLOGIA

OS PADRES DA MATRIZ

Um Esbo莽o da Hist贸ria | Agosto de 2013

51


Par贸quia Matriz Santo Ant么nio Pra莽a C芒ndido Motta, 35 Centro - Caraguatatuba - SP www.paroquiamatrizsantoantonio.com.br e-mail: msantoantonio@superig.com.br A Matriz nas Redes Sociais. Siga e Compartilhe! Twitter: @msantoantonio Facebook: ParoquiaMatrizSantoAntonio

52


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.