Sandra Makowiecky
Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Artes Visuais, do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Artes Orientadora:Visuais.
FLORIANÓPOLIS, SC 2017
PAULO HENRIQUE TÔRRES VALGAS
URBAN SKETCHERS BRASIL: MEMÓRIA E SENSIBILIDADE NAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS
Banca examinadora:
URBAN SKETCHERS BRASIL: MEMÓRIA E SENSIBILIDADE NAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS
________________________________________________________________Prof.Dra.SandraMakowieckyUdesc
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação em Artes Visuais, do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Artes Visuais.
Membros:
PAULO HENRIQUE TÔRRES VALGAS
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Prof. Dra. Daniela Pinheiro Machado Kern Florianópolis,UFRGS02deagosto de 2017.
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Orientadora:
Prof. Dra. Rosangela Miranda Cherem Udesc
Gostaria de agradecer a todas as pessoas que contribuíram para que este mestrado pudesse ser concluído: à minha família, sobretudo à minha mãe, que me deu suporte financeiro e emocional para vencer cada etapa desse processo, aos meus tios José e Neca Vargas, que me acolheram em sua casa com todo o zelo ao longo desses dois anos, aos amigos, colegas do SESI e do Instituto Federal, que me agraciaram com tantas palavras de apoio, motivação e carinho. Agradeço aos meus professores, com especial carinho à professora Luana Wedekin, maior incentivadora de minha carreira acadêmica, às professoras da Udesc, Rosângela Cherem e Luciane Garcez, sempre muito gentis e afetuosas, e às professoras Karina Kuschnir e Daniela Kern, membros externos das bancas de qualificação e defesa. Agradeço sobretudo à minha querida orientadora, professora Sandra Makowiecky, que me proporcionou conhecer mais do universo da arte e foi sempre generosa diante das minhas dificuldades e aflições. Deixo um agradecimento aos inúmeros urban sketchers que essa pesquisa me proporcionou conhecer, sobretudo aos casais Jony e Joan Coelho e Joel Venceslau e Maria Pereira. Agradeço, por fim, ao amigo Adriano Mafra, que gentilmente revisou meu texto. Cada um deu de si o que tinha e fez o melhor que pode para colaborar comigo. De coração, minha gratidão!
AGRADECIMENTOS
Diante da imagem, estamos sempre diante do tempo. [...]Diante de uma imagem – não importa quão antiga –, o presente não cessa jamais de se reconfigurar, mesmo que o desapossamento do olhar tenha completamente cedido lugar ao hábito enfadado do 'especialista'. Diante de uma imagem – não importa quão recente, quão contemporânea ela seja –, o passado também não cessa jamais de se reconfigurar, pois esta imagem não se torna pensável senão em uma construção da memória, chegando ao ponto de uma obsessão. Diante de uma imagem, temos, enfim, de reconhecer humildemente: provavelmente, ela sobreviverá a nós, diante dela, nós somos o elemento frágil, o elemento passageiro, e, diante de nós, ela é o elemento do futuro, o elemento da duração. Frequentemente, a imagem tem mais memória e mais porvir do que o ente que a olha. (Georges Didi-Huberman)
Para o rapaz, amante de mapas e gravuras o universo é igual ao seu enorme apetite Como é grande o mundo à luz das lâmpadas! Como é pequeno o mundo aos olhos da memória! (Charles Baudelaire)
RESUMO
Esta pesquisa trata do movimento de desenhistas urbanos denominado Urban Sketchers, fundado pelo jornalista espanhol Gabriel Campanario em Seattle, nos Estados Unidos, e que hoje cresce e se expande a todos os continentes. Com um manifesto de oito itens, os grupos que integram o movimento praticam o desenho de locação, capturando o dia-a-dia e os ambientes das cidades onde vivem e para onde viajam, fazendo registros do tempo e do local e criando redes de contatos com outros membros que, agrupados por regiões, promovem encontros para desenho. Os desenhos são publicados em plataformas virtuais, como blogs e o Facebook. O lema maior do movimento está no último item do manifesto: “nós mostramos o mundo, um desenho por vez”, e está estampado em todas as mídias virtuais do grupo. Este trabalho interroga quais são as nuances deste movimento no Brasil e da prática de seus grupos locais, mostrando como o desenho possibilita registros da memória e do patrimônio das cidades, assim como supre demandas da contemporaneidade, como a necessidade de estabelecer relações sociais significativas, de ocupar e vivenciar espaços urbanos e de enxergar a cidade com um olhar não brutalizado.
Palavras-chave: Urban Sketchers. Cidades. Desenho. Manifesto.
Keywords: Urban Sketchers. Cities. Drawing. Manifesto.
This research deals with the Urban Sketchers movement, founded by the Spanish journalist Gabriel Campanario in Seattle, United States, and which today grows and expands to all continents. With a manifesto of eight items, the groups that integrate the movement practice the design of the location, capturing the day-to-day and the environments of the cities where they live and where they travel, making records of time and place and creating networks of contacts with other members who, grouped by regions, promote meetings for drawing. The designs are published on virtual platforms such as blogs and Facebook. The major motto of the movement is in the last item of the manifesto: "we show the world, one drawing at a time", and it is printed on all the virtual media of the group. This research examines the nuances of this movement in Brazil and the practice of its local groups, showing how the design allows for records of the memory and patrimony of cities, as well as meeting contemporary demands such as the need to establish meaningful social relationships, to occupy and to experience urban spaces and to see the city with a non-brutal look.
ABSTRACT
Imagem 12: Desenho de Ricardo Migliorini na sala de sua irmã.............................................53
Imagem 27: Desenho de Simon Taylor no Largo da Ordem, Curitiba. ..................................86
Imagem 28: Desenho de Juliana Russo no centro de São Paulo..............................................88
Imagem 4: Eduardo Bajzek, Juliana Russo e João Pinheiro, fundadores do USK Brasil........41
Imagem 22: Desenho de Lissonger no Mercado Municipal de Curitiba..................................66
Imagem 21: O que é um urban sketcher?.................................................................................65
Imagem 5: Desenho de João Pinheiro da Catedral Ortodoxa de São Paulo e entorno.............42
Imagem 8: Cartaz do I Encontro USk São Paulo...... ............44
Imagem 24: Fotografia da exposição “Ver a cidade”...............................................................76
Imagem 9: Bruno Lucatelli. Encontro USk São Paulo.. .........45
Imagem 14: Montagem com desenho e fotografia de Áureo Castelo Branco na Igreja de São Benedito (Teresina-PI).. .......................... ..............................56
Imagem 19: Desenho de Danilo Zamboni na fazenda Nova Gokula......................................63
Imagem 23: Fotografia da exposição Desenhadores urbanos do RN.......................................74
Imagem 7: Página do caderno de Juliana Russo com metas para USk.. ..................................43
Imagem 6: Fotografia com desenho de Eduardo Bajzek da Catedral Ortodoxa de São .............................................Paulo..42
Imagem 11: Foto oficial do I Encontro Nacional Urban Sketchers.........................................48
Imagem 18: Fotografia de Maristela Rodrigues no I Encontro USk Brasil.. ...........................59
Imagem 26: Desenhos de Eduardo Bajzek durante o IV Simpósio Internacional USk.. .........85
LISTA DE IMAGENS
Imagem 25: Caderno de Delacroix com croquis do Marrocos.................................................78
Imagem 10: Exposição de desenhos feitos no Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, no Encontro Nacional USk...................................... ...................................48
Imagem 20: Caderno de Juliana Russo.. ..................................................................................64
Imagem 16: Desenho de Juan Londoño em Veneza, Itália. .....................................................57
Imagem 15: Desenho de Miha Nakatani no Largo da Ordem, Curitiba..................................56
Imagem 2: Liz Steel. Sketchers desenhando durante o USk em Paraty. 2014.........................34
Imagem 13: Desenho de Eduardo Bajzek na rua Ciridião Buarque.........................................55
Imagem 3: Jony Coelho e Ramon Correia desenhando no 4º Encontro USk Florianópolis....40
Imagem 1: Franco Lancio. Logomarca Urban Sketchers.........................................................33
Imagem 17: Desenhos de Diego Bonadiman feitos em guardanapo........................................58
Imagem 29: Desenho de Tarcísio Bahia no restaurante Bené.................................................89
Imagem 35: Desenho de Eduardo Lott em Niterói-RJ.......................................................... 113
Imagem 38: Desenho de João Paulo Rohweder na Feira do Produtor em Pato Branco........ 127
Imagem 46: Desenho de Fabien Denoel em bar capixaba.................................................... 134
Imagem 45: Desenho de Jony Coelho em Azambuja-SC.. . 134
Imagem 33: Desenho de Simon Taylor em Buenos Aires. .. 111
Imagem 50: Desenho de Jony Coelho em Tubarão-SC... ... 137
Imagem 51: Desenho de Leandro Pereira dos Santos de restaurante em Taubaté................. 138
Imagem 53: Desenho de Camila Diógenes de ponto de ônibus em Brasília.. ....................... 140
Imagem 54: Desenho de Thaís Machado em roda de capoeira.............................................. 140
Imagem 43: Desenho de Patrick Rocha no 80º Encontro USk Londrina. ............................. 131
Imagem 56: Desenho de Eduardo Bastos de vendedora no mercado público de Maceió. .... 142
Imagem 47: Desenho de Camila Diógenes Vasconcelos de prédio em Brasília. .................. 135
Imagem 57: Aquarela de Vladimir Munhoz com vendedora em Maceió.............................. 143
Imagem 52: Desenho de Valéria Salgueiro em beira-mar carioca........................................ 139
Imagem 58: Desenho de Camila Diógenes Vasconcelos em de uma mulher no shopping... 143
Imagem 55: Desenho de José Marconi, Fabiano Vianna, João Paulo de Carvalho, Cassio Shimizu e Doralice Araújo em Curitiba................................................................................. 141
Imagem 36: Desenho de Flávio Ricardo em Santa Bárbara do Oeste- SP. ........................... 114
Imagem 49: Desenho de Mateus Rosada em rua de São Paulo............................................. 136
Imagem 37: Pieter Bruegel, o Velho. Caçadores na neve...................................................... 118
Imagem 48: Desenho de Domingos Linheiro de pescadores em Fortaleza........................... 136
Imagem 32: Desenho de João Pinheiro na rua Erva Mularinha, em São Paulo..................... 108
Imagem 41: Aquarela de Carlos Medeiros em São Paulo ... 130
Imagem 30. Desenho de Ana Rafful no Café Odessa, Paris.................................................... 91
Imagem 40: Desenho de Cleiton do Carmo na casa de sua avó. ........................................... 129
Imagem 59: Desenho de Joel Lobo de músicos no encontro SketchJam#95 no Blú Bistô, em São Paulo................................................................................................................................ 144
Imagem 60: Desenho de Rafael em feijoada da Vila Isabel, Rio de Janeiro......................... 145
Imagem 61: Desenho de Joel Venceslau em Araraquara....................................................... 146
Imagem 44: Desenho de Raro de Oliveira de casa em Curitiba. ........................................... 132
Imagem 39: Desenho de Simon Taylor n’A Fabrika, Curitiba............................................. 128
Imagem 42: Desenho de Thaís Machado da Praça São Francisco - Rio de Janeiro.............. 130
Imagem 31: Aquarela de Mário Baratta de paisagem para calendário.................................. 104
Imagem 34: Desenho de Raro de Oliveira em Curitiba......................................................... 112
Imagem 71: Desenho de Fabiano Vianna no MuMA de Curitiba- PR...................................154
Imagem 69: Fotografia de Carlos Roque de Ouro Preto e seu respectivo desenho................152
Imagem 63: Desenho de Camila Diógenes Vasconcelos em feira brasiliense.......................147
Imagem 64: Desenho de Miha Nakatani no encontro de motos de Mogi das Cruzes............147
Imagem 78: Desenho de Jony Coelho do feriado de Corpus Christi em Tubarão.. ...............160
Imagem 80: Desenho de Adriano Mello em Mogi das Cruzes...............................................164
Imagem 81: Desenho de Odil Miranda de casa em Londrina. ...............................................164
Imagem 84: Desenho de Flávio Ricardo de casa demolida em Santa Bárbara......................166
Imagem 66: Aquarela de Carlos Medeiros em São Paulo......................................................149
Imagem 79: Montagem de dois desenhos do mesmo local realizados por Danilo Zamboni em São Paulo......................................... ....................................161
Imagem 67: Desenho de Simon Taylor em bar curitibano.....................................................150
Imagem 68: Desenho de Kei Isogai em terminal paulistano.................................................151
Imagem 75: Desenho de Jony Coelho feito de sua sacada, em Tubarão-SC..........................157
Imagem 62: Desenho de Ramon Correa em Florianópolis. ...................................................146
Imagem 65: Desenho de Eduardo Bajzek no 55º Sketchjazz 148
Imagem 89: Foto com desenho de Eduardo Bastos das ruínas do hotel Atlântico em Maceió.
Imagem 74: Desenho de Mazé Leite em Paris.......................................................................156
Imagem 77: Desenho de Jony Coelho do feriado de Corpus Christi em Tubarão.. ...............159
Imagem 86: Desenho de Rubens Gennaro de casa de Curitiba..............................................168
Imagem 76: Desenho de Adriano Mello em Paraty- RJ.........................................................158
Imagem 70: Desenho de Fernanda Vaz de Campos em estação paulista...............................152
Imagem 72: Desenho de Áureo Castelo Branco em Fortaleza...............................................155
Imagem 83: Desenho de Tarcísio Bahia de chácara Von Schilgen, Vitória...........................166
Imagem 73: Desenho de Murilo Romeiro no Parque Vicentina Aranha................................156
Imagem 85: Desenho de Domingos Linheiro de casarão em Água Verde - Guaiuba , CE....167
Imagem 87: Desenho de José Clewton no Engenho Descanso, Nísia Floresta, RN..............168
ImagemImagemImagemImagem................................................................................................................................................17090:DesenhodeJoséMarconiemCuritiba............17091:DesenhodeAdrianoMellodecasaemCampoLargo-PR.................................17292:DesenhodeEduardoBazjekdecasaantigadeSãoPaulo.................................17293:DesenhodeJonyCoelhoemTubarão-SC..........................................................173
Imagem 88: Desenho e Marcos Bandeira de prédios em Fortaleza. ......................................169
Imagem 82: Desenho de Adriano Mello em São Luiz do Paraitinga.....................................165
Imagem 106: Fotografia de Davi Cavalheiro no Jardim Botânico de Curitiba. .................... 196
Imagem 115: Desenho de André Baptista do hospital Egas Moniz, em Portugal................. 210
Imagem 97: Desenho de Marcos Bandeira do passeio público de Fortaleza......................... 187
Imagem 120: Desenho de Carlos Roque de casas de madeira em Curitiba........................... 213
Imagem 101: Fotografia do 19º USk São Paulo no Cemitério da Consolação...................... 192
Imagem 104: Fotografia de Bruno Luccatelli no USk São Paulo na praça Roosevelt. ......... 194
Imagem 109: Desenho de Alexander Lermen no Palacete dos Garcia, Londrina.. ............... 205
Imagem 124: Montagem com desenhos e fotos de Marcos Bandeira em Paris..................... 217
Imagem 112: Desenho de André Lissonger em São João Del Rey-MG................................ 208
Imagem 94: Cartaz divulgação do 13º Encontro do Urban Sketchers Salvador.................... 183
Imagem 99: Fotografia de Washington Takeuchi de composição em grupo em Curitiba..... 190
Imagem 110: Desenho de Flávio Ricardo de casa em Santa Bárbara do Oeste..................... 207
Imagem 116: Desenho de Luis Renato Roble de Casa Estrela em Curitiba.......................... 211
Imagem 107: Desenho de Beto Candia do Palácio Rio Branco em Ribeirão Preto-SP......... 204
Imagem 119: Fotografia de Ronaldo Kurita de encontro USk na vila Itororó, São Paulo. ... 213
Imagem 118: Desenho de Murilo Romeiro em Paraibuna. .. 212
Imagem 111: Montagem com fotografia e desenho de Cláudio Santos no Hotel Tannenhof em Joinville-SC...................................... ................................... 207
Imagem 108: Desenho de Mateus Rosada do Castelinho da Brigadeiro em São Paulo........ 204
Imagem 113: Desenho de Domingos Linheiro em Valença do Minho, Portugal.................. 209
Imagem 98: Fotografia do Encontro Internacional de Desenho de rua em Araraquara. ....... 189
Imagem 95: Fotografia com sketchers de Natal-RN em amigo secreto. ............................... 186
Imagem 122: Fotografia de Eduardo Bastos desenhando em Congonhas-MG..................... 216
Imagem 126: Desenho de Bruno Lopes Lima no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro......... 219
Imagem 96:Desenho de Fernanda Vaz de Campos do Centro Cultural São Paulo. .............. 187
Imagem 103: Fotografia de Ari Lopes da Rosa dos sketchers curitibanos............................ 193
Imagem 114: Desenho de Irmgard Schanner no Beco do Batman, em São Paulo................ 210
Imagem 117: Desenho de Reinoldo Klein de Casa Estrela em Curitiba. .............................. 211
Imagem 100: Fotografia de Joel Lobo em SketchJam.. ...... 191
Imagem 102: Desenho de Carol Gama em campanha pelo simpósio em Paraty................... 193
Imagem 105: fotografia de Rosiane Bastos em evento de São Luís-MA.............................. 195
Imagem 123: Desenho de Antônio César em Inhotim, Brumadinho-MG............................. 216
Imagem 121: Desenho de Edison Muniz de escultura em Santos-SP.................................... 213
Imagem 125: Desenho de Regina Borba em Ouro Preto- MG.............................................. 218
Imagem 127: Fotografia de Lilian Farias no 14º Encontro USk Salvador.............................220
ImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemImagemPortugal.ImagemImagemImagemJaneiro.....................................................................................................................................224132:DesenhodeIrmgardSchannernotemploZulai,emSãoPaulo.......................225133:DesenhodeMateusRosadadaCatedralOrtodoxadeSãoPaulo....................226134:FotografiadeJoséManuelFerreiradesenhandonaQuintadaAreia,em..................................................................................................................................226135:DesenhodeMateusRosadaemSalvador.........................................................232136:DesenhodeDomingosLinheiroemSobral-CE...............................................232137:DesenhodeCamilaDiógenesVasconcelosemBrasília..................................233138:DesenhodeFabienDenoelemVitória-ES.....233139:DesenhodeMihaNakataninoMASP,emSãoPaulo.....................................234140:DesenhodeSimonTaylordoEdifícioSalvoemMontevideo.........................234141:DesenhodeAndréLissongeremSalvador-BA..............................................237142:DesenhodeKeiIsogainoPaçoMunicipaldeCuritiba....................................238143:DesenhodeJoséMarconiemfeiraemCampinaGrande-PB.........................239144:DesenhodeAdrianaDantasemaeroporto.......................................................242145:DesenhodeRarodeOliveiranobairroMarechalHermes,noRiodeJaneiro.245146:DesenhodeJoséClewtonemSobral-CE........................................................246147:DesenhodeJonyCoelhoemFlorianópolis....249148:DesenhodeÁureoBrancoemTeresina-PI....249149:DesenhodePettersonDantasemGalinhos-ES................................................251150:DesenhodeEduardoBajzekemSãoPaulo...251151:DesenhodeHugoPaivadomonumentoRamosdeAzevedoemSãoPaulo...252152:MontagemcomdesenhosdeReginaBorbaedeFernandaVazdeCampos...253153:DesenhodeFabienDenoeldeprédioemconstrução.......................................254154:DesenhodeHugoPaivanaSantaCasadeMisericórdia..................................255155:DesenhodeDaltondeLucanoCentroCulturalSãoPaulo.............................255
Imagem 128: Desenho de Marilia Varela no Quintana Café. ................................................221
Imagem 129: Desenho de Sandra Kuniwake na praça Japão, em Curitiba............................222
Imagem 130: Desenho de André Lissonger no Festival da Cultura Japonesa, em Salvador. 223
Imagem 131: Fotografia de Felipe Lisboa do Encontro USk RJ na Pedra do Sal, Rio de
os benefícios do
O manifesto Urban Sketchers: padrões e tensões...............................................................49 1.3 “O sketchbook e não a galeria"...........................................................................................72 2 CAPÍTULO DOIS: URBAN SKETCHERS, O DESENHO E A MEMÓRIA ...................95
o heroísmo moderno .......................................................115 2.3
e
e materialidade:
Registro do tempo e do
Cidade e
O ato de desenhar: significações e possibilidades.............................................................95
1.2
em grupo ..........................................181 3.2
e
Início, estrutura e expansão...............................................................................................31
de uma presença....................................................162 3 CAPÍTULO TRÊS: O URBAN SKETCHERS E A CIDADE .......................................175
3.1 sociabilidade: desenho Cidade memória Cidade sensibilidade: poéticas Urban Sketchers a cena
e ressonância..............................................................199 3.3
SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................ .............................21 1 CAPÍTULO UM: UMA INTRODUÇÃO AO URBAN SKETCHERS ...............................31
1.1
do olhar........................................................................227 3.4 O
contemporânea...................................................................258 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................263 REFERÊNCIAS ...................................... ...........................267
2.1
2.2 lugar: Registro de uma ausência, evocação
Ele começou fundando um grupo virtual no Flickr para a postagem dos desenhos feitos e hoje, não apenas em Seattle, mas em todos os continentes, pessoas fazem o mesmo, inspiradas pelo manifesto que ele escreveu. É neste manifesto, aliás, que Campanario pontua suas principais ideias acerca da atividade. São Paulo, Tóquio, São Francisco, Berlim, Paris, Lisboa, Tel Aviv, Marraquexe e Sydney são algumas das muitas cidades retratadas pelos adeptos do urban sketching. Centenas de desenhos são postados nos blogs oficiais USk e/ou nas páginas dos grupos no Facebook todos os dias, e mesmo o mais assíduo dos seguidores pode ter dificuldade para conseguir ver todos.
Mudar para uma nova cidade pode ser intimidador. Eu tenho feito isso muitas vezes desde que eu deixei minha cidade natal, Barcelona, em 1987 para frequentar a universidade em Pamplona. Eu morei em Reno, Palm Springs e Washington D.C., mas foi apenas quando eu me estabeleci em Seattle em 2006 que eu descobri uma nova forma para lidar com o estresse de viver em um território desconhecido. Eu peguei um caderno e comecei a desenhar o que eu via (CAMPANARIO, 2012, p. 11).1
21 INTRODUÇÃO
Esse é o relato inicial do livro “The Art of Urban Sketching”, de Gabi Campanario, fundador do movimento de desenhistas urbanos Urban Sketchers (USk). “Nós mostramos o mundo, um desenho por vez”. Esta frase é considerada a máxima do movimento, que tem ganhado abrangência internacional e crescido diariamente. Se a prática de registrar elementos da cidade começou quando esse jornalista utilizou o desenho urbano como um subterfúgio para dirimir a saudade de sua terra natal após chegar em Seattle, nos Estados Unidos, hoje o movimento reúne diversas pessoas interessadas em desenhar e se apropriar das cidades onde vivem e para onde viajam. Munidos de cadernos e canetas, elas saem nas ruas da cidade para desenhá-la, conhecê-la e/ou, como Campanario afirma, adaptar-se a ela.
Os sketchers formam grupos locais, regionais ou nacionais e procuram seguir o manifesto de Campanario, que é bem claro e conciso, embora possibilite uma pluralidade enorme de técnicas, materiais, objetos e percepções. Sem necessariamente considerarem-se artistas, apesar de o público leigo e mesmo alguns deles assim se denominarem, o movimento aceita qualquer indivíduo, desde os mais habilidosos desenhistas até aqueles que ainda não têm grande domínio técnico. Os sketchers geralmente usam cadernos para desenho, denominados também de diários gráficos, além de cadernos de viagem ou sketchbooks. Diz-se
1 Moving to a new city can be intimidating. I have done it many times since I left my hometown of Barcelona in 1987 to attend college in Pamplona. I’ve also called Reno, Palm Springs, and Washington D.C. home, but it was only when I settled in Seattle in 2006 that I discovered a new way to deal with the stress of landing in unknown territory. I picked up a notebook and started drawing what I saw. Todas as traduções são de minha autoria.
22 'geralmente', pois até mesmo pequenos pedaços de papel, como senhas de banco ou guardanapos de padarias são utilizados para desenhar. Alguns sketchers, por exemplo, se valem de restos de café, derramados e manipulados com os dedos para fazer a ilustração do local, o que evidencia a pluralidade de técnicas.
Em um artigo muito esclarecedor sobre as cidades, o historiador José D’Assunção Barros (2015) questiona-se se há uma cultura especificamente urbana e, mostrando que o tamanho é um fator de desigualdade cultural entre as cidades, leva a crer que isso tange ao contato com os seus espaços. Basta olhar pela janela ou nos noticiários para vermos que são ambientes diferentes. Quanto maior a cidade, mais difícil tem sido o contato com o espaço público por conta da violência, da pressa e do trânsito, fatores que acumulam nos citadinos doses diárias de estresse. Para quem vive em uma cidade média e pequena, o contato com o urbano é menos conturbado. Há estabelecimentos próximos, muitos vão ao trabalho a pé ou de bicicleta, as praças são lugares seguros e, às vezes, uma opção não ofuscada pelos shopping centers ou por eventos culturais. De certa forma, as relações com os espaços e com as outras pessoas podem ser dificultadas nas grandes cidades. Curiosamente, o Urban Sketchers se consolidou mais facilmente nas capitais, conforme será demonstrado neste trabalho. Seria isso um sintoma dos fatores mencionados acima? Ou apenas pelo fato de as
Alguns têm obsessão e desenham todos os dias; outros, em encontros dos grupos locais, não tão assiduamente. Mas o que os une é o interesse pelo desenho e a vontade/necessidade de apropriar-se das paisagens de seu entorno. Eles tomam as ruas, solitários, em pequenos, médios ou grandes grupos, e ganham a atenção de passantes, ora encantados a ponto de parar, perguntar e fotografar, ora esbravejantes por ter de desviar do que possam considerar mais um bando de desocupados. Há ainda os que ficam estarrecidos, como se vissem seres de outro planeta. Através do desenho, os sketchers conseguem parar e observar a cidade de forma mais intensa que uma rápida passada, um passeio ou até mesmo uma simples parada para fotografar possibilitaria. Eles descobrem ou reconhecem locais, aproximam-se das memórias e da história dos ambientes que desenham e adquirem um despertar sensível para os ambientes do entorno.
Além dessas possibilidades, algo interessante no Urban Sketchers é a sociabilidade urbana. Jacques Le Goff (1998) escreveu que a função essencial da cidade é a troca. Um dos itens do manifesto USk diz que os membros do movimento se apoiam mutuamente. Na prática, mais do que se apoiar, estabelecem amizades e redes de contatos. Juntos, os urban sketchers apropriam-se dos ambientes urbanos e os descobrem juntos.
o Urban Sketchers se apropria de práticas e materiais que durante a História da Arte foram muito importantes e presentes, mas que após as vanguardas modernistas foram perdendo espaço e mesmo o interesse de boa parte dos artistas, como o desenho mimético, o uso do caderno/diário gráfico de viagem e o uso de materiais como lápis e aquarela. Por outro lado, a atitude perante a vivência nas cidades é bastante contemporânea. Por isso, minha primeira pergunta é: “Que elementos e práticas do Urban Sketchers constituem sua identidade como movimento de desenhistas urbanos?” Essa pergunta já tinha
Durante muitos meses naveguei pelo blog “USk Brasil”e pela página do grupo no Facebook, copiando e colando informações, salvando imagens em meu computador e coletando relatos dos membros. Passei a buscar padrões e tensões em relação à proposta do manifesto USk, tendo em mente de que eu não poderia me deter em biografias ou recortes regionais dentro do país enquanto um trabalho de maior abrangência sobre o movimento ainda não exista. Tive a propulsora experiência de participar do I Encontro Nacional do USk Brasil, em Curitiba, em abril de 2016, o que foi muito importante para meu projeto . Lá pude ver pessoalmente os sketchers se reunindo, desenhando, expondo, ajudando-se, conversando e apropriando-se da capital paranaense. Minha maneira de enxergar o movimento modificou bastante. Eu observei suas práticas e conversei com os participantes, inclusive com o fundador do movimento no Brasil, Eduardo Bajzek, e com o atual coordenador, André Lissonger. Durante os dias do evento anotei tudo aquilo que julguei importante, fiz gravações e registros fotográficos que serão demonstrados no decorrer do trabalho. Assim, cheguei às perguntasproblema
novidades chegarem com mais lentidão no interior? Essas reflexões culminaram no problema desta pesquisa. Mas, antes disso, gostaria de relatar como cheguei ao tema Urban Sketchers
Percebiatuais.que
Minha trajetória acadêmica iniciou no curso de História, e minha especialização em História da Arte me levou a estudar os paisagistas do século XIX. Ao ingressar no mestrado, meu projeto era escrever sobre a produção de Jony Coelho, arquiteto de minha cidade (Tubarão, Santa Catarina) e membro do Urban Sketchers que desenha prédios antigos da cidade que estão sendo demolidos para dar lugar a pontos de estacionamento ou grandes empreendimentos imobiliários. Naquele momento, o Urban Sketchers era apenas um movimento do qual Jony fazia parte. No decorrer das disciplinas percebi que meu objeto de pesquisa se deslocava conforme descobria mais sobre o Urban Sketchers e lia sobre a cidade na História da Arte e nas Ciências Humanas em geral. Passei a enxergar no Urban Sketchers meu objeto principal de trabalho, e algo que me intrigou, junto de minha orientadora, foi o porquê de esse movimento estar crescendo tanto.
23
Minha hipótese que responde a essas perguntas é: (a) O Urban Sketchers utiliza práticas clássicas da história das artes; (b) ressignifica o ato de desenhar como um ato de preservar memórias e enxergar as nuances da cidade; e (c) está crescendo ao redor do mundo devido a uma necessidade de vivenciar o espaço urbano e se relacionar mais com estes locais e com as pessoas que neles vivem. Diante disso, meus objetivos se formularam. O primeiro deles, básico, é conhecer a origem do USk, como e por que ele começou, realizando uma pesquisa exploratória nas bases de dados dos grupos, que são as redes sociais e alguns livroscatálogo, buscando relatos, desenhos e escritos que me façam entender quais são os elementos que o compõem. O segundo objetivo é compreender a relação entre o ato de desenhar e a prática USk de registrar memórias e o patrimônio das cidades. O terceiro objetivo é interrogar a prática do desenho de locação e em comunidade diante da necessidade de ocupação, percepção e sensibilidade para com os espaços urbanos.
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Nas artes, a primeira obra a retratar a cidade como protagonista foi a pintura de Siena, feita por Ambrogio Lorenzetti entre 1337-40, já no início do Renascimento italiano. Durante a colonização das Américas grande parte dos ameríndios não conhecia a organização urbana, e coube aos espanhóis e portugueses, principalmente, trazer para nosso continente essa formatação espacial. Sérgio Buarque de Holanda, em “Raízes do Brasil” (1995), explica as diferenças entre a cidade portuguesa e a espanhola, mostrando que nem todas se configuram da mesma forma. Durante a Revolução Industrial surgiram as grandes metrópoles, cujos
algumas respostas prévias, como o prazer pelo ato de desenhar e as reuniões regulares entre eles. A partir daí, duas perguntas que formularam o segundo e terceiro capítulos foram: “quais as significações do ato de desenhar para os urban sketchers” e “quais são as singularidades entre a prática do urban sketching e a relação contemporânea com os espaços urbanos?”.
Sobre uma justificativa para minha pesquisa, julgo encontrá-la na importância das cidades na história humana. Qualquer livro que se proponha a estudar a história da cidade começa por traçar um perfil do neolítico, quando após a sedentarização, vilas foram crescendo e sistematicamente tornando-se cidades com regimes civis. Na Antiguidade, elas foram as sedes de poder, economia e cultura. Babilônia, Jerusalém, Atenas, Roma, Cartago, Constantinopla são os nomes mais citados. Pela tradição bíblica, as cidades eram locais de maldição, contrastando com o jardim do Éden e sendo local de reunião dos homens para maquinar maldades, com referências à torre de Babel e a Caim. Para os romanos, sua capital era a luz em meio às trevas da barbárie. Na Idade Média, embora fale-se muito das cidades abandonadas e das invasões bárbaras, devemos lembrar que também existiram Flandres, Veneza e Gênova, que permaneceram ativas ou floresceram por grande parte deste período.
Existem muitos outros escritos e certamente não caberiam todos aqui. Nestes parágrafos tentei mostrar a importância das cidades, de suas relações com os seus moradores, suas representações e presença nas artes visuais, sua etnografia, sociologia e história. Para Sandra Pesavento (2007, p. 11),
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avanços contrastavam com os problemas socioeconômicos gerados por elas. Paris é, no século XIX, a capital da modernidade, ao lado de grandes centros como Londres, Berlim e Viena. O sociólogo alemão Georg Simmel escreveu “A metrópole e a vida mental” (1903) e outros ensaios, tratando da condição psicológica e comportamental que a metrópole causava aos seus citadinos. Na literatura, Charles Baudelaire foi um dos primeiros a eleger a cidade como objeto poético, extraindo do spleen de Paris suas épicas poesias. Aspectos da modernidade também estavam em Honoré Balzac, no “Fausto”, de Goethe (1829) e em Hoffman, no conto “A janela de esquina do meu primo” (1822). Igualmente em Edgar Allan Poe, que via com receio as multidões, e em Friedrich Engels, para quem os acotovelamentos nas ruas da cidade eram para ele sinal de horror e preocupação (BERMAN, 1986).
Nas artes plásticas, os realistas e depois os impressionistas passaram a representar as paisagens urbanas e cotidianas com muito mais intensidade do que antes acontecera na História da Arte. O surgimento das metrópoles, das multidões e da tecnologia provinda da Revolução Industrial geraram um turbilhão de cenas que ora encantavam, ora chocavam o citadino europeu. No século XX, Walter Benjamin escreveu inúmeros textos e aforismos, compilados em “O livro das Passagens” (1927-1940). Nesta obra, o autor analisou uma série de aspectos das cidades, como as passagens/galerias parisienses e seus personagens urbanos, como o flâneur, a prostituta e o trapeiro. Argan, teórico de arte, escreveu “História da arte como história das cidades” (1984), dando ênfase à arquitetura, e os historiadores franceses da Escola dos Analles revolucionaram essa ciência com o entendimento das mentalidades e, consequentemente, traçaram relações entre essas e a vida urbana, sobretudo na Idade Média. Ainda no século XX, a escola de Chicago fez importantes estudos sobre a diversidade cultural das cidades americanas, principalmente ocasionada pelas imigrações. No Brasil, uma referência para a Sociologia Urbana é o conjunto da obra de Gilberto Velho, enquanto na História temos Sandra Pesavento como um nome de peso. No âmbito catarinense, a tese de doutorado da Prof. Sandra Makowiecky, que escreveu sobre a representação da cidade de Florianópolis pelos artistas desde sua fundação até a década de 1990, utilizou-se, entre outros, da teoria de Christine Boyer sobre a cidade como obra de arte, panorama e espetáculo, aplicando-os a história da pintura florianopolitana. Trata-se de uma pesquisa de fôlego e é base para consultas sobre a História da Arte da capital catarinense.
26 a cidade foi, desde cedo, reduto de uma nova sensibilidade. Ser citadino, portar um ethos urbano, pertencer a uma cidade implicou formas, sempre renovadas ao longo do tempo, de representar essa cidade, fosse pela palavra, escrita ou falada, fosse pela música, em melodias e canções que a celebravam, fosse pelas imagens, desenhadas, pintadas ou projetadas, que a representavam, no todo ou em parte, fosse ainda pelas práticas cotidianas, pelos rituais e pelos códigos de civilidade presentes naqueles que a habitavam. Às cidades reais, concretas, visuais, tácteis, consumidas e usadas no dia-a-dia, corresponderam outras tantas cidades imaginárias, a mostrar que o urbano é bem a obra máxima do homem, obra esta que ele não cessa de reconstruir, pelo pensamento e pela ação, criando outras tantas cidades, no pensamento e na ação, ao longo dos séculos.
Para ela, a relação do homem com a cidade sempre foi prolífica. Por isso, primeiramente, pensar um estudo sobre o Urban Sketchers é pensar em renovações ou mesmo sobrevivências dessas formas de evidenciar a sensibilidade do citadino, seja pelo desenho ou pelo que está sendo desenhado, pois estes mostram cidades reais e imaginárias, memórias e pontos de vista. Desde a década de 1950 se fala em cultura de massas nas cidades, ao mesmo tempo que o mundo tem sofrido mudanças bruscas como nunca acontecera antes. A rapidez da tecnologia, o crescimento populacional aliado à migração em grandes centros, a violência, o trânsito e o consequente estresse, um capitalismo que transforma tudo em mercadoria e satura o olhar dos citadinos com brilhantes outdoors: são estes os elementos da vida no século XXI. É bastante útil pensar na compreensão da vida urbana na contemporaneidade através de um movimento que está a beira de completar dez anos e cresce com fôlego. O Urban Sketchers está presente no mundo todo, e seus elos de relação iniciaram na internet, o meio mais utilizado para comunicação e divulgação do movimento. Suas práticas estão inseridas no âmbito das cidades e é necessário incorporá-lo nos estudos urbanos a fim de dar tratamento acadêmico a esse movimento de vulto.
Ao iniciar a pesquisa, não encontrei trabalhos acadêmicos de maior expressão sobre o Urban Sketchers e julgo que estes ainda não existam. A antropóloga carioca Karina Kuschnir produziu alguns artigos, como “Desenhando a cidade” (2012a) e “Desenhando cidades” (2012b), que me forneceram suporte e embasamento para continuar a pesquisa. Esses trabalhos apontaram ainda para outras leituras que me auxiliaram na construção do referencial teórico. Kuschnir participou dos simpósios internacionais do Urban Sketchers como palestrante, coordena projetos de pesquisa e atua no ensino do desenho etnográfico urbano. Alguns poucos artigos sobre experiências nos simpósios e práticas de professores arquitetos foram encontrados na internet, mas nada muito extenso.
Existem alguns guias para técnicas de desenho e catálogos pessoais ou de grupo, como os elaborados pelo português Eduardo Salavisa. Danny Gregory, de Nova Iorque, escreveu
Esse trabalho compreende uma pesquisa na linha de Teoria e História da Arte, com levantamento elaborado por meio dos materiais citados no parágrafo anterior. O método de abordagem utilizado no trabalho foi o de uma pesquisa básica (que objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista), qualitativa (que considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números, em que o processo e seu significado são os focos principais de abordagem) e exploratória (utilizando fontes primárias e secundárias, visando proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses).
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alguns livros sobre como é possível a qualquer um entrar no mundo dos desenhos, comparando aprender a desenhar a aprender a dirigir. Ainda assim, tanto Gregory quanto Salavisa não escrevem apenas sobre o urban sketching, mas sobre o ato de desenhar em geral. Gabi Campanario escreveu “The Art of Urban Sketching” (2012), um livro com sua própria história e que traz uma explicação do manifesto, perfis de artistas, um tour pelo mundo através de sketches e sugestões de desenhos, técnicas e materiais. Cinquenta e um sketchers brasileiros publicaram o “Sketchers do Brasil” (2016), um livro catálogo com pequenos perfis e quatro páginas de desenhos para cada membro.
Como já citei, participar do Encontro Nacional em Curitiba foi um dos propulsores para a pesquisa, já que pude ver ao vivo a prática dos sketchers e conversar com diversos deles, sobretudo com Eduardo Bajzek e André Lissonger. Acima de tudo, os materiais básicos de pesquisa foram publicações em blogs, páginas do Facebook e do Flickr, o que eu considero o material empírico da minha pesquisa. No Youtube existem gravações das palestras do último simpósio internacional USk (2016), evento este ocorrido em Manchester. No mesmo site existem alguns vídeos, sobretudo propagandísticos, de encontros pelo mundo.
O trabalho lida com imagens. A grande potencialidade da imagem está no fato de ela ser sintoma, como presença da sobrevivência de outros tempos e a conjunção da diferença e da repetição. As grandes questões humanas sobrevivem nas imagens e é através delas que se conhecem outras culturas, outros povos. É na imagem como noção operatória e não como mero suporte iconográfico que aparecem as sobrevivências, anacrônicas, atemporalidades e lá também que memórias enterradas ressurgem. A presente pesquisa se aproxima do pensamento pós-estruturalista que define os blocos de raciocínio como estruturas que se movimentam entre os tempos e os espaços, em que não se pretende captar totalmente o significado de uma ação, de um texto ou de uma intenção, mas construir uma parcela de sentido, ação, de um texto ou de uma intenção. O pesquisador busca fragmentos, indícios que levem à
dificuldade que enfrentei foi encontrar bibliografias específicas no âmbito acadêmico. Percebi logo que deveria explorar o material empírico disponível na internet e encontrar referenciais teóricos que justificassem minhas ideias sobre o USk, assim como organizar o material disponível e produzido pelos sketchers de forma mais compreensível. Uma segunda dificuldade foi lidar com a quantidade enorme e crescente de produção de desenhos e escolher quais deles seriam utilizados no trabalho, de forma que pudesse dar ao leitor uma noção geral do movimento e o máximo possível de membros do USk Brasil.
O capítulo 2, “O Urban Sketchers: o desenho e a memória”, aborda a importância dada ao desenho e os registros de memórias feitos pelos sketchers. O primeiro item, "O ato de desenhar: significações e possibilidades", inicia com um breve histórico do desenho, desde a pré-história até suas concepções na arte contemporânea, assim como se analisam algumas considerações sobre sua etimologia, que abre possibilidades para pensar sobre a junção do desígnio com a feitura. O subcapítulo trata também do caráter democrático do desenho e de sua importância e presença na vida da maioria dos sketchers, baseado no que eles mesmos
compreensão das questões inicialmente abordadas permitindo seu conhecimento mais amplo e detalhado, promovendo a reflexão crítica e argumentativa dentro da área de Teoria e História das
Artes.Aprimeira
A presente pesquisa divide-se em três capítulos e cada um deles desmembra-se em três ou quatro seções. O primeiro capítulo, “Uma introdução ao Urban Sketchers", trata do movimento em si e suas características. O primeiro item, intitulado “Início, estrutura e expansão”, descreve a origem do movimento, sua organização, assim como seu crescimento, sobretudo no Brasil, e a dinâmica dos seus encontros. O segundo item, denominado “O manifesto Urban Sketchers: padrões e tensões”, visa apresentar o manifesto e refletir sobre como em torno deste material orbita não só uma identidade sketcher, mas também uma série de tensões. A última seção deste capítulo, “O sketchbook e não a galeria”, aborda a importância dada ao sketchbook, considerado uma mídia importante para alguns sketchers e que se tornou uma plataforma de exposição dos desenhos, mas levando em consideração a crescente frequência de exposições em galerias e uma inserção de alguns membros em um circuito artístico. Utilizei como fontes bibliográficas os dados informados nos blogs do USk internacional e USk Brasil e nos sites dos simpósios anuais, os textos de Kuschnir (2012a; 2012b), a tese de Ana Beatriz Barroso (2007) e os livros de Eduardo Salavisa (2008; 2011) sobre o sketchbook, entre outros. Além das citações dos sketchers, retiradas dos blogs e dos grupos nas redes sociais, realizei questionários via Messenger, o que me foi bastante proveitoso, visto a participação e disponibilidade dos membros em me responder.
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Assim, tem-se a configuração do trabalho, fruto de dois anos de pesquisa, que aborda o USk com a convicção de que trata-se de um movimento bastante prolífico e significativo para a contemporaneidade, que produz ressonância de outros tempos, mas também torna
O terceiro capítulo, "O Urban Sketchers e a cidade", apresenta a relação do USk com a cidade, fundamentado nos textos diversos de Sandra Pesavento (1995; 2004; 2007), que define essa relação com base na materialidade, na sociabilidade e na sensibilidade dos espaços urbanos. O USk é apresentado como um movimento que resiste às brutalidades das relações sociais, da memória e da sensibilidade nas cidades contemporâneas. No primeiro item, "Cidade e sociabilidade: "os benefícios do desenho em grupo", há uma apresentação dos relatos mais significativos sobre as relações que se dão no USk, além das trocas de informações quanto às técnicas, que enriquecem os encontros. No item seguinte, "Cidade e materialidade: memória e ressonância", trata-se das relações com os espaços urbanos e com a memória e o patrimônio, seja material ou imaterial, encontrados pelos sketchers em suas caminhadas pela cidade. No último item, "Cidade e Sensibilidade: poéticas do olhar", são abordadas as manifestações dos sketchers quanto ao imaginário das cidades, quanto ao olhar despertado pela prática de parar e desenhar, pelo conhecimento e descoberta dos espaços vivenciados. O último item tem tom de fechamento e aborda a relação dos USk com a contemporaneidade segundo o texto "O que é contemporâneo", de Giogio Agamben (2009). Além dos textos de Sandra Pesavento, foram utilizados textos de Sandra Makowiecky (2012), Walter Benjamin (1989), José Reginaldo Farias (2005; 2015), Stephen Greenblatt (1991) e Ulpiano de Meneses (2012), entre outros.
29 relatam. Por fim, este item ainda trata do caráter cognitivo do desenho e sobre como ele possibilita enxergar as nuances do seu derredor. O segundo item, "Registros do tempo e do lugar: o heroísmo moderno", trata de conceituações sobre memória e cotidiano, pensando na valorização do desenho instantâneo e do presente, que abre o caminho para uma mostra maior dos desenhos feitos pelos sketchers. A última seção, "Registro de uma ausência, evocação de uma presença", utiliza o mito do desenho e uma frase de John Berger sobre a importância do último olhar para tratar dos desenhos feitos de locais e prédios prestes a serem demolidos e desaparecer para sempre. Como no item anterior, há uma série de desenhos que são apresentados e relacionados com os referenciais teóricos.As leituras para esse capítulo foram diversas, e destaco os textos de Karina Kuschnir e a dissertação de Gil Isoda (2013), assim como John Berger (2005), Paul Valéry (2012), Pierre Nora (1984; 1993), Michael Pollack (1992), Jacques Le Goff (1979; 1998) e Charles Baudelaire (2006).
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prolífico o nosso próprio tempo, opondo-se a brutalidade do olhar e ao desconhecimento das nossas próprias cidades.
Um ano após a fundação da página, em novembro de 2008, Campanario criou um blog e convidou um grupo de sketchers para compartilhar seus desenhos e narrativas nesta página virtual, que ele chamou de “Urban Sketchers” Sua intenção era que os leitores pudessem “ver o mundo, um desenho por vez”. O blog ajudou a comunidade a ganhar visibilidade e inspirou entusiastas do desenho em todo lugar. Em dezembro de 2009, para melhor servir esta comunidade em crescimento, o Urban Sketchers foi incorporado como uma organização sem
Os urban sketchers são aqueles que produzem registros gráficos (desenhos, gravuras, pinturas) feitos a partir da experiência de sair às ruas para fazer o que se conhece por desenho in loco ou “desenho de locação”. Na citada página do Flickr, ainda em funcionamento, há um aviso sobre as submissões, que devem fornecer o local do sketch e mostrar o contexto ou cenário para objetos, pessoas ou lugares. “Reservamo-nos o direito de remover qualquer desenho que não se encaixe na nossa missão. Encorajamos os membros a escrever histórias com cada sketch”. O aviso finaliza com as restrições: “Não poste imagens de sessões de pose, naturezas-mortas ou retratos”.4
2 “[...] for all sketchers out there who love to draw the cities where they live and visit, from the window of their homes, from a cafe, at a park, standing by a street corner... always on location, not from photos or memory.” Disponível em: <http://www.urbansketchers.org/p/our-mission.html> Acesso em: 17 out. 2016.
1.1 INÍCIO, ESTRUTURA E EXPANSÃO
3 As informações sobre o início, a estrutura e os números do Urban Sketchers foram retirados dos blogs: <www.urbansketchers.org>; <www.brasil.urbansketchers.org> e <https://www.flickr.com/groups/urbansketches/> 4 “We reserve the right to remove anything that does not fit our mission. We encourage members to write stories with each sketch.[...] No sketches from figure drawing sessions, still life, or portraits.” Disponível em: <https://www.flickr.com/groups/urbansketches/> Acesso em: 28 out. 2016.
Em novembro de 2007, o ilustrador e jornalista Gabi Campanario, espanhol radicado nos Estados Unidos e colaborador do jornal The Seattle Times, criou no site Flickr um grupo chamado Urban Sketches. Este termo pode ser traduzido livremente como “esboços” ou “croquis urbanos”. O grupo tinha o propósito de unir “todos os sketchers afora que amam desenhar as cidades onde vivem e que visitam, da janela de suas casas, de um café, no parque, parado numa esquina… sempre no local, não por fotos ou pela memória”.2 Neste capítulo, serão apresentadas as características do Urban Sketchers e o seu crescimento no decorrer destes quase dez anos.3
31 1 CAPÍTULO UM: UMA INTRODUÇÃO AO URBAN SKETCHERS
O USk tornou-se um movimento com uma organização internacional, coordenada por Campanario, e grupos nacionais, que também se subdividem em grupos locais, com seus respectivos coordenadores. A coordenação internacional do movimento é bastante organizada em suas atividades e isso é percebido nas informações que constam no blog oficial do grupo. Mensalmente, publica-se um relatório, o drawing attention, com notícias de comunidades Urban Sketchers ao redor do globo. A inserção no USk traz benefícios, como apólice de seguros para grupos, a utilização da logomarca oficial e do domínio na internet e uma lista no blog de grupos regionais para que interessados possam encontrar parceiros ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, responsabiliza os coordenadores regionais a manterem as páginas atualizadas, com o manifesto do movimento à vista e os eventos próximos anunciados.
A logomarca do movimento foi criada pelo designer italiano Franco Lancio (imagem 1). Segundo ele, representa tanto um sketchbook quanto diferentes janelas ou maneiras de ver o mundo a partir de cada ponto de vista. A utilização da logomarca e do nome Urban Sketchers segue padrões e controles para que não se tenham benefícios lucrativos pessoais.
fins lucrativos no estado de Washington, tornando-se isenta de impostos pela Receita Federal dos Estados Unidos em fevereiro de 2011.
Além de reunir entusiastas do desenho, outros objetivos do Urban Sketchers são organizar eventos, levantar fundos e oferecer bolsas para artistas (KUSCHNIR, 2012a). Escolas, universidades, museus e associações fazem parcerias para criar eventos que promovam a arte do desenho urbano de locação. No blog oficial do movimento, a missão é descrita como:
5 “We are an all-volunteer nonprofit dedicated to fostering a global community of artists who practice onlocation drawing. Our mission is to raise the artistic, storytelling and educational value of on-location drawing, promoting its practice and connecting people around the world who draw on location where they live and travel.” Disponível em: <http://www.urbansketchers.org/p/our-mission.html> Acesso em 17 out. 2016.
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Somos voluntários [de uma organização] sem fins lucrativos dedicada a promover uma comunidade global de artistas que praticam o desenho de locação. Nossa missão é aumentar o valor artístico, narrativo e educacional do desenho de locação, promovendo sua prática e conectando pessoas ao redor do mundo que desenham onde elas vivem e quando viajam.5
Para iniciar o Urban Sketchers principais deles são ter uma comunidade inicial de desenhistas de locação, ter uma plataforma virtual gratuita e três administradores comprometidos com a missão e o manifesto dispostos a organizar os encontros, eventos e p devem preencher um formulário e aguardar aprovação, advertidos de que ainda não estão autorizados a utilizar o nome “ escolhidos os correspondentes, que têm responsabilidade de organizar os eventos nos grupos locais das cidades que aderem ao movimento. Com isso, forma regional de sketchers, que podem se
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Ainda no blog, explica pintores e educadores que tenham “a mesma paixão pelo desenho de observação das cidades e das cenas urbanas” e que p também a narrativa e as circunstâncias em que esses desenhos foram feitos”, reafirmando o conceito já publicado no Flickr circundantes do desenho, como desenho por hobby e trabalham nas mais diversas áreas.
6 Existe o blog do Urban Sketchers
Tratando-se de números, conforme o site oficial “ de 2017 havia em torno de cinquenta seiscentos e cinquenta correspondentes p sete mil seguidores no feed no blog principal, cinquenta e três mil seguidores no postados no Flickr, cento e cinquenta mil visualizações no milhões de visitas nele desde a sua fundação. Obviamente, os dados já estão desatualizados, tamanha a produção diária dos grupos.
USk,Três
Urban Sketchers. Disponível em: rg/p/faq.html> Acesso em 16 out. 2016.
Imagem 1: Franco Lancio. Logomarca <http://www.urbansketchers.o
Brasil”, em maio blog principal e -requisitos.
Urban Sketchers”. Para auxiliar o trio responsável são acesso para fazer postagens nos -se o que é chamado de “USk Regional Chapter r nacionais ou locais, dependendo da abrangência. se que o USk busca arquitetos, ilustradores, ubliquem “mais que apenas desenhos na em 2007. O movimento abrange desde profissionais das áreas Arquitetura, Design e Artes Plásticas, até pessoas que têm o Brasil, assim como o blog USk New York e USk Texas, por exemplo.

blogs, além de ter a ”, ou grupo 6 designers gráficos, web, compartilhando
Urban Sketchers blogs regionais, cem correspondentes no elo mundo em mais de vinte países. Eram mais de do Google e membros no Flickr, onze mil e setecentas postagens Facebook, cento e setenta mil desenhos blog internacional por mês e duas em um país são necessários alguns pré artilhar online as produções. Os interessados
Urban Sketchers (USK) sediou o 1º Simpósio Internacionalvelem:-seuma tela Urban
Anualmente, promovemrealizar e participar de palestras, seminários profissionais, arquitetos, ilustradores e artistas. O seja sair às ruas em grupos para desenhar. Os encontros vêm acontecendo desde 2010 e já foram sede as cidades de Portland Domingo (República Dominicana, 2012), Barcelona (Espanha, 2013), Paraty (Brasil, 2014), Singapura (2015) e Manchester (Inglaterra, 2016). Em 2017, será realizado em Chicago, nos Estados Unidos. A imagem 2 é uma fotografia compartilhada por Liz Steel, de Sydney, no simpósio em Paraty e mostra uma das sessões de desenho com participantes sentados no gramado para desenhar.
No final de julho de 2010, a cidade de Portland, Oregon (EUA), tornou para entusiastas do desenho de todo o mundo quando o Pacific Northwest College of Art (PNCA) e o se encontros internacionais para compartilhar experiências, e oficinas ministradas por educadores momento principal desses eventos, talvez,
O primeiro encontro, em Portland, no estado de Oregon, aconteceu entre 29 e 31 de julho de 2010. No site do evento consta a segu
inte informação:
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Imagem 2: Liz
(Estados Unidos, 2010), Lisboa (Portugal, 2011), Santo desenhando durante o USk em Paraty. 2014. Disponí > Acesso em 28 out. 2016.
Steel. Sketchers <http://paraty2014.urbansketchers.org/

A agenda disponibilizou sessões de desenho em locais específicos, em turnos que iam das 9 às 13h e das 14 às 17h, com no máximo doze pessoas por sessão. Os instrutores vieram de lugares como Singapura, França, Estados Unidos, Itália e Portugal, além do evento ter tido a presença de Gabi Campanario. Havia a disponibilidade de seis sessões durante os três dias, em que os instrutores acompanhavam e davam dicas para os desenhistas e pintores. Cada sessão envolvia uma temática, as três primeiras vinculadas ao tema e objeto; as três últimas, aos elementos técnicos. O primeiro tema foi o Urban people e aos participantes foi ensinado a inserir pessoas nas paisagens urbanas, como desenhar multidões etc. O segundo tema foi o Urban Architecture, pensando sobre a perspectiva e como os arquitetos e artistas podem contribuir reciprocamente aos seus trabalhos. A sessão Urban nature ensinou a adicionar flora e água aos desenhos, enquanto a sessão Urban composition auxiliou a compor cenas urbanas e ensinou princípios de layout. Na quinta sessão, intitulada Urban colors, os participantes aprenderam técnicas e dicas sobre como utilizar cores nos sketches. Por fim, a sessão Urban line mostrou como realizar um bom sketch com poucas linhas, além de abordar como adicionar profundidade e textura ao desenho. Esses mesmos instrutores ministraram palestras e cursos durante os dias, com temas como “história do desenho de locação”, “princípios de perspectiva para sketchers”, projetos de produção em grupo e exibição posterior, além da palestra de Campanario, que trata o artista como cronista. No terceiro dia, simultâneo ao simpósio, ocorreu a 28a maratona de desenhos mundiais, conhecida como World Wide SketchCrawl, evento criado pelo artista italiano Enrico Casarosa em 2004, cuja proposta é muito semelhante a do Urban Sketchers, muitas vezes acontecendo seus encontros simultaneamente. O evento recebeu patrocínio de empresas e fábricas de materiais artísticos, como a Canson, a Faber-Castell, a Moleskine, a Artmedia e a Legion Paper. O simpósio encerrou no fim da tarde com a exibição dos
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7 “In late July of 2010, the city of Portland, Oregon (USA), became a canvas for drawing enthusiasts from around the world as Pacific Northwest College of Art (PNCA) and Urban Sketchers (USk) hosted the 1st International Urban Sketching Symposium. The three-day event attracted participants and presenters from diverse corners of the world. In addition to the U.S., other countries represented were Australia, Belgium, Canada, Mauritania, Italy, Japan, Singapore, the Dominican Republic and Spain. The program consisted of lectures, panels, exhibits and field sketching sessions led by a diverse team of international presenters with backgrounds in art education, architecture, illustration and journalism”. Disponível em: <http://pdx2010.urbansketchers.org/> Acesso em: 30 out. 2016.
Sketching. O evento de três dias atraiu participantes e palestrantes de diversos cantos do mundo. Além dos Estados Unidos, outros países representados foram: Austrália, Bélgica, Canadá, Mauritânia, Itália, Japão, Singapura, República Dominicana e Espanha. O programa consistiu de palestras, painéis, exposições e sessões de esboço em campo liderados por uma equipe diversificada de palestrantes internacionais com formação em arte-educação, arquitetura, ilustração e jornalismo.7
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de 2011 aconteceu de 21 a 23 de julho em Lisboa e foi sediado pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. No site do evento, os organizadores descreveram a experiência: “armados com canetas e aquarelas, desenhistas urbanos de todo o mundo passaram três dias de verão reunidos na pitoresca capital portuguesa junto ao rio Tejo”. 8 Neste ano, instrutores vieram de Estocolmo, Joanesburgo, Buenos Aires, Banguecoque, Seattle, Montreal, Saragoça, Liège, Nova Iorque e da própria Lisboa, entre outros. Representantes de alguns países que participaram da primeira edição também prestigiaram o encontro, totalizando trinta e seis pessoas. O evento foi ministrado na maior parte em inglês, com um número de participantes limitado a 150 pessoas. O número de sessões e palestras foi maior, com temas como “Paisagem urbana: olhando com um olhar de sketcher”, “Contrastes”, “Capturando ambientes”, “linha sobre cor”, “movimento”, “história da praça”, “Panoramania”, “etnografia urbana” e “como fazer um sketchbook”, entre outros. Karina Kuschnir (2012a, p. 5) escreveu que “todo o encontro internacional do USk em Lisboa foi organizado em torno da ideia de 'desenhar a cidade'” e que no caderno distribuído aos participantes havia “um desenho de Lisboa na capa, um mapa da cidade no verso e uma programação onde todos os workshops foram denominados a partir dos locais onde seriam feitos os desenhos”. No dia 23 aconteceu o 32° SketchCrawl simultâneo ao simpósio e, assim como no primeiro ano, empresas e particulares apoiaram o evento.
Entre os dias 13 e 15 de julho de 2012 o encontro aconteceu em Santo Domingo, a capital da República Dominicana, e foi sediado pelo Centro Cultural de España e pelo Museo de las Casas Reales. Os instrutores/palestrantes vieram de Barcelona, Yorkshire, Sevilha e Sydney, além de alguns que tiveram sua segunda ou terceira participação e outros que eram da própria cidade. Uma novidade foi a participação de Eduardo Bajzek, que fundara no ano anterior o USk no Brasil, como instrutor. O simpósio teve como workshops sessões semelhantes aos anos anteriores, mas também opções novas como “desafio através das limitações” e maneiras de perceber a paisagem urbana através de suas camadas. As sessões de perguntas e respostas do site oficial do encontro esclarecem o limite de inscrições, que foi de cem pessoas, o valor de ingresso no simpósio e o motivo da cobrança, justificando que os
8 “Armed with pens and watercolors, urban sketchers from around the world spend three summer days drawing together in the picturesque Portuguese capital by the Tagus river.” Disponível em: <http://lis2011.urbansketchers.org/> Acesso em: 30 out. 2016.
desenhos e o lançamento de uma antologia online do evento. No blog do simpósio, participantes postaram seus desenhos e seus relatos dos três dias de simpósio, além de fotografias.Oencontro
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Informações disponíveis em: <http://bcn2013.urbansketchers.org/p/locations.html> Acesso em: 28 out. 2016
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Informações disponíveis em: <http://sdq2012.urbansketchers.org/p/faq.html> Acesso em: 28 out. 2016
Informações disponíveis em: <http://paraty2014.urbansketchers.org/> Acesso em: 28 out. 2016
O encontro de 2014, em Paraty, no Rio de Janeiro, entre os dias 27 e 30 de agosto, foi sediado pela Casa da Cultura daquela cidade fluminense de aspecto colonial. Contou com dezesseis workshops, com temas já tratados e outros, como a oficina de “bouding boxes”, que consiste em criar sequências gráficas com narrativas e elementos intangíveis; e “in the mood”, que trata das atmosferas, humores ou energias de diferentes locais ou tempos. Além dos já veteranos, alguns instrutores vieram também do Irã, Inglaterra e Costa Rica. O simpósio contou com atividades extras, como a “Portrait Exchange”, em que as pessoas desenhavam a si mesmas e também entre si; desenhos coletivos, visitas para conhecer a história da cidade e sua relação com o cenário construído, mesas para avaliação e críticas de sketches e saídas noturnas para desenhar. Houve também demonstrações de como construir seu próprio material de desenho e palestras. Gabi Campanario falou sobre seus triunfos e tribulações enquanto sketcher colunista; Karina Kuschnir palestrou sobre sua proposta etnográfica e Xing Chen, neurocientista de Singapura, falou sobre a arte e a neurociência, pensando sobre os mecanismos biológicos que trabalham juntos na produção de um sketch ou de uma obra de arte. À equipe foram acrescentados membros brasileiros e de outros países, como Japão e República Dominicana. O número de pessoas aumentou devido às atividades extras, chegando a mais de duzentas e cinquenta. Neste ano não houve SketchCrawl nos dias do evento, pois este sempre acontece em janeiro, abril, julho e outubro.11
Do dia 11 a 13 de julho de 2013, em Barcelona, aconteceu o quarto simpósio nos mesmos moldes dos anteriores, dessa vez sediado pelo Centre de Cultura Contemporània de Barcelona. Vinte sessões aconteceram neste ano, agrupadas por eixos temáticos: “sentir o espaço”, com seis sessões que tratam da percepção da cidade; “ver a luz”, com seis sessões que tratam da utilização das cores, massas e tintas e iluminação nos sketches; “se expresse”, com quatro sessões sobre expressão e subjetividade; e por fim “conte a história”, com quatro sessões sobre como retratar o cotidiano. No sábado aconteceu o 40º SketchCrawl, aberto a qualquer interessado, visto que as sessões foram limitadas, neste ano, a cento e cinquenta pessoas.
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37 palestrantes e auxiliares em geral não são pagos, porém suas despesas são cobertas com ajuda das taxas de inscrição e de patrocinadores particulares ou governamentais. Numa das tardes aconteceu o 36º SketchCrawl. 9
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12 Informações disponíveis em: <http://singapore2015.urbansketchers.org/> Acesso em: 28 out. 2016
13 Informações disponíveis em: <http://www.urbansketchers.org/p/usk-symposium.html> Acesso em: 28 out. 2016.
Em 2016, de 27 a 30 de julho, aconteceu em Manchester, Inglaterra, a sétima edição do simpósio internacional. Sediado pelo Manchester School of Art, workshops novos trouxeram temáticas como o desenho em 360 graus, o desenho de carros na cidade e um desenho que conte a história e o entorno do cotidiano ao redor de um prédio histórico. As atividades envolveram desenhos em pubs e de músicos, criação de cartões-postais, entre outros. Palestras de Karina Kuschnir sobre “como ensinar desenho aos não-artistas” e do inglês Ed Harker sobre a história dos livros de sketches fizeram parte do evento também. Vieram palestrantes e instrutores da França e Alemanha, Hong Kong, Bélgica e de outros países já citados anteriormente.13
No ano de 2015 o simpósio aconteceu do dia 22 a 25 de julho, na cidade-estado de Singapura. O evento foi sediado pela National Centre Design e pela Temasek Polytechnic Houve workshops com temas novos, como a influência da caligrafia chinesa no desenho e um passeio etnográfico e antropológico pelas ruas da cidade. A ideia das atividades, demonstrações e palestras continuaram neste simpósio, nos moldes do ano anterior. Novos participantes vieram da Dinamarca, Israel e Índia para se unir ao já variado grupo de palestrantes e instrutores. No último dia aconteceu o 45º SketchCrawl. A paulistana Fernanda Vaz de Campos esteve, pela segunda vez, na comissão organizadora do evento.12
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Em 2017, nos dias 26 a 29 de julho, o oitavo simpósio acontecerá em Chicago, Estados Unidos. Estão disponíveis workshops bastante diversificados, com alguns temas já consagrados e outros novos, como “A grande ilusão: alcançando um sentido dramático de profundidade”, “Caçadores dos reflexos de Chicago”, “Como captar o céu”, “Desenhe agora, pense depois” e o “Procreate101 para o Ipad Urban Sketching”, que tratará de como utilizar o Ipad para fazer sketches. Acontecerá também uma palestra com Rita Sabler, dos Estados Unidos, denominada “Desenhando como uma voz de resistência: documentando dissidências políticas através do desenho”, que abordará os temas arte e mobilização política.14
No blog oficial USk há anúncios de workshops promovidos ao redor do mundo, nas diversas temáticas, principalmente no compartilhamento de técnicas e possibilidades do desenho, pessoal ou em grupo. Um comitê de educação é apresentado no site, junto de uma equipe de aproximadamente sessenta instrutores de todos os continentes, que trabalham nas diversas áreas que interessam os sketchers: arquitetura, artes visuais, design, educação, entre
14 Informações disponíveis em: <http://www.urbansketchers.org/p/usk-symposium-programming.html> Acesso em: 21 mar. 2017.
39 outros. Esse grupo é o mesmo que compõe a equipe de palestrantes e instrutores nos simpósios internacionais. Muitos deles publicam livros, principalmente nos âmbitos do ensino do desenho e suas técnicas e livros-catálogo. Três autores que Karina Kuschnir destaca são Danny Gregory, de Nova Iorque; Eduardo Salavisa, de Lisboa; e o próprio Campanario. Seu livro, “The art of Urban Sketching”, lançado em 2012, é um guia demonstrativo para a prática USk, pois além de uma introdução contando sua própria relação com o desenho, Campanario convida o leitor a fazer uma turnê pelo mundo, conhecendo sketches de cidades dos cinco continentes, começando em Seattle e finalizando em Sydney, assim como os autores dos desenhos e suas percepções sobre o USk. O livro também lista materiais possíveis para o desenho e termina com uma seção chamada de “drawing inspiration”. Com sessenta páginas, esta parte do livro mostra horizontes, paisagens urbanas, panoramas, construções e arquitetura, indústrias e áreas de construção, portos e orlas, monumentos, carros e mobílias urbanas, paisagens através das estações, eventos, notícias e performances, metrôs, ônibus e aeroportos, cafeterias, restaurantes e bares, movimento das pessoas, parques e museus, cenas noturnas, todos com exemplos práticos já realizados ao redor do mundo. Mais do que um guia ou catálogo, é um livro que agrada aos amantes da paisagem urbana e das viagens exploratórias, com um layout leve e muitas imagens de qualidade e relatos inspiradores dos membros doOmovimento.USknasceu no Brasil em agosto de 2011, logo após o simpósio internacional em Portugal, onde o arquiteto paulistano Eduardo Bajzek e o artista plástico João Pinheiro conheceram Gabi Campanario e ficaram interessados em trazer a ideia para o Brasil. Juntaram-se à artista plástica Juliana Russo, também de São Paulo, e receberam as instruções e o apoio do USk internacional para iniciar o movimento por aqui Desde então, o USk Brasil cresceu e no final de 2016 já possuía quase sessenta correspondentes no blog e mais de seis mil membros/seguidores no perfil do Facebook, distribuídos na maior parte das capitais brasileiras e em cidades como Araraquara, Santo André, São Carlos, Mogi das Cruzes, Paraty, Santos etc. No blog há mais de mil postagens e trezentas e quarenta e cinco mil visualizações. O estado de Santa Catarina tem como correspondentes os arquitetos Cláudio Santos, de Joinville, e Jony Coelho, de Tubarão. Em 2016, o USk Florianópolis começou seus encontros, organizados pela arquiteta Jaqueline Silva. Na imagem 3, Jony Coelho e Ramon Correia desenham na praça XV de novembro, um dos pontos históricos da cidade.
A primeira postagem no blog por João Pinheiro, que descrevia a primeira reunião do grupo com os três fundadores. A expectativa dos organizadores é que em pouco tempo esse número chegasse a cem.
USk Brasil aconteceu no dia 18 de agosto de 2011, feita no dia 14 de Agosto, domingo, dia dos pais, numa Urban Sketchers Brasil (ufa). Nada melhor do sso que nós fizemos. Finalmente, . lhes conselhos imprescindíveis para formalizar a o USk. O
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em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1569096640061369&set=a.1379009039070131.1073741826.100008831435115&type=3
Imagem 3: Jony Coelho e Ramon Correia desenhando no 4º Encontro USk Florianópolis. 2016. Disponível

Ele ainda destacou o potencial do Brasil para atrair ao desenho um bom número de sketchers, devido a “sua proporção continental, incrível variedade cultural, étnica, além de uma rica história artística, que apesar de curta, já tem artistas conhecidos mundialmente e tantas outras coisas extraordinárias” (ibidem). Pinheiro também destacou que neste encontro ele conheceu Juliana e que conhecera Eduardo no mês anterior, no II Simpósio Internacional, em Lisboa. Lá os dois conversaram com Campanario sobre a “filial brasileira” d fundador do movimento, na ocasião, deu adesão e logo disponibilizou o site filial. Nesta reunião em São Paulo eles foram desenhar em
O nosso primeiro encontro se deu manhã cinzenta. Mas nós nem nos demos conta do cinza, só o que queríamos era nos encontrar para alavancar de vez o que conversarmos sobre isso desenhando e foi i depois de uma longa espera, inauguramos esse site com esta primeira postagem, falando do nosso primeiro encontro. Naquele dia éramos três, mas até o final do ano, quem sabe, seremos cem! (PINHEIRO, 2011a)
> Acesso em: 14 fev. 2017
A imagem 4 mostra os três fundadores do movimento no Brasil naquele que foi o primeiro encontro. Vê-se Eduardo Bajzek, Juliana Russo e João Pinheiro, da esquerda para a direita. Nas imagens 5 e 6 temos os desenhos de Pinheiro e Bajzek, respectivamente, resultado do encontro que mostram o local retratado, a catedral Ortodoxa perceber, como citou Pinheiro representações, seja considerando de onde se vê, quais técnicas se propõe a utilizar e quais elementos serão colocados em destaque e quais serão descartados. Pinheir partes, uma mostrando o muro/cerca e alguma vegetação, assim como a calçada, colocando ao lado a vista da catedral com prédios ao fundo. Já Bajzek d desconsiderando o fundo e a calçada.
Imagem 4: Eduardo Bajzek, Juliana Russo e João Pinheiro, fundadores do USK Brasil. 2011. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2011/08/benvindos senhos completamente o objetivo do movimento de São Paulo

. Aqui pode-se o desenhou em duas
ênfase ao prédio,
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frente à catedral ortodoxa do Paraíso. Segundo Pinheiro, “três de diferentes feitos no mesmo local, três pessoas, três vidas, três maneiras de ver o mundo, tudo expresso de alguma maneira no traço de cada um”, demonstrando excitação quanto aos rumos que o movimento teria no país. Por fim, ele reforça desenhistas para que saiam de suas casas portando cadernos de desenho e que invadam as ruas do nosso país, retratando-o (ibidem).
, a forma como dois olhares diferentes geram diferentes eu -ao-urban-sketchers-brasil.html> Acesso em 01 out. 2016 e convoca
42 Imagem 5: Desenho de João <http://brasil.urbansketchers.org/2011/08/benvindosPinheiroImagem6:Fotografiacomdesenhodeem:<http://brasil.urbansketchers.org/2011/08/benvindosdaCatedralOrtodoxa de São Paulo e entorno. 2011. Disponível em: -ao-urban-sketchers-brasil.html> Acesso em: 14 fev. 2017 Eduardo Bajzek da Catedral Ortodoxa de São Paulo. 2011. Disponível -ao-urban-sketchers-brasil.html> Acesso em: 16 out. 2016.


A imagem 7 é o desenho de Russo, que não desenhou a catedral, mas a vegetação nos primeiros planos com a cidade ao fundo. Uma ata do encontro se dá no próprio caderno desenho, feita por ela mesma. Como se pode notar, a primeira semana do movimento no Brasil obrigatória para os membros postarem suas produções; fazer os primeiros v participação do USk, colocar a primeira postagem no ar com desenhos e fotos e uma carta inaugural; criar um e-mail padrão para enviar a todos integrantes ao ingressar no com explicações, instruções e funcionamento do modelo USk, traduzir o manifesto, procurar desenhistas urbanos do maior número de estados possível, fazendo inclusive uma lista dos estados, criar um encontro municipal mensal e um
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Juliana Russo com metas para USk. 2011. Disponível em: -ao-urban-sketchers-brasil.html> Acesso em: 17 out. 2016. sketcher escreveu as prioridades para a , que eram: criar o Flickr do blog, criar a logomarca brasileira com o de USk-Brasil, página inte convites
movimento,para
Imagem 7: Página do caderno de <http://brasil.urbansketchers.org/2011/08/benvindos

Imagem 8: Cartaz do I Encontro USk São Paulo. 2011. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2011/10/1

rtaz (imagem 8) já utiliza a logomarca do USk a: “Desenhistas de todos os cantos
durante o I Encontro Nacional, em
15 Entrevista individual concedida no dia 23 de abril de 2016,
Os três pioneiros organizaram um primeiro encontro oficial em São Paulo para o feriado de 15 de novembro de 2011. O ca postagem brinca com a frase de Karl Marx, parafraseando uni-vos no centro de São Paulo para desenhar, pintar e bordar a Terra da Garoa!” 2011c). Nos três anos que se seguiram, o USk cresceu, sobretudo nas capitais do país. À época do quinto simpósio, o país já tinha em torno de trinta correspondentes e mais de oitocentas postagens no blog. A imagem 9 é uma fotografia de um dos encontros em São Paulo, em junho de 2014. Após o evento, a coordenação do grupo passou para os arquitetos André Lissonger, Ronaldo Kurita e Thaís Machado, de Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. Lissonger é o atual coordenador nacional, Kurita é o coordenador de eventos, enquanto Machado é a coordenadora de mídia.
44 nacional anual, além de criar um livro de e projetou, tudo foi concretizado, embora o encontro nacional e o livro no ano de 2016. O norte do país ainda não tem muita participação no USk. Outra preocupação inicial, relatada por Bajzek,15 era de não ser um movimento de apenas arquitetos e apenas homens, visto que a maioria no Brasil ainda tem essas características.
xposição pelo menos a cada dois catálogoanos.sóaconteceram
-encontro-urban-sketchers-brasil.html> Acesso em: 01 out. 2016
Do que (PINHEIROesea Curitiba.
16
pondentes também são listadas, como postar -o-urban-sketchers-br.html> Acesso em: 28 out. 2016. o -se apenas
São Paulo. 2014. Disponível em: rg/2014/06/a-praca-roosevelt-ainda-e-dos.html> Acesso em: 04 nov. 2016.
oeste e um do norte. Há ainda blog brasileiro, André Duarte Baptista. Quanto a profissão, provém da arquitetura. Quanto ao gênero, apenas onze sã
- os desenhos e as histórias por trás deles; comprometimento com o Urban Sketchers, criado pelo Gabi Campanario; assiduidade como e eventos de desenho, como o

Imagem 9: Bruno Lucatelli <.http://brasil.urbansketchers.o
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Há ainda informações quanto a origem profissional dos membros, exigindo dos que querem aderir ao movimento que tenham em comum a mesma paixão pelo desenho de locação. Outras responsabilidades dos corres
Em dezembro de 2016, o USk Brasil já contava com cinquenta e seis correspondentes. Trinta e quatro deles são da região sudeste, sobretudo de São Paulo; dez são do sul, especialmente de Curitiba; oito são do nordeste, dois do centro um português que colabora com o mais da metade dos sketchers mulheres. No blog há o link “como participar” do movimento, cuja resposta é: os correspondentes são convidados com base nos seguintes aspectos: qualidade do trabalho; estilo e originalidade; habilidades gerais como contadores de histórias Manifestovisuais participantedeem um dos grupos citados acima; envolvimento pessoal com o grupo, através da participação e/ou promoção d Sketchcrawl.
16 Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/p/sobre.EncontroUSk

Após a palestra, houve o lançamento do livro “Sketchers do Brasil”, organizado também por eles e reunindo cinquenta e um membros que escreveram pequenos perfis biográficos e apresentaram alguns de seus desenhos. O livro tem duzentas e quinze páginas e conta com um prefácio do cronista paranaense Luis Henrique Pellanda, apresentação por André Lissonger e agradecimentos por Fabiano Vianna. Pellanda (apud DIAS et al., 2016, p. 5) faz referências a Walter Benjamin e ao flâneur, atualizando-os na prática USk e relatando como conheceu o grupo curitibano:
Além dos encontros internacionais já citados, há encontros municipais e estaduais, que acontecem regularmente, conforme a disponibilidade dos membros. Em Curitiba, por exemplo, os encontros são semanais. Essa cidade, em abril de 2016, sediou o “I Encontro Nacional USk Brasil”. Ele foi organizado por Antônio Dias, Fabiano Vianna, Raro de Oliveira, Simon Taylor e Thiago Salcedo. Durante quatro dias, de 21 a 24 de abril, sketchers do Brasil reuniram-se na capital paranaense para conhecer-se ou reencontrar velhos amigos, trocar experiências e, acima de tudo, sair pelas ruas da cidade e desenhá-la. Na primeira noite, dia 21, os participantes do evento assistiram a uma palestra informal proferida por André Lissonger e os cinco organizadores. Os palestrantes falaram sobre o movimento, o manifesto que o envolve e o caminho traçado da organização do evento até então.
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Chegam à esquina da Cândido Lopes e se espalham pela calçada, marcham rumo ao Largo Frederico Faria. É uma turma quieta, que vai se posicionando aqui e ali, buscando lugares frescos à sombra das marquises, debaixo dos jacarandás. São muitos, e estranhamente circunspectos, quase respeitosos.
Na apresentação, Lissonger explica o que é o movimento, considerando-os grupos de artistas visuais que registram cidades. Como arquiteto, diferencia o desenho urbano como um projeto arquitetônico da produção USk, visto que esta se trata de produzir “croquis, esboços, mais ou menos fiéis das cenas urbanas que frequentam, dos momentos vividos, com estilos próprios e licenças poéticas variáveis” (ibidem, p. 7). Ele ainda cita alguns artistas que retrataram as paisagens urbanas desde o medievo, como Debret, Landseer, Canaletto e John Ruskin e relata o crescimento do movimento pelo mundo, cujos responsáveis seriam a divulgação das atividades pelos simpósios, workshops, encontros, pelas redes sociais, pelo
no blog no mínimo uma vez por mês, dar feedback aos colegas desenhistas no blog, Flickr e Facebook, oferecer, além do desenho, a narrativa explicando as circunstâncias em que o desenho foi feito ou uma história em particular por trás dele. Um dos objetivos é tornar o blog diverso em termos de geografia, estilo e práticas.
Esse encontro mostra a força do nosso país,com grandes potência espalhadas em diversos cantos do Brasil. É de emocionar o fato de constatar como nossa pátria é imensa não apenas nas dimensões físicas. E mesmo com todas as dificuldades de mobilidade ainda enfrentadas por essa nação continental, o encontro fez convergir talentos de vários cantos do território nacional, mostrando a nossa avidez por cultura, por arte e nossa necessidade de conhecer brasileiros.
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18 Acesso<https://www.facebook.com/uskbrasil2017sp/photos/a.1177201545651927/1186673101371438/?type=3>em:30abr.2017.
Participar do 1º Encontro do USk Brasil foi uma experiência maravilhosa. Não consigo descrever a sensação de estar ao lado de mais de 200 sketchers registrando a percepção de diversos pontos de Curitiba. Foi emocionante e muito divertido também! Pude conhecer pessoalmente alguns que tenho como referências, fazer novas amizades e trocar ideias sobre técnicas e experiências dos grupos de outras cidades. A equipe organizadora fez tudo de forma primorosa, estão de parabéns! Foi lindo! Já aguardo ansiosamente pelo segundo encontro na cidade de São Paulo.
17 Acesso<https://www.facebook.com/uskbrasil2017sp/photos/a.1177201545651927/1183651018340313/?type=3>em:30abr.2017.
Outro participante, Francisco Leocádio (2016) 18, do Rio de Janeiro, afirmou que:
claro manifesto e pela equipe bastante enxuta. Por fim, ele compara a leitura do livro com uma viagem pelo território brasileiro, reafirmando a potência do desenho para nossa descoberta das visões urbanas. Coube a Fabiano Vianna os agradecimentos, em que ele relata como a ideia de um livro de sketches curitibanos transformou-se em um livro de abrangência nacional. Para ele, com este livro é “possível perceber as nuances do estilo de cada um” (ibidem, p. 9). Dos cinquenta e um sketchers, em uma distribuição regional, há vinte provenientes do sul, dezenove do sudeste, oito do nordeste e quatro do centro-oeste. Mais da metade é composta por arquitetos; o restante distribui-se nas artes e no design, em geral; quanto ao gênero, quarenta e um são homens e dez são mulheres.
Nos dias seguintes os participantes do encontro nacional foram a locais como a Praça 29 de março, o Centro Histórico, a Praça das Flores, o Jardim Botânico e o museu Oscar Niemeyer, onde aproximadamente duzentos e setenta sketchers produziram seus desenhos, expondo no final de cada sessão, como mostra a imagem 10, com vários desenhos do museu curitibano da manhã de domingo. Os patrocinadores ofereceram brindes, como papéis especiais para desenho, kits de desenho e livros de sketchers ou sobre prática do desenho. O evento foi considerado bem-sucedido pelos organizadores e terminou no domingo de manhã, com uma fotografia oficial que retrata a grande participação de sketchers, em sentido numérico e qualitativo (imagem 11). Ariane Borges (2016) 17, de Goiânia, relatou:
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Urban Sketchers. 2016. Disponível em: > Acesso em 16 out. 2017.
Imagem 11: Foto oficial do I Encontro Naciona <http://brasil.urbansketchers.org/

Após o encontro nacional, vários participantes de destaque entraram para a categoria de colaboradores no blog. Para o ano de 2017, o USk Brasil já tem agendado o II Encontro, que se realizará em São Paulo, no mês de setembro. Os números continuam crescendo, seja 2016. Arquivo
Imagem 10: Exposição de desenhos feitos no Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, no Encontro Nacional USk,
lpessoal.

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O Urban Sketchers também tem um manifesto. Diferente desses já citados, o manifesto USk não tem objetivo militante ou político, mas trata-se de uma declaração dos
A história das vanguardas europeias na arte do século XX é repleta de novidades, entre as quais os manifestos que deram identidade a grupos diversos de artistas, como os fauvistas, os surrealistas, os suprematistas e os futuristas. No Brasil, da mesma forma, surgiram os manifestos Antropofágico e da Poesia Pau-brasil, por exemplo. Tal prática não iniciou no campo das artes, pois no século XIX já havia sido escrito o Manifesto Comunista e o Manifesto dos Treze Generais, este último no Brasil, cujo objetivo era questionar o governo de Floriano Peixoto; ou seja, estava vinculado a questões políticas.
1.2 O MANIFESTO URBAN SKETCHERS: PADRÕES E TENSÕES
em questão de participantes, desenhos publicados, seja em número de seguidores, estes também amantes do desenho das cidades, mas talvez ainda tímidos ou inseguros para tornarse um verdadeiro sketcher.
Ana Beatriz Barroso (2007) escreve que na virada do século XIX para o XX, os artistas estreitaram suas relações com os meios comunicativos e saíram de “um universo intimista de comunicação - as cartas e diários, onde se expressam em termos pessoais, místicos e filosóficos”. Passaram por um momento de teorização quase científica, usando os livros para comunicar suas teorias e chegarem, por fim, “a uma verdadeira cultura de manifestos, onde o que importa é exprimir de maneira convincente e persuasiva uma verdade que sustente a uma determinada visão artística.” (ibidem, p. 158).
A cultura dos manifestos acompanha o ambiente intelectual e social correspondente à abertura conceitual da arte. Os manifestos são meios de difusão das reflexões dos artistas a respeito da arte – conceitos, técnicas, aspectos ligados à fruição da obra. As realizações, as obras de arte, são ali explicadas e interpretadas pelo artista para a sociedade, que começa a ver a arte de outro modo, reconhecendo valores estéticos onde antes não era possível. (ibidem, grifos da autora).
Os vanguardistas europeus acreditavam que o que escreviam teria um poder de transformação. Alguns manifestos têm tons agressivos e exclusivistas, como o futurista, que condena regimes de verdades em detrimento do seu próprio regime. Há formulações dogmáticas, militâncias, enquanto o manifesto suprematista, por exemplo, tem um tom mais brando. Outros, como o Antropofágico, procura um rompimento com o passado colonizador. Cada um deles tem sua organização e objetivos diferenciados por seu próprio contexto.
19 Entrevista respondida via e-mail dia 31/03/2017.
50 valores, dos ideais e das propostas do movimento, afirmando o que se pode chamar de urban sketching. Configura-se muito mais em uma declaração de intenções do que será executado e não tem interesse em transformar o mundo ou de tornar as pessoas mais conscientes de uma determinada situação político-social. “Um manifesto normalmente é uma declaração”, diz Barroso (ibidem, p. 169), e estes “alcançam um público distante do contexto do autor, seja no tempo [...] seja no espaço […]”. O manifesto USk não tem a força das vanguardas, até mesmo porque no mundo contemporâneo isso não é mais possível, também não há saudosismo em relação a elas. O que o documento faz é se apropriar de uma característica dos manifestos, ou seja, primar pela divulgação de ideais, acreditando ser possível um documento norteador para a prática dos integrantes do movimento, assim como fora no âmbito dos movimentos artísticos
Osvanguardistas.manifestos,em geral, criam identidades de pensamento para determinado grupo, que passa a traçar sua rota prática em torno dele, independente das distâncias. Para o Urban Sketchers, que tem obtido um crescimento global, o manifesto é importante porque as concepções sobre desenho de locação estão bem claras, assim como delimitações do que deve ou não ser feito. Quando se afirma o que fazer, se entende o que não fazer, automaticamente. Assim, os membros, que podem nunca ter tido contato entre si antes, têm neste documento um norte a seguir. Irmgard Schanner, de São Paulo, afirma que o manifesto já lhe foi reforçado num dos primeiros encontros que participou e que o segue, pois “somos um grupo e precisamos manter uma coerência com o princípio de mostrar o mundo a partir do desenho de observação in loco".19
Ainda em 2007, Campanario foi enfático em seu grupo no Flickr, quando limitou a postagem de desenhos àqueles produzidos in loco. Por causa desse interesse, não de padronização ou censura, mas da formação de elementos caracterizadores, ou como afirma Barroso, de “autoafirmação e de convicção” (ibidem, p. 157), Campanario criou o manifesto no qual expôs sua visão. O documento está disponível nos blogs, perfis e é solicitado que sempre esteja em evidência no ambiente digital. Barroso (ibidem, p. 158) afirma ainda que “o manifesto tinha a obrigação de expor os conceitos fundamentais à compreensão (e aceitação) da arte que apresentava e defendia”. Numa época em que defende-se a individualidade e a liberdade, seguir regras ou mesmo um manifesto pode soar estranho. Campanario decidiu não abrir espaço para qualquer tipo de desenho porque a prática principal, o elemento
51 caracterizador, é o desenho in loco. Sendo assim, a primeira característica que desqualifica um desenho como urban sketch é a reprodução de fotografias ou outras imagens já prontas.
Sou arquiteto, e na época da faculdade tive aula de restauro e história com o professor Marcos Carrilho. Ele, em suas muitas viagens, sempre carregava um caderno e fazia registros gráficos das paisagens em que se encontrava. Registros rápidos, em nanquim, com poucos traços, mostrando tão somente o essencial. Seus
22 Entrevista via Messenger dia 31/03/2017.
O manifesto não constitui um rígido manual de instruções, mas um conjunto ideológico que procura se tornar intrínseco na prática do sketcher, não de uma forma mecânica. Isso é visto a partir de relatos dos próprios membros, em resposta a um questionário sobre suas práticas.20 Raro de Oliveira afirma que foi conhecendo o manifesto aos poucos, que o segue, mas não como algo rígido: “flexibilizo coisas como ser fiel a cena [...]”. Ele relata que já ouviu coisas como “ah, isso não era assim e 'assado' no lugar, mas sempre levamos isso com bom humor e entendemos que o manifesto é só uma base, e cada um o interpreta como pode e quer”. Antônio Dias diz que segue o manifesto, mas utiliza-o com certa liberdade poética, já que, para ele, “o manifesto se insere na atividade de maneira muito orgânica”. Áureo Castelo Branco, de Teresina-PI, acredita que o manifesto é tão simples “que é mais fácil seguir do que inventar outro”. Já Odil Miranda, de Londrina- PR, afirma que segue o manifesto, pois acha a proposta bem coerente, apesar de nunca ter se sentido pressionado a isso. Carlos Avelino, de São Paulo, procura sempre seguir o manifesto, mas por estar tão habituado a isso, já nem pensa mais.
20Entrevistas realizadas entre os dias 27/03 e 21/04/2017 via Messenger
Para alguns membros, ingressar no movimento foi adquirir novas práticas; para outros, o desenho in loco já era uma constante e adentrar no USk significou encontrar uma teorização de sua prática, um pensar sobre ela, e não uma lista de “oito mandamentos”. Osvaldo Da Costa, de Santos-SP, afirma que muito antes do USk já desenhava in loco e que os itens do manifesto são seguidos por ele de maneira muito natural. Aurea Chu, de Curitiba, diz que quando entrou no grupo, verificou na página o manifesto, o que para ela, talvez seja o seu perfil e maneira de desenhar. A carioca Tamires Barbosa, no entanto, não teve contato com o manifesto quando entrou no grupo, mas depois ela viu a postagem fixa nas redes sociais e percebeu a correspondência com o que ela e outros artistas já faziam.21 Kei Isogai, de São Paulo, 22 afirma que “o manifesto sempre foi bem claro, do sentir a espacialidade de maneira verdadeira, desenhando in loco”. Isogai já tinha tudo isso em mente antes mesmo de começar a participar do USk:
21Idem nota anterior.
II- Nossos desenhos contam histórias do dia a dia, dos lugares em que vivemos, e para onde viajamos.
V- Nós utilizamos qualquer tipo de técnica e valorizamos cada estilo individual.
52 desenhos eram bonitos demais. Lembro daquilo me encantar e me trazer algo novo. Foi, para mim, sem antes conhecer o grupo Urban Sketchers, de fato, o início de minha trajetória como urban sketcher. Fiz um "manifesto" em minha própria cabeça que, como caminhante e desenhista, devia criar registros dos lugares em que passava, no próprio local, para que o desenho fizesse sentido, para que fosse algo verdadeiro. Uns dois anos atrás conheci o Urban Sketchers, e obviamente me entusiasmei com a ideia de uma comunidade que segue essa mesma ideia.
VIII- Nós mostramos o mundo, um desenho de cada vez.
III- Nossos desenhos são um registro do tempo e do lugar.
IV- Nós somos fiéis às cenas que estamos retratando
I- Nós fazemos desenhos de locação, através da observação direta, seja em ambientes externos ou internos.
23 “Urban Sketching is purely for fun”; “In a sense, urban sketching can be more about the experience than the result.”
Campanario (2012, p. 18) 23 afirma que fazer sketches “é puramente por diversão” e que isso diz respeito mais à “experiência do que o resultado”. Marcos Bandeira (2011a), de Fortaleza, acredita que hoje, paralelamente aos desenhos produzidos em suas atividades acadêmicas e do escritório, ele exercita o desenhar dentro da filosofia do USk, atitude que tem sido uma atividade cada mais rica e prazerosa. Para o neozelandês Murray Dewhurst (apud CAMPANARIO, 2012, p. 250)24, “desenhar in loco é uma pausa refrescante das muitas horas gastas em um computador na minha empresa de desenho gráfico.” Ou seja, Dewhurst encontra na prática do USk uma forma de fugir das regras profissionais e não submeter-se a mais um conjunto de cânones a seguir. Mesmo assim, vale reforçar que quem não deseja desenhar in loco, tem a liberdade para isso, só não deve compartilhar nas plataformas do USk. Tamires Barbosa afirma que nunca teve problema em relação ao manifesto, pois o leva como uma escolha ocasional e não como uma regra para o seu fazer artístico, o que, para ela, se torna mais divertido e gratificante participar.25
A tradução do manifesto é uma das prioridades quando um grupo USk inicia em um país. A versão brasileira foi traduzida do inglês26 por Fernanda Vaz de Campos:
25 Entrevista via Messenger dia 28/03/2017.
26 “I- We draw on location, indoors or out, capturing what we see from direct observation./ II- Our drawings tell the story of our surroundings, the places we live and where we travel. III- Our drawings are a record of time and place./ IV- We are truthful to the scenes we witness./ V- We use any kind of media and cherish our individual styles./ VI- We support each other and draw together./ VII- We share our drawings online./ VIII- We show the world, one drawing at a time.” Disponível em:<http://www.urbansketchers.org/p/our-manifesto.html> Acesso em: 30 abr. 2017.
24 “Drawing on location is a refreshing break from the many hours spent on a computer at my graphic design business.”
VII- Nós compartilhamos nossos desenhos online
VI- Nós nos apoiamos e desenhamos juntos.
Primeiramente, o desenho o sketcher se encontra. “Eu desenho em qualquer lugar: no metrô, nos ônibus, na padaria e em casa”, diz João Pinheiro (apud CAMPANARIO, 2012, p. 94). avenidas, campos, salas de aula e qualqu Jansen, sketcher japonês (ibidem, p. 248) sua prática: “subo em vários telhados e caminho muito através da cidade mostrar algo da sensação de viver no sensual, colorido e anônimo abraço dess crescente organismo.” Salavisa (2008, p. 15) cita o relato de Robert Crumb, no livro “Diários de Viagem”, sobre os benefícios do uso destes, que além de trazer o puro prazer, são um agradável passatempo, já que Crumb os utiliza nos longos jantares que participa. Martin Etienne, de Paris (apud CAMPANARIO, 2012, p. 140) transformar momentos de tédio ou espera e torná Vale lembrar, portanto, que amb USk, como no desenho de Ricardo Migliorini (2017) minha irmã, onde passei o nada pra fazer e sem café, aproveitei para desenhar”, diz ele .

27 “I draw everywhere: in the subway, on buses, at the bakery, and at home 28 “Sketching can transform moments of boredom or waiting times and make them pleasant.” 29 Missão é um termo muito utilizado nas postagens e nos 30 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10208056516119419&set=pcb.1191433870976440&type=3em:21mar.2017.
53
30, de São Paulo (imagem 12): “sala da réveillon e acordei antes de todo mundo no dia 1º de janeiro. Sem Acesso em 21 mar. 2017.
27 Praças, hospitais, cemitérios, er lugar escolhido pelo desenhista está valendo. Lok , além de desenhar em metrôs e trens, costuma variar
Imagem 12: Desenho de Ricardo Migliorini na sala de sua irmã. 2017. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10208056516119419&set=pcb.1191433870976440&type=3
in loco, ou seja, uma determinação da situação/local em que
.” blogs pelos próprios sketchers
28 , afirma que “desenhar pode -los prazerosos.” ientes internos e externos encaixam
>>
à noite e tento e gigante e -se na missão29 do
O tipo de desenho que Campanario incentiva é aquele que conte histórias e não seja simplesmente uma imagem descontextualizada e desconexa para quem vê. O sketch deve mostrar sua própria história, constando como o registro de um momento ou de um lugar vivenciado, seja em suas cidades, seja para onde estão os desenhistas viajando. São registros do tempo e do lugar onde foram feitos. Na visão de Sanjeev Joshi, da Índia (apud CAMPANARIO, p. 216) 31 , “a atmosfera, os cheiros, os sons, a luz do sol e toda a experiência torna-se uma parte da sua memória.” Quando vê seus sketches, mesmo após um ano, o indiano lembra-se de “tudo que está associado com a experiência daquele particular sketch.”
Bajzek realizou um desenho de locação, indicando o lugar, uma esquina entre dois bairros paulistanos, local onde ele sempre passa de carro (imagem 13). Ele escolheu o local por causa de primaveras que aparecem à esquerda no desenho e relatou o momento de seu dia, que insere-se num conjunto maior de dias da vida paulistana (trânsito, boteco, crianças brincando, música alta). É um registro do tempo e do lugar, sendo o tempo em dois dos seus sentidos, um cronológico e outro climático: “dia nublado, sem sombras, apenas com um ou outro azul”, conforme relata Bajzek (2011d). Ele ainda preocupou-se em representar Pompeia, seu bairro, que sofre não somente com a ação do tempo, mas também com a especulação imobiliária. Enquanto pode ser fiel ao que vê, o artista retrata a cidade que em breve não existirá fisicamente, apenas constituindo um elemento de sua memória e de seu sketchbook:
“A Pompeia está mudando rapidamente: preciso desenhar aquilo que eu gosto enquanto há tempo!”.Enquanto desenhava, algumas pessoas pararam para conversar com ele, inclusive um corretor de imóveis, que perguntou-lhe sobre os empreendimentos da região e recebeu uma resposta que demonstrava decepção frente aos problemas do bairro. Bajzek, sobretudo, percebeu, descobriu e mostrou o seu mundo, disponibilizando-o aos leitores do blog. Encontra-se beleza no inusitado, no simplório: o poste, os fios, as janelas, o telhado; a beleza reside também nas flores que desabrocham, no ritmo das três pessoas que adentram em um estabelecimento.
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31 "The atmosphere, the smells, the sounds, the sunlight, and the whole experience become a part of your memory"; " I remember everything that is associated with the experience of that particular sketch."
32 "Being truthful doesn't mean drawing every window in a bulding or keeping lines straight. Each artist is free to infuse each sketch with his or her personalit sketchers like detailed work, spending hours in front of their subjects; others synthesize the essence of a streetscape in a few simple strokes."
O sketch deve ser feito com fidelidade tanto quanto possível ao local retratado, embora uma definição de fidelidade, neste caso, seria não inventar cenas, objetos ou pessoas na produção. Quatro exemplos podem demonstrar isso. Áureo Castelo Branco compartilhou seu desenho e a foto do local (imag umas árvores, mudei a cor da igreja e tirei um tapume onde está escrito 'fora Temer'”. A paulista Miha Nakatani desenhou o Largo da Ordem, em Curitiba, com o chão serpenteando, num tom vermelho que não mostr
55
(2017) 33 >
em 14), que ele avisa ter alterado: “Removi a a calçada nem o céu (imagem 15). y, while keeping the essence of what he or she sees. Some 17 set. 2016.
33 Acesso:<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207263690424829&set=pcb.10207263690944842&type=3em:14fev.2017.-ciridiao-buarque.html>Acessoem:
sketchers gostam de um 32
Imagem 13 : Desenho de Eduardo Bajzek na rua Ciridião Buarque. 2011. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2011/11/ruaSerfielnãosignificadesenhar
cada janela em um prédio ou manter as linhas retas. Cada artista é livre para fazer cada desenho com seu ou sua personalidade enquanto mantém a essência daquilo que ele ou ela vê. alguns trabalho detalhado gastando horas em frente de seus objetos outros sintetizam a essência de uma rua em alguns simples traços (CAMPANARIO, 2012, p. 21)

56 Imagem 14: Montagem com(Teresinad <https://www.facebook.com/photo.phImagem15:DesenhodeMiha Nakatani no Largo da Ordem, Curitiba. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1352262488121605&set=gm.1009035889216240&type=3esenhoefotografiadeÁureoCasteloBranconaIgrejadeSãoBenedito-PI).2017.Disponívelem:p?fbid=10207263690424829&set=pcb.10207263690944842&type=3Acessoem:14fev.2017.Acessoem:14fev.2017>>



Imagem
Veneza, Itália.
2016. Disponível em: Acesso em: 21 mar. 2017
Outra orientação do manifesto é não desvalorizar nenhuma técnica ou estilo individual, aceitando a todos de bom grado. Os materiais são, de fato, múltiplos, como as aquarelas, canetas esferográficas, lápis de diversos modelos, pincéis com depósitos de água e diversas qualidades de papel café. Carlos Roque (2016)35 da senha para retratar as pessoas na fila de espera.
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1378277572199413&set=pcb.969868433132986&type=3em30abr.2017.
Adriana Dantas Nogueira cidade, e ao som da marcha nupcial que toc Taylor, que inicialmente deformava os prédios para que estes coubessem na folha utilizar essa deformação como uma marca de seus desenhos. Em contraste, o desenho de Juan Pablo Londoño, colombiano que confunde-se com o local quando fotografados juntos (imagem 1

16: Desenho de Juan Londoño em <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10154996047146756&set=gm.1135763529876808&type=3
34
35
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=551614701692136&set=gm.988679471251882&type=3em30abr.2017.
- guardanapos, por exemplo - e colorantes líquidos como , de Cubatão-SP, relatou o dia em que, no banco, utilizava o papel Diego Bonadiman (2016)
(2016)34, de Aracaju-SE, desenhou uma igreja em sua ava, inseriu a figura do noivo na porta vive na Itália, buscou ser tão realista que o 6).
> >>
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10201829479815387&set=gm.279868632347216&type=3em:30abr.2017.
36
57
. Simon , passou a sketch pronto > suco ou 36, de Mesquita-
RJ, relatou: “Saí pra [sic!] desenhar no centro de Chicago e percebi que tinha esquecido meu sketchbook em casa. Passei em um servir de base pros [sic!] desenhos de hoje” (imagem

Mcdonalds e peguei uma meia dúzia de guardanapos pra 17).
2017.
58
Imagem 17: Desenhos de Diego Bonadiman feitos em guardanapo. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1378277605532743&set=
37 Na imagem 1
Existem ainda outras variações. Alguns colorem, outros utilizam apenas as sombras. Alguns são minuciosos e traçam linhas suaves, enquanto outros são rápidos e crus. Alguns inserem diálogos, letras de músicas que estão tocando no local, reações em forma gráfica, trajetórias pontilhadas e carros e pessoas com apenas o contorno, indicando passagem rápida. Alguns dedicam-se a monumentos históricos, outros a pessoas ou animais. A luminosidade, a natureza, a perspectiva, o ângulo e outros aspectos do desenho são disponíveis nos mais diversos formatos e agradam a todos os gostos. “Com nada mais que um pedaço de papel e um lápis você está equipado para começar a desenhar sua cidade ou vila, o povo que vive lá, e as coisas que estão acontecendo nela”, afirma Campanario (2012, p. 18). se o desenho de Maristela Rodrigues
37 “With nothing more than a piece of paper and a pencil, you are equipped to start drawing your city or village, the people who live there, and the things that are happening in it.”
da Igreja do Rosário, em Curitiba, com os materiais que > Acesso 8 vê-
pcb.969868433132986&type=3 em: 14 fev.
Imagem 18: Fotografia de Maristela Rodrigues no I Encontro USk Brasil. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php
uma prevalência de - bastalesua abiano Vianna,
sketchers: a aquarel
Urban Sketchers
Embora a adesão seja livre, existe no profissionais da arquitetura e do com tais profissões. Apesar de não haver pré muito bem as técnicas de desenho, existe um interesse pela apreensão de métodos verificar os workshops nos simpósios que conseguem realizar desenhos muito realistas. Portanto, é visada a qualificação, mesmo que isso não seja um empecilho à prática e permanência de um membro no movimento.
59
a produziram, que também são os mais comuns entre os nanquim.
> Acesso em: 30
, assim como um destaque e respeitabilidade àque
>
“Um sketch pode ser completado tão simples e rápido quanto você queira”, contin Campanário (ibidem, p. 18) (2016) 39 reflete: “Não sei se posso chamar esse desenho de pra fazer e sketch fica pronto bem rápido”
design, o que é previsível devido à proximidade do desenho requisitos e de alguns membros não dominarem
a e a caneta
38. Na página USk do Facebook, Manuela Oliveira dos Santos sketch, pois demorei um bocado e é respondida por Carlos Roque e F /permalink/1007142329405596/."
?fbid=10154087848157836&set=gm.947379238715239&type=3Acessoem14fev.2017.
38 "a sketch can be completed as simply and quickly as you like 39 abr.<https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil2017.

40 Entrevista via Messenger dia 28/03/2017.
41 "If not for the internet, the global urban sketching community would remain a disconnected group of artists"
42 Entrevista via Messenger dia 06/04/2017.
incentivando-a a respeitar o seu ritmo e afirmando que o tempo é menos relevante do que aquilo que se quer representar. Os sketchers apoiam-se mutuamente em sentidos diversos, desde a amigabilidade entre os membros até mesmo o apoio técnico. Além de trocarem informações e dicas, os sketchers reúnem-se para desenhar e solidificam amizades enquanto partilham do ambiente urbano. Para os tímidos é uma boa chance de integração. Além do mais, há corriqueiros happy-hours após as sessões de desenho.
Camila Diógenes Vasconcelos40 afirma que no grupo de Brasília os membros trocam técnicas e experiências de desenho: “aprendemos muitas vezes mais do que se fosse uma aula!”. Ela relata que no grupo há professores doutores e arquitetos que “derramam conhecimento” e sabem passar técnicas e “dicas maravilhosas”: “dessa forma bebemos muito dessa fonte, e ela é muito prazerosa”. Além destes profissionais, também participam do grupo da capital federal juízes, biólogos, funcionários públicos do Senado, estudantes de arquitetura, diplomatas que viajam e frequentam outros grupos fora e sketchers de outros estados, mas em trânsito por lá: “colocamos tudo nesse caldeirão, experiências, técnicas, conversas, assuntos sérios sobre a cidade, sobre as pessoas [...]”. No final dos encontros, o assunto e as companhias são tão prazerosas que muitas vezes ele vão a algum café, onde adentram a noite: “[...] nos dividimos e ainda ajudamos os que não tem condução a se deslocarem de maneira mais segura até sua casa ou pto [ponto] de ônibus mais próximo”. Vasconcelos também relata que procura seguir à risca o manifesto, mesmo fora dos dias dos encontros, quando se reúne com outros colegas, que procuram ajudar-se no sentido de relembrar as regras do manifesto para osOsnovatos.desenhos devem ter postagem online, embora muitos têm alcançado reconhecimento local ou regional e sido noticiados em jornais impressos, televisivos e virtuais. Ainda assim, Campanario (2012, p. 22)41 afirma que “se não fosse a internet, a comunidade global permaneceria um desconectado grupo de artistas”. Eliel Américo, de Brasília, afirma que entrou no grupo em 2014, que já tinha essa prática de desenho de viagens desde 2009, mas que só então descobriu que nas redes sociais existia uma “tribo com a mesma paixão!!”.42 Além do alcance mundial, poder compartilhar online também dá um significado maior ao ato de desenhar, como acredita Kumi Matsukawa, de Tóquio (apud CAMPANARIO, 2012), já que se cria uma rede de seguidores sempre ávidos por novos e inspiradores sketches, ou pela forma de compartilhar um pouco de sua história numa rede de
60
Por fim, há o item VIII do manifesto, talvez o maior objetivo da prática, que é mostrar o mundo, perceber suas nuances, enxergar o impercebido. A frase “nós mostramos o mundo, um desenho de cada vez” está na capa do livro de Campanario e “estampada com destaque em todos os seus blogs”, como afirma Kuschnir (2012b, p. 296). “A última frase do manifesto tornou-se um símbolo do grupo e um lema”, continua. As palavras no original, “We show the world, one drawing at a time”, para ela, “chamam a atenção para um fenômeno interessante no mundo atual: conhecer o mundo através dos desenhos” (idem, grifo da autora). Em outro artigo, Kuschnir (2012a, p. 2) afirma que a expressão “show the world”, utilizada no manifesto, significa também explorar, conhecer o mundo, como as muitas traduções do verbo to show explicitam: apresentar, revelar, manifestar, expor, marcar, dar provas de, realçar, atestar, salientar, deixar ver, fazer compreender, demonstrar, tornar visível. Por isso, ela destaca a valorização do desenho do espaço urbano e da relação do desenhador com a sua própria cidade ou com as cidades por onde viaja, sendo uma das características que singulariza o USk (ibidem, p. 5).
[…] Os desenhos dos Urban Sketchers não são “simplesmente” desenhos: são “enformados” por uma certa “visão de mundo”. Há delimitações do lugar de quem vê (on location), do uso da observação direta (por contraste com o desenho de memória), da busca por uma narrativa (contar uma história a partir do mundo observado) e da oferta de um contexto (do tempo e do local). Há uma base moral (ser truthful, fiel, verdadeiro àquilo que se observa) e uma base filosófica (“mostrar o mundo, desenho a desenho” poderia ser comparado ao dito chinês: “a jornada de mil milhas começa com um passo”). Há um respeito à diversidade e aos estilos individuais, bem como um princípio não distintivo entre artista e não-artista, implícito na defesa do caderno (e não da galeria de arte) e da sua identidade coletiva e não comercial (apoiamo-nos uns aos outros, desenhamos em grupo e compartilhamos nossos desenhos online) (ibidem, p. 7-8).
Kuschnir (2012b, p. 301) também vê o manifesto como um dispositivo geral, do qual se desdobram outros, próprios de cada sketcher, como desenhar “todos os dias”, de Eduardo Salavisa; desenhar “sempre em pé” para nunca se sentir “confortável demais”, do estadunidense Matthew Brehm; desenhar qualquer coisa “em menos de 30 minutos”, de Liz
61 grande proporção. Ruth Rosengarten (2012, p. 27) afirma que , além de adicionarmos nossos desenhos em um “repositório, ou arquivo global”, “um banco mundial de imagens”,
[...] juntamo-nos a outros de quem podemos estar geograficamente distantes, mas com quem nos envolvemos em conjunto, numa língua franca de natureza gráfica, assim contribuindo para um debate acerca do mundo que habitamos, para uma conversa acerca do nosso compromisso com o meio culturalmente carregado das cidades que nos acolhem, sejam elas cidades natais, locais, de trabalho ou de refúgio, ou espaços de viagem e lazer/prazer.
O manifesto USk não está aí para manipular ou controlar posições e opiniões, mas para juntar aqueles que, por interesse pessoal, desejam segui-lo, reservando-se, obviamente, a restringir ações que não condizem com seus ideais. O interessante é que, ao mesmo tempo em que se busca uma autoafirmação e uma convicção, é inevitável que gere “choque com outras visões”, segundo Barroso (2007, p. 9). A autora defende que os grupos vanguardistas ganharam uma dimensão maior do que imaginavam e queriam de fato “falar para todos, abraçar o mundo”, embora pensassem ser mais difícil. “Os meios agem aqui principalmente como ponte entre artista e público, como canalizadores de discussões dos artistas entre si e com especialistas, e como legitimadores de novos conceitos de arte” (ibidem, p. 157).
Ainda que o manifesto USk mencione o respeito à diversidade, existem tensões e aberturas que acontecem naturalmente no decorrer do surgimento dos grupos e de suas postagens. Esporadicamente surgem discussões nas plataformas virtuais - discussões no amplo sentido da palavra: das dúvidas e pedidos de opinião aos debates acalorados com tons sarcásticos, típicos das redes sociais. Pessoas que não seguem os princípios do manifesto e persistem em postar desenhos de natureza-morta, cópias de fotografias, sessões de pose ou outros que não condizem com o interesse do USk são advertidas. Como último recurso, tais indivíduos são excluídos do grupo, conforme relatou Eduardo Bajzek.43
Steel; ou em mídias muito particulares, como os “cadernos de contabilidade antigos”, do francês Lapin. O termo dispositivo, utilizado por Kuschnir, é interessante pelo fato de ser uma palavra comum a diversas áreas do conhecimento, como Medicina, Matemática, Informática, Direito e Filosofia. Ela explica que usa o termo conforme a definição do cinema presente no documentário de João Salles. Arbel Griner explica o conceito: “Salles chama por dispositivo a 'regra', a 'prisão', os 'limites' que o documentarista se auto-impõe ao fazer um filme” (GRINER, 2010, p. 46). “Enquanto o dispositivo restringe – e, assim, atribui forma ou enforma – o tempo, o assunto, o espaço, as condições da filmagem [...] ele reflete os valores do documentarista e aquilo que acredita que um filme deve ser” (ibidem, p. 47). O objetivo do USk não é menosprezar determinadas práticas, mas entende-se que algumas delas não englobam sua missão. Por isso, dependendo de qual conceito se embasa, o termo dispositivo nem sempre pode ser aplicado ao Urban Sketchers
Debates sobre o que pode ser considerado urban sketch acontecem com alguma frequência. Danilo Zamboni (2012), de São Paulo, desenhou in loco uma fazenda em uma comunidade Hare Krishna em Pindamonhangaba (imagem 19) e lançou a questão sobre a
43 Entrevista individual concedida no dia 23 de abril de 2016, durante o I Encontro Nacional, em Curitiba.
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45 fev.<https://www.facebook.com/photo?fbid=10202869973467923&set=gm.12516438216221112017
Imagem 19: Desenho de Danilo Zamboni na fazenda Nova Gokula. 2012. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2012/01/nova

ou um casarão antigo em uma fazenda; Rubens Gennaro ou alguns locais distantes da cidade, como um parque esses desenhos de croquis rurais.
Percebe-se, então, a abertura para o desenho de locação em praias, fazendas, campos, florestas, montanhas e ambi Cachoeira do Sul-RS, desenh (2017)45, de Curitiba, desenh em Piraquara-PR e chamou
> Acesso em 22
produção estar ou não de acordo com o manifesto, alegando que embora seja uma zona rural, “o espírito de sentar e desenhar o que estava vendo tentando pega Os comentários foram positivos: o londrinense Alexander Lermen disse que a pro perfeitamente no blog, já que trata Pinheiro reforçou: “Essa é a ideia: Desenhar onde quer que você esteja”. Além disso, o paulista Dalton de Luca pediu que Danilo contasse mais sobre a fazenda, relatasse brevemente o modo de vida da população que lá habita. De certa forma, um “contar histórias do dia-a-dia” se fez ali.
r o clima do lugar está aí.” -se de um desenho de observação do dia a dia. João entes internos dos mais diversos. Mateus Rosada
dução cabe o que ele fez e (2016)44, aquáticode blog USk, ela > Acesso em 22
Juliana Russo (2011) imprimiu em uma post misturado as palavras com o que vê, fragmentos do que observa com o que escuta e o que pensa. Os desenhos realizados em sala de aula se misturam com imagens de espaços, pessoas de frente e de costas e com muitas fra fazer, letras de músicas etc. (imagem 2 concluiu que “não fogem ao manifesto”, pois são feitos 44 fev.<https://www.facebook.com/photo?fbid=10209718756437098&set=g2017
-gokula.html#comment-form> Acesso em 17 set. 2016 agem certo cuidado. Ela escreveu que tem ses de efeito. Russo ainda insere listas de coisas para 0). Pensando se isso seria publicável no in loco e retratam o local onde ela m.1131572953629199
63
está, embora o intangível tenha bastante destaque. O paulista Beto Candia, nos comentários da postagem, escreveu que tem pensado sobre o significado do manifesto, concluindo que além de desenhos urbanísticos, como edificações, praças, igrejas, monumentos e paisagens, ex todo um universo em torno do desenho de observação, como cenas internas, pessoas e situações cotidianas. Bajzek também participou do debate, afirmando a posição de Candia, mas advertindo que a pose não se encaixa muito no espírito do fizesse presente em ocasiões em que um desenhista retratou o outro simultaneamente, ou quando alguém sendo retratado no metrô fez pose assim que percebeu
0: Caderno de Juliana Russo. 2011. Disponível em: Facebook, Lissonger (2016)46 postou um infográfico urban sketching iste , embora já se
Na página do USk Brasil no (imagem 21), que de forma didática explica o que pode ser considerado um O enfoque está muito mais vinculado ao fato de se exigir o desenho de locação e contextual do que necessariamente do ambiente urbano. Isso reafirma ou então abre o Manifesto para
>
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Imagem 2 <http://brasil.urbansketchers.org/2011/09/desenhanotando.html> Acesso em: 17 set. 2016
46 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10210418645119721&set=gm.1061595667293595&type=3em28abr.2017. movimentosealvodo desenhista.

feiras, eventos, estações de trem, monumentos, hospitais, metrôs, paisagens rurais, casa antigas e modernas, moradores de rua, passantes e pessoas paradas esperando o meio de transporte etc. Abaixo da imagem, ele escreveu que o que se deve postar no grupo:
tâncias em que
foram 1: O que é um urban sketch? 2016. Disponível em: Acesso em: 25 fev. 2017 65 s é essencialmente>
Desenhos de observação direta, feitos em ambientes internos e externos, urbanos ou de paisagem, sem auxílio de fotografias, ou imagens congeladas, e que sejam um registro do momento exato e do contexto em que foram feitos [...] O desenho de pessoas (ou animais) certamente faz parte da nossa temática, desde que atenda o Manifesto. Assim, v mostrando algum contexto. [...] Os desenhos devem ser acompanhados de uma descrição mínima. Mais do que postar imagens, um grupo que compartilha a narrativa e as circuns realizados. [...] Os desenhos postados devem ter sido feitos há no máximo 2 meses. Sketchers os desenhos
Imagem 2 <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10210418645119721&set=gm.1061595667293595&type=3alempessoasemambientespúblicos,preferencialmente Urban

66
> Acesso em: 21 mar. 2017
Simone Schumacher (2017) uma pedra famosa, a Pedra do Baú, em Campos do Jordão. Ela relatou os materiais utilizados e justificou que teve de finalizar o tra desenhou um grupo de sketchers municipal (imagem 22), relatando o contexto da produção: um pré nacional começar. Isso mostra também apresenta aberturas, não sendo tão rígido quando o desenho é contexto, como se viu nos exemplos anteriores. Enfim, o termo movimento não engloba apenas a paisagem urbana, mas tudo que se vê e acontece nos diferentes locais da cidade, internos ou externos, urbanos ou rurais
- Os desenhos NÃO PODEM ter fases importantes feitas em estúdio, como a montagem e o acabamento (especificamente: esboços perspectiva, colorização artística ou digital, refinamentos exaustivos com ou sem uso de fotos). Correções e pequenos ajustes são permitidos.
- NÃO POSTAR modelo vivo ou retratos onde a pessoa posa para o desenhista, em um atelier por exemplo. (Existem exceções como um morador de rua, um colega desenhista ou um trabalhador, quando estes estiverem em seu ambiente cotidiano, ou executando uma atividade);
- IMPORTANTE: Propagandas de qualquer natureza, mesmo que relacionadas à arte serão excluídas e o usuário retirado do grupo.
Imagem 22: Desenho de Lissonger no Mercado Municipal de Curitiba. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10209274881606348&set=a.10203756168961981.1073741831.1151345294&type=3
Da mesma forma que explicou o que é um não se deve postar no grupo:
47 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1234339266648213&set=gm.1193936447392849&type=3em25fev.2017
47, de São Vicente-SP, desenhou uma casinha próxima de balho depois, já que começara a chover em Curitiba, enquanto estes estão sentados no mercado encontro antes do simpósio que o manifesto tem pressupostos a serem seguidos, mas in loco urban que compõe o nome do .
. Lissonger e relata um
- NÃO PODEM ser desenhos feitos através de fotografias, cenas imaginárias, projetos, modelo vivo, retratos de estúdio ou natureza morta.
>
urban sketching, Lissonger explicou o que de composição, montagem de

Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1084931784906230&set=gm.1027201014066394&type=3>em30abr.2017.
48 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10210418645119721&set=gm.1061595667293595&type=3>em28abr.2017.
49 Relatos através de entrevistas via Messenger nos dias 27 e 28 de março de 2017.
Lissonger (2016) 48 também orienta os sketchers sobre como postar, pedindo aos participantes do ambiente virtual que sejam feitas as postagens diretamente na timeline do grupo e que não se publique muitas fotos/imagens ao mesmo tempo. Pede ainda que evitem criar álbuns, o que facilitaria a interação e a visualização dos comentários por parte de todos. Essas orientações foram dadas pela necessidade de constante observação nas postagens do grupo, pois além das discussões, existem tensões e hostilidades. Como o movimento envolve muita gente, recebe muitos adeptos, alguns são visitantes e outros tornam-se participantes esporádicos e informais. Assim, preservar a identidade e o conhecimento do manifesto a todos mostra-se um Algunsdesafio.membros iniciaram em grupos grandes e consolidados e logo conheceram o manifesto. Outros, no entanto, foram conhecendo o documento aos poucos. Joel Venceslau afirma que em suas primeiras formas de participação em encontros, de forma “avulsa” em Paraty e Santo André, teve algumas informações sobre o manifesto, mas que quando iniciou como coordenador do USk Araraquara, os coordenadores nacionais apresentaram definitivamente o regulamento do grupo, assim como outras informações sobre o funcionamento de um grupo. Outros, como José Marconi, de Curitiba, afirma que conheceu o manifesto já no início, que o segue e que nunca teve situações de conflito entre o manifesto e sua prática. Alexandre Jr., de Contagem-MG, afirma que ninguém de fato lhe apresentou o manifesto, mas como a postagem é fixada e ele sempre gosta de se situar antes de interagir em grupos, teve contato com o documento desde a entrada. Jaqueline Silva recebeu o manifesto dos coordenadores nacionais, já que pretendia iniciar o grupo em Florianópolis. Ela o estudou para conseguir apresentar a outras pessoas.49 Eduardo Bastos, de Maceió, postou um desenho feito de seu primo, que é comentado por Murilo Romeiro (2016)50, de São José dos Campos-SP: “muito bom, mas não [é um] urban sketch”. Bastos concorda, mas alega que trata-se de um desenho de observação Um outro caso é o de Fernando Simon (2016)51, correspondente de Goiânia, que desenhou um galo do seu vizinho e relatou como o animal tem causado incômodo. Lissonger elogiou o desenho, mas pediu que o colega atentasse ao manifesto. Simon justificou, afirmando que o
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10205341564258458&set=gm.1045884588864703&type=3>em28abr.2017.
50
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67
[L.B.] não sei de qual post está falando que foi removido, mas vejo aqui que postou 3 desenhos contra as regras do grupo. Peço que releia-as, e caso tenha alguma dúvida ainda, pergunte a um adm [administrador]. Só é permitido desenhos de observação feitas no local. Você postou croquis feitos para concurso, que não é de observação, e postou croquis de outra pessoa sem dar os devidos créditos, e esses croquis tb [também] não são de observação, são de fotos. Eles serão removidos conforme a regra do grupo. Obrigada.53
[a] maioria das suas postagens fica meio de fora dos propósitos do grupo. Mas também não se enquadram em nenhum dos problemas citados acima. Inumeráveis artistas visuais e arquitetos eram e são sketchers... o movimento impressionista então. Suas postagens, feitas com parcimônia, ajudam a enriquecer o debate com técnicas, procedimentos de muitos artistas.
68
Uma outra situação aconteceu com F.L.K., que postou quatro desenhos de profissionais de sua cidade, sendo questionado por Eduardo Bajzek:
Em resposta, F.L.K. relata que desde a sua formação na Escola de Belas Artes de sua cidade, ele e dois amigos se dedicam a desenhar e pintar in loco sua região, descrevendo toda a sua trajetória artística. Ele complementa:
52 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10209740552047818&set=gm.990145814438581&type=3>em30abr.2017.
53 <https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/permalink/1045891112197384/> Acesso em 30 abr. 2017.
Caro [F.L.K.], esses desenhos foram produzidos no próprio local? Porque pelo que vejo em seu blog há bastante trabalho de estúdio. Você menciona 'depois de vários estudos e esboços'... eu acho que o Urban Sketchers é mais focado justamente nesses 'estudos e esboços' (se feitos através da obs [observação] direta) do que desenhos arte-final. Fica a dica. Abraço.54
No decorrer das postagens, podemos encontrar também situações um tanto desagradáveis, como foi o caso de uma crítica de L.B., respondida por Thaís Machado no grupo do Facebook. L.B. teve seu desenho excluído e reclamou pelo fato de não ter sido avisado, criticando também o fato de haver o que ele chamou de “comissão de censura em pleno 2016”. Thaís respondeu:
galo era vivo e fora capturado em tempo real. Mauro Mello (2016)52, de São Paulo, agradeceu as informações sobre o manifesto e questionou sobre a validade de suas postagens, já que tem o hábito de compartilhar imagens de artistas dos século XIX que já praticavam um contextualizado urban sketching sem se dar conta. Ele obteve a seguinte resposta de Lissonger:
54<https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/permalink/704804556306043/> Acesso em 30 abr. 2017.
Irmgard Schanner afirma que no grupo de São Paulo já aconteceram e ainda acontecem com certa frequência situações de discussão no grupo: “Antes de eu participar soube de um grupo de pessoas que se retirou para formar outro grupo que não tivesse o compromisso com o desenho em locação”. Ela relata que houve também uma discussão entre duas pessoas, pois uma denunciara a outra publicamente por estar utilizando fotografias para pintar aquarelas e publicar na página do grupo como desenho de observação. A pessoa denunciada se afastou do grupo e criou um para si.55 Adriana Dantas relata que, como o grupo de Aracaju era grande, algumas pessoas queriam postar outros assuntos, como venda de esculturas e artesanato, retratos e divulgação de cursos. Ela apresentou-lhes o manifesto e esclareceu que iria retirar as postagens que não estivessem relacionadas com o documento. Uma das pessoas que teve a postagem excluída pediu desculpas e alegou que não conhecia o documento. Adriana ainda relata que recebeu uma comunicação do Fórum Nacional Urban Sketchers que pedia que o manifesto de todas as páginas das cidades do Brasil ficassem como publicação fixa inicial, o que ela fez prontamente.
André Lissonger afirma que quando alguém posta e não condiz com o manifesto, ele vê ou algum membro denuncia: “O primeiro comentário é sempre o da explicação”. Se a
69 [...] primeiro foram esboços toscos e com constância de estudos e prática tudo cresceu. [...] Todas as tardes de sábado meu grupo, alunos, amigos, convidados, adeptos e admiradores de nosso trabalho saímos a campo em busca de motivos e realizações artísticas. Digo, realizações artísticas, como pode ver em meu blog [...]. Agora, quanto a desenhar em bico de pena minha cidade, há muito mais cuidado, estudo, dedicação, pois sei da minha responsabilidade e do valor do meu trabalho para o futuro. Esta é minha colaboração artística para com ela. Minha responsabilidade cresceu e não posso apenas fazer meros esboços ou pinturas como nas tardes de sábado. Neste tipo de trabalho,agora, exige muito mais do que simples prazer. Exige um desenho refinado,estudos da melhor composição, ponto de vista, detalhes etc é por esta razão que antes de iniciar o trabalho definitivo menciono em meu blog 'depois de vários estudos e esboços'. Nas tardes de sábado, com meu grupo executo trabalhos entre 30 minutos a uma hora e em um única sessão. Quando ilustro, e conto a história de Araraquara, através de meus desenhos, demoro 10, 20 e até mesmo,já ocorreu mais de 40 horas e em diversas sessões. É totalmente diferente pela razões expostas. [...] Há um total engano de sua parte, pois não faço desenho em estúdio, pois nem ao menos o tenho, apenas retifico a perspectiva em uma mesa da minha sala, coisa que ocorre, pois trabalho sentado em um banco, com uma prancheta, tinta e minhas penas. Você diz que - 'eu acho que o Urban Sketchers é mais focado justamente nesses estudos e esboço'. Não ficou claro ou quer que eu deixe de postar por não satisfazer sua concepção. Caso seja esta a 'dica', não me preocupo, pois sempre há lugar para postar bons trabalhos e principalmente para incentivar os adeptos que estão chegando, que é possível ir ALÉM. Agradeço a atenção e não deixo dicas, apenas bons e ponderáveis pontos de vista. Abraços.
55 Informação obtida via e-mail dia 30/03/2017.
56
56 Entrevista via Messenger dia 27/03/2017.
70 pessoa não apaga a postagem, o próprio Lissonger ou algum administrador o faz. Quando há insistência, o membro é banido do grupo. Ele se posiciona:
58 Relatos deste parágrafo são de entrevistas via Messenger nos dias 27/03 a 21/04/2017.
Para alguns, isso é muito simples de entender. Fernando Simon afirma que “durante os encontros e em momentos específicos”, ele segue o manifesto de forma rigorosa, mas em seu atelier, por vezes, utiliza o resultado obtido nos encontros e os transforma de modo mais elaborado em pinturas que expõe e comercializa. Jony Coelho, por sua vez, diz que segue o manifesto, mas que também desenha bastante a partir de fotografias, cujos resultados ele não publica nas páginas do USk, assim como Francisco Leocádio, que afirma que embora faça desenhos que não se encaixam no manifesto, sempre soube separar as coisas. Ronaldo Kurita menciona que quando entrou no grupo, em 2013, lhe foi apresentado o manifesto e ele foi informado que deveria segui-lo para as futuras postagens. Kurita desenha tanto seguindo o manifesto quanto em exercícios em estúdio, mas posta apenas os que segue o regulamento USk, que preconiza: “o importante no Urban Sketching é que o desenho seja iniciado e finalizado in loco e que o mesmo conte uma história.”
Existem muitos canais para divulgar seus desenhos... como eu e muitos temos outros canais para outros trabalhos fora do manifesto [...] O manifesto não é uma regra... e pode ser interpretado com sensíveis sutilezas. Mas não vale um desenho de memória, de foto, de invenção. ... mas permite intromissões dessas formas no desenho feito in loco... permitindo poéticas muito interessantes.57
José Clewton, de Natal-RN, faz desenhos sem ser de locação, porém não os vincula ao USk. Como não são sketches, os desenhos “são realizados e publicados à parte.” Marcos Bandeira relata que segue o manifesto, mas caso desobedeça a algum item, não divulga o desenho como USk. André Duarte Baptista afirma que desenha in situ, mas não segue à risca o manifesto: “desenho o que me apetece seja urbano ou paisagem natural. Mas apenas publico no blog os desenhos que são feitos conforme o manifesto”. Sobre algum tipo de tensão já existente, Baptista diz que foi censurado e que apagou as publicações, sem dar mais importância aos fundamentalistas: “o desenho é liberdade e faço-o por prazer”, diz ele. Sobre essa questão, Tamires Barbosa menciona: “para postar algo no grupo acabo seguindo sim o manifesto, mas não algo que sempre faço, pois também pinto de fotografia e estúdio”. João Paulo de Carvalho, de Curitiba, revela: “na minha prática do desenho tenho diferentes abordagens e intenções. Quando o desenho se encaixa no manifesto, eu compartilho com o grupo, mas não deixo de produzir de outras formas”.
58
57 Entrevista via Messenger dia 28/03/2017.
59 Relatos de entrevistas via Messenger nos dias 27/03/2017.
60 Entrevista via Messenger dia 04/04/2017.
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Flávio Ricardo, de São Carlos-SP,60 afirma que recebeu o convite para entrar no USk por email, e que a mensagem eletrônica já trazia o manifesto no corpo do texto, mas que por acompanhar as publicações de grupos, já o conhecia. Ele afirma que sempre que não consegue seguir estritamente o manifesto acaba publicando em outros grupos: “Isso ocorre principalmente quando não consigo terminar o desenho no local, devido a chuva ou outros contratempos”. Ricardo também destaca que o principal ponto de tensão se dá quanto ao desenho de pessoas: “se elas deixam o local, perco o que observo e tenho que completar de memória ou usando outra pessoa como referência”. Para ele, “essa característica, que é própria do desenho de pessoas em situações naturais (sem posar) parece ser a que mais conflita com o manifesto”. O membro do grupo ainda relata que a dificuldade de desenhar pessoas em movimento lhe pareceu resolvida quando viu que, em um dos simpósios internacionais do USk, havia a oficina ofertada por Marc Taro Holmes que ensinava como desenhar pessoas em ação: “essa oficina, que lida exatamente com a dificuldade de desenhar pessoas que se movem e podem deixar o campo de visão a qualquer momento, ao ter sido aceita pelo comitê Internacional, mostra que há a possibilidade de desenhar aquilo que o manifesto, em princípio, não permitiria”. Ele também relata outra situação, quando desenhou a noite:
Marília Varella, de Mogi das Cruzes-SP, conhece o manifesto desde a sua entrada no grupo, em 2014, e sempre o segue. Ela relata que já houve tensão entre sua prática e o manifesto, pois às vezes existem desenhos que alguns acham que é urban sketch e outros não: “reagi obedecendo a opinião da maioria”, afirma ela. Joel Venceslau afirma que procura seguir o Manifesto sempre, porém muitas vezes desenha só, o que não considera uma negação do manifesto. Ele ainda relata que algumas vezes faz pequenos retoques em casa antes de postar na internet, o que também não foge ao princípio USk, visto que são apenas pequenas finalizações. Patrick Rocha, de Londrina-PR, relata que um dia, desenhando em sua cidade, o clima mudou rapidamente, pegando a todos de surpresa com uma forte chuva: “fui obrigado a fotografar o local e terminar o desenho pela foto em casa”. Ele também relata que já foi assaltado enquanto desenhava, sendo obrigado a terminar o desenho em um outro dia: “Mas a gente não se sente culpado quando faz isso. São situações que podem acontecer. Nem tudo é perfeito”, diz ele.59
No decorrer deste e dos próximos capítulos, será mais notório o padrão, ou o mais comum, por isso a necessidade de apresentar nesta seção do capítulo aquilo que foge, que diverge, mas que também é considerado e aceito pelos grupos. Ou seja, se retomarmos a própria História da Arte, vê-se que os grupos mudam, pessoas entram e saem, percepções sobre a realidade se transformam e a forma de expressar isso também. Talvez o manifesto mude, talvez perca itens ou receba novas orientações. Já se entrou em discussão, por exemplo, a obrigatoriedade do uso do sketchbook a todos os membros, o que acabou não se tornando regra. Essas discussões acontecem em meio a aceitação e aberturas, mudanças pessoais na vida dos próprios participantes, interesses de estar no grupo que cresce ou diminui, descobertas, mudanças de propósito, disponibilidade de tempo, entre tantos outros fatores. Ou seja, sofre-se o tempo porque o manifesto e o próprio movimento são dinâmicos, formados por pessoas que tem suas subjetividades, que vivenciam contextos, que sofrem o processos históricos e sociais - como por exemplo a abertura à questões políticas através do desenho, conforme a palestra ministrada no simpósio de Chicago.61
A última etapa é a colocação dos brilhos com guache branco. Não vi sentido em ficar meia hora no local esperando a última camada de aquarela secar (à noite a secagem é muito mais lenta). Então,desenhei a lápis, no local, os pontos de brilho. Quando cheguei em casa, com a aquarela já seca, apliquei o gouache. Não houve uso de fotos e nem da memória, neste caso.
O Urban Sketchers tem ganhado bastante visibilidade desde seu início, conforme já anunciado anteriormente. Além das plataformas virtuais serem o meio de propagação das produções mais utilizado, como consta o item VII do Manifesto, os membros do USk participam de exposições, seminários, cursos e eventos, o que também colabora na divulgação do movimento. Ronaldo Kurita (2015b) e a paulista Ana Rafful, por exemplo, organizaram uma exposição coletiva de sketches de São Paulo, Mogi das Cruzes e Paris no Casarão do Chá, em Mogi das Cruzes, em 2015. Em 2012, os três fundadores do grupo no Brasil participaram de uma mesa de discussão com o tema “Percepções da Cidade”, na Semana Multimeios da Faculdade de Comunicação da PUC/SP. Eles apresentaram seus trabalhos e a proposta do Urban Sketchers “como um grupo que saiu do âmbito virtual e tomou as ruas das cidades, integrando apaixonados pelo desenho e estes com suas respectivas (e amadas)
61 O nome da palestra é “Sketching as a Voice of Resistance: Documenting Political Dissent through Drawing”, ministrada por Rita Sabler, dos Estados Unidos.
1.3 “O SKETCHBOOK E NÃO A GALERIA”
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O referido periódico ofereceu aos leitores diversas páginas com desenhos de locais da cidade e um breve histórico das produções para essa ocasião. Outros eventos despontaram nos anos posteriores. Foram exposições diversas, como “Ribeirão Ilustrado”, de Beto Candia, com cerca de cinquenta ilustrações de Ribeirão Preto-SP; e “Cidade para Pessoas”, de Juliana Russo, com uma proposta que costura temas urbanos de diversas cidades no mundo na Matilha Cultural de São Paulo, ambos em 2012, que foram relatados no blog. Além destas, vale mencionar a exposição de desenhos de Jony Coelho, na qual ele desenha seus próprios alunos durante suas aulas na Faculdade de Arquitetura e a oficina ministrada por José Clewton no evento Corpocidade, cujo enfoque está no debate dos mais diversos temas relacionados à cidade. A oficina de Clewton foi promovida pela Universidade do Estado da Bahia em parceria com a Universidade Federal da Bahia e mostra que os sketchers ocupam e aparecem bastante no âmbito universitário. Ivonesyo Ramos foi tema de uma matéria no Jornal O Globo, em junho de 2012. A reportagem citou sua paixão pela aquarela e pela pintura plein air pela Urca, no Rio de Janeiro e citou que o sketcher teve uma de suas aquarelas na arte de divulgação da série Gabriela, da Rede Globo. 62 Murilo Romeiro (2014b) relata que expõe seus trabalhos aos domingos de manhã no parque Vicentina Aranha, em São José dosNoCampos-SP.âmbitointernacional, aconteceu também uma exposição de Fabien Denoel, que passou por sua terra natal, Liège, na Bélgica, e expôs seus desenhos feitos na cidade onde vive, Vitória-ES (BAJZEK, 2012c). Joel Venceslau (2016b) organizou uma exposição com os desenhos dos colegas de sua cidade em agosto de 2016. O USk Natal fez sua terceira
A nostalgia, em geral, também pode dar o tom dos desenhos do Urban sketchers 'Às vezes é uma maneira de experimentar um novo olhar sobre um local que significa algo para você', contextualiza o estudante de arquitetura Juca Fernandes, que assina nesta edição do POPULAR uma visão do Jardim Zoológico, no Lago das Rosas. 'Foi um dos primeiros locais que visitei com meu pai quando criança. Quando criamos o hábito, passamos a valorizar mais do que é nosso', afirma. Para a arquiteta Simone Simões, outra participante do movimento, o que a atrai no movimento dos Urban Sketchers é a nova maneira de se 'apropriar' da cidade. 'É um olhar mais carinhoso'. Autora do desenho do Teatro Goiânia, ela diz, por exemplo, que mesmo tendo a prerrogativa do olhar profissional, sua visão sobre Goiânia também mudou bastante desde então. 'Agora vejo uma riqueza inimaginável. Todos deveriam experimentar', aconselha.
62 Essas informações estão em Bajzek (2012c).
73 cidades” (BAJZEK, 2012c). O jornal “O Popular” (n. 22575), de Goiânia, fez uma reportagem especial no aniversário da cidade, em 2015, no qual o texto, publicado por Fernando Simon (2015), reafirma o que já tem sido dito sobre o movimento:
Acesso em 25 fev. 2017
também se desvencilhou da arte unicamente em quadros e reunir apenas artistas, entrar no circuito de arte, ela crítica de arte, participar de bienais ou qualquer outra Artes Visuais. Ou seja, não se trata de 3).
A Arte Contemporânea estabeleceabandonar
Mahalila
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10154930380859374&set=pcb.1162827427170418&type=3
Essas informações servem sketcher: primeiro, o tratamento dado ao com a galeria de arte e com o circuito comercial. de paradigmas de nosso tempo e uma de suas características mais comuns é o com o passado. Isso já se iniciou no século XIX, quando se buscou temática bíblia/mitologia/civismo, rompimento consolidado pelas vanguardas modernas europeias. A contemporaneidade molduras, do mecenato burguês/nobre (pelo menos ao estilo que perdurou até o século XIX), da supremacia da tinta a óleo, da estética do belo sob padrões miméticos. Mais que perfeição, buscou-se valorizar a capacidade de inovação, de chocar, de assombrar, o que se intensifica no decorrer dos anos, sobretudo com a arte conceitual e de viés político/sociológico. Mesmo nos anos 1980, quando houve um reavivamento da pintura e da figuração, as t formas foram bastante inovadoras.

vel em: > -se a rompimentopartiratríadeemáticase status
Não é a proposta do Urban Sketchers vender as obras (embora alguns façam isso sem problema algum), ter reconhecimento e de artista pela academia e/ou p atividade que entre mais estritamente no ambiente das
para introduzir duas questões que permeiam a prática sketcher como artista ou não; e segundo, a relação
chamada “Desenhadores urbanos do RN: percursos em Natal, Ceará
74
Mirim, Caicó e Curitiba” (imagem 2
2016,
Imagem 23: Fotografia da exposição Desenhadores urbanos do RN. 2016. Disponí
exposição em dezembro de no Café e Livros,
Enquanto isso, para outros sketchers, tal prática nunca deixará de ser apenas um hobby para o final de semana, um descanso para além do desenho no escritório de arquitetura ou uma forma de manter contato com a cidade onde vive. Assim, a motivação do movimento está mais próxima do hobby que do mercado, mais próxima do prazer que da obrigação em produzir - embora haja um certo comprometimento com causas patrimoniais, que serão abordadas no próximo capítulo.
Em um texto de Teixeira Coelho (1999), o autor cita reduções ontológicas na arte contemporânea, como da figuração ao objeto, da obra para o autor, do corpo do autor para a mente do autor, da metáfora para a metonímia, do ponto de vista do criador para o ponto de vista do espectador. O Urban Sketchers pouco se adéqua nestas reduções. O papel/tela continua sendo o suporte para a obra que é lançada ao mundo, quem a vê, pode ver características do seu autor, mas o foco principal é a cidade vista. Acontece, no movimento, um reconhecimento de habilidades e respeito para com aqueles que dominam muito bem o
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um movimento essencialmente artístico. Pelo contrário, o ingresso no movimento é livre, independente da profissão exercida, idade, manejo dos instrumentos ou da qualidade técnica do desenho. A mídia, o público leigo e até mesmo alguns deles se denominam artistas ou consideram sua produção obras-primas, embora estes termos sejam convencionais. Essa questão, assim como no manifesto, é permeada pelas tensões que correm no movimento pelo mundo: há sim membros que têm vendido seus desenhos, lançado livros-catálogo e que têm sido vistos como artistas pelo seu público, até mesmo destoando de outros sketchers como grandes desenhistas. Essa parcela do movimento poderá, num futuro próximo, receber reconhecimento mesmo em bienais e livros de História da Arte e incorporar um circuito de mercado de arte, podendo até mesmo viver de sua produção, como alguns já fazem há tempo na Europa (Nina Johanson e Lapin são exemplos).
Se o USk é contemporâneo, isso se fundamenta muito mais na sua característica filosófica (apropriar-se das cidades e mostrar o mundo) do que nos meios para isso (técnicas, materiais, forma). Ao pensarmos em técnicas e instrumentos, o que se faz é resgatar e fazer sobreviver práticas que estiveram em voga desde o Renascimento, mas que no início do século XX caíram em desuso, como o interesse pela pintura a plein air e de paisagem, sobretudo de base mimética, e mesmo a utilização de um manifesto, que foi a marca das vanguardas e hoje já é incomum. As noções de realidade e cotidiano têm outro padrão e enfoque e ainda que alguns sketchers usem seus desenhos para chamar a atenção em relação ao patrimônio abandonado, este ato distancia-se dos principais enfoques sociais da Arte Contemporânea, que pouco parece querer estabelecer ou evidenciar vínculos com o passado.
63 exemplos viajavam para realizar estudos, desenhos e pinturas.
Sobre essa linha de pensamento, podemos identificá porém adequados à contemporaneidade e ao seu contexto
de pintores que iam às ruas e/ou
Eugene Delacroix, Gustave Courbet, John Constable, Joseph Turne
Embora o desenho seja um retrato do que foi visto, ele encaminha outras, que consequentemente nos levam para cidades da memória, reais ou utópicas, e exerce o poder ficcional da arte. Isso também destoa na contemporaneidade, que preocupa certa demasia, ora pela demonstração da realidade de forma crua, ora por poét transcendentais que excedem o mimético/figurativo. Toda a prática USk é bastante semelhante com as práticas dos paisagistas em geral, desde os viajantes da era dos descobrimentos até os pintores do século XIX do Romantismo, Realismo e Impressionismo
comicas.
>
63 ximando o USk
Como já foi demonstrando anteriormente, há destoantes, como no caso de Eduardo Bastos. A exposição “Ver a Cid Maceió, na galeria de arte Fernando Lopes contém desenhos feitos durante os passeios d do circuito de arte/museu. Abaixo, segue uma foto da exposição (imagem 24).

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los como ressonantes de um outro tempo, ade”, realizada em novembro e dezembro de 2016, em , foi curada por Maria do Socorro Lamenha e o sketcher Eduardo Bastos, apro Acesso em 25 fev. 2017
desenho. Há também a evidência cearense Domingos Linheiro. Nos simpósios internacionais, algumas palestras e são bastante cotados e suas vagas acabam em minutos.
Imagem 24: Fotografia da exposição “Ver a cidade”. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10205786897031499&set=pcb.1123065951146566&type=3
de nomes, como no Brasil, por exemplo, Bajzek e do -nos para memórias
r, Edouard Monet e Auguste Renoir são workshops -se
A utilização de cadernos de esboços, ou sketchbooks, é bastante ampla no Brasil. Essa é mais uma característica que distancia o Urban Sketching do mercado e da galeria. Kuschnir (2012a, p. 8), a esse respeito, considera o uso desse material como o “princípio não distintivo entre artista e não-artista, implícito na defesa do caderno (e não da galeria de arte) e da sua identidade coletiva e não comercial”. Salavisa (2011, p. 9) também trata desta temática: na introdução do seu livro “Diários Gráficos em Almada”:
“un bloc de dibujo debe ser un diario personal de lo que te interesa y no una colección dibujos acabados, reunidos para impresionar por su peso y numero (...), pues el objetivo es dibujar y no el dibujo.”
65
64 “What’s important is not how well you sketch but having the passion, enthusiasm, and courage to respond to your immediate environment by expressing that emotion on a piece of paper.”
O autor ainda reafirma que no sketchbook, “por ser um espaço resguardado de outros observadores, [...] 'o saber desenhar' é completamente irrelevante” (ibidem, p. 23). “O que é importante não é o quão bem você faz sketches, mas ter a paixão, entusiasmo, e coragem para responder ao imediato ambiente expressando aquela emoção em um pedaço de papel”, afirma Tia Boon Sim, de Singapura (apud CAMPANARIO, 2012, p. 226).64 O que se percebe é que o USk entende o desenho não como fim principal, mas todo o processo que envolve sair de casa, olhar a cidade, se relacionar com o espaço e com o outro. Gordon Cullen (apud GORDO et al, 2014, p. 89)65 também afirma algo semelhante: “um bloco de desenho deve ser um diário pessoal do que te interessa e não uma coleção de desenhos acabados, reunidos para impressionar por seu peso e quantidade [...] pois o objetivo é desenhar e não o desenho”.
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Kuschnir (2012b, p. 301) destaca que em “Creative license”, livro de Danny Gregory, são listados para os seus leitores pelo menos doze motivos a favor da produção de desenhos em diários, que Gregory chama de amigos ou terapeutas: são compactos, portáteis, baratos, pessoais, úteis, cumulativos, familiares, estimulam o desenho com o “lado direito do cérebro”, constituem-se como válvula de escape, forma de arte, forma de meditação, podem ser privados ou públicos, além de facilitar esconder os erros. Sobre como adquiri-los, a autora acredita que não precisam ser comprados por preço alto: podem ser cadernos simples, “pequenos, em branco, quadrados, em estilo japonês, de marcas famosas (como o Moleskine), feitos à mão ou mesmo bastante específicos, como cadernos de contabilidade antigos” (ibidem, p. 300).
Os autores dos desenhos dos cadernos expostos não pretendem ser artistas. Se o são, e alguns serão, não foi por isso que participam dessa exposição. O serem muito bons desenhadores, que o são, não foi também por isso que estão aqui. Participam porque têm um hábito: desenharem em cadernos de maneira sistemática, diariamente, diria mesmo, obsessivamente.
A utilização dos cadernos ou diários de desenho, esboço, croquis ou viagens várias denominações - não é uma prática recente. Os cadernos de Leonardo Da exemplo, ainda são estudados. No período em que o artista viveu, com as navegações europeias e sua expansão e consequente colonização do Novo Mundo, holandeses, austríacos, alemães, franceses, entre outros, embarcaram também para retratar as no e flora e fazer estudos etnográficos. No Brasil, nomes como Frans Post (1612-1680), Hercule Florence (1804 Debret (1768-1848), Nicolas Antoine Taunay (1755 são os mais citados. Muitos utilizavam realistas e impressionistas também utilizavam como é o caso de Delacroix (imagem 2 sketchers. Nestas duas páginas de seu caderno, vê árabes e judeus, portas, muros e várias anotações na cidade Meq
5), cujo modelo é muito apreciado e seguido por se uma mesquita ao fundo e personagens uinez, no Marrocos: - há Vinci,-1666),por , Jean Baptiste-1844)
Imagem 25: Caderno de Delacroix com croquis do Marrocos. 1832. Disponível em: http://revistas.fflch.usp.br/manuscritica/article/view/2341


-se do caderno. No século XIX, artistas românticos, -no, sobretudo, para viagens exploratórias,
O próprio Debret, formado na Academia de Paris, ousou tomar o caderno e romper com os ideais neoclássicos nas ruas do Rio de Janeiro. O surgimento da aquarela e o interesse
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vas paisagens, fauna Albert Eckhout (1610 -1879), Rugendas (1802-1858) -1830) e Henry Chamberlain (1796
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dezenoventista e romântico pela natureza e pelo pitoresco facilitaram tais práticas (BANDEIRA, 2006). O uso do caderno por artistas europeus era uma forma alternativa de produzir obras distantes da galeria/Academia/mercado em suas épocas, visto que para alguns esse tipo de suporte era para esboçar o que seria posto em telas, como Gauguin, ao viajar pelo Taiti. Quando questionado sobre quais livros tem como referência, o sketcher André Lissonger elenca os cadernos de Leonardo da Vinci e as obras de Borromini, Guarino Guarini, Canalleto, Ruskin e Landseer. Além de artistas, outros profissionais também utilizam cadernos gráficos:
66 “Diários de Viagem. Desenhos do quotidiano” (2008), “O Diário de Viagem em Braga” (2011), “Diário de Viagem em Cabo Verde” (2011), “Diários de Viagem 2: Desenhadores-Viajantes” (2014) e “Caderno de Abrantes” (2016).
Entre os sketchers, tem-se falado muito na utilização deste objeto. Os livros de Eduardo Salavisa são, em geral, sobre esse tema.66 Como percebido por Raro de Oliveira (2015) em um encontro em Torres Vedras, em Portugal, os europeus são fascinados pelos seus cadernos de desenho e os têm como indispensáveis. No blog do USk Portugal há uma sugestão: “desenhamos geralmente num caderno - o diário gráfico – e, através desta prática, tornamo-nos mais observadores, evoluímos nas nossas capacidades e registramos as nossas memórias”.67 Porém, vale ressaltar que o uso do caderno não é unanimidade nem entre os sketchers do Brasil, nem no USk global e que mesmo Salavisa e Gregory escrevem sobre a prática do desenho e não sobre o movimento em si. Uma nova demanda que surge, por exemplo, é o uso do ipad para realizar desenhos.
Em entrevistas via Messenger com alguns sketchers brasileiros entre março e abril de 2017, eles responderam se, quando e por que usam ou não o sketchbook. Marília Varella afirma que utiliza diversos cadernos: grandes, pequenos, de paisagem, retrato etc., e que eles são parte da sua vida e história. João Paulo de Carvalho conta que os utiliza desde a infância, comprados em papelarias, e que hoje produz seus próprios cadernos, assim como Fernando Simon: “compro folhas avulsas, corto e mando encadernar”. Jony Coelho diz que utiliza sketchbooks constantemente, principalmente após entrar no USk, estando estes sempre com ele, mesmo como agenda acadêmica: “usava mais em viagens. O uso diário estimulado pelo
É claro que a utilização de cadernos de criação não ocorre apenas entre artistas plásticos, uma vez que o registro sensível e perceptivo, o armazenamento de dados, a formulação e testagem de hipóteses e produção de projetos não é prerrogativa das artes plásticas. Cadernos também são utilizados por biólogos, antropólogos, designers, arquitetos (GUARALDO, 2012, p. 658).
67 <http://urbansketchers-portugal.blogspot.com.br/p/associacao-uskp.html> Acesso em 28 out. 2016.
salgado”.Existem também adequações aos contextos para que se utilize o sketchbook. Camila Diógenes Vasconcelos digitaliza seus trabalhos e os comercializa em vários tamanhos e formas. Por isso, nem sempre usa o sketchbook, pois esse material pode dificultar a digitalização, mas em contrapartida alega que o sketchbook é perfeito para que em qualquer local se possa sacar o bloco e fazer o registro de forma rápida, o que em vários momentos é essencial, principalmente captar as figuras humanas, o que pra ela é muito interessante. Odil Miranda afirma que tem um sketchbook, mas só o utiliza em viagens, por ser mais prático para carregar: “nos encontros do Urban Sketchers eu prefiro usar folhas avulsas. Já vendi algumas aquarelas feitas nos encontros e já dei de presente muitas delas. Acho bem legal dar as aquarelas de presente para amigos e se utilizasse só sketchbook seria inviável”. Carlos Avelino diz que usa sketchbooks em locais de difícil locomoção. Já Eliel Américo utiliza
USk tornou-se uma disciplina e agora com certeza desenho bem melhor e mais rápido, além de me dar grande prazer, alegria mesmo.” Francisco Leocádio afirma que usa o sketchbook há anos e o material está aliado à sua prática projetiva como arquiteto, pois serve como caderno de ideias também: “atualmente, costumo ter dois, um de ideias e outro de observação.”
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José Marconi, por sua vez, menciona que utiliza o sketchbook desde o seu mestrado em Design em 1992, na Inglaterra, e que lá isso é uma prática muito comum nos cursos de Design. André Lissonger afirma que ganhou um sketchbook de sua avó quando tinha 4 anos e que isso, somado ao apoio do seu pai que lhe fornecia materiais de desenho, transformou-o em desenhista. Jaqueline Silva afirma que atualmente anda sempre com um sketchbook para desenho, anotações, reuniões, aulas, trabalho: “é indispensável", diz ela. Antônio Dias diz que raras vezes usou folhas soltas nos encontros, “pois o caderno é muito mais prático para armazenar [a Lissongerprodução]”.explica
que, apesar de o sketchbook ser um dos suportes bastante usados pelos sketchers, fólios soltos são largamente utilizados também, principalmente por aquarelistas. “O caderno de bolso é prático e aparentemente conduz um período (o que pode ser uma farsa) mas não permite boas exposições para os desenhos e outros aspectos negativos”, diz ele. Gabriel da Silva, do Rio de Janeiro, conta que lhe foi apresentado o sketchbook desde que entrou no grupo, em 2015, mas que o utiliza pouco atualmente devido a correria do dia a dia. Silva, porém, sempre leva consigo papel e caneta pra onde quer que vá. Aurea Chu faz uso de folhas avulsas também: “o sketchbook é mais prático para desenhos a 'seco'. Como às vezes aquarelo o desenho, uso as folhas avulsas específicas para aquarelas, porque os sketchbooks para aquarelas além de serem difíceis de encontrar no Brasil, o preço é bem
sempre o sketchbook e prefere os horizontais pelo fato de desenhar 70% das paisagens em Brasília: “dessa forma a cidade é melhor representada!”, defende ele.
Recentemente, o Diário Gráfico transformou-se noutra coisa [...]; pela primeira vez, surge a vontade de o mostrar publicamente […] É a passagem do Diário Gráfico, enquanto objecto virado para o exterior e só visto por pessoas próximas, para o Diário Gráfico que, mantendo esse cunho intimista ao nível da execução, pode, no entanto, ser visto e adquirido 68 por outros. Transforma-se, assim, num objecto plástico, sai do teu cofre pessoal, dos teus arquivos de memória e vem para o exterior.
68 Salavisa refere-se ao Livro de Artista, comum nos anos 1960 devido a fácil reprodução e venda massiva
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Outro caso interessante é o de Adriana Dantas, que afirma que sempre utilizou cadernos para desenhos de ambientes internos e externos por causa da sua profissão de arquiteta, mas com o nome sketchbook foi somente quando ministrou disciplinas de desenho e pintura no Curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Sergipe, onde hoje os utiliza inclusive como instrumento de avaliação. A arquiteta ainda relata que somente quando o grupo foi criado em Aracaju, em 2015, que os alunos participaram ativamente e perceberam a importância do sketchbook para seus estudos: “quando mostro meus sketchbooks a eles percebo que isso incentiva bastante a fazerem o mesmo”.
A relação com o desenho é mais livre quando se faz para ficar em um caderno, e não para uma exposição, pois será visto apenas por pessoas do círculo íntimo ou então será guardado na gaveta junto dos álbuns de fotografia e outros receptores das memórias. Porém, um interesse pela exposição dos cadernos na internet tem mudado bastante essa prática. Dalton de Luca (2011a) afirma que o Urban Sketchers tem papel primordial no crescimento do uso do caderno de desenho, “antigamente diários íntimos e muitas vezes guardados em segredo”, mas hoje transformados em “interfaces de contato, aproximando pessoas pela sensibilidade, sem as barreiras da língua ou da localização geográfica”. A fala do sketcher português Ivo Moreira é transcrita por Salavisa (2011, p. 29):
Para publicação nos blogs USk, os desenhos são escaneados diretamente dos cadernos. Alguns sketchers fazem questão de mostrar a página toda e até mesmo a paisagem desenhada junto ao desenho. Salavisa (ibidem, p. 25) destaca que muitos filmam o sketchbook enquanto os folheiam, mostrando todo o processo, o que dá uma noção melhor do caderno enquanto portador dos desenhos. Embora seja tratado como não-galeria, o caderno torna-se a galeria e o curador é o próprio sketcher, que decide o que e como será visto, em que ordem ou quais detalhes serão evidenciados, até mesmo quando será visto e qual texto o acompanhará.
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70 “Carrying a sketchbook awakens the pleasure of drawing”
69 “The sketchbooks are my mobile studio”
71 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1255313261168952&set=gm.1008945969225232&type=3>em:05jul.2017.
Miguel Herranz (apud CAMPANARIO, 2012), de Barcelona, afirma que começou a usar seu sketchbook mais e mais, especialmente depois de encontrar outras pessoas na internet com interesses similares aos dele. Para Beto Candia (2011), o caderno é um companheiro para viagens exploratórias solitárias: “quem é adepto do sketch sabe que nunca se está sozinho quando você está com uma página em branco e uma caneta nas mãos”. Simon Taylor (2015a) afirma que, além de ter mudado muito sua visão da cidade após ingressar no USk, observando-a com muito mais paixão e interesse, suas viagens nunca mais foram as mesmas. Ele relata com entusiasmo suas viagens para Buenos Aires, Montevidéu, Paris, Liverpool, Londres e Lisboa nos últimos anos, todas registradas nos caderninhos de viagem, item essencial nas malas de Taylor. Para o português Richard Camara (apud CAMPANARIO, 2012, p. 124)69 , o sketchbook é um estúdio móvel; e para Salavisa (ibidem, p. 118)70, carregálo “desperta o prazer de desenhar”.
Outra característica do sketchbook é que ele apresenta não somente desenhos desvinculados uns dos outros, mas a própria trajetória de um desenhista, seja no sentido de crescimento pessoal e técnico, seja como um registro de experiências, como um diário. Raro de Oliveira (2015) relata que, no início de sua trajetória com os desenhos de rua, ele recolhia as imagens em folhas soltas, inclusive que essa era a tendência predominante do grupo em Curitiba. Quando teve contato com os europeus e seus cadernos, ele também optou por desenhar quase sempre nestes, pois dão um sentido de continuidade e aprendizado. “O espaço do caderno”, explica ele, “tem sua lógica particular, relacionando o antes e o depois, a gestualidade de virar as páginas, o ato de “se abrir” para o outro ver, e assim vamos construindo uma trajetória estética”. Salavisa (2011, p. 16) afirma algo semelhante:
Edison Muniz (2016)71, de Santos-SP, afirma que sua meta é elevar o nível de qualidade dos seus sketches, reservando para isso um sketchbook para retratar a região da Baixada Santista e outro para a região do Distrito Federal. Ele acredita que esses sketchbooks servirão para sua autoavaliação, para ver onde ele conseguirá chegar. Joel Venceslau afirma que utiliza o sketchbook desde o início de suas participações “oficiais” como membro do
o desenho feito num suporte como o caderno é inevitavelmente diferente, sendo o resultado de um percurso, de um conjunto de experiências e de situações que aconteceram ao longo de um tempo determinado. Assim, a importância de cada desenho depende da série ou do conjunto em que está integrado.
Mesmo que o caderno guarde aquilo que não nos agrada, é importante poder acessá-lo em sua totalidade. “Ele traduz um determinado tempo, as dificuldades encontradas, um percurso curto ou longo da vida do autor, ou uma parte ou uma das facetas dessa vida”, afirma Salavisa (2008, p. 22-23), que destaca também a possibilidade de voltar atrás e alterá-lo, caso seja necessário: “acrescentar-lhe qualquer coisa, emendar um pormenor, colar algum material entretanto adquirido, escrever mais informação ou alguma reflexão posterior, relacionada ou não com o que já lá estava”. O que ele sugere é que não se arranque as folhas que achamos que não interessam, pois com isso se adultera a percepção do todo.
72 Relatos da citação e do parágrafo anterior foram dados em entrevista via Messenger entre 27/03 e 10/04/2017.
Sobre o uso de diários, Salavisa (2008) cita os de Picasso, divididos em folhas e vendidos separadamente, o que além de ter sido criminoso, prejudicou a percepção da continuidade da obra do pintor espanhol. O que fica evidente nos cadernos, afirma Guaraldo (2012), são certas recorrências daquilo que por algum motivo foi escolhido ser registrado e como o foi, seja pelo tema, técnica, estratégia expressiva, sequência de ações, metodologia para recolher informações, preocupações formais ou sociais. Além disso, a autora ainda afirma que “a exposição de páginas de cadernos coloca em evidência a riqueza plástica e gráfica” do sketchbook, mas a mostra de “páginas avulsas isola a página de seu contexto e lhe retira o aspecto relacional e até rítmico” (ibidem, p. 659).
Passei a dar menos importância a desenhos bem acabados. A expressão artística passou a ser mais importante. Capturar a cena de forma realista não é mais minha meta e o sketchbook ajuda a perceber essa evolução na medida em que deixa registrado seu histórico de desenhos de observação.72
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grupo: "acho legal pois sempre estou com meus desenhos anteriores e consigo ver a evolução dos traços e tudo mais”. Ele também destaca que quando apresenta o USk para pessoas curiosas ou futuros participantes, o diário gráfico ajuda a ilustrar sua explicação. Raro de Oliveira afirma que utilizar um sketchbook mudou sua forma de ver o desenho porque é melhor quando se registra em sequência, pois fica uma “história sendo contada”. Patrick Rocha afirma que prefere utilizar o sketchbook e que usa três cadernos diferentes: “um de cada tamanho para que eu possa escolher o mais adequado com a situação onde quero levar”. Ele utiliza sketchbooks desde que começou a desenhar na rua: “me sinto mais confortável com ele porque no final acaba virando um livro cheio de histórias diferentes em cada página”. Outro adepto dos sketchbooks é Marcos Bandeira, que afirma que todas as suas práticas de USK são nesse tipo de caderno:
Uma segunda função dos sketchbooks seria expressiva, “quase como uma oposição ao tom documental” (MARCONI, 2015a), a qual foge da neutralidade do registro de uma circunstância. Marconi (ibidem) explica que essa função é um “registro gráfico daquilo que estávamos 'sentindo' durante o processo de observação (alegria, satisfação, alívio, solidão, saudade etc)”. Nesta função intimista, o desenhista conversa consigo, portanto, “comentários textuais e gráficos adquirem uma dimensão de introspecção, por vezes tão densa que provavelmente o leitor não decifrará uma mensagem coerentemente, somente o autor teria a chave para compreendê-la” (ibidem). O resultado gráfico responderia, então, a perguntas
Marconi (ibidem) começa escrevendo sobre a função documental, que teria caráter denotativo, ou seja, buscaria “registrar da maneira mais crível possível aquilo que vimos e experimentamos.” Para ele, essa função “adquire um tom de reportagem gráfica com o desejo de facilitar uma interpretação do que foi desenhado” e registra respostas para algumas perguntas, como: “quais lugares eu visitei?”, “quem eu conheci?” e “o que eu comi e/ou bebi?”.Beto
Candia (2011) fala com zelo do sketchbook, afirmando que esse suporte vai muito “além de uma coleção de desenhos, ele representa o dia a dia do artista, pessoas a seu redor, cidades, países, monumentos [...] enfim representa toda uma vida!”. Domingos Linheiro (2016)74 publicou um desenho dos lençóis baianos na Chapada da Diamantina, afirmando que estava “revendo o antigo caderno”. Em outra publicação, ele (2011a) afirmou que seu trabalho no IPHAN levou-o a vários lugares do país e que sempre registrou aspectos do nosso patrimônio cultural, especialmente da arquitetura, guardando seus desenhos em velhos cadernos. Ele ainda afirmou que continua no exercício de conhecer, de se encantar e registrar a diversidade de cenários que se apresentam, em qualquer lugar que ele esteja.
73 O termo função remete a “valor de uso prático”, por isso seria mais apropriado utilizar a palavra significação do caderno. Ainda assim, será mantido o termo original para manter fidelidade à referência utilizada.
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74 < https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/permalink/1107486116037883/> Acesso em: 03 mai. 2017.
José Marconi escreve sobre a utilização do sketchbook num texto intitulado “Para que serve um diário gráfico?”. Dividido em duas partes (2015a; 2015b), o texto foi baseado numa palestra de Salavisa e discute as funções de um diário gráfico, entre elas a provocadora afirmação de que não serviria para “nada”. “Fazer diários gráficos é uma experiência recente, comecei a apenas duas viagens”, relata Marconi (2015a). Estimulado por esta provocação, o autor decidiu pensar sobre as funções possíveis de um diário gráfico73, advertindo os leitores de que se trata de uma tentativa pública e informal de explicar algo que ainda está tentando entender e teria, portanto, apenas um caráter exploratório.
Um exemplo que trata do registro documental e também do expressivo é o desenho de Eduardo Bajzek (2013a) no IV Simpósio internacional em Barcelona (imagem 2 registrou o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA), a Igreja de Santa Maria del Mar e uma estátua de um santo em uma esquina. Bajzek relatou seu dia no próprio desenho, contando como caminhou até o local do seu comprou no mercado e de como lembrou de sua lua mesma cidade. Registrou ainda seus sentimentos sobre tal lembrança e como foi estar dentro da catedral sob o silêncio quebrado somente pelo toque do órgão.
Uma terceira categoria do diário gráfico seria a função poéti é a “abordagem expressiva às suas últimas circunstâncias” páginas do diário gráfico se transformariam numa busca de “especulações, experimentos e da intensificação da força expressiva dos materiais emp o que estaria diante do observador”. As respostas que esta poética produz “aventuram enxerga, e cada um tem sua percepção.
durante o IV Simpósio Internacional USk. 2013. Disponível em: -simposio-internacional-de-urban.html> Acesso em: 23 nov. 2016
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como: “o que eu estou sentindo neste momento?”; “eu estou gostando deste lugar?”; “minha linguagem gráfica registra a alegria e emoção que estou sentindo enquanto faço este desenho?”. Há, portanto, uma aproximação bem subjetiva que o difere do simples de uma cena. É o que o sketcher
workshop, a língua que utilizou, o que -de-mel ocorrida dez anos antes naquela
ca, o que Marconi diz que (2015a) regados, não importando necessariamente retrato fiel 6). Ele . Nesta categoria, as -se nos
Imagem 26: Desenhos de Eduardo <http://brasil.urbansketchers.org/2013/07/4Bajzek

s onde o objetivo é gerar surpresas gráficas e prazer ias texturas de papel, será que o resultado ficará bonito?”;
75 afirma que encontrou seu sketchbooks”. A função poética se dá na soma das sketcher. > Acesso -se SimonmaçãopensardosTaylor
em: 04 nov. 2016
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Imagem 27: Desenho de Simon Taylor no Largo da Ordem, Curitiba. 2015. Disponível em: <https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/?post_id=854878851298612

limites expressivos da linguagem e material gráfico empregado”; fazendo do diário “um repositório de experimentações poética estético para o desenhista bem como para o leitor” As perguntas e linhas de raciocínio que podem fomentar tal categoria são: “como eu faço para aplicar harmonias de cores monocromáticas?”; “vou usar vár “comprei este material de desenho, quais linhas e texturas poderei gerar com ele?”.
O francês Lapin (apud CAMPANARIO, 2012, p. 126) estilo depois de nove anos e mais de 130 tentativas experimentais que criam estilos próprios (e, por que não icônicos?). Pode também para além do material, como de que maneira se representa algo. Por exemplo, alguns sketchers utilizam o desenho em 360 graus, o que causa certa inovação e defor objetos representados, embora seja a representação da ótica do
75 "After nine years and more than 130 sketchbooks, I found my style".
A quarta função levantada por Marconi é a metalinguística, utilizada para comentar visualmente os desenhos em si. Seria uma composição formada por elementos gráficos que explicam, comentam, expandem, complementam e dialogam com a obra em si. A metalinguagem pode ser definida como “o uso da linguagem para descrever aspectos da própria linguagem que está sendo utilizada” (MARCONI, 2015b). Um livro que ensine a “desenhar usando desenhos para explicar como fazê-lo", por exemplo, "é um livro metalinguístico” (ibidem). As perguntas que respondem na forma metalinguística são: “que recurso gráfico eu uso para chamar a atenção desta parte do desenho?”; “qual detalhe do desenho eu desejo ampliar de modo a explicá-lo melhor?”; “vou encaixar um texto dentro deste desenho para explicar algum detalhe?”; e “será que se eu usar uma foto ela dialogará com o desenho?”.Guaraldo(2012, p. 655) também destaca que, nos sketchbooks, “pode-se encontrar, além de textos, diagramas, signos gráficos, fotografias, desenhos, colagens, números”, assinalando “a presença constante do diálogo entre a produção verbal e a produção imagética". Um exemplo é o caderno de Juliana Russo (imagem 28), que criou histórias sobre um desenho que ela fez no centro da cidade de São Paulo, que se encontram em meio ao caderno. Além das figuras, prédios, telefone público, árvores e semáforo, ela também escreveu frases ouvidas, músicas reproduzidas nas casas, o barulho da cidade grande. Um registro não só figurativo, mas também sensitivo e auditivo.
costuma fazer isso, como pode-se ver na imagem 27, onde o Largo da Ordem de Curitiba é representado desta forma. Ao centro, o chafariz conhecido popularmente como “Cavalo Babão” é circundado pelos prédios, bares, igrejas. Até mesmo o fundo da cidade é visto, com seus prédios em um horizonte. Outro aspecto do desenho de Taylor é a deformação proposital do topo dos prédios para que se adéquem ao espaço do caderno. De início era apenas uma solução para um problema, porém essa característica tornou-se marca deste sketcher de Curitiba, como já citado anteriormente.
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-um-pedido-de-desculpas.html> Acesso em: 04 nov. 2016.
Imagem 28: Desenho de Juliana Russo no centro de São Paulo. 2011. Disponível em>: <http://brasil.urbansketchers.org/2011/11/como

o seu espectador. Esse desenho tentaria “convencer o 2015b), ensinar algo ou contribuir para egistra as boas decisões tomadas durante a viagem se o comentário na forma imperativa: 'vale a pena são registradas e se transformam o uso de superlativos gráficos (ibidem). -se restaurantedesenhosruim.
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A última função que Marconi levanta é a apelativa, que seria uma função em que o sketchbook sugere, instrui e influencia leitor a fazer algo, persuadi-lo a pensar diferente” ( formação de opinião sobre um determinado tema.
Frequentemente o diário gráfico r e o desenho se transforma numa celebração gráfica da decisão. Criam mostrando um museu e coloca retornar aqui!' Por outro lado, decepções também em tentativas de deixar 'advertências' para o leitor. Frequentemente usamos o diário como um arquivo de impressões sobre um lugar, o qual consultaremos para saber, por exemplo, o nome daquele hotel 'maravilhoso' ou daquele Nestas páginas temos
.ãoJaneiro,,oqueapenasPorfim,
Acesso em: 25 fev. 2017.
29), embora o desenho seja a vista da cidade colonial a . Ele elogiou o local pela comida e cerveja gelada (2015b) conclui alertando que essas “s resgatar de um diário gráfico”
76, do Rio de
Quando desenhou o casario de Ouro Preto, Tarcísio Bahia destacou o restaurante Bené (imagem partir da janela deste estabelecimento caracteriza a função supracitada. Marconi uma das maneiras possíveis de explorar conceitualmente as funções de um diário gráfico” e que “uma composição gráfica pode simultaneamente dar várias respostas a várias perguntas, portanto, cabe ao leitor escolher o que ele deseja Marconi (ibidem) parafraseia Fernando Pessoa: “Para que serve um diário gráfico? Para navegar graficamente a vida, pois, como dizia o poeta, isto é preciso”. (2016)

onível em:
Imagem 29: Desenho de Tarcísio Bahia no restaurante Bené. 2016. Disp <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1723641304568528&set=gm.1063811900405305&type=3 76 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1723641304568528&set=gm.1063811900405305&type=3em:25fev.2017.
>>
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Algumas das perguntas possíveis da função apelativa são: “como eu faço para chegar a um determinado lugar?”; “como eu registro que este lugar, comida ou contexto é muito bom ou ruim?”; “quais os horários de funcionamento de um determinado serviço?”; e “como convencer o leitor a fazer ou desistir de algo que julgamos importante?”.
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Para tanto, Rafful dividiu seu trabalho em dois momentos distintos, com metade do tempo para o desenho e a outra metade para a redação de micro-textos. Ela relata que trabalhou a composição do desenho escolhendo cuidadosamente o local para cada um dos elementos trabalhados com o intuito de mostrar os diferentes aspectos que a encantavam de forma particular naquele local, indo desde a arquitetura até a compra de doces naquela rua. Esse tipo de croqui, conclui Rafful, nos garante “a possibilidade de nos lembrarmos sempre não apenas do local, mas do ambiente, das sensações e das circunstâncias particulares pelas quais passamos. Desta forma, tudo nos vem à memória como se fosse ontem”. Assim, ela tem no sketchbook um diário do intangível, podendo ser verificado nele e em seus desenhos elementos como a chuva, o céu, o frio, tudo isto, visto e sentido numa pequena poltrona do Café Odessa, na capital francesa (imagem 30).
O fato de o caderno liberar o desenhista de uma relação mimética, citada pelo autor, parece querer se referir ao fato de uma liberdade para transcender o realismo/naturalismo e dar vazão à criatividade. Porém, o uso do caderno não é o responsável e nem mesmo o objeto exclusivo a possibilitar tal prática. O que aproxima a afirmação de Cruz do USk é o conceito destacado por Anna Rafful (2015a), o “Bounding boxes”: “olhando meu desenho percebi que eu precisava captar muito mais de tudo aquilo que estava vendo e não simplesmente mostrar a conhecida e admirada arquitetura de Paris”, reflete. Ela crê que precisava acrescentar ao desenho suas impressões e decidiu refinar a técnica observando o local atentamente, escolhendo os detalhes que seriam desenhados a fim de melhor descrever o ambiente.
Numa época em que a imagem fotográfica domina enquanto forma de registro visual,o surgimento do Diário Gráfico, para este efeito, na esfera pública, mostra uma valorização do ponto de vista individual do autor, subjectivo, livre de uma relação mimética. Por outro lado, o reconhecimento de um valor de verdade associado a este objeto, mostra como o sujeito coloca em causa o que os seus próprios olhos vêem e passa a acreditar que olhar é muito mais do que ver, que o que está em causa é um olhar construído e programado, individual, íntimo e único. Uma experiência.
Uma característica que perpassa todas essas funções levantadas por Marconi é a pessoalidade, ou seja, a subjetividade. Em sua dissertação sobre diários gráficos, Thiago Cruz (2012, p. 22) afirma:
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Sobre os Sketchbooks, de uma memória do que foi registrado (lugar, pessoas, contextos, relação tempo Isogai não abre mão do suporte, carregando um
A sketcher finaliza afirmando que com inúmeras técnicas é possível “preencher todo o caderno de viagem, que guardará mais do que meras imagens, mas situaç emoções, impressões, ou seja, o local visto e compreendido por você, em toda sua objetividade sem deixar de lado a complexa subjetividade do seu autor”.
Imagem 30: Desenho de Ana Rafful no Café Odessa, Paris. 2015. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2015/08/skethces

: 23 nov. 2016 ões -espaço).”-sevividas,-nosaqueleKei sketchbook estará
sketchbook para onde vai:
Os momentos que registramos são recordados com mais intensidade e lembramo com quem estávamos, as sensações que tivemos ou o que se passou naquele dia. Salavisa (2011, p. 16) cita frase de Pedro Salgado, biólogo e desenhador científico português: “o desenho é como um catalisador da memória e do imaginário. A viagem torna caderno”; e também Ivo Moreira, sobre o faço, sinto um misto de sensações: parece ser a primeira vez que os vejo e, ao mesmo tempo, sou transportado para o momento em que os fiz”.
sketchbook: “raramente os consulto, mas quando o José Clewton77 afirma: “o sketchbook me ajuda na construção
-em-paris-caderno-de-viagem.html> Acesso em
77 Relato de Clewton e Isogai em entrevista via
nenhum lugar, pois em qualquer
Messenger nos dias 28 e 31/03/2017, respectivamente.
É a garantia de que não me 'emburrarei' em possível momento de ócio, de interrupção na atividade do dia, o junto para manter a cabeça trabalhando. [...]. Acredito na real importância desses
"O sketchbook é a porta para escapar do e para o mundo, para voltar e olhá-lo por dentro", afirma Miguel Herranz (apud CAMPANARIO, 2012)78. A proposta de reabrir o caderno, reviver momentos e até mesmo ressignificá-los é um tanto interessante, pois até mesmo a folha amassada, com cheiros e manchas de café podem oportunizar uma rememoração. Na postagem de Marconi sobre as funções do diário, ele compartilhou um sketch e a portuguesa Teresa Ogando comentou que está representada desenhando: “[o desenho] remete-me imediatamente para a memória do desenho que eu fiz. É isso o diário gráfico: ajudar a preservar as memórias, e quase também o estado do tempo, os cheiros e os sabores”.“A intenção de armazenamento, a natureza discreta, a presença constante de diálogos entre imagens e textos, o território para experimentação” são alguns dos atributos que Guaraldo levanta (2012, p. 653) e são tão fecundas que tornam o sketchbook um objeto recomendável, como Salavisa (2011, p.121) também aponta: “ora para relatar o nosso quotidiano, ora para memorizar o que quisermos que seja memorável, ora para reflectirmos por meio do desenho, ou para guardarmos as informações que necessitamos, ou simplesmente para passar o tempo ou para nos divertir”.
A relevância dos diários gráficos estão nas possibilidades inúmeras que eles proporcionam. A frase de Karina Kuschnir, “o sketchbook e não na galeria”, propõe que este objeto está mais próximo de uma viagem, de uma caminhada, de um encontro com amigos, de uma xícara de café frente a vidraça onde bate a chuva forte, ou seja, mais vinculado ao hobby do que ao mercado ou circuito de arte. Salavisa (2011, p. 129) fala sobre a liberdade que ele nos proporciona:
78 "The sketchbook is a door to escape to the world and from the world, go back and look inside"
O Diário Gráfico é um lugar livre que não nos pune, não nos repreende, ouve-nos em silêncio e deixa-nos partir para a descoberta sem cobrar no regresso. As palavras, os desenhos, as folhas rasgadas, os papéis colados, as aguadas, tudo toma o seu lugar, tudo dialoga sem senão, o erro aqui tem o lugar primordial sem que seja punido ou chamado atenção. [...] O Diário Gráfico é uma necessidade, pois é nele que deixamos os nossos passos, que o recordamos com a saudade presa a um determinado momento que ali ficou registrado, ao nosso jeito, daquela forma porque aquele momento assim o permitiu.
92 cadernos, pois são como diários, mostram processos de criações, da montagem do desenho, do local em que você esteve. Trabalham muito bem com a questão de identidade e memória, uma vez que não importa o quão antigo seja o desenho, ao abrí-lo novamente, todas as sensações daquele exato momento de criação voltarão à tona, do clima, dos cheiros, de uma conversa, sobre quem você era naquele tempo e quem é você hoje.
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Neste capítulo, percorreu-se a trajetória do Urban Sketchers, abordando seu surgimento e crescimento, seu funcionamento através de encontros e simpósios, entre outros, assim como sua declaração de intenções (manifesto) e como o sketchbook tornou-se uma plataforma de registro da produção para muitos membros do movimento. Nos próximos capítulos serão abordadas outras características do USk, demonstradas com muitas imagens e com buscando referenciais teóricos que possibilitem continuar interpretar o movimento.
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2.1 O ATO DE DESENHAR: SIGNIFICAÇÕES E POSSIBILIDADES
79 Obra citada é TIBURI, Márcia; CHUÍ, Fernando. Diálogo/desenho. São Paulo: Editora Senac, 2010.
95 2 CAPITULO DOIS: O URBAN SKETCHERS, O DESENHO E A MEMÓRIA
Um estudo da História da Arte desde os primórdios dificilmente deixaria de citar as cavernas de Altamira e Lascaux. As manifestações visuais nestas cavernas provam que antes mesmo de o homem criar a escrita, as cidades e os modos de organização civilizatórios, a prática do desenho já existia, embora quais motivações os levavam ao registro ainda é um desafio para especialistas. Em sua dissertação sobre o desenho, Gil Isoda (2013) destaca que os bastões entalhados em Blombos, caverna da África do Sul, depois na França e Espanha, foram feitos há aproximadamente 75 mil anos. Na Mesopotâmia, de acordo com o mesmo autor, a escrita cuneiforme já utilizava o desenho, sendo também o local onde se encontrou o primeiro plano urbano, em 1300 a.C. Isoda ainda escreve citando Márcia Tiburi e Fernando Chuí,79
Num mundo onde nada parecia ter muito sentido, Danny decidiu ensinar a si próprio a desenhar, e o que ele aprendeu foi espantoso. De repente, as coisas tinham cor e valor novamente. O resultado é Everyday matters, um diário de suas descobertas, recuperação e cotidiano na cidade de Nova York. É um livro engraçado, espirituoso e surpreendente, como a própria vida (GREGORY, 2003, apud KUSCHNIR, 2012b, p. 297, tradução da autora).
Esse pequeno texto, retirado da contracapa do livro “Everyday matters: a memoir”, de Danny Gregory, foi escolhido para iniciar este capítulo, que apresentará algumas das inúmeras possibilidades do desenho. O capítulo anterior abordou o manifesto USk como um todo, dando certa ênfase a sua característica do desenho in loco (item I) e do suporte midiático (item V). Neste capítulo, os itens II, III e IV serão abordados de forma mais específica: “Nossos desenhos contam histórias do dia a dia, dos lugares em que vivemos, e para onde viajamos”; “Nossos desenhos são um registro do tempo e do lugar”; e “Nós somos fiéis às cenas que estamos retratando.” Por isso, será realizado um breve histórico do desenho e de suas concepções teóricas. Além disso, busca-se fazer uma síntese de relatos dos próprios sketchers sobre o desenho em suas vidas. Nas páginas que seguem, serão apresentados os registros cotidianos dos sketchers e suas questões patrimoniais, que serão considerados no sentido de registro de tempos e lugares, assim como a busca por representações realistas, e não ideais, do patrimônio cultural e histórico do nosso país.
Michelangelo, Rembrandt, Dürer, Goya, Constable, Victor Meirelles, ToulouseLautrec, Gauguin, Picasso e muitos outros também se interessaram pelo desenho, tendo realizado estudos de anatomia, de paisagens urbanas e rurais, de fauna e flora, de trajes etc. Esse protagonismo do desenho não se encontra só nas artes plásticas,
O dicionário Houaiss 80 define desenho como uma representação feita sobre uma superfície por meios gráficos e instrumentos apropriados; procedimentos relativos à arte; obra de arte executada por meios gráficos; contorno; representação de objetos executada para fins científicos, técnicos, industriais, ornamentais, planta, risco, traçado; entre outras definições. No texto “O desenho como área de cultivo”, Lilian Maus (2013, p. 117) inicia questionando: “quem de nós nunca recorreu ao desenho para expressar uma ideia, ou até mesmo para se localizar na cidade?”.
96 que sugerem 'uma nova ontologia em que a inauguração do humano não se dá pela palavra carregada de conceitos, mas pelo grapho mais primitivo, o primeiro gesto representacional realizado pelo homem quando, munido de uma vareta, riscou o chão de areia'. Esse primeiro risco feito no chão é, claro, hipotético, mas nos coloca 'diante de um novo mito inaugural da cultura' e, independente de a história do homem, enquanto ser, ter começado com o traçar consciente de uma linha, é evidente que o desenho é elemento essencial e primordial em todo percurso da humanidade até hoje (2010 apud ISODA, 2013, p. 18).
81“Renaissance artists invented a whole new way of investigating the visible world by means of what art historian David Rosand calls, the ‘seeing pen’” In: Rosand, D. Drawing acts: studies in graphic expression and representation. Cambridge: Cambridge University Press, 2012.
82"With pen or chalk in hand Leonardo saw better. Through graphic gesture he could make visible those forces of nature that seemed to lie beyond the threshold of normal perception’."
O desenho atuou na história como um grande propulsor da experiência e dos descobrimentos na vida dos artistas. Os renascentistas investigaram o mundo com uma maneira totalmente nova, chamada pelo historiador da arte David Rosand de “caneta que vê” (2012 apud KANTROWITZ, 2012, p. 5).81 Eles estudaram a anatomia humana, criaram a perspectiva linear, alcançaram uma maior verossimilhança, aprenderam a esboçar como forma de materializar pensamentos e desenvolver investigações sobre o mundo natural, criando novos conhecimentos. “Com caneta ou giz na mão Leonardo [Da Vinci] viu melhor. Através do gesto gráfico, ele podia tornar visíveis as forças da natureza que pareciam estar além do limiar da percepção normal”. (ibidem).82 Alguns de seus esboços, por exemplo, tornaram-se tão famosos quanto as obras finais, como a tela “Virgem com Santa Ana” (1508-1513), que está no museu do Louvre e seu esboço, no National Gallery de Londres.
80 Disponível em: <https://houaiss.uol.com.br>
o desenho ou a 'Arte do Desenho', como era chamado, foi realmente fundamental e teve um papel essencial na investigação e difusão de muitas das ciências existentes, como a Biologia, a Geologia ou a Geografia, ou de outras mais recentes, como por exemplo a Etnografia, a Antropologia ou mesmo a Sociologia (SALAVISA, 2011, p. 34).
Godoy ainda relata que esse papel central do desenho (entendido de forma mais ampla como projeto) será abalado ao longo dos séculos XVII e XVIII devido aos embates ideológicos sobre linha e cor, tendo os partidários do colorismo Peter Paul Rubens (15771640) como seu grande artista e Roger de Pilles (1635-1709) como seu grande teórico. O desenho, que estabelece proporções e perspectiva, entre outros, passa a rivalizar com o talento pictórico, “que é justamente o da cor, que dá carne e vida à pintura”, por isso, “a ideia de
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É na Renascença que o desenho será definido não somente como este contato da ferramenta sobre o suporte, mas como uma forma de pensar específica, fundamentalmente ligada à projeção de ideias. O conceito italiano de disegno fará referência à imaginação do artista, à projeção mental de um determinado trabalho [...] Sobretudo a partir de Vasari que o desenho será entendido como essa união da projeção com o ato de sua feitura. A concepção de desenho, assim, manterá uma interessante duplicidade em sua referência: a da ideia projetada no espírito e sua fatura material. Algumas décadas mais tarde a dicotomia entre esse desenho mental e seu correspondente físico será estabelecida conceitualmente por Zuccaro ao distinguir o disegno interno do disegno externo [...] Lembrando que até a ascensão da burguesia como ideologia dominante, qualquer trabalho mecânico, ou seja, feito com as mãos, era um trabalho servil e desnobrecedor, o desenho conferia às artes este aspecto de obra do espírito que a constituiria como arte liberal, ou seja, feita pelos homens livres.
O desenho foi alvo do pensamento de teóricos diversos, conforme destaca Isoda (2013). Marcos Vitrúvio Polião, em seu tratado de arquitetura de 27 a.C., já considerava o desenho como um dos saberes necessários ao arquiteto. Leon Battista Alberti, em 1453, descreveu uma das etapas da pintura como circunscrição, que é o “delineamento da orla” da imagem que vai se pintar. Giorgio Vasari (apud LICHTENSTEIN, 2006, p. 20) escreveu em 1568: “oriundo do intelecto, o desenho, pai de nossas três artes – arquitetura, escultura e pintura -, extrai de múltiplos elementos um juízo universal” e “dessa percepção nasce um conceito, um juízo que se forma na mente, e cuja expressão manual denomina-se desenho”. Vasari (ibidem, p. 20-1) ainda afirma que é preciso o equilíbrio entre corpo e mente, “pois quando o intelecto externa os conceitos depurados e com juízo, são as mãos que, tendo exercitado o desenho por muitos anos, revelam a perfeição e excelência das artes.” Em sua época, ganhou corpo a concepção de desenho como coisa mental e não como simples técnica manual. No artigo “O que o desenho nos propicia”, Vinicius Godoy (2013, p. 86-7) afirma:
projeto mental será gradualmente substituída pela concepção de rascunho, de esboço” (ibidem, p. Apenas88).
no século XIX a autonomia do desenho passou a se constituir, já que o impressionismo tornou desnecessários o esboço e o estudo prévio para a pintura. Godoy afirma que isso trouxe a diminuição de sua importância como a primeira entre as artes, mas também uma independência até então não experimentada. Porém, o autor não deixa de citar os exemplos de Durer (1471-1528) e dos pintores holandeses do século XVIII, ou ainda Bruegel, o velho (1525-1569), destacados desenhistas, assim como também menciona o surto industrial, o desenho técnico e a caricatura de Honoré Daumier (1808-1879).
Para Godoy, o modernismo trouxe a emancipação completa do desenho com Picasso, Matisse e Kandinsky. Na Arte Contemporânea, o desenho continua presente e importante, tendo como exemplos citados por Rute Soares (2015) as explorações minimalistas, a body art, a land art e a performance de artistas como Bruce Nauman, Sol LeWitt, Richard Long e Robin Rhode. Além disso, podemos citar a arte urbana e o grafite. Isoda (2013, p. 90) destaca a exposição Drawing now, no MOMA, em 1976:
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Essa exposição foi fundamental principalmente como reflexão sobre o desenho, não apenas em sua autonomia, mas pensando como uma linguagem própria, lembrando a provocação de Richard Serra no ano seguinte ao da exposição, o que reflete seu espírito: 'Drawing is a verb' (SERRA, 1994, p. 51)83. Ainda que a exposição não tenha sido de desenhos de artistas emergentes, mas de obras dos anos 1950 e 1960 de artistas já então consagrados, como Joseph Beuys, Jasper Johns, Robert Rauschemberg, Frank Stella e Andy Warhol, ela marcou um momento de afirmação do desenho contemporâneo.
83 A obra referenciada é SERRA, Richard; BORDEN, Lizzie. About Drawing: An Interview. In: Serra, Richard Writings. Interviews. Chicago: University of Chicago Press, 1994.
Godoy explica essa menor importância dada ao desenho com dois exemplos: a “qualidade de incompletude”, sendo elemento de outra obra ou então como estudo para compreensão de obras acabadas; e o incentivo do exercício do desenho e de sua aprendizagem por parte de não-artistas, principalmente a partir da obra Elements of drawing, de John Ruskin (1819-1900), “em que o autor encorajava o exercício do desenho como forma de educar o olhar, através de sua prática e do estudo e cópia dos mestres do passado. Quanto à pintura, Ruskin a reservava apenas aos artistas” (ibidem, p. 89).
Numa busca etimológica, Isoda (ibidem) destaca que do latim “de signum” (sinal, marca) formou-se “designare” (marcar, traçar, representar); no século XIV, surgiu o italiano “disegnare” e um século mais tarde, “disegno” (representação gráfica unida por procedimento
Essa explicação etimológica é importante porque os Urban Sketchers utilizam, em suas versões do manifesto, as palavras dibujo e drawing, parecendo referir-se mais à ação do que ao desígnio. Isso nos faz pensar que o urban sketching se trata menos de um desenho prédeterminado do que algo que é espontâneo, feito a partir do inesperado, do que surge e surpreende. Isso não quer dizer que a prática USk é totalmente imprevisível, mas que não é estritamente planejada. Além disso, sketch é traduzido como esboço, croqui, e não como um projeto de design ou arquitetura que necessita de uma maior regularidade e compromisso formais, espaciais e técnicos. Vale também lembrar que o processo é mais importante que um resultado final, o que libera o sketcher da conclusão imediata do desenho. Rute Soares (2015, p. 41) escreve citando Juan Molina:85
84 No artigo “A etimologia da palavra desenho (e design) na sua língua de origem e em quatro de seus provincianismos: desenho como forma de pensamento e de conhecimento”, Luiz Geraldo Martins (2007, p. 3) destaca que design e drawing, em seus sentidos, “de uma forma ou de outra estão imbricados, se não etimologicamente, pelo menos pelas próprias características que engendram essas atividades (e reflete uma tendência da linguagem verbal em, muitas vezes, separar o que na realidade não tem uma fronteira tão nítida).”
99 mental). A partir daí, as outras línguas latinas criaram suas variações: do catalão formou-se o espanhol “diseño” (projeto, plano), do português, “desenho”, do francês “dessein” (projeto, desígnio) e “dessin” (representação gráfica). No inglês, por influência latina, formou-se o “design” (concepção, plano). O termo germânico “buschen” deu origem a “deboissier”, em francês, “debuxo” e “bosquejo”, em português, já em desuso; e em espanhol, “dibujo” (arte e técnica do desenho). Do inglês, “tragan” foi derivando-se em “draga”, “dragan”, até chegar em “drawing” (ato do desenho). Assim, “drawing” e “dibujo” se diferenciam de “design” e “diseño”, estas mais utilizadas para referir ao ato prático e aquelas, ao plano.84
O desenho diferencia-se das outras atividades artísticas porque se institui enquanto processo, enquanto ato, não precisando de se concluir como resultado. Neste sentido é dispensável ao sentido de obra, '…sendo esta ausência de formalismo importante para se entender que o sentido do desenho, aquilo que lhe dá razão de ser, não se encontra tanto nos seus valores formais, nas suas qualidades estéticas, mas na relação que estabelece com o próprio pensamento'.
Voltando a questão etimológica, esse trabalho tratará o desenho em suas duas mais comuns significações em língua portuguesa, a saber: o ato manual, técnico, prático e o ato de pensar, ver, refletir. “Desenho é linguagem, pensamento, ação”, afirma Maus (2013, p. 117). Ana Leonor Rodrigues (2003, p. 22) defende que o ato de desenhar mobiliza “por um lado a mente, a inteligência analítica, o sentido ordenador, a consciência do observar, mas também a
85 Molina, J. Las lecciones del dibujo. Madrid: Cátedra, 1995.
Embora seja uma palavra simples e de uso comum, o conceito do desenho é bastante complexo. Seu ato, porém, é bastante livre e democrático. É isso que o Urban Sketchers busca, e olhando para o passado, encontramos Ruskin, ele mesmo um desenhista, acompanhado sempre de seu pequeno caderno, registrando o que observava, desenhando e anotando: “Foi dos primeiros intelectuais a pensar e difundir a ideia de que a arte e o belo não são privilégios dos artistas ou das classes cultas, mas devem ser usufruídos por todos: “a arte é uma questão pública e cultivá-la uma das mais importantes obrigações do Estado.” (SALAVISA, 2011, p. 30)
Por que quem desenha em um papel nunca sabe exatamente como o desenho vai ficar? Por que o desenho pré-concebido mentalmente, idealizado, às vezes é tão diferente da versão materializada? Seja em um papel, em uma escultura, seja em um design de móveis, etc. Qual a velocidade de processamento de ação de ver, perceber, riscar, ver o risco, mudar o trajeto do gesto? O ato de desenhar envolve muitas etapas, procedimentos, ações, muitas delas intelectuais, mentais, outras físicas, corporais, materiais. O contexto também influencia e participa, seja ele histórico, seja espacial… quais materiais e técnicas estão envolvidos? Quais ideais estão presentes naquele momento histórico? Todo processo é bastante dinâmico. Muitos desses procedimentos são efetuados em frações de segundos. Algumas vezes de maneira simultânea. O processo não é linear, não há uma ordem cronológica entre pensar, riscar, observar, corrigir, idealizar, etc. Talvez seja um processo rizomático. Talvez seja um processo de formatividade (ISODA, 2013, p. 19).
Danny Gregory tem seus livros86 citados por Karina Kuschnir quando esta defende a prática do desenho como uma prática possível a todos. Kuschnir (2012b, p. 298) explica os termos que ele utiliza: “há um jogo de palavras difícil de traduzir, onde os termos license e permission remetem à ideia de se ganhar uma carteira de habilitação [...]. Ou seja, aprender a
100 sensibilidade e os afetos, e, por outro, o corpo no próprio gesto de fazer, e o olhar, sempre o olhar”. Portanto, é um exercício que convoca todo o nosso ser.
86 Algumas de suas obras são “Everyday matters” (2003), “Creative License” (2006), e “An Illustrated Life” (2008).
Seu admirador brasileiro, Rui Barbosa (1849-1923), quis ampliar a proposta do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, propondo implantar no país o ensino primário do desenho. “Dizia que antes de aprender a ler ou a escrever o aluno deveria aprender a desenhar” (AMARAL, 2005, p. 9). Infelizmente, essa realidade não se concretizou no país e mesmo as aulas de Artes são muitas vezes negligenciadas e/ou infrutíferas. Os alunos saem da escola executando a caligrafia, mas não o desenho, sendo que, para Ruskin, era possível os dois: “nunca encontrei, até agora, nas experiências que fiz, uma pessoa completamente incapaz de aprender a desenhar” (apud SALAVISA, 2011, p. 30). Ruskin também acreditava que desenhar nos obrigava a refletir sobre o próprio desenho.
das lacunas em nosso currículo escolar no que se refere ao desenho, algumas crianças demonstram facilidade para desenhar, entram em cursos para aperfeiçoamento e vão às faculdades de Arquitetura, Design ou Artes Visuais. É deste grupo que provém boa parte dos membros do Urban Sketchers. O desenho - e entende-se aqui a pintura também - é uma atividade que faz parte de suas vidas e paixões; seja pelo prazer ou pela profissão, tal prática está inserida em seus cotidianos. João Pinheiro (2014) questiona: “O que essas pessoas estão fazendo? Registrando suas vidas? Tentando ver além da camada grosseira da nossa percepção comum? Registrando seu tempo?”. Sem dar tempo para respostas, continua: “Anotando lembranças? Treinando o seu desenho? Criando arquivos de paisagens na mente? Transformando o olhar para as futuras gerações?”. Ele mesmo conclui que certamente as pessoas fazem “tudo isso e muito mais”. Existe uma relação com o desenho e estes sketchers acreditam que através dele torna-se possível relacionar-se consigo mesmo, com o mundo, com os espaços e com as outras pessoas.
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desde que meus finos dedinhos aprenderam a riscar um papel desenhar se tornou minha atividade favorita. Meu momento de maior paz e prazer, de deixar a mente fluir, sonhar, de encontrar outros mundos e lugares, de encontrar a mim mesma. Lembro das calmas tardes deitada no chão desenhando morros bucólicos, com um grande sol no horizonte, nos milhares de corações coloridos dedicados a minha mãe, nas centenas de folhas de caderno cobertas de desenhos ao invés da matéria, das grandes obras de arte deixadas em carteiras e folhas perdidas, tantos personagens e histórias imaginados.
Como em inúmeros casos, Machado aperfeiçoou sua técnica quando estudou Arquitetura e cursou a disciplina de “Desenho de Observação”, conhecendo os croquis urbanos, hoje sua paixão. Ela relata que o caderno e a caneta tornaram-se seus objetos inseparáveis, que croquisar (verbo criado por alguns sketchers para remeter à prática de fazer croquis) faz parte de seu cotidiano e de seu ser. Não importa para onde ou para o que ela esteja olhando, ela sente vontade de desenhar, de captar a cena, o momento: “ao desenhar, o mundo para, nada ouço, nada penso nem me preocupa, só o que existe é eu, o papel e o mundo. Desenhar me faz imensamente realizada, satisfeita e feliz”. Com a mesma paixão, a paulista Mazé Leite (2011a) afirma que “desenhar sempre foi necessidade: de vida, de
desenhar seria como aprender a dirigir. Todos podem.” Ela ainda evoca os princípios implícitos no manifesto USk, que não utiliza a palavra artista e também não exige perfeição nos desenhos.Apesar
“Desde quando você desenha?” é uma das perguntas que Thaís Machado (2014) mais ouve. Ela responde que
87 “Drawing has opened a door to a world where everyday life is synonymous with beauty and poetry”.
"Drawing brings satisfaction and hapiness to me in my daily routine"
Para alguns sketchers, desenhar tornou-se compulsão ou mesmo uma ferramenta de desenvolvimento pessoal: “eu tenho que fazer sketches ou eu sinto como se houvesse algo sendo esquecido no meu dia", afirma Samantha Zaza, de Istambul (ibidem, p. 206).90 De Tel Aviv, Marina Grechnik afirma que desenhar mantém suas mãos flexíveis e seus olhos renovados, por isso procura não sair de casa sem um sketchbook e algumas canetas em sua mochila (ibidem).
trabalho, de existir mesmo” e que existem momentos e lugares que “pedem um desenho”; assim, escreve que além de pintar, deseja também não abandonar os traços feitos pela sua mão, “seja com lápis, caneta, nanquim, ou qualquer outra ferramenta que sirva no momento”. Murilo Romeiro (2014a) diz:
Nasci convivendo com ruas estreitas, casarões coloniais, mil janelas, igrejas seculares adornadas pelo Aleijadinho, o repicar dos sinos e respirando o ar das montanhas de Minas Gerais. Artistas de toda parte vinham até minha cidade natal, São João del Rei, para retratá-la em pinturas e desenhos. Eu ficava admirando os seus trabalhos e cheguei a posar, junto com outros garotos, para um desses pintores. Acho que tudo isto e a influência de um tio artista me levaram, desde cedo, a gostar do desenho, da paisagem urbana, dos detalhes das fachadas e, também, sonhar em ser arquiteto quando adulto.
Leni Fujimoto (2012a), de São Paulo, relata o que desenho representa em sua vida:
Desde sempre tive bastante admiração e especial gosto por esta arte que é desenhar. Um dos encantos do desenho, ao menos para mim, é me ver surpresa, a cada vez que desenho, com a maneira pela qual um emaranhado de linhas tomam forma, estrutura, vida própria, e se transformam num manifesto, verdadeira expressão do que se quer transmitir, formando um elo com o mundo. Meus desenhos são a minha história. […] Trata-se de lugares por onde ando, frequento, viajo; as pessoas que vejo, e as minhas impressões sobre elas; com uma certa frequência, complementadas por cores, que auxiliam nessa expressão.
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88 "Sketching for me is about highlighting the noteworthy and the beautiful in everyday life with help of paper and pen"
Essa relação próxima com o desenho também é percebida nos relatos de sketchers de fora do país. “Desenhar abriu uma porta para o mundo onde a vida cotidiana é sinônimo de beleza e poesia”, diz o francês Guillaume Bonamy (apud CAMPANARIO, 2012, p. 136).87 A londrina Olha Pryymak (ibidem, p. 150)88 afirma que desenhar “é destacar o notável e o belo no dia a dia com ajuda do papel e da caneta”; Florian Afflerbach, da Alemanha (ibidem, p. 183)89, diz que “desenhar traz satisfação e alegria.”
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90 "I have to sketch or I feel like there's something missing in my day"
existem especialistas que podem falar horas sobre como a luz entra na retina, se transforma em sinais e como o cérebro conduz e coordena os nervos e os músculos até chegar a ponta dos dedos, para produzir numa folha de papel uma série de linhas mais ou menos coerentes chamadas de 'desenho'. Felizmente, ninguém precisa conhecer esse processo complexo para desenhar. Desenhar é um prazer simples: É o prazer de andar, de parar num lugar, de olhar, atirar traços numa folha de papel, deixando a sua mão falar a linguagem das formas, olhar de novo e, entrar pouco a pouco, cada vez mais profundo na realidade de um lugar.
Essa simplicidade do “andar, parar e olhar”, citados acima, estão bem explícitos na prática do Urban Sketchers e também se estendem à liberdade criativa para a escolha do tema. Relatos do ato do desenho oportunizando uma prazerosa relação com o mundo, com os espaços e com as pessoas, mesmo quando feito de forma profissional e remunerada, são para muitos uma junção do útil ao agradável, para usar a expressão popular. Histórias são vividas por quem desenha, histórias que marcam outras vidas, além da própria. A imagem 31, aquarela feita por Mário Baratta repleta de cores azuis e vermelhas, com uma casinha e uma frondosa árvore ao lado de uma rua que leva ao infinito, tem por trás de si uma história incrível. É uma pintura tão singela quanto o relato do seu autor (2012b):
Era um final de tarde num despretensioso domingo, eu estava sentado no chão de uma pracinha em uma pequena cidade no interior da Amazônia, no estado do Pará. Estava fazendo desenhos para colocar em um calendário que seria publicado no ano seguinte e precisava retornar para Belém naquele dia. Dois garotos se aproximaram de bicicleta e começaram a olhar o que eu estava fazendo, um deles perguntou:–Moço, por quê o Sr. está desenhando? - Expliquei que era um trabalho e buscava um ponto típico da cidade para mostrar em um calendário. Ele me disse que, geralmente, quem fazia isso na cidade eram eles. Pedi então, que me mostrassem o lugar em que os moradores mais se identificavam com a cidade. Apontaram para uma árvore frondosa que ficava em uma rua ali perto. Hoje fui convidado para dar as boas vindas aos calouros do Curso de Artes Visuais, da Universidade Federal do Pará, a ideia era mostrar um pouco do que tenho produzido artisticamente. Lá pelo meio da palestra, mostrei as aquarelas do calendário e comentei o episódio do encontro com
O desenho tornou-se um condutor de práticas diárias, dos lugares para onde se escolhe ir, para onde se decide olhar. Filosoficamente ou pragmaticamente, a prática possibilita muitas viagens, sem necessariamente sair do lugar. O carioca Rafael Fonseca afirma que tem uma relação muito intensa com o que faz e acredita que os desenhos não têm importância em si, mas sim os lugares onde eles o leva (2011a). Ele tem como foco seu autocrescimento e a construção diária de sua essência, formada pelo acúmulo das suas experiências. Fonseca cita Manoel de Barros quando relata sua estada no mar, onde sempre procura manter-se sem os pés no chão: “É preciso “transver” o mundo através da imaginação”.
Fabien Denoel (2011a) destaca o desenho em sua complexidade e simplicidade simultâneos, afirmando que
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-garotos-da-bicicleta.html> Acesso em: 22 out. 2016.
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os garotos que aconteceu dez anos atrás. Foi aí, que alguém sentado no fundo da sala pediu a palavra. Para surpresa de todos e minha pr como sendo um dos garotos da bicicleta e comentou o quanto aquele episódio havia sido marcante para os dois e o que aconteceu na vida deles depois daquele encontro. O (re)encontro na sala foi emocionante. O relato dele foi m Como diria Lenine, 'ninguém faz ideia de quem vem lá'.
finaliza que “desenhar na rua pode não ser tão rquitetura, sobretudo no Brasil, vale lembrar a 2012) já incentiva a prática d): “para o arquiteto, é bom saber sketcher ltos […]-se no dia da
Imagem 31: Aquarela de Mário Baratta de paisagem para calendário. 2012. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2012/03/os


blog, ele responde, concluindo sobre a
Como muitos sketchers provém da a importância do traço para esta profissão. Oscar Niemeyer (1907 do desenho e sua frase é citada por José Clewton (2012 desenhar. Uma figura, uma imagem, uma paisagem, uma flor. Desembaraçar a mão, sentir mais ligado à natureza fantástica que o cerca”. A frase foi lembrada pelo morte do reconhecido arquiteto. Alguns meses antes, Rafael Fonseca (2012) já havia citado Niemeyer enquanto relatava uma palestra e um desenho que fez para lhe presentear no Museu incipalmente, ele se apresentou ais emocionante ainda.
Após ser ovacionado pelos seguidores no incrível “coincidência” e o quanto podemos “despertar interesses em jovens e adu sem sequer nos darmos conta disso”. Baratta eficiente para ampliar contatos como as redes sociais da web, mas são muito marcantes, para quem faz e para quem assiste.”
Cognição é o ato ou efeito de conhecer. O processo ou faculdade de adquirir conhecimento. Em psicologia é o conjunto de unidade de saber da consciência que se baseiam em experiências sensoriais, representações pensamentos e lembranças. Em suma, é sapiência. Por meio de processos cognitivos vemos e entendemos o mundo. O ser humano atribui significados, desvenda, apreende tudo aquilo que percebe. O desenho nos permite perceber, atribuir e desvendar esses significados. E não só isso, mas ajuda também a evidenciar e comunicar esses significados apreendidos. Usamos o desenho tanto para entender quanto para transmitir o que entendemos. Seja pensando, seja rabiscando, seja observando o mundo, seja vendo o desenho de todas as coisas que nos cercam. [...] Desenho é um processo cognitivo.
de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro, após uma fila em que mais de cem estudantes de arquitetura solicitavam desenhos ao seu ídolo.
Dentre as inúmeras possibilidades do desenho está a faculdade de ver com mais precisão os locais e o mundo ao nosso redor, ideia defendida por muitos teóricos. Rute Soares (2015, p. 41) afirma que “o desenho educa o olhar, ordena a sensibilidade, exponencia a imaginação criadora e estabelece a possibilidade de comunicação e entendimento [...]”. Teresa Eça (2010, p. 156) afirma que “pensar o desenho como ferramenta e processo de questionamento, de reflexão, de conhecimento e de compreensão do mundo tem todo o sentido no contexto da sociedade do conhecimento”. Para Carlos Fajardo (apud ISODA, 2013, p. 66), “desenhar é uma relação que você tem com o mundo, é uma relação de raciocínio, o desenho é um ato mental, desenhar significa um processo complexo”. Esses teóricos abordam a potência do ato de desenhar, sendo este uma forma de conhecer melhor aquilo que é visto, analisando melhor o derredor, entendendo os processos de percepção e relacionando-se melhor com as cenas e os objetos vistos. Os verbos utilizados por esses teóricos são educar, ordenar, comunicar, questionar, conhecer, relacionar. Todos estão vinculados a práticas cognitivas. Isoda (ibidem, p. 43). trata o desenho como fenômeno mental, destacando o processo cognitivo, a percepção, o olhar e a memória:
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Le Corbusier (apud GORDO, 2014) também dava crédito ao desenho, entendendo-o como um lugar da memória. Fabiano Vianna (2015b) elogia um arquiteto que sempre incentivou o traço, o curitibano Vilanova Artigas (1915-1985), que “dizia que um desenho é tanto funcional quanto expressivo, e que a arquitetura nasce deste possante vínculo”. Além disso, Cláudio Santos (2015b) afirma que “com o advento dos avanços tecnológicos e uso de ferramentas computacionais para a elaboração de desenhos de projetos arquitetônicos,” estudantes têm abandonado “a prática espontânea da representação gráfica através de técnicas manuais”. Santos lamenta pela cada vez mais limitada “capacidade de expressão gráfica sem o apoio de programas e computadores, além de se tornarem excessivamente padronizados e impessoais os desenhos gerados unicamente pelas ferramentas digitais”.
92 Rodrigues, A. L. M.M. O que é Desenho? Lisboa: Quimera, 2003.
Sobre o desenho, Paul Valéry escreveu (2012, p. 99, grifos dele):
Há uma imensa diferença entre ver uma coisa sem o lápis na mão e vê-la desenhando-a. Ou melhor, são duas coisas muito diferentes que vemos. Até mesmo objeto mais familiar a nossos olhos torna-se completamente diferente se procurarmos desenhá-lo: percebemos o que ignorávamos, que nunca o tínhamos visto realmente. O olho até então servira apenas de intermediário. Ele nos fazia falar, pensar; guiava nossos passos, nossos movimentos comuns; despertava algumas vezes nossos sentimentos. Até nos arrebatava, mas sempre por efeitos, consequências ou ressonâncias de sua visão, substituindo-a, e portanto abolindo-a no próprio fato de desfrutar dela. Mas o desenho de observação de um objeto confere ao olho certo comando alimentado por nossa vontade. Neste caso, deve-se querer para ver e essa visão deliberada tem o desenho como fim e como meio simultaneamente. Não posso tornar precisa minha percepção de uma coisa sem desenhá-la virtualmente, e não posso desenhar essa coisa sem uma atenção voluntária que transforme de forma notável o que antes eu acreditava perceber e conhecer bem.
Não conheço arte que possa envolver mais inteligência do que o desenho. Quer se trate de extrair do complexo da visão a descoberta do traço, de resumir uma estrutura, de não ceder à mão, de ler e pronunciar dentro de si uma forma antes de escrevê-la; ou então de a invenção dominar o momento, de a ideia se fazer obedecer, se tornar precisa e se enriquecer com o que ela se torna no papel, sob o olhar; todos os dons da mente encontram seu uso nesse trabalho, em que aparece com não menos força toda a personalidade da pessoa, quando ela a possui.
Desenhar a partir da observação da realidade, leva a ver o mundo que nos rodeia com um olhar mais atento e disciplinado, em detrimento de um olhar quotidiano e distraído. deste modo, o desenho de observação é uma estratégia por excelência para ensinar o aprendiz 'a ver'. Quem desenha terá que ser capaz de traduzir para o suporte bidimensional uma série de relações espaciais e estruturais das formas, através de utilização de elementos estruturais da linguagem visual.
Ruskin acreditava que o desenho é uma boa maneira de as pessoas estarem atentas às coisas que as rodeiam e que ele as ensina a ver mais do que simplesmente a olhar (SALAVISA, 2011). Valéry (2012, p. 61, grifos do autor) também acredita na potencialidade do desenho para nos fazer ver melhor. Ele afirma que:
91 “Drawing, properly taught, is the best way of developing intelligence and form judgement, for one learns to see, and seeing is knowledge”.
106
Viollet-le-Duc (apud PETHERBRIDGE, 2008, p. 30-1)91 afirmou que o “desenho, propriamente ensinado, é a melhor maneira de desenvolver inteligência e formar julgamento, porque se aprende a ver, e ver é conhecimento.” Carla Tavares (2011, p. 6) defende essa ideia e cita Betty Edwards: “Aprender a ver o que está perante nós é a primeira etapa para aprender a desenhar.” e Ana Leonor Rodrigues (2011, p. 10):92
Tavares (2011) lembra que para esta observação atenta é necessário demorar tempo a ver as coisas que se querem desenhar. Pires Coelho (2014, p. 24) cita o arte-educador Elliot Eisner: “reduzir a velocidade com que se percebe um objeto ou acontecimento é a melhor maneira de realmente o ver". Aline Dias, em “A drawing does not stop” (2013, p. 48), afirma:
Retomando a ideia do tempo, que muito me interessa no desenho, penso o desenho como uma espécie de licença para a lentidão. Paradoxalmente tido como uma linguagem disponível, rápida, ágil, que demanda poucos recursos e explora um caráter imediato, penso o desenho também como estratégia (ou exigência) para fazer demorar o olhar. É diferente fotografar e desenhar [...]. Para colocar as coisas no papel (e não recortar do mundo) o desenho pede que se coloque o olhar nas coisas e, nesse trabalho, é preciso ter o corpo também envolvido.
Em 2009, a arquiteta Carla Caffé lançou o livro "Av. Paulista", repleto de desenhos de São Paulo, projeto muito próximo do USk. Em seu depoimento para o site da Editora Cosac & Naify,93 ela fala sobre como é importante desenharmos a cidade e como espera que seu livro instigue as pessoas a fazer o mesmo, pois acredita que “ao desenhar, você acaba conhecendo muitas coisas; acaba descobrindo muitas coisas. Não só coisas interiores, suas, como coisas que estão aí, para serem desenhadas”.
94 “Students reported that drawing during fieldwork altered their perception of the passage of time. On many occasions, they mentioned that after finishing a drawing, they realized that one or two hours had gone by, yet the psychological feeling was that they had been working for much less time in situ. This sensation is reported by sketchers with some frequency”.
107
O desenho, portanto, traz um novo comportamento e percepção de tempo. Kuschnir (2016, p. 120, grifos da autora) escreve sobre sua experiência didática e antropológica com o desenho:
93 Disponível em<http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/10224/Av-Paulista.aspx.>Acesso em: 01 maio 2017.
A palavra draw significa também “chamar a atenção”, “atrair” “concluir uma ideia depois de pensar cuidadosamente sobre”, “tomar algo para si” (ISODA, 2013, p. 22-3). Edyth Derdyk, em entrevista à Isoda (ibidem, p. 86), fala sobre essa “qualidade do desenho que é capturar do mundo as coisas, arrastar, trazer para si, que é o drawing, que é aquela capacidade de você absorver e observar do mundo as coisas”. Le Corbusier (1968 apud SOARES, 2015, p. 11) já defendia que antes de qualquer coisa, desenhar é ver com os olhos, observar,
Os alunos relataram que o desenho durante o trabalho de campo alterou sua percepção da passagem do tempo. Em muitas ocasiões, eles mencionaram que depois de terminar um desenho, perceberam que uma ou duas horas se passaram, mas o sentimento psicológico era que eles estavam trabalhando por muito menos tempo in situ. Esta sensação é relatada por sketchers com alguma freqüência.94
Ronaldo Kurita (2015a) escreve que só conheceu São Paulo de verdade explorando para os trabalhos universitários de urbanismo e que sempre se surpreende, até hoje, a cada nova descoberta. Regina Borba (2012)ias
Tenho prazer em representar o que vejo e os locais onde passo, se cho o que importa é o momento que desligo de tudo e encontro prazer em desenhar . Por enquanto descubro detalhes despercebidos em minha própria cidade Mogi das Cruzes, e busco uma identidade nos meus traços, e sei com o tempo isso chega.
Adriano Mello, de Mogi das Cruzes
com algumas práticas dos sketchers
Podemos relacionar essas ide desenho de João Pinheiro da Rua Erva Mularinha, em São Paulo, é um exemplo. Ele afirma que essa famosa rua só foi descoberta por ele quando sentou na calçada para desenhá (2011b). Pinheiro observa seu relevo inclinado e asfalto ruim, com prédios e muros pichados, carros estacionados e pouca movimen lugares e remontando acontecimentos passados. Pintaram um muro, derrubaram uma casa, cadê aquela árvore que tinha aqui? aquele bar mudou de dono”. O “remembrando” para expressar seu sentimento de que parece estar “remendando uma colcha de retalhos, ligando pontos de saudade na cabeça, tudo através do desenho”. Pinheiro acredita que “desenhar nos dá a possibilidade de parar e refletir, de ver a paisagem, de ver o mundo fora da casa de máquinas, ver como é lá fora”. Finalizando, o desenhista cita o poema criado e postado por um amigo no seu melancolia / Que não sei se está no bairro / No traço / O
Imagem 32: Desenho de João Pinheiro na rua Erva Mularinha, em São Paulo. 2011. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2011/09/rua

blog, cujo título era Remembrança: “O traço cap u nos olhos / De quem via -erva-mularinha.html> Acesso em 14 mai. 2017.
108
ve ou faz sol, -a
tação (imagem 32) e escreve: “Na rua fico revendo os sketcher
descobrir e aprender a ver: “É necessário desenhar para interiorizar aquilo que foi visto e que ficará então inscrito na nossa memória para toda a vida”
-SP (2011a), escreve sobres suas descobertas: , ao ouvir falar do USk, ficou encantada, questionandobrasileiros.O-lausaoverbotoua.”
A italiana Simonetta Cappecchi (ibidem, p. 202)97 também destaca essas relações com a cidade: “desenhar significa ficar mais tempo nos lugares, e isso sempre faz a diferença na forma como eu percebo coisas ou situações, nós entendemo-las melhor.” Para o equatoriano Omar Jaramillo (ibidem, p. 214)98, “desenhar é uma forma de aprender por que um lugar é do jeito que é e o que o faz diferente de outros. É uma forma de amar um lugar, tornar-se parte dele.” Ao incentivar o urban sketching, Campanario (ibidem, p. 18) 99 afirma que “suas
99
“Drawing means staying longer in places, and this always makes a difference in the way we perceive things or situations, we understand them better.”
André Duarte Baptista (2015a) afirma que uma das coisas que lhe atrai no desenho de observação é a “necessidade” de relação entre desenhador/observador e o objeto/espaço, que ele chama de “eterno jogo de sedução”. Baptista relata que sua dissertação de mestrado sobre o centro histórico de Torres Vedras possibilitou conhecer o desconhecido, e que “desenhar obriga-nos a perceber como se compõem e estruturam os elementos que nos rodeiam”. O jogo de sedução citado pelo autor ultrapassa a relação observador-objeto e torna-se “um triângulo amoroso bastante interessante – observador/objetos/público”. Ele finaliza escrevendo que desenhar tem tornado-o “mais rico – mais observador, mais sensível à relação homem/espaço.”Relatosdo livro de Campanario também convergem para essas ideias de que o desenho possibilita descobertas visuais. A russa Olga Prudnikova testemunha a mudança de percepção sobre sua cidade, Moscou, pois acredita que deve-se olhar com os olhos de um viajante. Apesar de começar a fazer sketches enquanto viajava, Prudnikova tomou a mesma atitude para seu dia a dia: “eu descobri que eu posso olhar para minha cidade natal, Moscou, com olhos diferentes” (apud CAMPANARIO, 2012, p. 174).95 Para ela, isso ajuda a perceber mais o seu derredor. Já a sua conterrânea, Zhenia Vasiliev (ibidem, p. 172)96, sublinha: “quando você desenha, você força a si mesmo a estar atento aos detalhes e começa a perceber quão pouco você conhece os locais familiares: as ruas que você caminha todos os dias, os ônibus que você toma ou a cafeteria onde você bebe um rápido café.”
“Drawing is a way to learn why a place is the way it is and what makes it different from others. It’s a way to love a place, to become part of it”.
96
se porque não deveria desenhar sua cidade de São Luís, que é um patrimônio cultural da humanidade. Ao iniciar no movimento, ela acabou se apaixonando “por esse exercício e descobrindo cada cantinho especial” da capital maranhense.
“When you sketch, you force yourself to be attentive to the details and start noticing how little you actually know of familiar places: the street you walk down every day, the bus you’re riding, or the café where you have a quick coffee.”
"[...] I found that I can even look at my hometown, Moscow, with different eyes".
95
97
109
98
“(...) your skills will be sharper, and you’ll gain a new appreciation for your surroundings”.
104
“Fazer sketches é a única forma de contar estórias enquanto eu descubro o mundo”, diz Paul Wang, de Hong Kong (ibidem, p. 234).104 Wil Freeborn, de Glasgow (ibidem, p. 164)105, afirma que fazer sketches “tem sido uma grande forma de explorar e descobrir mais sobre onde eu vivo”. Por fim, para Rob Carey (ibidem, p. 186) 106, da Alemanha,
“Sketching was an effective way to meet locals properly.”
101
Danielle McManus (apud CAMPANARIO, 2012), de Nova Iorque, sair para desenhar é adquirir um novo par de olhos, assim como para a dinamarquesa Ea Ejersbo (ibidem, p. 167) 101, que diz: “fazer sketches faz-me desacelerar e olhar aquelas coisas que de outra forma eu não faria.” O canadense Jerry Waese (ibidem, p. 62)102 afirma que vê “as coisas de forma diferente” e encontra “motivos e belos ritmos no comum” enquanto procura por “pistas para composição no fluxo dos tráfegos”. O espanhol Luis Ruiz (ibidem, p. 112)103 olha sempre para cima, buscando “descobrir detalhes não percebidos nas fachadas e cornijas”
102
“[...] I do see things differently; I find motif and beautiful rhythm in the mundane, and I look for composition clues in the flux of passing traffic.”
105
110 habilidades ficarão afiadas e você ganhará uma nova apreciação do seu derredor.” O marroquino Stuart Kerr (ibidem, p. 12)100 afirma que que desenhar é “uma forma efetiva de conhecer adequadamente os lugares” e o estadunidense Matt Jones, que o desenho o ajuda a se familiarizar com um local, construir mapas mentais e aprender nomes de ruas e pontos de referência.Para
Os dois relatos abaixo tratam de descobertas feitas durante o desenho. O primeiro é de Simon Taylor (2015b), em viagem à Buenos Aires (imagem 33), quando em meio à arquitetura e ao obelisco em uma importante avenida da cidade, ele percebe uma pequena casa
100
“It’s been a great way to explore and find out more about where I live”.
“I am always looking upward, and I really enjoy discovering unnoticed details on façades or cornices.”
106
103
“Urban sketching forces me to sit and really look at details I wouldn’t normally notice. I become detached, yet very connected with my environment at the same time. Although it’s relaxing, I also find it incredibly challenging. When you’re sketching, you’re staring at a complex scene of intersecting lines and unusual shapes and figuring out how to record them on paper. The goal is communicating your experience at that time with whoever sees the sketch later. It’s the same as telling a story."
“Sketching is a unique way of telling stories as I discover the world”.
“Sketching makes me slow down and see these things in a way I otherwise wouldn’t.”
Fazer urban sketches me força a sentar e realmente olhar para os detalhes que eu não perceberia normalmente. Eu me tornei isolado, porém muito conectado com meu ambiente, ao mesmo tempo. Embora relaxante, eu também acho isso incrivelmente desafiador. Quando você está fazendo sketches, você está encarando uma cena complexa de linhas intersectadas e formas incomuns e descobrindo como gravá-las no papel. A meta é transmitir sua experiência naquele momento com quem quer que veja seu sketch depois. É o mesmo que contar uma história.
-de-viagem-3-buenos-aires.html> Acesso em: 16 mai. 2017.
A casa tinha sua elegância, mas a fachada lateral foi que me sedu capturar essas pequenas revelações que só se mostram quando a gente está buscando o que desenhar. Do outro lado da rua uma flor entreaberta também merecia um registro. A flor entreaberta e a fachada escondida travavam uma conversa inau
> Acesso em: 01
Imagem 33: Desenho de Simon Taylor em Buenos Aires (recorte). 2014. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2015/07/diario maio<https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/?post_id=11349213399610272017.

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No único dia da viagem em que choveu, aproveitei para fazer um desenho da janela do hotel. Tudo corria bem até eu perceber uma casinha de dois andares, bem no topo de um prédio imenso. Sensação indescritível! A arquitetura da casa não tinh ver com a do edifício. Era como se, num passe de mágica, a construção tivesse sido doteleSul [...].
no topo de um prédio. O segundo relato é Lange, em Curitiba, quando uma flor surge ao seu olhar e insere
transportada [...] de uma paisagem rural européia para os píncaros da dível… quem sabe o desenho possa revelar um pouco desses segredos.
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se no desenh
107, no bairro Hugo o (imagem 34). a nada Américaa ziu. Gosto de tentar
de Raro de Oliveira (2016)
Imagem 34: Desenho de Raro de Oliveira de casa em Curitiba. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/raro.deoliveira/posts/10211774929679822> Acesso em: 01 mai. 2017.

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Dalton de Luca (2011b) confessa que ao fazer desenhos no Pátio do Colégio, em São Paulo, nunca tinha prestado muita atenção na coluna chamada “Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo”, do escultor italiano Amadeu Zani. Marilia Varella (2016)108 fez um registro de uma escultura que não conhecia no Museu Oscar Niemeyer, na área externa. Eduardo Lott (2017)109, do Rio de Janeiro, desenhou uma cena de rua em Niterói e, em meio a pessoas, motocicletas, paredes, escadarias e fios elétricos, percebe uma árvore no telhado (imagem 35). Thaís Machado (2015b) relata um dia em que foi à Escadaria Selarón, que liga a Lapa à Santa Teresa, no Rio de Janeiro: “lá uma grande quantidade de turistas já se encontravam presentes, tirando muitas fotos, selfies e procurando entre os milhares de azulejos os de suas terras natais. A surpresa, o encantamento e a felicidade eram contagiantes”, diz ela, que também
109<https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/permalink/1184233478363146/> Acesso em: 01 maio 2017.
108 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1079888728728779&set=gm.927644430688720&type=3>em:01maio2017.
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Imagem 35: Desenho de Eduardo Lott em Niterói-RJ. 2017. Disponível em: <https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/permalink/1184233478363146/> Acesso em: 20 fev. 2017.

Durante as últimas semanas de dezembro estive em férias, que passei na casa dos meus pais, em Santa Bárbara d'Oeste. Nesse tempo procurei, através do desenho, redescobrir a cidade onde passei minha infância e adolescência. O olhar viciado,
Sempre gostei de representar o que vejo, acredito que seja um meio de registro do tempo que não volta mais e de maior proximidade entre o observador e o a coisa observada. Tenho dito aos que querem aprender a desenhar, parafraseando o grande desenhista e professor Kimon Nicolaides, que dizia: 'Desenhar é uma questão de aprender a ver'. Ou seja, um bom artista não é aquele que “sabe desenhar”, mas aquele que sabe ver. Por isso tenho creditado os desenhos a uma boa observação. Os olhos que apreendem as formas, as cores, os detalhes, devem ser o ponto inicial para um investimento no ato de desenhar. E, complementando com Maurice Grosser : 'O pintor pinta com os olhos, não com as mãos'.
relata a dificuldade de desenhar o local: “[...] descobri que a perspectiva era bem mais complexa do que imaginei”, pois havia muita gente circulando e a “escadaria tem diversos trechos e patamares, que não são regulares, o que só descobri enquanto desenhava”. Adriana Dantas afirma (2016a, grifos da autora):
No relato de alguns desenhos, Flávio Ricardo (2015b) destaca a descoberta de “um pequeno beco, bloqueando com elementos de aço a passagem de motocicletas” e as muitas pessoas que utilizaram este beco como passagem. Em outro momento, ele relata (2015a):
acostumado a procurar e a encontrar tudo aquilo que penso saber da cidade, sempre me dizia que nela não há nada de interessante. Aqui vão alguns dos registros dessa minha busca. Esta é da parte mais antiga da cidade. Zona limítrofe, são da parte central. A declividade acentuada vem da proximidade com a várzea de um rio. A demolição de um muro nesta esquina [imagem 3 então escondida nesta edificação cujo uso não consigo identificar (uni ou multifamiliar?).
Imagem 36: Desenho de Flávio Ricardo em Santa Bárbara do Oeste <http://brasil.urbansketchers.org/2015/01/ferias

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Ele descreve ainda outros locais: esta mesma rua que termina em uma curva, um “interessante conjunto de casas”, o encontro de duas avenidas que margeiam a ferrovia, uma curva “extremamente acentuada”, um desconhecido, um trator no espaço de exposição do CEDOC da Fundação Romi, para onde Ricardo se dirige por causa da chuva, um carrinho de lanches e um antigo caminhão sempre em frente à casa do proprietário, que “p colocar em evidência aquilo que passa desapercebido é uma das qualidades da atividade de desenhar” e que “as trocas, o trabalho, o espaço público e sua apropriação, o conceito do abrigo, seja ele uma árvore ou a lona de um carrinho de lanches” lhes vieram à mente após estes desenhos: “não sei dizer bem o porquê da escolha do objeto. Talvez estas ideias já estivessem latentes, esperando que fossem desenhadas”.
6] revelou a intimidade até
as ruas finais afirma que
- SP. 2015. Disponível em: -em-santa-barbara-doeste-sp.html> Acesso em: 14 maio 2017. semáforo, um muro grafitado por um artista arece já fazer parte da rua”. O sketcher
Esse trecho foi retirado de um texto da historiadora e artista israelense Ruth Rosengarten, apresentado no II Simpósio Internacional do USk, em Lisboa. Ele trata de especificações do desenho, sobretudo neste movimento: sobre captar, deixar vestígios, ter uma individualidade poética, descobrir fantasmas e desfrutar da frescura do olhar.
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DO TEMPO E DO LUGAR: O HEROÍSMO MODERNO
Essa frase de Ricardo é muito interessante para se pensar sobre o olhar e o desenho, e como estas coisas "já latentes" despertam aos olhos dos sketchers. O ilustrador e designer Guto Lacaz (apud DERDYK, 2007, p. 261) diz que “uma pessoa só pode dizer que viu uma coisa, depois de tê-la desenhado”. Podemos pensar que a cidade e o que está nela quer ser desenhado, espera por isso, por sua descoberta. John Berger (2005, p. 3) já afirmava que para o artista, “o desenho é descoberta”, sendo isso literalmente verdade: “é o próprio ato de desenhar que obriga o artista a olhar para o objeto à sua frente, a dissecá-lo em seu olho mental e juntá-lo novamente.” É pelo desenho que se descobre a cidade, que se desvenda seu cotidiano, que se desvelam seus citadinos. Berger ainda defende que linhas e tons não são mais importantes porque registram o que você vê, “mas por causa do que ele vai levar você a ver [...] Um desenho é um registro autobiográfico da descoberta de um evento - visto, lembrado ou imaginado.” São esses registros o objeto principal dos próximos itens deste capítulo.2.2REGISTRO
Não gosto de muitos sketches que faço, mas por trás de cada desenho há algo muito mais importante e significativo. Normalmente minha memória é muito ruim... mas quando desenho, parece que gravo tudo: como estava o clima, com quem eu estava, o que eu estava pensando e sentindo, o que me incomodava... E isso é, pra mim, o melhor de desenhar, porque eu sei que quando eu olhar para esse desenho, vou me lembrar de tudo.
Desenhar é a nossa maneira de, a um tempo, captar o transitório, e deixar um vestígio da nossa própria gestualidade - o rasto de algo incontestavelmente corpóreo. porém, é de igual modo a nossa forma de fazer uma pausa quando vamos a passar, imergindo-nos na textura de um mundo espesso de fantasmas e memóriasarquitectónicas, mas não só- mas que, ao mesmo tempo, se apresenta aos nossos olhos como novidade, frescura, plenitude (ROSENGARTEN, 2012, p. 39).
Esse é o relato de Fernanda Vaz de Campos (2013a) sobre sua viagem à Praga, na República Tcheca, e diz respeito às possibilidades de captar e registrar o cotidiano, as vivências em lugares e tempos distintos e como eles tornam-se suportes da memória através do desenho: “um rapaz jogava uma bolinha no lago e seu cachorro nadava feliz atrás dela, uma senhora sentou-se do meu lado e disse algumas palavras em tcheco [...]”, ela
Já em relação ao cotidiano, podemos considerá-lo pela sua etimologia - provém de cotidie ou cotidianus, que significa todos os dias, o diário, o comum, o habitual (GUIMARÃES et al, 2002, p. 11). “A cotidianidade é a própria condição humana fundamental” (AZANHA, 1994, p. 32). Para Melucci (2004, p. 13):
as experiências cotidianas parecem minúsculos fragmentos isolados da vida, tão distantes dos vistosos eventos coletivos e das grandes mutações que perpassam a nossa cultura. Contudo, é nessa fina malha de tempos, espaços, gestos e relações que acontece quase tudo o que é importante para a vida social. É onde assume sentido tudo aquilo que fazemos e onde brotam as energias para todos os eventos, até os mais grandiosos.
complementa. Essa relação entre memória e cotidiano não é novidade em nosso tempo e é o termo-chave para este item do capítulo, que buscará demonstrar a produção dos sketchers e de seus relatos contextuais, afirmando ainda mais a diversidade do movimento, não sem antes pensar teoricamente sobre esses termos e suas problematizações na História da Arte.
Dois importantes pensadores do cotidiano são Agnes Heller e Michel de Certeau. Silva e Silva (2009, p. 75-6) analisam como os referidos autores lidam com o conceito de cotidiano:
A memória, com a propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas (LE GOFF, 1990). Desde a pré-história, o ser humano buscou formas de evocar e preservar a memória, antes mesmo de pensar em História. A memória esteve em mitos fundadores, listas genealógicas, festas religiosas e comemorativas, anais reais, bibliotecas, monumentos políticos, bélicos ou funerários, poesia, literatura e música, liturgias religiosas, métodos escolásticos de educação, obituários e culto aos mortos, veneração dos velhos, incentivo à meditação, adoção de calendários especiais e feriados, confecção de moedas, selos, insígnias, medalhas e souvenirs e, finalmente, em museus, fotografias e computadores (ibidem).
As Artes Plásticas também se inserem nestes exemplos: as já citadas pinturas rupestres, as paredes das pirâmides, os templos gregos, as estátuas de imperadores romanos e as colunas em honra às batalhas vencidas, a arte cristã medieval, os retratos e autorretratos, as cenas bíblicas, cívicas e mitológicas que se proliferaram pela Europa a partir do Renascimento, a nostalgia romântica, o realismo soviético e a arte nazista que idealizavam regimes, os monumentos aos mortos das grandes guerras, os prédios que simbolizavam poderes temporais e outros tipos de monumentos simbólicos. Todos esses objetos tornaram-se suportes das memórias, sejam individuais ou coletivas.
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É possível encontrar fontes materiais registrando o cotidiano e os costumes desde a Antiguidade - Jacques Le Goff (1979) cita Heródoto, no Egito; Tácito, em Roma; e Marco Polo, na China. Na História da Arte isso não é diferente: as paredes de cavernas neolíticas, de pirâmides egípcias e de casas de patrícios do Império Romano já continham cenas do dia a dia. Assim também nas cenas de cavalaria na tapeçaria medieval e em Pieter Bruegel, o velho, que no Renascimento pintou “Provérbios Flamengos” (1566), “A boda camponesa (1567) e “A dança dos camponeses” (s/d), entre outras obras que retratam o cotidiano. Em “Caçadores na neve” (1565) (imagem 37), pode-se ver o retorno dos caçadores desanimados e exaustos, assim como seus cães. Da caça, os homens trazem apenas uma lebre, vista em primeiro plano. No resto da tela, sobretudo ao fundo, moradores locais carregam feixes, transportam mesas e fazem fogueiras. A neve, os galhos secos, rios congelados e roupas pesadas que todas as personagens utilizam demonstram que é inverno. Ainda existem carroças, casas com
Para Heller, a vida cotidiana está no centro do acontecer histórico e seria a própria substância da história (ibidem). O cotidiano ganhou força como objeto de estudo da História no século XX, com os trabalhos dos historiadores da Escola dos Annales. Em uma de suas obras mais importantes, “Apologia da História ou o ofício do historiador”, Marc Bloch (2001, p. 148) aborda a preponderância de registros reais: “Parece, escrevia Voltaire, que de 1.400 anos para cá não houve nas Gálias senão reis, ministros e generais”. A Nova História possibilitou outras abordagens da História, debruçando-se em temas como o cotidiano:
Se antes as preocupações dos historiadores se restringiam ao estudo da macropolítica, as resistências miúdas e quase invisíveis do cotidiano passaram, com a Nova História, a ser objeto legítimo de pesquisa, e muitos personagens antes ocultos – porque não participavam diretamente dos aspectos da vida pública –passaram a ter suas vozes e gestos reconstituídos. Mulheres, prisioneiros, loucos, marginais e muitos outros 'esquecidos' podiam enfim ter sua história contada [...] intensificaram-se os estudos de temas como a família, o papel da disciplina, as mulheres e os significados dos gestos cotidianos (SILVA; SILVA, 2009, p. 76).
Há pouco consenso na definição de cotidiano. Para Certeau, por exemplo, o cotidiano se compõe de numerosas práticas ordinárias e inventivas e não seguem necessariamente padrões impostos por autoridades políticas ou institucionais. Já para Agnes Heller, a vida cotidiana é a vida de todo homem, e todos já nascem inseridos na sua cotidianidade, na qual participam com toda sua personalidade: com todos os sentidos, capacidades intelectuais, habilidades manipulativas, sentimentos, paixões, ideias, ideologias. Heller identifica e delimita as partes que constituiriam a vida cotidiana como a organização do trabalho e da vida privada, os lazeres e o descanso, a atividade social sistematizada, o intercâmbio e a purificação.
certamenteem,o
. Disponível_Hunters_in_the_Snow_(Winter)_em:
Imagem 37: Pieter Bruegel, o Velho. Caçadores na neve. 1565. Óleo sobre madeira. Museu de História da Arte de Viena <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pieter_Bruegel_the_Elder__Google_Art_Project.jpg

chaminés, crianças que brincam no gelo e senhoras portadas à janela. Não se sabe se essa cena aconteceu de fato, mas ela retrata,
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O cotidiano também aparece com frequência no Barroco e no Rococó, sobretudo nas cenas campesinas em Peter Paul Rubens, nas casas holandesas de Johannes Vermeer (1632 1675), na vida de boêmia de Caravaggio (1571 Watteau (1684-1721) e Jean-Honoré Fragonard (1732 Impressionismo, o desenho in loco Millet (1814-1875), as cenas de por do sol, as festas galantes, os trens e ferrovias, bailarinas ensaiando, as tardes em parques e as noites nos cabarés dos impressionistas Provença de Van Gogh (1853-1890) no Rio de Janeiro, Victor Meirelles (1832 última pintada também por Eduardo Dias (1872 Beck (1919- 1999), Hassis (1926 representaram o cotidiano que vivenciaram
cotidiano do europeu nórdico
> Acesso em: 17 maio 2017. -1610) e nos deliciosos piqueniques 1806). A partir do Realismo e do ganhou força: podemos citar os camponeses de François
no século XVI. 117×162cm. de -1985),Antoineas,aAldoe
. No Brasil, Debret pintou os patriarcas e seus escravos -1903) pintou as ruas cariocas e de Desterro, esta 1945), Martinho de Haro (1907 -2001) e Domingos Fossari (1914-1987), catarinenses qu sua capital.
É importante lembrar que mesmo que um item do manifesto afirme que se faça registros de tempo e lugar, esses não passam ao crivo da História. Trata-se, portanto, de uma sensibilidade poética e subjetiva, o que aproxima o Urban Sketchers da memória e não da História. Mesmo quando os sketchers se consideram historiadores, antropólogos ou mesmo arqueólogos, isso se dá no âmbito do metafórico ou do senso comum, distante de uma conceituação correta destas ciências. 110 Pierre Nora (1984) adverte que não podemos confundir memória e história, porque expressam duas dimensões diferentes no tratamento do passado, apesar da aparente sinonímia. Conforme seu pensamento, o olhar do historiador é permanentemente crítico para a memória tomada como construção imaginária e percebida como elaboração simbólica. A memória é a reconstrução do passado no presente vivido,
110 A pesquisa de Karina Kuschnir ou mesmo de pintores viajantes, com propósitos específicos dentro da antropologia e etnografia não estão enquadradas aqui, até porque não consideram sua produção como arte e sim como suporte para o trabalho etnológico/antropológico.
A partir dessas duas breves conceituações, podemos partir para a problematização dos aspectos memória e cotidiano dentro do universo do Urban Sketchers. Em primeiro lugar, cabe uma diferenciação entre História e memória. Para Pierre Nora (1993, p. 9),
A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a história, uma representação do passado. Porque é afetiva e mágica, a memória não se acomoda a detalhes que a confortam, ela se alimenta de lembranças vagas, telescópicas, globais ou flutuantes, particulares ou simbólicas, sensível a todas as transferências, cenas, censura ou projeções. A história, porque operação intelectual e laicizante, demanda análise e discurso crítico. A memória instala a lembrança no sagrado, a história a liberta, e a torna sempre prosaica. A memória emerge de um grupo que ela une, o que quer dizer, como Halbwachs o fez, que há tantas memórias quantos grupos existem; que ela é, por natureza, múltipla e desacelerada, coletiva, plural e individualizada. A história, ao contrário, pertence a todos e a ninguém, o que lhe dá uma vocação para o universal. A memória se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto. A história só se liga às continuidades temporais, às evoluções e às relações das coisas. A memória é um absoluto e a história só conhece o relativo.
As obras de arte são, por seu caráter histórico, objetos de memória, mas também o são por seu conteúdo, por serem portadoras de registros de vivências e observações de artistas. A memória é seletiva. Herdada, sofre flutuações de acordo com o momento e é construída. Concilia-se através de negociação entre o individual e o coletivo, vivencia disputas para atingir a posteridade (POLLACK, 1992) e também é silenciosa ou silenciada, compreendendo o dito e o não dito (idem, 1989).
a memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas revitalizações. A história é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais.
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Precisamos evitar de tratar a imagem da obra de arte como um documento, ao invés de monumento. Os métodos da história, em sua grande maioria, não tratam do estatuto da imagem nem da experiência artístico-poética. A história da arte constitui um espaço autônomo no âmbito acadêmico e na atuação prática, cujos objetivos e critérios ultrapassam o de tratamento da obra como "documento de época", o que implica em uma metodologia diferenciada relativamente à do historiador (MAKOWIECKY, 2015, p. 17).
uma fotografia é prova de um encontro entre o evento e o fotógrafo. Um desenho questiona lentamente a aparência de um evento e, ao fazê-lo, nos lembra que as aparências são sempre uma construção com uma história. (Nossa aspiração à objetividade só pode proceder da admissão da subjetividade.) Usamos fotografias tirando-as conosco, em nossas vidas, nossos argumentos, nossas memórias; nós as movemos. Considere que um desenho ou pintura nos obriga a parar e entrar em seu tempo. Uma fotografia é estática porque parou o tempo. Um desenho ou pintura são estáticos porque abrangem o tempo. [...] Desenhar é olhar, examinar o espectro da aparência. Um desenho de uma árvore mostra não uma árvore, mas uma árvore sendo olhada. Considerando que a visão de uma árvore é registrada quase instantaneamente, o exame da visão de uma árvore (uma árvore que está sendo observada) não só leva minutos ou horas em vez de uma fração de segundo, envolve também, deriva de e refere-se a muito anterior experiência de olhar. Dentro do instante da visão de uma árvore é estabelecida uma experiência de vida. É assim que o ato de desenhar recusa o processo de desaparecimentos e propõe a simultaneidade de uma multiplicidade de momentos.
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diferenciando-se da história, pois parte de uma relação afetiva com o passado, que tende a mitificá-lo. A memória, portanto, é feita da história vivida e não da história aprendida, mas sempre mantém relação com a afetividade.
111 “A photographer is evidence of an encounter between event and photographer. A drawing slowly questions an event’s appearance and in so doing reminds us that appearances are always a construction with a history. (Our aspiration towards objectivity can only proceed from the admission of subjectivity.) We use photographs by
Georges Didi-Huberman (2015, p. 25) afirma que “muito antes de a arte ter uma história, as imagens têm tido, têm levado, têm produzido a memória”. Para ele, as imagens são mais carregadas de memória do que de história, pois o tratamento da obra de arte (e aqui inclui-se os sketches) deve ser como monumento e não como documento, ou seja, como um registro de um imaginário, como objetos de fins mnemônicos e não documentais, como faria alguém que deseja registrar um fato tal qual aconteceu.
Ou seja, a arte e os sketches, neste caso, são registros de individualidade poética e não de jornalismo histórico. “Ao mesmo tempo em que a obra de arte nos remete à compreensão de um momento histórico, o momento histórico em que a obra de arte foi produzida nos remete a sua compreensão estética” (PETRY, 2011, p. 21). Se possibilitam conhecer um passado histórico, isso se dá em um estudo da história das representações e não de um tratamento da obra de arte como um retrato fidedigno de um evento, pois ela porta a experiência do olhar. John Berger aborda esse problema (2005, p. 43-4):
Nada disso diminui o significado da arte que representa o cotidiano, mas coloca-a como de fato é, uma representação, fecundada pela imaginação, contexto histórico e repertório intelectual de quem a fez. Teresa Carneiro (2012, p. 12) escreve sobre “o ato de olhar e de se tornar parte daquilo que se vê”, e neste caso, “talvez se possa propor que quem desenha, desenha-se simultaneamente a desenhar, ou pelo menos desenha-se a desenhar o seu olhar sobre o mundo… e neste caso.. já não a coisa desenhada”. Berger (1972, p. 14) lembra que a visão específica do fazedor de imagens pode ser reconhecida como parte do registro:
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Alguns historiadores, artistas e teóricos abordam a importância do registro do cotidiano. “Não é investigando a política nacional, ou biografias de grandes figuras [...], mas sim através de estudos contextualizados da vida quotidiana, que melhor podemos balizar um entendimento adequado [...] do pensamento humano e dos comportamentos em geral”, diz John Caughey112 (1982, p. 222 apud ROSENGARTEN, 2012, p. 30). Para Degas (ibidem), era nas realidades desadornadas da vida quotidiana e não em narrativas dramáticas, históricas taking them with us, in our lives, our arguments, our memories; it is we who move them. Whereas a drawing or painting forces us to stop and enter its time. A photograph is static because it has stopped time. A drawing or painting is static because it encompasses time [...] To draw is to look, to examine the spectrum of appearance. A drawing of a tree shows, not a tree, but a tree being-looked-at. Whereas the sight of a tree is registered almost instantaneously, the examination of the sight of a tree (a tree being-looked-at) not only takes minutes or hours instead of a fraction of a second, it also involves, derives from, and refers back to, much previous experience of looking. Within the instant of the sight of a tree is established a life-experience. This is how the act of drawing refuses the process of disappearances and proposes the simultaneity of a multitude of moments.”
112 CAUGHEY, John. The ethnography of everyday life: theories and methods for american culture studies.
American Quartely, vol. 34, n. 3, 1982, p. 222.
Berger utiliza a expressão “englobar um tempo” porque crê que as paisagens nunca foram exatamente como estão nas pinturas: elas são a junção da densidade por milímetro quadrado de olhar de quem a fez, a densidade por milímetro quadrado de momentos montados (ibidem). Ele utiliza como exemplo a “Vista de Delft”, pintada por Veermer em 1660-1 para justificar sua afirmativa. Para ele, tal cena da cidade holandesa nunca existiu, ela é uma junção de várias cenas construídas pelo desenho, diferente da fotografia que capta tudo instantaneamente, com um clique.
constituiu isto o resultado de uma crescente tomada de consciência da individualidade, acompanhada de uma crescente consciência da história. [...] Nenhuma outra espécie de vestígio ou de texto do passado nos pode dar um testemunho tão directo sobre o mundo que rodeou outras pessoas, noutros tempos. sob este aspecto, as imagens são mais rigorosas e mais ricas que a literatura. Esta afirmação não nega a qualidade expressiva ou imaginativa da arte, como se a considerássemos uma mera prova documental; quanto mais imaginativa é a obra, mais profundamente nos permite compartilhar da experiência que o artista teve do visível.
Charles Baudelaire (1821-1867), poeta francês, escreveu “O pintor da vida moderna” entre 1863 e 1868, questionando a nostalgia dos seus contemporâneos e defendendo a importância do presente, dos aspectos da vida moderna e do quanto de beleza poderia ser encontrado neles. Mesmo que elogie quadros e textos antigos, o poeta francês afirma que seria um erro negligenciar “a beleza particular, a beleza de circunstâncias e a pintura de costumes: “o passado é interessante não somente pela beleza que dele souberam extrair os artistas para os quais ele era o presente, mas igualmente como passado, por seu valor histórico” (2006, p. 851). O mesmo ocorreria com o presente, ou seja, não representá-lo seria negligenciar aquilo que, para as próximas gerações, se tornaria o passado. Em 1845, Baudelaire (1965, p. 31-32 apud BERMAN, 1986, p. 138) já se queixara dos novos pintores que estão desatentos ao presente:
O heroísmo, para Baudelaire, não era mais mitológico ou cívico, tal como se proliferou no início do século XIX, mas encontrava-se no andar cotidiano da vida metropolitana. Ele destacou o artista Contantin Guys (1802-1892), referindo-se a ele como um “homem do mundo”, apaixonado por viagens e muito cosmopolita, chegando a publicar em um jornal inglês os croquis de suas viagens (2006). A curiosidade, para Baudelaire, pode ser considerada como ponto de partida do gênio artístico e é o que leva o artista às ruas, unida a sua paixão pela cidade, que forma uma só vontade. Guys, com essas qualidades, “buscou
In: ERIKSEN, Thomas H. - NIELSEN, Finn S. História da antropologia. Petrópolis: Vozes, 2007.
não obstante, o heroísmo da vida moderna nos rodeia e nos pressiona […] Não faltam assuntos, nem cores, para fazer epopeias. O pintor que procuramos será aquele capaz de extrair da vida de hoje sua qualidade épica, fazendo-nos sentir como somos grandiosos e poéticos em nossas gravatas e botas de couro legítimo.
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ou mitológicas que se podia encontrar a arte. Rosengarten (ibidem, p. 31) ainda afirma que “enquanto a pintura do Renascimento era, preponderantemente, de base textual, passou a haver, em Veneza, um gosto cultural pela observação do particular, pelo saborear do pormenor visual singular”, tendo a escola veneziana pintado o cotidiano desta cidade. Sobre os séculos XVIII e XIX, Kuschnir (2016, p. 107)113 cita Eriksen e Nielsen, que mostram que era revolucionário que os enciclopedistas estivessem interessados na cultura material e profissional das pessoas comuns, como artesãos, técnicos e agricultores: “eles construíram as bases de um ambiente acadêmico interessado na vida cotidiana, no mundo das relações e da produção do trabalho e nas possibilidades de comparar diferentes culturas e sociedades”.
113 “They built the foundations of an academic environment interested in everyday life, in the world of labour relations and production, and in the possibilities for comparing different cultures and societies.”
A confiança de Baudelaire, à época, era de que futuramente esses temas e suas presenças na Arte e na Literatura seriam objeto de fruição e informação. Não é o artista relacionando-se com o passado, mas com seu próprio presente. “Esse atual que será passado, conservará o sabor do fantasma, recuperando a luz e o movimento da vida, tornando-se presente” (ibidem, p. 852).
Teresa Carneiro (2012, p. 11) afirma que o ato de desenhar “compreende um processo paradoxal que implica, por um lado, uma recusa do desaparecimento [...] de um momento que nos escapa a cada instante que passa” e de uma “aceitação da inevitabilidade do desaparecimento [...] de um tempo que a cada momento torna-se imediatamente passado”. Como o filósofo grego Heráclito (535-475 a.C.) já dizia, nenhuma pessoa se banha no mesmo
“One minute in the life of the world is going by. Paint it as it is.”
"What you are drawing will never be seen again, by you or by anybody else. [...] this moment is unique: the last opportunity to draw what will never again be visible, which has occurred once and will never reoccur."
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por toda parte a beleza passageira e fugaz da vida presente, o caráter daquilo que o leitor nos permitiu chamar de Modernidade” (ibidem, p. 881). Baudelaire (apud Berman 1986, p.167) acreditou que “uma arte que não se disponha a épouser (desposar) as vidas de homens e mulheres na multidão não merecerá ser chamada propriamente de arte moderna.” O artista deveria portar-se ante seu modelo, sem preocupações outras, como um convalescente, para usar o termo baudelairiano, pessoa que goza da “faculdade de se interessar intensamente pelas coisas, mesmo por aquelas que aparentemente se mostram as mais triviais”. Esse interesse o levaria a diversos lugares.
E ele sai! E observa fluir o rio da vitalidade, tão majestoso e brilhante. Admira a eterna beleza e a espantosa harmonia da vida nas capitais, harmonia tão providencialmente mantida no tumulto da liberdade humana. Contempla as paisagens da cidade grande, paisagens de pedra acariciadas pela bruma ou fustigadas pelo sopros do sol. Admira as belas carruagens, os garbosos cavalos, a limpeza reluzente dos lacaios, a destreza dos criados, o andar das mulheres ondulosas, as belas crianças, felizes por viverem e estarem bem vestidas; resumindo, a vida universal (BAUDELAIRE, 2006, p. 858).
No texto “Draw to that moment”, John Berger (2005, p. 41)114 relata como desenhou seu pai no caixão, em seu velório. Ele defende que o que estamos a desenhar “nunca será visto outra vez” por mais ninguém, pois “este momento é único: a última oportunidade para desenhar o que nunca mais será visto, que tem acontecido uma vez e nunca mais ocorrerá.” Ele ainda lembra que tendemos a esquecer que o visual é sempre um resultado de um irrepetível e momentâneo encontro e cita Cézanne: “um minuto na vida do mundo está passando. Pinte-o como ele é” (ibidem).115
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115
117 Nas plataformas virtuais do USk existem muitos desenhos postados sem seus devidos contextos, apenas indicando o local. Os desenhos utilizados para esse item do capítulo serão aqueles que preferencialmente, como Gabi Campanario sugere, relatam quais circunstâncias os envolvem.
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Enquanto eu desenhava a boca, as sobrancelhas, as pálpebras, à medida que suas formas específicas emergiam com linhas da brancura do papel, sentia a história e a experiência que as haviam feito como eram. Sua vida era agora tão finita quanto o retângulo de papel em que eu estava desenhando, mas dentro dele, de uma maneira infinitamente mais misteriosa do que qualquer desenho, seu caráter e destino tinham surgido. Eu estava fazendo um registro e seu rosto já era apenas um registro de sua vida. Cada desenho não era, então, mais que o local de uma partida. [...] O desenho tornou-se o imediato local da memória do meu pai. O desenho não estava mais deserto, mas habitado. Para cada forma, entre as marcas de lápis e o papel branco que marcavam, havia agora uma porta através da qual momentos de uma vida poderiam entrar: o desenho, ao invés de ser simplesmente um objeto de percepção com uma face, avançara para se tornar uma face dupla, e funcionava como um filtro, por trás, extraía minhas lembranças do passado enquanto, em frente, projetava uma imagem que, imutável, estava se tornando cada vez mais familiar. Meu pai voltou para dar à imagem de sua máscara de morte uma espécie de vida. Se eu olhar para o desenho agora, mal vejo o rosto de um morto; em vez disso, vejo aspectos da vida de meu pai. No entanto, se alguém da aldeia entrasse, veria apenas um desenho de uma máscara de morte. Ainda é inconfundivelmente isso. A mudança que ocorreu é subjetiva. No entanto, em um sentido mais geral, se tal processo subjetivo não existisse, tampouco haveria desenhos (BERGER, 2005, p. 42).116
A partir de agora, serão mostrados tanto relatos quanto desenhos dos urban sketchers que podem ser analisados a partir dos referenciais teóricos até então abordados. São registros de memórias vivenciadas, afetivas, curiosas, exploratórias, memórias estas acontecidas nas ruas, nas casas, em ambientes públicos e em viagens. O que as une é a possibilidade do desenho de ser suporte para esses registros.117 Ruth Rosengarten (2012, p. 27-8), sobre o USk, afirma que
116 “As I drew his mouth, his brows, his eyelids, as their specific forms emerged with lines from the whiteness of the paper, I felt the history and the experience which had made them as they were. His life was now as finite as the rectangle of paper on which I was drawing, but within it, in a way infinitely more mysterious than any drawing, his character and destiny had emerged. I was making a record and his face was already only a record of his life. Each drawing then was nothing but the site of a departure. (...) The drawing became the immediate locus of my memories of my father. The drawing was, no longer deserted but inhabited. For each form, between the pencil marks and the white paper they marked, there was now a door through which moments of a life could enter: the drawing, instead of being simply an object of perception with one face, had moved forward to become double-faced, and worked like a filter, from behind, it drew out my memories of the past whilst, forwards, it projected an image which, unchanging, was becoming increasingly familiar. My father came back to give the image of his death mask a kind of life. If I look at the drawing now, I scarcely see the face of a dead man; instead I see aspects of my father’s life. Yet if somebody from the village came in, he would see only a drawing of a death mask. It is still unmistakably that. The change which has taken place is subjective. Yet, in a more general sense, if such a subjective process did not exist, neither would drawings”.
rio, nenhum momento pode ser vivido novamente, por isso, recordá-los e registrá-los através do desenho é tão importante.
Em regra, não testemunhamos as realidades mais caóticas, mais íntimas de que a vida é feita: as vivências concretas de ansiedade e solidão, disputas conjugais, discussões com filhos, pais ou colegas, conflitos políticos, dificuldades financeiras,
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Flávio Ricardo (2014) afirma:“Não consigo imaginar melhor maneira de registrar locais, coisas ou eventos pelos quais eu passo sem que seja através do desenho”. Ele encontra em tal prática uma possibilidade de “rememorar de forma muito mais intensa” o contato com o mundo que o cerca, “aprofundado pela observação atenta que o desenho exige”. Marina Grechnik (apud CAMPANARIO, 2012, p. 212), 118 por sua vez, afirma: “Minha forma de observar coisas e salvá-las em minha memória é desenhando-as”. Para Campanario (2012, p. 18) 119 “os sketches trazem de volta memórias de uma forma que as fotos não fazem, evocando os sons, cheiros e lembranças dos lugares onde foram criados”.
“The sketches bring back memories in a way photos don’t, evoking the sounds, smells, and recollections of the places in which you created them.”
120
Pete Scully (ibidem, p. 46)120, dos Estados Unidos, preocupa-se com sua própria memória: “eu desenho para lembrar onde estou no mundo; um dia, eu posso esquecer. Fazer sketches, para mim, é o ato de recordar um local para sempre, então nos anos que virão, eu terei uma recordação visual de onde (e possivelmente de quem) eu era.” Na mesma perspectiva, Shiho Nakaza (ibidem, p. 48)121, de Los Angeles, afirma que “o propósito do sketch é lembrar o que eu vejo da minha própria maneira”, destacando o caráter memorativo e subjetivo do desenho. O depoimento de Ejersbo (ibidem, p. 167) 122 também ressalta essas possibilidades do desenho:
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“I like to observe and register the things that surround me and that I’m part of, and sketching is a way to experience and share my appreciation of life. One of the things I like about sketching in town is the many layers present everywhere, the history and different functions inherent in the buildings and spaces, the many lives being lived each moment, intersecting with each other or passing unnoticed right under other people’s noses.”
doenças e morte. A tendência é, ao invés, para que nos seja dado ver um mundo de infinita afabilidade e sociabilidade; um interesse ávido por transeuntes e por desconhecidos, em transportes públicos, na rua, em mercados, e em museus, cafés e bares; deambulações pelas cidades, e refeições animadas com amigos e parentes; um mundo face ao qual, seja no país onde vivemos ou em terras estrangeiras, nos posicionamos, essencialmente, como viajantes - curiosos, interessados, amáveis, sempre um tanto quanto distanciados.
“The purpose of sketching is to record what I see in my own way.”
Eu gosto de observar e registrar as coisas ao meu redor e das quais eu sou parte, e fazendo sketches é uma maneira de experimentar e compartilhar minha apreciação da vida. Uma das coisas que eu gosto no urban sketching são as muitas camadas presentes em todo lugar, a história e diferentes funções inerentes nos prédios e espaços, as muitas vidas vividas a cada momento, interagindo com outra ou passando despercebidas bem debaixo dos narizes das outras pessoas.
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“My way to observe things and to save them in my memory is to draw them.”
“I sketch to remember where I am in the world; one day, I might forget. Urban sketching, for me, is the act of recording a place forever, so that in years to come, I’ll have a visual record of where (and possibly who) I was”.
João Catarino, de Lisboa (ibidem, p. 120) 123, afirma que “fazer sketches é também uma maneira de documentar e compartilhar nossas vidas. O francês Lapin (ibidem, p. 126)124 afirma: “minha memória está fixada nas páginas do meu sketchbook.” “Todos os meus sketches tem uma qualidade narrativa. Eles são fragmentos de histórias”, diz Gary Amaro, de São Francisco (ibidem, p. 40).125 “Eu vejo a cidade como um cenário da vida humana, e é isso o que eu tento mostrar nos meus sketches”, afirma Luis Ruiz, de Málaga (ibidem, p. 112).126 Qualquer cena é digna de um desenho, conforme Campanario (2012, p. 23), pois este tem a habilidade de elevar o mais pitoresco local em algo digno de ser visto e refletido. Para Ekaterina Khozatskaya, de São Petersburgo (ibidem, p. 296): 127 ,
126
“Sketching is also a way to document and share our lives”.
Em As cidades invisíveis, Ítalo Calvino (1990, p. 85) atenta para o que a cidade tem a oferecer:
123
“I see the city as a scenario of human life, and that’s what I try to show in my sketches”.
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João Pinheiro (2014) escreve que recorta “o cotidiano, desenhando paredes descascadas, pintadas de limo, casas mal acabadas, estacionamentos vazios, motéis baratos, postes, comércios de toda sorte, bares, cafeterias” e o que mais surgir. Essa ideia se assemelha à declaração de Vianna (2013a), que acredita ser preciso um outro tipo de olhar para croquisar a rua, “não um ‘olhar-dispositivo-de-segurança’ utilizado como sobrevivência, mas um olhar ‘labiríntico’ e atento”, que brinque de desmontar o quebra-cabeça urbano e captar detalhes nunca antes observados. Ele acredita que um sketch é uma crônica gráfica, pois captura o pequeno e breve movimento de um instante. O paulista Diocir (2011) afirma que
visitar um bar é a mesma experiência cultural que ir ao teatro ou museu ou assistir a um filme. É arquitetura, música, literatura e cinema em um só. […] diferentes pessoas ao redor, como elas agem neste local, a forma como elas olham ao redor, diferentes histórias, diferentes vozes, e música fazem a verdadeira atmosfera. É onde você pode ter inspiração, mesmo sem álcool.
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“For me, visiting a bar is the same cultural experience as going to the theater or museum or watching a movie. It is architecture, music, literature, and cinema all in one. [...] Different people around, how they act in the place, the way they look around, different stories, different voices, and music make the real mood. That’s where you can get inspiration, even without alcohol”.
“My memory is fixed in the pages of my sketchbooks”.
“All of my sketches have a narrative quality to them. They are fragments of stories”.
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Em todos os pontos, a cidade oferece surpresas para os olhos: um cesto de alcaparras que surge na muralha da fortaleza, as estátuas de três rainhas numa mísula, uma cúpula em forma de cebola com três pequenas cebolas introduzidas em sua extremidade. “Feliz é aquele que todos os dias tem Fílide ao alcance dos olhos e nunca acaba de ver as coisas que ela contém”, exclama-se, triste por ter de deixar a cidade depois de tê-la olhado apenas de relance.
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gosta de desenhar desde criança e que desenha tudo que o cerca, chamando sua produção de “recortes da realidade”.
O cotidiano foi tema explorado em aulas de José Clewton (2015b):
A partir deste tema, o grupo de alunos foi [...] à Praça do Cruzeiro, na Vila de Ponta Negra, núcleo surgido a partir de uma vila de pescadores. Durante a atividade, registrei alguns aspectos do cotidiano deste espaço, de onde podemos apreender, a partir dos desenhos, cenas "comuns", como o esperar o ônibus - sentado ou em pédebaixo da sombra de uma árvore (isso sim, bem importante!); a presença das vendas - do botequim ao supermercado; os carros dividindo espaço com os pedestres; e. como um significativo registro, a própria presença dos "sketchers", "compondo" esta cena urbana.
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Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206743673622640&set=gm.1046946985425130&type=3>em05jul.2017.
João Paulo Rohweder, de Pato Branco-PR (2016)128, desenhou a feira do produtor em sua cidade (imagem 38) e informou que trata-se de um presente para um amigo, pois ali fica um banquinho que foi local de muitos encontros no início do seu namoro: “esta é a magia dos traços contando histórias.”
Imagem 38: Desenho de João Paulo Rohweder na Feira do Produtor em Pato Branco. 2016. Disponível em: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206743673622640&set=gm.1046946985425130&type=3>Acessoem:01mai.2017.

sketch feito num lugar chamado A Fabrika Frère Jaques s!

Acesso em: 26 fev. 2017. desenhou uma rua em um fim de tarde de domingo, ue passou com sua avó, 7235&set=gm.994687243984438&type=3 em um >
130 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=67052216309em:01mar.2017.
128
Flávio Ricardo (2016) 130 mostrando uma Kombi, uma caminhonete sendo lavada e algumas crianças que brincavam com bola ou bicicletas. Ele considera, por tudo isso, a mais viva rua desse bairro antigo. Cleiton do Carmo (2016)131, de Brasília, desenhou durante um dia q “depois de tanto tempo preso na correria acadêmica”, retratando o pátio da casa com vista
Enquanto desenhava, todo concentrado, ouço um som. Levanto a cabeça e me deparo com um simpático menininho de 5 anos (!!) tocando " chelo. Seu pai o acompanhando na flauta. Imediatamente mudei de ângulo para registrar essa cena tão mágica. Eles foram embora rápido e muita gente que chegou depois achou que eu tinha inventado a cena. Encontros do Usk Curitiba têm dessas coisas bonita
Imagem 39: Desenho de Simon Taylor n’A Fabrika, Curitiba. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1317740101578545&set=gm.1110429242410237&type=3
Simon Taylor (2016)129 relata um 39):
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1317740101578545&set=gm.1110429242410237&type=3>em:26fev.2017.
129
>>
(imagem "
131 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1012868082153901&set=gm.995988087187687&type=3em:24abr.2017.
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Imagem 40: Desenho de Cleiton do Carmo na casa de sua avó. 2016. Disponível em: < https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1012868082153901&set=gm.995988087187687&type=3> Acesso em: 01 mai. 2017
Roda de chorinho. Cheirinho de churrasco. Som de conversas e risadas. Sombra de árvore. Cervejinha gelada. Tinta e papel. Tudo isso em um só dia e lugar. Que maravilha que foi o encontro na Praça São Salvador! [...] Me fez (sic!) lembrar de quando participava do coral do colégio e aprendia a tocar flauta transversa. Que saudades!
para rua, um gato, vasos e uma parte de uma bicicleta (imagem 40). Carlos Medeiros (2016)132 relata o dia em que fez uma aquarela no finalzinho da tarde na casa da avó de sua namorada, acompanhado de um cafezinho com bolinho de chuva que, segundo ele, "só avós fazem" (imagem 41). Thaís Machado (2016)133 relata o 40º Encontro USk no Rio de Janeiro (imagem 42):



132 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1306234782777368&set=pcb.1054363921350103&type=3>em:24abr.2017.
133 <https://www.facebook.com/thaislimamachado/posts/1105469476207685> Acesso em: 24 abr. 2017.
Acesso
em: 01 mai. 2017. na Praça São Salvador - Rio de Janeiro. 2016. Disponível em: > Acesso em: 26 fev. 2017.
em
130
41:
Paulo. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/permalink/1054363921350103/Imagem42:DesenhodeThaísMachado<https://www.facebook.com/thaislimamachado/posts/1105469476207685>
Imagem Aquarela Carlos Medeiros São

de

80º Encontro USk Londrina possível ver seu sketchbook também escreve um relato, con

- esse é o espírito do Pausa pro Almoço. O é bom porque permite uma fugida rápida pro mundo do desenho. Hoje foi um Fabiano Vianna e Thiago Bueno Salcedo. Desenhamos uma casa de o olhar perscrutador dessa entidade que habita a casa, que fizemos nossos
135 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10211218846818098&set=gm.1078663545586807&type=3em:24abr.2017.
134 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207259526749916&set=pcb.1049017228551439&tyem:24abr.2017.
Patrick da Rocha (2016)
Manhã chuvosa. Primeiro domingo de setembro e aquele cafezinho gostoso. Aos poucos fomos chegan começamos a fazer os nossos desenhos. Pedi um pedaço de torta e escolhi o meu ponto de vista ao som tranqüilo e agradável de uma bela cantora ao nosso lado.
Acesso em: 26 fev. 2017.
Sair logo ali e desenhar com amigos sketch dia desses, com madeira, que por aqui somos apaixonados, e conscientes que muit durarão por muito tempo. Essa em especial tem uma característica que atrai e assusta as pessoas que passam, no sótão tem uma mulher que nos olha. Sim, é verdade! Com uma cara redonda e gorda. Perguntem a quem já passou por lá. E foi assim, sob
Encontro USK Londrina. 2016. Disponível em:
Imagem 43: Desenho de Patrick Rocha no 80º <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207259526749916&set=pcb.1049017228551439&type=3
ou a chuva no 43). Na imagem,Eleé > (imagem 44): as delas
131
135 relata uma pausa para almoço e um sketch
134 desenhou enquanto ouvia música e observ -PR, no Mercadão da Prochet (imagem e o desenho do local, com suas barracas e seus consumidores. textualizando: do e nos sentando ao redor desta confeitaria, e assim
Raro de Oliveira (2016)
pe=3não>>
sketchcrawl no centro, com muitos chopes e ndotidaconversas>decarrosrososequênciaMeumpoucoas
s surpresas urbanas de São Paulo. Vistas skyline insano de edifícios… aniversário de 70 anos dele. Tirou
Imagem 44: Desenho de Raro de Oliveira de casa em Curitiba. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10211218846818098&set=gm.10786635
A cidade parece muito mais real e próxima. O dono do restaurante do outro lado da rua veio bater papo comigo, além de dois simpáticos senhores. Uma ba quase na minha frente, quase sem danos e com motoristas muito civilizados (mal os ouvi dialogar). Viaturas policiais que passavam às pressas. A sombra que recuava cada vez mais, me deixando exposto ao sol intenso das 12:00 de fumaça de algum carro velho que passou era ainda pior que o cheiro de lixo vindo da lixeira atrás de mim
Bajzek (2013b) também relata
Uma delas faz aniversário também no dia 22 de outubro.
45586807&type=3
Bajzek (2011f) relata os acontecimentos durante seu desenho:
Fizemos neste sábado um dos mais bacanas de paradas no centro de São Paulo, e seguimos pontualmente. Iniciamos na escadaria do teatro às 09:30 hs. Às 10:30 estamos no meio do viaduto do chá. 11:30 na praça do Patriarca. As 12:30 seguimos para a lanchonete “O Estadão”, onde comemos o fa chocados quando eu contei que nunca havia comido ali!! Bem, tudo tem uma primeira vez. Seguimos caminhando e finalmente chegamos ao largo São Francisco. Durante o percurso nos encantamos com a incríveis da catedral, a passarela da rua Riachuelo, o Foi divertido demais, incluindo o papo com o sr. Armando, um português de Ourém muito simpático e falante que passava por ali. Era foto conosco e com duas guardadoras de carros dali do pedaço. que pelo jeito o conheciam faz tempo. deu um beijo de parabéns!! Subi no skate do carioca Daniel mata saudades. Luciano também fora skatista. A próxima parada foi o Salve Jorge, onde mais uma vez, fechamos um entre amigos…fechamos?? Não. Alguns guerreiros seguiram, caminhando, parando em uma padaria para mais cerveja e ainda uma pizza mais tarde. Foi um dia cheio de alegrias!!
moso sanduíche de pernil (delicioso). Luciano e Armando ficaram
em detalhes o Sketchcrawl 41, em São Paulo:

hs. O cheiro horro
132 desenhos. Eu, além da casa, fiz também as funcionárias da padaria que fica ao lado. Elas faziam aquela pausa pra colocar o papo em dia, assim como nós, do outro lado da rua.
sketchcrawls. Marcamos uma
Acesso em: 26 fev. 2017.
Alguns casos não são exemplos de dias ou situações agradáveis, como o caso de Camila Diógenes Vasconcelos (2016)136, que relata seus desenhos de observação das janelas dos apartamentos que vem acompanhando as obras. Ela relata como o desenho resulta da espera pelos prestadores de serviços que sempre atrasam: “Como não consigo mudar a cultura que temos aqui de chegar atrasados [...] resolvi meu problema assim: no carro tenho uma cadeira e uma sacola com meu material de pintura, levo tudo pro apto (sic!) e aguardo o pessoal desenhando”, relata. Eduardo Bastos (2016) 137 reclama do dia em que foi interrompido pelo guarda porque estava desenhando em local impróprio, na praça Marechal Deodoro, em Maceió. Antônio César (2012a), depois de duas horas desenhando o Museu do Café, em Santos, lista os resultados: está coberto de poeira “até o último fio de cabelo”; tem queimadura nos ombros, dor de cabeça e um sketch pronto, o que o deixa feliz: “estou feliz com o resultado e considero o saldo super positivo. Pois, a satisfação que tenho ao sentar ali, esquecer de tudo e fazer o que mais gosto, não tem preço!”
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1178575518859421&set=gm.991874904265672&type=3>em:24abr.2017.
136
O segundo exemplo é de Fabien Denoel (2011b), que ao desenhar um bar, cria uma sequência narrativa, percebida pelo paulista Hugo Paiva. No desenho (imagem 46), constam os frequentadores do bar, o amigo de Denoel, garçons e a banda Coletivo Canarinho, que embala o ambiente com sua música.
133
137 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10204950557003521&set=gm.989277634525399&type=3>em:24abr.2017.
Alguns desenhos, além de ter um contexto de criação específico e/ou icônico, possuem neles próprios uma narrativa. É o caso dos três exemplos seguintes. Jony Coelho (2013b) relata que o coral de uma empresa de sua região fora convidado para participar da festa do vinho Goethe, famosa no sul de Santa Catarina; sua esposa, por fazer parte do grupo, fora junto. Ele indicou a data e o local e desenhou os pontos de comida e os pratos servidos, os cantores e instrumentistas, o “homem gordo” do posto de vendas, que também canta solo, alguns homens e uma criança, ambos de origem e tradição italiana, além de um cartaz do evento, tudo como se fosse uma história em quadrinhos (imagem 45).
SC. 2013. Disponível em: -vida-em-quadrinhos-festa-do-vinho.html> Acesso em: 01 mar. 2017. -da-quarta-feira.html> Acesso em: 12 mar. 2017.
134
Imagem Desenho de Jony Coelho em Azambuja
45:
<http://brasil.urbansketchers.org/2013/07/aImagem46:Desenho



de Fabien Denoel em bar capixaba. 2011. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2011/10/cervejinha

Várias situações de rua tem sido captadas por Mar, em Fortaleza, Domingos Linheiro (2011c pescadores artesanais que “fazem a manutenção de seus barcos em locais já tradicionalmente consolidados” (imagem 48). Bixiga, São Paulo, na hora em que os meninos jogavam futebol, numa cena bastante cotidiana (imagem 49).
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1387481314635506&set=gm.1194041944048966&type=3
Imagem 47: Desenho de Camila
138 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1387481314635506&set=gm.1194041944048966&type=3em:24abr.2017. (2017), Diógenes Vasconcelos de prédio em Brasília. 2017. Disponível em:
Acesso em: 12 mar. 2017.
sketchers. No final da avenida
) desenhou uma paisagem marítima com Mateus Rosada desenhou a rua Jardim Heloísa, no bairro do
138 que fica dentro
> Beira
(imagemenduradas,doe47).
O terceiro exemplo é de Camila Diógenes Vasconcelos carro enquanto aguarda as aulas de piano de sua filha acabarem: “observo as janelas do edifício e as pessoas, esse desenho levei semanas pois cada janela foi um morador ou trabalhador que desenhei em dias diferentes [...] hoje terminei com o casal brigando no segundo andar!” Ela registra o cotidiano do condomínio, com pessoas em atividades diárias, como estender a roupa, ler deitado numa rede, olhar o movimento ou executar uma reforma. Algumas janelas estão vazias, com cortinas balançando ou pássaros em gaiolas p há o citado casal que discute e expressa corporalmente a tensão do momento

135
>
136
Imagem 48: Desenho de Domingos Linheiro de pescadores em Fortaleza. 2011. Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/Z0CQOM/s1600/Mucuripe%252C+Fortaleza.jpg> Acesso em: 13 mar. 2017.

Imagem 49: Desenho de Mateus Rosada em rua de São Paulo. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207616699046977&set=gm.923512957768534&type=3gzcV_ZUN0QU/TocqnzYIKCI/AAAAAAAAACk/tF6iAcessoem:17maio2017.>

Locais para alimentação, por sua cotidianidade, são bastante retratados. Leandro Pereira dos Santos (2016)139 desenhou um botequim e restaurante em Taubaté-SP (imagem 51), definindo-o como um lugar muito bom, estiloso, cheio de artes e com um kombi como palco para apresentações. Dalton de Luca (2011c) relata o ambiente próximo ao térreo do Edifício Itália, em São Paulo, elogiando o café e afirmando que “o mais legal é o pequeno
139
Alexander Lermen (2012d) observa que em sua cidade, Londrina, foi montado um contêiner que logo transformou-se numa Bike in Box. Com alugueis de bicicletas por preços acessíveis, ele afirma que aumentou muito o número de pessoas pedalando e que ele, para fazer o registro, foi até lá com sua "velha Monark" e um caderno. Ainda sobre bicicletas, Jony Coelho (2013d) relata que foi convidado para estudar o uso da bicicleta em Tubarão, sua cidade, e analisou-as enquanto fez desenhos em duas importantes avenidas (imagem 50):
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1128989147138686&set=gm.1115872615199233&type=3>em:24abr.2017.
137
Com o tema na cabeça, resolvi caminhar no entorno do meu edifício, aqui no centro. A quantidade de bicicletas é enorme. Em três quadras contei 87. Existem bicicletários mas, sempre locados nos fundos das praças, escondidos, inseguros e em mau estado de conservação. Então os ciclistas estacionam, amarram, acorrentam as bikes nos postes de sinalização e semáforos.
Imagem 50: Desenho de Jony Coelho em Tubarão-SC. 2013. Disponível em: < http://brasil.urbansketchers.org/2013/09/bicicletas.html> Acesso em: 01 mai. 2017.

140 <
138
Diógenescidade
Imagem 51: Desenho de Leandro Pereira dos Santos de restaurante em <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1128989147138686&set=gm.1115872615199233&type=3

É interessante a cultura do lanche instalada aqui na cidade de Londrina. Existem carros de sanduíche, caldo de cana, espetinhos, sucos, água de coco, churros, sorvete, e muitos outros. Vai além do lanchinho apressad outro como existe nas outras cidades. Aqui as pessoas saem à noite para ir até um determinado bairro da cidade onde sabem que existe um destes carros que faz um tipo específico de comida. Os veículos utilizados são um atrativo a pa F75, monza, fiat 147, ônibus antigo e todo tipo de adaptações em trailers e reboques. Eu gosto de desenhar carros e sempre que encontro um destes acabo fazendo um registro.
balcão que fica de frente para a calçada” e o “sapateiro de rua que também faz consertos, fumantes de calçada, gente trabalhando pelo celular que escutamos toda a conversa, moças bonitas indo trabalhar”. Alexander Lermen costume das pessoas em ir a esses lugares:
kombi,>
Taubaté. 2016. Disponível em: Acesso em: 13 mar. 2017 são captadas por sketchers. Jony Coelho ou uma típica paisagem de sol ao fundo (imagem 52). Camila php?story_fbid=1566987393605627&id=100008831435115rte:(2016) 140 em sua >
(2012b) fala sobre os carros de comida e o o entre um compromisso e
Outras cenas cotidianas diversas desenhou o “valente cachorro” que, sempre alerta, garante a segurança numa praia próximo de sua cidade. Valéria Salgueiro, de Niterói, desenh com surfistas, pedestres e o Rio de Janeiro Acessohttps://www.facebook.com/permalink.em:13mar.2017.
de Valéria Salgueiro em beira-mar de Niterói. 2016. Disponível em: em: 13 mar. 2017.
141 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1390297407687230&set=gm.119656em:24abr.2017.
Noite, voltando pra casa, surge uma roda de capoeira. Pouco a po param seus caminhos cotidianos e param pra apreciar. O canto começa; a dança, antes devagar, acelera. Corpos giram pelo ar, na dança quando todos já em pé, cantam acelerados as lutas finais
Imagem 52: Aquarela <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=489991674525351&set=gm.959182310

no desenho o momento da pressa de um jovem que corre para 53): “dos mais apressados que correm atrás do tempo perdido ...
luta de gingados. Retiro [imagem 54].
Vasconcelos (2017)141 capturou alcançar um ônibus (imagem aos mais calmos, que não olham nem pro (sic!) lado que o ônibus está vindo!”. Machado (2016)142 relata:
142 em:<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=975308802557087&set=a.845251672229468&type=324abr.2017.
139
Thaís uco as pessoas-me 868265&type=3>
1867130307&type=3Acesso>>Acesso
Vianna e Marconi (2014) utiliza de vários inclusive as folhas neste dia. Eles destacam as personagens típica de dias chuvosos e de ventania:
sBrasil/permalink/1196561867130307/> Acesso em: 01 mai. 2017 s Machado em roda de capoeira. 2016. Disponível em: em: 13 mar. 2017

mostram um desenho (imagem 55) feito em conjunto e que das árvores que voavam pelas retratadas em meio ao vento, os guarda
correria
> Acesso ruas de -chuvasCuritibaea
140 Imagem 53: Desenho de Camila Diógenes em Brasília. 2017. Disponível em: <https://www.facebook.com/groups/UrbanSketcherImagem54:DesenhodeThaí<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=975308802557087&set=a.845251672229468&type=3
materiais,

141
Imagem 55: Desenho de José Marconi, Fabiano Vianna, João Paulo de Carvalho, Cassio Shimizu e Doralice Araújo em Curitiba.
2014. Disponível em: < edificio-de.htmlhttp://brasil.urbansketchers.org/2014/07/do-edificio-de-eduardo-ao->Acessoem:01mai.2017
os personagens típicos do centro foram brotando em volta da cabeça do Fabiano. Senhores elegantes armados com cachimbos fumacentos, incomensuráveis guardachuvas, paletós quadriculados, celulares fotografáveis. Indo em direção à Boca Maldita. Mãe e filha abrigando-se nas marquises (algumas vindo da missa na Catedral, outras da feirinha do Largo da Ordem), putinhas da Cruz Machado (com indefectíveis shorts ainda mais miniaturizados), vira-latas úmidos aventureiros de grandes avenidas... Alguém contou uma história de fantasma sobre o prédio. O clima estava propício para isto. Folhas secas voavam contra nossas faces.

145
Vendedores e outras figuras dos centros urbanos caminhadas dos sketchers Flávio Ricardo (2016) em São Carlos-SP, Eduardo Bastos desenh inhame (imagem 56), no Mercado Público de Maceió vendedora de Acarajé, também em (2016)144 tem uma série que ele intitula “Os invisíveis” e desenha mendigos e moradores de rua. Camila Diógenes Vasconcelos (2016) mulher que usa o celular sentada em um banco e fica parada por trin o que a animou por poder pegar até mesmo desenhou uma personagem de uma comunidade de Salvador, chamado de Pivete ou Vampiro, trabalhador e pai de família que joga dominó.
Maceió (imagem 57), para citar alguns exemplos
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=756495464499904&set=gm.1159118564207971&type=3em:24abr.2017.
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1227899897260316&set=gm.1043201089133053&type=3em:24abr.2017.
desenhou uma . (2016)Bastos58),
144 < Acessohttps://www.facebook.com/photo.php?fbid=10204354385299601&set=gm.922681134518383&type=3em:10mai.2017.
Acesso em: 24 abr. 2017.
143
146 > > >>>
são comumente capturados nas
Imagem 56: Desenho de Eduardo Bastos de vendedora no mercado público de Maceió. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10205261151688194&

ou duas vendedoras, uma de peixe e outra de e Vladimir Munhoz
set=gm.1031919760261186&type=3
143 desenhou um vendedor de balas de coco,
146
145 capturou, de um mezanino do shopping, uma ta minutos (imagem os detalhes da roupa. André Lissonger
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10210497590773313&set=gm.1070867523033076&type=3em:03mar.2017.
142
Imagem 57: Aquarela de <https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/permalink/1001789679940861/Imagem58:DesenhodeCamilaDiógenes<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1227899897260316&set=gm.1043201089133053&type=3VladimirMunhozcomvendedoraemMaceió.2016.Disponívelem:2017.Vasconcelosemdeumamulhernoshopping.2016.DispAcessoem:24abr.2017. 143 > Acesso em: 01 mai. onível em:>


Além de pessoas isoladas culturais. Leni Fujimoto (2012c ocorre anualmente em São Roque ( esteve frio e como a maioria das pessoas acabou ficando na praça de alimentação em frente ao palco onde aconteciam shows dos mais diversos. uma ótima oportunidade para desenhar Gastronômico França+Brasil, quando também ocorreu um encontro do SketchJam (evento para desenhar shows). Joel Lobo, de Arujá uma sacada (imagem 59). Rafael na quadra da Vila Isabel, Rio de Janeiro seu 55º Encontro para visitar a 10ª edição d
> Acesso em: 01
Disponível em: 248&type=3> Acesso em: 24 abr. 2017.
Fujimoto também destaca que o
Imagem 59: Desenho de Joel Lobo de músicos no encontro SketchJam#95 no Blú Bistô, em São <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206616038944976&set=a.10206446047015284.1073741840.1392349
147 < Acessohttps://www.facebook.com/photo.php?fbid=744334715736064&set=gm.1199189193534241&type=3em:24abr.2017.
, os sketchers capturam também festas e seus aspectos
, sentados em 148 . Paulo.
144
2016.>
. Um encontro do USk SP foi feito durante o -SP, desenhou músicos do festival
148 mai.<https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/permalink/103548767322017.
) conta sobre a Festa das Cerejeiras (Sakura Matsuri SP) e celebra a floração das cerejeiras. Ela conta como
) eventoqueéFestival
Grafio (2017)147 desenhou uma feijoada com “boa música” (imagem 60). Os sketchers de Salvador aproveitaram o festival da cultura japonesa (2016) 37728/

Municipal de São Paulo: “um dos meus lugares preferidos em São Paulo [...] um ótimo ponto para degustar algumas delas ou um ceviche, acompanhados de um chope postou um desenho feito em uma feira de arte que combi Florianópolis, onde pode-se ver os prédios da capital catarinense (imagem 6 artesanal foi desenhada por Jony Coelho (2016) Vasconcelos (2016)152 desenhou também a Feira do Guará, em Brasília: “temperos, comidas, cores e cheiros do nordeste” (imagem 6

Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1153939471323026&set=gm.968642929922203&type=3em:24abr.2017.GrafioemfeijoadadaVilaIsabel,RiodeJaneiro.2017.Disponívelem:em:24abr.2017.
Imagem 60: Desenho de Rafael <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=744334715736064&set=gm.1199189193534241&type=3
). Marilia Varella (2016) 150 desenhou a Casa das Ostras, Mercado nou com o 4º Encontro USk em
3).
145
>>>
sketchers. Joel Venceslau desenhou
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10211056266299852&set=gm.1128918367227991&type=3em:03mar.2017.
151 em Tubarão.
.” Ramon Correia
> Acesso
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1202530869797897&set=pcb.1066420390144456&type=3em:03mar.2017.
Feiras também são objetos de interesse de muitos uma feira no parque em Araraquara (imagem 61 um encontro do USk de São Paulo na hora do almoço na tradicional feira livre do Pacaembú (praça Charles Muller): “interagindo com os feirantes , bebendo garapa e água de coco, comendo pastel”, relata. André Lissonger (2016)
150
149 desenhou durante
2). Outra feira Camila Diógenes
149
152
151 0008831435115&type=3<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1567609553543411&set=a.1379009039070131.1073741826.10>Acessoem:24abr.2017.
146 Imagem 61: Desenho de Joel Venceslau em Araraquara. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1081001828621170&set=gm.1024691307650698&type=3Imagem62:DesenhodeRamonCorreaemFlorianópolis.2016.Disponívelem: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=894712790632590&set=gm.1018486281604534&type=3Acessoem:20mai.2017 . em: 01 ma. 2017. > > Acesso



USK Mogi das Cruzes. A moto do desenho de 1931, como informa Miha Nakatani. Fernando Simon inil, "evento que reúne pessoas interessadas na compra, venda e em: 24 abr. 2017.
Eventos peculiares também chamam a atenção, como o 2° Encontro de Carros Antigos no Casarão do Chá, palco do 8° Encontro (imagem 64) é uma Harley Davison (2014) relata a a feira do v troca de discos, vitrolas e outros derivados do gênero", também local para um encontro USk
Imagem 64: Desenho de Miha Nakatani no encontro de motos de Mogi das Cruzes. 20

16. Disponível em: > Acesso
Imagem 63: Desenho de Camila Diógenes
> Acesso em: 20 mai.
147
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1238821519465703&set=gm.910615159058314&type=3Vasconcelosemfeirabrasiliense.2016.Disponívelem:2017.
< https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/permalink/968642929922203/

ou um café paulistano e postou a imagem junto do local 153 desenhou no avião, o que ele considera clichê, mas (2016)154 desenh são bares e tagem
no 55º Sketchjazz. 2011. Disp -form> Acesso em: 20 maio 2017.
154 em:<https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1585678041736562&id=1000088314351124abr.2017.
Carlos Medeiros desenh (imagem 66). Carlos Roque (2016) inevitável. Outros locais também são capturados: Jony Coelho
Imagem 65: Desenho de Eduardo Bajzek <http://brasil.urbansketchers.org/2011/11/sketchjazz.html#comment

65).das
148
Ambientes internos também são de interesse dos item I: “Nós fazemos desenhos de locação, através da observação direta, seja em ambientes externos ou internos”. Alguns dos ambientes mais desenhados pelos restaurantes, interiores de meios de transportes, eventos retratados da arquibancada/plateia e os interiores de suas próprias casas, entre outros. Eduardo Bajzek (2011 em que saiu com os amigos e, enquanto bebiam chopes, ele desenhava bebidas. Em outro momento, ele SketchJazz, reunião que mistura música ao vivo com desenhistas e ilustradores (imagem
c) conta sobre a noite e fazia a con (2011e) relatou e postou seus desenhos feitos no 55º
153 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=576264565893816&set=gm.1041989555920873&type=3em:24abr.2017.
onível em: ou o Centro > 5> Acesso
sketchers, como diz o manifesto no sketchers
155 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1105108646268698&set=gm.1194530860666741&type=3>em:24abr.2017.
2017.
Imagem 66: Aquarela de Carlos Medeiros em São Paulo. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1206304919437022&set=gm.953148544804975&type=3> Acesso 24 abr.
Fui no circo em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, e levei junto meu caderninho e uma caneta. Lá dentro [...] o uso de máquinas fotográficas e filmadoras era proibido. Justo. O Flash poderia atrapalhar os artistas, principalmente os números mais perigosos que exigiam concentração. Acabei sendo a única pessoa a fazer registros do espetáculo. [...] estava muito escuro. Muito. Desenhei praticamente as cegas. O lado bom era que ninguém ficava bisbilhotando meu desenho. Nem eu mesmo. Adicionei umas cores depois em casa.
149
em:
Integrado de Artes de Florianópolis, Alexsander Felix (2017)155 desenhou uma agência dos Correios enquanto aguarda na fila, Patrick Gomes (2016)156 desenhou o interior da sua casa, na Vila Isabel, Rio de Janeiro e Alexander Lermen (2012c), o circo, onde ele se sente privilegiado por não ser proibido de desenhar:
156<https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/permalink/959344410852055/> Acesso em: 24 abr. 2017.

Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=126748em:24abr.2017.
Acesso em: 20 maio (2016) 157
150
&type=3>>>>
Imagem
67: Desenho de Simon Taylor em bar curitibano. 2016. D <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1267485656603990&set=gm.1049883541798141&type=3

159 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1308554165861393&set=gm.1125906650862496&type=3em:23mar.2017.
e chuva, é realizado em um bar -feira chuvosa em São Paulo, no terminal de ônibus na Vila SP, na Estação da Luz, os 68). isponível em:
5656603990&set=gm.1049883541798141&type=32017.
157
Como diz o item III do Manifesto, “nossos desenhos são um registro do tempo e do lugar”. Dessa forma, o tempo pode ser considerado o cronológico, mas também o tempo atmosférico. Este também é bastante recorr se dá nas ruas. Os casos mais comuns são relacionados à chuva. Simon Taylor relata um dia de encontro USk em Curitiba que, devido a fort (imagem 67), onde pode-se ver alguns desenhando e um homem fotografando (2016) 158 desenhou uma segunda Mariana. Em outro momento, no 96° Encontro USK abrigaram neste “ponto de passagem e encontros de tanta gente na imensa São Paulo”, onde Isogai (2016) 159 buscou “registrar a passarela que cruza as linhas de trem e conecta o Parque da Luz com a rua Mauá” (imagem
. Kei Isogai sketchers se
158 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1265552190161591&set=gm.1084716881648140em:24abr.2017.
ente nas produções sketchers, visto que a maioria
sketches simbólicos, 160, em Ouro Preto, , justificando:(2016)“estava 161 Saí logo após uma
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=612171502303122&set=pcb.1130043293782165&type=3em:24abr.2017.
161
>>
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1215014785219873&set=gm.1186976021422225&type=3em:24abr.2017.eKeiIsogaiemterminalpaulistano.2016.Disponívelem:Acessoem:23mar.2017. (imagem(2016)69)
se para um belo pedaço do mundo”. Joel Venceslau guma paisagem nos arredores..”Fernanda
A chuva que vem de surpresa também acaba por influenciar carregados de contextos e memórias diversas. Carlos Roque desenhou a cidade da janela do hostel onde se hospeda chovendo, por isso não saí para caminhar e a vantagem de se estar em Ouro Preto é que a mais humilde janela abre relata: “saí de casa a pé a procura de al chuva que nos deixou sem energia elétrica, talvez isso me motivou a desenhar essa torre da linha de alta tensão que sai da central de energia aqui do Bairro (2012) relata no próprio desenho o dia, inclusive justi
151 >
Imagem 68: Desenho d <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1308554165861393&set=gm.1125906650862496&type=3

Vaz de Campos fica porque carece de mais detalhes
160
em: <http://brasil.urbansketchers.org/2011/12/1 =pcb.1130043293782165&type=3 em: 20 maio -encontro-urban-sketchers-brasil-2017.sao.html#commentem:23mar.2017. > Acesso -form> Acesso

Imagem 69: Fotografia de Carlos Roque de Ouro Preto e seu respectivo desenho.

em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=612171502303122&setImagem70:DesenhodeFernandaVazdeCamposemestação paulista.
152
(imagem 70). Ela escreve no desenho: “A chuva continuou, mas de dentro da estação era possível ver a sala São Paulo e a Estação Pinacoteca. O vento estava muito frio, por isso a falta de detalhes e pressa.” 2016. Disponível 2011. Disponível
Chovendo muito. Resolver o traçado das linhas diagonais – brancas & cinzas com gotas pululando sobre os volumes foi um desafio. Desfile de guarda-chuvas e cachecóis num típico domingo invernal de bairro. Jovens torcedores passavam cantando e batucando em ônibus lotados – nem ligando para a chuvarada; protegidos pelas abas dos bonés. Senhoritas invernais atravessando na faixa molhada. Apenas embaixo da árvore é que os pingos davam alguma trégua, enquanto os urban
153
Acho que todo “Usker” (urban sketcher, croquiseiro urbano ou desenhista de rua) já passou por isso, ter que enfrentar a chuva bem na hora e local que pretendia desenhar. E aí vai meu relato. Nessas horas de pingos ou aguaceiros surgem as questões: o que desenhar? Onde se abrigar? Como resolver o desenho ou a aquarela? Incorporar ou não esse elemento tão dominante no seu sketch? Bons aquarelistas certamente dominarão os reflexos molhados, as luzes borradas e farão um belo trabalho, mas essa não é minha praia. Saí cheio de disposição para quebrar a abstinência de alguns dias que não desenhava, mas a chuva caiu sem dó nas minhas expectativas. Abriguei-me em uma quadra coberta e desenhei o que estava à vista - a paisagem molhada que avistava e a garotada que também esperava a chuva passar jogando conversa fora. Admito, estava de mau humor e não consegui ficar de papo com o vendedor de coco que veio olhar o que eu estava fazendo. – Você tá desenhando? – É! Respondi lacônico. Escutei cantos vindos da igreja, corri pra lá sem mostrar o desenho para o vendedor, que deve estar me achando o turista mais insuportável que passou por lá nessa temporada. Comecei o desenho da igreja com a mão mais aquecida. Os primeiros traços já se mostraram promissores. Para não atrapalhar os verdadeiros fiéis me enfiei num canto no fundo da pequena capela. Mas a missa foi enchendo, enchendo, enchendo e pronto, estava preso, não havia jeito de sair. Então, como havia tempo, fiz um desenho mais elaborado. Lá dentro Ave Maria, lá fora, uma chuva dos infernos. Uma das carolas mais entusiasmadas disse que queria ver o desenho depois. Agora que não podia mesmo ir embora antes do último amém. Deu tempo até pra outro desenho. Ao final da missa a chuva tinha amainado, fiz o social com o pessoal que queria ver a minha pequena bíblia de sketches e fui embora. O vendedor de coco já tinha partido, acho que não estava vendendo nada naquele dia. Eu, no entanto, estava no lucro, quatro desenhos para uma tarde chuvosa. Meu coração só não foi mais leve pra casa porque faltei com meu irmãozinho de intempérie, o vendedor que não queria me vender nada, só puxar assunto ou matar a curiosidade. Ainda volto lá pra me redimir desse pecado.
Fiz este desenho com lápis carbono e lápis carvão na esquina de casa. Eu moro no prédio alto, à esquerda. O tempo nublado e chuvoso dificultou o desenho...as faces dos prédios estavam todas iguais, chapadas. Mesmo assim tentei diferenciar os planos um pouco. Procurei compensar a falta de sombras com áreas bem escuras, aproveitando o potencial do carvão. Me distraia com as derrapadas dos carros que desciam minha rua e patinavam no paralelepípedo molhado por causa da chuva. Um dos carros, chegou a desistir de parar e atravessou o cruzamento em roleta russa. Outro dia passei por isso também. Apavorante perder o controle do carro!
Raro de Oliveira (2016a) relata uma história que vivencia a partir da fuga de uma chuva repentina:
Fabiano Vianna (2015a) destaca o que viu no 3º Encontro USk Curitiba, no Museu Metropolitano de Arte (imagem 71):
Eduardo Bajzek (2011b) relata sua participação no 33º Sketchcrawl, que ele diz ter sido rápida e solitária:
154
Imagem 71: Desenho de Fabiano Vianna no MuM <http://brasil.urbansketchers.org/2015/07/chuva


>
sketchers desenham numa boa. Capturar a chuva é paralisar o tempo. Quantas gotas moram em um segundo?
Hugo Paiva (2011b) desenhou registrando o clima do dia e o relaciona com as possibilidades do desenho, que chegam a conduzir a caracterização do desenho está presente no desenho de Áureo Castelo Branco em Fortaleza, em dia de ventos fortes e maré secando como o vento que desceu sobre São Paulo levou desenhou o teto da nave:
162 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206691749046652&set=pcb.1114703605316134&type=3em:24abr.2017AdeCuritiba-PR.2015.Disponívelem:-no-muma.html>Acessoem:20maio2017.
. Como no relato de Fernanda Vaz de Campos, o vento (2016) 162, que registrou a (imagem 72). Mazé Leite (2011 -a para dentro de uma igreja, onde ela Chovia muito hoje cedo, enquanto eu Ninguém dentro. Fiquei
um monumento na praça Buenos Aires em São Pa
ulo, Barra dob)Cocó,relata
Mudança radical de tempo em São Paulo. subia a rua Frei Caneca em direção à avenida Paulista. E ventava. Como tinha um tempinho, resolvi entrar numa igreja que tem do lado esquerdo da rua […] Entrei pra passar a chuva, peguei meu caderno, tava meio escuro lá. olhando e procurando um recorte ali no meio daquela nave cheia de informações e resolvi focar no alto da parede principal da igreja. Fiquei uns 40 minutos.
20 maio 2017.
Murilo Romeiro (201 José dos Campos, num friorento domingo dos namorados cores. A produção foi feita enquanto participava da Feira Mostra Mãos e Arte. Mazé Leite (2011c) retratou sua ida à P outro lado da rua perto da cinza, é outono e o frio já chegou, terminando seu relato com elogios à capital francesa. Coelho (2013c) também relata um dia frio e cinzento na postagem de um desenho da paisagem vista da sua sacada Luca (2013) escreve:
4b) desenhou o parque Vicentina Aranha

, onde vê-se também as árvores secas (imagem 75) ns, ficou olhando mas como bons paulistanos ninguém disse nada. Em casa l em: > (imagem 73), em
aris (imagem 74), quando relaxava desenhando os prédios do Place de la Nation, vista do seu quarto. Ela relata que Paris está
Este inverno está bem frio, no fim da tarde todo mundo procura um lugar para bater um papo com amigos antes de ir para casa. As padarias de São Paulo são únicas e especiais, ontem roubei uma horinha do dia para sentar na Bela Paulista e não resisti em fazer este desenho. Todo mundo que estava perto, incluindo os completeigarço com as Acessocores.em:
, com árvores frondosas e muitas
155
JonySão
. Dalton de aquecido
Imagem 72: Desenho de Áureo Castelo Branco em Fortaleza. 2016. Disponíve <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206691749046652&set=pcb.1114703605316134&type =3
156


Imagem 73: Desenho de Murilo Romeiro no Parque Vicentina Aranha. 201
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10209660284733828&set=gm.979744288812067&type=3Imagem74:DesenhodeMazéLeiteemParis.2011.Disponívelem:<http://brasil.urbansketchers.org/2011/10/paris4.Disponívelem:Acessoem:20maio2017-no-outono.html>Acessoem:20maio2017.>

>
165
em preto e branco, mas confessa: “o céu azul me convidou lo (2012) relata um dia em Paraty: “cada esquina é um lugar
to desse dia” (imagem terado rotas e programas dos Carlos Medeiros
. Visitando a 76). Tarcísio Bahia sketchers. chama, um sketch “nesse caso, s cariocas. Primeiro que a >
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10210207864824502&set=gm.1187010708085423&type=3em:24abr.2017.
164
163
157
O dia 28 de Fevereiro pregou uma dupla peça no tempestade anunciada para o domingo (e que motivou a escolha de desenhar em ambiente interno) não aconteceu [...] A segunda peça foi que o Museu Histórico
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=943645745749561&set=pcb.1679871228897368&type=3em:24abr.2017.SC.2013.Disponívelem:-fria.html>Acessoem:20maio2017.
Imagem 75: Desenho de Jony Coelho feito de sua sacada, em Tubarão <http://brasil.urbansketchers.org/2013/07/frente

sketchers
sketcher
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1665677927031533&set=gm.943007635819066&type=3>em03jul.2017.
Os dias de clima ameno também influenciam a produção dos Bahia, Clewton (2015c) desenhou ao colorido”. Adriano Mel magnífico para desenhar, a luz estava perfeita, não podia estar melhor, estive com alguns amigos desenhando e tiramos muito provei (2016)163 desenha a Praia de Manguinhos, em frente ao Restaurante Maria Mariana: “era fim da tarde, o sol tava indo rápido, mas deu tempo de realizar o desenho, colorido posteriormente”. Os dias quentes também tem al Mateus Rosada (2017) 164 relata o dia em que faz, como miojo (muito rápido) do Elevador Lacerda, devido ao sol que aparecia com força: a pressa forçou-me a fazer um desenho mais sintético. Bom, assim saio da zona de conforto”. Thaís Machado (2016)165 relata:
Por fim, os desenhos feitos pelos do tempo. Em 2012, Jony Coelho em frente ao seu prédio (imagem
Imagem 76: Desenho de Adriano Mel
Acordei cedo. Fui tomar o chimarrão na sacada fazer os tapetes de rua. Fiquei surpreso pois, há alguns anos tinham sido substituídos por tiras de plástico ou de papel ladeadas por cobertores embalados em plástico. Retomaram a tradição. Crianças, pais e avós, todos que serão preenchidos com serragem ou areia colorida formando padrões geométricos. Vizinhos competem discretamente na feitura dos tapetes. Qual será o mais bonito? Esta atividade é uma expressão cultural centenária em Tubarã onde são muito importantes os valores religiosos. Saí para rua com caneta sketchbook, pincel d’água e caixinha de aquarelas.Sentei no meio fio e tracei este
Nacional abre somente 12hs nos domingos. Portanto, após dar de cara na porta (mesmo assim alguns desenharam do lado de fora), decidimos transferir o encontro para o CCBB. E foi uma excelente idéia. Além de belíssimo, estava tranquilo e refrigerado (com 47º graus do lado de fora, foi uma benção!).
sketchers também possibilitam perceber a passagem (2012b) desenhou a procissão de Corpus Christi 77):
lo em Paraty- Disponível em: -5-de-maio-estive-em-paraty-rj-cada.html> Acesso em: 20 maio 2017.
. Frio de 6 graus. Lá fora estavam a utilizando gabaritos de madeira , que passa o, cidade ,
158
RJ. 2012.
<http://brasil.urbansketchers.org/2012/05/dia

traceidois alg
Imagem 77: Desenho de Jony Coelho do feriado de Corpus Christi em Tubarão
159
<http://brasil.urbansketchers.org/2012/06/tapetes

A temperatura estava agradável. O sol brilhando mas não esquentando. Ano passado fazia muito frio. Caminhando p confeccionando os tradicionais tapetes de rua. O trabalho envolve todos os que moram por onde passa a procissão. Cada um quer fazer mais bonito. É uma festa.
Um ano depois, Jony (2013a)
sketches. Devido ao frio e à posição, atacou novamente o ciático. Também uns padrões. Dia frio, luminoso e alegre.
. 2012. Disponível em: ):
ela rua Lauro Muller tracei estes dois cidadãos
SC -de-corpus-christi.html> Acesso em: 20 maio 2017. retratou o mesmo evento (imagem 78
la. As meninas ansiosas para in loco quente. Aquecido por quentão ou café (2011) que registra o andamento de uma (imagem 79). Ele relata que gostaria de ter iniciado trabalho, na rua Wizard. Gostaria de la até termos o prédio pronto, ou seja, por mais uns 2 anos (nunca , entre uma m 10 desenhos,está'no>
160
Esta sequência eu comecei em maio deste ano, quando demoliram uma pequena fundição que ficava na frente do escritório onde ter começado um pouquinho antes, pegando o galpão ainda com as telhas, mas não era tão simples assim parar de trabalhar para desenhar da varanda, vocês devem entender, mesmo eu sendo ilustrador. Por enquanto a série te pretendo continuá tinha pensado assim, caramba!). Este tipo de desenho é interessante porque toda vez que eu passo pelo corredor que dá para esta varanda fico reparando se já 166 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10154324790149048&set=gm.988680507918445&type=3em:25abr.2017.deCorpusChristiemTubarão-SC.2013.Disponívelem:-christi-2013.html>Acessoem:20maio2017.
Por último, o exemplo de Danilo Zamboni obra em frente ao seu local de trabalho antes, quando ainda havia um galpão que fora demolido:
istra situações diferentes num mesmo local. Em uma
Fabiano Vianna também reg postagem de 2016166, ele diz:
Imagem 78: Desenho de Jony Coelho do feriado <http://brasil.urbansketchers.org/2013/06/corpus
Esta é a versão 2016 da aquarela Festa de Santo Antônio, na Igreja Bom Jesus, no centro de Curitiba. Todo ano repito o ritual de desenhá encontrar o santo dentro do bolo. Faço sempre o desenho mordiscada e outra num pastel ou cachorro com leite [...].

As memórias registradas de cenas do cotidiano também podem conter elementos das cidades, como uma despedida deste, esse tipo de desenho será apresenta atravessa a prática dos urban sketchers
Acesso em: 20 mai. 2017.
161
. No próximo item
Disponível-na-frente-do-trabalho.htmlem:>
os: “esses desenhos sequenciais são
ponto' para fazer mais um desenho, com o suficiente de mudanças significativas. Às vezes dá para fazer exatamente no tempo desejado e noutras perco passagens importantes, tipo as máquinas que mudam de lugar etc.
, um registro do que nunca mais será visto do, com um foco maior na questão patrimonial que
Imagem 79: Montagem de dois desenhos do mesmo local realizados por Danilo Zamboni em São Paulo. 2011. <http://brasil.urbansketchers.org/2011/11/obra

Hugo Paiva o elogia em comentári interessantíssimos, pois dá para registrar o fluxo de uma obra, a renovação do espaço, e o registro de um passado que após algumas semanas do empreendimento pronto na maioria das vezes é rapidamente esquecido”.

Embora não conste no manifesto nada específico sobre isso, o contexto do qual os sketchers vêm e convivem não foge de tal tema. Muitos arquitetos, e mesmo os que não são, tem um envolvimento com cultura e patrimônio muito interessante. Na prática, como amantes das cidades, a depredação e o descaso público não passam ilesos aos seus olhos. Seja para registrar, numa atitude de quem sabe que em breve o local será demolido, seja para refletir sobre a demolição e o descaso, os desenhos estão disponíveis nas plataformas com o intuito de nos mostrar, nos sensibilizar e, infelizmente, tornar-se os últimos registros do que desaparece, dia após dia, nas cidades do país.
A jovem coríntia Dibutades, apaixonada e profundamente infeliz pelo facto de ir ser separada do seu amante por algum tempo, por vontade de seu pai, teria desenhado na parede a sombra do jovem amante que aí se projectava, a partir dos contornos que a luz permitia traçar. E aqui, na narrativa de Dibutades, reside a perplexidade: de facto, parece ser claro que na origem do desenho há lugar para uma representação que insiste em substituir a percepção pela memória. É, mais do que tudo, o ditame da ausência que determina o próprio desenho. Utilizando a este propósito o adágio popular "longe da vista, longe do coração", Dibutades exorciza a distância e o afastamento por meio do desenho. Tal como, hoje, se substituem as ausências por fotografias (ALMEIDA, 2002, p. 156).
Adoto a definição mais geral de memória – a que se encontra em um pequeno texto de Aristóteles intitulado precisamente Da memória e da reminiscência, e que retoma, aliás, notas, e em especial do Teeteto de Platão, sobre o êikon, a imagem: “tornar presente a ausência”, “tornar presente o ausente”; assim como a nota que distingue dois ausentes; o ausente que como simples irreal, que seria, portanto, o imaginário, e o ausente-que-foi, o precedente, o anterior, o proteron. Esse último é, para Aristóteles, a marca distintiva da memória quanto à ausência. Trata-se, pois, de tornar presente a ausência-que-foi (RICOEUR, 1998, p. 44).
Esse registro é muito mais no âmbito reflexivo e até mesmo melancólico, que tenta impedir sua destruição física, mas sobretudo sua destruição mnemônica, sua lembrança.
162 2.3 REGISTRO DE UMA AUSÊNCIA, EVOCAÇÃO DE UMA PRESENÇA
[...] eu estava usando minha pequena habilidade para salvar uma semelhança, como um salva-vidas usa sua habilidade muito maior como um nadador para salvar uma vida. As pessoas falam de frescura de visão, da intensidade de ver pela primeira vez, mas a intensidade de ver pela última vez é, creio eu, maior. De tudo o que eu podia ver, apenas o desenho permaneceria (BERGER, 2005, p. 42).
Essas três citações abordam uma característica do desenho que envolve o mito sobre sua fundação para os gregos: a ausência. Entre Dibutades, que desenhara o amante, e Berger, que desenhara o pai, a primeira corre o risco de aquele momento ser o último encontro, enquanto para o segundo, essa é de fato a última visão. O desenho pode tornar presente a ausência. Por isso, esta seção do capítulo é, de certa forma, uma continuidade do anterior, mas se desdobrará de forma mais específica no registro do patrimônio histórico e cultural das cidades, feito largamente pelos sketchers, e suas possibilidades.
163
Um caso específico e que melhor ilustra isso é a manifestação em São Luís do Maranhão, em frente à casa de Aluísio de Azevedo, organizada por Regina Borba (2014) e os sketchers da cidade. Porém, o objetivo aqui é mostrar o desenho como resposta a uma possível ausência.
Berger (2005, p. 43) afirma que “qualquer imagem - como a imagem lida a partir da retina - registra uma aparência que desaparecerá”. Por esse viés, o desenho é uma recusa ao instantâneo, ao fugidio, ao evasivo. Em Modos de ver, ele (1972, p. 14) destaca que
As imagens foram feitas, de princípio, para evocar a aparência de algo ausente. a pouco e pouco, porém, tornou-se evidente que uma imagem podia sobreviver àquilo que representava; nesse caso, mostrava como algo ou alguém tinham sido - e, consequentemente, como o tema havia sido visto pelas outras pessoas.
167 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=603244949844158&set=pcb.1024507511002411&type=3>em:20maio2017.
Obviamente, como já se tem percebido, há diversidade no movimento e já aconteceram manifestações políticas através do desenho dos patrimônios abandonados pelo poder público.
Na mesma perspectiva, Molina (2003, p. 49) considera “que desenhar é reapresentar, ou seja, fazer estar presente, aquilo de que fala o desenho”. Le Corbusier (1968 apud NASCIMENTO, 2002, p. 48) também falou sobre o assunto: “o desenho, perpetuando a imagem de um objeto, pode ser um documento contendo todos os elementos necessários para evocar o objeto desenhado, quando este desaparece." Seguem, então, os exemplos de desenhos que remontam ao que um dia será ausente, ou seja, a essa característica de desenho da "últimaAdrianovista".Mello (2015) desenhou uma esquina qualquer de Mogi das Cruzes, no centro histórico, um prédio bem descaracterizado de 1922 que já foi lanchonete, loja de tintas, de colchões e de manutenção de computadores: “Mogi é assim está perdendo todo seu patrimônio, talvez um dano irreversível.” Em outra postagem (2013a), ele comenta sobre o desenho de uma casa de taipa (imagem 80), que “ainda resiste ao tempo graças a leis que não a deixam derrubá-las, mas a ação do tempo e a falta de manutenção tem levado muitos imóveis de Mogi a cair praticamente sozinhos, é uma realidade e uma pena!!”. Nos comentários da plataforma há a manifestação de João Camargo, que parabeniza-o, mas também o corrige, afirmando que esse mérito não pertence às leis ou ao governo, mas a famílias como a sua, quem têm protegido o local, inclusive utilizando recursos próprios. Odil Miranda (2016)167 relata o registro do último dia de atendimento do restaurante Dona Menina (imagem 81), “uma bela casinha de madeira que será demolida para dar lugar a mais um investimento imobiliário.
164
2013. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2013/07/antigaImagem81:DesenhodeOdilMiranda de

Londrina. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=603244949844158&set=pcb.1024507511002411&type=3

Mazé Leite (2013), no Maranhão, destaca: “São velocidade incrível. A cada vez que vou lá, encontro muita coisa nova e diferente”. Acesso em: 20 maio 2017. em: 20 maio 2017.
-farmacia-no-largo-bom-jesus-mogi.html>
Imagem 80: Desenho de Adriano Mello em Mogi das Cruzes. casa em
Luís se moderniza > Acesso com uma
168 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1692804757652183&set=gm.991498904303272&type=3em:20maio2017.
165 rrasados2)
168 desenhou a
Imagem 82: Desenho de Adriano Mello em São Luiz do Paraitinga. 2011. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2011/12/sao

Adriano Mello (2011b) relata que esteve em São Luiz do Paraitinga, (imagem 8 “cidade que era muito bonita” e que aguardava a recuperação de casarões que foram a por uma enchente dois anos antes, em 2010, que acabou com 80% do patrimônio histórico da cidade. Apenas em 2016 o centro foi restaurado, conforme um comentário de Jaime Siqueira abaixo da postagem. Uma pena”. Tarcísio Bahia (2016) (imagem 83), com um prédio alto ao fundo, e relata: “fechada, em estado de abandono, essa casa deveria ser um espaço cultural mantido pela Prefeitura de Vitória”. Flávio Ricardo (2016) 169 retratou um prédio demolido em Santa Bárbara d'Oeste casa eclética, que já foi videolocadora e ateliê de restauração de móveis, sendo demolida".
(imagemchác
ara Von Schilgen 84): “a pequena
>>
-luiz-do-paraitinga.html> Acesso em: 20 maio 05240341&set=gm.965348566918306&type=32017.
169 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=6490911em:23maio2017.
166 Imagem 83: Desenho de Tarcísio Bahia de chácara Von Schilgen, Vitória. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1692804757652183&set=gm.991498904303272&type=3Imagem84:DesenhodeFlávioRicardodecasademolidaemSantaB<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=649091105240341&set=gm.965348566918306&type=3em:20maio2017.árbara.2016.Disponívelem:em:23maio2017.>Acesso>Acesso


Imagem 85: Desenho de Do <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1190020937738437&set=gm.1073006129485882&typ
pe=3e=3>>>
170 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1190020937738437&set=gm.1073006129485882&tyem:23maio2017
ou um casarão abandonado e ameaçado de desaparecer em adela na frente (imagem 8 um engenho potiguar chamado Descanso (imagem mingos Linheiro em Água Verde - Guaiuba , CE. 2016. Disponível em: Acesso em: 23 maio 2017. Rubens 6), que -grande)”.-grande,ele
Linheiro (2016)170 desenh Guaiuba-CE (imagem 85), em um tom amarelado e com uma árvore seca à frente. Gennaro (2016)171 desenha uma casa rosa com uma c denomina guardiã daquela histórica residência: “sua lealdade, vale mais que todos os burocratas municipais e estaduais que deveriam cuidar, de nosso Patrimônio Histórico!”. José Clewton (2012c), relatando sua viagem a 87), denuncia o descaso: “está em estado de abandono. Só restou a imponente casa que está com trechos em ruínas (inclusive, a capela, que se situava integrada à casa

167
171 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10202098949832814&set=gm.1067318256721336&type=3em:23maio2017.
168 Imagem 86: Desenho de Rubens Gennaro de casa de Curitiba. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbiImagem87:DesenhodeJoséClewtonno Engenho Descanso, Nísia Floresta, RN. 2012. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2012/03/mel Marcos Bandeira (2011b) desenhou prédios típicos da paisagem urbana (imagem 8 escreveu sobre os novos parâmetros para a construção de prédios e a v urbano: Acessod=10202098949832814&set=gm.1067318256721336&type=3em:23maio2017.-rapadura-e-cachaca.html>Acessoem:23maio2017. alorização do entorno > 8) e


172 em:<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206276602233823&set=gm.1197075850412242&type=323maio2017.-residenciais-que-respeitam-o.html2017.
172 desenhou o que ele chama de “as ruín 89). José Marconi (2015c) denuncia um espaço da praça (imagem 90):
deração aspectos
Belo desenho. Eu estive agora em São Luis e testemunhei a situação de abandono e descaso com o centro histórico de lá, que é simplesmente riquíssimo. Uma pena. ouvi dizer que os donos dos imóveis preferem deixar as construções desabare poder vender a área depois ou transformá Mas ainda vale a pena, é lindo...e até as construções em péssimo estado são belos temas para desenhos!
> Acesso em: 23 maio mática do m para as do hotel Atlântico
> Acesso
169
São dois exemplares de edifícios residenciais em Fortaleza que guardam, na minha interpretação, qualidades de uma época em que os gabaritos não eram tão agressivos com o entorno urbano e o desenho dos edifícios levava em consi bem mais nobres que os atuais já que hoje, lamentavelmente, o único parâmetro importante parece ser o apelo de venda.
Imagem 88: Desenho e Marcos Bandeira de prédios em Fortaleza. 2011. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2011/09/edificios

Eduardo Bastos (2016) em Maceió Alagoas” (imagem Generoso Marques, em Curitiba
Linheiro (2011b) escreveu centro histórico da cidade, a partir da transferência dos símbolos do poder para outras áreas periféricas, sem propostas de novos usos e sem considerar o patrimônio que era importante preservar: “A praça resiste”, disse
sobre a Praça dos Leões: salva da destruição siste
ele. Ainda nos comentários, Bajzek escreve:
la em qualquer coisa, até estacionamentos.
das ruínas do hotel Atlântico em Maceió. 2016. Disponível Acesso

23 maio-paranormal.html2017.> Acesso em 28 abr. 2017 >
modernos,
dois prédios ecléticos que foram preservados e que agora atendem às demandas de um supermercado e um restaura que ironicamente já são ruínas. Um deles com pedigree e autoria de comprovada fama. O outro um daqueles espigões abandonados pelos profissionais da especulação imobiliária e que se tornou tela de grafitei service. Ao fundo, dois prédios ros e pichadores. em:
Imagem 89: Foto com desenho deEduardo Bastos em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206276602233823&set=gm.1197075850412242&type=3Imagem90:DesenhodeJoséMarconiemCuritiba.2015.Disponívelem:<http://brasil.urbansketchers.org/2015/11/croquiseironte self
170

171
Adriano Mello (2013b) conta que esteve em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba, e pode “desenhar algumas casas de madeira que ainda vencem o tempo [imagem 91]. Cidade pacata e tranquila, e muito bonita.” Bajzek (2012b) desenhou casas antigas em São Paulo (imagem 92) e escreveu: “sinto que existe uma urgência em retratá-las”.
Juliana Russo (2012a) descreve a decepção ao visitar a Vila Maria Zélia, primeira vila operária de São Paulo:
[...] estava idealizando com minha mente fértil como seria esse lugar, com suas casinhas antigas, jardins floridos, ruas de paralelepípedo… O lugar se chama Vila Maria Zélia e foi construída em 1912 se não me engano. Pouco tempo comparado aos prédios antigos dos nossos colegas europeus, mas para São Paulo essa vila deveria ter um valor histórico, pouco tempo antes disso a cidade não passava de um pequeno vilarejo. Chegando lá a cena não era tão bonita como havia imaginado. As casinhas dos operários tinham quase todas sido reformadas e descaracterizadas e da pior maneira. As antigas janelas coloniais de madeiras tinham na maioria sido substituídas por minúsculas janelas de alumínio. As fachadas estavam ou revestidas de horríveis porcelanatos ou já nada tinham de originais tendo sua frente aumentada incorporando o pequeno jardim que antes havia diante de cada casa. O antigo restaurante e as Escolas de meninos e de meninas estavam praticamente em ruínas, sem telhados, com árvores crescidas dentro das construções. A igreja é a única construção que ainda permanece em pé e em uso e que não foi descaracterizada. Fiz alguns desenhos, conversei com antigos moradores, com algumas crianças que estavam soltando bombinhas barulhentas pelas redondezas. Um dos moradores me contou que o órgão responsável pelo tombamento dos bens históricos de São Paulo, o Condephaat, um dia baixou por lá dizendo que os habitantes da vila deveriam restaurar suas casas e deixá-las como elas eram originalmente. Mas adianta fazer isso agora depois de tantas décadas de descaso e de omissão? E será que essa responsabilidade de preservar a identidade arquitetônica do local é SÓ dos proprietários ? Voltei pra casa com aquela sensação de nostalgia e de que realmente não somos um país que quer preservar sua história. Parece que a gente quer esquecer que algum dia já tivemos um passado. Aqui em São Paulo é assim, a gente derruba as antigas e lindas casinhas pra construir horrorosos prédios neoclássicos cheios de seguranças, de grades e sem nenhuma história.
[...] aqui as coisas são um pouco tristes. Pouco se importa com a memória, com a história. Muitos dos edifícios antigos são sumariamente destruídos para dar lugar a um banco ou a uma farmácia. Isso sem contar com a área verde, que, se antigamente existia em abundância, aos poucos vai sendo tirada do mapa.
Hugo Paiva (2012a) relatou a situação na zona norte de São Paulo:
PR. 2013. Disponível em: -largo-pr.html> Acesso em: 23 maio 2017. -casinhas-de-bairro.html> Acesso em: 23 maio 2017.
172
91:
Imagem Desenho de Adriano Mello de casa em Campo Largo
Imagem<http://brasil.urbansketchers.org/2013/07/campo92:DesenhodeEduardoBazjekdecasa


antiga de São Paulo. 2012. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2012/06/pequenas

Fabiano Vianna (2016)173 lança o convite para desenhar “uma casinha de madeira que está prestes a desaparecer, solitária numa área bem urbana”. Ele tenta motivar os colegas: “Vamos registrar este símbolo da resistência de um tempo que quase não existe mais”. Segue também o trecho da introdução do livro "Sketchers do Brasil" (DIAS; VIANA et al, 2016, p. 9), já citado no item 1.1, que reforça esse aspecto da recordação pelo sketch:
173
Imagem 93: Desenho de Jony Coelho em Tubarão-SC. 2012. Disponível em: < http://brasil.urbansketchers.org/2012/07/casas-de-madeira.html> Acesso em: 01 mai 2017

Feitas com tábuas e mata juntas, de canela ou peroba. O telhado sempre com telhas francesas. Tradicional casa do sul catarinense até os anos 70. Poucas restam na área central, aqui em Tubarão. São disputadas pelos fabricantes de mobília maciça pela qualidade da madeira. As que ainda sobrevivem são pontos comerciais de serviços e venda de móveis usados. Continuam de pé, os terrenos muito valorizados, esperam por mais um empreendimento imobiliário. Vão desaparecer. Fica o registro.
Na praia de Itapirubá, em Imbituba- SC, Jony Coelho (2012c) destaca o exorbitante preço dos terrenos, a verticalização e algumas casas de madeira em frente à praia, poucas das que ainda restam. Ele também relata algumas situações de casas em sua cidade (imagem 93):
173 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10154504878709048&set=gm.1037906226329206&type=3>em:17mar.2017.
O objetivo do projeto é usar a arte como instrumento de resistência. Através da técnica, Galera dialoga com a época em que as casas eram soberanas da paisagem paulistana. É pelo registro das fachadas das casas que João explora as evidências da vida privada nelas contidas, observando elementos sutis como um vaso, uma árvore, uma janela entreaberta ou outros detalhes do cotidiano. Aspectos construtivos típicos, como as janelas voltadas para a rua, a geometria de arcos na entrada, colunas pequenas, grades, chão de cacos vermelhos, reforçam o caráter de elemento cultural outrora usual na cidade, como um registro individual de seus moradores, marcas que se extinguem no anonimato dos grandes conjuntos edificados pela especulação imobiliária. Bairros como Vila Madalena e Pinheiros, onde as casas dominavam o horizonte, vivem um período de intensa especulação imobiliária. As empreiteiras vendem os apartamentos como se os moradores fossem viver em um bairro bucólico de lindas casinhas, que são demolidas por estas. Contradições da cidade que tenta apagar sua história. O projeto Antes que acabe visa registrar iconograficamente os remanescentes dessas construções. Nesse sentido, a sobrevivência da imagem dessas casas ganha um caráter de resistência e de preservação da memória (2016).174
Essa “substituição de uma falta”, citada por Vianna, e o nome do projeto, “Antes que acabe”, tem relação com o que José Reginaldo Santos Gonçalves (2015, p. 223) afirma no texto “O Mal-estar do patrimônio”. Para o autor, “muitas vezes a destruição de objetos e espaços materiais pode ser o elemento gerador de identidades e memórias”. Se isso é positivo ou negativo, não cabe aqui julgar. A destruição do patrimônio é algo que existe desde o início das grandes civilizações. Talvez poderíamos pensar que a Paris moderna não seria o que é sem as reformas de Haussmann, nem o Rio sem as reformas sanitárias do início do século XX. Indo um pouco mais além, talvez muito da poesia de Charles Baudelaire sobre essa nova Paris não teria existido, nem talvez os textos de Benjamin sobre Berlim. Ademais, poderíamos questionar se todos esses desenhos teriam a mesma ressonância diante dos nossos olhos se não fossem destacados seu senso de urgência, seu caráter de último olhar e sua característica de “só existir no papel”, não como se costuma dizer sobre algo que nunca existiu, mas sobre algo que não existe mais. paulo/<http://www.zupi.com.br/antes-que-acabe-livro-com-desenhos-de-58-casas-e-vilas-resgata-memoria-de-sao->Acessoem:03maio2017.
Se o desenho é uma forma de representação para a recordação (ou apreensão) de um instante, eles podem substituir uma falta. Tê-los e possuí-los numa prateleira podem significar a aproximação dos lugares (ou das cenas e personagens) desenhados. Viajar nas cidades pelas curvas dos traços de sua representação. Reviver instantes, quando os sketches são vistos como crônicas gráficas.
174
Por fim, vale destacar o trabalho do artista plástico e antropólogo paranaense João Galera, que criou o projeto “Antes que acabe”, transformado em livro, no qual desenha casas e sobrados tradicionais de São Paulo que estão sendo destruídos em meio ao processo de verticalização, prática muito próxima do que se tem discorrido neste capítulo:
174
Na pintura, Ambrogio Lorenzetti foi o primeiro a tratar a cidade como tema, pintando entre 1337 e 1340 os painéis “Alegoria do Bom Governo”, “Vida na Cidade. Os Efeitos do Bom Governo”, “Alegoria do Mau Governo”, entre outros que representavam a cidade de Siena. Desde então, a pintura de paisagens urbanas, assim como a própria cidade, foram
As cidades, vistas e sentidas de inúmeras maneiras no decorrer da história, serão relacionadas com o Urban Sketchers a partir das sugestões de Sandra Pesavento (2007, p. 1314, grifos meus) no que diz respeito à materialidade, à sociabilidade e à sensibilidade:
175 3 CAPÍTULO TRÊS: O URBAN SKETCHERS E A CIDADE
Os capítulos anteriores trataram, de forma mais específica, os cinco primeiros tópicos do manifesto. Neste terceiro capítulo, porém, serão abordados os itens VI, VII e VIII, que são: “Nós nos apoiamos e desenhamos juntos.”; “Nós compartilhamos nossos desenhos online”; e “Nós mostramos o mundo, um desenho de cada vez.” O Urban Sketchers será analisado como um movimento que dialoga e responde às demandas das cidades na contemporaneidade. A importância da coletividade, o compartilhamento em rede, a necessidade de vivenciar os espaços, de parar para olhar um mundo saturado de imagens e experimentar a urbe na linha do imaginário e do sensível serão os tópicos principais, que derivam de tudo que se escreveu até aqui.
A cidade é, sobretudo, uma materialidade erigida pelo homem, é uma ação humana sobre a natureza [...] um outro da natureza: é algo criado pelo homem, como sua obra ou artefato. Aliás, é pela materialidade das formas urbanas que encontramos sua representação icônica preferencial, seja pela verticalidade das edificações, seja pelo perfil ou silhueta do espaço construído, seja ainda pela malha de artérias e vias a entrecruzar-se em uma planta ou mapa. [...] Mas a cidade, na sua compreensão, é também sociabilidade: ela comporta atores, relações sociais, personagens, grupos, classes, práticas de interação e de oposição, ritos e festas, comportamentos e hábitos.[...] A cidade é concentração populacional, tem um pulsar de vida e cumpre plenamente o sentido da noção do ‘habitar’, e essas características a tornam indissociavelmente ligada ao sentido do ‘humano’: cidade, lugar do homem; cidade, obra coletiva que é impensável no individual; cidade, moradia de muitos, a compor um tecido sempre renovado de relações sociais. É por isso que, ao lado das imagens icônicas da materialidade urbana, há toda uma outra linha de representação que exibe a cidade através da sua população, com suas ruas movimentadas, o povo a habitá-la, a mostrar sua presença e também a sua diversidade, em imagens ora ternas, ora terríveis de contemplar [...] a cidade é, ainda, sensibilidade […].Cidades são, por excelência, um fenômeno cultural, ou seja, integradas a esse princípio de atribuição de significados ao mundo. Cidades pressupõem a construção de um ethos, o que implica a atribuição de valores para aquilo que se convencionou chamar de urbano. A cidade é objeto da produção de imagens e discursos que se colocam no lugar da materialidade e do social e os representam. Assim, a cidade é um fenômeno que se revela pela percepção de emoções e sentimentos dados pelo viver urbano e também pela expressão de utopias, de esperanças, de desejos e medos, individuais e coletivos, que esse habitar em proximidade propicia
A partir dele, outros autores passaram a tomar a cidade como inspiração, sobretudo as metrópoles, como Londres, Paris, Berlim e Viena. No século seguinte, surgiram metrópoles por todo o mundo e mesmo em cidades com tamanhos médios, os modos de vida metropolitanos foram, na sua devida medida, sendo incorporados. A década de 1930 em Porto Alegre, por exemplo, é citada por Pesavento (1995a, p. 282) por apresentar os ares de metrópole: “em suma, os porto alegrenses sentiam a sua cidade como metrópole e a representavam como tal em crônicas de jornais, poesias, imagens e discursos variados”.
As grandes cidades tornaram-se “mais” em uma série de características: mais populosas, mais tumultuadas, mais labirínticas, mais violentas, mais brutalizadas, mais mimetizadas. A fragmentação, o superficialismo, as experiências imediatas e solitárias se tornaram parte da experiência citadina. Sua imagem ficou corrompida pelo excesso: outdoors, sujeira, fumaça, desestetização. As praças, locais de reunião, tornaram-se vácuos de cidadania. Ocupadas por marginalizados, tornaram-se palco de violência e degradação (e de resistência, em alguns casos). Muros pichados, monumentos vandalizados e sem ressonância histórica dão o novo tom de muitos desses espaços públicos.
Uma metrópole propicia aos seus habitantes representações contraditórias do espaço e das socialidades que ali têm lugar. Ela é, por um lado, luz, sedução, meca da cultura, civilização, sinônimo de progresso. Mas, por outro lado, ela pode ser representada como ameaçadora, centro de perdição, império do crime e da barbárie, mostrando uma faceta de insegurança e medo para quem nela habita. São, sem dúvida, visões contraditórias, de atração e repúdio, de sedução e rechaço, que, paradoxalmente, podem conviver no mesmo portador. Esta seria até, como lembra Marshall Berman (1986), uma das características da modernidade enquanto experiência histórica individual e coletiva: a postura de celebração e combate diante
Aliás, o poeta francês foi um dos primeiros a eleger a cidade como objeto poético. “Transformar em poesia uma cidade [...], fazer com que em cada momento mutável a verdadeira protagonista seja a cidade viva [...]: Essa foi a tarefa à qual Baudelaire se sentiu chamado no momento em que começou a escrever As flores do mal” (MENEZES, 2009, p. 1).
176 ganhando terreno. Os dois últimos séculos foram os mais prolíficos. Na Europa ocidental, a Revolução Industrial transformou de forma significativa o espaço urbano e, consequentemente, o rural. O discurso progressista e higienista, que por um lado embelezou e organizou as cidades, por outro teve que pagar um preço alto com a demolição do patrimônio e a exclusão social. As multidões, que tomaram as ruas das cidades que logo tornaram-se metrópoles, foram ora um objeto de terror, ora um objeto de encanto. “[...] A vida moderna possui uma beleza peculiar e autêntica, a qual, no entanto, é inseparável de sua miséria e ansiedade intrínsecas”, afirma Charles Baudelaire (1855 apud BERMAN, 1986, p. 162).
Na cidade os transeuntes não se atraem, o espaço urbano é o movimento contínuo, a proximidade física quase que promíscua de corpos que se esbarram em espaços exíguos de calçadas tumultuosas é, ao mesmo tempo, a promessa anunciada de distanciamento, de deslocamento rápido, de olhares que não se cruzam, de almas que não se entregam. Nesse sentido, a cidade afasta, distancia, desloca e isola. Seu espaço é o da descontinuidade, da despertença, desintegração e do desencontro. O ritmo nervoso da metrópole atormenta e afasta seus habitantes. A multidão em desvario, indiferente ao destino de todos os demais, acelera o passo para não tardar no seu compromisso fúnebre e solene com a instantaneidade das horas dos escritórios e fábricas. Alguns segundos e já é tarde demais. O amor à primeira vista, nesse sentido, na leitura baudelairiana de Benjamin, confunde-se com o amor à última vista.
Carvalho (ibidem, p. 141) também aborda o anonimato e as relações sociais da cidade que divergem entre qualidade e quantidade:
O choque dessas mudanças foi abordado por diversos teóricos. Para Pontes (2013, p. 232), Benjamin, Simmel e Baudelaire trataram a cidade moderna “como o espaço da não memória e das perdas das tradições entendidas como experiências coletivas e individuais, isto é, um lugar fluido que não garantia a solidez das identidades”. Ou como Baudelaire caracterizou o moderno: o efêmero e o fugidio. Curioso em relação às novidades, ele não se deixou enganar pela ilusão do progresso e pela mercantilização das relações sociais. Por isso, Benjamin (1989) o denominou um “lírico no auge do capitalismo.” Sérgio Carvalho, no texto A saturação do olhar (1997, p. 135), mostra a cidade como espaço dos prefixos "des" (descontinuidade, despertença, desintegração, desencontro etc), dos paradoxos (ora o esbarramentos, ora o distanciamento) e dos olhares que são simultaneamente os primeiros e os últimos, com referência ao famoso poema baudelariano "à uma passante", mostrando a banalização das sociabilidades:
177 do novo, que em parte exerce fascínio e em parte atemoriza (PESAVENTO, 1995a, p. 286).
As relações de interdependência, os contatos no mercado ou as situações de sociabilidade cotidiana são traçados na opacidade de um domínio de estrangeiros. Desconhecidos quanto às origens ou histórias pessoais de vida, os indivíduos citadinos se encontram, articulam seus negócios, praticam suas trocas, relacionam-se e interagem impessoalmente. A biografia particular de cada um está constantemente encoberta. Nas ruas, apenas símbolos aparentes, superficiais e exteriores, os “emblemas da alma”, são passíveis de serem conhecidos. Os contatos se intensificam em número, porém se enfraquecem qualitativamente, tornam-se impessoais, ritualizados e distantes, quando não hostis.
Essas questões também perpassam as ideias de Carvalho (1997, p. 128):
O homem metropolitano, por sua vez, ao ter de suportar alterações bruscas e ininterruptas entre estímulos externos e internos, passa a sofrer uma intensificação dos estímulos nervosos. Diferentemente, a vida na pequena cidade que repousa sobre impressões distintas apenas ligeiramente entre si exige menos consciência do homem que a rápida convergência de imagens mutáveis em um simples atravessar de rua na metrópole. [...] O homem da cidade grande reage mais com a cabeça que com o coração. A inteligência, que está bastante afastada da zona mais profunda da personalidade, assume papel de protetora do indivíduo contra o poder desagregador da vida metropolitana, protegendo assim a vida subjetiva.
Quanto a materialidade, Pesavento (2008, p. 5) destaca questões como o abandono dos centros, seu desgaste físico e o desuso social, estando acometidos de “uma perda de significado e de memória, sofrendo pelo esquecimento e pela falta de sentido histórico, que foi perdido através das gerações”. Além disso, a modernização vivida pelas cidades “impede as evocações espontâneas, dadas pela contemplação inadvertida de um espaço, de um prédio, ou de uma situação criada no contexto da cidade que parece estranhamente familiar” (ibidem, 2005, p. 12). Ela ainda destaca que
178
Trata-se não apenas de uma eliminação radical das marcas ou registros do passado que uma cidade pode conter – e, com isso, despertar, de forma automática, a rememoração – mas de um certo bloqueio da sensibilidade, impedindo de reconhecer, sob as formas novas, o passado do urbano, ali escondido (ibidem, p. 12).
A arquitetura do passado cede rapidamente terreno para as formas e contornos do mundo da produção e do trabalho. As cidades modernas nos seus traçados, nas suas construções e na sua geografia se transformam radicalmente. Enterram-se as lembranças, apagam-se as inscrições históricas e condena-se a memória pessoal e coletiva ao esquecimento. As cidades, enquanto espaços de alegorias e mutações, fragmentações e descaminhos labirínticos, geram o estranhamento, a deriva, o esquecimento e a solidão [...] Nada parece ter história, passado ou consistência, tudo parece estar na iminência do desvanecimento, do esfacelamento, da perda, da ruptura e da morte.
Sobre a sensibilidade, podemos destacar os efeitos da cidade sobre a vida mental, como trata Simmel, o excesso de imagens e a velocidade com o qual lidamos diariamente, gerando uma barbárie da indiferença. Neste mundo que escoa pelas mãos, as referências culturais se perdem, as identidades se confundem, os excessos brutalizam. Paulo Prado (1980) afirmou que, com a aceleração da vida moderna, vamos perdendo o contato e nos encontramos, de repente, em uma cidade como outra qualquer: “isso explica a instabilidade emocional que acomete todos nós. De repente, você não tem mais a sua paisagem, perde as suas referências culturais”. Para Menezes (2013, p. 53-4)
O olhar citadino é afetado, conforma-se à velocidade, à multiplicação dos objetos, cenas e imagens e à profusão atordoante de signos, gerando cortes rápidos, seqüências disformes, descentramento, multiplicação e aleatoriedade dos campos e signos visuais. O olhar reage às intensidades imagéticas e aos deslocamentos repentinos através de varreduras reticulares rápidas e reações motoras e físicas, como se estivesse em meio a um panorama em rotação acelerada. O corpo e a mente sentem o fluxo e a saturação que os olhos vêem. Como expressão de sua época, o olhar se inscreve na lógica da superficialidade, ele nada penetra, atua na cobertura fina do verniz aparente e se propaga na mesma intensidade da luz. Em seu campo visual nada permanece, tudo se desmancha na fugacidade rápida de uma piscadela. Nem o olhar fixa e contempla, nem o objeto cognoscível deixa se apreender. O olhar, como uma potente câmera, registra cada vez com mais rapidez, e armazena em uma memória, cada vez mais diluída, a sobrecarga visual e os apelos efêmeros que fulguram vertiginosamente diante dos olhos dos passantes. ‘Se, em Poe, os passantes lançam olhares ainda aparentemente despropositados em todas as direções, os pedestres modernos são obrigados a fazê-lo para se orientar pelos sinais de trânsito. A técnica submeteu, assim, o sistema sensorial a um treinamento de natureza complexa’ (ibidem, p. 130).
As imagens sempre exigiram de nós tempo para ver, o tempo lento da vidência e da evidência, isto é, o tempo necessário para o desvelamento das ideias contidas em cada uma delas […] Somos hoje dominados de ponta a ponta pelas imagens, e é graças a esse acesso que não aprendemos a ver ainda. Se não sabemos ver, é certamente porque a visibilidade não depende do objeto apenas, nem do sujeito que vê, mas também do trabalho de reflexão: cada visível guarda uma obra invisível que é preciso desvendar a cada instante e a cada movimento.
Sérgio Carvalho (1997, p. 130) destaca que, com o surgimento dos transportes modernos, passamos a perceber o mundo “dentro da moldura restrita da janela lateral, do pára-brisa e do retrovisor”. O mesmo autor afirma que “no cenário da vida cotidiana, marcada por espasmos, choques e estímulos descontínuos, o tempo presente não é mais uma totalidade, mas uma justaposição de flashes imediatos” (ibidem, p. 137). E ainda vai além:
Adauto Novaes (2004, p. 11) aponta também os efeitos do excesso de imagens em nossa sociedade:
179
Paul Valéry (2012, p. 154) afirma que “a volúpia está morrendo. Ninguém mais sabe fruir. Alcançamos a intensidade, a enormidade, a velocidade, as ações indiretas sobre os centros nervosos pelo caminho mais curto”. Embora muito das queixas do poeta inglês Willian Wordsworth (1770-1850) fosse contra a fumaça, a congestão, a pobreza e a feiura das cidades, ele acentuou o efeito das cidades em nossas almas, mais do que em nossa saúde, acusando as cidades de fomentarem uma família de emoções contrárias à vida, como angústia, inveja orgulho, exibicionismo, falta de perspectiva e “desejos incessantes por coisas novas que não lhes faziam falta e das quais não dependia a felicidade” (apud BOTTON, 2012, p. 136).
Em minha vida profissional, tanto o olhar como a prática do desenho a mão livre se limitava aos croquis de criação e ao entendimento das necessidades do projeto, porém, com a participação nas atividades do USk, percebo que a cada desenho in loco ou em cada encontro que participo descubro mais razões gratificantes para continuar desenhando, como a prática que melhora o resultado a cada desenho, o olhar que passa a ser mais abrangente e minucioso, a sensibilidade no entendimento espacial e cultural dos locais desenhados, entre outras, que retornam como ferramentas importantes na minha vida profissional e pessoal.
Valery (2012, p. 133, grifos do autor) também aponta como em nossos modos diversos de viver, “o modo de ser da modernidade é exatamente o de uma intoxicação”. Em todo momento, para ele, estamos aumentando a dose: “cada vez mais adiante, cada vez mais intenso, cada vez maior, cada vez mais rápido, e sempre mais novo, essas são as exigências, que correspondem necessariamente a certo endurecimento da sensibilidade”.
180
Levando em conta essas problematizações das mazelas da cidades, podemos pensar o USk como um movimento de resistência ante a brutalização da vida citadina. Uma resistência silenciosa, que se encontra no cidadão sentado em um banco ou no meio-fio da calçada, com folhas avulsas ou um sketchbook, olhando repetidamente para o papel e para o espaço. É uma resistência calada porque não panfleta, mas chama a atenção das pessoas que, aturdidas, veem neles suas perspectivas, seja no desejo claro de imitá-los, seja no recalque advindo das multitarefas da vida corrida. Os urban sketchers resistem à brutalidade da materialidade ao desenhar e buscar conhecer os locais públicos, os prédios históricos e os monumentos. Resistem à brutalidade das sociabilidades ao se reunirem com pessoas desconhecidas e formar redes de amizades e contatos. Finalmente, resistem à brutalidade da sensibilidade e do olhar ao disponibilizar tempo para o desenho, ao parar para apreciar e refletir, para retirar poesia do espaço vivenciado.Valeressaltar que, no Brasil, os grupos mais prolíficos estão nas grandes cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Natal e Goiânia, entre outras. Em cidades pequenas há poucos membros e eventos. Não podemos desconsiderar que nas grandes cidades as notícias correm mais rápido, há mais universidades e um circuito maior de ideias, mas é necessário observar que a vivência nas cidades pequenas se dá de forma muito mais pessoal, intimista, subjetiva e próxima do espaço. Ainda assim, mesmo nestas cidades, as pessoas vivenciam elementos da vida metropolitana, como o trânsito, os relógios acelerados e as horas a cumprir, o desconhecimento da história local e de seus prédios e monumentos. Mesmo nestas cidades, sketchers percebem como não as conheciam antes de pararem para desenhá-la, como mostra Joel Venceslau (2016a):
“Nós nos apoiamos e desenhamos juntos. Nós compartilhamos nossos desenhos online.” Pensar em sociabilidade e redes de contatos dentro do USk remete-nos ao fato de que todos os itens do manifesto têm as palavras “nós” ou “nossos”. Isso revela sua característica de grupo, sempre tratando como algo coletivo (“nos apoiamos” / “desenhamos juntos”) e mesmo quando o desenho é feito de forma solitária, há o compartilhamento online dos resultados. Essa relação com as pessoas é bastante interessante dentro do universo USk e pensar em sua sociabilidade é o primeiro passo para entendê-los como um contraponto da vida urbana na contemporaneidade. Campanario (2012, p. 11)175 relata que:
Nas páginas que seguem serão apresentados exemplos dessas resistências, material este retirado das plataformas USk. Veremos que, independentemente de onde os sketches são produzidos, se nas grandes metrópoles ou nas cidades pequenas ou interioranas, os registros servem a proposta de resistência às brutalidades contemporâneas.
181
3.1 CIDADE E SOCIABILIDADE: “OS BENEFÍCIOS DO DESENHO EM GRUPO”
Na maior parte dos dias, você pode ainda me encontrar desenhando ao redor de Seattle, adquirindo uma nova apreciação pela cidade com cada sketch que eu faço, sem importar quão rápido ou preciso ele foi. A cada sketch, minhas habilidades são melhoradas e minha conexão com a comunidade torna-se mais forte.
Essa ideia de conexão com a comunidade será abordada, primeiramente, através de relatos sobre como foi importante para os sketchers encontrar pessoas que partilham da mesma paixão e poder reunirem-se com elas para praticar o desenho. “Desenhar locais visitados para estudos ou durante viagens era algo que eu já fazia sozinho, sem saber que existia um grupo que se reunia apenas para essa atividade”, conforme afirma Kurita (2015a). Ele continua: “participar foi tornando-se um hábito, a cada encontro fui conhecendo os colegas sketchers, trocando dicas e aprendendo muito com cada um”.
Adriano Mello (2011a) relata que teve dificuldades no seu curso de desenho durante a juventude, perdendo seu encanto pelo ato de desenhar, sentindo-se preso à técnica e a uma obrigação em fazer desenhos perfeitos. Pertencer ao movimento USk parece ter sido uma boa opção para ele exercitar uma prática mais liberta de técnicas: “vi que é melhor ter 1 desenho
175 “Most days, you can still find me drawing around Seattle, gaining new appreciation for the city with every sketch I make, no matter how fast or accurately rendered. With every piece, my skills are sharpened and my connection with the community becomes stronger.”
“Drawing storyboards for commercials wasn’t the same thing as drawing from life, so I started using my sketchbook more and more, especially after finding other people on the Internet with a similar interest”.
As relações entre os sketchers muitas vezes concretizam-se em amizades. André Lissonger (2016)176, em Curitiba, relata encontro em que “re-viu” e “re-conheceu” amigos. Kei Isogai (2016)177 descreve sua ida para desenhar com Fabiana Boiman e Mateus Rosada no Largo São Bento, em São Paulo: “sentamos nas escadarias de acesso ao metrô e curtimos a bela luz de fim de tarde que se fazia nas paredes do Mosteiro”. Simon Taylor (2016)178 relata sua ida a São Paulo: “fui recepcionado com todo o carinho pelo brother Ronaldo Kurita e pela Irmgard Schanner, que teve a gentileza de me dar carona ao Parque Ibirapuera. Lá, revi amigos que conheci no Encontro Nacional [...] e tive o prazer de conhecer outros novos”.
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1157048874377835&set=pcb.1157049954377727&type=3>em:13maio2017.
177
182
Carlos Roque (2016)179 relata que gostou de um desenho pois o fez “acompanhado da deliciosa companhia e da boa conversa do casal Jony Coelho e Joan Kerr Coelho ” José Clewton (2016)180, após uma oficina de desenho, conta como teve “uma conversa boa com a turma, sob a luz de uma noite de luar que se anunciava”.
179
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10209276579328790&set=gm.953139131472583&type=3>em:13maio2017
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Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=553737971479809&set=gm.992580427528453&type=3>em13maio2017.
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1203617349657488&set=pcb.976524089134087&type=3>em:23jun.2017.
do que 100 fotos. [...] fui correndo estudar e buscar alguém que pudesse ser referência, então vi que havia muitos fazendo aquilo que eu queria fazer”.
Para Campanario (2012, p. 22),181 “a internet tem ajudado os urban sketchers a se encontrarem; como resultado, [há] mais encontros para desenhar juntos do que no passado”. Sobre o movimento, Omar Jaramillo (ibidem, p. 214) 182 afirma: “eu sempre pensei que desenhar era uma experiência solitária, até eu encontrar a comunidade online USk”. De Nova Zelândia, Murray Dewhurst (ibidem) conta que, sentindo-se frustrado, não poderia acreditar na sua sorte quando, um dia, encontrou por acaso o trabalho de outros USk na internet. “Desenhar histórias sequenciais para comerciais não era a mesma coisa que desenhar a vida, então eu comecei a usar meu sketchbook mais e mais, especialmente depois de encontrar outras pessoas na internet com interesses similares”, diz Miguel Herranz (ibidem, p. 130).183
181
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1242210912495719&set=gm.1049065381879957&type=3>em:13maio2017.
“The internet has helped urban sketchers find each other; as a result, more meet to draw together than ever in the past”.
“I always thought that drawing was a solitary experience, until I found the online urban sketchers community”.
180
183
> Acesso em: 13 maio -se em é anunciado como um “feriado do como o 13º
Mateus Rosada (2016)184, em Porto Alegre, escreve que p grupo USk na capital gaúcha, mas por não encontrar, desenhou sozinho. Nos encontros, esses amigos virtuais “tornam nos relatos de Eduardo Geraldes (2016
183
rocurou informações sobre um se de carne e osso”, como se percebe ) e Francis Iwamura (2016), respectiv des sociais e postagens de desenhos maravilhosos… os amigos agora
amente:
184 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10208593442464952&set=gm.1003162466470249&type=3em:13maio2017.
Imagem 94: Cartaz divulgação do 13º Encontro do <http://brasil.urbansketchers.org/2014/07/13
[...] participei do 1º Encontro de satisfação de conhecer pessoalmente muitos c sociais do US também confirmou a sensação de pertencer a uma grande família.
E o que eu desconfiava ficou escancarado em Curitiba, nosso primeiro Encontro Nacional: um bando de trezentos apaixonados toma a cidade de lápis e pincéis em punho… cena inesquecível! Finalmente conheço pessoalmente aqueles que só existiam nas re são parte da vida e a paixão de desenhar diz que fica de vez!
Campanario (2012,
185“Taking inspiration from pub crawls, in which friends travel from Francisco to meet for a sketchcrawl, a day of communal sketching around the city”.
p. 22)185 cita Enrico Casarosa, o italiano que, “inspirando
>
Urban Sketchers Salvador. 2014. Disponível em: -encontro-urban-sketchers-salvador-44.html2017.
Sketchcrawl, um dia de desenho em comunidade pela World Wide sketchersSketchcrawl se comumente usado para se referir a qualquer tipo de grupo de Sketchcrawl, (imagem 94), que propôs homenagear o arquiteto Diógenes se as duas logomarcas e desenhos da cidade, com bar to barstarted inviting people in San

Urban Sketchers do Brasil [...] e tive a imensa roquiseiros que admirava pelas redes k. Esse encontro, além de celebrar a paixão pelo desenho urbano,
pub crawls, em que amigos viajam de bar a bar, [...] começou a convidar pessoas em São Francisco para encontrar-se para um cidade.” Ele destaca que a proporção cresceu e o então no site de Casarosa e tem sido desde então adotado pelos desenho.” O termo tornou desenho de rua. Muitos encontros USk acontecem simultâneos ao USk Salvador e o 44º Sketchcrawl Rebouças. No cartaz encontram
informações sobre o local e o horário, os apoiadores do evento e os endereços eletrônicos para dúvidas e exposição posterior.
Montalvo Machado, de São Paulo (2011), escreve que “os benefícios de se reunir com os amigos para desenhar coletivamente vão muito além da prática constante”, pois acredita que “se refletem numa rede de contatos fora do estúdio, no mundo real, ao mesmo tempo em que se formam comunidades online com os mesmos ideais, gerando uma troca de ideias, técnicas e influências que beneficiam a todos”. Simonetta Cappecchi, de Nápoles (apud CAMPANARIO, 2012, p. 202),186 afirma: “eu desenho para lembrar e compartilhar com outros (...).” Campanario (ibidem, p. 18)187 assinala que, “embora seja uma atividade solitária, o desenho se torna social quando você o compartilha online e encontra outras pessoas para desenhar junto”. Para aqueles que são muito tímidos para desenhar sozinhos em público, ele sugere que fiquem juntos a pessoas que também desenham, o que fomenta uma rede de suporte e um fator motivacional. Ele lembra também das horas de desenho encerradas com revigorantes happy hours.
Para Hugo Paiva (2012b), “desenhar na rua tem um lado político muito forte”, pois há conversas, diversão e cria-se uma “relação intensa com o mundo exterior”. Para ele, é uma chance de aproveitar o que as cidades têm de melhor, ou seja, seus espaços públicos: “podemos entrar em contato com outras pessoas...Tudo isso com que nosso trabalho fique com mais humanidade!”. Ruth Rosengarten (2012, p. 26-7) afirma que:
com um mero clique no rato, colocamos os nossos desenhos online, adicionando as nossas garatujas a um repositório ou arquivo global - a um banco mundial de imagens; com um simples toque num botão, juntamo-nos a outros de quem podemos estar geograficamente distantes, mas com quem nos envolvemos em conjunto, numa língua franca de natureza gráfica, assim contribuindo para um debate acerca do mundo que habitamos, para uma conversa acerca do nosso compromisso com o meio culturalmente carregado das cidades que nos acolhem, sejam elas cidades natais, locais de trabalho ou de refúgio, ou espaços de viagem e lazer/prazer.
Rosengarten (2012, p. 27) acentua as potencialidades do desenho compartilhado e dos encontros que ele proporciona:
Partilhamos nossos desenhos globalmente, mas também damos a ver o mundo inteiro, um pedaço de cada vez. A ideia é a de um mundo que é, se não mensurável, pelo menos passível de ser reproduzido através de fragmentos incrementais, um mundo cuja representação vai sendo composta por acção de um empreendimento colectivo, não só em localizações separadas, mas também sob a forma de conexões
184
187“Although sketching is a solitary activity, it becomes social when you share your drawing online and meet other people to draw together. ”
186 “I draw to remember and to share with others.”
Ana Rafful (2015b) acredita ser “uma grande experiência desenhar e pintar num grupo”. Juliana Russo (2012b), por seu turno, demonstra seu prazer pelo contato com sketchers, afirmando que em meio aos colegas não acontece aquele silêncio constrangedor de quando se conhece uma nova pessoa, mas sempre se tem assunto: “qual a aquarela, que tipo de pincel, qual o papel, o melhor sketchbook, o próximo encontro mundial, aquele desenhista incrível”. Mazé Leite (2011a), ao participar do USk, mantém-se “ligada ainda mais no desenho de locação” e “a todos os outros que também vivem pelo mundo com lápis e papel na mão”. Referindo-se ao desenho, ela afirma que pensa ser “mágico o fato de uma mão humana poder traçar linhas, manchas, formas que vão expressando sua visão do mundo; e, além de tudo, cria um diálogo com as outras pessoas, porque o desenho – assim como a arte – tem esse dom de aproximar os seres humanos”.
Em Curitiba, Regina Oleski188 participa dos encontros não para desenhar, mas sim para fotografar. Ela relata que usou a fotografia para lidar com sua ansiedade após a se aposentar e encontrou no USk uma nova rede de amizades e uma forma de relacionar-se com a cidade, com as pessoas e com sua habilidade para a fotografia, além de ter vencido sua timidez. Hoje, ela gosta de conhecer a história das pessoas que fotografa, sobretudo nos encontros semanais do grupo, que ela procura sempre frequentar. Camila Diógenes
188 Em entrevista individual no I Encontro Nacional USk ocorrido em 23 de abril de 2016.
Esses relatos confirmam Rosengarten (2012, p. 27), que afirma que a sociabilidade tem sido um "fenômeno que tem granjeado um boom espantoso nas maratonas de desenho e em iniciativas locais de desenho comunal organizadas, num sem número de cidades diferentes, por activistas enérgicos do desenho em diário gráfico. [...]" Jony Coelho (2014b) conta sobre um dia em que, entre os recifes da Praia do Forte, em Salvador, viu passar um homem com um saco plástico contendo um caderno de desenho. Ele pensou logo que era um sketcher, palpite este que se confirmou. Após apresentação, ambos conversaram sobre o USk Brasil. O homem era Luís Frugoli, de São Paulo, que já conhecia Jony, pois acompanhava suas postagens no blog. No dia seguinte, os dois e um outro amigo sketcher uniram-se e desenharam a praça da igreja.
entre um sítio e outro: as maratonas de desenhos (sketchcrawls) que se realizam em todo o mundo, por exemplo, são agendadas para o mesmo dia, pelo que, quando as longitudes o permitem, temos a sensação de partilha da experiência em tempo real. Ainda que desprovida e uma agenda política, trata-se de um empreendimento escorado em metáforas de unidade e colectividade, e alicerçado na noção de que, através dos desenhos, damos as mãos por sobre distâncias espaciais, transpondo divisões culturais e políticas
185
shopping Brasília, percebe “que tem muita gente que ra presentear também. José Clewton posta fotos do sketcher

Vasconcelos (2016)189, quando vai ao vai ao salão não pelo trabalho feito lá em si, mas sim pela necessidade de nossa natureza humana: o toque , a conversa e especialmente o cuidado de um para com o outro”. Desenha-se, dentro do USk, pa primeiro encontro de 2017 do USk Natal, quando aconteceu um “amigo membros se presentearam com desenhos (imagem postagem a Marcos Bandeira, que Marcos Bandeira, fizemos um post seus iguais, que compartilham das mesmas frustrações e paixões”. Na postagem, Bajzek inseriu desenhos com frases motivacionais ao colega feitos por Fernanda Vaz de Campos (imagem 96), Beto Candia, José Clewton, Hugo Paiva, João Pinheiro e Ivonesyo Ramos, além de sua produção. Cada sketcher veio três semanas depois, com um desenho do passeio público de Fortaleza e uma mensagem de agradecimento (imagem 97).
95). Eduardo Bajzek (2012 se encontrava doente e impossibilitado de desenhar: “Caro dedicado a você. Saiba que pode encontrar neste grupo desenhou em sua respectiva cidade. A resposta de Bandeira
secreto” e os d) dedica uma
>>
de Natal-RN em amigo secreto. 2017. Disponível em: Acesso em: 18 jun. 2017.
Imagem 95: Fotografia com sketchers <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10155031209399374&set=pcb.1232878010121119&type=3 189 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1257332410983731&set=gm.1080005378785957&type=3em13jun.2017.
186
a) comenta sua participação em Barcelona, sua nível em: iências
-bandeira.html> Acesso em: 29 out. 2016.
187
Os encontros internacionais são, pela estrutura e abrangência, as maiores exper que um urban sketcher pode ter. Bajzek (2013 -ativa.html> Acesso em: 29 out. 2016.
Imagem 96: Desenho de Fernanda Vaz de Campos do Centro Cultural São Paulo. 2012. Disponível em: Imagem<http://brasil.urbansketchers.org/2012/07/marcos97:DesenhodeMarcosBandeiradopasseio

público de Fortaleza. 2012. Dispo <http://brasil.urbansketchers.org/2012/07/voltando

Fernanda Vaz de Campos (2014a) relata o sketch-buddies (camaradas), que são encontros em que os desenhos são compartilhados com outros sketchers. Nesta postagem específica, ela relata o intercâmbio com os colegas de Nova York e informa que a ideia do evento foi originalmente de Mark Leibowitz e que tal prática é uma ótima oportunidade para conhecer outros sketchers ao redor do mundo.
André Duarte Baptista (2015a) relata que participar do USk tem oferecido a ele muitos e bons amigos, tanto em nível nacional quanto internacional. Ele coordena um projeto chamado “Arte ao Centro”, que realiza intercâmbios entre Portugal, Brasil e Espanha, tendo o desenho como plataforma de articulação. Em 2015, Baptista organizou uma exposição de desenhos feitos no Sketchcrawl por colegas dos três países, postada na página “Todas as linhas vão dar a Torres: Portugal, Brasil e Espanha”. No mesmo ano, Baptista (2015b) postou sobre o evento “(A)Riscar o Patrimônio”, ocorrido em Torres Vedras, relatando a participação do sketcher de Santo André, Edward Wandeur, que ministrou um curso de desenho. O evento contou com trinta sketchers, teve como tema o patrimônio industrial e foi sediado em uma antiga fábrica ceramista desativada há vários anos. Um dos herdeiros desta antiga cerâmica esteve presente e fez alguns relatos sobre como era seu funcionamento. Houve um passeio pela zona histórica da freguesia e uma sessão de desenho, cujos resultados foram expostos no Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa.
Em 2016190, Baptista esteve em Araraquara e ministrou um curso de desenho em um evento do Arte ao Centro. Nesta cidade, um dos seus parceiros é o correspondente Joel Venceslau, que participara do “Encontro Internacional de Desenho de Rua”, em Torres Vedras, no ano anterior. Venceslau (2016b) afirma que: Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=549002478635229&set=pcb.1772675602952789&type=3>em:20maio2017.
terceira vez em um simpósio, que o deixou feliz e fascinado: “a união de tantas pessoas talentosas e interessantes, as amizades que vão se formando em cada encontro, e as que vão se estreitando (mesmo levando em conta a distância que separa cada um de nós)”. Kurita (2015a) destaca como um fato importante em sua trajetória ter participado do comitê local do simpósio de Paraty. Carlos Medeiros (2015a) teve experiência semelhante. Para ele, “o amor pelo desenho urbano [...] começou em 2013, desde então isso só cresce”. Além disso, Medeiros acredita que a participação do simpósio em Paraty foi determinante para aumentar sua vontade de desenhar e principalmente de se relacionar com outros urban sketchers, “compartilhando técnicas de desenho e descobrindo um detalhe novo na paisagem a cada folha” do seu sketchbook.
190
188
Ele cobriu o evento, que foi o primeiro no Brasil após duas edições em Torres Vedras. Houve exposições de alguns artistas portugueses e brasileiros em galerias e ateliers, oficinas e workshops, além de sessões de desenho em alguns pontos da cidade (imagem 98).
Imagem 98: Fotografia do Encontro Internacional de Desenho de rua em Araraquara. 2016. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2016/09/encontro-de-desenho-de-rua-em-araraquara.html> Acesso em: 18 jun. 2017.

Nesse encontro pude avaliar como é prazeroso desenhar em grupo, que de uma forma simples e despretensiosa nos apresenta no final de cada oficina uma bela produção de desenhos, a confraternização entre os participantes e também a integração dos desenhistas com o cotidiano local, registrando de forma intensa as paisagens e os costumes.
189
O dia do “Encontro Internacional de Desenho de Rua em Araraquara” aconteceu numa manhã de domingo muito agradável e foi surpreendente tanto pelo número de pessoas que participaram quanto pelo respaldo positivo dos participantes. Foi unânime o reconhecimento do bom astral que rolou no decorrer do evento, os comentários positivos quanto à organização, quanto à postura do Orientador dessa oficina, o André D. Baptista, que com simpatia e talento, conduziu os trabalhos de maneira tranquila, cuidando sempre para que algumas pessoas ainda inseguras acreditassem e se permitissem experimentar o desenho solto. [...] É surpreendente como tudo conspirou a favor para organizar esse evento. E como a atmosfera desses encontros sempre leves, arejadas e descontraídas deixam saudades. Conhecemos novas pessoas, reforçamos amizades, reencontramos queridos amigos, conversamos sobre desenhos e outros olhares. Pensava até que essa atmosfera tinha a ver com o fato de estarmos como turistas em outros encontros em outras cidades, mas verifico que não, isso tem a ver com a atitude do desenho mesmo (VENCESLAU, 2016b).
> Acesso em: 18
Imagem 99: Fotografia de Washington Takeuchi de composição em grupo em Curitiba. 2014. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2014/07/do
190
Os encontros locais são as bases para o movimento e cada evento, grupo ou parte de grupo tem usado da criatividade e se adaptado às características de suas cidades. Em Curitiba, (que em abril de 2017 realizou o mesmo incomum). Alguns sketchers (2014), que participou desta atividade, destaca que é preciso “exercitar algumas qualidades criativas pouco usuais ao desenho solitário”, exigindo que os colegas “consultem uns outros, troquem sugestões, improvisem e ‘criem’ sobre a criação dos colegas, porém buscando valorizá-las”. Por fim, conclui que dividir o traço e as impressões da mesma cena observada é altamente revigorante e energizante. Na imagem Paulo de Carvalho e Cassio Shimizu realizando o referido desenho coletivo.
Alguns grupos têm interesses muito específicos, como desenhar praias, panoramas, multidões, cemitérios, patrimônios bem conservados ou abandonados, passantes e moradores de rua, eventos populares ou étnicos, carros parados ou trânsito intenso, objetos icônicos da cidade, entre muitos outros elementos. Rio, quando ele e mais de dez amigos desenhistas praticaram uma nova ideia chamada seu 100º encontro USk), já aconteceu um caso especial (e resolveram realizar um desenho em grupo. José Marconi
rconi, João

99, vê-se José Ma jun.-edificio-de-eduardo-ao-edificio-de.html2016.
Rafael Fonseca (2011b) relatou um dia de domingoaosno
191
Imagem 10 <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10201923606797105&set=gm.698567936849322&type=3
sketchers saíram de van percorrendo a cidade e (2011) relatou que conhecer o desenho de locação foi uma
ou o encontro no Cemitério da Consolação, em sketchers sentaram-se em túmulos para retratar o icônico local
0: Fotografia de Joel Lobo em SketchJam. 2014. Disponível em: Acesso em: 18 jun. 2017.
Joel Lobo (imagem 100).
SketchJams. >
Sketchcrawls e encontros diversos, como o , como pode-se ver na fotografia postada por

“
Sketch & Van”. Nesta modalidade, os fazendo desenhos. Despendiam entre quinze e trinta minutos para cada desenho. Montalvo Machado experiência transformadora para ele e que hoje sua comunidade é bastante unida em torno de um mesmo propósito, promovendo Neste evento em especial, as pessoas se encontram em bares da cidade de São Paulo para se divertir, ouvir música e desenhar os músicos”
Fernanda Vaz de Campos (2014b) relat São Paulo, quando alguns (imagem 101). Ela comenta que teria medo de visitar aquele lugar sozinha, mas que a companhia dos amigos a encorajou.
191 Informações relatadas por Bajzek em entrevista particular no I Encontro -da-consolacao-ii-19-Nacional.encontro.html>
Acesso em: 18 jun. 2017.

Os locais onde ocorrem os simpósios são escolhidos d membros. Em 2013 houve uma campanha para trazer o simpósio internacional ocorreria em 2014, ao Brasil. A ideia partiu de Campanario, que ao ouvir Bajzek falar sobre Paraty, sugeriu que ele fizesse uma proposição. eles fizeram a proposição e competiram com diversas cidades, tendo vencido a proposta de trazer o evento para a pequena cidade colonial do litoral fluminense. Os membros votaram em plataformas virtuais (aconteceu assim sobre o I Encontro Nacional) e, durante o período de votações, os uniram-se para desenhar em campanha por Paraty. O desenho a fragmento da cidade, com uma janela envidraçada e uma luminária local, é de Carol Gama e está entre os vários postados por Fernanda Vaz de Campos (2013 Todas as produções traziam os dizeres: “ Paraty-Brazil!”
e forma democrática entre os
192
Imagem 101: Fotografia do 19º USk Sao Paulo no Cemitério da Consolação. 2014. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2014/01/cemiterio
191 Com a ajuda de Fernanda Vaz de Campos, também para decidir sketchers seguir (imagem de rua tão comuns no Hi Sketchers” We want the next symposium in USk, brasileirosque102),umb).

em:<http://brasil.urbansketchers.org/2016/11/retrospectivaanhapelo
sketchers curitibanos. 2016. Disponível -urban-sketchers-curitiba_45.html jun. 2017.
> Acesso em: 18
193
simpósio em Paraty. 2013. Disponível em: > Acesso em: 04 nov. 2016. rganizar exposições em grupo, como a Curitiba”, ocorrida em novembro de 2016 na Gibiteca do ). “A sala é linda e possui além de um espaço amplo expressivo, , sketchbooks, originais, livros e cartazes. É modus operandi e as almas de cada artista u Fabiano Vianna (2016).

Imagem 103: Fotografia de Ari Lopes da Rosa dos
Imagem 102: Desenho de Carol Gama em camp <http://brasil.urbansketchers.org/2013/09/wewantthesymposium.html
Os sketchers também costumam o “Retrospectiva Urban Sketchers Solar do Barão (imagem 103 mesas de vidro onde pudemos expor materiais como se as obras da parede espelhassem o preservadas sob o vidro”, escreve

194
sketchers (2014) escreve a fotografia do desenho do Grupo Maratuque na Fonte das -praca-roosevelt-ainda-e-dos.html> Acesso em: 18 jun. 2017.
em:>
192 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1136855149695931&set=gm.1067532053366623&type=3em12jun.2017.
Assim como buscam se reunir e ocupar o espaço público, os participar de eventos que valorizem esses espaços. Bajzek Roosevelt (imagem 104): “achei a praça muito viva, movimentada e ocupada pela população [...] [que] agora assumiu o seu papel definitivo de centro urbano de convivência social”. Rosiane Bastos (2016) 192 postou Pedras durante evento de ocupação dos espaços públicos de São Luís (imagem
procuram u sobre a praça 105).
Imagem 104: Fotografia de Bruno Luccatelli no USk São Paulo na praça Roosevelt. 2014. Disponível <http://brasil.urbansketchers.org/2014/06/a

co é bem utilizado”. Na Cidade de Goiás, devido a chuva,
Marco Túlio Cunha
: “é um lugar muito agradável e bonito, é uma pena que a ão seja tão tímido, algo precisa ser feito para trazer mais
Imagem 105: Fotografia de Rosiane Bastos em evento d <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1136855149695931&set=gm.1067532053366623&type=3
c) comparou os sketchers aos impressionistas, destacando a hoto.php?fbid=1144087285636519&set=gm.975057132614116&type=3
>
evento bem bacana que rolou na cidade, comidinhas orgânicas, artesanato, brechós e várias apresentações. Assim o espaço públi os sketchers fizeram um piquenique na cobertura do pátio no Largo da Carioca. Ariane Borges (2016) 194 escreveu apropriação do espaço pela populaç vitalidade no uso deste lugar”. Bajzek (2013c), na serra da Cantareira, descreve como um complexo de lazer com “um conjunto de edifícios muito interessantes e pitorescos, que abriga restaurantes, cafés, bares e lojinhas [...] É um passeio delicioso e um para Urban Sketchers”. Fabiano Vianna (2015 criação da bisnaga de tintas na época, o que viabilizou aos artistas ire

195
u “O Velhão” playground m para as ruas para >
194 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1349235851814897&set=pcb.1199258300193997&type=3>em12jun.2017.eSãoLuís-MA.2016.Disponívelem:Acessoem:18jun.2017. (2016)193, em um evento do USk Goiânia, escreve: “foi num
193 Acesso<https://www.facebook.com/pem12jun.2017.
pintar, relacionando uma tarde de encontro dos quadro de Georges Seurat intitulada “Uma Tarde de Domingo na Ilha de La Grande Jatte”:
196
sketchers curitibanos (imagem
brothers Seurat, Renoir, Monet, Dega
195“What I love most about it is the opportunity to me learn something new, just because I’m out there putting pen to paper.”
195 de Nova Iorque, afirma que o que et someone new, to discover a place I’ve never been, or to
106) com o urban sketchers e s –cidade,mase
Greg Betza (apud CAMPANARIO, 2012, p. 76), mais gosta é a oportunidade de encontrar alguém novo, de descobrir um lugar que nunca estaria ou aprender alguma coisa nova apenas por estar na rua desenhando. João Pinheiro (2013) relata que gosta da interação que acontece com quem pausa a caminhada para dar u olhada e conversar. Ele conta sobre um dia atípico, quando verdadeiras multidões se formaram em volta dele e de seu colega, gerando estranhamento nas pessoas, que absortas em seus afazeres, desejavam saber por que “dois sujeitos se movem até um ponto da
stro mais potente de uma época. Potentes porque preservam, -contemporaneos-no.html> Acesso em: 03 mar. 2017.
É muito curioso comparar esta cena com nossas experiências croquizeiras, mergulhados nas reuniões citadinas. Neste final de semana voltamos ao Jardim Botânico [...] Verdadeiro desfile de estampas e objetos habituais. [...] O costume parece o mesmo da época dos preencher os gramados, entre as árvores, sentar na grama, conversar com amigos, contemplar a luminosidade dos lagos e desenhar. Pitoresco imaginar os impressionistas desenhando incólumes entre os citadinos, pintando quadros que se transformaram no regi dentro de cada imagem estática, milhares de cenas não fotografadas.

Imagem 106: Fotografia de Davi Cavalheiro no Jardim Botânico de Curitiba. 2015. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2015/07/impressionistas

Eliana Bianco (2016)196 desenhava em São Francisco, nos Estados Unidos, quando parou ao seu lado uma turista chinesa que não falava inglês, mas com gestos dizia que gostou muito do desenho: “são essas as melhores coisas de desenhar numa viagem: a lembrança do lugar, do momento e as inúmeras possibilidades de comunicação que só o desenho oferece”. Carlos Medeiros (2016)197 descreveu como a Avenida Paulista era povoada por “milhares de pokemaníacos” em agosto de 2016, quando houve o lançamento do jogo Pokémon Go: “o melhor neste desenho foi um menino que colou do meu lado e ficou vários minutos observando fascinado. Fico feliz quando crianças param por desenho”. Eduardo Bastos (2016)198, em Maceió, ficou feliz com o interesse de um garoto vendedor ambulante e com os funcionários da loja onde estava encostado. Entretidos com o desenho, os funcionários chamaram os outros colegas de turno e o desenho de Bastos foi passando de mão em mão: “o mais gratificante é observar quantas pessoas ainda se entusiasmam pela arte”.
197
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206309882545810&set=gm.1201389226647571&type=3>em:17jun.2017.
199
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=803866323034670&set=gm.1611704442380714&type=3>em:17jun.2017.
sentam e começam a desenhar”. Pinheiro lista as perguntas feitas pelos passantes: “isso é trabalho?”; “vocês são estudantes?”; “por que estão fazendo isso?” e “fazem retratos também?”. Eles foram fotografados, concederam entrevistas a estudantes de arquitetura e ainda foram filmados por um blogueiro que estava visitando o centro para escrever sobre o local.
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1281214151946098&set=gm.1024699364316559&type=3>em:17jun.2017.
196
Na escadaria Selarón, no Rio de Janeiro, Thaís Machado (2015)199 relata que alguns passantes notaram sua presença e logo surgiu uma pequena multidão em sua volta: “ouvi alguns ‘This is very good’, ‘You are very talented’, ‘Beautiful’, ‘Très Bien’ [...]”. Eduardo Bajzek (2012a) também relata sua viagem à República Dominicana, que proporcionou momentos propícios para o desenho:
Claro que eu não podia deixar de desenhar! E junto com esse prazer vem a reboque o contato inevitável com as pessoas! Turistas...uma família de suíços virou minha fã! Sempre que passavam por mim, perguntavam se eu tinha 'novidades'! As crianças ficam fascinadas não ficam? Os funcionários do hotel e vendedores de praia também vinham curiosos, e sem cerimônia chegavam perto pra ver o que eu estava fazendo! Quases todos perguntavam se eu era arquiteto. Depois diziam “Hola arquitecto!”. O povo dominicano está sempre sorrindo, sempre cantarolando... são muito animados e parecem viver felizes.
197
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10201828470350634&set=gm.1026078030845359&type=3>em:17jun.2017.
198
Os encontros, desde os locais até mesmo os internacionais, têm sido também oportunidades de conhecer novas técnicas e aperfeiçoar aquelas já dominadas, visto a quantidade de cursos e workshops oferecidos, além das trocas informais pelas ruas da cidade hospedeira. Eles potencializam o movimento, que se fortalece a cada reunião, assim como aproxima os membros. Os sketchers têm ajudado, incentivado e ensinado entre si, buscando valorizar as subjetividades e técnicas individuais. Se no item V do manifesto diz “valorizamos cada estilo individual”, a primeira parte do item seguinte diz “nos apoiamos”. O apoio entre os membros pode ser notado em várias postagens e comentários.
Hugo Paiva (2011b), por exemplo, postou sobre um novo pincel d'água e Domingos Linheiro comentou que ainda não conhece esse tipo de pincel. Dalton de Luca, então, se ofereceu a enviar uma amostra para o endereço do colega. Em outro momento, Jony Coelho (2012a) explicou aos colegas, após relacionar as técnicas que utiliza, como fazer um instrumento de bambu para desenhar e Bajzek complementou, citando Kiah Kiean, sketcher malásio que também cria seus próprios materiais.
198
Marcos Bandeira (2013) compartilhou a forma como usa um aplicativo do ipad para o desenho e isso gera certa curiosidade por parte dos colegas. Carlos Medeiros (2015b) escreve sobre seus anseios ao aquarelar e compartilha suas conclusões sobre os materiais ideais para cada ocasião. Em uma postagem sobre luz, linha e cor, Reinoldo Klein (2013b) recebe comentários positivos e dicas de José Marconi: “este diálogo entre cor e linha é intenso e nos levar a conhecer outras dimensões do desenhar”. Bajzek também comenta a postagem, elogiando o desenho e comparando Klein com um sketcher internacional. Marcos Bandeira (2012b) relata um curso ministrado por Bajzek em Fortaleza sobre valorização artística de projetos, e após ter recebido várias dicas de como usar marcadores, ele afirma fazer diversas
Apesar do prazer da interação, às vezes ocorrem contratempos com perturbadores. Dalton de Luca (2015) escreveu sobre o movimento no horário do almoço na Avenida Paulista: “Fui interrompido várias vezes por vendedores, pedintes, gente querendo orientação sobre as ruas próximas e críticos de arte que me ensinavam como eu deveria desenhar”. Jony Coelho (2014a) também vivenciou situação semelhante: “como sempre, os transeuntes param e dão palpites”. Lermen (2012e) escreveu sobre sua ida ao Paço da Liberdade e os mesmos inconvenientes foram sentidos: “comecei a fazer uns rabiscos e uma enxurrada de perguntas veio de todos os lados. Daí percebi onde eu realmente estava. O local é cheio de prostitutas, desocupados e malucos”. Ele conta que surgem perguntas como: "Você tá desenhando?”; “Por que você tá desenhando?”; “É bonito aqui né?”; “Não é mais fácil fotografar?”
3.2 CIDADE E MATERIALIDADE: MEMÓRIA E RESSONÂNCIA
199 experiências. Joel Venceslau (2016)200 postou sobre o 11º USk São Carlos, quando ele e Jaider Bellintani representaram Araraquara. Os dois sketchers encontraram amigos, acompanharam a oficina coordenada por Flávio Ricardo e discorreram sobre as novidades apresentadas por Dany Hladkyi: “a cada encontro aprendemos um pouco mais sobre o olhar e o desenhar”.Todos
200 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1132251200162899&set=gm.1096359567150538&type=3>em:20jun.2017.
Este item abordará a relação do USk com a materialidade das cidades, dando ênfase à questão do patrimônio histórico e cultural, sobretudo no que se refere à arquitetura e aos monumentos e, consequentemente, à memória e história das cidades. Sandra Makowiecky (2012) afirma que percorrer uma cidade é agir como um fisionomista, pois os objetos sempre tem um história para ser contada. Para Benjamin (apud PESAVENTO, 2007, p. 22), as cidades de pedra podem ser lidas, assim como para Michael Pollack (1989), que destaca que a memória é guardada e solidificada nas pedras . É possível, portanto, acessar memórias e a história dos locais através dos monumentos e arquitetura. Maria Lúcia Bressan Pinheiro (2008, p. 27) afirma que é “com a passagem do tempo, que a arquitetura vai se impregnando da vida e dos valores humanos”. Os próprios “monumentos são, por definição etimológica, obras que fixam a atenção, feitas para lembrar [...] [erigidas] como um lugar de memória, como um marco significativo de referência para a rememoração [...]” (PESAVENTO, 2008, p. 10).
esses relatos buscam comprovar o que se afirmou anteriormente, demonstrando que o movimento USk pode ser entendido como uma forma de sociabilidade urbana, pois permite uma aproximação de seus membros através da simples prática de desenhar. Em seguida, será apresentada a relação dos sketchers com a materialidade citadina.
Para Ricoeur (1998, p. 1), “a glória da arquitetura é tornar presente não aquilo que não é mais, mas aquilo que foi através do que não é mais”. Ou seja, a arquitetura e a materialidade da cidade contêm elementos que nos dizem muito sobre o que são, sobre o que presenciaram, mesmo sobre os eventos dos quais forma protagonistas. Ruskin atenta para a importância da arquitetura:
Ulpiano de Meneses (2012) elenca as atribuições de valor ao patrimônio de cinco formas, a saber: valores cognitivos (quando a fruição provém do intelectual, do saber); valores formais ou estéticos (quando a fruição vem dos aspectos formais e das sensações); valores afetivos (quando a fruição vem da subjetividade); valores pragmáticos (quando provém do uso); e valores éticos (quando provém das interações sociais possíveis). De acordo com o artigo 216 da Constituição Brasileira de 1988, o patrimônio nacional é constituído pelos “bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira [...]” (BRASIL, 1988). Vale destacar que, além de incluir como patrimônio o que é imaterial, o documento reconheceu que “os valores culturais (os valores, em geral) não são criados pelo poder público, mas pela sociedade” (MENESES, 2012, p. 33). Se é a própria sociedade que qualifica o patrimônio, quais as consequências de um total ou parcial descaso para comBenjaminele?
200 [...] nós podemos viver sem ela, e orar sem ela, mas não podemos rememorar sem ela. [...] há apenas dois fortes vencedores do esquecimento dos homens, Poesia e Arquitetura; e a última de alguma forma inclui a primeira, e é mais poderosa na sua realidade: é bom ter ao alcance não apenas o que os homens pensaram e sentiram, mas o que suas mãos manusearam, e sua força forjou, e seus olhos contemplaram, durante todos os dias de suas vidas [...] E se de fato houver algum proveito em nosso conhecimento do passado, ou alguma alegria na ideia de sermos lembrados no futuro, que possa fortalecer o esforço presente, ou dar alento à presente resignação, há dois deveres em relação à nossa arquitetura nacional cuja importância é impossível superestimar: o primeiro, tornar a arquitetura atual, histórica; e o segundo, preservar como a mais preciosa de todas as heranças, aquela das épocas passadas (2008, p. 54-5, grifos do autor).
(1986, p. 196) questiona: “qual o valor de todo o nosso patrimônio cultural, se a experiência não mais o vincula a nós?”. Ou seja, se o vemos, por que não o reconhecemos? Por que não desfrutamos de seu espaço enquanto palco da história e por que ele não nos diz respeito em relação às nossas memórias e afetividades? Para resolver esse problema, Pesavento (2005, p. 16) tem algumas sugestões:
A patrimonialização do passado da cidade implicaria em assumir a cidade como propriedade cultural partilhada, o que demanda uma aprendizagem. Reconhecer uma história comum inscrita no espaço da cidade, entender como sua uma memória social, saber ver no traçado das ruas e nos prédios e praças, lugares dotados de sentido, endossar um pertencimento, reconhecendo territórios e temporalidades urbanas, é tarefa que deve ser assumida pelas instâncias pelas quais se socializa uma atitude desejada, indo da mídia ao ensino, do governo à iniciativa privada. Isto implicaria em criar responsabilidades, em educar o olhar e as sensibilidades para saber ver e reconhecer a cidade como um patrimônio herdado.
Para pensar nesse potencial contato, é possível pensar na necessidade/possibilidade de ressonância que há nas cidades. “Tomar os espaços da vida e os objetos de nosso dia-a-dia sem seu devido sentido estético e cultural, ou como diria Darcy Ribeiro, ‘sem ressonância em nosso coração’, é praticar arquitetura (e design) em bases falsas, com propósitos escusos” (FERRAZ, 2007, p. 225). Para José Reginaldo Santos Gonçalves (2005, p. 19), “os objetos que compõem um patrimônio precisam encontrar ressonância junto a seu público”. O autor acredita que o patrimônio situa-se “entre o passado e o presente, entre o cosmos e a sociedade, entre a cultura e os indivíduos, entre a história e a memória”, por isso algumas modalidades de patrimônio podem servir como “formas de comunicação criativa entre essas dimensões” (ibidem, p. 20). Para tornar mais claro, podemos utilizar o conceito do Novo Historicismo sobre o tema, definido por Stephen Greenblatt (1991, p. 250-1):
Os encontros do Urban Sketchers podem ser tomados aqui como um contraponto desta realidade, relacionando-se com o patrimônio material ou imaterial das cidades e dos citadinos, ou seja, aquilo que é edificado, mas também o imaginário das populações, os mitos que envolvem as cidades, suas personalidades etc. Alguns desenham os prédios e descrevem suas histórias, outros retratam a si mesmos, como turistas fotografam-se diante de monumentos (SALAVISA, 2008), outros ainda visitam locais ou param para ver manifestações culturais (e obviamente, desenhá-los). Geralmente há uma reflexão sobre a importância dos locais, da história e da memória, e é isso que torna o urban sketching uma prática que aproxima as pessoas do patrimônio histórico e cultural das cidades. Eles buscam ouvir as pedras e as pessoas, tornar presente o que foi presente um dia, valorizar a (i)materialidade das cidades em suas possibilidades.
Por ressonância entendo o poder do objeto exibido de alcançar um mundo maior além de seus limites formais, de evocar em quem os vê as forças culturais complexas e dinâmicas das quais emergiu e das quais pode ser considerado pelo espectador como uma metáfora ou simples sinédoque. [...] Os críticos ligados ao novo historicismo procuraram entender as circunstâncias que se entrecruzam, não com o um pano de fundo estável e pré-fabricado contra o qual se projetam os textos literários, mas como uma densa rede de forças sociais em evolução e muitas vezes em conflito. A ideia não é encontrar fora da obra de arte uma rocha para nela amarrar com segurança a interpretação literária, mas sim situar a obra em relação à outras práticas representacionais operativas na cultura, em um determinado momento tanto de sua história como da nossa. [...] Se é que esta abordagem, desenvolvida para a interpretação literária, é aplicável a vestígios visuais, ela exige uma tentativa de reduzir o isolamento das ‘obras primas’ individuais, de iluminar as condições de sua feitura, de revelar a história de sua apropriação e as circunstâncias em que chegaram a ser exibidas, de restaurar a tangibilidade, a abertura, a permeabilidade de fronteiras que possibilitaram aos objetos, antes de mais nada, ganhar existência.
201
[...] Certeau afirma que criamos lendas e memórias urbanas transitando e orientando-nos por estes espaços, andando e conduzindo neles, vivenciando-os com os nossos corpos, os nossos sentidos, as nossas associações: as memórias ligam-nos ao lugar. ‘não há lugar’, acrescenta o autor a propósito, ‘que não esteja assombrado por muitos espíritos diversos, que aí se escondem em silêncio, e que podemos, ou não, invocar’. é algo que transcende a história de um lugar; é, também, a soma
Greenblatt (ibidem, p. 252-3) ainda caracteriza uma exposição ressonante:
202
Esse conceito pode ser aplicado à prática do Urban Sketchers, embora devêssemos destacar alguns pontos: a) a ressonância não se dá apenas através de objetos, mas também de locais; b) os sketchers têm contato com objetos e locais que produzem ressonância e uma de suas respostas é o desenho destes; c) alguns desenhos são os próprios objetos produtores de ressonância; d) Os objetos não são apenas expostos em museus, mas também no próprio ambiente da cidade.
Uma exposição ressonante frequentemente distancia o espectador da celebração de objetos isolados, e o leva em direção a uma série de relações e questões sugeridas, apenas semivisíveis. [...] como eram originalmente utilizados? quais condições culturais e materiais que possibilitaram sua produção? Quais os sentimentos das pessoas que originalmente seguraram esses objetos, os acariciaram, colecionaram, possuíram? Qual o significado de meu relacionamento com esses mesmos objetos agora que eles estão expostos aqui, neste museu, neste dia?
Sandra Makowiecky (2012, p. 79-80) afirma que andar pelas ruas de Pompeia nos transporta a uma outra época através de toda a sua arquitetura:
A falta de espaço para templos, para as artes é uma forte tendência, transformando assim as cidades hoje em verdadeiros desertos da cultura. É a presença desses lugares que distingue uma cidade. Mesmo hoje, na Grécia, onde raros monumentos continuam erguidos, é a própria paisagem que desperta o viajante, pois sua configuração revela-se como o berço de todas estas construções. O que lá se apreende é a força do lugar.
Ruth Rosengarten (2012, p. 39) relaciona os escritos de Michel de Certeau com a prática USk:
Ruskin (2008), ao definir o conceito de “Verdade dos Materiais”, reporta-se às particularidades idiossincráticas de cada material, indagando sobre sua constituição geológica, origem geográfica, quanto trabalho foi necessário para extraí-la e quanto trabalho para modificá-la, quem foi responsável por esses trabalhos e quais as técnicas utilizadas. Ele evoca e resgata um passado para o presente, acreditando que não existe espaço sem história. “Quando o tempo é apagado, o presente se ressente, perde-se de seu vínculo como futuro. Passa-se, então, a vivenciar apenas um agora sem passado e por isso, sem futuro, restringindose às experiências de superfícies sem profundidades” (AMARAL, 2013).
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207908338457780&set=gm.945412348911928&type=3>em:20jun.2017.
202
Nas plataformas do Urban Sketchers é possível encontrar uma série de desenhos feitos pelos sketchers em suas cidades ou em viagens em que prédios históricos são retratados. Junto aos desenhos, eles escrevem sobre a história do local, advinda de pesquisas ou de relatos de quem vive nele ou nos arredores.
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10208908314456555&set=gm.1036118433174652&type=3>em:03jun.2017.
203 palimpséstica das experiências subjectivas desse lugar, que acrescenta as memórias individuais e colectivas que dele existem. Os lugares e as pessoas estão intimamente interligados entre si. Talvez seja isto o que procuramos captar quando, dizendo-o nas palavras da declaração de missão dos Urban Sketchers, ‘os nossos desenhos contam a história dos ambientes que nos rodeiam, dos sítios, onde vivemos e dos lugares onde viajamos’.
201
Beto Candia (2012) afirma que sua proposta é inicial é perseguir os pontos turísticos e históricos de sua cidade e região. Ele desenhou o Palácio Rio Branco, em Ribeirão Preto, construído sob as regras estéticas do art noveau (imagem 107) Mateus Rosada (2016)201 desenhou o “Castelinho da Brigadeiro” (imagem 108), casarão em estilo art nouveau em São Paulo: “Passou para as mãos de vários donos até ser vendido em 1977 para a Companhia Mofarrej, que depois da tentativa frustada de demolição, decidiu restaurá-lo em 1996”. Rosada (2016)202 também desenhou a residência original do arquiteto Gregori Warchavchik, por ele projetada em 1928, a primeira residência modernista do Brasil. Alexander Lermen (2012a) desenhou o Palacete dos Garcia, em Londrina, casarão construído em 1947 que recebeu políticos famosos, como Juscelino Kubitschek (imagem 109). O prédio foi tombado em 2011 pelo IPHAN. Domingos Linheiro complementa uma postagem de Eduardo Bajzek (2011a), explicando a história do local desenhado pelo paulista em São Luís, “um provável entreposto de venda de escravos, denominado Cafua das Mercês”.
Com base nessa conceituação teórica, serão apresentados exemplos dos sketchers, trazendo essa relação com a história dos prédios da cidade, com os monumentos e com a cultura imaterial que está envolta dos espaços urbanos. Vale lembrar que “o patrimônio cultural tem como suporte, sempre, vetores materiais” e que, “se todo patrimônio material tem uma dimensão imaterial de significado e valor, por sua vez todo patrimônio imaterial tem uma dimensão material que lhe permite realizar-se” (MENESES, 2012, p. 31). Ou seja, como afirmou o antropólogo Daniel Miller (apud MENESES, 2012), a imaterialidade só pode se expressar por intermédio da materialidade.
<http://brasil.urbansketchers.org/2012/04/palacioImagem108:DesenhodeMateusRosada em: <<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207908338457780&set=gm.945412348911928&type=3SP.2012.Disponívelem:-rio-branco.html>Acessoem:14jun.2017.>doCastelinhodaBrigadeiroemSãoPaulo.2016.DisponívelAcessoem:20jun.2017.>




204
Imagem 107: Desenho de Beto Candia do Palácio Rio Branco em Ribeirão Preto
Paulo Henrique Vieira (2016)203 desenhou a torre do relógio da CTI (Companhia Taubaté Industrial), uma indústria têxtil fundada em 1894. A construção tem 10 andares e um relógio no topo, que se tornou um símbolo da cidade. Paulo Ribeiro (2016)204 desenhou e descreveu a história do casarão da Família Alves, que foi sede da primeira prefeitura de Delfim Moreira-MG. Marcos Bandeira (2011c) desenhou o Liceu do Ceará, localizado no bairro da Jacarecanga, um dos mais tradicionais de Fortaleza nas primeiras décadas do século XX . Simon Taylor (2016)205 desenhou o Instituto de Educação do Paraná, uma das mais antigas instituições de ensino do estado. Leandro dos Santos (2016)206 desenhou o Colégio IDESA, que durante 22 anos atendeu meninos carentes e a praça Monsenhor Silva Barros, ambos em Taubaté-SP.

205
206
Imagem 109: Desenho de Alexander Lermen no Palacete dos Garcia, Londrina. 2012. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2012/03/casarao-da-av-higienopolis-londrina.html> Acesso em: 01 mai. 2017

205
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1102217389<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1107386832632251&set=pcb.1090639504389211&type=3>;815862&set=gm.1084393945013767&type=3>Acessoem:15jun.2017.
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1206471219372101&set=gm.979587825494380&type=3>em:02jul.2017.
203 <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=802747396531312&set=gm.1187550634698097&type=3> Acesso em: 14 jun. 2017.
204 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=754479081366025&set=gm.1166362060150288&type=3>em:14jun.2017.
Felipe Lisboa (2016)208 desenhou o Forte Duque de Caxias, onde aconteceu o 34° USk Rio. Mario Baratta (2012a) conta de sua viagem a Macapá, única capital brasileira em que a latitude é 00º 00', o que ele acha muito interessante, além de lá estar construída a maior edificação militar portuguesa da América do Sul, a Fortaleza de São José (1782), com 84.000 m². A fortaleza , situada na foz do rio Amazonas, nunca precisou ser utilizada para combate. É um belo lugar para contemplar o por do sol, segundo o sketcher.
Flávio Ricardo (2016) publicou desenhos de obras de importantes arquitetos em sua atuação pelo interior paulista. Ele desenhou a residência do Arquiteto Luiz Gastão de Castro Lima, obra com influência de Le Corbusier, assim como a Igreja Nossa Senhora de Fátima, com influência arquitetônica de Frank Lloyd Wright. Ricardo ainda dedicou sua prática a uma construção comercial da rua Episcopal, obra esta projetada por Décio Tozzi e que hoje abriga um centro de treinamento; o edifício residencial Itatiaia, no centro de Campinas, projetado por Oscar Niemeyer; o Centro cultural Casa do Lago, em Campinas, de Joán Villa, o Fórum de Piracicaba, hoje um órgão estadual, de Affonso Eduardo Reidy. Por fim, Ricardo produziu o desenho da imagem 110,
José Clewton (2012b) citou sua participação no evento Docomomo207e postou o desenho de prédios modernistas de Natal para registrar sua participação no encontro. Ele (2015a) também relata sua participação na Caminhada Histórica pelo bairro do Alecrim, em Natal, escrevendo sobre lugares que conheceu além do “ouvir falar”: “no percurso, realizei registros da presença da arquitetura religiosa (Igreja de São Pedro), do cotidiano dos bares [...] da forte presença militar”, referindo-se ao período da II Guerra Mundial, quando foi instalada em Natal uma base militar americana.
206
207 Rede internacional que atua na preservação da arquitetura, do urbanismo e do paisagismo modernos.
esta pequena casa, construída em uma via de grande circulação, na periferia de Santa Bárbara d'Oeste, SP. Sem qualquer projeto ou conhecimento da história da arquitetura, o proprietário construiu, ele próprio, a sua casa. Algo nela me chamou a atenção à primeira vista, e decidi voltar ao local para desenhá-la. Talvez a solução arquitetônica: uma escada disposta em um volume diagonal, destacado do corpo principal e que conduz a um terraço descoberto. Do terraço, chega-se à área de lazer sob a cobertura nos fundos. Mesma disposição das Maisons gratte ciel, Frugès, em Pessac, Bordéus, projeto e construção de 1925, de autoria de Le Corbusier.
208 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1034191353361666&set=oa.1724353247782499&type=3>em:14jun.2017.
2015.Imagem<http://brasil.urbansketchers.org/2016/12/arquitetos111:Montagemcomfotografiaedesenhodedisponívelem:<http://brasil.urbansketchers.org/2015/10/hotel



2016. Disponível em: -no-interior.html> 19 jun.
Imagem 110: Desenho de Flávio Ricardo de casa em Santa Bárbara do Oeste.
Acesso em:
Cláudio Santos no Hotel Tannenhof em Joinville
-tannenhof-por-claudio Acesso em: 19 jun. 2017. 207 -santos-para.html-SC.>
2017.
Linheiro (2012b) desenhou em Lençóis-BA, cuja “origem [da cidade] está relacionada com o garimpo de diamantes no séc. XIX”. Em Viçosa-CE, ele destaca a “vista privilegiada da igreja jesuítica de N Sra da Assunção” (2012), além de escrever que a cidade é um monumento nacional. Já em Valença do Minho, Portugal, Linheiro (2017)210 desenhou uma vila dentro de uma fortaleza na fronteira com a cidade de Tui, na Espanha, separada pelo rio Minho e local onde nasceu o primeiro santo português, São Teotônio (imagem 113).
Imagem 112: Desenho de André Lissonger em São João Del Rey-MG. 2015. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2015/11/caderno-de-desenhos-de-viagens-sao-joao.html> Acesso em: 01 mai 2017.

208
209 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10202726963441245&set=gm.472749132844921&type=3>em:02jun.2017.
Claudio Santos (2015a) desenhou o hotel Tannenhoff, em Joinville (imagem 111): “essa edificação se destaca junto às demais da área central devido à forma diferenciada da sua cobertura, típica das construções germânicas que caracterizam a zona urbana e predominavam na época de sua fundação”. Regina Borba (2013)209 se encantou com a proximidade histórica que o desenho da igreja de Santo Antônio, em São Luís, lhe proporcionou. A sketcher acabou descobrindo histórias cômicas sobre o local, como quando os frades moveram um processo contra formigas que prejudicavam as paredes do lugar e que roubavam alimentos dos armários, “ameaçando a segurança do local”. Lissonger (2015c) estudou as obras de Aleijadinho, em São João Del Rei-MG, no entorno da Igreja de São Francisco de Assis, desenhando no local (imagem 112).
210 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1350069925066870&set=gm.1196053713847789&type=3>em:02jun.2017.
209
Irmgard Schanner (2016)211 desenhou o beco do Batman, na Vila Madalena, em São Paulo (imagem 114), descrevendo as informações sobre o local que conseguiu lá mesmo: “enquanto desenhava via que eu não era a única fascinada pelo lugar, mas muitos que passavam pelo beco, tiravam fotos e faziam selfies”, relata. Schanner concluiu mais adiante: “pensei, que bom é poder desenhar sem precisar de selfie.” Mario Bourges (2016)212 desenhou a Praça Tomi Nakagawa em Londrina, homenagem a uma das pioneiras japonesas a chegar ao Brasil a bordo do Navio Kasato Maru, em 1908, vivendo em Londrina nos últimos 50 anos de sua vida. André Duarte Baptista (2016)213 desenhou o Hospital Egas Moniz, na Freguesia de Alcântara, em Lisboa (imagem 115), enquanto enfrentou duas horas de espera, também relatando sua história e relação com o Estado Novo português.
211
213 05764452079&type=3<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=600376900164453&set=a.114099625458852.1073741828.1000>Acessoem:02jul.2017.
Imagem 113: Desenho de Domingos Linheiro em Valença do Minho, Portugal. 2017. Disponivel em: <https://www.facebook.com/groups/UrbanSketchersBrasil/permalink/1196053713847789/> Acesso em 29 mar 2017


Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1080471331991801&set=gm.969754353144394&type=3>em:15jun.2017.
212 55245234&type=3<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1514640321894461&set=a.532687790089724.121528.1000004>Acessoem:02jul.2017.
210
Um dos encontros do USk Curitiba aconteceu na Casa Estrela, cuja história é descrita por Fabiano Vianna (2013b), destacando seu formato que deu origem ao nome e as referências que tal casa faz aos continentes e aos ideais pacíficos. Na apresentamos os desenhos de Luis Renato Roble percebidas as subjetividades de cada um dos
s image
Imagem
> Acesso el em: ns 116 e 117
> Acesso em:19 jun. 2017.
114: Desenho de Irmgard Schanner no Beco do Batman, em São Paulo. 2016. disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1080471331991801&set=gm.969754353144394&type=3Imagem115:DesenhodeAndréBaptistadohospitalEgasMoniz,emPortugal.2016.Disponív<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=600376900164453&set=a.114099625458852.1073741828.100005764452079&type=3

em: 14 jun. 2017.
e Reinoldo Klein desta casa, podendo ser sketchers ao retratar o local.

3. Disponivel em:
211
13. Disponivel em:
Casa Estrela em Curitiba. 201 -casa-estrela.html> Acesso em: 19 jun. 2017.
Reinoldo Klein de Casa Estrela em Curitiba. 20 -casa-estrela.html> Acesso em: 19 jun. 2017.
Imagem 116: Desenho de <<http://brasil.urbansketchers.org/2013/09/aImagem117:Desenhodehttp://brasil.urbansketchers.org/2013/09/aLuisRenatoRoblede


Murilo Romeiro (2015a) descreve como conheceu Paraibuna, uma pequena cidade às margens da Rodovia dos Tamoios que liga o Vale do Paraíba ao litoral norte de São Paulo. Lá ele desenhou uma residência em estilo colonial, com uns 150 anos, que pertenceu à família do Coronel Eduardo José de Camargo. Ele conheceu o atual proprietário, Joaquim Antônio, de 94 anos, conhecido na cidade como “Quinzinho do Hotel”. Passeando por São Luiz do Paraitinga, o sketcher (2015b) destaca os efeitos destrutivos de uma enchente de 2010 que quase arrasou todo o centro histórico e culminou com a queda da Igreja Matriz de São Luiz de Tolosa. Na imagem 118, pode-se perceber as cores da cidade colonial em seus prédios históricos, retratados por Romeiro.
Ronaldo Kurita (2015c) escreve que sempre tentou localizar a Vila Itororó, em São Paulo, que conhecia só de ouvir falar há tempos. Esta vila, ocupada como cortiço e depois fechada, tem seu estado de conservação comprometido e uma restauração prometida. Sobre um encontro USK na vila (imagem 119), ele relata:
Imagem 118: Desenho de Murilo Romeiro em Paraibuna. 2015. Disponivel em: <http://brasil.urbansketchers.org/2015/06/paraibuna-349-anos.html> Acesso em 23 mar. 2017

A primeira vista da vila, pela janela do galpão de acesso, impressiona e emociona. São tantos pensamentos simultâneos que você se desliga do mundo por instantes. Como isso tudo era logo que construído? Quem viveu ali? Quanta gente vivia ali ao
212
Matthew Brehm (apud CAMPANARIO, 2012, p. 196) do verão ensinando desenho em Roma: “fazer cidade, sua história, sua arte e arquitetura”. Quando Linheiro (2011 desenho da Praça dos Leões, Dalton de Luca comenta: “seu desenho me aproxima dos lugares que você representa. Nunca estive na Praça dos Leões mas parece que eu a conheço a (sic!) muito tempo”. Carlos Roque quando reuniram-se para desenhar pequenas casas de madeira e lambrequins próximas da
215
214“ Sketching in Rome puts us in touch with the city, its history, Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=557762747743998&set=gm.999276806858815&type=3em23mar2017adodeconservaçãodelas.Desenheipouco,decidiexplorar
São Paulo. 2015. Disponível em: -lendaria-vila-itororo-e-os-sketchers.html> Acesso em: 19 jun. 2017.
mesmo tempo!? E na época do cortiço? Enfim, para alguém curioso pelo só serviu para aumentar o interesse na história da Vila. [...] O encontro começou inusitado com as especificações de seguranças inéditas: termo de responsabilidade assinado, uso de capacete de segurança o tempo todo, não adentrar ou se aproxim demasiadamente das construções pelo risco iminente de acidente. O grupo todo colaborou e tudo transcorreu muito bem durante nosso encontro. Acredito que todos estavam hipnotizados pelas particularidades dessas construções além do charme decadente do est seus becos e recortes. Fotografei bastante! Precisamos retornar a desenhar lá, com certeza merece outras visitas.


issoar
nos em contato com a b) compartilha um
>
mais os
Imagem 119: Fotografia de Ronaldo Kurita de encontro USk na vila Itororó, <http://brasil.urbansketchers.org/2015/06/a
214 conta que passa dois meses sketches em Roma põe (2016)215 relata que no encontro USk Brasil, em Curitiba, its art and architecture.” local,
213
Edison Muniz (2016)216 Gonzaga, onde existe uma escultura que ele não considera “esteticamente bonita, mas possui um poder de atração que nenhuma outra na região tem” gerações têm posado ao seu lado ou mesmo montado sobre ela, que é feita de concreto e encomendada para embelezar os jardins. A escultura é conhecida como “O Leão da Praia”.
214
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=557762747743998&set=gm.999276806858815&type=3
Imagem 120: Desenho de Carlos Roque de casas de madeira em Curitiba. 2016. Disponível em:

> Acesso>
praça 29 de março, os antigos moradores viram os desenhos (imagem 1 portadores de muitas lembranças. Como abordado no início do item, os desenhos produzem nos antigos moradores efeitos de ressonância e ativam inúmeras memórias, sempre passando pela afetividade. Ainda nessa postagem, Hipólita Senem comentou: “[...] nesta casa nasci e cresci. Meu pai idoso ainda mora com um irmão pois ali ainda encontram alento pela falta que minha mãe nos faz há oito anos”. Ela escreve que ainda tem o projeto original de construção, mandado fazer pelo seu bisavô que veio direto da Polônia.
20) e os consideraram em: 14 jun. 2017. escreve sobre os jardins da praia de Santos, no bairro do (imagem 121). Ele relata que várias
216 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1253452324688379&set=gm.1007206986065797&type=3em:02jul.2017.
Marilia Varella (2016)217 escreve sobre os carros Ford T que desenhou no Museu dos Transportes Públicos de São Paulo. Em 1928, esses automóveis partiram do Rio de Janeiro na “Expedição Brasileira da Estrada Panamericana”, visando “descobrir, abrir e projetar a rota para uma futura rodovia que interligasse as três Américas”. Foram percorridos à época “26000 quilômetros de estradas, picadas, caminhos, matagais e florestas de quinze países”, relata Varella.Eduardo
Imagem 121: Desenho de Edison Muniz de escultura em Santos-SP. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1253452324688379&set=gm.1007206986065797&type=3>Acessoem:14jun.2017.
215
Bastos desenha atentamente o Profeta Oséias, em Congonhas-MG (imagem 122). Antônio César (2012b) compartilha sua viagem em que conhece o Instituto Inhotim. César desenhou uma obra de Hélio Oiticica (imagem 123): “[...] muitas pessoas paravam, por curiosidade, para ver o que eu fazia”, completa ele. Marcos Bandeira (2012a) posta algumas fotos de sua viagem à Europa. Na imagem 124, ele desenha atentamente a Torre Eiffel, monumento da capital francesa.
217 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1140394156011569&set=gm.987714901348339&type=3>em:02jul.2017.

Imagem 122: Fotografia de Eduardo Bastos desenhando em Congonhas


<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10205011126237714&set=pcb.996548290465000&type=3Imagem123:DesenhodeAntônioCésaremInhotim,Brumadinho<http://brasil.urbansketchers.org/2012/02/institutoMG.2016.Disponívelem:Acessoem:19jun.2017.MG.2012.Disponívelem:-inhotim-brumadinhomg.htmljun.2017.>>Acessoem:19
216

, em viagem pelas cidades históricas de Mi ica do Senhor Bom Jesus de 125), ela relata:
sketch deste obelisco, assim como, também da Igreja de Nossa do Carmo, o a de São Francisco (pra mim a mais bonita de todas), as montanha, os em: nas Gerais, relata que sketch ca
Imagem 124: Montagem com desenhos e fotos de Marcos Bandeira em Paris. 2012. Disponível <http://brasil.urbansketchers.org/2012/03/desenhando

Regina Borba (2015) em Tiradentes assistiu aos concertos de órgão na Igreja Matriz de Santo Antônio e estreou seu caderno artesanal desenhando o instrumento musical, um “belíssimo órgão barroco, construído entre 1785 e 1788”. Ela também conheceu a Basíl Matosinho, onde ficam os profetas de Aleijadinho: “foi emocionante”, diz ela. “Fiz um da estátua do Profeta Ezequiel, feito de pedra sabão, no estilo barroco brasileiro, construído entre 1757 a 1790”. Em Ouro Preto (imagem
217
É uma cidade fantástica e ainda quase toda preservada. Por todo lado que se olha se vê um cenário antigo e histórico para captar as imagens através do desenho. Desenhei o Museu da Inconfidência, inaugurado em 1846 por Dom Pedro II e fi localizado na Praça Central da cidade, onde também fica o obelisco, que foi construído para marca o local onde foi exposta a cabeça decapitada de Tiradentes. Fiz portalumda igrej telhados e casas antigas, os cafés com ambientações antigas, a igreja de São Francisco de Paula (localizada no alto de uma montanha) e a casa de Aleijadinho. -em-campo-europa.html> Acesso em: 19 jun. 2017.
Imagem 125: Desenho de Regina Borba em Ouro Preto- MG. 2015. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2015/02/desenhos-feitos-em-minas.html> Acesso em: 19 jun. 2017.

218
Bruno Lopes Lima, do Rio de Janeiro, relata sobre um dia que saiu para desenhar no bairro Engenho de Dentro (imagem 126). Seu desenho mostra aos fundos os galpões de trem que hoje servem como área de lazer pública sem muros, que “em grupos esparsos e rarefeitos de alguma forma ocupavam e humanizavam as duas áreas monumentais cobertas”. Ele desenhou as quatro estátuas de jogadores de futebol: Garrincha, Jairzinho, Nilton Santos e Zagallo, distribuídas de forma simétrica. Ainda dando detalhes do local, Lima escreve que os galpões, isoladamente, lembravam os das igrejas românicas e daqueles “edifícios em perspectiva perfeita [...] que se veem compondo as vezes o fundo das pinturas renascentistas italianas”. Ele ainda relata que “o conjunto sem dúvida parecia ter o aspecto monumental e místico da famosa igreja de Congonhas com seus profetas de pedra sabão guardando as escadarias em composição teatral, dramática” e que “as montanhas coloridas mas veladas e
219
Imagem
126: Desenho de Bruno Lopes Lima no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1114626351918407&set=a.616306915083689.1073741831.100001131570091&type=3

André Lissonger (2014) conta a história do local do encontro do 14º bairro Campo Grande. O participante destaca o caráter cultural do lugar e como o local foi palco para fatos políticos da história baiana e nacional. Na mesma postagem, ele cita a colega Lilian Farias: “espelhos d'água, fontes, pérgolas, ja para completar o grande Monumento ao Dois de Julho. Vale a pena vivenciar a Praça Campo Grande [...]” (imagem 127).
um céu nublado faziam pano de fundo que dava um clima mineiro, meio Guignard, à imagem.”
rdins, gradil que limita e fecha o espaço, e USK Salvador, o
> Acesso em: 19 jun. 2017.
(2011d) e Mazé Leite (2013)
:
rno foi substituído pela feira que também é um patrimônio ndomblé... Uma atmosfera meio barroca ainda ronda o ,
-encontro-urban-sketchers-salvador_9.html> Acesso em: 15 jun. 2017.

Murilo Romeiro (2014b), visitando o parque Vicentina Aranha, afirma: “o sol estava muito forte e a luz por entre as árvores me fez parecer que estava dentro de uma pintura
Imagem 127: Fotografia de Lilian Farias no 14º Encontro USk Salvador. 2014. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2014/08/14
220
Em viagens ao Maranhão, Domingos Linheiro respectivamente, descrevem suas experiências
Como gosto de visitar mercados que sempre possibilitam a elaboração de variados croquis, fui a Praia Grande ver a feira no interior da antiga Casa das Tulhas. O antigo jardim inte imaterial de interesse. Próximo está a escadaria do beco de Catarina Mina, uma ex escrava que ficou muito poderosa.
Fugi das novidades. Fiquei mais no que representa a cultura maranhense, grandemente influenciada pela cultura de origem indígena e africana, mescladas. Velhas embarcações, construções de palha, artesanato rudimentar, redes, praias, casas de taipa, coqueiros, canoas, redes de pesca, chapéus de palha, imagens religiosas católicas e do ca Maranhão.
221
> Acesso em: 02 jul. 2017.
Imagem 128: Desenho de Marilia Varela no Quintana Café. 2016. Dispo <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1079888998728752&set=gm.927645610688602&type=3
/ Que sou qualquer cousa natural [...]
b) desenhou ontro de céu e mar /
nível em: 8). -os e desejo-lhes
André Lissonger (2016
Enquanto o mar inaugura / Um verde novinho em folha / Argumentar com doçura / Com uma cachaça de rolha / E com o olhar esquecido / No enc Bem devagar ir sentindo / A terra toda a rodar / É bom / Passar uma tarde em Itapuã / Ao sol que arde em Itapuã / Ouvindo o mar de Itapuã / Falar de amor em Itapuã.
impressionista com toda aquela variação de tons e cores”. a Feira de Itapoã, em Salvador, localizada no bairro famoso cantado por Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes e Toquinho. Na feira, segundo Lissonger, “é possível encontrar vestígios dessa baianidade” presente no local. Junto ao desenho, ele lista as características do lugar e cita a canção de Toquinho:
Marília Varela (2016), Curitiba, tem “momento de devaneios” e lembra da poesia de Fernando Pessoa (imagem 12
[...] Saúdo todos os que me lerem, / Tirando à minha porta / Mal a dilig sol, / E chuva, quando a chuva é precisa, / E que as suas casas tenham / Ao pé duma janela aberta / Uma cadeira predileta / Onde se sentem, lendo os meus versos. / E ao lerem os meus versos pensem
quando almoça com a filha no Quintana café e restaurante, em lhes o chapéu largo / Quando me vêem ência levanta no cimo do outeiro. / Saúdo

218 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206467156145578&set=gm.997727110347118&type=3em:14jun.2017.
Imagem 129: Desenho de Sandra Kuniwake na praça Japão, em Curitiba. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10206467156145578&set=gm.997727110347118&type=3
Sandra Kuniwake (2016)218 de Curitiba (imagem 129). Nos comentários da postagem, “[...] tem a ver com a cultura de teus ancestrais e também com o período em que esteve no Japão. Então, imagino quão prazeroso e emocionante foi fazer essa lindeza”. Sandra respond que as cerejeiras têm um significado especial para os japoneses e também para ela mesma. 55º USk Salvador aconteceu no 10º Festival da Cultura Japonesa. Lissonger (2016a) desenhou as multidões de pessoas, exposições, pessoas vestidas com kimonos ou personagens de mangás e as famosas lanternas vermelhas, uma das marcas dessa cultura (imagem 130).
, que tem ascendência japonesa, desenhou a Praça do Japão Vera Lucia Anunciação

Acesso em: 14 jun. 2017. cosplays de >>
222
escreve:eO
223
Imagem 130: Desenho de André Lissonger no Festival da Cultura Japonesa, em Salvador. 2016. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2016/08/lanternas-vermelhas-no-bon-odori.html> Acesso em: 19 jun. 2017.

Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1155191641261636&set=oa.1774257372792086&type=3>em:14jun.2017.
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1224409780942661&set=gm.1039666042819891&type=3>em:17jun.2017.
Thaís Machado (2016)219 marcou o 43º USk Rio para o dia da Consciência Negra de 2016. Ela justifica que historiadores estimam que o Rio de Janeiro foi o porto de entrada de mais de 2 milhões de africanos escravizados, que “entre 1500 e 1856, a cada cinco pessoas no mundo que foram escravizadas, uma colocou os pés no Rio de Janeiro”. Milhões de escravos não suportavam a dura travessia e acabavam morrendo antes de os navios aportarem no destino. Ela convocou os colegas “a conhecer um pouco de nossa história, refazer os passos dos que, escravizados, desembarcaram aqui, e principalmente refletir sobre o passado, presente e futuro”, principalmente porque ainda presenciamos o racismo. O encontro aconteceu no Circuito Histórico e Arqueológico da Herança Africana (imagem 131): “passamos por locais de muita tristeza e dor, mas que são nossa história”. Camila Diógenes Vasconcelos (2016)220 homenageia os candangos, trabalhadores que construíram Brasília, desenhando o Museu Vivo da Memória Candanga no 22° USk Brasília. O local é um conjunto
220
219
> Acesso desenhou no sketchers : pe=3> >
de edificações de madeira original da década de 1950. Preservadas, as construções recebem oficinas, exposições e ainda apresentam muita memória do tempo dos candangos.
Por ser o Brasil um país de raiz cató religiões indígenas às de matriz africana e oriental, muitos imaterial. Camila Diógenes Vasconcelos Guadalupe, em Curitiba, e registr fé do povo”. Leni Fujimoto (2012 primeira missa de São Paulo, no Pátio do Colégio São Paulo Templo Zulai, em São Paulo, o Jardim dos 18 132). Mateus Rosada (2016)222 escreve que São Paulo, cidade que atr cantos do país e de partes do mundo, possui algumas edificações que representam culturas de outros povos, como a Catedral Ortodoxa. Para ele, trata um marco urbano da cidade!” (imagem 13 visitaram um ensaio da Escola de Samba
Imagem 131: Fotografia de Felipe Lisboa do <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1155191641261636&set=oa.1774257372792086&type=3
221 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1130963160287324&set=gm.946570442129452&tyem:02jul.2017.
lica e possuidor de um sincretismo que vai das sketches tratam desse patrimônio (2016) 221 desenhou a igreja Nossa Senhora da ou suas impressões do local: “escutando o terço e sentindo a b) registrou em seu caderno o local onde foi realizada a . Irmgard Schanner
222 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10208783678140725&set=gm.1020730981380064&type=3em:14jun.2017.EncontroUSkRJnaPedradoSal.2016.Disponívelem:em:14jun.2017.
224
Arhats, monges iluminados budistas (imagem aiu gente de todos os se de “um lindo monumento de fé e 3). Em um encontro do USk Rio, os Mangueira. Alessandra Simplício (2017) relata

integrantes, comunidade local e visitantes,
sketchers presentes puderam desenhar neste
Irmgard Schanner no templo Zulai, em São Paulo. 2016. Disponível 11404071126&set=pcb.1105313086255186&type=3em:
Imagem 132: Desenho de <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=11930
Acesso em 14 jun. 2017.
225
chers com localização privilegiada, ao lado das mesas das demais escolas de - como Portela, Salgueiro, Império Serrano, - que foram prestigiar e acompanhar seus compositores homenageados fitriã da festa. Desenhamos toda a tarde ao som de sambas

>
Urban
nição do local se
e abrindo e a luz do dia.
A escolha da data foi motivada pelo feriado de comemorações do dia de São Sebastião, o santo padroeiro da cidade do Rio de Janeiro e a defi deu após convite que recebemos para participarmos da festa de aniversário da Ala dos Compositores da Mangueira fundada pelo Mestre Cartola há 78 anos. Fomos muitíssimo bem recebidos, tivemos mesas e cadeiras reservadas para os Sket samba tradicionais do Rio de Janeiro entre outras pela agremiação an memoráveis, sob ritmos, melodias e poesias de afirmação dos valores culturais negros. O próprio Palácio do Samba traduz em suas cores a paixão verde e rosa, Para além dos seus muitos e exuberantes naquela paisagem urbana este prédio guarda de fato e pulsa toda ancestralidade étnica, cultural e histórica do samba. Destacamos o momento sensação quando pudemos observar o teto retrátil da quadra da Mangueira s invadindo e iluminando a festa dos poetas e sambistas cariocas. Aplaudimos todos!.... E voltamos aos desenhos ali observando e sendo observados por todos presentes, sendo que despertamos especial interesse das crianças da Mangueira Valeu, mesmo em pequeno grupo os local que espelha um pouco da alma da cidade.
Imagem 133: Desenho de Mateus Rosada da Catedral Ortodoxa de São Paulo.

226
2016. Disponível em: em:Imagem<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10208783678140725&set=gm.1020730981380064&type=3134:FotografiadeJoséManuelFerreiradesenhandonaQuintadaAreia,emPortugal.2016.Disponível<https://www.facebook.com/543716009049666/photos/pcb.969526053135324/969514696469793/?type=3Acessoem14jun.2017.Acessoem14jun.2017.>>

227
3.3 CIDADE E SENSIBILIDADE: POÉTICAS DO OLHAR
Desenhar sempre me foi uma atividade contemplação, prazer, im/paciência e autoconhecimento. Há dias bons e ruins. E representar essa metrópole em que vivo através do olhar particular e a partir de uma caneta e uma folha de papel é sempre um desafio empolgante. São Paulo é bruta, gigante, ríspida e invisível em muitos momentos. Deve-se caminhar calma e lentamente para descobrir seus segredos e suas imensas diferenças. Em cada telhado, janela, sarjeta, esquina… uma nova visão. Sentir-se um estrangeiro em sua própria cidade (ISOGAI , 2006 apud DIAS et al, 2016, p. 128).
Acesso<https://www.facebook.com/543716009049666/photos/pcb.969526053135324/969514696469793/?type=3>em14jun.2017.
Como visto, as relações possíveis entre a cidade e a sua (i)materialidade se dão através do desenho e constituem parte significativa do movimento. Quando desenham, buscam conhecer o que estão desenhando, pesquisam, ouvem histórias de quem passa e conhece, leem legendas dos próprios locais/monumentos. Quando dizem respeito a um grupo ou nação, ativam a memória coletiva, Quando subjetivas, as experiências com o patrimônio histórico e cultural podem ser mais gratificantes ainda, já que tratam de memórias pessoais e lembranças de outros tempos. De certa forma, há um resgate do valor histórico/ (i)material dos locais pelo simples fato de o desenho não ser “engavetado”, mas ser compartilhado em rede, estar sempre recebendo novos olhares. No próximo item, será analisada a relação da cidade com a sensibilidade dos grupos que nela vivem.
As lendas e crendices dos povos também interessam e encantam os sketchers. O português José Manuel Ferreira (2016)223 desenhou as ruínas de Quinta da Areia, perto da Praia Azul (imagem 134), em seu país. Acredita-se ter sido o local amaldiçoado por uma sereia que teve sua filha queimada pelos moradores da praia: “a mãe sereia disse aos donos da quinta que a partir daí nunca mais teriam sorte, até à quinta geração. Depois do aviso nunca mais a quinta teve sorte e os donos acabaram por abandoná-la, e mais tarde vendê-la. Hoje continua em ruínas”.224
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Essa citação feita por Kei Isogai traz algumas palavras e conceitos-chave para este último item do capítulo: “olhar particular”, “contemplação”, “invisível”, “caminhar calma e lentamente”, “descobrir segredos”, “nova visão” e “sentir-se estrangeiro”. Todos esses termos estão relacionados com a vivência sensível dos Urban Sketchers nas cidades, estrangeiras ou brasileiras, grandes ou pequenas, litorâneas ou do interior. A história das representações das cidades nas Artes Plásticas, Literatura, Poesia e Música é uma história da sensibilidade
228 urbana, ou seja, uma história de como o homem viu, sentiu e expressou a cidade. Desde as primeiras formações urbanas, ainda no neolítico, o ser humano registrou suas percepções no/do seu espaço. Cidades foram cantadas em poemas (Troia), idolatradas como símbolo de luz em meio às trevas e incendiadas para inspiração poética (Roma), caracterizadas como locus dos maus intentos (Babel), adoradas como símbolo do sagrado (Jerusalém, Meca), fomentadoras de idealismos, lugares de abrigo, reclusão e, paradoxalmente, de comércio e trocas. Protegidas, saqueadas, endeusadas, locais de refúgio e surgimento de novas classes sociais, ambientes propícios para proliferação de pragas e pestes, as cidades também eram, no imaginário coletivo, assoladas por castigo divino. Muitas dessas características chegaram até nós pela representação sensível dos povos.
É possível inserir o Urban Sketchers dentro dessa história, elencando elementos que caracterizam o movimento e temporalidades com as quais ele dialoga. Mas, cabe a pergunta: qual a definição de sensibilidade urbana? Como a cidade pode produzir uma experiência sensível, estética? Argan (1998), ao parafrasear Marcílio Ficino, nos lembra que a cidade não é feita de pedras, e sim de homens. Trata-se não da dimensão de uma função, mas da dimensão da existência. Makowiecky (2012, p. 411) se atenta às possibilidades de olhar esteticamente para a cidade:
Para Sandra Pesavento (2004), a sensibilidade é “uma outra forma de apreensão do mundo para além do conhecimento científico”. Como “percepção e tradução da experiência humana que se encontra no âmago da construção de um imaginário social”, é algo que brota “não do racional ou das construções mentais mais elaboradas, mas dos sentidos, que vêm do íntimo de cada indivíduo”. Assim, as sensibilidades estão relacionadas à uma “espécie de assalto ao mundo cognitivo, pois lidam com as sensações, com o emocional, com a subjetividade, com os valores e os sentimentos, que obedecem a outras lógicas e princípios que não os racionais” (ibidem).
É possível olhar uma cidade de diferentes maneiras, mas provavelmente a que menos se utiliza diz respeito a um olhar estético, isto é, um modo de ver no qual a linha das construções, o traçado das ruas e o movimento dos habitantes ganham um sentido artístico. Não se trata, é certo, de observar apenas as construções antigas ou os monumentos históricos, nem muito menos de privilegiar exclusivamente o que é belo e harmonioso, mas de permitir que os sentidos capturem o cenário urbano de um outro modo, a partir de uma outra perspectiva, que leve em conta o conjunto das suas manifestações culturais. Com este procedimento, o olhar recompõe ângulos, retas e curvas revelando um painel mutante e cenário das mais variadas representações projetadas por uma sociedade permanentemente inquieta.
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A autora baseia-se em Roland Barthes, que distingue e entrelaça o que chama de studium (o campo do saber e da cultura, a bagagem de conhecimento adquirido sobre o mundo e que nos permite buscar as razões e as intenções, deduzir e explicar a realidade); e o punctum (as emoções, o que nos toca na relação sensível do eu com o mundo, o que passa pela experiência, pelas sensações). “O punctum opera como uma ferida, é algo que nos atinge profundamente e frente ao qual não ficamos indiferentes” (ibidem). Pesavento defende que os conceitos convivem, sendo até mesmo indissociáveis, “uma vez que tudo o que toca o sensível é por sua vez, remetido e inserido à cultura e à esfera de conhecimento científico que cada um porta em si” (ibidem).
[As sensibilidades] falam, por sua vez, do real e do não real, do sabido e do desconhecido, do intuído, do pressentido ou do inventado. Sensibilidades remetem ao mundo do imaginário, da cultura e seu conjunto de significações construído sobre o mundo. Mesmo que tais representações sensíveis se refiram a algo que não tenha existência real ou comprovada, o que se coloca na pauta de análise é a realidade do sentimento, a experiência sensível de viver e enfrentar aquela representação. Sonhos e medos, por exemplo, são realidades enquanto sentimento, mesmo que suas razões ou motivações, no caso, não tenham consistência real (PESAVENTO, 2004).
Não pretendo fazer um estudo histórico da iconografia urbana de Florianópolis, e é importante deixar isto claro. Não será possível reconstruir a cidade, ver como ela já foi. Pretende-se ver além disso. Na abordagem deste trabalho, ao se tratar da cidade como imagem, ocorre uma fusão entre a memória, história e fantasia. O trabalho trará um pouco da cidade de Florianópolis como cidade real, na sua dimensão física, mas também e principalmente, como cidade imaginária, como cidade invisível, labiríntica, talvez. Uma arqueologia poética, melhor dito [...]
As sensibilidades podem ser individuais ou partilhadas, mas também há de se levar em conta uma rede de correlações: “o singular se compreende na totalidade em que emerge, e a totalidade se compreende nesta singularidade, na qual se expressa” (ROYSEN, 1998 apud PESAVENTO, 2004). Pesavento (2004) conclui que “as sensibilidades seriam, pois, as formas pelas quais indivíduos e grupos se dão a perceber, comparecendo como um reduto de representação da realidade através das emoções e dos sentidos”. Se no capítulo anterior procurou-se deixar claro que a representação plástica dos locais não tem compromisso mimético com a realidade, vale destacar que nem por isso ela não pode ser considerada real. Essas sensibilidades se exprimem em atos, ritos, palavras e imagens, objetos da vida material, materialidades do espaço construído.
Sandra Makowiecky (2012, p. 12) apresenta sua tese sobre a representação de Florianópolis nas artes defendendo sua metodologia, que se aproxima da história das sensibilidades:
Quem duvidaria, por exemplo, da capacidade de um Balzac, Zola, Maupassant, Eça de Queirós, Charles Dickens, Lima Barreto ou Machado de Assis para falar de suas cidades pela via literária? As tramas são imaginadas, os personagens são fictícios, mas o universo do social e a sensibilidade de uma época se revelam diante do leitor de maneira verossímil, convincente. [...] Poder-se-ia pensar uma Paris da belle époque, por exemplo, sem que o mundo de Proust fosse ativado? Ou uma São Petersburgo dos czares sem a escrita de Dostoiévski ou Tolstói? E, no terreno da poesia, como não invocar a Paris por Baudelaire, a Buenos Aires por Jorge Luís Borges ou a Porto Alegre por Mário Quintana? (idem, 2007, p. 18)
Pesavento (ibidem, p. 18-9) cita também as crônicas de João do Rio ou Olavo Bilac, os diários e relatos de viagens, “em que as sensações são registradas e os detalhes anotados, dando ao leitor de hoje a expressão do olhar de um outro no passado, visitante, viajante e passante de uma urbe determinada”. Essas obras imortalizaram e criaram identidades para essas cidades, ainda que, por exemplo, para os parisienses, “Paris pode não ser “uma festa”, nem a “cidade-luz”, o que, porém, não invalida os processos de conhecimento, reconhecimento e atribuição da identidade urbana” (PESAVENTO,1995b, p. 115).
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Para Pesavento (2004), o estudo das sensibilidades remete ao campo da estética, numa concepção que entende-a como aquilo que provoca emoção, que perturba, que mexe e altera os padrões estabelecidos e as formas de sentir. Essa estética funda cidades imaginárias, ou seja, “as construções mentais e simbólicas” sobre as realidades urbanas. Pesavento (2007, p. 1-2) ainda afirma que “estas urbes transfiguradas, desejadas ou temidas, verossímeis ou fantásticas, que apontam para outros mundos, os dos sonhos e pesadelos, constituem uma forma de leitura sensível da realidade”. Fundamentada nessa ideia, a autora cita alguns exemplos:
Estes textos de Pesavento podem se resumir em uma questão: “o que seria, a rigor, a identidade urbana, senão algo que percorre os caminhos do sensível e do imaginário?” (ibidem, p. 8). A autora defende também que “as cidades nos chegam, enquanto representação, sobretudo pelas imagens visuais”. Escrevendo sobre como as imagens mentais provenientes do arquivo de memória que cada um nos permite ver o mundo com a força da imaginação, Pesavento (2007, p. 21) demonstra como essas imagens que carregamos na memória formulam nosso imaginário sobre as cidades, conceito diferente de imagem: “[...] o imaginário urbano, como todo o imaginário, diz respeito a formas de percepção, identificação e atribuição de significados ao mundo, o que implica dizer que trata das representações construídas sobre a realidade — no caso, a cidade” (ibidem, p. 5).
A Natureza não é nenhuma grande mãe que nos gerou. Ela é nossa criação. É em nosso cérebro que ela toma vida. As coisas são porque as vemos, e o que vemos, e como o vemos, depende das Artes que nos influenciaram. Olhar para uma coisa é bem diferente de ver uma coisa. Não se vê nada antes de ver sua beleza. Então, e só então, ela chega a existir. No presente, as pessoas vêem nevoeiros, não porque há nevoeiros, mas porque poetas e pintores lhes ensinaram o misterioso encanto de tais efeitos. Pode ter havido nevoeiros por séculos em Londres. Eu ouso dizer que havia. Mas ninguém os viu, e portanto nada sabemos sobre eles. Eles não existiam até a Arte os inventar. Agora, deve-se admitir, há nevoeiros ao excesso. [...] Aquela branca e bruxuleante luz do sol que se vê na França, com suas estranhas manchas malvas, e suas incansáveis sombras violetas, é seu último capricho, e, no todo, a Natureza a reproduz de forma bem admirável. Onde ela costumava nos dar Corots e Daubignys, ela nos dá agora primorosos Monets e extasiantes Pissarros.
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Alain de Botton (2012) destaca como Van Gogh descobriu a Provença e trouxe-a ao mundo através do seu quadro Noite estrelada. No texto “A decadência da mentira”, Oscar Wilde (1889) defende que a Arte é a realidade e que a vida é o espelho dela, citando exemplos de como a literatura inspirou pessoas a agirem conforme personagens os quais se identificavam. Defendendo que sua tese se aplica à natureza, Wilde (1889) afirma que só vemos a natureza a partir de quando a Arte a mostra:
Dentro do Urban Sketchers, pode-se falar também sobre cidades próprias. Para este capítulo, foram escolhidas imagens da Brasília de Diógenes, a São Paulo de Bajzek e Nakatani, a Curitiba de Vianna, Raro e Taylor, o Rio de Thaís Machado, a Tubarão de Jony Coelho, entre outras. Na forma como fazem essas cidades suas, tratando-as como suas próprias representações, com suas subjetividades, vendo nelas o que suas preferências apontam, os sketchers colocam nas imagens muito mais de si do que da paisagem vista.
Existe uma relação entre as artes, o imaginário e o que é conhecido por alma da cidade. Sandra Makowiecky (2012, p. 81-2) escreve sobre lugares que poderiam pertencer a um mapa das Cidades da Anima, ou seja, as cidades com alma, e para exemplificar, elenca “a Londres enevoada de Turner, a Paris e o Porto de Havre de Albert Marquet, a lírica aldeia de Vitiesbsk de Marc Chagal, onde os violinistas tocam nos telhados, a Florianópolis de Martinho de Haro” além da “Nova York de Hooper, a Paris de Vlaminck, a São Paulo de Tarsila do Amaral, a Lisboa de Eça de Queiróz”. Haro (apud PEREIRA, 2002, p. 244) endossa a lista, afirmando que “plasticamente se pode dizer que El Greco inventou a cidade de Toledo, [...] que Alfredo da Veiga Guignard criou Ouro Preto das rezas e dos balões coloridos” e que “Canaletto, contemporâneo de Vivaldi, idealizou Veneza […]”.
Mateus Rosada e Domingos Linheiro desenham panoramas de Salvador e Sobral-CE (imagens 135 e 136), aliando domínio técnico e poesia, subjetividade. O desenho de Linheiro
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é chamado por João Pinheiro de “poesia em traços”. Em ambos, a igreja assume o centro da imagem e destaca-se entre os muitos detalhes. Destaca-se também o primeiro plano, que em Rosada é ocupado por uma árvore e em Linheiro, por uma pessoa segurando sua bicicleta.
Imagem 135: Desenho de Mateus Rosada em Salvador. 2017. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2011/12/sobral-ao<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10210208076109784&set=gm.1187032434749917&type=3>Acessoem:12jun.2017.Imagem136:DesenhodeDomingosLinheiroemSobral-CE.2011.Disponívelem:-norte-do-estado-do-ceara-tem.html>Acessoem:12jun.2017.

Efeitos luminosos de fim de tarde são captados por Camila Diógenes na torre de tevê no Eixo monumental, em Brasília (imagem 137); e também por Fabien Denoel em um canal em Vitória (imagem 138). Miha Nakatani, no 100° USk-SP, desenhou o MASP com tons amarelados e avermelhados, que induzem a uma certa melancolia (imagem 139 ). Vale notar que todas as imagens estão despovoadas. Simon Taylor costuma levar Alice, sua filha, aos encontros, incentivando-a a desenhar. No Edifício Salvo, em Montevideo, a menina deixa a imaginação fluir, e Taylor desenhou conforme o que a pequena vê: “segundo Alice, esse edifício, na verdade, é uma pessoa, pois ela conseguiu ver os olhos, o nariz as orelhas e até um chapéu” (imagem 140).

em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1217654164951556&set=gm.1031976350255527&type=3>Acessoem:12jun.2017.Imagem138:DesenhodeFabienDenoelemVitória-ES.2011.Disponívelem:<http://brasil.urbansketchers.org/2011/11/canal-vitoria.html#comment-form>Acessoem:12jun.2017.
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Imagem 137 : Desenho de Camila Diógenes em Brasília. 2016. Disponível


234 Imagem 139: Desenho de Miha Nakatani no MASP, em São Paulo. 2016. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2015/07/conheca-o<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1495951383752714&set=gm.1161119027341258&type=3>Acessoem:12jun.2017.Imagem140:DesenhodeSimonTaylordoEdifícioSalvoemMontevideo.2015.Disponívelem:s-correspondentes-simon-taylor_2.html>Acessoem:12jun.2017.


Uma possível comparação de se fazer com os urban sketchers é com o flâneur, personagem bastante comum nas grandes cidades do século XIX, aquele que das ruas abstraía o que a vida moderna podia oferecer. Benjamin (1989, p. 51) cita Paul-Ernest de Rattier quando reflete sobre essas enigmáticas figuras urbanas: “[nós os] encontrávamos nas calçadas e em frente das vitrines, esse tipo fútil, insignificante, extremamente curioso, sempre em busca de emoções baratas e que de nada entendia a não ser de pedras, fiacres e lampiões a gás”. Essas vitrines são as galerias/passagens, surgidas no século XIX em Paris, locais fechados e repletos de “elegantes estabelecimentos comerciais como se fossem uma cidade, um mundo em miniatura” (GALL, 845 apud BENJAMIN, 1989, p. 34-5).
Três características advêm destas descrições que podem ser aplicadas aos sketchers: a relação com a cidade, a disponibilidade de tempo e a descoberta que o fascina. Essas três características serão demonstradas através de como os sketchers praticam o desenho pelas cidades e como eles mesmos se descrevem. Seguindo essa linha de pensamento, Pellanda (2016 apud DIAS et al, 2016, p. 5) escreve:
enquanto um flâneur precisa andar para garimpar seus parcos tesouros, penso, estes caras apenas esperam, atocaiados (sic!). Atiram sua rede e deixam a cidade fluir por ela. São pescadores de atmosferas. Seu trabalho é reter alguma alma de passagem, o espírito daquilo que muitos gostam de chamar de época. […] Tenho até a sensação de estarem registrando um tempo que já escoou. Isso teriam em comum com os
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Assim, em seu andar errante, a rua lhe mostra o âmago da urbe, revelando-lhe ora uma construção que por ali estar há tanto tempo tornou-se invisível aos olhares mais apressados, mas que por ter a sua própria história surge diante do flâneur de uma forma inteiramente diferente, com outro significado, ora deixa ver os vestígios da noite anterior que a cidade fora outra, ainda que fisicamente fosse a mesma, oferecelhe o olhar efêmero e único da mulher que passa, a qual ele talvez jamais veja novamente; traz aos seus ouvidos a voz por vezes estridente do vendedor ambulante a contrastar com a música que irrompe da esquina mais próxima. É, portanto, a cidade como um organismo vivo que fascina o flâneur (ibidem, p. 18).
A galeria permitiu o desenvolvimento da flânerie, segundo Benjamin (1989, p. 4), pois a “rua se tornou moradia para o flâneur que, entre as fachadas dos prédios, sente-se em casa tanto quanto o burguês entre suas quatro paredes”. Para o flâneur, “muros são a escrivaninha onde apoia o bloco de apontamentos; bancas de jornais são suas bibliotecas, e os terraços dos cafés, as sacadas de onde, após o trabalho, observa o ambiente” (ibidem, p. 5). Costa (2011, p. 17) afirma que, para o flâneur, “o ato de percorrer as ruas da cidade não mantém qualquer espécie de relação com ir de um ponto a outro, tendo um objetivo já pré-definido” e é “pelas ruas, becos, praças e estabelecimentos comerciais que [...] essa cidade oculta se descortina”. Ainda sobre sua prática pelas ruas da cidade, o autor destaca:
Em seus encontros, eles saem às ruas procurando por objetos para capturar, para sentir e tornar seus, com suas canetas de desenho, aquarelas e papéis, tanto quanto o flâneur com suas retinas e memória. Se para mostrar o mundo o sketcher vai acumulando experiências próprias, logo vai formando uma colcha de retalhos, como afirma João Pinheiro (2011b). Tal comparação remete à atitude do trapeiro, que tem de recolher na capital o lixo do dia que passou, mas torna-se poeta porque no próprio lixo encontra o seu assunto heroico. Na lixeira ele encontra tudo o que a cidade grande jogou fora, tudo o que ela perdeu, tudo o que desprezou, tudo o que destruiu (BENJAMIN, 1989).
226 “I fall in love with places through drawing them”.
“Urban sketching gives me a sense of belonging to the city where I live now. It helps me set roots”.
Baudelaire (apud BERMAN, 1986, p. 165) afirmou que antes de tudo, o artista moderno deveria “sentar praça no coração da multidão, em meio ao fluxo e refluxo do movimento, em meio ao fugidio e ao infinito”, em meio à multidão da grande metrópole, onde “sua paixão e sua profissão de fé são tornar-se unha e carne com a multidão — épouser la foule”. Ao descrever a rua da forca, em Salvador, André Lissonger (2014a) aponta para o quão interessante o ambiente pode ser a um sketcher
cronistas: registram a paisagem com os olhos do futuro. Sabem que veem e capturam reflexos. Ideias, desejos, sonhos. E sobretudo, coisas cujo destino inescapável é o sumidouro. Projetos de destroços. E é daí, dessa consciência do escombro, que salta a grande beleza de seu trabalho
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Lugar boêmio por excelência, no Centro Antigo... este pequeno e estreito beco comporta uma série de pequenos negócios e concentra bares e restaurantes populares, de comida barata e tempeiro caseiro. O movimento de pedestres é intenso, aí as conversas variam sobre política, futebol, menu do dia, festejos, bem como sobre a vida alheia. [...] É um dos tipos de atmosfera que um sketcher deve adorar. Possui algumas histórias e crônicas também [...] As texturas em camadas também falam (palimpsestos com grafites, esculturas, urina, sujeira, fuligem, cola, palavras, e burburinhos). Só pelo nome do lugar você deve imaginar...
Hugo Paiva (2011a) afirma que “desenhar a cidade faz com que você tenha uma relação muito intensa com os lugares retratados, pois temos que prestar atenção em cada detalhe do edifício para julgarmos o que vamos registrar ou não”. Campanario (2012, p. 34) afirma que “fazer sketches me dá a sensação de pertencer à cidade onde estou vivendo. Me ajuda a fincar raízes”.225 Virginia Hein, de Los Angeles (apud CAMPANARIO, 2012, p. 50), escreve: “Eu me apaixono pelos lugares através do desenho deles”. 226 Nina Johansson (ibidem, p. 12), da Noruega, diz que “desenhar uma cidade não é apenas capturá-la no papel”,
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237 mas é também “conhecê-la, senti-la, fazê-la sua”.227 “Eu sugiro tomar um tempo para escutar o som e o espírito do seu derredor. Desenhar para mim é simplesmente escutar” 228, diz Benedetta Dossi, de Roma (ibidem, p. 195). A japonesa Kumi Matsukawa (ibidem, p. 244) afirma que, ao desenhar, capta a história do objeto: “o que eu faço é transcrevê-la na forma de um sketch. Isso é como eu entendo tudo que eu desenho.”229 José Clewton (2012a) aprofundou sua relação com Salvador no período de capacitação acadêmica, principalmente “a partir das práticas do ‘percorrer’ os espaços, no intuito de captar suas particularidades, ressaltadas a partir da relação entre espaços construídos e práticas sociais estabelecidas nestes espaços”. Ele conta que desenhar a cidade foi uma forma de captá-la e obter uma forma particular de dialogar com ela, o que se tornou um hábito.
Imagem 141: Desenho de André Lissonger em Salvador- BA. 2015. Disponível em:<http://brasil.urbansketchers.org/2015/05/o-mar-e-salvador-da-bahia-capitulo-1.html> Acesso em: 25 jun. 2017.

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“[...] what I do is transcribe it in the form of a sketch. That’s how I understand everything I draw.”
Lissonger (2015a) escreve sobre a proximidade de Salvador com o mar: “A evolução do seu tecido urbano, desde a fundação até a ocupação desordenada do século XX, possui
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“I suggest taking time to hear the sound and the spirit of your surroundings. Drawing for me is simply listening”.
“Drawing a city is not just capturing it on paper [...]. It’s about getting to know it, to feel it, to make it your own”.
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Ao retratar uma feira (imagem 143), o desenho de José Marconi (2013) desperta em Fabiano Vianna muitas emoções:
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1152197524830392&set=gm.950524441734052&type=3>em:22jun.2017.
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quase 500 anos de relação com as águas do mar”. Ele desenhou a vista com as torres da Igreja da Conceição vista da Ladeira da Montanha, mostrando o ambiente urbano e o marítimo, uma junção de tradição e modernidade banhada pelo mar (imagem 141).
Imagem 142 : Desenho de Kei Isogai no Paço Municipal de Curitiba. 2016. Disponíel em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1152197524830392&set=gm.950524441734052&type=3> Acesso em: 22 jun. 2017.

Olhar para este seu desenho da feira é algo indescritível. A cada movimento do olhar, capta-se uma textura diferente e acho que a feira deve ser assim. E agora
Kei Isogai (2016) 230, desenhando na última tarde do Encontro USk Brasil em 2016 (imagem 142), no Paço Municipal, se encanta com “aquela cena das metrópoles na nossa frente, gente de todos os tipos, sons, cheiros, arquitetura...e sketchers aos montes!”. No desenho, é possível ver alguns sketchers desenhando o prédio, sentados.
Reinoldo Klein (2013a), quando se apresenta no blog, escreve o seguinte texto, que complementa a relação com os espaços urbanos que já foi destacada:
O movimento constante entre o ponto de partida e o de chegada vela os diferentes momentos do percurso diário e, com eles, as particularidades de distintas espacialidades urbanas.Como poderia dedicar um tempo para apreciar a paisagem que se constrói no cotidiano da cidade? Refletindo sobre este aspecto, encontrei no desenho uma oportunidade de materializar a minha percepção particular sobre a rica composição do tecido urbano. Com o tempo percebi que o papel não apenas expressava o meu ponto de vista, mas que meus croquis também me oportunizaram observar o que a cidade tinha a me dizer sobre sua história, significados e conteúdo.
O traço é capaz de registrar minhas memórias de diferentes tempos, mas também simboliza a necessidade sobre um tempo de pausa (emergente) entre nossos percursos, de modo que a história e seus significados não sejam absorvidos pela pressa de se alcançar o ponto de chegada diário. Desde a infância, manifesto especial interesse pelo desenho, razão que me levou a estudar arquitetura e, a partir dela, vivenciar, interpretar e materializar minha perspectiva de usuário que observa e
lendo seu pequeno relato entendo mais um dado que soma-se a isto: as memórias afetivas. Este croqui não é composto apenas de aquarela, marcadores e nanquim. Nem apenas de frutas, motos e flores. Mas de idas com a mãe, cheiros, lembranças, histórias de família, passado, recordações. Eu acho que todo mundo guarda dentro de si uma feira de aquarela com acontecimentos superpostos. Adentrar uma feira é como mergulhar numa piscina de lembranças. Para mim também foi assim quando fomos à Praça 29 de Março. Sempre que puder, quero olhar para esta sua pintura. Sinto como se ela exalasse perfumes e cheiros. Gosto de decifrar elementos a cada novo olhar, definidos por silhuetas ou no negativo das fantásticas texturas.

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Imagem 143: Desenho de José Marconi em feira em Campina Grande- PB. 2013. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2013/12/feira-de-campina-grande-paraiba.html> Acesso em: 22 jun. 2017.
Rosengarten (2012, p. 37) afirma que o desenhador sabe que há de parar, pois o desenho urbano desacelera-nos: “fazemos uma pausa quando toda a gente à nossa volta está em movimento; temos de nos imergir na nossa envolvente, seja ela arquitectónica, natural ou social, ao mesmo tempo que permanecemos à tona o suficiente para executar o desenho”. A correria do dia a dia e a falta de tempo para o lazer versus o cotidiano de pessoas que conseguem tempo para seus hobbies foi o tema de uma entrevista que Thais Machado (2015a) concedeu ao canal Futura. A participante falou sobre o seu hobby, o desenho de observação; sobre o Urban Sketchers, de como arruma tempo para desenhar; e principalmente, como tal prática é extremamente necessária no seu cotidiano. Machado relata que por muito tempo se privou de desenhar, atividade vista por ela apenas como lazer e por isso algo não tão importante; ao mesmo tempo se entristecia, pois as coisas que considerava importantes pesavam nos seus ombros e faziam-na infeliz. “Hoje eu criei o tempo para desenhar […] A cada quinze dias eu tenho um compromisso comigo: acordar de manhã, juntar meu material, e desenhar a cidade mais maravilhosa do meu coração”. Como ela bem relatou, algumas
O sketcher pode sair em uma busca que pode ser totalmente desinteressada, e mesmo quando pré-planejada, geralmente é enriquecida pelos contratempos e imprevistos. Nicolas Morgan (2013), inglês que vive em Santos-SP, afirma: “agora me dedico totalmente à arte plein air. Saio todos os dias e vou desenhar a vida exatamente como ela se desenrola à minha frente - pode-se dizer que é um modo de vida impressionista”. João Pinheiro (2012b) relata como tem saído pouco para desenhar por conta de seus compromissos, por isso guarda a vontade de fazê-lo: “andar sem rumo pelo bairro em busca de um tema que me agrade, um ângulo, uma casa exótica ou até um simples poste atulhado de fios elétricos”. Em outro momento, relata que “quando se tem disponibilidade se desenha mais e melhor”, por isso incentiva a dedicação de um tempo diário para tal tarefa:
Meia, uma, duas horas, quatro, não importa. O que importa é se comprometer com aquela meia hora do dia, que seja, para desenvolver uma rotina de trabalho. A ideia de carregar um caderno para onde quer que se vá, de desenhar nele e anotar ideias que surjam em plena área pública é muito bonita, me agrada bastante e fico contente em saber que tantas pessoas hoje em dia compartilham dessa minha paixão, aliás, um número cada vez maior, diga-se de passagem. (2014)
240 participa da construção do meio. O movimento do Urban Sketcher abre espaço para o retrato do olhar plural sobre cidade e a construção coletiva das diferentes imagens que significam o modo como as percebemos e vivenciamos. Poder colaborar com este movimento é, de fato, uma experiência potencial da retomada de significados urbanos pouco observados coletivamente.
231 Uso o termo “como hobby” para diferenciar essa prática do desenho profissional. Diversos membros e instrutores do USk vivem do seu trabalho como desenhadores, ilustradores etc. Outros lançaram livros, venderam suas produções, entre outros.
pessoas não conseguem enxergar a importância do desenho de locação como atividade de lazer porque ele não gera lucros nem se articula com o mercado de arte.231
“Desenhar não se encaixa no processo de produtividade capitalista, está em outra esfera”, defende João Pinheiro (2012b). “Escolher o que vai ser registrado não passa por um processo científico”, mas por uma “mistura de senso estético, perspectiva, ângulos, linhas, intuição, batidas de coração, memória, muita memória”, continua. Para Pinheiro, explicar esse processo é como tentar “explicar o inexplicável”, pois há uma aura e uma alma no desenho, o que lembra a prática de alguns artistas que aguardavam aquilo que chamavam de inspiração. Isso ocorria quando a ideia do gênio artístico ainda estava muito em voga. João destaca a importância do tempo e de não ter de lidar com prazos, de poder guardar o desenho na gaveta “para rever meses depois e talvez, ao revê-lo”, descobri-lo não tão mau assim.
‘- Que perda de tempo! Todos nessa fila esperando tantas horas por nosso voo!’disse uma senhora bem elegante que estava duas pessoas a minha frente numa fila de aeroporto para embarque. Comecei a perceber que nos últimos tempos tenho passado muitas horas em vários aeroportos… O aeroporto é um lugar que, bem ou mal, quase todo mundo tem sobra de tempo. [...] Assim, pude realizar meus sketches. E comecei a perceber também que ‘sobra de tempo’ não é o mesmo que ‘perda de tempo’, como comentou aquela senhora elegante. Esse tempo que ‘sobra’ pode ser transformado em tempo que se ‘ganha’.
241
Hugo Paiva (2012c) menciona que em um gelado feriado ele e um amigo foram para a Avenida Paulista fazer uns desenhos, ouvindo perguntas do tipo: “mas você faz isso sem motivo?”. Tal questionamento soa para ele muito intrigante, pois não saberia responder. Como o próprio sketcher afirma, “estamos vivendo hoje nos tempos em que para muitos, se algo não tem um fim comercial, mesmo que um desenho de final de semana, ele perde o sentido”. Simonetta Cappechi (apud CAMPANARIO, 2012) relata que, por ser uma prática incomum, as pessoas param e conversam com ela, intrigadas. Em um determinado dia, ela assustou alguém que pensou que ela fosse uma funcionária municipal registrando algum uso impróprio do espaço público. Felizmente, alguém que reconheceu seus sketches elogiou-a e agradeceu por ter sido inspiração para a sua retomada ao desenho depois de anos.
Adriana Dantas (2016b) escreve sobre sua experiência e reflexões sobre o tempo gasto em aeroportos (imagem 144):
242
No tocante a estes ‘espectadores da urbe’, há que distinguir entre o que se poderia chamar de ‘cidadão comum’ ou ‘gente sou importância’, que constitui a massa da população citadina, e os que poderiam ser designados como ‘leitores especiais da cidade’, representados pelos fotógrafos, poetas, romancistas, cronistas e pintores da cidade. Naturalmente, há uma variação de sensibilidade e educação do olhar entre os dois tipos de consumidores da urbe. [...] Podemos afirmar que há ‘leitores privilegiados’ da cidade, com habilitações culturais, profissionais e estéticas que os dotam de um olhar refinado, sensível e arguto. É o caso dos citados escritores, fotógrafos e pintores do urbano, que resgatam as sensibilidades do real vivido, estabelecendo com a cidade uma relação privilegiada de percepção. Isto não quer dizer [...] que os ‘homens comuns’ não sejam dotados de sensibilidade ou que sejam incapazes de elaborar representações’.
Imagem 144: Desenho de Adriana Dantas em aeroporto. 2016. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2016/10/conexoes-sketching-aeroportos.html> Acesso em: 13 jun. 2017.

“Nós mostramos o mundo, um desenho por vez”
Domingos Linheiro (2011a) afirma que sua atividade profissional no IPHAN levou-o a vários lugares do país e que sempre registrou aspectos do nosso patrimônio cultural,
Pode-se dizer que, para muitos, participar do Urban Sketchers promove uma revolução no olhar. A parte final do item VIII do manifesto, “um desenho por vez” pode ser pensada como uma oposição a simultaneidade de visões, mesmo uma massificação da imagem que é própria das cidades. Tornar-se um sketcher pode ser uma mudança que transforma o “cidadão comum” em um leitor privilegiado da cidade, conforme Pesavento (1995a, p. 283-4) destaca:
232 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1027906717297295&set=pcb.1027906957297271&type=3>em:03jul.2017.
233 “I sketched my new street and marveled at the height of the fir trees up the hill. I drew bus commuters lost in their own thoughts, bent over their laptops working on a crossword puzzle, or sipping tall cups of coffee. I sketched the snowcapped mountains around Puget Sound as my kids played on the beach”.
Eu fiz esboços da minha nova rua e maravilhei-me com a altura das árvores no topo da montanha. Eu desenhei passageiros de ônibus perdidos em seus próprios pensamentos, inclinados sobre seus laptops, completando palavras cruzadas ou saboreando altos copos de café. Desenhei as montanhas cobertas de neve ao redor do estuário de Puget Sound enquanto meus filhos brincavam na praia.233
243
Esses relatos mostram como a prática USk proporciona um olhar mais minucioso para a cidade. Alejandra Kirkwood (2016), de Salvador, ao apresentar-se no blog USk, reconhece essa potência do urban sketching:
Essa mudança na forma de olhar é como uma conversão os olhos do citadino em olhos de estrangeiro, que vê tudo com espanto, com curiosidade, com surpresa. Nas ruas encontramos inspiradores modelos para ver e desenhar. Segundo o conselho de Pierre Hamp (1935 apud BENJAMIN, 1989, p. 213), deve-se “sair de casa como se viesse de longe; descobrir um mundo, que é aquele no qual se vive, começar o dia como se desembarcasse de Singapura, como se jamais tivesse visto o capacho de sua própria porta nem o rosto do vizinho do mesmo andar”. No túmulo de Baudelaire, o poeta Theodore de Banville escreveu que ele “foi capaz de conferir beleza a visões que não possuíam beleza em si, não por fazê-las romanticamente pitorescas, mas por trazer à luz a porção de alma humana ali escondida” (BOTTON, 2012, p. 152). Baudelaire tornou a cidade digna de ser poetizada porque viu
especialmente da arquitetura, registros esses guardados em velhos cadernos. Ele ainda afirma que continua no exercício de conhecer, de se encantar e registrar a diversidade de cenários que se apresentam, em qualquer lugar que ele esteja. Thais Machado (2016)232 descreve o 34º USk Rio, no Forte Duque de Caxias, local que, desconhecido para a maioria do grupo, “foi uma maravilhosa surpresa e experiência, todas as vistas eram incríveis e inspiradoras!”. Gabriel Campanario (2012, p. 11) relata:
Percebo que nos meus momentos antes do USk eu reparava apenas nas alturas dos prédios, os espaços que eles ocupavam, o skyline da cidade, veículos, ou seja, esquecia totalmente da relação entre o lugar e as pessoas, a relação humana que deveria existir no ambiente. Pós USk eu vejo tudo muito claro, como a vida que existe nas cidades, as figuras de bairro, muros grafitados que fazem parte da história do lugar, paredes perfeitas ou caindo aos pedaços que trazem os vestígios do tempo, odores e sabores, por fim, percebo a dinâmica e vitalidade do meio urbano. Eis que o grande estímulo de viver novas situações em locais que nunca estive continua existindo graças aos encontros com os croquizeiros da minha cidade.
Ao prestar atenção às rotinas triviais da nossa existência ordinária, acabamos por vêlas a uma nova luz, como se (mais uma vez) de novo. na descrição sucinta do dramaturgo britânico Christopher Fry: 'Quero olhar para a vida - para os lugares comuns da existência - como se tivéssemos acabada de virar uma esquina e déssemos de caras com ela pela primeira vez'. O quotidiano é o oposto do sublime ou do extraordinário, mas a proposta é: se eu imergir mais plenamente nessa banalidade, se a analisar com exactidão forense, algo novo revelar-se-á ante mimalgo mágico e poético.
234 “Sketching is a unique way of telling stories as I discover the world.”
Ao olharmos com papel e caneta na mão, e nos dedicarmos a desenhar o que vemos, podemos encontrar diversas cenas e objetos que nos passavam despercebidos anteriormente. Moles (1986) escreve que a descoberta da cidade é um labirinto eternamente renovável, onde quem nele adentra não é um ser completamente perdido ou sem rumo, mas alguém que lida com memória e sensação, experiência e bagagem intelectual. Como Teseu no labirinto, este indivíduo recolhe microestímulos da cidade que apresentam caminhos que se abrem e se fecham e adentra numa aventura de descobertas pelo espaço que já passou inúmeras vezes.
244 beleza onde ninguém mais via, porque se ateve ao trivial, ao comum, ao corriqueiro, ou seja, trouxe uma nova possibilidade de olhar para o ambiente no qual vivia. Ruth Rosengarten (2012, p. 29-30) afirma que:
Nelson Brissac Peixoto (1996) afirma que através da imagem podemos ver o invisível. O invisível não é, porém, alguma coisa que esteja além do que é visível. Mas é simplesmente aquilo que não conseguimos ver. Ou ainda aquilo que torna possível a visão. Paul Klee, em uma citação famosa, afirmou que a arte não reproduz o visível, mas torna visível (2001, p. 52). Paul Wang, de Hong Kong (apud CAMPANARIO, 2012, p. 234), diz que “fazer sketches é a única forma de contar estórias enquanto eu descubro o mundo”.234 Wil Freeborn, de Glasgow (ibidem, p. 64), afirma que desenhar “tem sido uma grande forma de explorar e descobrir mais sobre onde eu vivo”.235
No blog USk, Dalton de Luca elogia os desenhos de Rafael Fonseca (2011c) no Outeiro da Glória: “cada desenho que você faz mostra um lugar do Rio que a gente não conhece, como essa igreja. Vai dando uma vontade de viajar”. Luca também elogia João Pinheiro (2011d): “parabéns por descobrir beleza em nossa cidade e nos inspirar”. Cristina Jacó complementa: “o engraçado é que minha rua se parece com a sua e eu nunca senti vontade de desenhá-la”, o que nos remete a invisibilidade tratada mais acima. Sobre o 99º
235 “It’s been a great way to explore and find out more about where I live.”
Imagem 145: Desenho de Raro de Oliveira no bairro Marechal Hermes, no Rio de Janeiro. 2016. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2016/12/um-rio-muitos-rios.html> Acesso em: 22 jun. 2017. Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1332094986840644&set=gm.1151888554930972&type=3>em:01maio2017.

Prefiro fazer, sempre que possível, meus deslocamentos a pé. A percepção do ambiente construído, sem a mediação do automóvel, ou a velocidade aumentada de qualquer outro meio, é muito mais intensa para o pedestre. Quando, ainda, o caminho é rotineiro e bem conhecido, procuro variar o percurso, buscando desvios e caminhos alternativos. Muitos dos desenhos que faço, principalmente nas cidades que frequento, repletas de paisagens habituais para mim,começam por um percurso deste tipo. Nesta busca por percepções renovadas, sinto especial interesse por locais nos quais percebo uma ruptura do traçado urbano habitual.
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Quando viaja ao Rio de Janeiro, Raro de Oliveira (2016b) afirma que vê muitas cidades diferentes dentro da capital carioca. Segundo ele. “não há como não ter uma síncope de vontade de sair registrando tudo”. Oliveira relata que começou a desenhar já no aeroporto e enquanto sobrevoava São Paulo, que foi a bares, exposições de quadros impressionistas, onde desenhou as obras, e a outros locais, onde também foi “devorando paisagens com seu caderno”. A reação de um trio de forró desenhado por ele também é mencionada, já que o grupo ficou surpreso com a produção. Nos trens e metrôs, o sketcher desenhou vendedores, turistas idosos, casais aos beijos, pessoas indo ou retornando do trabalho, desenhou cenas noturnas, também o bairro Marechal Hermes (imagem 145), pouco explorado pelo turismo, mas com muitos “tesouros”, segundo ele.
Encontro do USk São Paulo, Kei Isogai (2016)236 relata: “Pouco conhecia do bairro da Penha, o encontro me proporcionou ver um novo local”. Flávio Ricardo (2015a) discorre sobre sua preferência por caminhadas ao invés do uso de automóveis e como isso renova seu interesse pela cidade:
236
Uma outra forma que os urban sketchers têm de estar próximos da cidade está relacionada com a vida acadêmica. Como muitos membros são arquitetos e professores universitários, estes levam a prática para a sala de aula - ou melhor, tiram os alunos da sala e levam-nos às ruas. Duas questões centrais incomodam estes professores-sketchers. A primeira é a pouca habilidade técnica para o desenho, como apontam Castral e Ribeiro (2013, p. 129130), para os quais “as habilidades específicas que o curso de Arquitetura e Urbanismo aperfeiçoa são acompanhadas da construção do pensamento através do desenho [...] participando da formação da visão crítica em relação à cidade”. A segunda questão é o pouco conhecimento do meio onde vivem, como aponta Cláudio Santos (2015b):
É uma delícia viajar através dos desenhos de Jota Clewton. [...] Folheio e (re)folheio, os fólios de passagem e, somos transferidos de cidade em cidade, ganhando o mundo, desenho a desenho. O aparente caos da organização não é geográfico, não é temático, não é por categoria, nem é por nada acadêmico... é uma viagem após a outra. São tantas ‘Cidades Invisíveis’ que ali estão, e trazidas à tona pelos belíssimos croquis [...] Lembro e (re)lembro, (re)lembro e nos dá aquela boa sensação de querer desenhar compulsivamente e não mais parar. É o amor a isso de desenhar e conhecer o mundo desenhando. Viajar, navegar, e desenhar é preciso.
Lissonger escreve sobre a experiência de folhear o livro “Ganhei o mundo”, de José Clewton, que reúne desenhos feitos durante as viagens do autor. Abaixo, o relato de Lissonger (2015d) e o desenho de Clewton em Sobral-CE (imagem 146):
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Imagem 146: Desenho de Jota Clewton em Sobral- CE. 2011. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2015/11/resenha-do-livro-ganhei-o-mundo-de-jota.html#comment-form>Acessoem:13jun.2017.

André Lissonger (LISSONGER; BARRETO, 2015) promoveu um curso de Croquis Urbanos em Encontros do USk Salvador, buscando um aprendizado mais empírico do que teórico, além de associar uma disciplina acadêmica com uma prática de desenho urbano não institucionalizada. O curso visava a fazer da própria produção dos envolvidos um dos motes de discussão ao final dos encontros. Lissonger relata que eles foram a locais conhecidos da cidade, onde os alunos trabalharam com liberdade expressiva e tiraram suas dúvidas com os professores e desenhistas mais experientes.
Em alguns cursos de Antropologia, o urban sketching também se faz presente. Karina Kuschnir (2016) ensina desenho etnográfico e leva os alunos para saídas de campo, que relatam sentir sua percepção auditiva aprimorada ao desenhar, permitindo capturar melhor sons do ambiente. Os estudantes costumam registrar frases e conversas ouvidas no ambiente observado. Para os antropólogos, o desenho etnográfico é de suma importância e, assim como para os arquitetos, ajuda a perceber melhor o seu objeto de pesquisa e trabalho, que são as pessoas e seus contextos socioculturais.
Uma última percepção sobre o universo sketchers e a sensibilidade das cidades se dá na percepção e poetização dos ambientes urbanos. Para Menezes (2013 apud PONTES, 2013, p. 231), “as cidades e, em particular, os maiores centros da era moderna foram e são espaços
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O profissional arquiteto urbanista [...] que possuir deficiências na representação de suas ideias e restrições na percepção do meio em que projeta, certamente encontrará sérias limitações em diversas áreas de atuação. Preparar o estudante, não só no campo teórico mas também através de práticas de simulação conectadas à realidade das cidades, proporciona uma formação de melhor preparo para lidar com as demandas contemporâneas da profissão. Atividades que tragam possibilidade de experimentação de diferentes técnicas manuais de desenho e pintura, associadas à percepção ambiental baseada em fundamentos teóricos para escolha de cenários e sua representação, podem suprir as carências identificadas atualmente junto aos estudantes.
Cláudio Santos, André Lissonger, Jony Coelho, Fernando Simon, Reinoldo Klein e José Clewton, entre outros, promovem saídas de campo com os alunos para desenhar nas ruas, relatando várias experiências nas plataformas USk. Os alunos de Cláudio Santos (2015b) realizaram durante doze meses um acervo gráfico dos cenários joinvillenses mais significativos, construídos estritamente com técnicas, materiais e instrumentos para representação manual. Ele percebe que grande parte desta geração de estudantes circula pouco a pé na cidade onde vive, seja por causa da violência, da falta de estrutura para pedestres, seja pela distância a ser percorrida. Isso afeta os estudantes de Arquitetura e Urbanismo, que devem conhecer os territórios onde futuramente intervirão.
Ver a cidade renascida através do olhar dos artistas, de perceber como ele elabora a cidade, a sua cidade. A cidade impregnada de sua subjetividade, de sua memória, de sua vivência. O homem que observa a sua cidade constrói um mundo e quer compartilhá-lo com outros. Abdica de sua privacidade e torna públicos seus sentimentos. Por isso, não importa que as cores escolhidas sejam ou não diversas das cores reais. A sua expressão é a sua realidade. Em inúmeros desenhos, pinturas, imagens, depoimentos, veremos a cidade ser delineada em seus aspectos múltiplos, seus aspectos mais cotidianos, particulares e pessoais.
248 de material inesgotável para a poesia e a literatura, pois esses se renovam a cada dia ao produzir novas sensibilidades”. Carlos Fajardo (2013 apud ISODA, 2013, p. 66) afirma que “o desenho envolve uma poética do olhar”. Essa poética é tratada na carta do crítico formalista russo Viktor Chklovski para Roman Jakobson em 1922, que aborda o peso dos hábitos inconscientes que de tão forte anulam a vida que passa:
Assim, a arte e as produções artística e plástica podem fazer o senso poético renascer, assim como fazer renascer uma cidade, como defende Souza (1960, p.12) ao falar sobre o ressurgimento que uma cidade experimenta ao ser abordada no campo das artes:
Que interesse pode ter, no entanto, a descrição de uma cidade? Nos dá a impressão de contemplarmos um cadáver. Tentemos, pois, animá-la com um toque de vida, com um sopro humano. Imaginemos um ser qualquer, um homem comum, que a ama e a observa e, carinhosamente, anota as impressões que sentiu. Este homem terá reminiscências, falará das coisas que mais perto estiverem de seus conhecimentos, do seu caráter e do seu temperamento. As paisagens e os fatos tomarão cores talvez diversas das reais. Mas isso terá alguma importância? A cidade renascerá, eis o principal. Não a cidade tal como ela se possa apresentar aos olhos de quem quer que seja. Apenas a cidade construída e sentida por esse homem comum.
Com base nestas três citações acima, podemos perceber a potência da expressão artística, sua possibilidade de despertar sensibilidades e fazer renascer a imagem de uma cidade, tornando-a não mais uma cidade qualquer, mas uma reunião de subjetividades e afetos.
Fundamentada nisso, Sandra Makowiecky (2012, p. 2) escreve sobre a cidade renascida pelo toque do artista:
Se estudarmos com suficiente atenção as leis da percepção, não tardaremos a perceber que os atos habituais tendem a se tornar automáticos.[...] Para ressuscitar nossa percepção da vida, para tornar sensíveis as coisas, para fazer da pedra uma pedra, existe o que chamamos de arte. O propósito da arte é nos dar uma sensação da coisa, uma sensação que deve ser visão e não apenas reconhecimento. (CHKLOVSKI apud GINSBURG, 2001, p.16).
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1111946562228895&set=gm.1090566904396471&type=3>em:03jul.2017.
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Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207292720150554&set=pcb.1202910789828748&type=3>em:14jun.2017
238 < Acessohttps://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1554062964898070&id=100008831435115>em:13jun.2017.
Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1014003078707068&set=gm.997105873742575&type=3>em:03jul.2017.
Os sketchers, com os olhos afiados, podem extrair poesias das cenas urbanas. Cleiton do Carmo (2016)237 desenhou uma árvore que o encantou, em Planaltina-DF. Jony Coelho (2016) 238 desenhou o campanário de uma igreja Luterana (imagem 147) no 2º USk Florianópolis: “Achei interessante o singelo campanário contrastando com a brutalidade do edifício sendo construído ao fundo. Dinossauro prestes a devorar uma flor”. Áureo Castelo Branco (2017)239 denomina seu passeio por Teresina como um “passeio sentimental” (imagem 148). Petterson Dantas (2016)240, viajando pelo litoral potiguar, visitou “o pitoresco município de Galinhos, antigo povoado de pescadores, [onde] o tempo passa mais lento e na praia do Farol as ondas do fim da tarde desafiam a enfrentá-las ou apenas admirá-las, tal qual faz o farol há 85 anos” (imagem 149).
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Fabiano Vianna descreve o 2º USk Curitiba, na Casa Vilanova Artigas, afirmando que o local renasceu diversas vezes graças ao desenho de cada sketcher que a visitou. Com base em Ítalo Calvino, cabe a nós interrogarmos aos deuses da cidade, que elementos comuns distinguem uma cidade da outra. Sua identidade, sua cara, sua alma, seu modo de ser, seu espírito. Quanto mais conhecemos a cidade, quanto mais repertório da imagem urbana adquirimos, mais sensíveis às suas nuances nos tornamos. Por isso, é possível interpretar as cidades a partir das muitas outras já vistas, pois essas cidades, gravadas em nossas memórias, facilitam a compreensão de nosso julgamento estético e tornam nossa fruição um ato anacrônico, em que as muitas cidades do passado renascem na cidade do presente. Para Pesavento (2007, p. 21),
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contemplar uma cidade pela primeira vez, por exemplo, nos remete a outras tantas cidades que conhecemos, por nossa experiência ou leitura, e das quais possuímos imagens. Ou, no caso da cidade do passado, não mais passível de ser observada, mas cujas imagens se acumulam em cadeia no pensamento, vistas ou imaginadas a partir de nossa bagagem cultural e de experiência de vida. Assim, é possível formar, a partir das cidades visíveis, cidades sensíveis e imaginárias, não experimentadas.
250 Imagem 147: Desenho de Jony Coelho em Florianópolis. 2017. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1554061758231524&set=a.1379009039070131.1073741826.100008831435115&type=3>Acessoem:13jun.2017.Imagem148:DesenhodeÁureoBrancoemTeresina-PI.2017.Disponívelem:<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207292720150554&set=pcb.1202910789828748&type=3>Acessoem:14jun.2017.


Imagem 149: Desenho de Petterson Dantas em Galinhos-ES. 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1111946562228895&set=gm.1090566904396471&type=3>Acessoem:03jul.2017.
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Imagem 150: Desenho de Eduardo Bajzek em São Paulo. 2013. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2013/12/encontro-em-paranapiacaba-sao-paulo.html> Acesso em: 14 jun. 2017.


Eduardo Bajzek (2013d) desenhou durante o 41º USk São Paulo a vila de Paranapiacaba (imagem 150), destacando o ambiente que o remeteu a paisagem inglesa.
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Objetos que se encontram pela cidade, desde os monumentais aos mais corriqueiros, são objetos de poetização. O monumento Ramos de Azevedo, em São Paulo (imagem 151), é desenhado por Hugo Paiva (2011c), que afirma que apesar de estar numa rotatória, fica solitário devido à sua altura e localização. Mazé Leite comenta que “parece que ela [a imagem] sustenta todo o peso da cidade universitária”, já que está nos fundos da USP.
Imagem 151: Desenho de Hugo Paiva do monumento Ramos de Azevedo em São Paulo. 2011. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2011/09/monumento-ramos-de-azevedo.html> Acesso em: 03 jul. 2017.

Regina Borba (2016) 241 desenhou postes elétricos (imagem 152), que “têm suas belezas”, conforme ela defende. Mário Bourges concorda com Borba: “também penso assim.
241 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10211773359355489&set=gm.1168553989931095&type=3>em03jul.2017.
Essa pequena vila tem um charme especial...aquele que só o passado traz, estampado nas paredes desgastadas, na ferrugem da chapa metálica, no relógio da torre. Paranapiacaba ainda tem um sabor extra: o ‘fog’, em inglês mesmo, afinal esse deve ser o mais britânico vilarejo do Brasil […] A paisagem em Paranapiacaba muda a cada instante. A aquarela tem que ser rápida...os olhos também, buscando uma sombra ou tentando selecionar algum, entre quase-infinitas possibilidades de temas.
242 Acesso<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1348596078508563&set=gm.1107742209345607&type=3>em03jul.2017.
Além da poesia, as imagens urbanas convocam cenas da memória e invadem a imaginação do sketchers, criando referências em suas mentes a partir do que os olhos veem. Em outros momentos, estabelecem relações com coisas ouvidas ou lidas. Fabien Denoel (2013) relata que estava desenhando um edifício em construção quando um grupo de urubus começou a girar em cima da obra (imagem 153): “Me lembrei do filme belga de terror “Aconteceu Perto da sua Casa” de Benoit Poelvoorde”. Kei Isogai (2016) também tem memórias vindas a partir de paradas para desenhar antenas: “quando criança observava estas



Imagem 152: Montagem com desenhos de Regina Borba (2016) e de Fernanda Vaz de Campos (2012). Disponível <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1021177335em:9355489&set=gm.1168553989931095&type=3> e <http://brasil.urbansketchers.org/2012/06/1-encontro-mensal-de-urban-sketchers.html> Acesso em 03 jul. 2017.
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Penso até que existe alguma espécie de poesia nisso”. Edson Gomes (2016)242 escreve: “Postes, fios e transformadores. Na tentativa de captar um edifício atrás destes elementos perturbadores, eles é que acabaram se tornando os modelos”. Vale observar junto um poste desenhado por Fernanda Vaz (2012) e outros por Regina Borba; mesmo com fiações e uma série de aparelhagens, as sketchers conseguem expressar certa beleza em seus desenhos.
Hugo Paiva (2012d) relaciona seu desenho (imagem 154) com o livro “Arquitetura Vivenciada” (1998), de Steen Eiler Rasmussem, que chama a atenção para vários aspectos sensoriais, como a textura, a luz e os sons dos edifícios: “nesse prédio foi exatamente essa impressão que tive ao ver aqueles corredores abobadados, com o acabamento de tijolos. A forma como a luz reage com os materiais dão uma outra dimensão para o edifício”, diz ele. Mário Baratta faz um comentário em uma postagem de Dalton de Luca (2012) (imagem 155), usa uma expressão no mínimo interessante para atribuir a autoria da produção do sketcher: “Dalton, quando vi suas aquarelas percebi que essa série tem um ‘sotaque visual’ que indica a mão que o fez”. João Pinheiro complementa: “Acho que você faz música com suas composições, como fazia Matisse e o Paul Klee”.
altas antenas das subestações elétricas, conectadas umas nas outras em sequências perfeitas em seus inúmeros fios, e imaginava o máximo que seria se fossem robôs humanóides gigantes”.
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Imagem 153 : Desenho de Fabien Denoel de prédio em construção. 2013. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2013/02/urubus-e-cimento.html> Acesso em: 25 jun. 2017.

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Imagem 154 : Desenho de Hugo Paiva na Santa Casa de Misericórdia. 2012. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2012/05/santa-casa-de-misericordia-sp.html.> Acesso em: 24 jul. 2017

Imagem 155 : Desenho de Dalton de Luca no Centro Cultural São Paulo. 2012. Disponível em: <http://brasil.urbansketchers.org/2012/02/ccspcima.html> Acesso em: 14 jun. 2017.

A gente foi adiante, rasgando e vimos mais, conversamos com toda a gente boa que pintava. Vimos também banquinhos de madeira na frente da casas onde, debaixo da copa da árvore, serve pra se sentar na sombra depois de mais um dia de trabalho. Beirada pra tomar café e cachaça e prosear sem contar tempo. As vacas comendo e recomendo, galinhas pescando com o bico aqui e ali, cavalos quietos pastando e balançando o rabo como um pêndulo. O tempo corre e as casas e pessoas e galinhas e vacas e bananeiras e verdes e roxos vão ficando pra trás, novas paisagens vão aparecendo com uma constituição toda nova, mais seca e arenosa, o verde fica mais fosco e estamos indo mais pra longe, vendo rios largos e lagos espalhadas pelo campo. Chapadão imenso. Estamos de bem com a terra, eita, Brasil grande, oh povo bom de sentar na soleira da porta e conversar. Paramos em um povoado feito de uma só rua. Conversamos com os moradores e tomamos café
Além disso, o artista destaca o contato ressonante com o patrimônio histórico-cultural das cidades:
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Treze dias de viagem de São Paulo para Bahia, parando em João Monlevade e Vitória da Conquista antes de dar as caras a Salvador. Na Bahia foi incrível andar pelo pelourinho, ver a casa natal do Gregório de Matos e imaginá-lo cantando seus versos cáusticos pelas tabernas, acompanhando pelas cinco cordas duplas da sua viola, abrindo sua boca do inferno para atacar padres, Deus e o Diabo e os poderosos daquela época. Ele embriagado indo embora, cambaleante, se apoiando nas portas de madeira noite adentro, todo esfarrapado. Vimos também a igreja onde foi rodado o filme brasileiro, premiado em Cannes, O pagador de promessas [...] Visitamos praias e comemos acarajé no Vermelho. De lá partimos para Rio de Contas, lugar mágico! A estrada é verde e a vista se dilata para ver aquelas montanhas de sonho. Uma viagem no tempo onde Walter Salles esteve anos atrás, filmando Abril
Chapadões imensos, sem fim, a perder de vista, se estendendo por muitas léguas. Vegetação verde em todos os tons, cobrindo toda terra, até onde os olhos podem alcançar. Nuvens que aparentam cavalos fortes como não há e a dúvida se aquilo tudo era real, de se pegar. Amplidão, nação sem fim, mato, roça, arraial, coqueiros altos, envergados pro lado do vento, bananeiras, mangueiras, pé de café, laranjeiras... plantação de tudo quanto é legume e frutas. E o verde das árvores e plantas verdes de milhões de tons; De vez em quando muda de cor e explode, no meio do verde, um violeta intenso, roxo, laranja e o vermelhão da terra destacado, as rachaduras da terra seca e as rochas redondas. Por cima dos montes e montanhas, as pedras espalhadas numa perfeição assombrosa, como que colocada com as mãos. Igrejas brancas isoladas no alto dos montes embranquecendo. No céu, nuvens felpudas, de estiagem, nuvens de chuva e de vento, lá na frente a chuva e depois o sol e a estrada continuam até o final do mundo. Casinhas de barro, sapé, tijolo à vista, telhadinhos coloridos e fachadas pintadas com nossas cores ancestrais, que sempre povoaram nossos sonhos e imaginação. Casas de duas cores bem postas, de onde vem essa noção, se não da própria natureza? Eia, que o sertão não tem fim mesmo, eu vi.
O contato com as pessoas em seus espaços também dá a tônica dos registros de Pinheiro:
Um dos mais completos relatos de viagens produzido pelos sketchers é o de João Pinheiro (2012a), que viajou com Mazé Leite entre São Paulo e Bahia. Muito do que se falou sobre o Urban Sketchers até aqui está em seus detalhados relatos. A princípio, temos o interesse pelas viagens e pela poesia das paisagens:
Urban sketchers são criaturas bem estranhas. Aparecem de repente, de todos os cantos da cidade. Munidos de aquarelas, marcadores, canetas, penais, pincéis, cadeiras de praia, bancos dobráveis. Com objetos estranhos e motivações curiosas –desenhar tudo o que veem. Invadem as praças e sítios urbanos. Surgem acompanhados de fotógrafos igualmente estranhos. Ao anoitecer, voltam para suas casas com seus sketchbooks lotados de desenhos. Satisfeitos como pescadores – com samburá cheio de peixe. Alguns passam os dias da semana retocando as paisagens. Uma pincelada aqui e outra acolá. E somente quando reveem as aquarelas é que realmente aproveitam as cenas desenhadas. Como se o real só pudesse ter acontecido se foi desenhado. O desenho é a prova que esteve e vivenciou os fatos. Fazer um sketch (assim como a fotografia), é de certa forma se apropriar dos instantes. Capturar o tempo. Mas não é como a fotografia. Cada fotografia guarda em si minúsculos milésimos de segundos e dentro de cada sketch dormem centenas de fotografias. Os uskers (como costumamos chamar) levam para suas casas a cidade na forma de sketches estáticos congelados. Mas alguns detalhes os desenhos não conseguem enlaçar: as conversas sobre materiais e pincéis, os causos de viagem, as experiências com “uskers” de outras cidades, as histórias dos amigos fotógrafos, as preferências gráficas e descobertas novas [...] Dizem que cada cidade possui uma luz, nebulosidade e atmosfera própria. Se isso for verdade, cada uma possui seus urban sketchers únicos. E dentro de cada um, uma infinidade de paletas, técnicas, pontos de vista, nasceres de sol, chuvas, lembranças e criaturas. Urban sketchers são criaturas bem...
Assim, esse item do trabalho encerra com as apresentações teóricas e imagéticas que permitem conhecer mais sobre o movimento USk no âmbito de suas relações com as cidades.
despedaçado, este que ficou encantado com o trabalho do artista Zofir. A névoa da cidade, somada à arquitetura colonial, cria um ar de mistério. Encontramos personagens saídos diretos dos romances de João Guimarães Rosa. As pessoas são como poemas vivos, andando debaixo da chuva. Treze dias de viagem: São Paulo, Salvador, Chapada Diamantina, Bom Jesus da Lapa (onde vimos o Velho Chico), e finalmente Cordisburgo, a cidade do coração, onde nasceu Guimarães Rosa, onde conhecemos o Brasinha e a Dôra Guimarães, prima do Rosa e coordenadora do Projeto Miguilim, onde vimos a casa dele e a venda do pai em frente à estaçãozinha de trem. De lá voltamos com o coração repleto de paisagens bonitas e gente mais bela ainda, que nos enriqueceram com seus sorrisos abertos e olhares profundos. É isso, vamos aprender a sermos brasileiros e enxergar o que é esse país. Pra terminar, cito um trecho do Grande Sertão: Veredas: “Aprender a viver é o que é viver mesmo.” João Guimarães Rosa.
Em novembro de 2016, os sketchers de Curitiba realizaram uma exposição na Gibiteca da cidade, com materiais produzidos por eles expostos em paredes e mesas de vidro. O texto curatorial escrito por Fabiano Vianna (2016), que apresentou os sketchers em suas características, segue abaixo:
Sociabilidades, materialidades e sensibilidades foram abordadas até então, abrindo espaço para uma última reflexão, que interroga a contemporaneidade do movimento e põe o USk como um movimento ressonante e ao mesmo tempo contemporâneo.
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Com o fim do Modernismo na Arte e o surgimento da Pós-modernidade na década de 1970, operaram-se mudanças definitivas relativas à concepção de Arte, aos conceitos, às técnicas, aos materiais. Ocorre, portanto, um redimensionando dos processos poéticos, estéticos, teóricos, bem como do papel do artista e do próprio espaço da Arte. A arte produzida na cena contemporânea é, então, um reflexo dos acúmulos e das experimentações históricas, como também um reflexo do próprio contexto contemporâneo, globalizado, híbrido, acelerado, transdisciplinar, plural, polissêmico, neobarroco, mestiço, aberto à alteridade e a tantos outros adjetivos. Justamente por isso, a dita Arte Contemporânea combina materiais, linguagens, tecnologias e locais de maneira ilimitada e por vezes inusitada.Muitas manifestações artísticas, no mesmo caminho da dissolução das fronteiras das linguagens, assimilaram os conceitos que se abriram a partir da Arte Conceitual, da Arte Povera, da Arte Processual, da Arte Ambiental, da Performance, da Land Art, entre outras. Neste sentido, fica difícil dizer que o trabalho dos Urban Sketchers pode ser uma extensão do conceito de Arte Contemporânea, com todos os seus hibridismos. Todavia, a atitude dos Urban Sketchers é extremamente contemporânea.
Um texto que pode dar suporte a uma última análise do movimento neste presente trabalho é o ensaio “O que é o contemporâneo”, de Giorgio Agamben (2009, p. 58-9). No texto, o filósofo italiano afirma:
Algumas perguntas podem auxiliar na compreensão desta afirmação. Como conciliar uma arte com tanta tradição como o desenho com as urgências da Arte Contemporânea? Não estaria a afirmação deste movimento justamente na manutenção da tradição adaptada aos tempos e às novas tecnologias, sem a necessidade de querer ser “contemporânea”? Será que na contemporaneidade toda tradição é vista como passado? O desenho mimético dos sketchers (“Nós somos fiéis às cenas que estamos retratando”) é encontrado em poucos formatos contemporâneos de Arte, como o hiper-realismo; mas as formas como tal prática se adapta às novas realidades - como o compartilhamento online (após escaneamento) e mesmo o uso de instrumentos digitais para o desenho (ferramentas do ipad, por exemplo) - tornam o movimento contemporâneo. As tradições podem ser vistas não como passado, mas como renovações. Afinal de contas, quando olhamos para as obra de Picasso com referências às máscaras primitivas africanas, pensamos serem elas modernas ou arcaicas?
258 3.4. O URBAN SKETCHERS E A CENA CONTEMPORÂNEA
No início do capítulo, foi apresentada a relação do USk com a cidade, tratando-o como um movimento de resistência às brutalidades da cidade contemporânea. Pensando no que Agamben elucida, essa prática de resistência é bastante contemporânea, ou seja, não faz parte do seu tempo, porém é nostálgica, mas também progressista. Nostálgica porque busca reavivar práticas perdidas, ao mesmo tempo em que anuncia novas relações com o espaço e com as pessoas que nele habitam. Na prática USk, vemos uma apreensão do ambiente que não é comum nas relações contemporâneas. Enquanto sociabilidade, podemos destacar que vivemos numa cultura individualista, em que as relações são objetivas e as pessoas vêm perdendo, gradualmente, os vínculos do grupo. Espaços públicos ou privados que já foram bastante utilizados tornaram-se vazios, como por exemplo igrejas históricas em momentos de reunião. Fazer parte de algo, de um grupo, de uma comunidade é uma atitude contemporânea.
Pertence verdadeiramente ao seu tempo, é verdadeiramente contemporâneo aquele que não coincide perfeitamente com este, nem está adequado às suas pretensões e é, portanto, nesse sentido, inatual; mas, exatamente por isso, exatamente através desse deslocamento e desse anacronismo, ele é capaz, mais do que os outros, de perceber e apreender o seu tempo. [...] A contemporaneidade, portanto, é uma singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, toma distâncias; aqueles que coincidem muito plenamente com a época, que em todos os aspectos a esta aderem perfeitamente, não são contemporâneos porque, exatamente por isso, não conseguem vê-la, não podem manter fixo o olhar sobre ela.
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Os itens VII e VIII do manifesto assim o dizem: “Nós nos apoiamos e desenhamos juntos”, “Nós compartilhamos nossos desenhos online”. Esta é uma atitude contemporânea. Um exemplo são os coletivos, que ajuntam artistas para produções em grupo e têm ganhado bastante destaque no âmbito da Arte.Quando o sketchers formam redes de contatos pela internet, a contemporaneidade deles se manifesta mais visivelmente, pois em nosso tempo as relações são vistas não mais verticalmente, não mais como metáforas orgânicas (cabeça, tecido, corpo), mas sim como metáforas do mundo virtual (redes, comunidades). Compartilhar desenhos online é, neste caso, uma atitude contemporânea, um ato que mistura o desenho, prática antiga na História da Arte, com o uso da tecnologia do século XXI. A própria formação de um arquivo “nas nuvens”, conceito que ganha cada vez mais espaço, está inserido no universo USk, visto a enorme quantidade de desenhos postados nos blogs e perfis do Facebook e Flickr. Além disso, em uma sociedade que prioriza o “Do it Yourself”, as aulas virtuais, o ensino e os relacionamentos à distância, o ato de se deslocar ou mesmo disponibilizar tempo para aprender lado a lado com um sketcher mais experiente, ou ainda viajar para desenhar ao lado de desconhecidos, pode ser considerada dentro de uma contemporaneidade.
A atitude contemporânea do Urban Sketchers está também na busca de uma experiência sensível na cidade. As cidades têm sido muito frequentadas, mas seus frequentadores, por vezes, não se apropriam delas. Elas têm se tornado local de trabalho nos dias úteis e de entretenimento nos fins de semana. Quem hoje busca poesia em postes ou no entardecer? Ou é capaz de entrar em um bar ou andar pelas ruas de um bairro histórico e fazer referência a poetas e pintores? Quantos têm tempo ou disposição para ver o pôr do sol, ou acordar cedo e andar pelas ruas da cidade para observá-la? O USk busca desfazer esses sentidos brutalizados, tenta renovar a prática de parar, de sentar, desenhar, conviver com os outros. Refletir, rememorar, obter nova percepção em relação ao olhar para a cidade e, consequentemente, de olhar para o mundo. Os sketchers passam a conhecer o mundo pelo desenho.Agamben (2009, p. 62-3) ainda fala sobre luz e escuridão na contemporaneidade:
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Quando trata-se do patrimônio, a culpa que sempre se lança aos órgãos públicos pode ser compartilhada com a própria sociedade, que também despreza e ignora a sua própria herança, material ou imaterial. Os sketchers, ao se relacionarem com o ambiente históricocultural da cidade, disponibilizam também tempo para sanar curiosidades, ouvir um velho morador local, entrar em um prédio, ler as placas dos monumentos, assistir a uma apresentação na rua, entrar em um ensaio de uma escola de samba ou em uma igreja para observar seus ritos, símbolos e pinturas, ou mesmo sentar-se e observar as mudanças que ocorrem no espaço da urbe.
Se pensarmos na ideia da materialidade e do patrimônio cultural e arquitetônico, podemos pensar no boom turístico que vivemos nas últimas décadas, sobretudo no Brasil. Como nunca antes, as pessoas viajam e conhecem cidades pelo mundo. Se, por um lado isso pode ser extremamente positivo, visto o acesso à história e aos monumentos, aos museus e às casas culturais, o excesso de informação e a pouca valorização destes por parte de quem viaja limita os benefícios deste aumento numérico em relação ao turismo. As pessoas costumam fotografar muito, abarrotando os perfis do Facebook e do Instagram com fotos de locais que elas mal conheceram. Nos museus, tal atitude é bastante comum. Quando não estão mais interessados no celular do que nas obras, estas servem apenas como pano de fundo para selfies. Não há atenção aos guias, nem leitura das legendas, tampouco fruição ante às obras.
Gostaria aqui de lhes propor uma segunda definição da contemporaneidade: contemporâneo é aquele que mantém o olhar fixo em seu tempo, para perceber não as suas luzes, mas sim as suas sombras. Todos os tempos são, para quem experimenta sua contemporaneidade, escuros. Contemporâneo é quem sabe ver essa
261 sombra, quem está em condições de escrever umedecendo a pena nas trevas do presente.
Se as luzes das cidades estão direcionadas aos outdoors e aos grandes empreendimentos, como residenciais de luxo, grandes shopping centers e aeroportos, cuja imagem é normalmente a mesma e cuja “reprodutibilidade” fez “perder a aura da cidade”, como enxergar o escuro da cidade? Esse escuro encontra-se na casa icônica em meio ao bairro histórico, no morador de rua que já se tornou uma personagem urbana, no cão que guarda as ruas pouco movimentadas, no desfile de guarda-chuvas que toma as ruas em dias molhados, no encontro de músicos em um bar pouco conhecido, na criança que toca flauta junto ao pai, no campanário de uma igreja que parece um “dinossauro a devorar uma pequena flor”, na “arquitetura da improvisação” da casa de periferia, no prédio que parece um vetusto senhor narigudo e nos urubus que rondam o prédio onde supostamente estão “guardadas” as vítimas de um famoso assassino.
Enfim, ser contemporâneo é, nesta concepção, ver o “lado B” da vida nas cidades, como se diz popularmente. É andar na contramão, enxergar o que está oculto aos outros, o que não é claro, é ter tempo quando ninguém mais tem tempo, é ver a beleza quando os outros estão obcecados pela feiura, é sair às ruas quando os outros se trancam em casa com medo da violência urbana, é reunir-se quando todos preferem o isolamento, é conhecer a história quando os outros só pensam no seu próprio futuro, é sentir e apreciar o não funcional quando tudo deve ter uma função e objetivo práticos. “Pode dizer-se contemporâneo apenas quem não se deixa cegar pelas luzes do século e consegue entrever nessa a parte da sombra, a sua íntima obscuridade” (AGAMBEN, 2009, p. 63-4). Nestes atos, e em muitos outros, reside a contemporaneidade do Urban Sketchers
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Isso tudo já é maior do que sonhei quando idealizei o grupo, é mais do que se reunir e desenhar, são novas amizades, é parceria e camaradagem, é compartilhar memórias juntos e descobrir novos cantos e encantos. É ver a beleza escondida no dia-a-dia, é redescobrir a cidade e sua história. É nós mesmos sermos personagens no desenho do outro. É imortalizarmos, em nossos traços, o momento e o lugar. E isso tudo é muito mais do que podia imaginar. Muito obrigada a todos vocês! Estou verdadeira emocionada, em lágrimas enquanto escrevo isso no meio da praça de alimentação. Só consigo desejar vida longa aos Sketchers do Rio, que mais amizades e parcerias sejam feitas, e que possamos, em nossos sketches, trazer mais alegria, inspiração e boas memórias às pessoas (MACHADO, 2006).243
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Esse relato emocionado de Thaís Machado, quando o USK RJ alcançava quinhentos membros, trata de alguns pontos já abordados até então sobre o movimento USk. Novas amizades, compartilhamento de memórias, descobertas, protagonismos, imortalizações. Escolhi este relato para mostrar o quanto a participação neste movimento pode ser significativa para uma pessoa e para encerrar o trabalho com minhas considerações finais. Eu mesmo me sinto como um sketcher, emocionado e feliz pelo resultado, pelas descobertas, pela trajetória, tanto quanto pelo resultado. Agora uma parte da produção do Urban Sketchers já está organizada, pensada e teorizada, abrindo espaço para novos escritos acadêmicos e novas percepções.Nossa maneira de observar o mundo sempre é carregada de nossas referências e nossos repertórios. Penso que este trabalho poderia ter sido feito de inúmeras outras formas. O Urban Sketchers poderia ter sido inserido na História da Arquitetura ou nos estudos da Sociologia Urbana, na Etnografia ou na Antropologia. Minha opção foi tratá-los como poetas do contemporâneo, visionários em meio ao caos e a brutalidade das cidades do século XXI, como ressonantes do passado que mergulham nos turbilhões cotidianos e veem o que muitos parecem não mais ver, como os que conseguem arrancar poesia de postes e cohabs, que enxergam beleza no que ninguém mais enxerga, que tornam mais atraente o que já é habitual e corriqueiro para os demais. Ou seja, busquei inserir o movimento na História das Sensibilidades.ComoHistoriador
da Arte, meu olhar para o Urban Sketchers tem proximidade com a temática do tempo. Diria que tudo se trata do tempo, que é o objeto do historiador, pois a História é a ciência dos homens no tempo. Pensar na história das imagens é pensar que elas estão carregadas de tempo, da mesma forma que estão também o Urban Sketchers. Aquilo <https://www.facebook.com/groups/1403463776538116/permalink/1725505731000584/> Acesso em 05 jul.
2017.
264 que mais me interessa é uma História da Arte feita por temporalidades múltiplas. Retomando a frase que escolhi como epígrafe, escrita por Georges Didi-Huberman, um dos teóricos que fundamenta o meu pensamento sobre a História da Arte, confirmo essa relação entre o Urban Sketchers e o tempo. Não me refiro à sua percepção cronológica, nem evolutiva, pois não foi meu objetivo inserir o Urban Sketchers numa linha do tempo, mas sim entender como neste movimento encontram-se práticas de outras épocas e lugares. De fato, pude encontrá-las. Encontrei o tempo das vanguardas quando me deparei com um manifesto que, embora tão diverso em propósito, é guardado, seguido e debatido por seus seguidores. O tempo das descobertas marítimas veio à tona quando olhei para os diários de viagem, ou quando percebi o sentimento sublime ante as paisagens, tal como um pintor romântico que viajava em busca de si próprio na natureza. Como muitos dos sketchers, considero-os herdeiros dos artistas viajantes e dos impressionistas, por seu interesse pelos ambientes internos e externos, em geral repleto de pessoas e pelas cenas cotidianas, registradas em sketchbooks. Encontrei o Renascimento quando me deparei com o interesse no desenho e nas descobertas que dele provém. Encontrei os conflitos do século XIX entre linha e cor, razão e emoção, Academia e Salão dos Recusados enquanto lia os debates entre eles sobre tais temas e seus desdobramentos.Háportanto, no Urban Sketchers, mais tempos que os seus dez anos de existência. E há também os tempos congelados, os tempos investidos, os tempos inesquecíveis. Há o tempo da parada para observar, o tempo que escoa e já acabou, o tempo que sempre estará registrado nos cadernos. O tempo não considerado do transeunte, o tempo que passa lentamente dos velhinhos a jogar na praça, o tempo do trabalhador atrasado, que se dá a perceber apenas no relógio, o tempo registrado dos prédios em demolição, o tempo pouco aproveitado do cão que dorme na calçada e, do contrário, o tempo bem aproveitado pela vendedora da barraquinha, que lucra com a nossa pressa. O tempo cronológico, o tempo bifurcado e o tempo especial, o kairós, aquele que congela para registrar um momento que é único e especial.
O tempo está parado quando os sketchers desenham casas que são abandonadas pelos governos, mas também pela população, quando disponibilizam tempo para socializar, para desenhar no cemitério, no museu, quando são os únicos parados em meio aos passantes, quando “desperdiçam” seu domingo de manhã para registrar as cidades. O tempo está no ato de pairar ante um monumento para olhar sua legenda, de ouvir dos vizinhos a história do local, de parar para ver uma roda de capoeira, uma casa “mal-assombrada”, de ouvir as “pedras antigas da cidade” e suas incríveis histórias. Há tempo quando se resiste ao brutal da
cidade e à sua própria falta de tempo. Falta de tempo para olhar, para fruir, para observar, para conhecer, para Encontra-seviver.tempo, sobretudo o tempo anacrônico, aquele que vêm a nós quando olhamos para os desenhos dos Urban Sketchers. Poderia falar sobre todos os tempos que eles reúnem. Na verdade, eles reúnem todos os tempos. Vejo neles os interesses, as frustrações, as conquistas, os sentimentos de orgulho, os prazeres dos artistas na História da Arte, que para mim não são novidades, mas são como um palimpsesto. Há, neste movimento, milhares de outros. Artistas, pintores, viajantes estão ali, ora quietos, ora escancarados. Crescem a cada dia, alguns tornam-se conhecidos. Possivelmente, irão para as galerias. Neste momento, veremos neles a monumentalidade e a grandiosidade de um Da Vinci, de um Picasso ou Renoir. Acima de tudo, se cada tempo teve seus registradores visuais, nosso tempo tem os Urban Sketchers. Que possamos continuar viajando com eles, conhecendo o mundo, um desenho por vez.
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