A MADEIRA NA OBRA DE JOSÉ ZANINE CALDAS Residências no Rio de Janeiro entre 1968-1976

A MADEIRA NA OBRA DE JOSÉ ZANINE CALDAS Residências no Rio de Janeiro entre 1968-1976 Paula Mendes Thomaz Rimi

São Paulo 2021

PAULA MENDES THOMAZ RIMI

A MADEIRA NA OBRA DE JOSÉ ZANINE CALDAS: Residências no Rio de Janeiro entre 1968-1976

Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção de título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo

ORIENTADOR: Prof. Dr. Rafael Antonio Cunha Perrone

São Paulo 2021

R576m Rimi, Paula Mendes Thomaz A madeira na obra de José Zanine Caldas : residências no Rio de Janeiro entre 1968-1976 / Paula Mendes Thomaz Rimi.

179 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2021.

Orientador: Prof. Dr. Rafael Antonio Cunha Perrone.

Bibliografia: f. 173-175.

1. Madeira. 2. Jozé Zanine Caldas. 3. Rio de Janeiro. I. Perrone, Rafael Antonio Cunha, orientador. II. Título.

CDD 711.4

Bibliotecária responsável: Aline Amarante Pereira - CRB-8/9549

PAULA MENDES THOMAZ RIMI

BANCA EXAMINADORA

A MADEIRA NA OBRA DE JOSÉ ZANINE CALDAS: Residências no Rio de Janeiro entre 1968-1976 ___________________________________________________ Prof. Dr. Rafael Antonio Cunha Perrone Universidade Presbiteriana Mackenzie

Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção de título de Mestre em

___________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Celia Regina Moretti Meirelles

Arquitetura e Urbanismo.

Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Tatiana Sakurai Aprovada 05 de Agosto de 2021.

Universidade de São Paulo

Agradecimentos

no primeiro semestre da pós-graduação. À minha família do Rio de Janeiro, tio Victor, Maria Tereza, Pedro e Jonas. Obrigada por sempre me receberem de portas abertas.

À minha amada tia Denise, por ser minha referência sempre.

Ao meu professor Rafael Antonio Cunha Perrone, que me acolheu como sua orientanda antes mesmo de ingressar no curso de pósgraduação, ainda no oitavo semestre de Arquitetura e Urbanismo no Mackenzie. Muita gratidão em tê-lo como orientador durante todo o percurso desta pesquisa, com sua dedicação, viagens à Bahia e apoio.

Obrigada por me ensinar desde sempre a importância do desenho no ensino e pesquisa de projeto. À minha mãe Deise pelo auxílio no trabalho. Obrigada por me motivar a realizar a Dissertação e me incentivar no meio acadêmico sempre. Sou muito grata ao seu envolvimento com minha trajetória.

Ao meu pai Paulo por me acompanhar às casas no Bairro do Joá e UM IR]LIZ KWU I[ NW\WOZIÅI[ M IW UM] QZUrW 4MWVIZLW XMTW IUWZ M suporte.

Ao meu namorado Vinicius por estar sempre ao meu lado e me dar todo o apoio necessário para que fosse realizado esse trabalho. Agradeço também ao carinho e às dicas de pesquisador, sempre tão valiosas. À professora Celia Regina Moretti Meirelles por me apoiar em minha QVKQItrW KQMV\yÅKI IQVLI VI OZIL]ItrW M XMTW QVKMV\Q^W o ZMITQbItrW LI Dissertação de Mestrado. Agradeço também às aulas de metodologia

Ao querido Reduzino, por me guiar pelas casas no Bairro do Joá com tanta disponibilidade. Graças à sua atenção, a pesquisa conseguiu se desenvolver. Obrigada pelas lembranças sobre a tia Denise. À gentil Cuca, pelas conversas sobre seu pai, sua infância e memórias.

Agradeço imensamente pelo envio de seu acervo de desenhos, que foram de suma importância na Dissertação. À Amanda de Carvalho, por me indicar as direções certas na elaboração do trabalho. Obrigada pela ajuda com seus contatos e sua experiência com a trajetória de Zanine. ² .MZVIVLI +W[\I XWZ UM O]QIZ XMTI +I[I 2]TQW 4WPUIV M UM MV^QIZ uma série de desenhos imprescindíveis à pesquisa. Muito obrigada. À Natalia Wlasek, por me guiar pela Casa Wlasek. Agradeço à disponibilidade e paciência nas visitas.

Ao Antônio Cruz, por abrir sua casa ao Reduzino e à mim. À minha amiga Julia Ribeiro, por me ajudar com a diagramação do trabalho.

Aos meus colegas de pós-graduação e graduação do Mackenzie.

Vocês são minha inspiração.

E ao meu avô Dirceu, por ser minha referência quando se trata em construir em madeira.

Resumo

7 WJRM\Q^W LI LQ[[MZ\ItrW I [MO]QZ u I LWK]UMV\ItrW OZnÅKI M \M`\]IT das residências projetadas e construídas por José Zanine Caldas no Bairro do Joá , Rio de Janeiro, entre os anos de 1968 e 1976. Além disso, a pesquisa busca relacionar o saber-fazer do arquiteto autodidata às técnicas construtivas em madeira empregadas nessas casas. O Uu\WLW ]\QTQbILW NWQ TM^IV\IUMV\W JQWOZnÅKW M JQJTQWOZnÅKW LI ^QLI de José Zanine Caldas e das casas no Bairro do Joá as quais seriam documentadas. Também foi realizado o redesenho digital das mesmas por meio do software BIM (Building Information Modeling) Archicad. Como resultado, foram produzidos desenhos que ilustram as residências no Bairro do Joá, nunca antes documentadas. Os desenhos mostram a relação do arquiteto com o saber-fazer em madeira e o projeto das MLQÅKIt M[ VW :QW LM 2IVMQZW ) \ZIRM\~ZQI LM ^QLI LM 2W[u BIVQVM +ITLI[ u ZMÆM\QLI LQZM\IUMV\M VI[ ZM[QLwVKQI[ LW *IQZZW LW 2Wn XWQ[ W UM[UW emprega os saberes vernaculares adquiridos com sua experiência em modelos reduzidos, mobiliário e ensino na docência nas estruturas em madeira das casas do Bairro do Joá.

Palavras-chave: Madeira, José Zanine Caldas, Rio de Janeiro.

Abstract

The objective of the following dissertation is the graphic and textual documentation of the residences designed and built by José Zanine Caldas in Bairro do Joá, Rio de Janeiro, between 1968 and 1976. The research also seeks to relate the know-how of the self-taught architect to the wood construction techniques used in these houses. The method used was a biographical and bibliographic survey of the life of José Zanine Caldas and the houses in Bairro do Joá which would be documented.

They were also digitally redesigned using the BIM (Building Information Modeling) Archicad software. As a result, drawings were produced that illustrate the residences in Bairro do Joá, which had never been documented before. The drawings show the architect’s relationship with wood structure know-how and the design of buildings in Rio de 2IVMQZW <PM TQNM \ZIRMK\WZa WN 2W[u BIVQVM +ITLI[ Q[ LQZMK\Ta ZMÆMK\ML in the houses of Bairro do Joá, as he employs the vernacular knowledge acquired from his experience in reduced models, furniture and teaching in the wooden structures of the houses in Bairro do Joá.

Keyword: Wood, José Zanine Caldas, Rio de Janeiro.

Lista de Figuras

Figura 1: Praça da Bandeira, Belmonte (sem data). Fonte: Acervo IBGE. 23 Figura 2: Vista aérea de Belmonte (sem data). Fonte: Acervo IBGE. 24 Figura 3: Vista aérea do Rio Jequitinhonha (1953). Fonte: Acervo IBGE. 24 Figura 4: Vista aérea do Rio Jequitinhonha (1953). Fonte: Acervo IBGE. 24 Figura 5: Baleia cachalote encalhada na costa de Belmonte. .WV\M" +):>)407 +)>)4+)6<1 ;)6<7; ! X Figura 6: Farol da Barra em Belmonte (sem data). Fonte: Acervo IBGE. 27 .QO]ZI " 0IJQ\It M[ ^MZVIK]TIZM[ MU *MTUWV\M .WV\M" +):>)407 +)>)4+)6<1 ;)6<7; ! X Figura 8: Ilustração da tribo dos “Botocudos”. Fonte: WIED-NEUWIED, 1942, p.226.

28 .QO]ZI[ ! M " 5IY]M\M NMQ\I XWZ BIVQVM M`QJQLI VI ¢ *QMVIT LM )ZY]Q\M\]ZI !!! .WV\M" +I\nTWOW ¢ *QMVIT LM )ZY]Q\M\]ZI !!!

Figura 13: José Zanine Caldas produzindo no Maquete Estúdio. .WV\M" +):>)407 +)>)4+)6<1 ;)6<7; ! X Figura 14: Maquete de Zanine para o projeto da Residência Olivo Gomes em São José dos Campos. .WV\M" +):>)407 +)>)4+)6<1 ;)6<7; ! X Figura 15: Maquete do Conjunto Residencial Governador Juscelino 3]JQ[\KPMS .WV\M" ;14>) ! ! [ X ! X Figura 16: Mies Van Der Rohe observa maquete de Zanine Caldas para o +WVR]V\W 6IKQWVIT .WV\M" 516,416 .QO]ZI " )V VKQW LI 5~^MQ[ )Z\y[\QKW[ B IVW[ ! .WV\M" 0IJQ\I\ )KMZ^W 8I]TW 5I]ZW LM )Y]QVW Figura 18: Publicidade da Fábrica de Móveis Z. Fonte: Casa e Jardim, 1953, V. 3, p. 9.

37

Figura 19: Modelo 1211-C, 1948, de Alexey Brodovitch.

Fonte: Acervo Moma.

39 .QO]ZI " +WVR]V\W LM UWJQTQnZQW LI 5~^MQ[ )Z\y[\QKW[ B VI ZM[QLwVKQI LW IZY]Q\M\W +T~^Q[ .MTQXM 7TOI ;rW 8I]TW ;8 !

Fonte: Acervo IMS. 39 Figura 21: Mesa lateral por Carlo Mollino. .WV\M" ,Q[XWVy^MT MU P\\X[" ___ Q\ITQIV_Ia[ KWU \IJTM[ Ja UWTTQVW )KM[[W MU" ,Mb Figura 22: Mesa lateral por José Zanine Caldas. .WV\M" ,Q[XWVy^MT MU P\\X[" M\MT LM[QOV XZWL]K\[ KZMI\Q^M bIVQVM KITLI[ )KM[[W MU" ,Mb .QO]ZI " :M[QLwVKQI ;MJI[\QrW 8WV\M[ .WV\M" 5-47 !! X .QO]ZI " :M[QLwVKQI ;MJI[\QrW 8WV\M[ .WV\M" 5-47 !! X Figura 25: Zanine (ao centro) como instrutor no curso de maquetes na UnB. .WV\M" +0)15 X Figura 26: José Zanine Caldas na frente dos pilares de uma das residências LI 2WI\QVOI .WV\M" )KMZ^W ,uI BIVQVM .QO]ZI[ ! M " +ZWY]Q[ MU XIXMT UQTQUM\ZILW Fonte: Acervo Déa Zanine.

52 .QO]ZI " :M\yK]TI VW XQ[W .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI JI[MILW VW KZWY]Q LM +):>)407 .QO]ZI " +WZ\M LM LM[LWJZW .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI JI[MILW VW KZWY]Q LM +):>)407 Figura 33: Detalhe encontro viga-pilar. Fonte: Acervo Déa Zanine.

56 Figura 34: Detalhe encontro viga-pilar. Fonte: Acervo Déa Zanine.

57 .QO]ZI " ,M\ITPM ^MV\QTItrW 0WZQbWV\IT .WV\M" )KMZ^W ,uI BIVQVM Figura 36: Detalhe ventilação Vertical. Fonte: Acervo Déa Zanine.

59 Figura 37: Detalhe porta Veneziana-Vidro. Fonte: Acervo Déa Zanine. 61 Figura 38: Detalhe Janela Guilhotina. Fonte: Acervo Déa Zanine.

62 Figura 39: Detalhe Janela Basculante e Fixo.

Fonte: Acervo Déa Zanine.

63 .QO]ZI " 5IXI OMZIT LI[ ZM[QLwVKQI[ ZMLM[MVPILI[ VW *IQZZW LW 2Wn .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 41: Implantação esquemática (sem escala). Fonte: Autoria própria.68

.QO]ZI " .IKPILI XZQVKQXIT +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 43: Vista da Pedra da Gávea do Mirante do Joá. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " *IQZZW LW 2Wn VW[ IVW[ ! IV\M[ LI WK]XItrW QV\ZWduzida pelas residências de Zanine Caldas. Fonte: Quadros capturados pela I]\WZI LW LWK]UMV\nZQW ¹BIVQVM" [MZ LW IZY]Q\M\IZº

Figura 48: Sofás em madeira, com estrutura ligada ao piso. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI ! " +ZWY]Q[ QT][\ZIVLW I KWJMZ\]ZI LI +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 52: Banco e mesa de jantar ligados ao piso. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 53 : Vista da sala de estar para a sala de jantar. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 54 : Estrutura da cobertura da varanda. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P ! .QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P

.QO]ZI " 1UXTIV\ItrW .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " 8I^ +WJMZ\]ZI .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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.QO]ZI " +WZ\M * .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI ! .QO]ZI " 1[WUu\ZQKI .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !

Figura 67: Perspectiva da estrutura em madeira. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !

Figura 68: Implantação esquemática (sem escala). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !

Figura 69: Fachada principal Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI ! .QO]ZI " .IKPILI VWZLM[\M LI +I[I .ZIVb *WZMZ ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !

Figura 71: Fachada sudoeste da Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !

Figura 72: Croqui ilustrando a fachada sudoeste da Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !

Figura 73: Croqui ilustrando a cobertura da Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !

Figura 74: Cobertura Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !

Figura 75: Cobertura e Varanda Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !!

Figura 76: Escada interna da Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 77: Escada externa da Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 78: Escora feita na Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )KMZ^W XM[[WIT Figura 79: Vedação com ventilação inferior. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P

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Figura 91: Perspectiva da estrutura em madeira. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 92: Implantação esquemática (sem escala). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI ! " .IKPILI XZQVKQXIT +I[I 2]TQW 4WPUIV ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI ! " +ZWY]Q LI NIKPILI LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI ! " +WJMZ\]ZI LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI ! " +WJMZ\]ZI LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI ! " >IZIVLI LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI ! " +WJMZ\]ZI LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI !!" 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P

.QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P .QO]ZI " 1UXTIV\ItrW .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " 8I^ <uZZMW .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " 8I^ 1VNMZQWZ .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " -TM^ItrW .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI ! .QO]ZI " -TM^ItrW .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " -TM^ItrW .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " 8MZ[XMK\Q^I LI M[\Z]\]ZI MU UILMQZI .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " 8MZ[XMK\Q^I LI M[\Z]\]ZI MU UILMQZI .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI !" 1UXTIV\ItrW M[Y]MUn\QKI [MU M[KITI .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " .IKPILI []LM[\M +I[I ?TI[MS ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 111 e 112: Estudo preliminar para a Casa Wlasek (1974). .WV\M" ;14>) ! ! [ X

Figura 113: Fachada noroeste da Casa Wlasek (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " >Q[\I XIZI W JTWKW LW[ Y]IZ\W[ KWV[\Z]yLW[ I []LWM[\M []LM[\M .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 115: Sofá rebaixado da Casa Wlasek. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !

Figura 116: Sofá rebaixado em concreto da Casa Kerti, Joaquim Guedes, ! .WV\M" ,Q[XWVy^MT MU P\\X[" IZY]Q^W IZY JZ XZWRM\W[ ZM[QLMVKQI JMI\ZQb SMZ\Q UIVOIJMQZI )KM[[W" 5IZ LM Figura 117: Sofá rebaixado da Casa Miller, Eero Saarinen, 1957. Fonte: ,Q[XWVy^MT MU )KM[[W" P\\X[" ___ aMTTW_\ZIKM KWU I] MMZW [IIZQVMV UQTTMZ PW][M 5IZ LM ZM[QLMVKQI JMI\ZQb SMZ\Q UIVOIJMQZI )KM[[W" 5IZ LM Figura 118: Varanda da Casa Wlasek (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Figura 119: Vista da fachada sudeste, ilustrando os pilares apoiados na rocha LI 2WI\QVOI .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

.QO]ZI " 8Q[KQVI M M[XZMO]QtILMQZI[ LI +I[I ?TI[MS ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 121: Sala de estar anexa da Casa Wlasek (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 122: Croqui da Viga de Cobertura, Casa Wlasek. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 123: Cobertura da Casa Wlasek. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 124: Croqui Cobertura Casa Wlasek. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P .QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P ! .QO]ZI " 1UXTIV\ItrW .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " 8I^ <uZZMW .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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.QO]ZI " +WZ\M * .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Figura 135: Perspectiva da estrutura em madeira do bloco principal da Casa ?TI[MS .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 136: Perspectiva da estrutura em madeira. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !

Figura 137: Implantação esquemática (sem escala). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 138: Fachada noroeste Casa Antonio Cruz (1976). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 139: Fachada noroeste da Casa Antônio Cruz. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " .IKPILI []LM[\M LI +I[I )V\ VQW +Z]b ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 141 e 142: Sala de estar, residência Antônio Cruz. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 143: Interior da sala de estar da Casa Antônio Cruz. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI Figura 144: Cobertura acima da sala de estar. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI .QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P .QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P .QO]ZI " 1UXTIV\ItrW .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI !

SUMÁRIO

Introdução

15

Capítulo 1: José Zanine Caldas

21

1.1 O valor da experiência | Belmonte 1.2 “Maquete Estúdio” | Rio de Janeiro

21 30

1.3 “Fábrica de Móveis Z, Zanine, Pontes & Cia. LTDA” | São José dos Campos

36

1.4 Professor autodidata | São Paulo e Brasília

42

Capítulo 02: Madeira

49

2.1 Breve contexto da Madeira na Arquitetura Moderna Brasileira

49

2.2 Método de projeto

51

2.3 Detalhes construtivos das casas do Bairro do Joá

Capítulo 03: Casas no Rio de Janeiro

55

65

öĪôŐ r¡ ¼Ő ŐY©Õ ©ĬŐ~¼ Æ ¼ ¯ÀŐ¹r¼rŐrÔr£ r {¯Ő ¼së~rŐ rÀŐ residências projetadas por José Zanine Caldas no Bairro do Joá

65

3.2 Descrição e redesenho das casas no Rio de Janeiro

67

3.2.1 Casa Leite Barbosa | 1968

68

3.2.2 Casa Franz Borer | 1974

92

3.2.3 Casa Julio Lohman | 1975

116

3.2.4 Casa Wlasek | 1974

134

3.2.5 Casa Antônio Cruz | 1976

160

¯©À ¼r · ÀŐë©r ÀŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐŐôúô Referências

173

Anexos

176

INTRODUÇÃO

15

Introdução

) KWJMZ\]ZI ÆWZM[\IT LW *ZI[QT u ]UI LI[ UIQ[ IUXTI[ LW U]VLW ;MO]VLW 3WS]J]V M[\QUI [M Y]M LW \MZZQ\~ZQW JZI[QTMQZW u WK]XILW XWZ ÆWZM[\I[ VI\]ZIQ[ -V\ZM\IV\W W PQ[\~ZQKW LW ][W LI UILMQZI VI IZY]Q\M\]ZI JZI[QTMQZI KWVÅO]ZI [M KWUW ZML]bQLW LM[LM a chegada dos colonizadores portugueses. Ao traçar um panorama do ][W LM[[M UI\MZQIT VW *ZI[QT )T^M[ IÅZUI Y]M O conhecimento construtivo dos grupos indígenas encontrados pelos colonizadores portugueses não despertou maior interesse e, após um breve período de exploração do pau-brasil, a madeira foi relegada a uma posição secundária tanto na economia da colônia, quanto em sua arquitetura (ALVES, 2014, p. 46).

As residências indígenas têm sua estrutura constituída de peças de madeira roliça, “com dimensões variadas em função de seu uso KWUW M[\MQW ^QOI KIQJZW W] ZQXIº ,-:-621 X )XM[IZ LI desvalorização das construções indígenas por parte dos colonizadores, a arquitetura desenvolvida a partir do século XVIII na região de Minas Gerais tem a madeira roliça e a terra como base: a taipa de mão. >I[KWVKMTTW[ ! IÅZUI Y]M ¹XMTI NIKQTQLILM LM []I KWV[\Z]trW u compreensível que tivesse sido este sistema de estrutura de madeira com

vedações de pau-a-pique o mais difundido no Brasil, principalmente na KWV[\Z]trW KQ^QTº >);+76+-447; ! X No século XX, a madeira continua pouco empregada como sistema estrutural, já que a lógica desenvolvimentista da arquitetura moderna brasileira volta-se ao concreto armado como técnica construtiva. O reduzido interesse pela madeira como matéria-prima pode ser explicado pela conexão do material ao rústico e ao artesanal. Portanto, a madeira assume papel secundário na modernização do país, sendo utilizada como fôrmas para a construção em concreto armado.

Entretanto, surgem exemplares pontuais de obras arquitetônicas MUXZMOIVLW I UILMQZI KWUW M[\Z]\]ZI I XIZ\QZ LW[ IVW[ ! +WV[QLMZIVLW M[[M KWV\M`\W ;MOI_I ! KTI[[QÅKI M[[I[ MLQÅKIt M[ em duas categorias. A primeira é caracterizada por “demonstrar as possibilidades contemporâneas de materiais tradicionais, permeada no discurso moderno” (SEGAWA, 1988, p. 36). O projeto do Park 0W\MT ;rW +TMUMV\M LM 4]KQW +W[\I KWV[\Z]yLW MU ! M[\IJMTMKM uma correspondência entre a arquitetura vernacular em madeira e os paradigmas modernos, posto que a volumetria e a disposição em planta eram modernos e a madeira, alvenaria e pedra - empregados como elementos estruturais - remetiam à tradição construtiva brasileira.

A segunda categoria colocada por Segawa (1988) diz respeito à atuação de construtores e arquitetos que retomavam materiais e técnicas construtivos tradicionais, assim como os ensinamentos vernaculares, difundidos organicamente. Nessa vertente arquitetônica, se destaca o trabalho de José Zanine Caldas, que teve uma prática projetual baseada

16

Introdução

na contemplação das tradições regionais e no saber-fazer (SANTOS, 1993).

2W[u BIVQVM +ITLI[ ! ! NWQ ]U IZY]Q\M\W I]\WLQLI\I maquetista e designer de móveis reconhecido por unir os conhecimentos MUXyZQKW[ M MZ]LQ\W[ MU []I[ KWV[\Z]t M[ I XIZ\QZ LW[ IVW[ ! ;MO]VLW ?Q[VQS ¹BIVQVM Ln ]U VW^W XI[[W MU []I KIZZMQZI e se torna ele próprio arquiteto - construindo, por exemplo, a sua XZQUMQZI KI[I LI 2WI\QVOI VW :QW MU ! º ?1;613 X !

A “Joatinga” à qual Wisnik se refere, localiza-se no Joá, bairro na Zona Oeste do Rio de Janeiro com implantação em declive. Na década de ! I ZMOQrW MZI INI[\ILI LW KMV\ZW LI KQLILM M KWV[MY]MV\MUMV\M pouco ocupada. Apesar do bairro ser de difícil acesso e ter fornecimento ZML]bQLW LM nO]I M T]b W IZY]Q\M\W ÅKW] ZMKWVPMKQLW XWZ XZWRM\IZ M KWV[\Z]QZ ]UI [uZQM LM KI[I[ XIZI XMZ[WVITQLILM[ LI LuKILI LM ! no Rio de Janeiro.

Segawa comenta que a fama de Zanine “disseminou-se entre artistas, intelectuais, socialites, empresários, bicheiros e todos os que perceberam a arquitetura diferenciada e alternativa que Zanine oferecia, fora dos valores correntes da arquitetura (de outros) arquitetos” (SEGAWA, 1988, p.36).

Seu raciocínio projetual e construtivo ultrapassava a lógica moderna: o arquiteto defendia que, “o que aprendemos nas ruas e nos interiores das nossas cidades históricas é uma linha de coerência (...) a ser continuada M IXMZNMQtWILI VW [uK]TW @@1º +)4,); apud ;14>) ! ! [ X ) lógica projetual de Zanine Caldas o diferencia do discurso hegemônico

na arquitetura brasileira até aquele momento, já que o arquiteto autodidata participava de todas as etapas do projeto - da prancheta ao canteiro, sempre envolvido com a mão-de-obra empregada para a construção das casas no Rio de Janeiro.

A descrição das residências no Bairro do Joá associa-se ao retrato Y]M *Z]VW BM^Q ! \ZItI LI ¹XTIV\I TQ^ZMº M W M[XItW WZOpVQKW LI idade moderna: O espaço orgânico é rico em movimento, indicações direcionais, ilusões de perspectivas, em vivas e geniais invenções (...), mas o seu movimento tem de original o não querer impressionar os olhos do homem, mas exprimir a própria ação da vida. (...)

O homem, na diversidade das suas atividades e da sua vida, em suas exigências materiais e psicológicas, em sua presença espiritual, o homem integrado em cuja realidade corpo e alma encontram a conjunção vital, está no centro da cultura sobre a qual nasce a arte contemporânea (ZEVI, 2009, p. 127).

;IV\W[ KWTWKI Y]M É interessante notar, assim, que a obra de Zanine, que retoma o papel do saber-fazer tradicional toma envergadura durante os anos 1960 e 1970, conectada com o discurso ambientalista de então, embora afastada da arquitetura da maioria dos arquitetos pela pesquisa com materiais alternativos ao concreto, se aproxima com trabalhos de alguns arquitetos da mesma geração, pós-Brasília, como Acácio Gil Borsoi e Severiano Porto, que seriam recuperados mais recentemente, a partir dos anos 2000, e seguem sendo na construção de uma narrativa pós-moderna da arquitetura brasileira (SANTOS, 2018, p. 92).

17

Introdução

Objeto O objeto da dissertação consiste no estudo das residências unifamiliares projetadas por José Zanine Caldas entre os anos de 196876 no Bairro do Joá na cidade do Rio de Janeiro.

Objetivo Geral Documentar as técnicas construtivas em madeira nos projetos residenciais de José Zanine Caldas, na cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 1968 e 1976. =} Æ Ô¯ÀŐ À¹ ~ ë~¯À Relacionar a trajetória de vida de José Zanine Caldas e o “saber-fazer” (SANTOS, 1993) com sua produção de residências unifamiliares no Rio de Janeiro; Recuperar as informações textuais e projetuais dos projetos de Zanine no Rio de Janeiro; Redesenhar digitalmente os projetos das casas de Zanine no Rio de Janeiro entre o período de 1968 e 1976.

Problema Duas dissertações foram imprescindíveis para compreender a obra de Zanine Caldas: “O mestre, a madeira e a habitação | Residências de Zanine Caldas em Brasília 1963-1985” de Giselle Marie Cormier +PIQU M ¹8ZWRM\IZ M +WV[\Z]QZ KWU UILMQZI" W TMOILW LM 2W[u BIVQVM +ITLI[º LM )UIVLI *MI\ZQb 8ITUI LM +IZ^ITPW

) XZQUMQZI XM[Y]Q[I NWKI VI LWK]UMV\ItrW OZnÅKI LI[ ZM[QLwVKQI[ projetadas e construídas por Zanine Caldas em Brasília entre os anos de 1963 e 1985. Já a dissertação de Carvalho, foca no período entre 1968 M ! MU Y]M BIVQVM +ITLI[ UWZW] MU 6W^I >QtW[I *) M XZWL]bQ] ]UI [uZQM LM ZM[QLwVKQI[ ¹XZu UWV\ILI[º MU WÅKQVI[ LM UIZKMVIZQI 7]\ZI ZMTM^IV\M NWV\M JQJTQWOZnÅKI u W TQ^ZW ¹2W[u BIVQVM +ITLI[º TIVtILW MU ! R]V\IUMV\M o[ KWUMUWZIt M[ LW KMV\MVnZQW LW arquiteto. O livro possui textos de Amanda Beatriz Palma de Carvalho, 4I]ZW +I^ITKIV\Q M 5IZQI +MKyTQI 4W[KPQI^W LW[ ;IV\W[ )TuU LW[ ZMOQ[\ZW[ M[KZQ\W[ W TQ^ZW XW[[]Q NW\WOZIÅI[ LM )VLZu 6IbIZM\P QVKT]QVLW imagens de diversas casas da Joatinga, entre o período de 1968 e 1976.

Apesar das fotos das casas localizadas no Bairro do Joá na cidade do Rio de Janeiro, essas obras ainda não foram documentadas por meio de desenhos e textos. Devido à falta de registros desses projetos, não é XW[[y^MT QLMV\QÅKIZ W LM[MV^WT^QUMV\W LW ZIKQWKyVQW XZWRM\]IT LM BIVQVM entre o período que trabalho em Brasília, depois no Rio de Janeiro e, em seguida, em Nova Viçosa. Portanto, a escassa memória arquitetônica e a inexistência de redesenhos digitais dessas residências caracterizam- se como os principais problemas da pesquisa.

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Introdução

Questões de Pesquisa Como o saber-fazer orientou o projeto das casas no Bairro do Joá de José Zanine Caldas?

Como a técnica construtiva em madeira orientou o projeto das casas no Bairro do Joá de José Zanine Caldas? .ËÀÆ ë~rÆ ÔrķJ £ Ôu©~ r )XM[IZ LM [MZ ]UI ÅO]ZI U]T\QNIKM\ILI I\]IVLW MU nZMI[ KWUW design, urbanismo e arquitetura, Zanine é pouco reconhecido. Registros dispersos e incompletos sobre as casas de José Zanine Caldas no Rio LM 2IVMQZW KIZIK\MZQbIU W ZM[OI\M LM[[M XMZyWLW KWUW [QOVQÅKI\Q^W" I LWK]UMV\ItrW PQ[\~ZQKI [MRI MTI \M`\]IT QKWVWOZnÅKI W] XZWRM\]IT autentica os valores do conjunto da obra arquitetônica.

O aprofundamento na obra de Zanine Caldas destaca a importância do uso da madeira e insere sua produção no conceito de regionalismo KZy\QKW NWZU]TILW XWZ .ZIUX\WV ) IZY]Q\M\]ZI LM[MV^WT^QLI XWZ Zanine na Joatinga Busca (...) desconstruir o modernismo universal a partir de imagens e valores localmente cultivados e, ao mesmo tempo, deturpar esses elementos autóctones com o uso de paradigmas originários de fontes alienígenas. (...) por outro lado, (continua) consciente da responsabilidade política de evocar um regionalismo realista, um regionalismo acessível à população em geral (FRAMPTON , 2006, p. 507).

A perpetuação das informações textuais e projetuais das casas XZWRM\ILI[ XWZ BIVQVM VW *IQZZW LW 2Wn :QW LM 2IVMQZW KWVÅO]ZI se como essencial, pois é uma contribuição para o entendimento e reconhecimentos dessas residências como patrimônio. Atualmente, os moradores das casas entendem a importância da estrutura de madeira e do projeto de Zanine, mas essa condecoração precisa extrapolar os residentes e alcançar a academia e escolas de arquitetura e urbanismo.

Além disso, o resgate da obra de José Zanine Caldas também implica na recuperação de técnicas construtivas tradicionais brasileiras.

O “saber-fazer” (SANTOS, 1993) é presente em toda a produção do arquiteto autodidata e esse olhar para recuperação de algumas LM[\I[ \ZILQt M[ \IUJuU MZI VW\ILW VI M[KWTPI LM XZWÅ[[QWVIQ[ XIZI \ZIJITPIZMU KWU MTM [MO]VLW +PIQU " Zanine buscava no interior do estado aprendizes de carpinteiros e marceneiros que soubessem trabalhar de acordo com as tradições construtivas da região. Em Petrópolis, encontrou mestres-de-obra que exerciam o saber tradicional da construção em madeira herdado da imigração alemã, com quem contou fielmente nas décadas que se seguiram: Reduzino Vieira, responsável pela construção da maioria das casas da Joatinga, e José Araújo, executor das casas de Brasília (CHAIM, 2017, p. 43).

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Introdução

Metodologia ) UM\WLWTWOQI KWV[Q[\Q] QVQKQITUMV\M VW TM^IV\IUMV\W JQJTQWOZnÅKW /QT IÅZUI Y]M ¹I XM[Y]Q[I JQJTQWOZnÅKI u LM[MV^WT^QLI KWU JI[M em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos KQMV\yÅKW[º /14 X )TuU LQ[[W u ^IV\IRW[I XWQ[ XMZUQ\M ao investigador “a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais IUXTIº /14 X Dentre as principais fontes de pesquisa, encontram-se os livros “José Zanine Caldas”, dos autores Amanda Beatriz Palma de Carvalho, 4I]ZW +I^ITKIV\Q M 5IZQI +MKyTQI 4W[KPQI^W LW[ ;IV\W[ ! )TuU dessa obra, destaca-se também o livro “Zanine: Sentir e Fazer”, da autora Suely Ferreira da Silva (1989).

Realizada levantamento bibliográfico, outro procedimento UM\WLWT~OQKW ]\QTQbILW NWQ I XM[Y]Q[I JQWOZnÅKI ,M IKWZLW KWU ,MTZWa 5WUJMZOMZ M[[M UWLMTW LM XM[Y]Q[I LQ^QLM [M MU LWQ[ M[\nOQW[" 1) o da ‘coleta de materiais’, no caso e de forma bem peculiar, da ‘entrevista de pesquisa biográfica’; 2) o da ‘análise dos materiais’, em outros termos, dos modelos de leitura e de interpretação dos documentos coletados (DELROYMOMBERGER, 2012, p.524).

)X~[ I XM[Y]Q[I JQWOZnÅKI NWQ NMQ\I I [MTMtrW LI[ ZM[QLwVKQI[ ]VQNIUQTQIZM[ ) IVnTQ[M Y]ITQ\I\Q^I LM[[I[ WJZI[ ¹XW[[QJQTQ\I QLMV\QÅKIZ NMV UMVW[ W[ NI\W[ [rW WJ[MZ^ILW[ ZMOQ[\ZILW[ IVITQ[ILW[ KTI[[QÅKILW[ [MU Y]M W XM[Y]Q[ILWZ QV\MZÅZI VMTM[º +):>)407 X )

seleção das casas projetadas por Zanine na cidade do Rio de Janeiro também ocorreu por visitas in loco KWU LWK]UMV\It M[ NW\WOZnÅKI[ M croquis. O trabalho de resgate e documentação das casas foi feito por meio do levantamento cadastral e pela sistematização documental das residências, com redesenhos digitais. Esse procedimento metodológico foi imprescindível para a pesquisa, pois Em termos didáticos, (...) o (re)desenho é um processo de interpretação constante acerca do objeto analisado, seja uma escultura, um edifício ou cidade. Redesenhar significa, (...) prática complexa que se situa muito além da cópia e da imitação, já que a necessidade de compreender para representar exige grande domínio do objeto que se deseja desenhar (CHAIM, MEDEIROS, 2019, p. 42).

O entendimento da espacialidade das casas e a descrição textual LI[ UM[UI[ NWQ NMQ\I I\ZI^u[ LI IVnTQ[M OZnÅKI LI[ ZM[QLwVKQI[ Rn KWU W[ ZMLM[MVPW[ ÅVITQbILW[ 7[ XZQVKQXIQ[ I]\WZM[ ]\QTQbILW[ NWZIU *ISMZ !! M ;QUWV =V_QV ;QUWV =V_QV NWQ QUXZM[KQVLy^MT VI[ análises textuais das residências, pois o autor (...) objetiva promover uma organização conceitual do edifício através de sua caracterização enquanto lugar construído e habitado e da disposição de alguns elementos preestabelecidos, conforme convém para o entendimento da obra (BELTRAMIN, 2015, p. 126).

01_ JOSÉ ZANINE CALDAS

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Capítulo 1: José Zanine Caldas

1.1 O valor da experiência | Belmonte ;MO]VLW I LM[KZQtrW LI XZWNM[[WZI 5IZQI +MKyTQI 4W[KPQI^W LW[ Santos (1993), Zanine (...) sempre foi o artífice, o fazedor, em oposição a outros artistas, designers, arquitetos seus contemporâneos. Ele é verdadeiramente uma figura dupla: o designer – artesão ou o arquiteto – maquetista, que tem a experiência do saber-fazer, do trabalho da mão associado às ferramentas, ao traço, ao desenho. Este é um ponto fundamental em que se baseia toda a sua produção. Para ele este saber-fazer, este artesanato nunca esteve divorciado do projeto, ao contrário de muitos arquitetos de sua geração (SANTOS, 1993, p. 158).

José Zanine Caldas tem consciência de que a concepção de projeto nunca pode estar divorciada de sua experiência de vida. O próprio arquiteto reconhece a importância do sujeito que “faz”:

Desde pequeno fui fascinado por quem fazia. O alfaiate que fazia roupas, a cozinheira que fazia comida, o farmacêutico que fazia remédios, o carpinteiro que fazia mesas e cadeiras, o mestre de obra que fazia casas, o sapateiro que fazia botinas, o homem que transformava latas vazias em lamparinas, o que fazia chapéus de palhas e cestos. (...) Os mestres de obra conheciam o seu ofício (CALDAS apud SILVA, 1989, s/p).

7 ZM\ZI\W LW UM[\ZM LM WJZI \IUJuU u ZM[OI\ILW XWZ 4]KQW +W[\I em seu texto para a Primeira Revista do Serviço do Patrimônio 0Q[\~ZQKW M )Z\y[\QKW 6IKQWVIT ¹,WK]UMV\ItrW 6MKM[[nZQIº LM !

Costa descreve os mestres de obra como essenciais para o resgate da verdadeira tradição construtiva brasileira: Cabe-nos agora recuperar todo esse tempo perdido estendendo a mão ao mestre de obras sempre tão achincalhado, ao velho “portuga” de 1910, porque - digam o que quiserem - foi ele quem guardou, sozinho, a boa tradição (COSTA, 2018, p.462).

2W[u BIVQVM +ITLI[ u M[[I ÅO]ZI LM[KZQ\I XWZ 4]KQW +W[\I Y]M XW[[]Q o saber da prática e que valoriza a experiência. Na obra “The Craftsman”, o autor americano Richard Sennett investiga o trabalho manual de diferentes artesãos ao longo da história, com o objetivo de compreender os processos criativos na relação entre concepção e matéria. Para ;MVVM\\ I ÅO]ZI LW IZ\yÅKM XZMWK]XI [M KWU W \ZIJITPW JMU NMQ\W XWZ si só, já que esse ofício

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Capítulo 01 | José Zanine Caldas

é muito mais amplo do que o trabalho manual qualificado; serve ao programador de computador, ao médico e ao artista; a paternidade melhora quando é praticada como um ofício qualificado, assim como a cidadania. Em todos esses domínios, o artesanato se concentra em padrões objetivos, na coisa em si. (...) E embora o artesanato possa recompensar um indivíduo com um senso de orgulho no trabalho, essa recompensa não é simples. O artesão frequentemente enfrenta padrões objetivos e conflitantes de excelência; o desejo de conseguir algo de bom por si só pode ser despertado pela pressão da concorrência, pela frustração ou pela obsessão (SENNETT, 2008, p. 09, tradução livre pela autora).

podem ser mentalmente com o material de seu trabalho ao invés de com W]\ZI[ XM[[WI[ º ;-66-<< X \ZIL]trW TQ^ZM XMTI I]\WZI 7 IZ\yÅKM UI\MZQITQbI ]U LQnTWOW MV\ZM XZn\QKI[ KWVKZM\I[ M QLMQI[

7 IZ\yÅKM ZMXZM[MV\I I KWVLQtrW VQKI LW [MZ P]UIVW LM MVOIRIZ [M

[IJMZ LI M`XMZQwVKQIº 7 I]\WZ XZWX M [M I XMV[IZ I ML]KItrW I XIZ\QZ LW XIZ M`XMZQwVKQI [MV\QLW KWV\ZIXWVLW [M IW UWLW LM XMV[IZ I

com o objetivo de seu trabalho e orgulhar-se disso. Ainda de acordo KWU ;MVVM\\ \WLW IZ\yÅKM KWVL]b ]U LQnTWOW MV\ZM XZn\QKI[ KWVKZM\I[ e pensamento, entre mão e cabeça. A técnica, não é mais uma atividade UMKpVQKI" u XW[[y^MT ZMÆM\QZ I\Q^IUMV\M Y]IVLW [M ZMITQbI JMU ]UI \IZMNI ;-66-<< X Desta forma, Sennett opõe-se às concepções estabelecidas por sua XZWNM[[WZI 0IVVIP )ZMVL\ 6I WJZI ¹) KWVLQtrW P]UIVIº LM ! a autora distinguia: Animal laborens e Homo faber. O Animal laborens é o []RMQ\W Y]M ÅKI KWUXTM\IUMV\M MV\ZMO]M IW \ZIJITPW KWUW ÅU MU [Q mesmo, com o único objetivo de “fazer a coisa funcionar”. Assemelhase à um “animal de carga”, condenado à sua rotina. Já o Homo faber é o “juiz”, que discute e julga o fazer, é superior ao Animal laborens. Sennett ZMN]\I M[[I LQ^Q[rW IÅZUIVLW Y]M ¹W []RMQ\W Y]M u W )VQUIT TIJWZIV[ u capaz de pensar criticamente; as discussões que esse ser produtor propõe

[WJZM W N]VLW LM PnJQ\W[ XZWTWVOILW[ -[[I ÅO]ZI KWVKZM\QbI I ^QI de mão dupla entre ideia e prática: “(...) as habilidades, até mesmo as mais abstratas, tem início como práticas corporais (...)” e o “(…) o entendimento técnico se desenvolve através da força da imaginação” ;-66-<< X \ZIL]trW TQ^ZM XMTI I]\WZI Outra concepção fundamental de experiência é elaborada pelo autor 2WZOM 4IZZW[I *WVLyI MU [M] M`KMZ\W ¹6W\I[ [WJZM I M`XMZQwVKQI M W

educação como relação entre ciência e técnica, ou entre teoria e prática.

8IZI \IV\W M`XTWZI W [QOVQÅKILW LI[ XITI^ZI[ M`XMZQwVKQI M [MV\QLW 9]IV\W o XITI^ZI ¹M`XMZQwVKQIº 4IZZW[I I LMÅVM KWUW" ¹ W Y]M nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, XWZuU IW UM[UW \MUXW Y]I[M VILI VW[ IKWV\MKMº 4)::7;) p. 21). O autor diferencia o sujeito que apenas observa e não é tocado pela experiência, e o sujeito “experiente”. Nesse caso, a passividade, ou o ato de absorção de experiências é essencial na formação do indivíduo.

Capítulo 01 | José Zanine Caldas

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O sujeito da experiência se define não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por sua disponibilidade, por sua abertura. Trata-se, porém, de uma passividade anterior à oposição entre ativo e passivo, de uma passividade feita de paixão, de padecimento, de paciência, de atenção, como uma receptividade primeira, como uma disponibilidade fundamental, como uma abertura essencial. (...) O sujeito da experiência é um sujeito ‘ex-posto’ (LARROSA, 2002, p. 24).

7 []RMQ\W LI M`XMZQwVKQI VrW u LMÅVQLW XWZ []I I\Q^QLILM UI[ pela abertura para ser transformado pela experiência. De acordo com 4IZZW[I Definir o sujeito da experiência como sujeito passional não significa pensá-lo como incapaz de conhecimento, de compromisso ou ação. A experiência funda também uma ordem epistemológica e uma ordem ética. O sujeito passional tem também sua própria força, e essa força se expressa produtivamente em forma de saber e em forma de práxis.

O que ocorre é que se trata de um saber distinto do saber científico e do saber da informação, e de uma práxis distinta daquela da técnica e do trabalho. O saber de experiência se dá na relação entre o conhecimento e a vida humana (LARROSA, 2002, p. 24).

Figura 1: Praça da Bandeira, Belmonte (sem data).

Fonte: Acervo IBGE.

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Capítulo 01 | José Zanine Caldas

Figura 2: Vista aérea de Belmonte (sem data).

Fonte: Acervo IBGE.

Figura 4: Vista aérea do Rio Jequitinhonha (1953).

Fonte: Acervo IBGE.

Figura 3: Vista aérea do Rio Jequitinhonha (1953).

Fonte: Acervo IBGE.

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Capítulo 01 | José Zanine Caldas

Portanto, para compreender o sujeito da experiência que era José Zanine Caldas, é preciso traçar sua trajetória. Como a “vida P]UIVIº 4)::7;) X LM BIVQVM ZMTIKQWVI [M KWU [M]

carreados pelas cheias do rio Jequitinhonha para o mar serviram KWUW O]QI XIZI +IJZIT KPMOIZ MU \MZZI ÅZUM VW []T LI *IPQI º +):>)407 +)>)4+)6<1 ;)6<7; ! X

¹KWVPMKQUMV\Wº 4)::7;) X IZY]Q\M\ VQKW M KWV[\Z]\Q^W' Zanini José Gomes Zanine Caldas nasceu em 25 de abril de 1919 em Belmonte (Figuras 1 e 2), cidade do litoral sul da Bahia, situada na

A cidade de Belmonte destaca-se economicamente no século XIX por conta da produção de cacau e Zanine reconhece esse período na história de sua família, pois a mesma “atravessou aquela época em que as margens do Jequitinhonha eram um faroeste com muito bandido e VMVP]U UWKQVPW -ZI I uXWKI LI M`XIV[rW LW KIKI] ÆWZM[\I ILMV\ZW

ZMOQrW LI 5I\I )\TpV\QKI BIVQVM u ÅTPW LM 8ITUQLM /WUM[ +ITLI[ M LW médico Euclides Zanine Caldas e ao resgatar a memória de sua infância em Belmonte, o arquiteto nos traz a força da terra, as lembranças da antiga morada e as imagens do espaço vivido da cidade. Segundo ele “Eu tive muita sorte de ter nascido em Belmonte”1 +)4,); apud +):>)407 +)>)4+)6<1 ;)6<7; ! X A pequena cidade de Belmonte localiza-se na foz do rio Jequitinhonha (Figuras 3 e 4), e funcionou como canal de navegação entre a costa e a ZMOQrW LM UQVMZItrW LW -[\ILW LM 5QVI[ /MZIQ[ ;MO]VLW .QTPW a fundação da cidade remete ao início do século XVIII, quando um aldeamento de índios do grupo Kamakan foi catequizado pelo padre Jesuíta Araújo Ferraz.

Em meados de 1718, o povoado recebe o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Belmonte, em homenagem à cidade homônima em Portugal, onde nasceu o navegador Pedro Álvares Cabral. Santos ! LM[KZM^M Y]M ¹;MO]VLW ITO]V[ PQ[\WZQILWZM[ W[ ZM[\W[ ^MOM\IQ[ 1

,MXWQUMV\W LM 2W[u BIVQVM +ITLI[ o 5IZQI +MKyTQI 4W[KPQI^W LW[ ;IV\W[ :QW LM 2IVMQZW

! ! XZM[MV\M VW TQ^ZW +):>)407 )UIVLI *MI\ZQb 8ITUI LM# +)>)4+)6<1 4I]ZW# ;)6<7; 5IZQI +MKyTQI 4W[KPQI^W LW[ 2W[u BIVQVM +ITLI[ ;rW 8I]TW 6W^I AWZS" 7TPIZM[ ! X

LM[KZQ\I VW[ TQ^ZW[ LM 2WZOM )UILWº +)4,); apud ;14>) ! ! [ X Ainda de acordo com Zanine, Com terra e madeira foram construídos os abrigos da humanidade. As casas de taipa e adobe de Belmonte, cobertas por telhas de barro cozido em fornos de barro com o calor da madeira no fogo. Foi por aí, exatamente, olhando o fazer, que aprendi a fazer, também. Sobretudo casas (CALDAS apud SILVA, 1989, s/p).

Na paisagem de Belmonte, é evidente a presença de rica cultura vernacular e o fazer popular na criação de artefatos de uso cotidiano. A disponibilidade de recursos naturais, especialmente de madeira, somada à capacidade de invenção e experimentação do povo local tornaram-se temas permanentes em toda a vida de Zanine. A casa, a terra, a canoa integram o mundo material de sua infância (Figuras 5, 6, 7).

A descrição do Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied sobre Belmonte entre os anos de 1815 e 1817 ilustra os conhecimentos técnicos tradicionais dos moradores da região:

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Capítulo 01 | José Zanine Caldas

É um lugar pequeno e medíocre, ora em caminho da decadência, fundado, cinquenta a sessenta anos atrás, com índios de que restam poucos atualmente. A casa da Câmara, feita de madeira e barro, estava a pique de ruir; uma parede caíra por completo, de modo que se devassava todo o interior. A vila forma uma praça com cerca de 60 casas, tendo aproximadamente 600 habitantes; a igreja fica numa das extremidades. As casas de residência são cabanas acachapadas feitas de barro; a única de alguma apresentação pertence ao “capitão mor”, a do “ouvidor”, na qual me deram pouso, não era melhor do que as outras. Quase todas as cabanas são cobertas de palha, e as ruas irregulares e sem calçamento, cheias de capim, tornam o lugar equivalente a nossas mais atrasadas aldeias; o único ornamento está no número de coqueiros da planície arenosa, que por toda parte rodeiam as habitações, unindo as cimas ultimadas em um bosque farfalhante. Esses coqueiros são aí notavelmente produtivos; julga a população que rendem tanto por causa dos buracos feitos nos caules um pouco acima do solo... Belmonte possui três ou quatro lanchas, com que mantém, com a Bahia, algum comércio de farinha de mandioca, algodão, arroz e madeiras de lei. A exportação anual de farinha de mandioca é de cerca de mil alqueires; o mesmo de arroz, dois mil de milho, e um pouco de aguardente, embora só haja aí duas destilarias. As margens do rio são férteis, pois que parcialmente inundadas, havia, nesse tempo, no lugar, um escocês que mantinha um comércio de algodão bastante desenvolvido; acabara justamente de perder um navio quase que inteiramente carregado, devido à conduta desleal do capitão. O pobre vilarejo tira agora alguma vantagem da comunicação feita com Minas Novas, na “capitania” de Minas Gerais, pelo rio e ao longo dele, mas, ainda assim, mal tem o indispensável à vida, sendo que nós, forasteiros, não conseguiríamos nada por dinheiro, se acaso não tivéssemos

as mais urgentes necessidades satisfeitas graças ao nosso conhecimento com os moradores; entretanto, os “mineiros”, de tempos a tempos, traziam em canoas, para o litoral, víveres e outros artigos, tais como milho, toucinho, carne seca, pólvora, algodão, etc., que supriam em parte a Vila de Belmonte e em parte eram mandados para Porto Seguro e Bahia (WIEDNEUWIED, 1942, p.225).

Wied-Neuwied (1942) ainda destaca a presença da população nativa LW[ ¹*W\WK]LW[º .QO]ZI o[ UIZOMV[ LW :QW *MTUWV\M" ¹)[ ÆWZM[\I[ das margens do Belmonte constituem o principal retiro da tribo dos ‘Botocudos’, tantas vezes referida, e em virtude da qual o rio não podia, antigamente, ser navegado sem perigo” (WIED-NEUWIED, 1942, p.226). O Príncipe ainda relata que as canoas utilizadas para navegar o rio descrito eram feitas de madeira “barriguda”, nome que no Norte corresponde às paineiras da espécie Bombax ceiba.

Capítulo 01 | José Zanine Caldas

Figura 5: Baleia cachalote encalhada na costa de *MTUWV\M .WV\M" +):>)407 +)>)4+)6<1 ;)6<7; ! X

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Figura 6: Farol da Barra em Belmonte (sem data).

Fonte: Acervo IBGE.

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Capítulo 01 | José Zanine Caldas

Figura 8: Ilustração da tribo dos “Botocudos”.

Fonte: WIED-NEUWIED, 1942, p.226. .QO]ZI " 0IJQ\It M[ ^MZVIK]TIZM[ MU *MTUWV\M .WV\M" +):>)407 +)>)4+)6<1 ;)6<7; ! X .

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Capítulo 01 | José Zanine Caldas

Sobre esse ambiente com abrigos feitos de barro, madeira e palha, Zanine mostrava-se imerso pelo trabalho e habilidades dos artesãos e “fazedores”: Se, às vezes, eles estivessem fazendo uma canoa ou um móvel, ou se fosse uma casa ou uma carroça, uma coisa assim, eu me fascinava, porque ver uma pessoa fazer uma coisa era como se fosse mágica do nada, por nada, sem nada. Com o esforço dela, ela pegava uma ferramenta e fazia qualquer produto. É isso que me passava pela cabeça2 (CALDAS apud CARVALHO, CAVALCANTI, SANTOS, 2019, p.25).

) KWV^Q^wVKQI KWU M[[M[ IZ\yÅKM[ NWQ ]U M[\yU]TW XMZUIVMV\M XIZI Zanine no início de sua vida. Com a constante observação, foi possível o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas orientadas ao trabalho das mãos, ao uso dos materiais, técnicas e ferramentas tradicionais. ;MVVM\\ IÅZUI Y]M MU UuLQI [rW ZMY]MZQLI[ LMb UQT horas de experiência para formar um mestre marceneiro. Conforme a habilidade progride, ela passa a ser automaticamente ligada à solução de problemas e à criação de novos métodos. Esse panorama encaixase com a trajetória de Zanine, pois desde sua origem em Belmonte, o arquiteto esteve em contato com técnicas de marcenaria, que foram desenvolvidas ao longo dos anos.

2

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! ! XZM[MV\M VW TQ^ZW +):>)407 )UIVLI *MI\ZQb 8ITUI LM# +)>)4+)6<1 4I]ZW# ;)6<7; 5IZQI +MKyTQI 4W[KPQI^W LW[ 2W[u BIVQVM +ITLI[ ;rW 8I]TW 6W^I AWZS" 7TPIZM[ ! X

Zanine Caldas estabelece uma relação particular com a natureza, em especial com a madeira, desde muito jovem. Por conta da variedade de espécies e árvores nativas disponíveis na região da Mata Atlântica, fazia seus próprios brinquedos em madeira e presépios de natal para vender às famílias da cidade, aproveitando-se das sobras de caixas de [MZQVOI[ LW XIQ +0)15 j QV\MZM[[IV\M VW\IZ Y]M I WZQOMU LI XITI^ZI ¹UI\uZQIº u W 4I\QU materialis, “relativo à matéria”, de materia, “substância da qual um objeto é feito”, de mater, “mãe, geradora”. A palavra “madeira” tem a mesma raiz da palavra “matéria”, ou seja, o tema e o assunto da história de Zanine provêm do mesmo lugar.

Sujeito e objeto acompanham o arquiteto desde o início de sua vida. E a madeira é o nome de sua terra, o Brasil, pau-brasil. Zanine tem sua história pessoal integrada com a de seu país. )W LM[KZM^MZ W IUJQMV\M WVLM KZM[KM] M I QUXWZ\pVKQI LI ÆWZM[\I em sua criação, Zanine demonstra-se consciente sobre seu entorno e os danos causados pela exploração da Mata Atlântica por produtores de cacau: Espiando os outros fazendo coisas, enquanto meu pai curava doenças, fui me envolvendo com as árvores. Em torno de Belmonte havia florestas poderosas, sempre verdes, e árvores enormes, que os fazendeiros apressados em plantar mais chocolate suíço, derrubavam e queimavam. Nos pastos, bois e vacas pastavam entre destroços de florestas centenárias que os portugueses encontraram quando chegaram ao Brasil, em 1500 (CALDAS apud SILVA, 1989, s/p).

Capítulo 01 | José Zanine Caldas

Após ser alfabetizado ainda em Belmonte, Zanine é enviado pela mãe para São Paulo para continuar seus estudos. No município de Pitangueiras, região metropolitana de São Paulo, Zanine adquiriu suas

)QVLI L]ZIV\M I LuKILI LM ! M QVyKQW LI LuKILI LM ! BIVQVM \ZIJITPW] VW ;MZ^QtW LW 8I\ZQU VQW KWUW I[[Q[\MV\M LM 4]y[ ;IQI VI documentação de residências coloniais do interior de São Paulo. Esse

XZQUMQZI[ M`XMZQwVKQI[ XZWÅ[[QWVIQ[ KWU LM[MVPW"

contato direto com as residências bandeiristas terá direto impacto no partido projetual de suas obras arquitetônicas no Bairro do Joá +):>)407 +)>)4+)6<1 ;)6<7; !

No quinto ano eu parei de trabalhar mesmo. Por uma série de razões, inclusive porque para trabalhar eu precisava melhorar meu trabalho, eu tinha que aprender mais coisas em relação a meu trabalho, e na escola eu não aprendia nada que pudesse melhorar o meu trabalho. Então eu nem melhorava meu trabalho e nem ia melhorar o estudo. (...) Fiz desenho de arquitetura e desenho de publicidade3 (CALDAS apud CARVALHO, CAVALCANTI, SANTOS, 2019, p.29).

6W QVyKQW LI LuKILI LM ! 2W[u BIVQVM +ITLI[ U]LI [M XIZI ;rW Paulo: Fui para São Paulo trabalhar em arquitetura, com Severo & Villares. Aí não me dei bem lá e vim para o Rio. Cheguei aqui e fui trabalhar em maquete, em 1940-1941. (...) Aí começou a se desenvolver aquele móvel que eu fiz em São José dos Campos, à base de compensado e à prova d’água4 (CALDAS apud CARVALHO, CAVALCANTI, SANTOS, 2019, P; 29).

3

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! ! XZM[MV\M VW TQ^ZW +):>)407 )UIVLI *MI\ZQb 8ITUI LM# +)>)4+)6<1 4I]ZW# ;)6<7; 5IZQI +MKyTQI 4W[KPQI^W LW[ 2W[u BIVQVM +ITLI[ ;rW 8I]TW 6W^I AWZS" 7TPIZM[ ! X

4

Ibidem

Em 1941, José Zanine Caldas estabelece-se no Rio de Janeiro, onde abre o ateliê “Maquete Estúdio”. Esse período é essencial para sua experiência com o saber-fazer, já que entra em contato com uma série de importantes arquitetos modernos brasileiros.

1.2 “Maquete Estúdio” | Rio de Janeiro ;MO]VLW 4QUI ]U QV\MV[W UW^QUMV\W o XZWK]ZI LM UMTPWZM[ KWVLQt M[ LM \ZIJITPW M [WJZM^Q^wVKQI LMÅVQ] W \MZZQ\~ZQW JZI[QTMQZW no século XX, marcando a diversidade cultural no país. A economia cafeeira, principalmente em São Paulo, absorveu essa mão-de-obra migratória, transformando a região Sudeste no centro hegemônico de acumulação de capital. Com o crescimento urbano, há também a expansão industrial, ambos impulsionados pelo êxodo do campo. ) LuKILI LM ! UIZKI W []ZOQUMV\W LW UWLMTW LM[MV^WT^QUMV\Q[\I que direcionava o esvaziamento do campo e a transferência da população para as cidades e regiões mais ricas do país. Entre os anos LM ! M ! W 6WZLM[\M LM[KWJZM W ;]LM[\M" I[ UQOZIt M[ QV\MZVI[

Capítulo 01 | José Zanine Caldas

acontecem em direção às fronteiras agrícolas do Paraná, Centro-Oeste e Maranhão, e aos centros industriais do Sudeste, São Paulo e Rio de Janeiro. As novas e mais aprimoradas técnicas de lavroura e pecuária aumentam as safras e o êxodo rural provoca um excedente de população Y]M ÅKI LQ[XWVy^MT XIZI W]\ZI[ I\Q^QLILM[ KWUW I QVL [\ZQI 415)

9]IV\W IW pUJQ\W K]T\]ZIT M IZY]Q\M\ VQKW I LuKILI LM ! \IUJuU UW[\ZI [M NMK]VLI ,M IKWZLW KWU 5QVLTQV ! ! UIZKI I XZQUMQZI XI[[IOMU LM 4M +WZJ][QMZ XMTW :QW LM 2IVMQZW M XWZ ;rW 8I]TW incitando discussões sobre o modernismo na arquitetura brasileira. Em 1935, foi anunciado o concurso público para o projeto do novo edifício do Ministério de Educação e Saúde no Rio de Janeiro e em 1945, a WJZI KWWZLMVILI XWZ 4 KQW +W[\I +IZTW[ 4MrW 2WZOM 5WZMQZI )‫ٺ‬WV[W Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer e Ernani Vasconcellos foi concluída.

Esse edifício se coloca, não só em território nacional, mas no mundo WKQLMV\IT KWUW ]UI KWV\ZQJ]QtrW LMÅVQ\Q^I o IZY]Q\M\]ZI UWLMZVI j VM[[M XMZyWLW LM MNMZ^M[KwVKQI MKWV UQKI M K]T\]ZIT Y]M 2W[u Zanine Caldas empregou seu saber-fazer para produzir arquitetura por meio de modelos reduzidos. Em 1941, Zanine se junta ao contingente migratório Nordeste-Sudeste e muda-se para o Rio de Janeiro, onde IJZM W I\MTQw ¹5IY]M\M -[\ LQWº ;MO]VLW *IZ\PWTWUM] W WTPIZ atento de Zanine buscava entender como as coisas eram construídas (...) para que então pudesse projetar a partir do conhecimento adquirido. Esse método de desenvolvimento do conhecimento

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é completamente condizente com a sua trajetória, quando considerado que o primeiro passo de Zanine foi a construção de maquetes. Zanine observava a construção das casas e, a fim de consolidar o conhecimento, replicava a mesma técnica em escala, repetindo exatamente os encaixes, misuras dos componentes e a aparência final. A construção do modelo era vital no processo criativo, assim como apontam outros autores do campo do design (...). Ele era parte intrínseca do método de Zanine (BARTHOLOMEU, 2016, p. 25).

*I[[W LMÅVM Y]M MUJWZI W LM[MVPW [MRI W UMQW LM M`XZM[[rW mais utilizado pelos arquitetos, o modelo reduzido é uma importante ferramenta para representação e aprendizado em arquitetura. A maquete não é uma representação exata da realidade, no entanto, o uso simultâneo e complementar do desenho e do modelo permite ao arquiteto o controle de seu projeto e ideias. Esse aspecto da produção LM UWLMTW[ u M`MUXTQÅKILW VI[ UIY]M\M[ NMQ\I[ XWZ BIVQVM M M`XW[\I[ VI ¢ *QMVIT LM )ZY]Q\M\]ZI MU !!! .QO]ZI[ ! )QVLI LM IKWZLW KWU *I[[W I QV[\pVKQI LI KWU]VQKItrW LW projeto de arquitetura e a necessidade de vê-lo antes de sua conclusão WZQOQVIZIU I XZWÅ[[rW LW IZY]Q\M\W VI :MVI[KMVtI" W IZY]Q\M\W VrW u ]VQKIUMV\M ]U KWV[\Z]\WZ M [QU ]U XZWÅ[[QWVIT Y]M KWV[MO]M representar suas ideias concretamente para depois executá-las. Entre UMILW[ LW [uK]TW @1> M W ÅU LW [uK]TW @>1 M[[I LMUIVLI KWV\ZQJ]Q] para a contratação de artesãos ligados a atividades artísticas com maior habilidade técnica, para a produção de modelos em escalas reduzidas. ) XIZ\QZ LM MV\rW M[[M[ IZ\yÅKM[ I[[]UQZIU QUXWZ\pVKQI VW pUJQ\W LI

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.QO]ZI[ ! M " 5IY]M\M NMQ\I XWZ BIVQVM M`QJQLI VI ¢ *QMVIT LM )ZY]Q\M\]ZI !!! .WV\M" +I\nTWOW ¢ *QMVIT LM )ZY]Q\M\]ZI !!!

Capítulo 01 | José Zanine Caldas

construção e não é coincidência que os grandes arquitetos da época eram de origem artesã. Dentre esses nomes, destacam-se Brunelleschi, Ghiberti e Michelozzo, todos provenientes de ourivesarias e com repertório artesão, centrando-se em atividades manuais.

José Zanine Caldas é o individuo artesão - como já explanado anteriormente - e suas maquetes foram o meio pelo qual o mesmo desenvolveu seu repertório arquitetônico (Figura 13). Segundo Alcides Rocha Miranda, “Seus primeiros trabalhos – modelos reduzidos ou maquetes executados aqui no Rio – contribuíram para a criação de novas formas de arquitetura que saíam das pranchetas para serem estudadas em três dimensões” (MIRANDA apud ;14>) ! ! [ X ,M IKWZLW KWU +IZ^ITPW W I\W LM XZWL]bQZ UWLMTW[ tridimensionais é um dos primeiros momentos para a materialização de um conceito, pois consiste na transformação do que antes estava em duas dimensões (desenho) para a tridimensionalidade em escala.

Com isso, Zanine observava e aprendia sobre espaços modernos e ideias projetuais desenvolvidas pelos principais arquitetos brasileiros da época.

Pode-se dizer que, apesar de não ter frequentado uma Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, o “Maquete Estúdio” foi uma escola para BIVQVM +IZ^ITPW IQVLI NIb I QUXWZ\IV\M IÅZUItrW Y]M BIVQVM aprendeu em Belmonte as técnicas tradicionais de construção do Brasil e que estudou criação e composição com arquitetos modernos.

Dentre os modelos de projetos modernistas que José Zanine Caldas desenvolveu no período, destacam-se a Residência Olivo Gomes, de :QVW 4M^Q .QO]ZI # W +WVR]V\W :M[QLMVKQIT /W^MZVILWZ 2][KMTQVW

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Kubistchek, de Oscar Niemeyer (Figura 15); o Conjunto Nacional, de ,I^QL 4QJM[SQVL .QO]ZI # W -LQNyKQW +WXIV LM 7[KIZ 6QMUMaMZ e o Estádio do Maracanã. Foi o sucesso adquirido entre os arquitetos modernos brasileiros que fez com que, em 1949, Zanine transferisse seu estúdio de maquetes para São Paulo, onde permaneceu até 1955, M`MK]\IVLW IXZW`QUILIUMV\M UIY]M\M[ +):>)407 X

Zanine foi inovador, pois empregava diferentes materiais na composição de seus modelos reduzidos. Dentre as matérias-primas e técnicas, destacam-se a utilização de madeira-bálsamo, a simulação do papelão WVL]TILW KWUW \MTPI[ LM ÅJZWKQUMV\W M W LM[MVPW [WJZM ÅTUM[ \ZIV[parentes representando as esquadrias de vidro. Outro material comunmente empregado por Zanine em suas maquetes era o compensado laminado, diferentemente do gesso (empregado sempre na elaboração de maquetes).

Por conta do contato com os mais renomados arquitetos modernistas, Zanine acompanhou de perto as últimas discussões formais sobre arquitetura que afloravam no período:Entre outros embates sobre o amadurecimento do ideário da Arquitetura Moderna, um enfrentava a crise provocada por paradigmas desencadeados pela explosão imobiliária que ocorria nas grandes metrópoles, e que passava pela discussão sobre a forma de pensar o espaço habitável das novas casas e apartamentos. E a discussão sobre o “habitat” já era um debate sobre a natureza que envolve o homem e seus espaços, suas atividades e seus objetos, entre eles o mobiliário. E para quem estuda a casa, o desenho do mobiliário e a organização dos ambientes se apresentam

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Figura 13: José Zanine Caldas produzindo VW 5IY]M\M -[\ LQW .WV\M" +):>)407 +)>)4+)6<1 ;)6<7; ! X

Figura 14: Maquete de Zanine para o projeto da Residência Olivo Gomes em São José dos Campos. Fonte: +):>)407 +)>)4+)6<1 ;)6<7; ! X

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Figura 15: Maquete do Conjunto Residencial Governador Juscelino Kubistchek. .WV\M" ;14>) ! ! [ X ! X

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Figura 16: Mies Van Der Rohe observa maquete de Zanine Caldas para o Conjunto Nacional. .WV\M" 516,416

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como extensão do mesmo tema. Era também um momento de troca: apresentavam-se desenhos, objetos e publicações, entre as quais várias revistas e livros estrangeiros que circulavam nas faculdades e escritórios de arquitetura. Já a aproximação de Zanine Caldas com o compensado de madeira deve ter ocorrido em decorrência de suas investigações e curiosidades, característica de um profissional empolgado e empenhado em oferecer novidades e qualidade de serviço aos seus clientes (MELO, 2001, p.50).

1.3 “Fábrica de Móveis Z, Zanine, Pontes & Cia. LTDA” | São José dos Campos Essa aproximação de José Zanine Caldas com o compensado de madeira por conta da confecção de modelos reduzidos no “Maquete Estúdio” acarretou na experimentação desse material em outros meios.

7 ÅVIT LI LuKILI LM ! M QVyKQW LI LuKILI LM ! UIZKIZIU W crescimento da industrialização no Brasil, e, nessa conjuntura, Zanine LMKQLQ] IJZQZ MU [WKQMLILM KWU ;MJI[\QrW 0MVZQY]M LI +]VPI 8WV\M[ (1911-1978) e Paulo Mello (1922-1982) a “Fábrica de Móveis Z” em São José dos Campos, no ano de 1949. +WVNWZUM 5MTW VrW [M [IJM I ^MZLILMQZI ZIbrW Y]M TM^W] Zanine Caldas à São José dos Campos em 1947. Duas hipóteses são as de que Zanine precisava de uma marcenaria mais espaçosa para confeccionar a maquete do Estádio do Maracanã, além de procurar um local adequado para o tratamento de tuberculose. Quanto à iniciativa de abrir uma empresa de móveis, a euforia causada pelo processo de

industrialização em São José dos Campos, com a construção das fábricas /MVMZIT 5W\WZ[ ! ! M 2WPV[WV M 2WPV[WV ! NWQ LMKQ[Q^I 7]\ZW fator era a ausência de indústrias que produzissem móveis na região para atender à demanda local. )QVLI LM IKWZLW KWU 5MTW ITO]V[ QV\MZM[[M[ LM^MU \MZ direcionado o pensamento de Zanine para esse cenário que se formava, KWUW W LM KWTWKIZ MU XZn\QKI []I M`XMZQwVKQI XZWÅ[[QWVIT KWUW maquetista para adentrar no mercado de móveis. Como os sócios José BIVQVM +ITLI[ ;MJI[\QrW 0MVZQY]M LI +]VPI 8WV\M[ M 8I]TW 5MTTW conheceram-se circulando por eventos sociais da classe média de São José dos Campos, percebeu-se a demanda por móveis modernos que estivessem alinhados com a produção industrial de países como Alemanha e Estados Unidos: Mesmo contando com matéria-prima abundante e uma forte influência do artesanato no trato das formas e técnicas construtivas, resultantes da tradição colonial, a realidade imposta pela industrialização, combinada com as transformações sócio-econômicas nas grandes cidades, conduziu a adaptação dos móveis perante a nova realidade que se formava: a demanda do mercado não seria atendida através dos tradicionais processos de fabricação. Essa industrialização necessitava de um material que possuísse qualidades similares a madeira, que oferecesse peças com uma maior área de envergamento. Isso acarretou na descoberta da técnica do compensado (MELO, 2001, p.13).

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.QO]ZI " )V VKQW LI 5~^MQ[ )Z\y[\QKW[ B IVW[ ! .WV\M" 0IJQ\I\ )KMZ^W 8I]TW 5I]ZW LM )Y]QVW

Figura 18: Publicidade da Fábrica de Móveis Z. Fonte: Casa e Jardim, 1953, V. 3, p. 9.

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Santos (1993) coloca que toda a linha de móveis eram projetados pensando em uma montagem simples, que pudesse ser executada por UrW LM WJZI VrW Y]ITQÅKILI 7 XZQVKyXQW Jn[QKW LI \uKVQKI KWV[\Z]\Q^I dos “Móveis Artísticos Z” foi o recorte de peças de compensado de madeira que eram transformadas nas partes estruturais do mobiliário, seja através de desenhos sinuosos seja por meio da aplicação de cortes ZM\W[ -[[I[ KIZIK\MZy[\QKI[ LW UWJQTQnZQW XWLMU [MZ ^MZQÅKILI[ VI[ publicidades da época (Figuras 17 e 18).

Santos (1993) também coloca que o compensado de madeira foi utilizado na confecção de mobiliário por arquitetos do convívio de Zanine, como Oswaldo Bratke e eram vários os fatores internacionais que apontavam as tendências de que o conceito de mobiliário residencial mudara, como o concurso de “design” organizado pelo Museu de Arte 5WLMZVI LM 6M_ AWZS MU ! M I IUXTI LQN][rW KWUMZKQIT LW[ U~^MQ[ ^MVLQLW[ XMTI 0MZUIV 5QTTMZ ;MO]VLW 5MTW ]U LW[ XZQUMQZW[ modelos a serem fabricados pela “Móveis Artísticos Z” foi a reprodução de uma poltrona desenhada por Richard Neutra, que fazia o uso explícito do compensado de madeira através de um desenho no formato de bumerangue, sustentado por canos de ferro e cujo assento e espaldar eram confeccionados por uma única peça em tiras de couro. Foi um modelo que chegou a ser desenvolvido em várias versões e copiado em países como a Itália e o Brasil, reproduzido aqui com adaptações de materiais, feitas pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas em 1948 e por Oscar Niemeyer em 1949.

Com um desenho bastante simples, o modelo reproduzido não exigia maquinaria moderna ou mão-de-obra especializada,

pois se resumia em recortar o compensado, parafusar o pé para apoio, e conectar os bastões para travamento e suporte do encosto e espaldar (MELO, 2001, p.86).

Outras referências notáveis nesse período são os designers Alexey Brodovitch e Carlo Mollino, como pode ser observado nas Figuras ! )UJW[ MUXZMOI^IU W KWUXMV[ILW MU UILMQZI XIZI compor formas sinuosas em seu mobiliário, assim como Zanine fez com os Móveis Artísticos Z. Esses paralelos entre os mobiliários de José Zanine Caldas para a “Fábrica de Móveis Z” em São José dos Campos e outros designers internacionais demonstram como esse período foi uma fase de experimentações com princípios da arquitetura moderna adquiridos por meio do convívio com os arquitetos-clientes no “Maquete Estúdio” e, posteriormente, com a classe média joseense. Esses ensaios ÆMZ\IVLW KWU W LM[QOV mid century \IUJuU ZMÆM\MU MU [M] XZQUMQZW projeto residencial em São José dos Campos, a Residência Sebastião 8WV\M[ ! TWKITQbILI VI )^ )VKPQM\I · 2IZLQU 6W^I )UuZQKI .QO]ZI[ M ;MO]VLW +IZ^ITPW M[[I ZM[QLwVKQI IQVLI VrW era projetada em madeira, material amplamente empregado por Zanine em suas futuras obras em Brasília, Rio de Janeiro e Nova Viçosa. +IZ^ITPW KWTWKI Y]M BIVQVM XMZUIVMKM] VI [WKQMLILM LW[ “Móveis Artísticos Z” até 1953, quando se afastou da empresa e queimou seus desenhos de móveis que ainda não tinham sido fabricados. A fábrica continuou suas atividades por mais alguns anos, parando sua produção após um grande incêndio (CARVALHO, 2018, p.46).

Capítulo 01 | José Zanine Caldas

Figura 19: Modelo 1211-C, 1948, de Alexey Brodovitch. Fonte: Acervo Moma.

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.QO]ZI " +WVR]V\W LM UWJQTQnZQW LI 5~^MQ[ Artísticos Z na residência do arquiteto Clóvis Felipe 7TOI ;rW 8I]TW ;8 ! .WV\M" )KMZ^W 15;

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Figura 21: Mesa lateral por Carlo Mollino. .WV\M" ,Q[XWVy^MT MU P\\X[" ___ Q\ITQIV_Ia[ KWU \IJTM[ Ja UWTTQVW )KM[[W MU" ,Mb

Figura 22: Mesa lateral por José Zanine Caldas. .WV\M" ,Q[XWVy^MT MU P\\X[" M\MT LM[QOV XZWL]K\[ KZMI\Q^M bIVQVM KITLI[ )KM[[W MU" ,Mb

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Figura 23: Residência Sebastião Pontes. .WV\M" 5-47 !! X

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Figura 24: Residência Sebastião Pontes. .WV\M" 5-47 !! X

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,M IKWZLW KWU +PIQU o interesse pela natureza e o potencial criativo de Zanine levaram ao trabalho com paisagismo e com a criação de artesanatos em flores e folhas. Em São Paulo, ainda nos anos 1950, Zanine teve o primeiro contato profissional com o paisagismo, quando foi colaborador de Luís Saia em projetos de jardinagem e de reflorestamento e, anos mais tarde, atuou como parceiro de Alcides da Rocha Miranda na execução de jardins residenciais. (...) Quando se mudou para Brasília, em data imprecisa, mas logo antes da inauguração da nova capital, comprou uma chácara próxima à atual região administrativa de Santo Antônio do Descoberto, onde cultivava mudas de espatódia, flamboyant, sibipiruna, ipê e diversas outras plantas nativas. Interessado nas particularidades das espécies do cerrado começou a montar arranjos decorativos para vender (CHAIM, 2017, p.37).

1.4 Professor autodidata | São Paulo e Brasília 6I WKI[QrW LI[ KWUMUWZIt M[ LW IVQ^MZ[nZQW LM 2W[u BIVQVM Caldas, Oscar Niemeyer foi convidado a dar um depoimento à Suely Ferreira da Silva para o livro “Zanine: Sentir e Fazer” (1989): “Zanine é um caso feliz de autodidata. Sua escola foi a própria vida e a arquitetura [M] KIUQVPW VI\]ZIT M QVM^Q\n^MT º 61-5-A-: apud ;14>) ! ! [ X Niemeyer coloca-se em defesa de Zanine em meio ao questionamento de suas práticas como arquiteto. Em Agosto de 1986, a revista Projeto publica em uma página inteira da sua sessão Jornal Projeto a divulgação de um ciclo de palestras sobre o tema “Arquitetura Rural e Identidade

Novamente, Zanine coloca-se como o artesão, que interessa-se pela produção de artefatos com materiais locais e sua relação com a natureza.

Cultural”, realizado entre Maio e Junho daquele ano no SESC Pompéia, em São Paulo. A revista cita José Zanine Caldas na chamada como um ¹XZWÅ[[QWVIT LI IZY]Q\M\]ZIº 8WZ KWV\I LM[[I X]JTQKItrW W XMZQ~LQKW recebeu inúmeras cartas com críticas ao posicionamento da Revista, que

)QVLI LM IKWZLW KWU :QKPIZL ;MVVM\\ W IZ\yÅKM XMZNMQ\IUMV\M ilustrado por Zanine, não é meramente um técnico que reproduz o artesanato. Esse indivíduo preocupa-se com a coletividade e com a ligação de seus antepassados com seus sucessores. Essa responsabilidade

LMUWV[\ZIU W QVK UWLW LW UMQW XZWÅ[[QWVIT KWU []I I\]ItrW KWUW IZY]Q\M\W I]\WLQLI\I VW *ZI[QT o uXWKI ;)6<7; Diante da repercussão inesperada, a Projeto daria importante destaque e discorreria em edições posteriores sobre a polêmica –

com a transmissão de seu saber-fazer é vista em sua experiência na docência a partir do ano de 1951, quando foi convidado para montar o laboratório de maquetes da recém criada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

chegando a divulgar cartas enviadas à redação e a apresentar novas matérias com uma seleção de textos sobre o assunto, como “Um 8ZWJTMUI 5ITXW[\Wº M[KZQ\W XWZ 4]KQW +W[\I Rn MU ! ;)6<7;

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)TuU LI KIZ\I \IUJuU u X]JTQKILI ]UI K~XQI LI VW\I LW +:-) RJ com o título “Falso arquiteto”, apresentando a condenação, por XIZ\M LM ITO]V[ IZY]Q\M\W[ LI uXWKI LM BIVQVM KWUW XZWÅ[[QWVIT 6I[ páginas seguintes à publicação das cartas, a Revista promoveu um retrospecto da trajetória de Zanine e um relevante embate de opiniões MV\ZM IZY]Q\M\W[ M IKILwUQKW[ I ZM[XMQ\W LM []I [Q\]ItrW XZWÅ[[QWVIT 6I XnOQVI ! TMMU [M W[ Y]M[\QWVIUMV\W[ ¹IÅVIT [~ KWU W LQXTWUI W arquiteto obtém status de arquiteto? A força das árvores está nas raízes.

E onde estão as raízes de Zanine?”, que a revista respondeu nas páginas [MO]QV\M[ IW IXZM[MV\IZ PQ[\~ZQKW LI NWZUItrW XZWÅ[[QWVIT LM BIVQVM M posteriormente, ao valorizar seu protagonismo como arquiteto e artista +0)15 Em resposta à publicação das cartas de cunho negativo, Zanine publicou um artigo no Caderno B do Jornal do Brasil, no qual ressalta: Construir casas é coisa que sei fazer. Aprendi durante toda uma vida. Fui conhecer casas na China, na África e aqui na Europa [de onde escrevia]. Minha escola foi a obra e a maquete. Nunca senti necessidade de outro tipo de aprendizado. Os livros de arquitetura são livros de arte, com plantas, textos e foto, que alargam o conhecimento, mas não ensinam o essencial: fazer uma casa surgir debaixo do sol, de dentro da confusão de uma obra, que é campo de batalha da luta de classes (CALDAS, 1987).

BIVQVM Ln KWV\QV]QLILM IW \M`\W IÅZUIVLW Y]M" A maioria dos arquitetos diplomados pela universidade brasileira, com formação muito teórica, tem grande dificuldade em construir. (...) Aprender arquitetura tradicionalmente em oficinas e laboratórios de maquetes seria um modo de salvar a formação profissional dos arquitetos brasileiros, que saem da universidade sabendo falar de arquitetura e fazer desenhos, sem saber o essencial do nosso ofício: construir (CALDAS, 1987).

Os arquitetos para os quais José Zanine Caldas trabalhou durante os anos em que manteve o escritório de modelos reduzidos no Rio de Janeiro - como Oscar Niemeyer, Alcides da Rocha Miranda - e personalidades da elite intelectual carioca com quem convivia, XMZUIVMKQIU NWUMV\ILWZM[ M LMNMV[WZM[ LM [M] \ZIJITPW 4]KQW +W[\I em particular, foi fundamental na luta pelo reconhecimento de Zanine como arquiteto perante o meio arquitetônico e o CREA. Em ocasião do Congresso Brasileiro de Arquitetura de 1991, ofereceu-lhe seu próprio registro do CREA caso precisasse para habilitar seu trabalho. Em carta LQZMKQWVILI IW +WV[MTPW 4]KQW +W[\I KWUMV\I" O que interessa não é o “arquiteto”, mas a arquitetura.

O ensino da arquitetura não visa, fundamentalmente, criar um novo ganha-pão para determinados indivíduos, e sim (...) formar profissionais capazes de conceber e construir edificações – ou conjuntos de edificações – arquitetonicamente,

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isto é, de modo que resultem num todo orgânico e funcional plasticamente integrado. (...)

Assim, pois, diante da dúvida agora suscitada permito-me sugerir duas soluções para contornar o impasse legal invocado:

O CREA policia o exercício da profissão a fim de garantir a proficiência devida e o desejável padrão técnico na execução de obras de engenharia e de arquitetura. A vedação oficial do exercício da profissão ao autodidata decorre, portanto, do pressuposto teórico de que a sujeição ao currículo escolar é o modo válido de aferir a habilitação técnica e artística do arquiteto. (...)

1° Na minha condição de ex-diretor da Escola onde se formavam os arquitetos, proponho à Congregação da atual Faculdade de Arquitetura a concessão do título de Arquiteto Honoris Causa a José Zanine Caldas.

Temos agora entre nós um desses casos fora das normas habituais. O caso de um arquiteto nato, um intelectual que, paradoxalmente, chegou à profissão pelo caminho direto da prática dos ofícios e do artesanato, especializando-se num gênero pouco usual de arquitetura, mas que atende à conveniência de determinadas pessoas e circunstâncias.

Utiliza materiais já vividos, materiais de demolição, que assim escapam ao desmantelo e, reintegrados livremente a uma nova estrutura arquitetônica, como que renascem, com espírito renovado, embora imbuídos de tradição.

Refiro-me ao arquiteto Zanine, que a um tempo idealiza e executa as suas obras. (...) Trata-se, portanto, de um caso à parte, e a sua obra não pode ser considerada indevida, nem tampouco lesiva aos legítimos interesses dos arquitetos que praticam a sua arte adstritos à aplicação dos novos materiais e à tecnologia contemporânea.

2° Na minha qualidade de arquiteto (715-D), faço um apelo à direção do CREA no sentido de admitir, como noutros casos ocorre, que o arquiteto José Zanine Caldas continue a construir sob a responsabilidade profissional de um colega regularmente registrado, e neste caso gostaria que, antes de qualquer outro, a honra me coubesse. (COSTA apud CHAIM, 2017, p.40)

Ainda que não “diplomado”, como o mesmo descreve no artigo publicado no Jornal do Brasil, José Zanine Caldas possuía experiência VW UMQW IKILwUQKW -U ! W IZY]Q\M\W )TKQLM[ LI :WKPI 5QZIVLI convidou Zanine para integrar o corpo docente da Faculdade de )ZY]Q\M\]ZI LM ;rW 8I]TW .)= =;8 VI N]VtrW LM QV[\Z]\WZ LW laboratório de maquetes, valorizando a característica principal que marcou a história de aprendizagem do autodidata: a transmissão do conhecimento por meio da oportunidade da observação.

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Capítulo 01 | José Zanine Caldas

Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo trabalhamos em equipe. Ali pude observar o interesse dos alunos por seu ateliê onde se distinguiam em caminhos pessoais – bastante novos. As maquetes eram fotografadas e projetadas, aguçando o espírito de crítica dos alunos, o que contribuía para um progresso constante (MIRANDA apud SILVA, 1989, s/p).

Após 1952, quando deixou a Universidade de São Paulo, Zanine foi convidado por Darcy Ribeiro para assumir, como instrutor encarregado LI WÅKQVI LM UIV]ITQLILM[ VI =VQ^MZ[QLILM LM *ZI[yTQI I N]VtrW LM ensinar técnicas para elaboração de maquetes. A esse respeito, Darcy Ribeiro declarou que: (...) ao pensar a Universidade de Brasília, [eu] queria um centro de ensino diferente. Por isso, procurei incorporar Zanine a ela, como um professor daquilo que era tão precioso, como, digamos, a estética de Niemeyer: o entendimento de usar as mãos, levar arquitetos a serem capazes de usá-las.

E o Zanine foi realmente extraordinário nisso (RIBEIRO apud SILVA, 1989, s/p).

Assim, ao trazer o “homem da fazimentos” (RIBEIRO apud ;14>) ! ! [ X KWUW ,IZKa KPIUI^I BIVQVM XIZI W XZWRM\W LW VW^W K]Z[W de arquitetura, o criador da UnB buscava inserir o discurso prático na experiência universitária (Figura 25).

Zanine se mudou para a nova capital ainda antes de sua inauguração, para lecionar na Universidade de Brasília e participar da composição do corpo docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Nesse

período, Zanine viveu na primeira residência que construiu em um TW\M LQ[\IV\M LI =VQ^MZ[QLILM LM *ZI[yTQI VW ;M\WZ LM 5IV[ M[ LW 4IOW Norte, com materiais de demolição que trazia de fazendas em São Paulo. ;IV\W[ IÅZUI Y]M É na experiência de Brasília, ainda, que Zanine começará a construir suas primeiras casas e construir-se como arquiteto, partindo do mesmo princípio norteador que realizava suas arquiteturas em escala reduzida: fazendo (SANTOS, 2018, p.

90).

Porém, com o golpe civil-industrial-militar de 1964, a experiência da Universidade de Brasília, na qual Zanine estava dedicado e integrado, será abortada. Com isso, muitos dos professores da UnB serão demitidos, perseguidos ou presos, optando Zanine, devido à ligação que teve com o partido comunista brasileiro, por se exilar na embaixada da Iugoslávia MU *ZI[yTQI ;)6<7; Após deixar a Universidade de Brasília, Zanine sai do Brasil durante os primeiros anos do regime militar e cruza, em expedição, a porção ao []T LW OTWJW XIZI KWVPMKMZ XIy[M[ LI )UuZQKI 4I\QVI ÎNZQKI M Î[QI LM VW\ILI QVÆ]wVKQI KWTWVQIT \IT Y]IT W *ZI[QT ZM\WZVIVLW IW XIy[ IXMVI[ em 1964, quando vai residir na cidade do Rio de Janeiro. (SANTOS, X !

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Capítulo 01 | José Zanine Caldas

Figura 25: Zanine (ao centro) como instrutor no curso LM UIY]M\M[ VI =V* .WV\M" +0)15 X

Capítulo 01 | José Zanine Caldas

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Sobre esse período, Zanine destaca novamente a importância dos mestres de obras e artesões:

Sobre o aspecto da herança de técnicas vernaculares de construção, VW TQ^ZW ¹)ZY]Q\M\]ZI M \ZIJITPW TQ^ZMº W IZY]Q\M\W ;uZOQW .MZZW

E lá estavam eles, os fazedores, os mestres de obras várias, construindo abrigos para suas culturas antiquíssimas, quando os visitei na África. (...)

aponta a troca dos materiais tradicionais da construção civil, na primeira metade do século XX, como madeira, terra e pedra, por aqueles novos e sem tradição, notadamente ferro e concreto, como uma manobra

Vi templos sensíveis, aldeias serenas, savanas ao por-dosol, numa África recém-saída do colonialismo direto. Fui testemunha de um grande crime: vi povos passarem da autosuficiência tribal para a miséria e a fome das favelas urbanas. (...)

Tomei notas em madeira sobre o trabalho e o amor pela madeira na África Ocidental. Levei o formão e arranjei tábuas. Fiz observações sentimentais sobre o que senti e toquei. (...)

Viajei para China. Um povo realista. É muito diferente o modo como se pode fazer coisas tão geniais. Olhei mil vezes os beirais chamados ‘de cachorro’ chineses que os portugueses trouxeram para as casas coloniais do Brasil. Aí está o segredo das culturas humanas: as coisas, os objetos, os atos são essencialmente os mesmos, repetidos de formas diferentes em cenários naturais diversos. A Humanidade é uma coisa só.

(CALDAS apud SILVA, 1989, s/p).

ardilosa para se sobrepor e superar a experiência milenar depositada no saber-fazer operário, forçando a submissão real do trabalho através das novas tecnologias. ;IV\W[ ZMÆM\M Y]M" É interessante notar, assim, que a obra de Zanine, que retoma o papel do saber-fazer tradicional e toma envergadura durante os anos 1960 e 1970, conectada com o discurso ambientalista de então, embora afastada da arquitetura da maioria dos arquitetos pela pesquisa com materiais alternativos ao concreto, se aproxima com trabalhos de alguns arquitetos da mesma geração, pós-Brasília, como Acácio Gil Borsoi e Severiano Porto, que seriam recuperados mais recentemente, a partir dos anos 2000, e seguem sendo na construção de uma narrativa pós-moderna da arquitetura brasileira (SANTOS, 2018, p. 92).

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02_ MADEIRA

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Capítulo 02: Madeira

)T^M[ \IUJuU KWTWKI Y]M I LMUIVLI LI UILMQZI KWUW N ZUI XIZI as construções de concreto armado teria acelerado consideravelmente o LM[UI\IUMV\W LW \MZZQ\~ZQW ÆWZM[\IT JZI[QTMQZW ) LQ^MZOwVKQI MV\ZM I modernidade desenvolvimentista na arquitetura e as circunstâncias em que se dava sua realização demonstram as desigualdades do país. +WVNWZUM M`XTIVILW VW +IXy\]TW 4]KQW +W[\I KWTWKI Y]M I

2.1 Breve contexto da Madeira na Arquitetura Moderna Brasileira Para compreender como José Zanine Caldas utilizava a madeira em seus projetos arquitetônicos é preciso traçar um panorama do emprego desse material na arquitetura Moderna Brasileira até o período de 1963, ano em que o arquiteto teve sua primeira encomenda de residência em Brasília. Como já comentado na Introdução, a arquitetura modernista brasileira foi marcada pelo emprego do concreto armado.

Apesar do uso diminuto nas obras do período moderno, a madeira era imprescindível para a construção em concreto armado, pois era utilizada XIZI I MTIJWZItrW LM N ZUI[ ,M IKWZLW KWU +PIQU Na maioria das grandes obras realizadas no Brasil moderno, os resultados plásticos possibilitados pela associação entre concreto e aço somente se materializaram efetivamente graças à possibilidade de fragmentação dos vãos em partes estruturantes modulares em madeira, devido às dimensões determinadas, finitas e ordenadas proporcionados pelo material. Dessa maneira, as fôrmas assumiam papel essencial na composição das estruturas complexas do período (CHAIM, 2017, p.48).

modernidade e o reconhecimento da arquitetura tradicional brasileira LM^MU KWM`Q[\QZ 7 8IZS 0W\MT ;rW +TMUMV\M XZWRM\ILW XIZI +u[IZ /]QVTM MV\ZM W[ IVW[ LM ! M ! M`MUXTQÅKI M[[I KWVLQtrW 7 XZWRM\W XW[[]Q XTIV\I N]VKQWVIT M XZWOZIUI UWLMZVW ZMÆM\QVLW VI distribuição dos pilotis que elevam o pavimento dos quartos do nível do terreno. Porém, a materialidade é tradicional: parte da estrutura é apoiada em pilares de madeira roliça. Segundo Vasconcellos (1961), As estruturas de madeira consistem na armação de quadros de esteios, de seção quadrada, fincados no chão em profundidade variável ou apoiados em alicerces de alvenaria. Quando enterrados os seus pés, costumam ser de seção cilíndrica “in natura” às vezes, levemente queimados para, com o carvão superficial, impermeabilizares o cerne contra a umidade do solo (VASCONCELLOS, 1961, p.33).

Capítulo 02 | Madeira

Semelhante à lógica da arquitetura tradicional empregada por 4]KQW +W[\I )KnKQW /QT *WZ[~Q LM[MV^WT^M MU ! ]U XZWRM\W XIZI a construção de casas populares na Comunidade de Cajueiro Seco

de Zanine “romperam a rigidez ortogonal das estruturas autônomas · KWUW I[ Y]M PMZLIUW[ LI IZY]Q\M\]ZI KWTWVQIT M \QXQÅKILI[ \IUJuU nas arquiteturas tradicionais europeias – e encontraram formas de

em Jaboatão, Pernambuco. As residências empregam a taipa préfabricada como vedação, racionalizando a produção dos entreliçados e subdividindo a madeira empregada para duplicar a área de vedação.

organizar estruturas e espaços invulgares com sistemas construtivos tradicionais” (SEGAWA, 1988, p.41).

O processo de projeto e fabricação dos painéis de taipa foi desenvolvido por meio da observação das demandas e técnicas construtivas locais.

Outra vertente do uso da madeira no período moderno diz respeito às construções executadas experimentalmente, de caráter temporário.

O principal exemplo de construção do gênero foi o Catetinho, VQKW XZWRM\W LM 7[KIZ 6QMUMaMZ MU UILMQZI ) MLQÅKItrW NWQ projetada em 1956 e concluída no mesmo ano, como um presente do arquiteto ao então presidente Juscelino Kubitschek. Assim como W 8IZS 0W\MT ;rW +TMUMV\M W +I\M\QVPW u MTM^ILW LW [WTW XWZ UMQW de pilares de madeira, afastados em um eixo de 2,5 metros. O projeto modernista emprega os princípios de modularidade à madeira, representando o início de um raciocínio projetual novo para essa técnica KWV[\Z]\Q^I ;MO]VLW +PIQU ITuU LW XZWRM\W LI XZQUMQZI residência do presidente Juscelino Kubitschek, uma série de outras construções neste material aconteceram em um processo extremamente acelerado de ocupação do território da nova capital.

Paralelamente ao resgate da tradição construtiva brasileira e o XZWL]trW LM MLQÅKIt M[ \MUXWZnZQI[ ;MOI_I ! LM[\IKI W trabalho de José Zanine Caldas com a madeira (Figura 26): as obras

Figura 26: José Zanine Caldas na frente dos pilares de uma das residências da Joatinga.

Fonte: Acervo Déa Zanine.

;M][ MLQNyKQW[ MU UILMQZI MVY]ILZIU [M MU ITO]UI[ KTI[[QÅKIt M[ pós-modernas, mas José Zanine Caldas é genuinamente um arquiteto moderno: sua modernidade não pode ser entendida sem o contexto das obras descritas acima, principalmente sem a referência do Park

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Capítulo 02 | Madeira

0W\MT 6W^I .ZQJ]ZOW KTn[[QKW XZWRM\W MU UILMQZI M`MK]\ILW MU !

XWZ 4]KQW +W[\I 7[ TWKIQ[ WVLM BIVQVM KWV[\Z]yI \IV\W W :QW LM Janeiro, quanto Brasília ou Nova Viçosa - induziam à formulação de ]UI IZY]Q\M\]ZI M[XMKyÅKI VMKM[[IZQIUMV\M MU LQnTWOW KWU W UMQW M “esse diálogo não nasceu de uma imposição teórica, mas resulta de uma visão pragmática, depurada ao longo do tempo e produto sobretudo do amadurecimento dos arquitetos diante de sua região” (SEGAWA, 1998, p. 193). Sendo assim, a arquitetura de Zanine surge mais como ]UI XMZKMXtrW LM KWV\M`\W LW Y]M XWZ ]UI ^WV\ILM LM \QXQÅKIZ ITO]UI manifestação arquitetônica.

Em suas primeiras obras, Zanine teve notoriedade por empregar UILMQZI[ XZW^MVQMV\M[ LM LMUWTQt M[ LM MLQÅKIt M[ VW KMV\ZW LW Rio de Janeiro para reincorporá-los aos seus projetos. Essa atitude LM BIVQVM IXZW`QUI [M IW JZQKWTM]Z LM[KZQ\W XWZ 4M^Q ;\ZI][[ O bricoleur é aquele que trabalha com suas mãos, utilizando meios QVLQZM\W[ ;MO]VLW 4u^Q ;\ZI][[ O bricoleur está apto a executar um grande número de tarefas diversificadas porém, ao contrário do engenheiro, não subordina nenhuma delas à obtenção de matérias-primas e de utensílios concebidos e procurados na medida de seu projeto: seu universo instrumental é fechado, e a regra de seu jogo é sempre arranjar-se com os “meios limites (LÉVISTRAUSS, 2008, p.33).

2.2 Método de projeto José Zanine Caldas iniciava o Estudo Preliminar de seus projetos a partir do uso do papel milimetrado. A lógica de suas construções era moderna e todas as casas que projetava eram modulares (Figuras 27, ! 7 IZY]Q\M\W IXZW^MQ\I^I [M LI XW\MVKQITQLILM LW LM[MVPW à mão livre e do estudo feito em maquetes para elaborar a volumetria das residências com base no programa de necessidades básico solicitado pelos clientes para, em seguida, dar início ao projeto arquitetônico propriamente dito. ;MO]VLW +PIQU BIVQVM I\MV\I^I [M KWU I UWL]TItrW LW[ seus projetos em estrutura de madeira, porque predominantemente, era o próprio arquiteto que fazia o cálculo estrutural e dimensionamento das peças necessárias para a montagem das residências. Desta forma, partia de uma modulação (...) via o que o cliente queria (...) e imaginava como seriam os módulos da casa. Depois de pronto, colocava isso no papel e depois é que se pensava no que ia fazer internamente”. A modulação calculada e projetada garantia, ainda, a identificação do ritmo na leitura das fachadas de suas residências, em que comumente se reproduzem elementos marcados como pilares, esquadrias, guarda-corpos ou varandas (CHAIM, 2017, p. 56).

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.QO]ZI[ ! M " +ZWY]Q[ MU XIXMT UQTQUM\ZILW Fonte: Acervo Déa Zanine.

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*IZ\PWTWUM] ZM[]UM W Uu\WLW XZWRM\]IT LM BIVQVM MU" Observação para adquirir o “saber-fazer”; Escolha de materiais regionais para a composição do projeto, priorizando a madeira; Estudo das propriedades da madeira a ser empregada; Projeto do volume que a residência ocupará e sua consequente relação espacial com as pessoas que ocuparão a casa; Uso do papel milimetrado e retícula estrutural em carpintaria. +IZ^ITPW IXWV\I Y]M I[ ZM[QLwVKQI[ XZWRM\ILI[ VW :QW de Janeiro tinham suas estruturas fabricadas na Bahia, em Nova Viçosa. Como as casas eram projetadas a partir de uma malha

as vigas principais sobre os pilares, seguido do barroteamento do piso.

Olga também descreve que as toras de madeira utilizadas para fazer os pilares e vigas eram inteiriças, sendo cortadas in loco. Para montar o segundo andar da residência, o mesmo método era utilizado. A malha era contínua e feita da seguinte forma: inicialmente, Zanine e a mão-de-obra local cavavam buracos no chão, espaçados em 1m² até encontrarem a terra dura (Figura 31).

Segundo Caruana apud +IZ^ITPW BIVQVM KWU]UMV\M utilizava dois tipos de modulo para as estruturas em madeira: 5x5m ou ` U -[[M[ U~L]TW[ NWZUI^IU M[XItW[ UIQWZM[ LM U W] U Y]M poderiam ser distribuídos ao longo de terrenos inclinados ou planos.

modular, Zanine chamou-as de “pré-elaboradas” já que na maioria dos casos, quando um novo projeto de arquitetura era encomendado, eles visitavam o terreno do projeto e, depois, iam para o Rio de Janeiro, onde desenvolviamno. Zanine usava papel milimetrado para desenhar, começava pela planta e logo passava para fachada. O engenheiro Hélio Olga comenta a ligação do desenho feito por Zanine com a forma de produção em Nova Viçosa (CARVALHO, 2018, p. 119).

Outro método utilizado por Zanine para a fabricação e projeto das casas era trabalhar com uma retícula no piso. Segundo Olga apud Carvalho BIVQVM ZMITQbI^I ]UI ZMLM LM XQTIZM[ LQ[XW[\W[ LM UM\ZW MU UM\ZW no chão da carpintaria em Nova Viçosa. Em seguida, eram dispostas

Figura 31: Retícula no piso. Fonte: Autoria própria JI[MILW VW KZWY]Q LM +):>)407

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Essa possibilidade de implantação no terreno devido à modulação das construções permitia uma maior intuitividade por parte de Zanine com ZMTItrW o \WXWOZIÅI ) XZQVKQXIT XZMWK]XItrW LW IZY]Q\M\W LM IKWZLW KWU +PIQU MZI I ^ITWZQbItrW LI XIQ[IOMU M I QV\MOZItrW LI residência com o entorno natural, assim como fatores climáticos, orientação solar e percurso dos ventos. ,MXWQ[ LI LMÅVQtrW LI UWL]TItrW MZI ZMITQbILW W LM[LWJZW W] seja, a conversão dos troncos roliços em toras (Figura 32). Tudo era feito manualmente, com o auxílio de dois funcionários e uma serra. Antes do desdobro, as costaneiras eram cortadas com machados. O corte do tronco era feito a partir da divisão dos módulos estruturais, baseandose nos padrões de bitolas mais convencionalmente usados. De acordo KWU +IZ]IVI IX]L +IZ^ITPW I[ ^QOI[ QVNMZQWZM[ LI M[\Z]\]ZI LI[ KI[I[ MZIU OMZITUMV\M LM ` KU M ` KU XIZI QVNMZQWZM[ M []XMZQWZM[ 7[ XQTIZM[ \QVPIU LQUMV[ M[ LM ` KU ` KU W] ` KU )[ M[XQOI[ LW \MTPILW MZIU ][ILI[ VI LQIOWVIT KWU ` KU W[ JIZZW\M[ MU OMZIT UMLQIU ` KU M W[ KIQJZW[ ` KU As residências projetadas por Zanine eram pensadas a partir de peças desmontáveis. Após montada a estrutura completa da casa a ser transportada, todos os módulos eram numerados e um manual de montagem era elaborado de acordo com as numerações para facilitar a KWV[\Z]trW LI KI[I VW \MZZMVW ÅVIT ,MXWQ[ LI V]UMZItrW I M[\Z]\]ZI era posicionada no caminhão de transporte, primeiro com as peças da cobertura, depois as vigas principais superiores e, em seguida, as vigas inferiores.

Figura 32: Corte de desdobro. Fonte: Autoria própria JI[MILW VW KZWY]Q LM +):>)407

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2.3 Detalhes construtivos das casas do Bairro do Joá

Para as casas realizadas no Bairro do Joá, havia um padrão de detalhes utilizados e documentados em papel milimetrado que eram empregados comumente nas residências no Rio de Janeiro. Esses detalhes podem

Como mencionado anteriormente, as peças das casas projetadas para o Bairro do Joá eram elaboradas na carpintaria em Nova Viçosa.

José Zanine Caldas muda-se para Nova Viçosa em 1968 e sua estadia na cidade foi um momento de experimentações frequentes e pesquisa

dividir-se em: encontro viga-pilar, telhados, painéis, portas e janelas.

O encontro viga-pilar era repetido em todas as residências no Bairro do Joá, pois todas apresentavam estrutura de madeira. O

de materiais e técnicas construtivas. Zanine se atentava à soluções projetuais e adaptava-as dependendo do clima e da necessidade.

Desta forma, uma série de soluções foram experimentadas como detalhes construtivos para as casas “pré-fabricadas”. De acordo com Caruana apud +IZ^ITPW Em Nova Viçosa a gente fez um pouco de tudo, até que a gente não fez mais nada, deixou natural. Porque , na verdade, se você tiver os detalhes construtivos bem feitos, você não vai ter problema. Se a sua madeira for bem selecionada, foi puro cerne, o cupim não vai comer, na medida em que ela esteja ventilada (CARUANA apud CARVALHO, 2018, p. 131).

*IZ\PWTWUM] \IUJuU KWTWKI Y]M Essa prática também expõe a relação íntima e cuidadosa que Zanine tinha com o uso dos materiais. O seu profundo conhecimento técnico transformou- se em método projetual a medida que usar a madeira tornou-se quase obrigação (BARTHOLOMEU, 2016, p. 26).

encontro entre esses dois elementos era feito por meio de cantoneiras UM\nTQKI[ TQOIVLW XQTIZM[ LM ` KU o ^QOI[ []XMZQWZM[ LM ` KU A ligação entre peças era sempre feita com cantoneiras metálicas serradas e os beirais das casas variavam em tamanho e forma dependendo da residência, já que eram pensados separadamente com relação às vigas da casa: o que conectava esses dois elementos era um encaixe tipo “mão de amigo”.

A Figura 33 exemplifica o encontro viga-pilar por meio de ]U XQTIZ ZWTQtW MU UILMQZI UIKQtI LM LQpUM\ZW KU WVLM u possível observar a conexão do mesmo com vigas principais e de cobertura por meio de cantoneiras metálicas. As cantoneiras são Å`ILI[ VW XQTIZ XWZ UMQW LM ]U ZMKWZ\M MU ¹4º Y]M IKWUXIVPI W NWZUI\W LI[ UM[UI[ 7 LM\ITPM M[\Z]\]ZIT LI\I LM !

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Capítulo 02 | Madeira

Figura 33: Detalhe encontro viga-pilar.

Fonte: Acervo Déa Zanine.

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Capítulo 02 | Madeira

A segunda categoria de detalhes são os relacionados à telhados. As casas do Bairro do Joá possuem coberturas distintas entre si, pois José Zanine Caldas adaptava a modulação em madeira às residências de acordo com o terreno.

-V\ZM\IV\W KMZ\I[ M[XMKQÅKIt M[ ZMXM\QIU [M MU \WLI[ I[ ZM[QLwVKQI[" na Figura 34 é possível observar no Detalhe de Beiral que os caibros [MUXZM ZMKMJMU ]UI KIUILI LM QUXMZUMIJQTQbItrW KWU 4r LM >QLZW entre a estrutura em madeira e as telhas cerâmicas. =UI <M[\MQZI MU UILMQZI KWU LQUMV[ M[ LM KU XWZ KU LM seção é utilizada para dar acabamento ao caibro de madeira. Além disso, a Testeira protege a extremidade do caibro, que está mais exposta à intempéries.

O detalhe na Figura 34 demonstra um elemento vertical representado por tábuas de madeira encontrando o caibro da cobertura. Esse elemento vertical também é impermeabilizado por lã de vidro. O detalhe da .QO]ZI LI\I LM !

Figura 34: Detalhe encontro viga-pilar.

Fonte: Acervo Déa Zanine.

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Capítulo 02 | Madeira

Outro conjunto de detalhes são os painéis. Os painéis presentes nas residências do Bairro do Joá podem dividir-se em dois tipos: ventilação horizontal e ventilação vertical.

A Figura 35 retrata um mecanismo de ventilação horizontal amplamente empregado nas casas do Bairro do Joá. Como as residências TWKITQbIU [M XZ~`QUI[ IW UIZ W IUJQMV\M u UQLW M I[ MLQÅKIt M[ necessitam de constante circulação de ar para evitar o mofo ou efeitos da maresia na estrutura de madeira e mobiliários. Dessa forma, Zanine desenvolveu um detalhe para esquadrias em madeira que pivota KWVNWZUM I VMKM[[QLILM LW ][]nZQW ) XMtI XQ^W\IV\M XW[[]Q KU LM altura e seção em forma de losango, permitindo o encaixe da vedação KWU I KIQ`QTPIZQI MU UILMQZI 7 LM[MVPW LI\I LM !

Já a Figura 36 demonstra as soluções de ventilação vertical em diversas situações. Todas consideram o encontro com a alvenaria, demonstrando que, apesar das casas do Bairro do Joá serem predominantemente em estrutura de madeira, sempre há outros elementos presentes na KWUXW[QtrW M[\Z]\]ZIT 7 LM\ITPM LI\I LM !

.QO]ZI " ,M\ITPM ^MV\QTItrW 0WZQbWV\IT Fonte: Acervo Déa Zanine.

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Figura 36: Detalhe ventilação Vertical.

Fonte: Acervo Déa Zanine.

As próximas categorias de detalhes são portas e janelas. A Figura 37 demonstra um detalhe de portas duplas em veneziana e vidro. Esse detalhe é amplamente empregado nas residências para a conexão entre suítes e varandas, já que possibilita dois tipos de vedação. j XW[[y^MT IJZQZ I[ ^MVMbQIVI[ M LMQ`IZ IXMVI[ I M[Y]ILZQI LM ^QLZW fechada, permitindo a entrada de luz natural. Também pode-se abrir o caixilho em vidro e fechar as venezianas, garantindo uma barreira visual e ventilação natural pelas frestas da veneziana, mais uma vez solucionando o problema da umidade nos terrenos do Bairro do Joá. )[ LQUMV[ M[ LI[ nZMI[ LM ^QLZW M ^MVMbQIVI VrW [rW M[XMKQÅKILI[ uma vez que as residências possuem pés direitos distintos. As medidas XILZrW LMÅVQLI[ [rW LW[ JI\MV\M[ LI[ XWZ\I[" W MTMUMV\W PWZQbWV\IT Y]M WNMZMKM W IKIJIUMV\W XIZI IUJI[ I[ XWZ\I[ XW[[]Q KU LM [MtrW 2n I UWTL]ZI LI M[Y]ILZQI M LI XWZ\I MU ^QLZW XW[[]Q KU LM M[XM[[]ZI As Figuras 38 e 39 representam os detalhes de janela mais empregados nos projetos do Bairro da Joá: a janela guilhotina e a janela de vidro JI[K]TIV\M W] Å`W A Figura 38 demonstra a janela guilhotina. Essa caixilharia tem a possibilidade de abertura de baixo para cima, com montantes LMKWZI\Q^W[ ^MZ\QKIQ[ M PWZQbWV\IQ[ 6W^IUMV\M M[[M LM\ITPM M`MUXTQÅKI a preocupação de Zanine com a ventilação natural das residências do Bairro do Joá, além da atenção à iluminação solar.

Nas residências exploradas e redesenhadas a seguir, o detalhe da janela guilhotina representado na Figura 38 é empregado nas Casas Franz Borer (1974) e na Casa Wlasek (1974).

Capítulo 02 | Madeira

) .QO]ZI ! ZMXZM[MV\I LWQ[ \QXW[ LM RIVMTI[" I RIVMTI Å`I MU ^QLZW e a janela basculante. O desenho leva em consideração a possibilidade de estrutura mista, pois representa ambas as janelas repreendidas em uma parede de alvenaria. As esquadrias em madeira possuem tamanho Å`W LM KU XWZuU I IT\]ZI M TIZO]ZI LI[ RIVMTI[ ^IZQI LM IKWZLW KWU W XZWRM\W ) LI\I LW LM\ITPM u LM !

A confecção desses detalhes estruturais pode ser resumida pelo depoimento de Oswaldo Arthur Bratke para o livro “Zanine: Sentir e Fazer”: Baseado em uma incrível intuição estrutural, no conhecimento dos materiais e grande capacidade de criação, elaborou, de maneira cuidadosa e genial, um belo conjunto de obras, de boas plantas e ambientes acolhedores e bem adequado ao meio que construiu.

Sua maneira de projetar e construir está diretamente relacionada com esta sua capacidade de manipular os materiais mais simples e toscos, como madeira, pedra, as alvenarias etc., em geral encontráveis onde está trabalhando, extraindo deles um resultado elegante e refinado, corretamente integrado à paisagem local, sem apoiar-se em modismos de época ou estilos do passado (BRATKE apud SILVA, 1989, s/p)

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Capítulo 02 | Madeira

Figura 37: Detalhe porta Veneziana-Vidro.

Fonte: Acervo Déa Zanine.

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Capítulo 02 | Madeira

Figura 38: Detalhe Janela Guilhotina.

Fonte: Acervo Déa Zanine.

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Figura 39: Detalhe Janela Basculante e Fixo.

Fonte: Acervo Déa Zanine.

03_ CASAS NO RIO DE JANEIRO

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Capítulo 03: Casas no Rio de Janeiro

öĪôŐ r¡ ¼Ő ŐY©Õ ©ĬŐ~¼ Æ ¼ ¯ÀŐ¹r¼rŐrÔr£ r {¯Ő ¼së~rŐ das residências projetadas por José Zanine Caldas no Bairro do Joá

O acesso aos proprietários foi um requisito levado em consideração para a seleção das casas. Poucos proprietários dispunham de levantamentos ou desenhos originais das residências; por isso, foi necessária a medição in loco das casas, para que os desenhos fossem produzidos. Com a realização das visitas de campo aos projetos e de TM^IV\IUMV\W[ NW\WOZnÅKW[ M KILI[\ZIQ[ LM KILI ]UI LMTI[ W \ZIJITPW gerou um banco de dados das residências projetadas e construídas por Zanine no Bairro do Joá. Os desenhos produzidos foram feitos no software Archicad. Por tratar-se de um sistema BIM (Building Information Model), o Archicad também gera maquetes 3D, que facilitam o entendimento da estrutura em madeira das residências. Além dos desenhos digitais, também foram elaborados desenhos em aquarela para ilustrar detalhes

Um dos principais objetivos da pesquisa é o redesenho das residências projetadas e construídas por José Zanine Caldas entre os anos de 1968 e 1976. Antes de adentrar nos produtos da dissertação, a primeira parte LW +IXy\]TW M`XTWZIZn W[ KZQ\uZQW[ LI[ M[KWTPI[ LI[ ZM[QLwVKQI[ M Uu\WLW[ LM IVnTQ[M OZnÅKI Em primeiro lugar, as residências projetadas por Zanine Caldas no Rio LM 2IVMQZW UIQ[ M[XMKQÅKIUMV\M VW *IQZZW LW 2Wn NWZIU [MTMKQWVILI[ XWZ UMQW LM XM[Y]Q[I JQJTQWOZnÅKI )[ XZQVKQXIQ[ NWV\M[ XIZI W TM^IV\IUMV\W das casas foram os livros “Zanine: sentir fazer” (1989) de Suely Ferreira ;QT^I M ¹2W[u BIVQVM +ITLI[º ! LW[ I]\WZM[ )UIVLI *MI\ZQb 8ITUI LM +IZ^ITPW 4I]ZW +I^ITKIV\Q M 5IZQI +MKyTQI 4W[KPQI^W LW[ ;IV\W[ )UJW[ W[ TQ^ZW[ XW[[]MU ]U OZIVLM IKMZ^W LM NW\WOZIÅI[ XWZuU VrW contemplam desenhos técnicos relativos às casas no bairro do Joá.

estruturais.

O redesenho enquanto instrumento de pesquisa possibilita uma ponderação acerca do processo projetual do arquiteto em estudo. O trabalho do redesenhar vai além da documentação necessária para estudar determinado projeto, mas também consiste em uma forma de reconstruir o pensamento do autor e de transmitir conhecimento sobre sua produção arquitetônica. ;WJZM I IVnTQ[M OZnÅKI NWZIU ]\TQbILI[ L]I[ XZQVKQXIQ[ NWV\M[ LM ZMNMZwVKQI" W I]\WZ /MW‫ٺ‬ZMa 0 *ISMZ KWU I WJZI ¹)VITQ[Q[ LM TI .WZUI" 4M +WZJ][QMZº !! M ;QUWV =V_QV KWU W TQ^ZW ¹)VITa[QVO )ZKPQ\MK\]ZMº

66

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

=UI LI[ XZQVKQXIQ[ XZWXW[Qt M[ Y]M /MW‫ٺ‬ZMa 0 *ISMZ NIb XIZI KWVKMQ\]IZ []I \MWZQI LM IVnTQ[M OZnÅKI u I ¹.WZtI LI QUXTIV\ItrWº *)3-: !! X ;MO]VLW W I]\WZ I NWZUI IZY]Q\M\ VQKI u

=V_QV \IUJuU KWTWKI I[ KWVLQt M[ XIZI I IZY]Q\M\]ZI acontecer. A arquitetura é concreta, não é uma arte livre da mente: depende de meios externos e da experiência do arquiteto e do usuário

parcialmente fruto da resolução de um problema particular, mas também das forças distintas do contexto onde se encontra. A relação entre os edifícios e o entorno se estabelece da forma mais positiva,

para acontecer. A arquitetura incorpora a vida. As pessoas e suas

considerando fatores como as vistas, trajetória do sol, a proximidade das ^QI[ LM IKM[[W 7[ NI\WZM[ LM QUXTIV\ItrW [rW I[XMK\W[ Y]M QVÆ]MVKQIU direta ou indiretamente na forma (BAKER, 1997).

Esse conceito posto por Baker é imprescindível no contexto das casas

ativos.

Com base na associação sugerida entre as ideias de Baker (1997) e LM =V_QV XMZKMJM] [M I VMKM[[QLILM LI LMÅVQtrW LM KZQ\uZQW[ M[XMKyÅKW[ XIZI IXZM[MV\ItrW LI[ KI[I[ LM BIVQVM +ITLI[ VW JIQZZW LW

no bairro do Joá, já que todas são resultados diretos do terreno onde [rW TWKILI[ 8WZ Q[[W M[[I KWV[QLMZItrW VI IVnTQ[M OZnÅKI UW[\ZI [M

Joá, contempladas nesta dissertação. Nesse contexto, estabeleceram-se os seguintes parâmetros para nortear a apresentação das residências

\rW [QOVQÅKI\Q^I =V_QV LMÅVM I IZY]Q\M\]ZI KWUW I QLMV\QÅKItrW LW T]OIZ

no Bairro do Joá, que abarcam tanto suas semelhanças quanto particularidades: Uso de Aspectos Pré-Existentes; Geometria do Fazer:

em contraposição à corriqueira designação “arquitetura é o desenho LM MLQNyKQW[º =6?16 X 7 I]\WZ KWTWKI Y]M IZY]Q\M\]ZI u organização conceitual ou a estrutura intelectual que guia o processo

Madeira; Espaço e Estrutura: Coberturas em Madeira; Elementos exercendo mais de uma função: vedações.

projetual e construtivo. Assim como Baker (1997), Unwin preocupa-se MU IXWZ\IZ W T]OIZ VI LMÅVQtrW LM IZY]Q\M\]ZI" W T]OIZ M[\n XIZI I IZY]Q\M\]ZI I[[QU KWUW [QOVQÅKILW M[\n XIZI I TQVO]IOMU +WUW I linguagem, a arquitetura tem seus padrões e arranjos, em diferentes combinações e composições, dependendo das circunstâncias. Portanto, no seu cerne, a arquitetura não lida com abstrações, mas sim com a ^QLI KWUW u ^Q^QLI" [M] XWLMZ N]VLIUMV\IT u I QLMV\QÅKItrW LW T]OIZ =6?16 X

atividades são componentes indispensáveis para a arquitetura, não meros espectadores a serem entretidos, mas contribuintes e participantes

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

3.2 Descrição e redesenho das casas no Rio de Janeiro

.QO]ZI " 5IXI OMZIT LI[ ZM[QLwVKQI[ ZMLM[MVPILI[ VW *IQZZW LW 2Wn .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

67

68

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

3.2.1 Casa Leite Barbosa | 1968 Projeto: José Zanine Caldas Data Projeto: 1968 Data Obra Concluída: 1969 Localização: Escada Flora May, 177 - Joá, Rio de Janeiro - RJ, 22611-120 Visita in loco realizada pela autora: 22/08/2020

Figura 41: Implantação esquemática (sem escala). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

.QO]ZI " .IKPILI XZQVKQXIT +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

) +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! NWQ I [MO]VLI ZM[QLwVKQI XZWRM\ILI e construída por José Zanine Caldas no Bairro do Joá, com projeto iniciado em 1968 e obra concluída em 1969. O Bairro do Joá (Figuras

Y]M MV\ZM I[ LuKILI[ LM ! M ! W :QW LM 2IVMQZW XI[[I^I XWZ reformas urbanísticas devido ao início da construção do metrô no centro da cidade. Desta maneira, houve o desmanche de diversas residências:

43) localiza-se na Zona Oeste do Rio de Janeiro e seu principal acesso é o Viaduto das Bandeiras, construído em 1929 pelo prefeito Antônio da ;QT^I 8ZILW 2 VQWZ 6I LuKILI LM ! .QO]ZI[ WKWZZM

Zanine passou a recolher elementos dessas construções demolidas para XZWRM\IZ I[ KI[I[ [WTQKQ\ILI[ VW JIQZZW LW 2Wn .MZZMQZI IÅZUI Y]M os projetos de Zanine no Bairro do Joá

o processo de ocupação dessa região e Zanine coloca-se como pioneiro no projeto de casas no Bairro do Joá:

se utilizam de conceitos de preservação urbana, pois reaproveitam materiais de demolição de obras aonde seria construída a Avenida Perimetral de acesso à Ponte Rio-Niterói. Essas demolições foram somadas a peças reaproveitadas também de fazendas no interior do Brasil como nos estados da Bahia e Minas Gerais. Foram aproveitadas peças como colunas, vigas, portas, vidraças, guarda corpo.

Foi nessa esteira que Zanine desenvolveu diversos projetos na Joatinga (...) (FERREIRA, 2018, p. 130).

Na Joatinga, o arquiteto fez fama e construiu diversas casas para personalidades do Rio de Janeiro à época, apesar de o bairro ser de difícil acesso com limitado fornecimento de água e energia. Compensava, no entanto, a paisagem privilegiada e a integração com a natureza intocada nas encostas que se voltavam para o mar e em meio à vegetação ainda muito preservada do local, características que o arquiteto soube incorporar às suas obras com maestria (CHAIM, 2017, p. 43).

) [ITI LM M[\IZ LI +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! IKWUWLI [M VW ^WT]UM

) +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! TWKITQbI [M VI Z]I -[KILI .TWZI 5Ia MU ]U \MZZMVW KWU ^Q[\I XIZI W UIZ M UM\ZW[ LM QVKTQVItrW KWU

central da residência, à frente do “portal” formado pelos brises em madeira e portas entalhadas. O assoalho presente na área social da residência também é em tábuas de madeira reaproveitada de desmanche,

declive direcionado ao fundo do lote. A fachada principal encontra-se voltada para o norte e seu acesso ocorre por uma pequena passarela em M[\Z]\]ZI LM UILMQZI LM UM\ZW LM TIZO]ZI Y]M [M IXWQI LQZM\IUMV\M na rocha da encosta do Joá. A entrada da casa é recuada, protegida XWZ ]U JMQZIT LM UM\ZW[ KWU UWV\IV\M[ ^MZ\QKIQ[ MU 8QVPW LM :QOI Å`W[ IW XQ[W -V\ZM M[[M[ KWVR]V\W[ LM UWV\IV\M[ LQ[X MU [M L]I[ XWZ\I[ MV\ITPILI[ ZMK]XMZILI[ LM LMUWTQtrW +IZ^ITPW IXWV\I

sustentado por barrotes que se apoiam nos blocos de alvenaria laterais.

Na sala de estar, estão presentes dois sofás em madeira (Figura 48), XZWRM\ILW[ M M[K]TXQLW[ XMTW XZ~XZQW BIVQVM ;]I M[\Z]\]ZI u Å`ILI IW piso, por cunhas localizadas sob os barrotes do assoalho. O pé direito LI [ITI LM M[\IZ XW[[]Q UM\ZW[ LM IT\]ZI MU []I XIZ\M UIQ[ IT\I M não há forro, sendo visível a estrutura, em madeira, da cobertura da área social da residência.

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

Figura 43: Vista da Pedra da Gávea do Mirante do 2Wn .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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.QO]ZI " *IQZZW LW 2Wn VW[ IVW[ ! IV\M[ LI WK]XItrW introduzida pelas residências de Zanine Caldas. Fonte: Quadros captuZILW[ XMTI I]\WZI LW LWK]UMV\nZQW ¹BIVQVM" [MZ LW IZY]Q\M\IZº

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Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

Figura 48: Sofás em madeira, com estrutura ligada ao piso. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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7 \MTPILW .QO]ZI[ ! XW[[]Q LWQ[ KWUXWVMV\M[ LQ[\QV\W[" I estrutura principal, formada por caibros que servem como sustentação das telhas de barro; e um segundo elemento adjacente, com caibros e terças, ligados por tábuas. A sustentação da cobertura em madeira se Ln XWZ ^QOI[ LM UILMQZI LM [MtrW ZM\IVO]TIZ LM IXZW`QUILIUMV\M UM\ZW[ LM TIZO]ZI XWZ UM\ZW[ LM IT\]ZI Y]M KWVMK\IU I KWJMZ\]ZI

7 ZMTI\W LM 4]KQW +W[\I QT][\ZI KWUW W [IJMZ NIbMZ LM BIVQVM u IXTQKILW VW XZWRM\W LI +I[I 4MQ\M *IZJW[I" []I M`XMZQwVKQI XZn\QKI VW levantamento de residências seiscentistas em São Paulo no Serviço do 8I\ZQU VQW KWVÅO]ZW] W XZWRM\W LW JTWKW XZQVKQXIT LI ZM[QLwVKQI 4]y[ Saia, com quem Zanine trabalhou nesse período, também levantou a hipótese de que o projeto das casas bandeiristas teria tido como modelo

aos volumes laterais em alvenaria. O redesenho e a visitação in loco, possibilitam o entendimento de dois elementos principais na estrutura LI +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! " W[ ^WT]UM[ KWV[\Q\]yLW[ LM \QRWTW[ KWU função estrutural e a cobertura da casa, em estrutura de madeira. A

de desenvolvimento as vilas de Palladio. As moradas coloniais foram ungidas

espacialidade formada pelas paredes em alvenaria é compartimentada, pois abriga os cômodos mais privados da residência, como suítes, sanitários e cozinha. Já a cobertura em madeira abriga uma volumetria [MU JIZZMQZI[ ^Q[]IQ[ Y]M I \WZVI UIQ[ IUXTI KWVÅO]ZIVLW ]UI XTIV\I livre moderna.

4]KQW +W[\I LM[KZM^M I LQ[XW[QtrW LI M[\Z]\]ZI LI KI[I KWUW LM partido ‘paladiano’, como aventou o [Luís] Saia, devido à particularidade de conter entre panos cheios de paredes o vazio da loggia – ou varanda – entalada no corpo da construção, tal como também ocorria nas sedes de ‘sítios’ seiscentistas de São Paulo, ditos dos bandeirantes. Aliando solidez e leveza, ela se entrosa com naturalidade às escarpas da paisagem composta de rocha, de céu e de mar (COSTA, 2018, p. 433).

(...) como antecessoras do modernismo brasileiro na relação dialética estabelecida com o passado construtivo colonial.

Percorrendo outro viés, Zanine fez da ‘morada paulista’ uma de suas principais referências, como jogo de claro/ escuro (...) (CARVALHO, CAVALCANTI, SANTOS, 2019, p.119).

Apesar da grande compartimentação dos volumes laterais da residência, há um entendimento de espaço moderno, pois a sala de RIV\IZ MVKWV\ZI [M MTM^ILI MU UM\ZW[ KWU ZMTItrW o [ITI LM M[\IZ suspensa por vigas de madeira pinho de Riga. Assim como a sala de estar, a sala de jantar abriga móveis feitos especialmente para a ZM[QLwVKQI .QO]ZI Å`ILW[ [WJ W UILMQZIUMV\W LW I[[WITPW KWU um banco dobrável e uma mesa em madeira. No mesmo nível da sala de jantar, encontra-se a cozinha que, assim como a entrada da sala de estar, possui brises em madeira que protegem o ambiente da incidência solar (Figura 53).

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Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

.QO]ZI ! " +ZWY]Q[ QT][\ZIVLW I KWJMZ\]ZI LI +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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Figura 52: Banco e mesa de jantar ligados ao piso. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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Figura 53 : Vista da sala de estar para a sala de jantar. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

O outro bloco em alvenaria abriga três suítes que possuem uma varanda em estrutura de madeira. O guarda-corpo da varanda é em pinho de Riga, inteiriço. Três pilares em madeira de seção quadrada, de UMLQLI[ UM\ZW[ XWZ UM\ZW[ NIbMU I [][\MV\ItrW LI KWJMZ\]ZI diretamente no piso. Abaixo da varanda, há uma sala íntima que se conecta a um pequeno pátio: os ambientes interno e externo interligamse pelo mesmo piso de paralelepípedo.

A fachada oposta à entrada da casa é voltada ao sul, com vista para W UIZ j QLMV\QÅKn^MT ]UI PQMZIZY]QI Y]IV\W IW MUXZMOW LM M[Y]ILZQI[" a fachada norte se utiliza de uma abertura, com montantes verticais; já a fachada sul é exposta, com um pano de vidro corbusiano que dá acesso à um deck externo. A casa vence o desnível, pois possui anexos LQ[XW[\W[ IW TWVOW LW LM[Vy^MT LM UIQ[ LM U IW TWVOW LI ZWKPI 7[ outros anexos possuem as demais suítes da residência. j QUXWZ\IV\M VW\IZ Y]M I M[\Z]\]ZI MU UILMQZI LI KI[I M[\n KWV[MZ^ILI [MU ZIKPIL]ZI[ 2W[u BIVQVM +ITLI[ KWVÅO]ZI [M KWUW uma das exceções ao empregar a estrutura em madeira no contexto moderno.

0]OW ;MOI_I !

MVLW[[I M[[M XZM[[]XW[\W IW IÅZUIZ Y]M Com a consagração do concreto armado na arquitetura moderna brasileira (enfatizando o caráter modernizador dessa tecnologia), serão raras as manifestações preocupadas com o emprego de sistemas construtivos tradicionais, principalmente em programas arquitetônicos de maior porte.

(SEGAWA, 1988, p.36).

O uso da estrutura em madeira e o emprego de sistemas construtivos \ZILQKQWVIQ[ VI +I[I 4MQ\M *IZJW[I LMUWV[\ZIU I KWUXTM`QLILM do movimento moderno na arquitetura brasileira e como a mesma se difundiu de diferentes formas. José Zanine Caldas aplica seus conhecimentos como maquetista de grandes arquitetos modernos e seu saber-fazer prático: a arquitetura moderna brasileira é marcada por essa constante dualidade entre modernidade e tradição.

7 ZMLM[MVPW LI +I[I 4MQ\M *IZJW[I QT][\ZI KWUW W [IJMZ NIbMZ LW IZ\yÅKM 2W[u BIVQVM +ITLI[ u IXTQKILW -U XZQUMQZW T]OIZ VI ]\QTQbItrW de peças de desmanche: Zanine passou a recolher elementos dessas construções demolidas para projetar as residências solicitadas no bairro do Joá. Esse reaproveitamento ilustra uma lógica de preservação das tradições construtivas e históricas brasileiras, aliadas aos demais espaços de cunho moderno no interior da obra. Outro aspecto evidenciado pelo saber empírico do arquiteto é seu domínio com a estrutura de madeira em elementos como a cobertura e os barrotes do assoalho na sala de estar.

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Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

A complexidade dessa estrutura provém, na cobertura, do encontro de duas partes distintas: a estrutura principal, formada por caibros que servem como sustentação das telhas de barro; e um segundo elemento adjacente, com caibros e terças, ligados por tábuas. No piso, esta estruturação ocorre por meio de vultosas vigas de madeira que sustentam vigotas nas quais se assenta um assoalho de largas tábuas (Figura 54). Além disso, destaca-se o partido “paladiano” do corpo central da casa. Como Zanine teve contato com o levantamento de diversas casas seiscentistas paulistas, esse repertório foi replicado.

Nas imagens a seguir (Figuras 55-67) apresentam-se os desenhos \uKVQKW[ LI +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! ZM[]T\IV\M[ LI ^Q[Q\I in loco em )OW[\W LM

Figura 54 : Estrutura da cobertura da varanda. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

HOHYDGR GR MRi

DY PLQLVWUR LYDQ OLQV

SRQWH GD MRDWLQJD

.QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P

DFHVVR ODJRD GD WLMXFD SRQWD GD MRDWLQJD

SRQWD GR PDULVFR

)LJXUD /RFDOL]DomR )RQWH *RRJOH (DUWK

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SUDLD GD MRDWLQJD

Q P

HOHYDGR GR MRi

DY PLQLVWUR LYDQ OLQV .QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P

SRQWH GD MRDWLQJD

DFHVVR ODJRD GD WLMXFD SRQWD GD MRDWLQJD

SRQWD GR PDULVFR

)LJXUD /RFDOL]DomR )RQWH *RRJOH (DUWK

P

P

SUDLD GD MRDWLQJD

Q P

DFHVVR ODJRD GD WLMXFD

UXD HVFDGD IORUD PD\

Figura 57: Implantação. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

SRQWD GD MRDWLQJD

)LJXUD ,PSODQWDomR )RQWH $XWRULD SUySULD

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Q P

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Figura 58: Pav. Cobertura. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

)LJXUD 3DY &REHUWXUD )RQWH $XWRULD SUySULD

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Q P

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UXD HVFDGD IORUD PD\

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%

)LJXUD 3DY 7pUUHR $PELHQWHV 'HFN HQWUDGD 6DOD GH HVWDU 6DOD GH MDQWDU &R]LQKD (GtFXOD 6XtWH 6XtWH 9DUDQGD 6ROiULR (VSHOKR G iJXD )RQWH $XWRULD SUySULD

P

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Q P

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Figura 59: Pav. Térreo. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

UXD HVFDGD IORUD PD\

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.QO]ZI " 8I^ 1VNMZQWZ .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

)LJXUD 3DY ,QIHULRU $PELHQWHV 6XtWH 6DOD 9DUDQGD *DUDJHP 6XtWH VHUYLoR 6XtWH 6XtWH 'HFN VXtWH -DUGLP $FHVVR VXtWH )RQWH $XWRULD SUySULD

P

P

Q P

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UXD HVFDGD IORUD PD\

$

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Figura 61: Pav. Inferior. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

)LJXUD 3DY ,QIHULRU $PELHQWHV 6XtWH 6DOD 9DUDQGD *DUDJHP 6XtWH VHUYLoR 6XtWH 6XtWH 'HFN VXtWH -DUGLP $FHVVR VXtWH 6XtWH )RQWH $XWRULD SUySULD

P

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Q P

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.QO]ZI " -TM^ItrW .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

)LJXUD (OHYDomR )RQWH $XWRULD SUySULD

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)LJXUD (OHYDomR )RQWH $XWRULD SUySULD

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GHFN HQWUDGD

VDOD GH HVWDU

VROiULR

HQWUDGD VXtWH

Figura 64: Corte A. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

)LJXUD &RUWH $ )RQWH $XWRULD SUySULD

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VXtWH

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VDOD GH HVWDU

VXtWH

YDUDQGD

Figura 65: Corte B. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

)LJXUD &RUWH % )RQWH $XWRULD SUySULD

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P

P

Figura 66: Isomé Isométrica. ~XZQI .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

7HOKD FHUkPLFD

&DLEURV [ FP

7iEXDV HP PDGHLUD

Figura 67: Perspectiva da estrutura em madeira. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

)LJXUD 3HUVSHFWLYD GD HVWUXWXUD HP PDGHLUD )RQWH $XWRULD SUySULD

&DLEURV [ FP

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Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

3.2.2 Casa Franz Borer | 1974 Projeto: José Zanine Caldas Data Projeto: 1974 Data Obra Concluída: 1975 Localização: R. Jackson de Figueiredo, 735 - Joá, Rio de Janeiro - RJ, 22611-000 Visita in loco realizada pela autora: 20/10/2020

Figura 68: Implantação esquemática (sem escala). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Figura 69: Fachada principal Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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A Casa Franz Borer (1974) também localiza-se no Bairro do Joá, na Rua Jackson de Figueiredo, número 735. A fachada principal, onde WKWZZM W IKM[[W u ^WT\ILI XIZI W VWZLM[\M .QO]ZI M W \MZZMVW LMKIQ

São eles uma ponte, em madeira peroba com assoalho em pinho de Riga que conecta a Rua Jackson de Figueiredo ao nível da sala de estar.

A ponte tem uma leve inclinação, pois a sala de estar não encontra-se

para o sudoeste com um declive de aproximadamente 7 metros (Figura )W KWV\ZnZQW LI +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! I +I[I .ZIVb *WZMZ (1974) tem vista para o morro da Joatinga e não para o mar. Quando

no mesmo nível da Rua Jackson de Figueiredo, onde ocorre o acesso à

a residência foi construída, em 1974, não haviam construções lindeiras ao lote da Casa Franz Borer (1974), pois, como já comentado, Zanine foi pioneiro na ocupação do Bairro do Joá. Atualmente, há vizinhos em ambas as laterais do lote. Não há vizinhos na frente da fachada sudoeste.

KI[I I :]I 2IKS[WV LM .QO]MQZMLW M[\n VW Vy^MT U M I ;ITI LM -[\IZ está no nível 82m). A estrutura da ponte de 5m de largura começa no portão da casa, no nível da Rua Jackson Figueiredo, e consiste em [M\M JIZZW\M[ LM LQUMV[ M[ KU XWZ KU M[XItILW[ MU KU MQ`W o MQ`W j QV\MZM[[IV\M VW\IZ KWUW I UILMQZI u \ZIJITPILI \IUJuU VW O]IZLI KWZXW LM KU LM IT\]ZI LM[[I UM[UI XI[[IZMTI KWU [M]

A implantação da casa possui um eixo que a percorre transversalmente e uma composição direcionada, de sentido descendente, lote abaixo.

A entrada se dá pela sala de estar, como na maioria das casas que José Zanine Caldas projetou no Bairro do Joá, justamente por conta do

\WXW LM [MtrW TIZOI IXZW`QUILIUMV\M KU LM TIZO]ZI 7 W]\ZW \QXW de circulação que transpassa a fachada principal são duas escadarias

terreno. A área pública mostra-se logo no acesso à casa, no Pavimento

íntima da casa.

A análise dos acessos possibilitados pela fachada nordeste demonstra a intenção do arquiteto Zanine Caldas de proporcionar uma entrada em meio-nível aos moradores da casa, pois há opções de circulação: não

Térreo. A fachada nordeste possui duas paredes de alvenaria, revestidas em cal com acabamento rústico. A estrutura em madeira que sustenta a cobertura já é aparente na fachada. Além disso, é possível observar uma abertura na alvenaria esquerda da casa, que trata-se de uma

em paralelepípedo, localizadas nas laterais dessa mesma ponte. As escadarias levam ao Pavimento Intermediário, onde localiza-se a área

ventilação para a cozinha. A abertura tem aproximadamente 1m x U M MVKWV\ZI [M TWOW IJIQ`W LI ^QOI IXIZMV\M MU UILMQZI ) ^QOI IXIZMV\M VI NIKPILI VWZLM[\M XW[[]Q [MtrW LM KU XWZ KU I[[QU

é estritamente necessário passar pela área social para acessar a área íntima da casa e essa solução só foi possível graças ao meio-nível e à apropriação adequada do projeto ao terreno inclinado no bairro do Joá.

Apesar de localizar-se no topo desse morro, a casa é discreta, já que se

como os pilares aparentes.

Ainda na fachada nordeste estão dispostos dois tipos de circulação que cortam o volume da casa transversalmente, no sentido nordeste-sudeste.

aproveita da inclinação natural do terreno para distribuir seu programa. j QUXWZ\IV\M NZQ[IZ Y]M IQVLI VI NIKPILI VWZLM[\M Pn ]UI KWJMZ\]ZI também em madeira peroba, que protege a garagem e o acesso à carros.

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.QO]ZI " .IKPILI VWZLM[\M LI +I[I .ZIVb *WZMZ ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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Figura 71: Fachada sudoeste da Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

A passarela principal leva à porta de entrada da casa, localizada entre esquadrias em vidro, com caixilhos em madeira peroba. As portas XZQVKQXIQ[ I[[QU KWUW VI +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! [rW ZMIXZW^MQ\ILI[

NWZUILW XWZ LWQ[ XQTIZM[ LM [MtrW KU XWZ KU M ]UI ^QOI MU [M] \WXW LM [MtrW QO]ITUMV\M KU XWZ KU Assim como a passarela principal que dá acesso à casa, o piso da

LI[ LMUWTQt M[ VW KMV\ZW LI KQLILM LW :QW LM 2IVMQZW VW ÅVIT LI LuKILI LM ! M QVyKQW LI LuKILI LM ! XWZ KWV\I LM ZMNWZUI[ ]ZJIVy[\QKI[ As portas são em madeira com um gradeado metálico ornamentado. A

sala de estar é composto por barrotes de seção 23cm por 7cm em peroba e assoalho em pinho de Riga. Entre os barrotes, há uma laje em concreto, revestida de gesso (é possível observar esse revestimento

entrada à sala de estar é recuada para dentro da residência: em planta, forma-se um trapézio, sendo as diagonais representadas pelas esquadrias em vidro e madeira e o menor lado, pelas portas de desmanche.

A geometria da casa está presente em sua modulação: os pilares

no Pavimento Intermediário), pois há a necessidade de encaminhar tubulações hidráulicas para a cozinha e lavabo no Pavimento Térreo.

MU XMZWJI LM [MtrW KU XWZ KU M[\rW LQ[XW[\W[ MU ]UI UITPI de aproximadamente 5m por 5m. Isso já era perceptível na análise da

perpendicular aos barrotes do piso da sala de estar. O eixo entre eles

fachada nordeste, pois as escadas laterais e passarela central formam uma divisão de três partes iguais de 5 metros de largura. Apesar de ainda ter o elemento básico das paredes em alvenaria, as mesmas não possuem função estrutural, tanto que na própria fachada nordeste, todos os pilares e vigas são aparentes. A alvenaria desempenha o papel de proteção visual às áreas mais íntimas na residência: no caso

A estrutura do piso muda na varanda: a sustentação ocorre por vigas em peroba (também de 23cm por 7cm), e o sentido dessas vigas se dá é de 34cm.

Um elemento básico presente nessa casa que destaca-se dentro da produção de José Zanine Caldas no Bairro do Joá é a presença da cobertura de 4 águas em estrutura de madeira e telhas de barro (Figura 73, 74, 75). A estrutura básica da cobertura começa com seis vigas de UILMQZI XMZWJI KWU [MtrW MU TW[IVOW ) [MtrW LI[ ^QOI[ u LM KU XWZ KU M IXM[IZ LI KWJMZ\]ZI \MZ Y]I\ZW nO]I[ I[ ^QOI[ IXWQIU [M MU

do Pavimento Térreo, apenas há alvenaria interna para divisória da cozinha e lavabo.

Após adentrarmos a residência, a tríplice divisão na geometria arquitetônica da casa também está presente na fachada sudoeste (Figura

seis pontos: dois deles são os pilares que formam a entrada em trapézio

72): ao todo, a casa tem três pavimentos sustentados por quatro pilares em madeira. A varanda na Sala de Estar também está inclusa nessa divisão em módulos de 5m por 5m e no seu centro há um grande pórtico

metálicas que conferem a estabilidade entre esses elementos. As chapas \MU IXZW`QUILIUMV\M KU XWZ KU [rW LM KWZ XZM\I M [rW Å`ILI[ nas vigas por meio de 6 parafusos.

e os quatro restantes são os pilares nas extremidades da casa (dois na fachada nordeste e dois na fachada sudoeste). Todo encontro entre as ^QOI[ XZQVKQXIQ[ LI KWJMZ\]ZI u ZMITQbILW XWZ UMQW LM Å`It M[ LM KPIXI[

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

97

Figura 72: Croqui ilustrando a fachada sudoeste da +I[I .ZIVb *WZMZ ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Figura 73: Croqui ilustrando a cobertura da Casa .ZIVb *WZMZ ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

98

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

Figura 74: Cobertura Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

99

Figura 75: Cobertura e Varanda Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

0n \ZMKPW[ LI KWJMZ\]ZI KWU NWZZW M Pn \ZMKPW[ KWU \MTPI" VW[ triângulos da cobertura voltados para a fachada sudoeste é possível ver as telhas; já nos triângulos voltados para o noroeste, sudeste e nordeste Pn ]U NWZZW MU XQVPW LM ZQOI NWZUILW XWZ \nJ]I[ LM KU LM TIZO]ZI e caibros de seção 8cm por 8cm, em losango, assim como as vigas de cobertura. Esses caibros apoiam-se nas vigas lindeiras da casa, com espaçamento de eixo a eixo de 45cm. Pequenos cachorros de forma triângular que dão o acabamento aos beirais recebem esses caibros.

Esses cachorros tem altura de 5cm e também estão ligados às vigas TQVLMQZI[ LI KWV[\Z]trW 7 JMQZIT NWZUILW XMTW[ KIKPWZZW[ \MU KU de balanço com relação às vigas limítrofes e possui uma calha metálica que contorna todo seu perímetro. A cobertura em si é formada por um sanduíche: há uma camada externa de telhas em barro, que está em contato direto com as intempéries exteriores à casa; essas telhas são Å`ILI[ MU ]UI KIUILI LM KWUXMV[ILW VI^IT M ]UI KIUILI LM UIV\I impermeabilizadora. O pé direito no ponto mais alto da cobertura é de UM\ZW[ M VW ZM[\IV\M LW[ IUJQMV\M[ W Xu LQZMQ\W u LM UM\ZW[ )[[QU KWUW VI +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! I KQZK]TItrW ^MZ\QKIT que dá acesso à área íntima, encontra-se deslocada do eixo principal de sentido nordeste-sudoeste (Figura 76). A escada em leque é abraçada entre as paredes da cozinha e lavabo, mas sua real sustentação ocorre por UMQW LM ]U XQTIZ KMV\ZIT LM [MtrW KU XWZ KU )XM[IZ LM LM[TWKILI do eixo principal da Casa Franz Borer (1974), a escada é um elemento marcante: seus doze pisos são em peroba envernizada, de forma triangular e contituem um quadrado em planta. A altura dos espelhos é de 23cm.

Figura 76: Escada interna da Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

Além da circulação interna (que apenas dá acesso ao pavimento dos quartos), há mais duas circulações de caráter vertical: uma na fachada sudeste e outra na fachada noroeste. Ambas essas circulações ligam o Pavimento Térreo ao Pavimento Inferior. A escada da fachada sudeste assemelha-se à escada interna, pois também é em leque e tem estrutura em madeira (Figura 77). Essa escada tem patamares em todos os pavimentos, incluindo o Pavimento Intermediário. A escada da fachada noroeste não tem patamares intermediários, apenas liga o piso de acesso IW XI^QUMV\W LI XQ[KQVI j QUXWZ\IV\M NZQ[IZ Y]M IUJI[ I[ M[KILI[ encontram-se cobertas pelo beiral do telhado em madeira.

O Pavimento Intermediário possui três quartos, sendo apenas um deles uma suíte. A Suíte Máster tem uma varanda em balanço, que acompanha a estrutura da casa com os pilares em madeira. Os dois outros cômodos são quartos de hóspedes e não possuem banheiros acoplados. O quarto oposto à Suíte Máster segue a simetria proposta pela tríplice divisão da fachada sudoeste e possui varanda (assim como a Suíte Máster). O banheiro que é dividido entre esses dois cômodos é mais próximo ao cômodo da extremidade.

O Pavimento Inferior tem acesso pelas escadas laterais das fachadas sudeste e noroeste e abriga a piscina, uma suíte de hóspedes com banheiro e copa (que originalmente era uma edícula) e uma lavanderia. No Pavimento Inferior é possível ver sapatas de concreto que envolvem os pilares em madeira. Isso foi fruto de uma reforma posterior que ocorreu na casa, pois a base dos pilares, apesar de não ser apoiada diretamente no terreno, estava desgastada por conta da umidade do local.

Figura 77: Escada externa da Casa Franz Borer (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

Na reforma, a estrutura da casa inteira, inclusive da cobertura, foi escorada (Figura 78). A escora é utilizada como uma espécie de estrutura provisória, destinada a suportar cargas de estruturas permanentes e não permanentes. Ela é empregada quando existe a necessidade de “apoiar” construções em reforma ou obra, até que esta adquira resistência o []ÅKQMV\M XIZI [M \WZVIZ I]\WXWZ\IV\M ,M[LM MV\rW VrW PW]^M UIQ[ problemas com a base da estrutura da Casa Franz Borer (1974) e seu apoio no terreno.

Outro aspecto importante da Casa Franz Borer são os diferentes tipos de vedações, divididos em três grupos:

O detalhamento dessa ventilação horizontal foi explorado no +IXy\]TW -[[I ^MLItrW MVKWV\ZI [M IW TWVOW LI KIQ`QTPIZQI LM \WLW o pavimento de acesso, já que a sala de estar é o ambiente que possui UIQ[ M[Y]ILZQI[ Å`I[ ,M[\I NWZUI W LM\ITPM LM ^MV\QTItrW PWZQbWV\IT garante o conforto térmico e visibilidade da Barra da Tijuca. Nas QUIOMV[ I [MO]QZ .QO]ZI[ ! IXZM[MV\IU [M W[ LM[MVPW[ \uKVQKW[ da Casa Franz Borer (1974), resultantes da visita in loco em Agosto e 7]\]JZW LM

1. Janelas em vidro, com esquadrias de madeira + venezianas de madeira pintadas em vermelho; 2. Panos de vidro com esquadrias simples em madeira peroba; 3. Panos de vidro com esquadrias ventiladas em madeira peroba (Figura 79): ventilação inferior e ventilação nas laterais proporcionada por um mecanismo de abre e fecha (apenas empurrar).

O tipo 3 de esquadria, é um elemento recorrente na obra de Zanine: a solução de ventilação foi utilizada mais de uma vez nas residências no Bairro da Joá, por tratar-se de uma região quente e úmida, com necessidade de ventilação constante.

Figura 78: Escora feita na Casa Franz Borer (1974).

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 79: Vedação com ventilação inferior. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

HOHYDGR GR MRi

SRQWH GD MRDWLQJD

.QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P

DFHVVR ODJRD GD WLMXFD SUDLD GD MRDWLQJD

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SRQWH GD MRDWLQJD .QO]ZI " 4WKITQbItrW .WV\M" /WWOTM -IZ\P

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UXD MDF

Figura 82: Implantação. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

NVR Q I LJX HLU HGR

)LJXUD ,PSODQWDomR )RQWH $XWRULD SUySULD

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Figura 83: Pav. Térreo. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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)LJXUD 3DY 7pUUHR $PELHQWHV *DUDJHP 6DOD GH HVWDU /DYDER &R]LQKD 6DOD GH MDQWDU 9DUDQGD )RQWH $XWRULD SUySULD

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Figura 84: Pav. Intermediário. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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)LJXUD 3DY ,QWHUPHGLiULR $PELHQWHV 6XtWH PiVWHU %DQKR PiVWHU (VFULWyULR 'RUP KyVSHGHV %DQKR 9DUDQGDV )RQWH $XWRULD SUySULD

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Figura 85: Pav. Inferior. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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)LJXUD 3DY ,QIHULRU $PELHQWHV 6XtWH KyVSHGHV %DQKR KyVSHGHV &RSD /DYDQGHULD 3LVFLQD )RQWH $XWRULD SUySULD

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)LJXUD (OHYDomR )RQWH $XWRULD SUySULD

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Figura 88: Corte A. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Figura 89: Corte B. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

.QO]ZI ! " 8MZ[XMK\Q^I LI M[\Z]\]ZI MU UILMQZI .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

7HOKD FHUkPLFD

&DPDGD GH LPSHUPHDELOL]DomR

&DPDGD GH FRPSHQVDGR QDYDO

7iEXDV HP PDGHLUD

Figura 91: Perspectiva da estrutura em madeira. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI &DLEURV

)LJXUD 3HUVSHFWLYD GD HVWUXWXUD HP PDGHLUD )RQWH $XWRULD SUySULD

9LJDV SULQFLSDLV VHomR GLDJRQDO [ FP 5HYHVWLPHQWR HP WHOKD

116

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

3.2.3 Casa Julio Lohman | 1975 Projeto: José Zanine Caldas Data Projeto: 1975 Data Obra Concluída: 1975 Localização: R. Prof. Júlio Lohman, 660 - Joá, Rio de Janeiro - RJ, 22611-170 Visita in loco realizada pela autora: 21/10/2020

Figura 92: Implantação esquemática (sem escala). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

.QO]ZI ! " .IKPILI XZQVKQXIT +I[I 2]TQW 4WPUIV ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

117

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

) ZM[QLwVKQI I [MZ LM[KZQ\I NWQ PIJQ\ILI MV\ZM I[ LuKILI[ LM ! M ! M LMXWQ[ XMZUIVMKM] QV]\QTQbILI I\u ! Y]IVLW ]U LM [M][ donos decidiu reformá-la. O projeto novo está a encargo da construtora

Ou seja, novamente essa casa utiliza a solução empregada comumente nas obras arquitetônicas de Zanine analisadas até então: o volume da

+/ù -VOMVPIZQI [WJ KWWZLMVItrW LI MVOMVPMQZI .MZVIVLI +W[\I j LM suma importância frisar que todos os redesenhos apresentados a seguir foram feitos com base no levantamento realizado pela CG² Engenharia.

pelo Pavimento Térreo. ) KWV[\Z]trW MU [Q XW[[]Q UM\ZW[ VI[ NIKPILI[ []T M VWZ\M M metros nas fachadas leste e oeste. A fachada de acesso à casa, assim

A descrição a seguir trata-se do projeto original da casa. Para efeitos da LQ[[MZ\ItrW I +I[I TM^W] W VWUM LM ¹2]TQW 4WPUIVº XWQ[ W XZWXZQM\nZQW [WTQKQ\W] Y]M VrW NW[[M QLMV\QÅKILW ) KI[I [Q\]I [M VI :]I 2]TQW 4WPUIV ,QNMZMV\MUMV\M LI[

como todas as outras fachadas principais das casas do Joá vistas até o momento, tem dois blocos de alvenaria que marcam uma entrada KMV\ZIT 6W KI[W LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! MV\ZM M[[M[ LWQ[ JTWKW[ existem duas paredes inclinadas no sentido da entrada longitudinal,

demais casas levantadas que possuem a entrada seguindo o sentido transversal (eixo transversal penetra a residência pela maior face do

formando um trapézio: o lado menor do trapézio é a porta, com 2 metros de largura (Figura 93).

Como a entrada é recuada com relação aos blocos de alvenaria da

^WT]UM I MV\ZILI LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! WKWZZM VW [MV\QLW longitudinal. O acesso ocorre pela fachada sul e a fachada norte possui

casa ocupa a enconsta conforme sua queda, e o acesso sempre ocorre

fachada, ela é protegida pelo beiral da cobertura. O pé direito formado

vista para a Barra da Tijuca, sendo possível também ver o mar. A casa XW[QKQWVI [M VW ÅU LI Z]I 2]TQW 4WPUIV WVLM Pn ]U cul-de-sac com mais duas casas contornando a via arredondada. Como Zanine foi pioneiro na ocupação do bairro, originalmente não havia vizinhos no

nessa entrada é de 3 metros. ) M[\Z]\]ZI LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! XWLM [MZ QV\MZXZM\ILI da seguinte maneira: há uma conjuntura estrutural interior, formada XWZ XWV\W[ LM IXWQW KWV[\Q\]yLW[ LM XQTIZM[ LM [MtrW KU XWZ

entorno. Atualmente há apenas um vizinho ao leste da casa. ) KWV[\Z]trW LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! ^MVKM UM\ZW[ LM desnível com 3 pavimentos distintos: o Pavimento Térreo, Pavimento Intermediário e Pavimento Inferior. Porém, o terreno onde a casa é inserida

KU Y]M MU XTIV\I NWZUIU ]U Y]ILZILW LM U XWZ U

é bem maior que a projeção de área construída da residência, já que o lote vence 22 metros de desnível ao longo de 45 metros de comprimento no sentido longitudinal, com inclinação voltada ao norte do terreno.

formada por três pilares em concreto. Esses elementos pressupõe

Essa estrutura interna é responsável pelo apoio da cobertura e dita a espacialidade da sala de estar, cozinha e demais cômodos presentes no Pavimento Térreo. Também há uma estrutura radial, um quadrado em planta, que sobrepõe-se ao desenho formado pelos pilares em madeira. Os pilares medem 1m por 1m (Figura 94).

118

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

.QO]ZI ! " +ZWY]Q LI NIKPILI LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

119

O espaço formado entre a diferença dos dois quadrados resulta na ^IZIVLI Y]M XW[[]Q UM\ZW[ LM TIZO]ZI XWZ UM\ZW[ LM KWUXZQUMV\W A justaposição dos esquemas de quadrado na planta da Casa Julio

por José Zanine Caldas no Bairro do Joá, os blocos enclausurados por alvenaria abrigam programas mais íntimos. No Pavimento Térreo, a KWbQVPI W Y]IZ\W LM P~[XMLM[ M W TI^IJW XW[[]MU M[[I KWVÅO]ZItrW

4WPUIV ! NWZUI LQIOWVIQ[ Y]M [rW \ZItILI[ XMTI[ M[Y]ILZQI[ M divisórias internas. Essas divisórias foram anguladas para direcionar a vista de quem ocupa a sala de estar. O mesmo ângulo nas paredes

)QVLI VI [ITI LM M[\IZ Pn ]U XMY]MVW XITKW MTM^ILW I KU LW XQ[W LM entrada, com uma escada em madeira que dá acesso ao mesmo por meio de 4 degraus. A cozinha encontra-se no mesmo nível desse pequeno palco.

também continua no Pavimento Intermediário nos quartos: todas as ^Q[\I[ MU LQIOWVIT ^WT\IU [M o 4IOWI LI <QR]KI 5I[ M[[M IZ\QNyKQW tem outros efeitos também. Ele permite a variedade de tamanhos de quartos no pavimento intermediário, ao mesmo tempo em que confere

7 XQ[W LI [ITI LM M[\IZ u KWUXW[\W XWZ JIZZW\M[ LM [MtrW KU XWZ KU M[XItILW[ MU IXZW`QUILIUMV\M KU MV\ZM MQ`W[ 6W 8I^QUMV\W Intermediário é possível ver os barrotes, com forro de gesso entre eles.

privacidade aos terraços cuja vista é direcionada pelas diagonais.

7 \ZIJITPW KWU I[ LQIOWVIQ[ VI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! LMUWV[\ZI

Esses barrotes apoiam-se nas vigas lindeiras da casa, que por sua vez \MU I [MtrW LM KU XWZ KU M \IUJuU [rW MU UILMQZI ) M[KILI LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! u [QUQTIZ o M[KILI LI +I[I .ZIVb *WZMZ !

]UI M[XIKQITQLILM UIQ[ KWUXTM`I Y]M u ZMÆM\QLI VI KWJMZ\]ZI LM quatro águas (Figura 95, 96). A cobertura apoia-se em vigas de seção

pois também encontra-se próxima à um banheiro lateral, é em leque e

MU TW[IVOW KWU KU XWZ KU .QO]ZI[ ! ! <WLI[ I[ ^QOI[ encontram-se no pilar central. A cobertura também possui o esquema

estrutura. Além dessa circulação vertical, também há uma escada na

sanduíche, com uma camada externa de telhas em barro, que está em

4WPUIV ! IJZQOI I TI^IVLMZQI []y\M[ Y]IZ\W[ M JIVPW 7[ quartos voltados à fachada norte possuem as varandas inclinadas, com

contato direto com as intempéries exteriores à casa, que por sua vez são Å`ILI[ MU ]UI KIUILI LM KWUXMV[ILW VI^IT M ]UI KIUILI LM UIV\I impermeabilizadora. O forro dessa cobertura é formado por caibros de seção 15cm por 5cm, espaçados em 55cm entre eixos. A viga que liga os dois pilares em madeira voltados à fachada norte possui elementos triangulares que recebem os caibros da cobertura alternadamente. A lógica desse detalhe de cobertura assemelha-se à Casa Franz Borer (1974), porém em escala maior. Assim como nas outras casas projetadas

possui um pilar central (seção de 14cm por 14cm) que apoia toda sua fachada leste da residência. O Pavimento Intermediário da Casa Julio

a vista direcionada, conforme foi mencionado acima.

6I[ .QO]ZI[ !! ! I [MO]QZ IXZM[MV\IU [M W[ LM[MVPW[ \uKVQKW[ LI +I[I 2]TQW 4WPUIV ! ZM[]T\IV\M[ LI ^Q[Q\I in loco em Outubro de

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

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9LJDV HP PDGHLUD SDUD DSRLR GD FREHUWXUD [ FP 3LODUHV HP / GH FRQFUHWR [ P

%DUURWHV [ FP

9LJDV HP PDGHLUD [ FP

3LODU HP PDGHLUD [ FP 6DSDWDV HP FRQFUHWR 9LJDV HP PDGHLUD [ FP

)LJXUD 3HUVSHFWLYD GD HVWUXWXUD HP PDGHLUD )RQWH $XWRULD SUySULD

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&DLEURV [ FP

)LJXUD 3HUVSHFWLYD GD HVWUXWXUD HP PDGHLUD )RQWH $XWRULD SUySULD

134

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

3.2.4 Casa Wlasek | 1974 Projeto: José Zanine Caldas Data Projeto: 1974 Data Obra Concluída: 1975 Localização: Escada Flora May, 51 - Joá, Rio de Janeiro - RJ, 22611-120 Visita in loco realizada pela autora: 25/10/2020

.QO]ZI !" 1UXTIV\ItrW M[Y]MUn\QKI [MU M[KITI .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

.QO]ZI " .IKPILI []LM[\M +I[I ?TI[MS ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

135

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

A Casa Wlasek (1974) localiza-se no número 51 da Rua Escada .TWZI 5Ia UM[UI Z]I LI +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! ) KWV[\Z]trW NWQ WZQOQVITUMV\M XTIVMRILI KWUW ]U XZM[MV\M XIZI I ÅTPI UIQ[ VW^I de Zanine, Déa Dória Zanine Caldas. Conhecida pelo apelido de Cuca, Déa morou em quatro residências projetadas por Zanine no Bairro do Joá, sendo a quarta delas a Casa Wlasek (1974), ou “Casa da Cuca”. Segundo Déa Dória Zanine Caldas “Nós ocupávamos as casas enquanto eram construídas. Cresci nas obras com cheiro de serragem, XMVL]ZILI VW[ XQTIZM[ LM UILMQZIº +)4,); apud /)4>³7 ! )[ Figuras 111 e 112 representam o Estudo Preliminar do projeto da Casa Wlasek, feito em papel milimetrado.

Quando completou 7 anos, Cuca mudou-se para a Casa Wlasek apenas com a mãe, que havia se separado de Zanine.

No início de sua adolescência, Cuca e a mãe foram embora morar em Ipanema. Depois de ser alugado por um tempo, o imóvel acabou sendo vendido ao empresário Frank Wlasek, que acrescentou a piscina e a ala dos hóspedes, seguindo as orientações do mestre baiano e replicando os materiais essenciais da construção: madeira, pedra e vidro. “Esta casa presta homenagem à natureza. Cada vidraça emoldura uma paisagem, uma ilhota”, afirmou certa vez Wlasek em uma entrevista a um programa de TV (GALVÃO, 2019).

) +I[I ?TI[MS ! WK]XI ]U \MZZMVW LM IXZW`QUILIUMV\M m2, vencendo 7 metros de desnível ao longo da pedra da Joatinga. O IKM[[W XZQVKQXIT o ZM[QLwVKQI XW[QKQWVI [M VI KW\I ! M I MV\ZILI [M dá pela fachada Noroeste. Assim como a maioria das casas projetadas

por José Zanine Caldas no Bairro do Joá, a Casa Wlasek possui acesso central, com volume principal dividido em três. As laterais desse volume são em alvenaria auto-portante, revestidas de pedra moledo e o centro KWVÅO]ZI [M MU M[\Z]\]ZI LM UILMQZI O acesso à residência ocorre por um grande pátio com piso de pedra que liga o bloco original da casa ao bloco construído para Frank Wlasek posteriormente. O pátio principal também acomoda a garagem, em paredes de alvenaria auto-portantes revestidas de pedra moledo.

A fachada principal da residência volta-se para o noroeste (Figura 113), enquanto ao nordeste encontra-se um bloco de quartos deslocados do corpo principal da residência. O anexo construído para .ZIVS ?TI[MS NWQ NMQ\W o []LWM[\M []LM[\M LI ZM[QLwVKQI M ^WT\I [M XIZI a vista do mar da Joatinga (Figura 114).

Passando o pátio central, há o corpo principal da casa, composto por esquadrias de vidro e madeira. As portas centralizadas também provém de demolições ocorridas no centro do Rio de Janeiro, sendo possível observar a estrutura entre as esquadrias da fachada: existem pilares de KU XWZ KU Y]M [][\MV\IU I KWJMZ\]ZI M TQOIU W[ KIQ`QTPW[ ]V[ IW[ outros. Ainda na entrada da residência, há pilaretes metálicos pintados da cor verde, que também repetem-se na fachada sudeste.

136

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

Figura 111 e 112: Estudo preliminar para a Casa ?TI[MS ! .WV\M" ;14>) ! ! [ X

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Figura 113: Fachada noroeste da Casa Wlasek (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

138

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Figura 114: Vista para o bloco dos quartos construídos I []LWM[\M []LM[\M .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

139

Assim como em outras residências projetadas e construídas por José Zanine Caldas no Bairro do Joá, a Casa Wlasek (1974) possui os LWQ[ JTWKW[ TI\MZIQ[ MU IT^MVIZQI IXWQIVLW I KWJMZ\]ZI ) MLQÅKItrW não possui o bloco social no mesmo nível do pátio de acesso: a entrada é TWKILI VI KW\I ! M W JTWKW [WKQIT M[\n VI KW\I ! 8IZI W IKM[[W à sala de estar da residência, é preciso subir um bloco de escadas em madeira com 7 degraus de 2 metros de largura que localiza-se à frente LI[ M[Y]ILZQI[ LI MV\ZILI 0n \IUJuU L]I[ M[KILI[ ILRI[KMV\M[ Y]M dão acesso à área íntima.

A área social possui assoalho de madeira e as tábuas são apoiadas por ^QOI[ [MK]VLnZQI[ LM [MtrW KU XWZ KU KWU M[XItIUMV\W LM KU entre eixos. As vigas principais que apoiam a estrutura da sala de estar M I ^IZIVLI []J[MY]MV\M XW[[]MU KU XWZ KU LM [MtrW 6W KMV\ZW LI [ITI LM M[\IZ Pn ]U ZMJIQ`W Y]M IJZQOI ]U [WNn MU UILMQZI Å`ILW à estrutura do piso (Figura 115). ) XZM[MVtI LM U~^MQ[ Å`W[ VI[ KI[I[ XZWRM\ILI[ M KWV[\Z]yLI[ XWZ José Zanine Caldas relaciona-se ao contexto moderno da arquitetura brasileira, ao qual o arquiteto estava inserido. As Figuras 116 e 117 ilustram sofás rebaixados em casas de estrutura de concreto. Por conta do rebaixo no piso e por conta da estrutura em madeira, foi possível criar aberturas no rebaixo para o aproveitamento da vista da Joatinga, diferentemente de outras residências modernistas.

Figura 115: Sofá rebaixado da Casa Wlasek. Fonte: )]\WZQI XZ~XZQI

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

Figura 117: Sofá rebaixado da Casa Miller, Eero ;IIZQVMV ! .WV\M" ,Q[XWVy^MT MU )KM[[W" P\\X[" ___ aMTTW_\ZIKM KWU I] MMZW [IIZQVMV UQTTMZ PW][M 5IZ LM ZM[QLMVKQI JMI\ZQb SMZ\Q UIVOIJMQZI )KM[[W" 5IZ LM Figura 116: Sofá rebaixado em concreto da Casa Kerti, Joaquim Guedes, 1971. Fonte: ,Q[XWVy^MT MU P\\X[" IZY]Q^W IZY JZ XZWRM\W[ residencia-beatriz-kerti-mangabeira. )KM[[W" 5IZ LM

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

No mesmo nível da sala, (+91,65), há um cômodo originalmente projetado como quarto que funciona como escritório, além de um lavabo. Também dando continuidade à sala de estar, há uma varanda .QO]ZI MU JITIVtW [][\MV\ILI XWZ XQTIZM[ LM KU XWZ KU LM seção. Os pilares apoiam-se diretamente sobre a pedra da Joatinga e possuem bases de concreto para evitar o desgaste das peças por erosão do mar e outros agentes naturais (Figura 119).

141

UWTMLW ) ;]y\M [MO]M W UM[UW XILZrW XZWOZIUn\QKW M M[\Z]\]ZIT" IUJI[ XW[[]MU KTW[M\ M JIVPW XZ~XZQW[ M \wU IXZW`QUILIUMV\M U de área. O corredor que liga as suítes tem estrutura de madeira similar à passarela de acesso aos quartos e tem três tipos de vedação: esquadria KWU ^MV\QTItrW QVNMZQWZ M[Y]ILZQI Å`I M XWZ\I[ LM LMUWTQtrW Y]M TQOIU o corredor à uma varanda. Essa varanda é compartilhada entre os dois quartos desse pavimento e é sustentada por dois pilares de madeira que apoiam-se diretamente na rocha da Joatinga.

No corredor do pavimento +88,81, há uma escada em estrutura de madeira com 14 degraus que liga o pavimento da cota +88,81 à mais

Em um nível rebaixado à sala encontra-se a cozinha e uma pequena sala de jantar: ambos os ambientes possuem acesso pela varanda por uma escada em estrutura de madeira de largura 95cm. A sala de jantar \MU LWQ[ \QXW[ LM ^MLItrW" I ^MLItrW Å`I M W[ KIQ`QTPW[ MU O]QTPW\QVI A sala de jantar da acesso à um hall de entrada para a área íntima da

L]I[ []y\M[ )[ ;]y\M[ M M[\rW VI KW\I M XW[[]MU XTIV\I ZMXTQKILI o[ ;]y\M[ M XWZuU VM[[M XI^QUMV\W VrW Pn ^IZIVLI

casa, exatamente abaixo da sala de estar. Esse hall distribui o acesso às demais suítes da casa e à lavanderia. O vestíbulo localiza-se no nível

Entre as duas Suítes do pavimento +85,82 há um acesso à um pátio que pode ser acessado por uma escada helicoidal próxima à garagem

+88,81 e também pode ser alcançado por duas escadas ao lado da entrada princial. Esse é um aspecto também presente na residência Franz Borer (1974): a passagem para a área íntima independe da passagem pela área social.

de entrada. Abaixo da garagem, há um depósito localizado no nível +85,82.

O hall íntimo é conectado à duas suítes no nível +88,81 por ]UI XI[[IZMTI LM UILMQZI [][\MV\ILI XWZ XQTIZM[ KU ` KU M vigas principais de mesma seção. O assoalho dessa passarela possui ^QOI[ [MO]VLnZQI[ LM KU ` KU M[XItILI[ MU KU 7 XI^QUMV\W localizado no nível +88,81 possui duas suítes com planta invertida, de M[\Z]\]ZI LM IT^MVIZQI M UILMQZI ) ;]y\M ÅKI IJIQ`W LW M[KZQ\~ZQW LW pavimento Térreo e possui vedações de alvenaria e revestimento em pedra

142

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

Figura 118: Varanda da Casa Wlasek (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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143

Figura 119: Vista da fachada sudeste, ilustrando os pilares apoiaLW[ VI ZWKPI LI 2WI\QVOI .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

144

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

7 IVM`W \MU IKM[[W XMTW XI^QUMV\W \uZZMW KW\I ! XWZ UMQW LW mesmo pátio de entrada do bloco principal da casa. O anexo possui um deck com piscina, de estrutura igualmente em madeira com vigas principais LM KU XWZ KU LM [MtrW 7 I[[WITPW LI XQ[KQVI u [][\MV\ILW XWZ ^QOI[ [MK]VLnZQI[ LM KU XWZ KU )[[QU KWUW VI [ITI LM M[\IZ M`Q[\MU M[XZMO]QtILMQZI[ VW LMKS Y]M [rW Å`I[ o XQ[KQVI .QO]ZI ) XQ[KQVI u MTM^ILI LW Vy^MT LW LMKS MU KU )JIQ`W LI XQ[KQVI Pn K UWLW[ Y]M são acessados pelo hall da área íntima. Nessa área, há um banheiro, uma suíte e uma sala de estar (Figura 121) com vista para o mar da Joatinga.

Um dos aspectos mais marcantes da Casa Wlasek é a cobertura em madeira (Figuras 122, 123 e 124). Ela é composta por quatro águas, [][\MV\ILI[ XWZ Y]I\ZW ^QOI[ KWU [MtrW LQIOWVIT LM KU XWZ KU As vigas seguem as cumeeiras do telhado e encontram-se no centro da cobertura, onde há uma claraboia sustentada por quatro vigas iguais às

.QO]ZI " 8Q[KQVI M M[XZMO]QtILMQZI[ LI +I[I ?TI[MS ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

XZQVKQXIQ[ KU KU [MtrW LQIOWVIT ) KTIZIJWQI u KWJMZ\I XWZ ]U lanternim, com estrutura independente à cobertura original. As ripas entre as vigas principais também são dispostas na diagonal, porém com seção 15cm por 15cm.

Nas Figuras 125-136 a seguir, apresentam-se os desenhos técnicos da Casa Wlasek (1974), resultantes da visita in loco MU 7]\]JZW LM

Figura 121: Sala de estar anexa da Casa Wlasek (1974). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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Figura 122: Croqui da Viga de Cobertura, Casa Wlasek. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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Figura 123: Cobertura da Casa Wlasek. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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147

Figura 124: Croqui Cobertura Casa Wlasek. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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DY PLQLVWUR LYDQ OLQV SRQWH GD MRDWLQJD

DFHVVR ODJRD GD WLMXFD SRQWD GD MRDWLQJD )LJXUD /RFDOL]DomR )RQWH *RRJOH (DUWK

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Figura 134: Corte B. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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)LJXUD 3HUVSHFWLYD GD HVWUXWXUD HP PDGHLUD GR EORFR SULQFLSDO &DVD :ODVHN )RQWH $XWRULD SUySULD

7HOKD FHUkPLFD 5HYHVWLPHQWR GR ODQWHUQLP HP SHGUD

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7HOKD FHUkPLFD

&DPDGD GH LPSHUPHDELOL]DomR

7DFRV TXDGUDGRV [ FP Figura 136: Perspectiva da estrutura em madeira. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

%DUURWHV QD GLDJRQDO [ FP 9LJDV FREHUWXUD QD GLDJRQDO [ FP

)LJXUD 3HUVSHFWLYD GD HVWUXWXUD HP PDGHLUD )RQWH $XWRULD SUySULD

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

3.2.5 Casa Antônio Cruz | 1976 Projeto: José Zanine Caldas Data Projeto: 1976 Localização: R. José Panceti, 290 - Joá, Rio de Janeiro - RJ, 22611-110 Visita in loco realizada pela autora: 20/10/2020 Figura 137: Implantação esquemática (sem escala). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Figura 138: Fachada noroeste Casa Antonio Cruz (1976). .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

161

A Casa A ntonio Cruz (1976) localiza-se na Rua 2W[u 8IVKM\\Q V UMZW ! VW *IQZZW LW 2Wn -[[I Z]I KWV[\Q\]Q a continação da Rua Escada Flora May, logradouro que abriga as

A estrutura da varanda da sala de estar em madeira e aço é também visível na fachada sudoeste: muitas das residências elaboradas por Zanine possuem estrutura mista, intercalando alvenaria de pedra,

+I[I[ 4MQ\M *IZJW[I ! M ?TI[MS ! 6rW NWQ XW[[y^MT ZMITQbIZ W[ desenhos técnicos da residência, pois a medição da mesma não ocorreu e não haviam desenhos do projeto preservado. Porém, foi feita uma

corpo principal em madeira e elementos de apoio em metal. Essa varanda voltada para a fachada sudoeste possui aproximadamente 1,5m LM TIZO]ZI M \MU []I M[\Z]\]ZI IXWQILI MU ^QOI[ LM KU XWZ KU

^Q[Q\I VW LQI M NWQ XW[[y^MT NW\WOZINIZ LQ^MZ[W[ MTMUMV\W[ construtivos em madeira da casa. A residência constitui um importante elemento para a análise de detalhes construtivos e técnicas tradicionais empregadas.

Adentrando a residência, observam-se os pilares em madeira apoiados VI ZWKPI UMLQVLW KU ` KU IXZW`QUILIUMV\M )[ ^QOI[ LM sustentação do corpo principal da casa também são aparentes e apoiam a alvenaria revestida de cal que compartimenta as suítes. Ao contrário das outras residências projetadas por José Zanine Caldas no Bairro do

) KI[I M[\n QUXTIV\ILI VI KW\I ! IKQUI LW Vy^MT LW UIZ e possui sua fachada principal voltada para o sudeste. Ao contrário

Joá, a Casa Antonio Cruz (1976) não possui entrada direta à área social

LI[ +I[I[ 4MQ\M *IZJW[I ! M ?TI[MS ! I KI[I +I[I )V\WVQW Cruz (1976) não tem sua fachada sudeste completamente voltada à vista

da casa, pois o portão da garagem é deslocado à esquerda com relação à fachada. O acesso à sala de estar localiza-se na fachada sudoeste.

do mar da Joatinga, pois o lote ocupa o interior do morro. Sendo assim, a casa vence o desnível do terreno na direção noroeste (Figura 139).

6I NIKPILI []LM[\M .QO]ZI Rn u VW\n^MT ]UI LI[ XZQVKQXIQ[ características da residência: o reaproveitamento de elementos de demolição. As peças de reuso ganham particular expressividade nesta casa, e suas procedências demonstram o afinco de José Zanine Caldas em buscar a diferenciação dos projetos a partir desses componentes únicos. O portão da entrada pertencia a uma igreja inundada por uma barragem na Bahia. Na entrada da casa, pode-se ver como a mesma se apropria do terreno: a estrutura inferior da residência apoia-se diretamente na rocha da Joatinga.

O piso de ardósia trazido de uma antiga fazenda no Piauí - e escolhido e adquirido pelos proprietários da casa em um depósito de materiais de demolição mantido por Zanine na própria Joatinga é visível no acesso à [ITI LM RIV\IZ Y]M ÅKI MTM^ILI KWU ZMTItrW o ZIUXI LI OIZIOMU ) [ITI de jantar possui mobiliários elaborados por Zanine e os proprietários da casa em conjunto.

162

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

Figura 139: Fachada noroeste da Casa Antônio Cruz. .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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163

.QO]ZI " .IKPILI []LM[\M LI +I[I )V\ VQW +Z]b ! .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

164

Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

Em um patamar acima da sala de jantar encontra-se a sala de estar, (Figuras 141, 142 e 143) com dois ambientes distintos. Ambos os IUJQMV\M[ XW[[]MU UW^MQ[ XZWRM\ILW[ XWZ BIVQVM j XW[[y^MT WJ[MZ^IZ a cobertura (144) da residência que se estende sobre a sala de estar.

Ela possui o mesmo detalhe de tacos presente na Casa Wlasek (1974), porém as vigas de cobertura não estão dispostas na diagonal. As vigas têm dimensões de 15cm por 5cm aproximadamente e estão dispostas a cada dois tacos.

A sala de estar dá acesso à um conjunto de quartos, porém apenas no patamar seguinte pode-se adentrar às demais suítes. O patamar acima da sala de estar é alcançado por uma escada de estrutura de madeira, com 8 degraus. Essa segunda sala de estar leva à piscina em vidro no exterior da casa.

A piscina se dispõe em um deck também em madeira, com vista para o morro da Joatinga. A cozinha e demais áreas de serviço voltam-se à fachada noroeste. As vedações da residência são pintadas em azul claro, KWUW I[ ^MLIt M[ LI ZM[QLwVKQI 2]TQW 4WPUIV !

Nas Figuras 145-147, apresentam-se mapas da Casa Antônio Cruz (1976), já que não foi possível realizar os desenhos técnicos.

Figura 141 e 142: Sala de estar, residência Antônio +Z]b .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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Figura 143: Interior da sala de estar da Casa Antônio +Z]b .WV\M" )]\WZQI XZ~XZQI

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Capítulo 03 | Casas no Rio de Janeiro

Figura 144: Cobertura acima da sala de estar. Fonte: )]\WZQI XZ~XZQI

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DFHVVR DDF FFHHHVVVVVVR R ODJRD GD WLMXFD ODDJJJR OD RDDD R D G GDD G D WWWL WLMLMLMX MX XFFD X FD

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

171

¯©À ¼r · ÀŐë©r À

O reduzido interesse pela madeira como matéria-prima estrutural na arquitetura moderna brasileira pode ser explicado pela associação desse material à rusticidade e à feitura artesanal. O uso da madeira em XZWRM\W[ LM IZY]Q\M\]ZI UWLMZVW[ I\u I LuKILI LM ! MZI I[[WKQILW diretamente à aplicação de fôrmas para o concreto armado. Porém, a XIZ\QZ LI LuKILI LM ! u XW[[y^MT LM[\IKIZ IZY]Q\M\W[ M KWV[\Z]\WZM[ que retomavam materiais e técnicas construtivas tradicionais, aproveitando-se de condições locais, como terreno, materialidade e mãoLM WJZI 2W[u BIVQVM +ITLI[ u ]U LW[ XZWÅ[[QWVIQ[ XWQ[ []I XZn\QKI projetual era fundamentada na tradição regional.

Toda a produção de José Zanine Caldas foi pautada por técnicas vernaculares e o aprendizado na prática: autores como Richard Sennet 2WZOM 4IZZW[I *WVLyI M 5IZQI +MKyTQI 4W[KPQI^W LW[ Santos (1993) apoiam a importância do saber-fazer como método de projeto na obra de José Zanine Caldas. O arquiteto autodidata não é LMÅVQLW XWZ []I I\Q^QLILM UI[ XMTI IJMZ\]ZI XIZI [MZ \ZIV[NWZUILW pela experiência.

Por conta do convívio com as árvores nativas da região da Mata Atlântica em sua cidade natal Belmonte (BA), José Zanine Caldas estabelece uma relação com a natureza, particularmente com a madeira,

LM[LM U]Q\W RW^MU -[[M KWV\I\W KWU W NMQ\QW UIV]IT ZMÆM\M [M VI MTIboração de maquetes no “Maquete Estúdio”, no design de mobiliáZQW XIZI I ¹.nJZQKI LM 5~^MQ[ B BIVQVM 8WV\M[ +QI 4<,)º M VI docência na Universidade de São Paulo e na Universidade de Brasília.

Contudo, a apropriação da madeira como estrutura na produção de José Zanine Caldas tem seu início nas residências que o arquiteto projetou e construiu no Bairro do Joá, no Rio de Janeiro. No início dos anos ! BIVQVM LM[\IKI [M KWUW XQWVMQZW VW XZWKM[[W LM WK]XItrW LW Joá: apesar de o bairro ser de difícil acesso, compensava a paisagem privilegiada e a integração com a natureza.

Uma das primeiras residências construídas por Zanine no Bairro LW 2Wn NWQ I +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! ) KI[I XWLM [MZ KTI[[QÅKILI como o início dos ensaios de Zanine com a apropriação dos terrenos íngremes da Pedra da Joatinga, pois a construção é dividida em uma série de blocos que ocupam a declividade de uma forma descasada. A XZM[MVtI LI M[\Z]\]ZI LM UILMQZI IQVLI u \yUQLI VI +I[I 4MQ\M *IZJW[I ! " W UI\MZQIT u MUXZMOILW VI KWJMZ\]ZI LI MLQÅKItrW VW XQ[W M na sustentação da varanda externa. )[ ZM[QLwVKQI[ KWV[\Z]yLI[ VW QVyKQW LI LuKILI LM ! VW *IQZZW LW Joá demonstram o amadurecimento do uso da madeira como estrutura e do aproveitamento das inclinações dos diversos terrenos da região.

7 XZQUMQZW M`MUXTW u I +I[I .ZIVb *WZMZ ! MLQÅKItrW WVLM u XW[[y^MT ^MZQÅKIZ Y]M I[ M[\Z]\]ZI[ LM UILMQZI XZWXQKQIZIU W LM[MV^WTvimento dos vários níveis e a constituição de espaços variados. A Casa 2 TQW 4WPUIV ! \IUJuU M`MUXTQÅKI W ][W LI UWL]TItrW KWUW

172

artifício para o projeto com estrutura em madeira, porém no caso dessa residência, a geometria é rompida com o uso de diagonais.

O ápice da produção de Zanine no Bairro do Joá utilizando madei-

é aplicado: as casas manifestam referências de espacialidade e elementos da arquitetura moderna, expressas por meio de técnicas construtivas ^MZVIK]TIZM[ MU ]UI [QOVQÅKI\Q^I UIVQNM[\ItrW TWKIT \]LW ITQVPI^ILW

ZI KWUW M[\Z]\]ZI XWLM [MZ M`MUXTQÅKILW XMTI +I[I ?TI[MS ! ) ZM[QLwVKQI Y]M WK]XI ]U \MZZMVW LM UM\ZW[ Y]ILZILW[ ^MVKM UM\ZW[ LM LM[Vy^MT M MUXZMOI XQTIZM[ QV\MQZQtW[ LM KU ` KU LM

pelo saber-fazer do arquiteto.

seção para vencer a declividade. Apesar de possuir estrutura mista (com elementos em alvenaria e pedra), a casa tem todos os seus terraços em deck de madeira, com vigas principais e secundárias apoiando-se nos pilares descritos acima. Sua cobertura também emprega a madeira como estrutura e vedação: as vigas de seção losango apoiam tacos quadrados de madeira maciça. As vedações da casa também são em madeira: janelas guilhotina, painéis com ventilação horizontal e portas de madeira de demolição fazem parte do conjunto de fechamento da residência. Do mesmo modo, a Casa Antônio Cruz (1976) tem a madeira como elemento estrutural principal e utiliza-se de diversos elementos semelhantes à Casa Wlasek (1976), como forro em tacos e terraços ane`W[ IW ^WT]UM XZQVKQXIT LI MLQÅKItrW Mediante o trabalho apresentado, pode-se concluir que o redesenho arquitetônico é essencial não apenas como método de análise, mas \IUJuU KWUW ]U KILI[\ZW LI MLQÅKItrW [MVLW ]UI LWK]UMV\ItrW resultante de um processo que revela a concepção da residência, os conhecimentos construtivos vernaculares e as referências modernas nas decisões projetuais tomadas pelo arquiteto. O redesenho das casas no *IQZZW LW 2Wn QT][\ZI KWUW W [IJMZ NIbMZ LW IZ\yÅKM 2W[u BIVQVM +ITLI[

173

Referências

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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,

5-47 )TM`IVLZM 8MVMLW *IZJW[I LM Moveis artísticos B ! ! " o moderno autodidata e seus ressortes sinuosos.

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Dissertação de mestrado, departamento de Arquitetura e Urbanismo

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176

Anexos

Anexo A: Linha do Tempo | Vida de Zanine Caldas e as residências no Bairro do Joá

1919

1941

1950

1950-52

José Zanine

Cria a “Maquete

Inicia a “Fábrica

É convidado

Caldas Nasce em Belmonte, BA.

Studio”, no Rio de Janeiro.

de Móveis Z”.

pelo arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Alcides Rocha Miranda, a criar o ateliê de maquetes da escola.

177

1962

1963

1968

1968

Convidado mais

Primeira

Projeto da Casa

Muda-se para

uma vez por Alcides da Rocha Miranda e por

residência de José Zanine Caldas Nasce em Brasília,

Leite Barbosa, no Bairro do Joá, Rio de Janeiro, RJ.

Nova Viçosa, onde cria uma fábrica de estruturas

Darcy Ribeiro a criar o Laboratório de Maquetes da Universidade de

DF.

Brasília e para ministrar aulas, até o golpe militar de 1964.

pré-elaboradas, enviadas diretamente para os projetos no Rio de Janeiro.

178

1974

1974

1975

1976

Projeto da Casa

Projeto da Casa

Projeto da Casa

Projeto da Casa

Franz Borer, no Bairro do Joá, Rio de Janeiro, RJ.

Wlasek, no Bairro do Joá, Rio de Janeiro, RJ.

Julio Lohman, no Bairro do Joá, Rio de Janeiro, RJ.

Antonio Cruz, no Bairro do Joá, Rio de Janeiro, RJ.

179

1985

1988-1993

1992

2001

Cria a Escola

Leciona cursos na

Recebe, durante

Falece em Vitória,

do Fazer na cidade satélite de r© r© ¯£u© rīŐ

França e Suíça.

o XIII Congresso Brasileiro de Arquitetos, das

ES.

DF, com o objetivo de pesquisar e ensinar técnicas de construção de

mãos de Lucio Costa, o diploma de Arquiteto Honorário do

baixo custo para a população do local.

Instituto dos Arquitetos do Brasil.