TGI 1 2014 - Núcleos: edifício de dentro pra fora

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PAULA RAMOS PACHECO trabalho de graduação integrado IAU - USP | junho de 2014


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08 PARTIDA 10 UNIVERSO 24 AÇÕES 30 PROGRAMA 32 INSERÇÃO 38 NÚCLEOS 50 INSERÇÃO + NÚCLEOS 66 REFERÊNCIAS



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partida

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Apesar do fato de hoje arquitetura e design terem campos de formação dissociados e serem exercidos como áreas distintas, é perceptível a existência de situações de aproximação entre as duas disciplinas, visto que conformam ações de projeto de naturezas semelhantes: em ambos os casos, há a criação de objetos (arquitetônicos ou objetos em escalas menores) fortemente baseados e relacionados à forma, à função exercida, a aspectos produtivos e ao fato de haver um sujeito para fazer uso de tais aspectos. Apesar disso, são disciplinas tratadas de forma separada, por diferentes profissionais e com formações segregadas. O design é o meio fundamental de questionamento pelo qual o homem realiza suas ideias de morar ou estabelecer-se, sendo que aqui o termo “design” abrange uma concepção ampla, podendo ser entendido como o que cria desde uma peça de mobiliário até um edifício (COSTA, 2002, p.43). Colocado isso, nota-se certo grau de aproximação razoavelmente bem definido entre as disciplinas, visto que ambas se referem à característica do sujeito fazer uso de intermediadores (o edifício e os objetos) para seu estabelecimento ou execução de atividades cotidianas.

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TGI 1 014 Entende-se que o ato de ocupar um espaço está relacionado não somente à arquitetura propriamente dita, mas também a elementos que intermediam essa ocupação, ou seja, aos objetos presentes em determinado espaço construído. Pensa-se ser possível unir o projeto de arquitetura e o de objetos, de forma a responder a uma tentativa de conformar um espaço por inteiro. Assim, a intenção desse trabalho está no sentido de trabalhar um terceiro campo, interdisciplinar, buscando os elementos comuns entre essas duas áreas com objetivo de, com tal pensamento ampliado, conferir ao projeto certa unidade que se supõe não ser possível atingir quando se trabalha apenas a arquitetura em separado. Para Marlene Millan Acayaba (1994), é impossível separar a arquitetura de seu interior, sendo que o desenho dos objetos presentes nela e a organização dos ambientes podem ser considerados extensões desse tema.

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universo Entretanto, entende-se que trabalhar esse terceiro campo e buscar essa aproximação não se refere apenas a projetar as duas coisas, mas tentar compreender as semelhanças e diferenças entre os processos de projeto, como eles se completam, interagem, e quais graus de contaminação se permitem; como um interfere no outro e como tal relação pode enriquecer o resultado final de forma mútua. A tais pontos, soma-se ainda a preocupação de que a arquitetura e, principalmente o design, no tempo presente, se apresentam por vezes como objetos de luxo e fetiche, até mesmo pelo elevado custo que atingem e fascinação que exercem. De acordo com Costa (2002), a influência publicitária e a presença do marketing a partir da década de ‘40 marca definitivamente o design, pois se delineia o consumo da imagem separadamente do conteúdo propriamente dito, dando origem a um processo de aquisição de bens segundo uma necessidade equivocada. A excessiva exposição à imagem dá origem a “objetos ocos”, que não serão apropriados nem experimentados, frutos do culto à imagem desvinculada de valor de uso.

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TGI 1 014 Quando se coloca como questão principal trabalhar dois campos distintos em conjunto, nota-se uma rápida aproximação com o termo “interdisciplinaridade”. A chamada interdisciplinaridade, para Olga Pombo (2005), é algo que não se sabe como se faz ou até mesmo o que é. Coloca ela então o que chama de proposta provisória, que é o fato de que existem outras palavras semelhantes, de mesma raiz, porém com prefixos variáveis. São elas, por exemplo, pluridisciplinaridade, multidisciplinaridade, a própria interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Todas elas evidenciam a tentativa de “romper o caráter estanque” das disciplinas, colocá-las para interagir a graus variáveis: juntar, articular, ir além. Pombo (2005) as entende como uma sequência, ou ainda, uma gradação: as disciplinas primeiramente se tocam (mas não interagem); depois interagem entre si, se comunicando, se confrontando e discutindo; e posteriormente se fundem, ultrapassando barreiras e originando algo novo que transcende ambas. Partindo da consideração de que design e arquitetura configuram disciplinas distintas, porém que permitem aproximação, as relações que ambos estabelecem entre si podem seguir a sequência de envolvimento entre disciplinas definida por Pombo. Entretanto, não necessariamente entende-se aqui tal gradação como um sinônimo de evolução em termos de qualidade, mas de pontos estacionários distintos, cada qual com características próprias e que alteram a relação entre sujeito espaço cada um a sua maneira.

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TGI 1 014 Para ilustrar o conceito dessa sequência aplicada às disciplinas em questão, foram abordados inicialmente três projetos de referência: a Maison Louis Carré, em Bazoches-sur-Guyonne na França, com construção datada de 1956 a 1959, de Alvar Aalto; a residência Millan, em São Paulo, de Marcos Acayaba em 1972; e a RotorHaus, de Luigi Colani, em 2004. O envolvimento entre o espaço e os objetos aparece sob graus variáveis que, segundo a gradação estabelecida por Olga Pombo, são três, de forma que foi conveniente a escolha de três projetos. Porém, entende-se que tais graus podem se misturar dentro de um mesmo projeto ou mesmo contaminar um ao outro, de forma que estas relações, no ato de projetar, não são necessariamente estanques. Percebe-se que, em se tratando diretamente da arquitetura, o tipo de objeto presente é, necessariamente e em sua maioria, o elemento mobiliário. O mobiliário, para Baudrillard (1973), é imagem fiel das estruturas familiares e social de uma época, sendo, por exemplo, o interior burguês típico de ordem patriarcal, exalando tradição e autoridade. Conforme mudam as relações dos indivíduos na família e na sociedade, muda o estilo dos objetos mobiliários e sua organização (BAUDRILLARD, 1973, p. 23). No moderno, entre indivíduos e objetos mais flexíveis, a relação é mais liberal: “[...] o habitante moderno não consome seus objetos, ele os domina, os controla, os ordena.” (BAUDRILLARD, 1973, p.33). A leitura dos projetos foi responsável por originar diagramas gráficos de linguagem semelhante, onde predominam formas e linhas: cheias ou pontilhadas, pretas ou cinzas, retas ou curvas, a espessuras diferentes. Os diagramas ilustram características importantes e pontos relevantes de cada obra, facilitando sua visualização e estabelecendo pontos de interesse que norteiam análises posteriores.

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Na primeira obra, Aalto projeta a residência e também seu mobiliário, além de dotar elementos como corrimãos, luminárias, pilares e maçanetas de características particulares e únicas, sendo esses objetos criados exclusivamente para aquele espaço, e pertencentes apenas àquele espaço. Os objetos estão soltos no espaço, e sua relação com ele é modificada quando o sujeito modifica, por exemplo, sua localização. Toda a construção se organiza em torno de um hall que atua como sala de exposição de obras de arte, sob um teto característico de forma livre e sobre um terreno dividido em dois níveis, gerando um corte de forma peculiar e também única. No exterior, patamares conversam com a massa do terreno e desenham o declive até a área da piscina. Aqui, os objetos habitam a arquitetura.

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No segundo, Acayaba estrutura a construção longitudinalmente com uma linha reta, que é corredor ladeado por um elemento linear que, ora é banco, ora é pia ou bancada, atravessando toda residência, de exterior a exterior. Paralelamente, no nível inferior, se encontra outro elemento, ao mesmo tempo sofá, lareira e estante de concreto. Ambos os elementos são fixos, portanto vinculados ao espaço de forma permanente e razoavelmente inflexível. Importante notar que, ainda que sua posição seja fixa e sua função seja sugerida, nada impede, por exemplo, que o sujeito mude a maneira de usar tais elementos se desejar, podendo utilizar um banco como prateleira ou fazer outras modificações no decorrer do uso de tais objetos. Os objetos habitam e estão incrustados na arquitetura.

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No último projeto, uma área quadrada de 25m² é toda a residência e muda de função de acordo com um único elemento giratório composto de três seções que se expandem ao espaço vazio: quarto de dormir, cozinha e banheiro. O espaço livre ganha características distintas de acordo com qual seção do elemento está aparente no momento e, portanto, ativa. O sujeito tem razoável controle sobre o espaço que habita: o espaço e o objeto estão dados e são fixos, mas podem ser considerados flexíveis no sentido de que comportam algum grau de intervenção do sujeito, além de serem responsáveis pela mudança de toda uma configuração, ainda que prevista. Os objetos habitam, estão incrustados e suas variações contaminam a arquitetura.

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TGI 1 014 Flávia Nacif da Costa (2004) coloca que o objeto é elemento mediador entre o sujeito e o espaço, agindo como supridor de suposta dificuldade de envolvimento do usuário com o lugar. Afirma ainda que manipular a função do objeto ou modificar a maneira de inseri-lo num lugar pode mudar as relações que serão estabelecidas entre o usuário e determinado espaço. É notável a quantidade de arquitetos que, além de projetar edifícios, ocupamse também com o planejamento de objetos para “povoá-los”. De acordo com Jean Baudrillard (1973), os seres e os objetos se encontram ligados em tamanha profundidade que é gerado certo valor afetivo entre eles, por vezes até mesmo chamado de a “presença” do objeto. Isto posto, a pergunta que se busca responder nesse trabalho é: como fazer arquitetura usando o objeto como elemento mediador da relação entre sujeito e espaço?

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como fazer arquitetura usando o objeto como elemento mediador da relação entre sujeito e espaço? 23

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Ao final da disciplina de Pré TGI, concluída em 2013, foi entregue um objeto síntese das questões que até então almejavam serem tratadas no processo de TGI durante o ano seguinte. Tal objeto ilustrava de forma simplificada as relações de trocas mútuas que poderiam ser estabelecidas entre arquitetura e design, se tratando de dois elementos representativos de cada disciplina, de mesmo peso e que se envolviam ao mesmo tempo e de maneira semelhante.


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ações

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TGI 1 014 Baseando-se na questão direcionadora estabelecida no início do processo do TGI, “Como fazer arquitetura usando o objeto como elemento mediador da relação sujeito-espaço?”, percebese que esse produto do Pré TGI não configura mais um representante adequado a tal questão, visto que agora estão colocados três elementos - o sujeito, o objeto e o espaço arquitetônico - enquanto anteriormente estavam presentes apenas dois - o objeto e o espaço. Foram identificadas relações entre esses três elementos e desenvolvido um esquema ilustrativo de tais, denominadas A, B e C. Em A está representada a relação que o ocorre entre sujeito e objeto, que ocorrem no espaço e contribuem para sua apropriação. Em B, vê-se que o objeto é elemento mediador da relação entre o sujeito e o espaço. Em C, estão as relações entre objeto e espaço, que podem ocorrer a graus variáveis de aproximação. Visto que o arquiteto não tem controle sobre o sujeito que irá ocupar sua obra construída, aqui se vê que as relações sobre as quais o arquiteto tem capacidade de maior grau de definição são as ocorridas em C, estritamente físicas, formais e funcionais, entre o espaço arquitetônico conformado por ele e os objetos que estão presentes em tal espaço. As relações A e B irão depender do sujeito que ocupa o espaço e, portanto, são variáveis.

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OBJETO [MOBILIÁRIO] COMO ELEMENTO MEDIADOR DA RELAÇÃO USUÁRIO E ESPAÇO CONSTRUÍDO

ESPAÇO DE HABITAÇÃO TEMPORÁRIA E COLETIVA, LIVRE DE ASPECTOS DE MERCADO

O MOBILIÁRIO SURGE JUNTO [OU ANTES] DA ARQUITETURA

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programa

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habitação estudantil NÚCLEOS EM VARIADOS GRAUS DE SOCIABILIDADES

DO PRIVADO AO COMUM [COLETIVO/PÚBLICO]

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U f s ca r

av. são carlos

campus I u s p

r wa o sh d in o to v n i lu a is

á r e a o b j e to

av. G etúli o

varga s

TRAZER MORADIA PARA O CENTRO | INTEGRAR COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA COM COMUNIDADE LOCAL | FACILIDADE DE ACESSO A TRANSPORTE E SERVIÇOS

i n s e r ç ão

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av. são carlos

ee dr. á lva r o g u i ão

praça coronel salles

q ua d r a o b j e to

catedral de são c a r lo s

mercado municipal praça do mercado

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q ua d r a o b j e to

O ESPAÇO LIVRE DE EDIFICAÇÕES ATRAVESSA A QUADRA NO SENTIDO NORTE SUL

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núcleos

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núcleo que comporta até quatro pessoas em ambiente de recolhimento, é mobiliário. abriga as atividades de dormir, armazenar e trabalhar/ estudar. possibilidade de divisão do ambiente em dois, permitindo que as atividades de dormir e trabalhar/estudar se desenvolvam separadamente. amparado ainda por uma unidade de área úmida.


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atende a dois núcleos tipo 1 e, portanto, a até oito pessoas. abriga as atividades de armazenar, cozinhar e comer. eixo úmido.


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atende a dois núcleos tipo 2, a quatro núcleos tipo 1 e, portanto, a até 16 pessoas. abriga a circulação vertical do edifício e atividades de estar e lazer dos moradores.


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Inserção + núcleos

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O EDIFÍCIO ATRAVESSA A QUADRA NO SENTIDO NORTE SUL

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rua são joaquim

circulações

rua dona alexandrina

rua sete de setembro

rua major josé inácio

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t é r r e o

coletivo e público. abriga atividades e serviços para moradores e demais habitantes da cidade. acesso para áreas reservadas do edifício.

PA S S A G E M conexão entre ruas pelo meio da quadra

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núcleo 1

núcleo 3 circulação vertical e estares. 16 pessoas

mobiliário + espaço de circulação em torno. 4 pessoas

núcleo 2 cozinha. 8 pessoas

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núcleo 1 núcleo 2 núcleo 3

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R E F E R Ê N C I A S

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ACAYABA, Marlene Milan. Branco e Preto: uma história de design brasileiro nos anos 50. Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 1994. BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. São Paulo, Perspectiva, 1973. COSTA, Flávia Nacif. O design como reativador da experiência. Dissertação de Mestrado. Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2002. POMBO, Olga. Interdisciplinaridade e a integração dos saberes. In: Liinc em Revista, v.1, n.1, março 2005, p. 3-15.

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