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SOBREPOSIÇÕES | PROCURA ENTRE A MEMÓRIA E O ESQUECIMENTO

PARQUE MUNICIPAL E PAVILHÃO DE TÉNIS DA QUINTA DA CONCEIÇÃO

Fernando Távora

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SOBREPOSIÇÕES | PROCURA ENTRE A MEMÓRIA E O ESQUECIMENTO

PARQUE MUNICIPAL E PAVILHÃO DE TÉNIS DA QUINTA DA CONCEIÇÃO

Turma 4 FAUP | 2020/2021 Maria Francisca Oliveira Ricardo Ferreira Pedro Oliveira Rúben Pinheiro Patrícia Reis

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Fig.1 Fernando Távora, Estudo para um fogão de sala. Porto, 1984.

HISTÓRIA DA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA

Prof. Joaquim Moreno

4

SUMÁRIO

Abstract

6

Introdução

9

(Quinta Da Conceição)

Pavilhão De Ténis

12

Inquérito à Arquitetura Popular em Portugal

23

O Problema Da Casa Portuguesa

Contexto Nacional

30

Contexto Internacional

33

Obras e Projetos (Diário de “Bordo”)

44

Bibliografia

50

5

ABSTRACT

Não é difícil perceber as vantagens quando a investigação decorre enquanto trabalho de grupo, sobre um determinado objeto de estudo. Da mesma forma, seria pouco plausível limitar a essência do estudo à própria obra, sem qualquer tentativa de contextualização, de abordagem mediante os panoramas culturais, sociais e arquitetónicos da época, a nível nacional e internacional.

Pretende-se compreender o impacto da envolvente histórico-político-social e compreender as preocupações e objetivos correspondentes à obra.

Neste processo, além de ter em conta o fator social, importa também perceber a envolvente e vizinhança no local de implantação.

A estrutura do trabalho implica uma análise e perceção com recurso à sobreposição, através de estudos mais particulares das influências, contextualizações, contactos e vivencias.

A Quinta da Conceição, de Fernando Távora, é mais do que o simples objeto de estudo. É o mediador e o objetivo, uma vez que permite o estudo de várias obras, sejam elas teóricas ou práticas, “ver a arquitetura” para além da arquitetura, através de múltiplas referências, a fim de conseguirmos uma compreensão mais rigorosa e interessante do projeto de Fernando Távora.

6

"O verdadeiro sábio é aquele que assim se dispõe que os acontecimentos exteriores o alterem minimamente.

Para isso precisa couraçar-se cercando-se de realidades mais próximas de si do que os factos, e através das quais os factos, alterados para de acordo com elas, lhe chegam."

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

7

Fig.2 Portal de Entrada, Fotografia Parque Municipal e Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

8

INTRODUÇÃO

Localizada em Matosinhos, junto ao nó viário da IC1, e relativamente próximo do porto de Leixões, a Quinta da Conceição, a sua geografia e topografia, cumprem um papel considerável -“Planícies, colinas, montanhas intervêm igualmente para modelar uma sensibilidade e determinar uma mentalidade.” Através deste projeto, Távora propõe “um modo de ver e uma razão de viver”, de encarar os diferentes momentos da cidade, a criação de um espaço de “recreio e diversões”, que concilia dois dos princípios contraditórios que regem a personalidade humana: o individual e o coletivo.

Os terrenos das Quintas da Conceição e de Santiago pertenciam à Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL), instituição a quem competiu executar as obras de aumento do porto comercial de Leixões.1 1

DE OLIVEIRA, Fernando Pinto, 1955, Comissão Municipal de Turismo, “Fernando Pinto de Oliveira… um homem além do seu tempo”, Matosinhos, QuidNovi e CMM, 2011, p.142. É importante salientar a importância da criação deste espaço, de espaços verdes, pois “O individuo que perde o contacto com a natureza, diminui-se por isso e paga caro, pela doença e a decadência, uma rutura que debilita o seu corpo e arruína a sua sensibilidade corrompida pelos prazeres ilusórios da cidade.” (Carta de Atenas) Com isto, “utilizar as superfícies verdes existentes, criá-las se elas não existem, ou reconstituílas se tiverem sido destruídas.”

(Carta de Atenas)

O arrendamento do terreno da Quinta da Conceição teria de se desenvolver rapidamente, pois as vias circundantes do porto, construídas posteriormente, poderiam interferir com a integridade do projeto. É de notar a significativa importância do sistema administrativo, na forma como este determina, no conjunto da região, modalidades de ação singulares.

Assim, “não há quadro administrativo que possa ambicionar ser imutável”. A 6 de janeiro de 1956, Fernando Távora recebeu, através de uma sugestão de Fernando de Oliveira, a proposta de encarregado para o projeto da Quinta da Conceição.

Távora não ficou indiferente à envolvente do terreno, nem ao contexto - “Quando comecei o Projeto do

9

Parque, dei-me conta de que o plano de acessos do Porto de Leixões o afetava. A zona do claustro era cortada e o nó viário tinha um conflito frontal que era desastroso. Decidi levar ao Diretor-geral do Porto uma solução para o traçado dos acessos e resolver o problema do nó que havia detectado. Ele ficou encantado.”2 Redefiniu uma rede de percursos, e criou outros, cujas influências predominantes estão entre os jardins japoneses e a relação com o contexto e a memória (seguindo a promenade architecturale3). O percurso principal caracteriza-se por, desta vez, ter também a influência dos templos japoneses, para além do palácio de Katsura.

Além dos nós viários, o rio que lhe avizinha, o Rio Leça, era igualmente um elemento complexo. “Existiam a avenida, a capela, o claustro, os tanques e, portanto, havia já elementos que garantiam uma estrutura a manter.”4 Um projeto que não é normal, no sentido em que sacia o desejo natural de vida social, que de uma forma direta ou indireta colabora para a asseguração da vida física e desenvolve a vida espiritual, porque “se os empreendimentos do grupo forem prudentes, a vida do individuo desdobra-se e enobrece-se.”5 2

TRIGUEIROS, Luíz. 1993.

FERNANDO TÁVORA. Editorial Blau, LDA. Av. Marquês de Tomar. LisboaPortugal. pág. 66 3

Conceito desenvolvido por Le Corbusier que se refere ao itinerário implícito de um ambiente construído.

CORBUSIER, L., Conversa com estudantes de arquitetura. p. 51 4

TRIGUEIROS, Luíz. 1993.

FERNANDO TÁVORA. Editorial Blau, LDA. Av. Marquês de Tomar. LisboaPortugal. pág. 66 5

SA. 1948. A CARTA DE ATENAS.ARQUITECTURA, Revista de Arte e Construção, Ano XX, Nº20, 2ª série, janeiro, pág. 23

Fig.3 Planta Geral de Ordenamento das Quintas da Conceição e de Santiago

10

Fig.4 Fotografia Parque Municipal e Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021. Confronto entre o Pavilhão de Ténis e o porto comercial de Leixões.

11

“O caos entrou nas cidades”6, a máquina alterou as condições de trabalho e da vida, um pouco por todo o mundo. O Campo de Ténis da Quinta da Conceição, em última estância, é um manifesto à precariedade das cidades, uma procura de espaços verdes e de lazer, uma “reserva constituída do passado”, um espaço sobrevivente aos desenvolvimentos industriais que rodeavam toda a Quinta.

6

CORBUSIER, Le, 1993, A CARTA DE ATENAS, ponto 8 (O Advento Da Era Da Máquina Provocou Imensas Perturbações No Comportamento Dos Homens; Na Sua Distribuição Sobre A Terra, Nos Seus Empreendimentos, Movimento Desenfreado De Concentração De Cidades A Favor Das Velocidades Mecânicas, Evolução Brutal E Universal Sem Precedentes Na História. O Caos Entrou Nas Cidades.)

7

Sobre o “Projeto-deArquitetura” de Fernando Távora”, p. 110

O Pavilhão de Ténis alcança uma condição paradigmática, com capacidade de organizar o espaço, gerar eixos visuais e estruturar itinerários. Implantado no limite noroeste da Quinta da Conceição, à cota mais elevada e orientado a sudeste, o Pavilhão permite a articulação de duas cotas. Apresenta-se neoplástico, composto à base de diferentes planos que se intersetam, sobre o muro de granito, que oferece uma estética brutalista, tanto nos materiais vernáculos, como no acabamento do betão armado, granito, cerâmica, betão à vista, aço, madeira e telha - uma elegante composição.7 As paredes, lâminas de betão pintado de branco, contrastam com os pilares de granito e com a viga em betão descofrado, pela cor e textura. A madeira da cobertura distingue-se do pavimento em cerâmica e mármore, pela frieza. A articulação do betão descofrado com o mármore no parapeito, e o corrimão em madeira, revelam novamente uma articulação complexa de vários materiais. Os materiais não se intercetam, encontramse e desencontram-se - ideia visível sobretudo na cobertura. A inclinação das águas está relacionada com as coberturas de telha portuguesas, apoiadas nos pilares de granito. Contudo, as mesmas não se tocam devido aos apoios em aço embutido.

“O mais curioso é que a tribuna do pavilhão não funciona porque é desconfortável e a visibilidade sobre os campos é má; tal facto não me preocupa grandemente porque se trata de mais um caso, entre tantos, em que o elogio máximo que pode fazer-se-lhe é de que não serve para nada, exceto, naturalmente, as suas instalações situadas em baixo.”8 Independentemente 12

8

Távora, Fernando.

“Pavilhão de Ténis. Quinta da Conceição, 1956-1960”, Fernando Távora (ed.: L. Trigueiros). Lisboa: Editorial Blau, 1993, p. 74 9

Távora, Fernando, Memória descritiva e justificativa.

Projeto pavilhão de ténis e respetivo muro de suporto”, novembro 1957.

da função, o Pavilhão cumpre “o programa estabelecido, (...) constituído por dois pisos, tendo o primeiro, ao nível dos campos de ténis, as instalações sanitárias para ambos os sexos e um quarto, e no segundo um amplo espaço aberto, mas coberto, que permite uma boa visibilidade dos campos.”9 A suposta inutilidade do pavilhão está relacionada com o funcional, unicamente eram necessários balneários, e um pequeno espaço para controle e armazenamento de material. Contudo, estes elementos não permitiriam a criação de algo estruturante no lugar.

Fig.5 Balneários Parque Municipal e Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

13

Fig.6 Balneários Parque Municipal e Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

Fig.7 Balneários Parque Municipal e Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

14

Fig.8 Desenhos do Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição.

15

Fig.9 Pormenor Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

Fig.10 Pormenor Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

16

Fig.11 Pormenor Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

Fig.12 Pormenor Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

17

Fig.13 Pormenor Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

Fig.14 Pormenor Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

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Fig.15 Pormenor Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

Fig.16 Pormenor Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

19

Fig.17 Pormenor Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

Fig.18 Pormenor Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

20

Fig.19 Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

21

Fig.20 Pormenor Campo De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

Fig.21 Pormenor Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

22

A cultura popular, exposta nos materiais, o tátil, a utilização de soluções construtivas tradicionais, numa síntese moderna, neoplástica, japonesa, origina “um edifício francamente moderno sem que, no entanto, a sua realização possa, de qualquer modo, ofender as características do sítio.”10 Para que tal seja possível, é necessário um trabalho complexo de construção do lugar, a partir das preexistências, onde o próprio edifício se funde com o terreno. Uma composição simples, sóbria e duradoura.

O Popular, eternizado n`O Inquérito à Arquitetura Popular em Portugal11 - um trabalho de campo, concretizado na década de 50, por um grupo de arquitetos, encarregues de diferentes zonas do país, dentro dos quais Fernando Távora, no Minho – e o vernáculo, permite aos arquitetos encontrarem as suas raízes, e trabalharem a partir desses mesmos elementos. O momento do Inquérito foi crucial, uma vez que registou em toda a sua plenitude um mundo prestes a desaparecer. Fernando Távora descreve este momento como “um trabalho sério, conciso, bem orientado e realista. “Tudo há que refazer, começando pelo princípio”.12 11

“Arquitectura Popular em Portugal”, Lisboa, Ordem dos Arquitectos, 4ª edição, 2004 (ed. orig. 1961).

TÁVORA, Fernando. 1947.

O Problema da Casa Portuguesa.

LisboaPortugal.

Acedido em: https://revisitavora.wordpres s.com/category/da-casaportuguesa/ 12

TÁVORA, Fernando. 1947.

O Problema da Casa Portuguesa.

LisboaPortugal.

Acedido em: https://revisitavora.wordpres s.com/category/da-casaportuguesa/ 13

PEREIRA, Nuno Teotónio.

“Arquitectura Popular em Portugal”, Lisboa, Ordem dos Arquitectos, 4ª edição, 2004 (ed. orig. 1961), p.4

Enquanto os arquitetos percorriam e registavam o popular português, partiam a salto os primeiros emigrantes para França, o processo de industrialização crescia e o turismo europeu começava a descobrir os encantos algarvios. Importa referir também que a mobilização provocada pelas guerras coloniais fez crescer de forma repentina uma parte significativa da população portuguesa. Este conjunto de fenómenos demostra a situação de atraso e de pobreza, em Portugal.

Posteriormente, a situação de progresso e mudança, embora muito individualista e desordenada, “varreram a terra portuguesa, num afã de apagar as marcas de um passado que era preciso sepultar para sempre”.13 A ideia de património era desconhecida ou pelo menos

23

Fig.22 Inquérito à Arquitetura Popular em Portugal

Fig.23 Inquérito à Arquitetura Popular em Portugal

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pouco conhecida, muito devido ao salazarismo, o que permitiu a descaracterização e a destruição de um espaço edificado ao longo dos anos, em sociedades estáticas e fechadas.

Entre as intenções do regime e os propósitos dos arquitetos, o Inquérito surge como que um equívoco, uma vez que o governo esperava um “formulário figurinista que venha a permitir a definição epidérmica da arquitetura ou, pelo menos, das arquiteturas certas para cada província, equívoco que a publicação dos resultados do inquérito vem destruir”.14 Não há um “estilo nacional”. Este grupo de arquitetos procurou evidenciar que não existe, de facto, esse conceito, através do registo das relações entre o homem e a natureza, de forma contextualizada, relacionadas com o nível social, geográfico e monetário.

14

DIAS, Antonieta Silva; GOMES, António Mattos; CASTRO, Celestino de; TORRES, Fernando Ferreira; FERNANDES, Inácio Peres; MONTEIRO, José Charters; NORBERTO, José, “Arquitectura Popular em Portugal”, Lisboa, Ordem dos Arquitectos, 4ª edição, 2004 (ed. orig. 1961). P.11

Importa refletir sobre as lições que fundamentam o reconhecimento do passado como referência para o futuro, valorizadas também pelos arquitetos envolvidos no projeto: a autenticidade, o despojamento, a utilização dos materiais, a resposta prática às necessidades, a variedade de soluções, a beleza formal, o equilíbrio e a harmonia com a paisagem, e o vernáculo. Só é vernácula uma arquitetura do povo, feita pelo povo, em que há uma ligação tradicional entre o homem e o meio.

O Povo e Terra estão presentes na ingenuidade e até na inconsciência que caracterizam os atos realmente sentidos, quer num sentido individual ou coletivo, de uma ou várias gerações. A principal vantagem da lógica tradicional é a distribuição do trabalho, mais eficaz e económica, e não tanto a autenticidade. A otimização da produção diminui a lógica do trabalho humano, o que põem em evidência a relação entre a lógica social e a lógica arquitetónica.

Tal como uma língua, uma cultura ou a história da humanidade, a ligação tradicional do homem com o meio é uma ligação importante para a caracterização de um património coletivo, que quando se perde o

25

problema da habitação perde uma mais valia. Mais do que copiar outras épocas e outras vivências, importa preservar algumas delas com novas funcionalidades, atualizadas, mas mantendo a coerência na construção, na economia de recursos e na relação com o meio envolvente.

As reflexões feitas no Inquérito distinguem-se em parte dos problemas com que Távora se confrontou, como por exemplo: a capela abandonada, o nó da autoestrada, o Porto de Leixões - exemplos de elementos que suportam esta complexidade, à qual o Inquérito não dá resposta.

A situação da arquitetura portuguesa desenvolve-se, certamente, num contexto particular em relação ao quadro europeu que, por razões muito próprias, relacionadas com a força da tradição, a cultura do pequeno país do extremo oeste da Europa, a disponibilidade de materiais, o seu estado de desenvolvimento tecnológico e a capacidade criativa, marcadamente integradora e tradicionalista, tende a assimilar as grandes correntes modernas num contexto anterior dominado, demonstrando uma vez mais o poder de adaptação da nossa arquitetura, em que “os modelos importados depressa são recriados com uma originalidade e uma força tal, que a sua adoção dá à arquitetura portuguesa um lugar muito particular”.15

15

DA SILVA, J. H. Pais.

“Arquitectura e Urbanística em Portugal Continental”, Arquitectura, Lisboa, 3ª Série, nº134, 1979, pp. 5657.

Em registo de oposição ao Estado Novo surgem várias iniciativas, nomeadamente: I.C.A.T. (Iniciativas Culturais Arte e Técnica), em 1946, dinamizado por Francisco Keil do Amaral que, reunindo muitos arquitetos da nova geração, teve um papel importantíssimo, ao lado da O.D.A.M. (Organização Dos Arquitetos Modernos) do Porto, no 1º Congresso Nacional de Arquitetura, realizado em 1948. A reflexão teórica de Keil do Amaral consistia na consciencialização da linha de pensamento neorrealista português, com foco no novo entendimento da “casa portuguesa” e da arquitetura popular.

26

Fig.24 Pavilhão Português, Exposição Universal de Paris, 1937

16

KEIL DO AMARAL, Francisco. “Uma iniciativa necessária”, Arquitectura, Lisboa, 2ª Série N.14, abril de 1947.

17

Ibidem

Eleito presidente do Sindicato, foi o incentivador do Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal, tendo em vista um debate sério e científico do problema da arquitetura regional portuguesa. Keil do Amaral acreditava numa arquitetura funcional, “feita para servir mais do que para agradar”16, com raízes nas lições da arquitetura regional. Não se trata de “apinocar fachadas e interiores com elementos decorativos típicos, mas de descer ao fundo do problema de forma sistemática e científica, criando as bases de uma análise objetiva da arquitetura popular e entendendo a tradição numa perspetiva honesta, viva e saudável”17. A arquitetura é mais do que a simples forma de expressão plástica, é reflexo da própria vida, tradução harmoniosa das necessidades materiais e espirituais que caracterizam épocas, regiões e povos. Sem vanguarda, sem utopia, sem manifestos, a apologética de Keil do Amaral é a favor do realismo, da serenidade e da verdade. Os dados fundamentais são a cultura e a espontaneidade não destruídas pela tradição, e a herança histórica, de que resulta uma arquitetura que tira do passado o essencial, o duradouro, isto é, os elementos de ligação entre passado e futuro, as bases para a “arquitetura

27

regional de ontem e de hoje, de sempre”18. Todas as movimentações geradas a partir da fundação do I.C.A.T. estão associadas à figura de Keil do Amaral, mentor da nova geração de arquitetos definida no final dos anos 40. Na Exposição Universal de Paris, em 1937, Keil do Amaral estava envolvido na construção do Pavilhão Português. Paralelamente à arquitetura de Keil do Amaral, que em muito se assemelhava ao princípio do Portugal dos Pequeninos, e como motivo de comparação, e referência temporal, Pablo Picasso pintava a Guernica.

18

Ibidem

28

Fig.25 Painel "Guernica", Pablo Picasso (1937)

Fig.26 Almoço do Trolha, Júlio Pomar (1946-50)

29

No Porto, o finalista Fernando Távora, tal como Keil do Amaral, era proveniente de uma família culta e abastada, e o porta-voz de uma cultura que resistia a modas formalistas.

A ditadura de Salazar, e a sua propaganda, apostou na criação da ideia de “essencialidade portuguesa” - a ruralidade. A partir do 1º Congresso Nacional de Arquitetura, em 1948, ergueu-se uma nova geração e uma vontade coletiva de mudança e de recusa da “arquitetura do estado novo”. O Congresso ficou marcado por um “momento de viragem na reconquista da liberdade de expressão dos arquitetos”19, e por uma tomada de consciência coletiva da necessidade da produção de obras verdadeiras e atuais, sem, no entanto, para alguns, como já vimos, se perder o vetor da tradição e das raízes da arquitetura portuguesa. Para os 150 arquitetos que se reuniram neste congresso a tarefa não era de difícil interpretação: o arquiteto tem a responsabilidade e a função social de manter o equilíbrio da sociedade20. Tomando uma direção diferente da que os patrocinadores, as esferas oficiais, desejavam o congresso marca o início de um novo período da arquitetura moderna em Portugal21, afirmando nas suas conclusões que a arquitetura deve exprimir-se numa linguagem internacional, e que a arquitetura e o urbanismo modernos são a solução para o problema da habitação em Portugal.

19

PEREIRA, Nuno Teotónio.

“A Arquitectura do Estado Novo”, Arquitectura, Lisboa, 4ª Série N.142, junho de 1981 20

VIANA DE LIMA. “O Problema Português da Habitação” 1º Congresso Nacional de Arquitetura, Relatório da Comissão Executiva, Teses, Conclusões e Votos, op. Cit., p.216.

21

FRANÇA, José- Augusto, A Arte em Portugal no Século XX, op. Cit., p. 442

O discurso dos anos 50 esboçou uma evolução das ideias e práticas arquitetónicas, mais como correção metodológica do que ideológica, apoiado numa compreensão mais humanista do fenómeno social e numa visão mais crítica dos modelos internacionais de referência. A mentalidade da população sofreu uma grande mudança do ponto de vista lúdico, inevitáveis consequências do final da II Guerra Mundial. Foram atribuídas mais horas de descanso e melhores condições de trabalho, e com isto advêm a criação de novos espaços verdes e desportivos. “Podem classificar-se as horas livres ou de descanso em três 30

categorias: diárias, semanais ou anuais. (…) O problema assim exposto, implica a criação de reservas verdes.”22 Como referenciado anteriormente, a criação de espaços verdes e desportivos, como o Pavilhão de Ténis da Quinta da Conceição, é importante a nível social, físico e mental - “tabuleiros de relva: cresces, (…) centro de repouso intelectual ou de cultura física, salas de leitura ou de jogos, pistas de corrida ou piscinas ao ar livre”, infraestruturas que deveriam integrar o novo estilo de vida da sociedade, “O passeio, solitário ou comum, na beleza dos locais, Os desportos de toda a natureza, ténis, basket, football, natação, atletismo.”23 Com o caminhar dos anos 50, o regime que se modernizava no quadro de um crescente capitalismo, substituía cada vez mais a provinciana economia rural.

A aposta em infraestruturas indispensáveis ao desenvolvimento e crescimento económico oscilava entre o Império e a nova penetração internacional. Era cada vez mais difícil controlar o surto de expressão atual que rompia com o estilo arquitetónico nacionalista, que para o próprio regime já não fazia o mesmo sentido defender. Para os arquitetos, o tema da “Casa Portuguesa” continuava motivador, cientes da ideia do “Inquérito”, definida logo em 1949.

22

SA. 1948. A CARTA DE ATENAS. ARQUITECTURA, Revista de Arte e Construção, Ano XX, Nº25, 2ª série, janeiro, p. 21 23

SA. 1948. A CARTA DE ATENAS. ARQUITECTURA, Revista de Arte e Construção, Ano XX, Nº26, 2ª série, janeiro, p. 19 e 20

Fig.27 O Problema da Casa Portuguesa, Fernando Távora

31

Fig.28 Fotografia Parque Municipal e Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

Fig.29 Fotografia Parque Municipal e Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

32

É inegável a divulgação de informação no âmbito arquitetónico e artístico das revistas, como a Atrium, o periódico Arquitectura Portuguesa Cerâmica e Edificação ou até mesmo a Forum. A comunicação e o conhecimento tornavam-se mais acessíveis. A partilha e a divulgação de informação foi, de certo modo, globalizada. Estes fatores são consequências de um tempo de agitação cultural, do despertar das democracias provocadas, essencialmente, pelo fim da II Guerra Mundial. Assim, o final da década de 40 foi determinante na reflexão da arquitetura moderna, em Portugal.24 A importância do CIAM é exaltada, também, através das revistas (sendo as revistas um modo de divulgação sobre o que era discutido nestes congressos, inclusive a célebre “Carta de Atenas”, publicada posteriormente na revista Arquitectura).

A “Carta de Atenas” foi o resultado do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna que, através de uma análise extenuante de trinta e três cidades de dezoito países, redige propostas para transformar o “lamentável estado de coisas a que se chegou nos núcleos urbanos”,25 um documento que “abre todas as portas ao urbanismo dos tempos modernos”. Neste sentido, a Carta foi dividida em dez publicações na revista Arquitectura (nº 20-29), em setenta e um pontos.

24

GONÇALVES, Rui Mário.

1992-1993. “A década do silêncio, 1951-1960”, A Arte Portuguesa nos anos 50, catálogo da exposição, Fundação Calouste Gulbenkian, Beja, Lisboa. pág. 83 25

SA. 1948. A CARTA DE ATENAS. ARQUITECTURA, Revista de Arte e Construção, Ano XX, Nº20, 2ª série, janeiro, pág. 23 26

ZEVI, Bruno. 1950.

Towards an Organic Architecture. 24 Russel Square, London

Fernando Távora vivenciou períodos de grande desenvolvimento e transformação da arquitetura moderna. O movimento moderno tornou-se global alguns anos após a 1ª Guerra Mundial. Entre as principais personalidades do movimento europeu destacam-se: Le Corbusier, Walter Gropius, Mies Van der Rohe e J.J.Oud.26 Na época em causa, várias teorias visuais, que influenciam a pintura desde 1910, adquirem importância no campo arquitetónico. O cubismo - baseado em teorias visuais, a visão passa a tridimensional com a descoberta da perspetiva; a sua intenção era 33

representar o mesmo objeto, de vários pontos de vista simultâneos, de forma a entender a sua essência espacial. Do cubismo, surgiram várias características encontradas na arquitetura moderna, nomeadamente os planos avançados e recuados, e as transparências. Na Villa Savoye, de Le Corbusier, uma vez que o edifício é idêntico em todos os lados, isolado em pilares, permite que o rés do chão fique livre, e o espectador tenha uma noção imediata do aspeto do volume de todos os pontos de vista. O expressionismo - surge no pós-guerra, tendo como grande exemplo a Einstein Tower; incide na total incapacidade de reconciliar todos os lados do mundo, de sentir tudo (o Hossana do Magnificat Barroco, com as trincheiras da guerra, relativiza a angústia total). Uma outra teoria, o neoplasticismo - tenta racionalizar o cubismo; o arquiteto mais representativo desta teoria é Mies Van Der Rohe, contudo o oficial representante do movimento é J.J.P.Oud. O purismo - o movimento mais próximo do cubismo; iniciado por Le Corbusier, publicado na sua revist L`Espirit Nouveau, e pelo pintor Ozenfant, publicado no seu livro L’Art; afirma a beleza da forma elementar, natural e geométrica. O construtivismo - aparece na Rússia no ano de 1913; esta teoria elimina os objetos naturalistas, e reduz as suas pinturas a alguns sinais de intensidade expressiva e simbólica. Contudo, é o funcionalismo a base da arquitetura moderna. A sua globalidade, na primeira geração, encontra-se na revitalização do gosto, nas descobertas técnicas, no interesse pelas questões sociais e nos materiais dos edifícios.

34

Fig.30 Carta de Atenas. “Para que os jovens, ainda ignorantes, possam iluminar o espírito por meio deste maneiro estudo contemporâneo.”

Fig.31 “Art. Revista Arquitectura”, Ofir, 5 maio 1957, manuscrito.

“Mistura e Composição -Já é tempo de Portugal reencontrar a sua arquitetura -Ventos norte e sudoeste -A pedreira do outro lado -A mão de obra -As ondulações do terreno -Os gostos da família -As tendências pessoais (Le Corbusier, Wright) -As tradições locais -É preciso viver esta casa”

35

Fig.32 Montagem a partir de uma foto de Fernando Távora. Frank Lloyd Wright; Bruno Zevi; Le Corbusier; Miss Van der Rohe; Walter Gropius; Alvar Aalto; Louis Sullivan; Francisco Keil do Amaral; Fernando Pessoa

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Como consequência da 2ª Guerra Mundial, toda a atividade construtiva na Europa entra em pausa, e progressivamente desacelera o movimento moderno da arquitetura. O “The World’s Fair”, em Nova York, foi a última expressão de um mundo em paz. A exibição permitiu a comparação das várias conquistas de diversos países.

A arquitetura moderna é de base antifascista (valoriza a entidade-homem e não a entidade-estado), e global, na similaridade dos problemas sociais e técnicos dos diversos países. Os edifícios tinham, muitas vezes, como objetivo glorificar o estado fascista ao invés de melhorar a vida do cidadão comum.

27 28

Idem, p. 60

AALTO, Alvaro “The humanising of Architecture”, 1940

Tendo em conta que os grandes mestres europeus deixaram de trabalhar na europa, e os jovens da Bauhaus emigraram, a segunda geração (que se inicia por volta de 1930) tentou preservar ao máximo o que a primeira geração tinha alcançado. Os 5 dogmas de Le Corbusier permaneceram, para muitos, como regras absolutas. Evidentemente, os arquitetos da segunda vaga sentiram a necessidade de se libertarem do dogmatismo, humanizando as teorias base. Alvar Aalto, arquiteto de destaque da segunda geração, “aplica o espírito da racionalidade aos problemas do psicológico e da vida, da mesma forma que o aplica aos problemas essenciais de estrutura e de planeamento”27. “A arquitetura é um fenómeno sintético que cobre, praticamente, todos os campos da atividade humana”28, segundo o arquiteto. O erro está no facto da racionalização não ter sido suficientemente aprofundada. Ao invés de combater a racionalidade, a nova fase da arquitetura moderna tenta transportar os métodos racionais do campo técnico para o humano e psicológico.

Na segunda vaga surge a noção de arquitetura orgânica. Todas as criações devem ser orgânicas

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(seguindo as leis de organismos naturais) e organizadas (seguindo ideias criadas pelo homem). Frank Lloyd Wright utilizou a palavra “orgânica” para descrever a sua arquitetura. Por volta de 1900, Louis Sullivan procurou “o verdadeiro significado da arquitetura orgânica”, concluindo que a diferença, entre orgânico e inorgânico, está na própria forma de encarar o planeamento. O interesse pela arquitetura orgânica manifesta-se no homem e na vida, na organização espacial da casa, sala ou cidade, planeada tendo em mente a felicidade humana, material, psicológica e espiritual. O orgânico é baseado numa ideia social e não numa ideia figurativa, sendo a base mental da sua arquitetura o serviço aos organismos vivos.

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Queda da ditadura militar estabelecida no Japão, no período de 1603 a 1868.

Na América, a arquitetura moderna desenvolveu-se sem encontrar as objeções estilísticas ou formais da Europa, o que permitiu diferentes conclusões. No Japão, o moderno entrou em 1868, com a Restauração Meiji29, uma resposta à ameaça real da colonização estrangeira. Esta independência, relativamente ao modo de fazer arquitetura, tornou o Japão, e mais tarde todo o continente Euroasiático, um campo de guerra de inclinações e tendências diferentes. Apesar desta discrepância, o Japão foi o país que mais contribuiu para as várias tentativas da Europa de abduzir os vários costumes ancestrais desde 1900, pela sua tradição e simplicidade. Os artistas modernos foram influenciados por vários fatores, tais como a Pintura Japonesa, e a forma imediata de conexão entre o ornamento e a natureza.30 Este conceito foi aplicado na arte, em geral, inclusive na arquitetura. Com este sentimento de liberdade, criaram-se dois polos diferentes ao longo da história: Nikko e Katusura. O grande consumidor de arquitetura japonesa era Frank Lloyd Wright.

30

TAUT, B., BAKER, G., & PRINGSHEIM, H. (1936).

Fundamentals of Japanese Architecture. p. 10

O final da década de 40 caracteriza-se por um clima de agitação cultural, originado pelo fim da 2ª Guerra

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Mundial. A libertação aproximou as pessoas e instalou uma consciência social, cívica e estética nos jovens de então. Portugal sofreu, assim, um momento particularmente significativo, relativamente à reflexão da Arquitetura Moderna. Durante a 2ª Guerra Portugal manteve-se neutro. A rutura política, que se observou na Europa, fez nascer na sociedade portuguesa uma influência política, social, cultural e económica bastante forte, que fez estremecer o regime de Oliveira Salazar, bem como as suas estruturas, acreditando-se na possibilidade de mudança da situação política nacional.31 A sociedade enfrentava vários problemas, criticados pelos artistas neorrealista, como Júlio Pomar, no Almoço do Trolha. Não uma arte vanguardista, mas antes realista, e comunicadora do estado da sociedade.

Fig.33 Fotografia Parque Municipal e Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

31

TOSTÕES, Ana, “Os Verdes Anos na Arquitetura Portuguesa dos Anos 50”, Porto, Faup publicações, 1994.

Fig.34 Vila Imperial de Katsura, Japão

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Em suma, a sobreposição dos fenómenos, acontecimentos, vivências e experiências, entre a procura da memória e do esquecimento, sustentam o pensamento projetual de Fernando Távora, na Quinta da Conceição. O paradigma da arquitetura, em constante transformação, e a mudança profunda da sociedade, alimentam o pensamento do arquiteto, capaz de criar, de construir e transformar a cidade, o meio envolvente, as várias realidades onde habita, adaptando-as às necessidades, desejos e aspirações, com recurso às ferramentas que dispõem e procura desenvolver. “Que seja assim o arquiteto – homem entre os homens – organizador do espaço, criador de felicidade.” (Fernando Távora)

https://www.youtube.com/watch?v=JM6_2hLvU_Y

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Fig.35 Fotografia Parque Municipal e Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

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Fig.36 Fotografia Parque Municipal e Pavilhão De Ténis da Quinta Da Conceição, 2021.

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OBRAS E PROJETOS (Diário de “Bordo”)

Louis Kahn Richards Medical Research Laboratories ( Universidade da Pensilvânia, Filadelfia)

“O edifício impressiona pela sua pujança e ausência do decorativo tanto do gosto americano. A construção da estrutura pareceu-me feita por elementos pré-fabricados (tanto pilares como vigas), o betão impecável” (Pág.78)

Frank Lloyd Wright Solomon Guggenheim Museum (Nova York)

“…um exterior… muito rico de forma e exprimindo perfeitamente a organização interna… Há uma unificação e uma continuidade dos espaços, um movimento que dominam quem entra… A pintura vive com certo á vontade, embora, claro o edifício não seja de modo nenhum neutro... Parabéns Mr Wright!” (Pág.105)

Alvar Aalto MIT Baker House Dormitory (Boston)

“O edifício tem qualquer coisa de anónimo (apesar do “procurado” do seu volume) que me agradou. Pareceu-me interessante na frente oposta ao rio a explosão ... do movimento das escadas a partir da entrada.” (Pág.199)

Frank Lloyd Wright Johnson Wax Building (Chicago)

E a intenção foi plenamente conseguida. É uma obra calma, segura, acabada, definitiva, não é um passo para, é um valor em si. E, facto curioso, sendo cheia de toques pessoais, nem é estranha á paisagem industrial que em parte a envolve, nem esses toques se sentem. O fundamental é perfeito - tudo o resto é acessório… A torre ali era fatal. Lembro-me a frase que Wright transcreve e lhe foi dita por Jonhson : “Go up to the air, Frank”.

Era a solução, e de que maneira foi resolvida. A torre não parece ter a altura que tem... o truque de alargar em altura para parecer menor. ...” (Pág.227)

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Frank Lloyd Wright Taliesin East

“A paisagem sem ser grandiosa é grande e os edifícios sem serem grandes sentem-se perfeitamente na paisagem, sem de qualquer modo a desvalorizarem. A ideia de Taliesin como uma construção desfez-se nesse momento no meu espirito, taliesin é uma paisagem, Taliesin é um conjunto, em que é porventura difícil distinguir a obra de deus da obra do Homem.Taliesin é também uma vida e uma filosofia. Eu compreendi Wright e o seu chapéu, compreendi as suas formas e o seu amor á terra, o seu pensamento e o sentido das suas coisas… sentir toda aquela vida de criação, tomei também contacto com outra realidade: a da morte do homem no lugar do seu sonho, porque exatamente taliesin impressionou, pelo que possui de total, de cósmico, pelo que existe ali para além da pedra, da madeira, deste ou daquele requinte da forma.”

“Não há duvida que o Zevi tem razão: o Sr. Giedion enganou-se, ao por Wright no principio e Le Corbusier no fim do seu livro, foi um pequeno engano... de pôr tudo ao contrário.” (Pág.231 e 237)

Frank Lloyd Wright First Unitarian Society (Madison)

“…um grande á vontade em tudo e muita concisão e clareza.

Toda a ênfase da composição é posta no corpo da capela que rasga o ar como a quilo de um navio. Aí não sabes se Wright é arquiteto se é escultor... o jogo de planos é feito com vidro e caixilharia, parte na cor da madeira, parte pintada, mas constitui um perfeito remate do edifício... Uma das coisas que encanta é o contraste das duas frentes: a frente da entrada é muito baixa e a entrada propriamente dita muito aconchegada embora fortemente acentuada.” (Pág.242)

Arquiteto: Mies van der Rohe IIT Chapel (Chicago)

“…Chocou-me o facto das fachadas principal e posterior serem absolutamente iguais, quando uma da entrada para a nave e a outra dá entrada para as traseiras do altar.” (Pág.246)

Frank Lloyd Wright Unitarian Universalist church in Oak Park (Illinois)

“O acesso simétrico pareceu-me muito bem resolvido, atrás de um percurso que obriga a um certo contacto com o edifício…”(Pág.254)

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Frank Lloyd Wright Home and Studio in Oak Park (Illinois)

“O conjunto é muito rico de forma e a “domesticidade” da escala impressionou- me…” (Pág.254)

Frank Lloyd Wright Charles E Roberts Stable House (Illinois)

“Não me pareceu tão grande como as fotos que conhecia deixavam supor. O partido é muito claro e os volumes simples... a Winslow... um partido muito claro, nitidamente um paralelepípedo com aberturas.” (Pág.254 e 255)

Frank Lloyd Wright Robie House (Illinois)

“É um objeto completo. O terreno é pequeno… mas foi muito bem explorado. Depois os tais remates...e a certeza dos horizontais.

O partido não é absolutamente simétrico como parece á primeira vista mas o equilíbrio é extraordinário...um dos jogos interessantes é de coberturas, assim como os dos vasos, e, claro, o de todas as horizontais com uma ou outra vertical que aparece apenas para travar o conjunto.” (Pág.258 e 259)

Frank Lloyd Wrights office (Taliesin)

“…sem saber como passamos da arquitetura mais racional para a escultura mais abstrata, sem o sentir passamos do perfeito espaço construído pata a mais livre paisagem... é um conjunto que não pode discutir-se nem talvez raciocinar-se, nem seguramente descrever-se, ou se aceita porque se sente, ou não se aceita porque não se sente ...” (Pág.274)

Universidade Nacional Autónoma do México (Cidade do Mexico)

“A verdade é que na prospera America, nada vi que lhe compare... o ITT projetada por Mies não atingirá a expressão desta cidade universitária. É sem duvida mais uma explosão vulcânica da mexicanidad. Creio que o plano geral é bem visto e ha sem duvida certos jogos de volumes que me parecem corretos...” (Pág.296)

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Tōshō-gū Shinto templo (Tokyo)

“Interessou-me mais o jogo dos volumes do que os edifícios em si, construídos numa época do barroco japonês.”

Higashi Hongan-ji Temple ( Kyoto)

“é um conjunto sóbrio implantado em terreno plano… Agradame a simplicidade da composição e a grandeza dos edifício…”

“O eixo oriundo (duma simetria livre, á japonesa) prolonga-se para a rua onde se afirma atras duma lindíssima fonte que tem por motivo um lótus em bronze de grandes dimensões” (Pág.323)

Sanjusangendo Hall (Kyoto)

“...o edifício, que dizem ser a mais comprida estrutura de madeira do mundo, é belíssimo, sobretudo o interior…”(Pág.325)

Kiyomizu-dera Temple (Kyoto)

“…o main Hall está construído ao lado de um vale o que implicou grandes estruturas de madeira. O conjunto é muito livre, seguramente evolucionou com o tempo, mas é muito rico de formas e de perspectivas ( o que neste momento me interessa mais nos templos japoneses já não é tanto o edifício em si mas a estruturação dos edifícios em si e em relação ao terreno plano ou de encosta). Lindas vistas sobre o vale onde se encontra situado Quioto e tudo fundo de verdura.” (Pág.326)

“A vegetação é riquíssima e tem um papel decisivo no conjunto, assim como a pendente do terreno de modo que o santuário atinge-se por um percurso de enriquecimento progressivo dos edifícios, ao mesmo tempo ascensional em matéria de cortes do terreno.” (Pág.320)

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Chion-in Temple (Kyoto)

“O percurso é de sonho e em certa altura deparou-se-me uma belíssima entrada de um templo secundário, com grandes arvores...Encontrei depois a Gate de Chion-in e subi. Composição livre, muito á vontade, rica. Lá em cima o conjunto dos templos, um principal e vários edifícios secundários...” (Pág.328)

Vila Imperial de Katsura (Kyoto)

“Como esperava, é uma jóia. Não tem nada de palácio segundo a nossa ideia europeia. Nem grandezas de dimensões, nem ouros. É uma especie de casa burguesa, talvez entre habitação comum e o palácio. Mas o grande encanto reside, talvez, no todo casa-jardim. Não é uma casa mais um jardim - é um todo.”

(Pág.330)

Nijo Castle ( Kyoto)

“…é mais uma residência prestigiada por muralhas portões e pontes, mais do que um instrumento de defesa.” “Tudo com sua extraordinária clareza, boa relação com os jardins, articulação dos corpos em diagonal, galerias envolventes, enorme dignidade e hierarquia dos espaços.” (Pág.332 e 333)

Kasuga Shrine( Kyoto)

“...tem uma bela situação e o acesso é lindíssimo...

Impressionaram-me dois edifícios abertos msg cobertos que criam como que um véu de proteção ao santuário.” (Pág.339)

Tofukuji Temple (Kyoto)

“...o conjunto assenta em terreno inclinado descendo sobre a cidade e é cortado (ou ligado) por um ribeiro…”(Pág.340)

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Temple of the Golden Pavilion (Kyoto)

“O espirito do módulo existe sempre (o tatami de um modo geral não falha) mas quanto á posição dos pilares há sempre extraordinárias surpresas que resultam, claro, não de engano ou de primariam, mas de sábia riqueza e liberdade.” (Pág.341)

Temple of the Emerald Buddha (Bangkok)

“…o conjunto é interessante, se bem que os edifícios estejam bastante uns em cima dos outros. É curioso o jogo das 8 torres com significado religioso.”

“Devo dizer que não me sorria a arquitetura, havia aqui um certo decorativismo balofo e qualquer coisa que me irrita os sentidos...” (Pág.347)

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