Revista PRIMAZ - 5ª edição

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Ano 02 | Nº 5 | Jan/2019 a Mar/2019

A revista da Arquidiocese de São Salvador da Bahia

“Não, meu irmão, não me violentes” (2 Sm 13)

Projeto Princesa Tamar dá os primeiros passos na prevenção de abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes 1

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Sumário

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Palavra do Pastor

O futuro é agora

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Vida da Igreja

Católicos participam de retiros durante o carnaval

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Curiosidades

Você sabe por que a festa do Bonfim é móvel?

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Cultura

Mosteiro do Salvador abre as portas para o Ballet Arte

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Vida da Igreja

CF 2019 aborda Políticas Públicas

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Entrevista

Refugiado venezuelano conta como foi acolhido pela Paróquia Ascensão do Senhor

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Conheça a Arquidiocese

Grupo de Oração Terço dos Homens (GOTH’s) é presença forte na Arquidiocese de Salvador

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Breve Registro

24 novos diáconos Permanentes para a Arquidiocese de Salvador!

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Editorial

Sara Gomes Jornalista

Expediente A Revista Primaz é uma publicação da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, produzida pela Pastoral da Comunicação (Pascom). Arcebispo Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, scj. Bispos Auxiliares Dom Marco Eugênio Galrão Leite de Almeida Dom Estevam dos Santos Silva Filho Dom Hélio Pereira dos Santos Assistente Eclesiástico da Pascom Padre Rosalvo Marcelino dos Humildes Júnior Jornalista Responsável Sara Gomes (DRT/BA 3757) Redação Sara Gomes Catiane Leandro Edição Sara Gomes Revisão Marize Pitta Diagramação Agência Hesed Colaboradora Daniela Andrade Impressão Gráfica XColorum Imagens Inteligentes Periodicidade Trimestral Tiragem 6.500 exemplares Endereço Av. Leovigildo Filgueiras, 270, Garcia Cep: 40.100-050 Salvador - BA Fale com a Redação revistaprimaz@arquidiocesesalvador.org.br Tel.: (71) 4009-6604.

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eus é bom! É com esta certeza que chegamos à quinta edição da nossa Revista Primaz. O caminho percorrido até aqui não foi fácil, mas, graças ao Deus de amor e de misericórdia, e à bondade de tantos irmãos e irmãs, ele se tornou possível. A cada trimestre, preocupamo-nos com o conteúdo que chegará até você, leitor. E tudo segue sendo preparado com muito carinho. Prova disso é esta edição que chega, agora, às suas mãos. Nela, nós queremos mostrar a beleza desta Igreja Particular, formada por pessoas de fé, que não medem esforços para fazer o bem. E, nesta edição, a quinta de muitas que virão, nós trouxemos um pouco da história de uma iniciativa que começa a ganhar forma em Salvador, proposta pela Congregação dos Missionários de Nossa Senhora da África, os conhecidos padres brancos. Estes sacerdotes, em parceria com instituições e organizações que atuam na defesa de direitos dos menores, estão colocando em prática o projeto Princesa Tamar, que busca conhecer e denunciar a história de tantas crianças e adolescentes vítimas de abusos dentro das próprias casas. Quer saber como funciona este projeto? Confira nas páginas 16, 17, 18, 19 e 20 da nossa revista. Conviver com pessoas que fazem o bem é bom, não é? Na Paróquia Ascensão do Senhor, localizada no Centro Administrativo da Bahia (CAB), os paroquianos estão tendo a chance de partilhar a vida e a fé com venezuelanos, que chegaram a Salvador refugiados. Um deles, Ricardo Jesus Ugas Velasquez, concedeu-nos entrevista sobre a

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acolhida que recebeu ao chegar à nossa Arquidiocese. Em nossa Arquidiocese, e em todo o Brasil, existe um movimento que está crescendo muito, formado por homens: são os Grupos de Oração Terço dos Homens (GOTH’s). Em Salvador, na região metropolitana e nas Ilhas, o GOTH’s está se fazendo presente nas mais diversas realidades, propagando, incansavelmente, a devoção Mariana. Conheça um pouco mais o serviço dos membros do Terço dos Homens, que atua nas 100 paróquias e na diaconia. Você sabia que, em Alto de Coutos, o Mosteiro do Salvador, das Monjas Beneditinas está com as portas abertas para meninas e meninos que desejam aprender a dançar balé? Pois é! Lá acontece o projeto Balé Arte que, além de possibilitar o aprendizado deste estilo de dança, também traz imensos benefícios ao estudante, como a elevação da autoestima, por exemplo. Nesta edição, você encontra, ainda, uma matéria sobre as igrejas Nossa Senhora da Palma, que recentemente passou a ficar sob os cuidados da Fraternidade Samaritanos Beneditinos, e Santíssimo Sacramento da Rua do Passo, que agora abriga a sede do Apostolado da Oração. Ah! Tem, também, um artigo sobre o bicentenário Seminário, localizado em Salvador: Seminário Central São João Maria Vianney. Um texto escrito pelos seminaristas Igor Gonçalves e Bruno Nascimento dos Santos, que conta, brevemente, a história desta Casa de Formação dos Padres. Confira nas páginas 34 e 35. Boa leitura!


Palavra do Pastor

O futuro é agora de e evangelizai!”. O mundo para o qual o Senhor nos envia é este que está diante de nós, é o mundo onde nosso povo vive e trabalha, alegra-se e sofre. Nossa Igreja Primaz deve levar em conta a cultura deste tempo – isto é, fazer o que Jesus Cristo fez quando assumiu a natureza humana: não desprezou os valores de sua época e de seu povo, falou sua língua e vestiu-se como seus conterrâneos se vestiam... Levando isso em conta, evangelizou, isto é, apresentou sua proposta revolucionária, marcada pela justiça e o perdão, pela solidariedade e o amor aos inimigos. Para bem cumprir sua missão, nossa Igreja Particular precisa levar em conta alguns valores essenciais – por exemplo: buscar ser uma Igreja mística, conduzida pelo Espírito Santo e atenta às estações da Via Sacra. Uma Igreja mística. Um dos grandes teólogos do século passado, o alemão Karl Rahner, escreveu que “no futuro do mundo e da Igreja, o ser humano será um místico, isto é, uma pessoa com profunda experiência religiosa, ou não será mais cristão”. Já está longe o tempo em que a força de um grupo religioso quase que obrigava seus membros à prática religiosa. O secularismo tomou conta do mundo. No campo da fé, sobrevivem os convictos. O cristão deve ser um contemplativo na ação. O evangelizador, se não Foto: Reprodução

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Dom Murilo S.R. Krieger, scj Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil

for um contemplativo, não conseguirá anunciar Jesus Cristo de modo credível. Ele é testemunha da experiência pessoal de Deus e deve poder dizer como S. João: “O que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos” (1Jo 1,3). Uma Igreja conduzida pelo Espírito Santo. Pouco antes de sua Paixão, Jesus reuniu os discípulos e lhes deu uma certeza: “Eu pedirei ao Pai, e ele vos dará um outro Paráclito, para que permaneça sempre convosco” (Jo 14,16). Depois do tempo do Pai, na criação (que ainda continua, pois não foi totalmente cumprida a ordem: “Dominai a terra...” - Gn 1,28), e do tempo Filho, na redenção (que ainda não terminou: “É preciso completar em nossa carne o que falta à paixão de Cristo” - Cl 1,24), podemos dizer que estamos no tempo do Espírito Santo. O segredo da rápida expansão do cristianismo, nos primeiros tempos, foi a formação pastoral que os apóstolos receberam de Jesus e a comunicação do Espírito Santo, em Pentecostes. É o Espírito Santo que desperta, no coração das pessoas e dos povos, os anseios de liberdade, o desejo de justiça, de solidariedade e amor. É ele que anima os evangelizadores e os assiste, para que transmitam a verdade total, sem erros. A Igreja está sempre no Cenáculo. Impulsionada pelo Espírito Santo, ela diz ao Esposo: “Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,21). Uma Igreja atenta às novas estações da Via Sacra. Analisando a situação de pobreza que nos cerca, podemos dizer que as estações da Via Sacra continuam “vivas”. Se sairmos pelas ruas de nossa cidade ou estado, perguntando a quem nos atender: “Há algum problema aqui? Há alguém que sofre?”, ficaremos surpresos com tudo o que ouviremos. Cabe à Igreja – isto é, a cada um de nós - compartilhar com o povo seus sofrimentos e angústias, que brotam, muitas vezes, da falta de respeito à dignidade do ser humano, imagem e semelhança do Criador. Como lembrava S. João Paulo II, o mundo aprendeu a globalizar a economia, mas ainda não aprendeu a globalizar a solidariedade. Não esperemos acontecimentos mágicos neste ano de 2019! O futuro não se prevê: se constrói. Ele será o que juntos fizermos para torná-lo mais cristão e, por isso mesmo, mais humano. Ano 02 | Nº 5 | Jan/2019 a Mar/2019

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Foto: CNBB

Notícias da Igreja Por CNBB

Materiais da CF 2019 incentivam participação cidadã na construção de Políticas Públicas uscando estimular a participação em Políticas Públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja, para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade, a Campanha da Fraternidade (CF) 2019 terá início em todo o país no dia 6 de março. Com o tema “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça”, a CF busca conhecer como são formuladas e aplicadas as Políticas Públicas estabelecidas pelo Estado brasileiro. Como forma de despertar a consciência e incentivar a participação de todo cidadão na construção de Políticas Públicas em âmbito nacional, estadual e municipal, a Comissão Nacional da CF preparou o texto-base, que contou com a participação e contribuição de vários especialistas e pesquisadores, bem como com a consulta a lideranças de movimentos e entidades sociais. Elaborado conforme o método ver, julgar e agir, o subsídio aponta uma série de iniciativas que ajudarão a colocar em prática as propostas incentivadas pela Campanha. Como exemplo dessas ações, o texto-base, além de contextualizar o que é o poder público, os tipos de poder e os condicionantes nas políticas públicas, fala sobre o papel dos atores sociais nas Políticas Públicas. A participação da sociedade no controle social das Políticas Públicas é outro tema de destaque no texto-base. “Política Pública não é somente a ação do governo, mas, também, a relação entre as instituições e os diversos atores, sejam individuais

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ou coletivos, envolvidos na solução de determinados problemas”, afirma o secretário-geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner. Ainda segundo dom Leonardo, devem ser utilizados princípios, critérios e procedimentos que podem resultar em ações, projetos ou programas que garantam aos povos os direitos e deveres previstos na Constituição Federal e em outras leis. Por isso, segundo ele, a temática se fez necessária para a CF de 2019. “Políticas Públicas são as ações discutidas, aprovadas e programadas para que todos os cidadãos possam ter vida digna”, afirma Dom Leonardo. Subsídios Além do texto-base, outros materiais foram produzidos para dar apoio nesta missão: propostas de círculos bíblicos, que trazem aprofundamento da Palavra de Deus; sugestão de celebração ecumênica, para reunir pastores e representantes de outras Igrejas na preparação desse evento; a Cartilha Fraternidade Viva, apresenta rodas de conversa com a perspectiva de aprofundar-se no tema, propõe a vigília eucarística e a celebração da misericórdia. Também pensando nos jovens, a Comissão para a Juventude da CNBB preparou um material que é direcionado à juventude das diversas realidades eclesiais, para que os jovens sejam contagiados pela Luz de Cristo. Aos educadores, que têm um papel fundamental na sociedade, fazendo com que os educandos sejam sempre esclarecidos sobre a


sua realidade e as possibilidades de melhor contribuir para o desenvolvimento da sociedade, foram preparados subsídios para o Ensino Fundamental I e II, Ensino Médio e Ensino Superior. Todo esse material está disponível no site da Editora da CNBB: www.edicoescnbb.com.br Cartaz CF 2019 Levando em consideração que as Políticas Públicas dizem respeito a toda a sociedade, em suas várias dimensões, e que visam assegurar os direitos humanos mais elementares para que cada pessoa tenha condições de viver com dignidade, o autor do cartaz da CF 2019, padre Erivaldo Dantas, buscou ressaltar na arte, através de silhuetas, a presença de algumas categorias sociais que considera importantes para a reflexão da Igreja e da sociedade. A escolha da obra vencedora foi feita pelo Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da CNBB, e devia obedecer às especificações estipuladas no edital do concurso, entre as quais evidenciar o tema da CF 2019: “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça (Is 1,27)”. “Desejo que a proposta para o Cartaz da CF possa

representar o anseio da Igreja no Brasil de ajudar a sociedade a refletir e reconhecer seus direitos, através das Políticas Públicas, ou, quem sabe, entender e discutir a necessidade da elaboração de novas políticas em consonância com as necessidades humanas da sociedade atual”, diz o padre. O cartaz também está disponível no site da Editora CNBB, assim como o CD e o DVD da Campanha. Na Arquidiocese A primeira atividade sobre a Campanha da Fraternidade 2019 na Arquidiocese de Salvador será o Seminário sobre a CF, promovido pela Ação Social Arquidiocesana (ASA). O evento acontecerá no dia 24 de fevereiro, no Auditório Dom Geraldo Majella Agnelo, localizado na Cúria Metropolitana de Salvar (Avenida Leovigildo Filgueiras, 270, Garcia), das 7h30 às 17h. A programação contará com palestras, a partir dos métodos ver, julgar e agir, Missa, intervenções artísticas e oficinas. Para saber mais informações, o interessado pode entrar em contato com a ASA através do e-mail: asa@asasalvador.org.br ou pelo telefone (71) 4009-6671.

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Vida da Igreja Pascom

Católicos participam de retiros espirituais durante o Carnaval proximam-se as festas carnavalescas e, neste período, inúmeros católicos aproveitam para vivenciar a experiência de retiros espirituais e, assim, ficar ainda mais próximos de Deus. Na Arquidiocese de Salvador, grupos, movimentos, pastorais, comunidades de vida e congregações religiosas organizam encontros e formações marcados pelo louvor, oração, adoração ao Santíssimo Sacramento e Missas.

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Um exemplo é o encontro Restaura-me, promovido pela Renovação Carismática Católica (RCC). O evento, que acontecerá pela 13ª vez, terá início às 8h do dia 2 de março e será encerrado às 18h do dia 4, na Comunidade Imaculado Coração de Maria (Rua Pipira, s/n, Itacaranha – ao lado do Posto de Saúde). Durante o Restaura-me haverá Missas, adoração ao Santíssimo Sacramento, pregações, shows católicos, apresentações de grupos de dança e ministério

para as crianças. As inscrições podem ser realizadas até o dia 24 de fevereiro com os Grupos de Oração dos Setores 3, 4 e 5 da RCC Salvador. O investimento é no valor de R$ 5 (os três dias). Quem também realiza encontro durante o carnaval é a Comunidade Católica Shalom. O REVIVER 2019 acontecerá de 3 a 5 de março, sempre das 8h às 21h, à luz do tema “Cristo é a nossa paz”. A programação contará com palestras, cursos, Seminário de Vida no Espírito Santo e atrações musicais. Os participantes que desejarem poderão receber o sacramento da Confissão. A entrada é gratuita. Mais informações pelo telefone (71) 3015-7177. Até o fechamento desta edição da revista PRIMAZ, o local deste retiro ainda não havia sido confirmado. Porém esta informação estará disponível em www.arquidiocesesalvador.org.br

Momentos de oração, louvor e adoração fazem parte dos encontros espirituais que acontecem no período do Carnaval

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Pascom

Créditos: José Gustavo / Adora Comunicação

Vida da Igreja

“24 horas para o Senhor” os dias 9 e 10 de março, os católicos do mundo inteiro estarão unidos em oração durante as 24 horas para o Senhor. Realizada pela quinta vez, a vigília é um pedido do Papa Francisco e acontece sempre durante a Quaresma, que é o período marcado pelo Sacramento da Reconciliação.

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Na Arquidiocese de Salvador, as foranias se organizarão de forma a realizar este momento de adoração ao Santíssimo Sacramento. A programação de cada uma das 10 foranias estará disponível, em breve, em nosso site. Acesse: www. arquidiocesesalvador.org.br

Em atenção ao pedido do Papa, fiéis de todo o mundo realizam adoração ao Santíssimo Sacramento durante 24 horas

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Foto: Sara Gomes

Entrevista

Como um abraço de Pai:

Paróquia Ascensão do Senhor acolhe refugiados air da terra natal, devido à crise que atinge milhares de pessoas, e partir para terras desconhecidas em busca de oportunidades. Esta é a realidade de inúmeros refugiados em todo o mundo, entre eles o jovem Ricardo Jesus Ugas Velasquez, de apenas 19 anos. Para escapar da recessão econômica e da grave escassez que assola a Venezuela, Ricardo deixou tudo: pais, irmãos, casa, universidade e seguiu da cidade de Carúpano, que fica na costa nordeste da Venezuela, para o Brasil. Primeiro, Ricardo entrou no país pela fronteira do estado de Roraima e, em seguida, conseguiu chegar à cidade de Salvador, onde foi acolhido pela Paróquia Ascensão do Senhor, no Centro Administrativo da Bahia (CAB). Para contar esta história de chegada e de acolhida, a equipe da Revista Primaz entrevistou o Ricardo.

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Revista PRIMAZ – Ricardo, o que te levou a sair do seu país de origem e seguir para um lugar que você não conhecia? Ricardo Velasquez – Eu vim sozinho. Muitas coisas me levaram a tomar a decisão de sair do meu país. Uma delas foi a necessidade de ajudar a minha família, que ficou na Venezuela. A cada dia que passava, eu via que as coisas estavam piorando e que, se eu não saísse naquele momento, eu não ia mais poder sair e nem poder fazer nada por eles. Na Venezuela, eu era estudante de Direito de uma universidade particular. Junto com o meu pai, fundei uma empresa de purificação de água e já estávamos com cinco pontos 12

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desta empresa. Antes da crise, nós tínhamos uma boa posição social, mas, com a crise, tudo se tornou muito mais difícil. Além disso, no ano de 2017, de maio até agosto, foi um período de protesto contra o governo, de forma que todos os estudantes das universidades saíram às ruas para protestar, e o resultado foram 186 estudantes mortos, só estudantes, por mando da força armada do país, da guarda nacional. Muitos outros estudantes foram presos, com penas que superam, inclusive, a pena de homicídio, pois o governo aplica como se nós estivéssemos traindo a pátria. Revista PRIMAZ – Mas como foi o processo de migração? Como você chegou ao Brasil? Ricardo Velasquez – Então, na Venezuela, tudo começou a ficar muito caro. Já não se conseguia comida, artigos básicos. Tudo estava com preços absurdos. Meus pais e minha família não me apoiaram para sair, naturalmente porque eu estava saindo sem nada, para um lugar onde eu não conhecia ninguém, nem a cultura ou o idioma. Mas, mesmo assim, eu tomei a decisão final de sair. Decidi vender minhas coisas: vendi meu carro, meu celular, meu computador, enfim, tudo o que eu tinha para fazer um dinheiro, trocar a moeda e ficar, pelo menos, com mil reais em mãos para vir ao Brasil. Porém, depois de sair da minha cidade e chegar até a fronteira, o que durou mais ou menos três dias, o salário mínimo havia aumentado e a moeda estava desvalorizada. Quando eu fui trocar o dinheiro que estava comigo, o Bolívar para o Real, eu


fiquei com apenas 200 reais em mãos. Fui no Atacadão, comprei algumas coisas como balas e chocolates, peguei uma caixa de papelão, arrumei as coisas, cruzei a fronteira e comecei a vender doces pelas ruas de Boa Vista para tentar juntar dinheiro. Revista PRIMAZ - Neste percurso de pensar em sair da Venezuela até hoje, o que tem sido mais difícil para você? Ricardo Velasquez – O mais difícil é estar longe da minha família, mas, também, o processo de adaptação. Eu estava acostumado a viver bem e precisei passar a morar na rua. Tudo isso é muito complicado. Agora, aqui em Salvador, eu já estou trabalhando e quem está mantendo a minha família na Venezuela sou eu. Para se ter uma ideia, o valor do real está muito forte em comparação com o bolívar. Eu envio 100 reais para a Venezuela, e lá este é mais do que dois ou três salários mínimos. A desvalorização da moeda e a inflação são absurdas. Revista PRIMAZ – E como você conseguiu chegar a Salvador? Como conheceu a Paróquia Ascensão do Senhor? Ricardo Velasquez – Quando eu cheguei em Roraima, eu conheci um padre da Igreja Ortodoxa. Ele é de Salvador, morava em Pernambuco, mas havia ido até Roraima para ver de perto a situação dos refugiados. Lá, ele convidou a mim e a mais dois venezuelanos para virmos para Salvador fazer parte de um programa de residência universitária que ele havia iniciado. Nós viemos, mas esse programa não deu certo. Então, ele tinha escutado falar em um padre católico, que estava acolhendo refugiados na paróquia. Era o padre Manoel de Oliveira Filho, pároco da Paróquia Ascensão do Senhor. Logo no primeiro dia que chegamos à paróquia conhecemos outros venezuelanos. A paróquia do padre Manoel nos ajudou, nos acolheu com algumas coisas para iniciar: a casa, comida, cesta básica. Mas não só do que é material, também de estar ao lado quando se precisa, e isso é algo que, ge-

ralmente, ninguém nota, mas que eu agradeço muito, pois é muito importante: a palavra, o abraço, quando você está mais precisando. Isso tudo a gente encontra aqui no CAB. Revista PRIMAZ – Enfrentar tantas dificuldades, sair do país, deixar tudo e conseguir seguir em frente não é fácil. Hoje, quando você olha para o futuro, o que vem em seu coração? Ricardo Velasquez – O padre Manoel conseguiu para mim uma bolsa na UCSal [Universidade Católica do Salvador], onde eu voltei a cursar Direito. Recomecei do zero, para me adaptar um pouco melhor. Eu quero ficar no Brasil por um tempo. A faculdade tem a duração de cinco anos e eu gostaria de, daqui a cinco anos, ter condições para fazer a pós-graduação, doutorado, alguma especialização. Um estudo a mais. Quero me especializar em Direito Internacional ou Mercantil, para ter a oportunidade de exercer a minha profissão em outro país, mesmo que seja parcialmente, e, assim, contribuir na reconstrução do meu país. Revista PRIMAZ – Que mensagem você gostaria de deixar para os venezuelanos que passam pela mesma situação que você, mas, também, o que você gostaria de dizer aos brasileiros que abrem as portas e os corações para acolher os refugiados? Ricardo Velasquez - Quero dizer aos venezuelanos que tenham força, que sejam um com os demais, que tudo vai melhorar. Temos um ditado que diz que não tem nenhum mal que dure 100 anos e nenhum corpo que resista. Tudo vai mudar, cedo ou tarde, vai melhorar. Temos que trabalhar para isso, para a situação mudar. Para os brasileiros, gostaria de agradecer de todo o coração às pessoas que estão ajudando, direta ou indiretamente, e dizer que não parem esta ajuda que, agora, estamos precisando. Também peço desculpas por quem teve alguma coisa danificada por algum venezuelano. Sigam acolhendo, não será para sempre que ficaremos assim. Foto: Reprodução

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Refletindo com o clero

Um olhar eclesial sobre o ambiente urbano s processos das sociedades humanas, desde as últimas revoluções política, industrial, cultural e científica, fizeram e fazem urgir transformações significativas em curto período de tempo. Isso se dá não somente em âmbito institucional, mas no próprio modo de o ser humano olhar para si, para os seus, transformando a maneira de pensar e de agir. Deste modo, os grandes centros urbanos sempre sediaram e assistiram de perto as transformações, por sua capacidade de agrupar na diversidade, fazendo com que o espaço urbano se torne um laboratório e, ao mesmo tempo, um “termômetro” da produção do pensamento nas diferentes épocas e nas diversas sociedades. Também como constituição social, a Igreja não está isenta das repercussões da época de mudança, mas ela mesma sofre os avanços e as dificuldades advindas deste processo.

Padre Jonathan de Jesus Vigário da Catedral Metropolitana do Salvador

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A cidade, em sua constituição atual, não se restringe ao conceito de territorialidade, mas expande para aquelas realidades das quais advêm o indivíduo e a coletividade, que, por sua vez, constroem aquilo que se chama urbano. Este se destaca como uma mentalidade que gera um modus vivendi (modo de viver). Por isso, após uma contextualização socioespacial, entra-se no âmbito da pessoa humana, pois, como diz o Catecismo da Igreja Católica, no número 2419: “Quando a Igreja cumpre a sua missão de anunciar o Evangelho, testemunha ao homem, em nome de Cristo, sua dignidade própria e sua vocação à comunhão de pessoas; ensinando-lhes as exigências da justiça e da paz, de acordo com a sabedoria divina”. O individualismo, a indiferença e o relativismo fazem crescer, no ambiente urbano, a violência, a desigualdade social, os preconceitos diversos, o desemprego, a falta de saneamento, a injustiça, a corrupção e as distâncias sociais que se impõem na cidade. Entre tantas outras coisas, isto acaba denegrindo o verdadeiro valor da pessoa humana. Esta se encanta ao descobrir-se amada por Deus, compreendendo a própria dignidade transcendente, aprendendo ao não se contentar em si e a encontrar 14

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o outro, em uma rede de relações cada vez mais autenticamente humana, como nos ensina a Doutrina Social da Igreja. Os Evangelhos apresentam um Jesus que percorria as cidades levando a Boa Notícia e fazendo o bem (cf. Mt 4,23; 9,35; Mc 1,39; Lc 4,43-44;8,1), por isso, a Igreja, a exemplo do seu Fundamento e Fundador, sempre soube percorrer as cidades, inclusive, formou-se e propagou-se através delas. Com esta vasta experiência, as realidades atuais impulsionam, na Igreja, novas experiências, como a conversão pastoral na esfera urbana, que pede uma atenção ao todo fragmentado que é a cidade, a fim de alcançar o citadino em sua plenitude, onde e como quer que esteja, lembrando o Documento de Aparecida. Igualmente, as urgências de ordem pastoral-eclesial necessitam de inculturação, para que, segundo o Padre Comblin, alcancem “o modo de ser, pensar e viver dos habitantes da cidade”. Para isso, não se faz necessário um retorno a práticas que corresponderam a tempos passados e nem a tendências que se confundam com relativismo predominante. A proposta parte de um olhar sério sobre a questão Pastoral Urbana, que faz “identificar a cidade a partir de um olhar contemplativo, sugere a Evangelii Gaudium n. 71, isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças [...] Ele vive entre os citadinos”. Continua, ainda, o Papa Francisco: “Esta presença não precisa ser criada, mas descoberta, desvendada”.


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Foto: Reprodução

Principal Por Sara Gomes

UM GRITO DE SOCORRO:

Projeto Princesa Tamar visa prevenir contra casos de abusos infantis runa* tem apenas 8 anos, mas, ao contrário da maioria das crianças desta idade, a menina está cada dia mais calada. Na escola, nem as brincadeiras dos amigos conseguem animá-la e o silêncio de Bruna está sendo notado. Sem ânimo para correr, Bruna prefere ficar distante, sempre sentada em algum canto; e, por mais que lhe perguntem o que está acontecendo, a resposta é sempre a mesma: ‘não é nada!’.

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Embora Bruna diga que ‘não é nada’, a realidade na vida desta menina é muito mais profunda do que alguém possa imaginar. Enquanto está na escola, Bruna tem um alívio, mesmo quando permanece em silêncio. Mas, quando a sirene toca e todos percebem que já é hora de voltar para casa, começa o sofrimento maior desta menina, que ainda não foi percebido pelos pais: Bruna é abusada, com frequência, por quem deveria ajudar a protegê-la: o próprio tio. A personagem que abre esta matéria é fictícia, mas esta situação que ilustra o texto é realidade na vida de inúmeras meninas violentadas, todos os dias, dentro das próprias casas. De acordo com dados divulgados, em junho de 2018, no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, entre os anos de 2011 e de 2017, o Brasil teve um aumento de 83% nos casos de violências sexuais contra crianças e adolescentes. Neste período, foram notificados 184.524 casos, sendo que 58.037 foram cometidos contra crianças e 83.068 contra adolescentes. 16

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“É preciso fazer algo. É preciso prevenir o abuso sexual de menores. São muitas vítimas. É muito sofrimento”, diz o padre Moussa Serge.

Além da barbaridade destas notificações, chama a atenção que a maioria dos casos aconteceram dentro de casa. Os agressores, de modo geral, são pessoas do convívio das vítimas e os casos acontecem mais de uma vez. Para quem não sabe, são considerados, pelo Ministério da Saúde, como casos de violência sexual: estupro, pornografia infantil, assédio e exploração sexual. Dentre estas violências, a mais notificada foi o estupro, sendo 62% em crianças e 70,4% em adolescentes. Segundo o Artigo 213, do Código Penal, estupro é o ato de “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”.


Essa é uma triste realidade, mas estas crianças e adolescentes não estão sozinhos, embora se sintam desta forma quando os abusos acontecem. No Antigo Testamento, no livro de Samuel, capítulo 13, uma princesa também se sentiu sozinha. Filha do rei Davi, a princesa Tamar foi violentada pelo meio-irmão, Amnon. Ao perceber que seria estuprada, a princesa Tamar clamou “Não, meu irmão, não me violentes”, mas não foi escutada por Amnon, que havia se apaixonado por ela, e o crime aconteceu. Esta triste história de Tamar se une às milhares de histórias notificadas pelo Ministério da Saúde, mas também àquelas que ainda não se tornaram conhecidas e que continuam escondidas dentro das casas, criando feridas ainda maiores em muitos corações, já que as vítimas costumam se calar, muitas vezes, por medo de não serem ouvidas, ou, ainda, por acharem que serão desacreditadas, e ficam, por anos, sofrendo os abusos. Pensando nisso, o padre Moussa Serge Traore, membro da Congregação Missionários Nossa Senhora da África, diretor do Centro Cardeal Lavigerie na Universidade Católica do Salvador (UCSal) e pároco da Paróquia São Tiago Maior, localizada no bairro Fa-

“O objetivo é a proteção dos menores contra os abusos sexuais, agindo de tal modo que não aconteça o abuso, bem como ‘gerar uma cultura capaz de evitar que essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem ocultadas e perpetuadas’, como escreveu o Papa Francisco”, afirma o padre Moussa Serge.

zenda Grande III, idealizou o Projeto Princesa Tamar, que é uma rede de prevenção de menores contra os abusos sexuais. As atividades do projeto tiveram início no ano de 2016, quando o padre Moussa Serge foi nomeado, pela Congregação a qual pertence, como Delegado para a Proteção das Crianças no Brasil. “Os delegados são

Foto: Reprodução

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Foto: Arquivo do Projeto Princesa Tamar

Membros que participaram da primeira formação do projeto Princesa Tamar, em Salvador

missionários que se comprometem com a proteção dos menores, atuam nos casos de acusação de abuso sexual e assessoram as autoridades nos procedimentos nos países onde eles trabalham”, afirma o padre Serge, que recebeu, ainda em 2016, uma formação oferecida pelo Centro de Proteção da Criança da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. “O Projeto Princesa Tamar tem o nome da princesa Tamar, abusada pelo meio-irmão Amnon, filho primogênito do rei Davi. Este abuso sexual na família do rei mais famoso de Israel - o rei ‘segundo o coração de Deus’ - aconteceu 900 anos de Cristo. Infelizmente, muitas princesas como Tamar continuam sendo abusadas da mesma forma nas casas e nas famílias, pelos próprios parentes e familiares. No Brasil, fala-se de 9 até 10 menores que são abusados a cada hora. É preciso fazer algo. É preciso prevenir o abuso sexual de menores. São muitas vítimas. É muito sofrimento”, diz o padre Moussa Serge. De acordo com o padre, a iniciativa “não é uma busca ou caça aos pedófilos, nem uma busca às vítimas escondidas. O Projeto Princesa Tamar é um projeto focado na prevenção. Os casos de abusos sexuais que podem se apresentar são encaminhados para os devidos órgãos competentes. O objetivo é a proteção dos menores contra os abusos sexuais, agindo de tal modo que não aconteça o abuso, bem como ‘gerar uma cultura capaz de evitar que essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem ocultadas e perpetuadas’, como escreveu o Papa Francisco na carta ao povo de Deus, em 20 de agosto de 2018”, afirma padre Moussa. 18

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Você conhece as leis de proteção aos menores contra os abusos sexuais? • Constituição Federal, Art. 227; • Código Penal, Art. 136, 213-224; • Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990.


Então, como prevenir os abusos sexuais cometidos contra menores? De acordo com o padre Moussa Serge, a metodologia de prevenção utilizada pelo Projeto parte da história de Tamar. A atitude da princesa no momento do abuso ajuda a construir uma metodologia de prevenção em quatro momentos:

A capacitação dos participantes do Projeto Princesa Tamar se baseia em: 1. Identificar os fatores de risco; 2. Dizer NÃO a qualquer tipo de abuso; 3. Alertar que é crime contra a Lei Divina, a lei civil e a lei natural;

1. Contar a história bíblica da princesa Tamar;

4. Mostrar as consequências gravíssimas para a vítima, para o abusador e para a sociedade;

2. Trazer a história para a realidade e fazer as pessoas partilharem sobre a realidade dos abusos sexuais;

5. Avisar que o fato será conhecido, revelado, proclamado e denunciado;

3. Capacitar os participantes;

6. Procurar ajuda.

4. Convidar os participantes a se comprometerem a protegerem os menores com um código de conduta.

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Foto: Canção Nova

Embora ainda esteja em fase inicial, já que começou a caminhar, oficialmente, em setembro de 2018, o projeto Tamar já organizou e realizou um seminário na capital baiana, que contou com a participação de algumas instituições e de organizações que trabalham diretamente com crianças e jovens, como a Pastoral da Criança, a Pastoral Social presente na Paróquia São Tiago Maior e a Associação Provida de Pernambuco. O resultado deste primeiro encontro foi apresentado, em dezembro de 2018, nas cidades de Paulo Afonso, Petrolândia, Floresta, Belém de São Francisco e Salgueiro.

Segundo o padre Moussa Serge, a segunda fase do Projeto será a formação aprofundada de agentes (assessores ou delegados) de proteção dos menores com a colaboração de especialistas. Essas pessoas, bem formadas e comprometidas com a proteção dos menores, poderão assessorar encontros de grupos com o objetivo de criar uma cultura de proteção, de prevenção. “O Projeto Princesa Tamar quer ser uma rede. Ele está em fase inicial: apresentação do projeto de prevenção dos menores contra os abusos sexuais, a preparação do material didático e o convite às pastorais e instituições religiosas e civis a fazer parte da rede”, afirma o padre Moussa Serge.

Quer fazer parte desta rede? Entre em contato com o Projeto Princesa Tamar através dos seguintes canais: Site: www.mafrbrasil.com.br/princesatamar Celular e Whatsapp: (71) 99162-7596 (Bahia) Celular e Whatsapp: (87) 9974-6737 (Pernambuco)

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*Personagem fictícia.


Fotos: Daniela Andrade

CAPELA SAGRADA FAMÍLIA CONFISSÃO E DIREÇÃO ESPIRITUAL

MISSAS Domingo, às 7h e às 18h Segunda-feira, às 7h Terça-feira, às 7h Quarta-feira, às 7h Quinta-feira, às 7h e às 11h Sexta-feira, às 7h e às 12h Sábado, às 7h

ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Sexta-feira após a Missa das 7h

Quinta-feira, às 9h

*Para a direção espiritual é necessário agendar através do telefone (71) 4009-6612 ou pelo Whatsapp (71) 99179-0648

SECRETARIA Segunda a sexta-feira das 8h às 12h e das 13h às 17h Ano 02 | Nº 5 | Jan/2019 a Mar/2019

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Por Padre Edson Menezaes

Foto: Catiane Leandro

Curiosidades

Você sabe por que a festa do Senhor do Bonfim tem a data móvel?

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Todos os anos, milhares de fiéis sobem à Colina Sagrada para render louvores e homenagens ao Senhor do Bonfim durante o mês de janeiro. É uma festa que mexe com a vida da cidade e do Estado. O baiano veste branco, percorre a pé os 8 km entre a Basílica da Conceição da Praia e a Mansão da Misericórdia, no dia da famosa lavagem do adro da Basílica. São gestos de fé e devoção que marcam a religiosidade brasileira. Mas, você sabe por que, a cada ano, a festa do Senhor do Bonfim é celebrada numa data diferente? A Revista Primaz foi buscar a resposta para esta pergunta e contou com a ajuda do reitor da Basílica Santuário, padre Edson Menezes. Tudo começou com a chegada das imagens do Senhor do Bonfim e de Nossa Senhora da Guia à cidade de Salvador, no dia 18 de abril de 1745, um domingo de Páscoa. O Capitão de Mar e Guerra, Theodósio Rodrigues de Farias, grato a Deus por ter sido salvo 22

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Foto: Reprodução

mês de janeiro é marcado, entre outros festejos, pelas homenagens ao Senhor Bom Jesus do Bonfim. Neste período, inúmeros fiéis, vindos de todo o mundo, sobem à Colina Sagrada para agradecer a Deus por graças alcançadas e suplicar bênçãos. Mas, muita gente se pergunta por que a Festa do Bonfim não tem data fixa. Para responder a esta pergunta, o reitor da Basílica Santuário Senhor Bom Jesus do Bonfim, padre Edson Menezes, enviou um texto explicando. Confira!


de um naufrágio, trouxe as imagens da cidade de Setúbal, Portugal. A Igreja de Nossa Senhora da Penha de Itapagipe de Baixo (Ribeira), então filiada à paróquia de Santo Antônio Além do Carmo, foi o local escolhido para abrigar as imagens. Inicialmente, a festa do Senhor do Bonfim era celebrada num domingo do Tempo da Páscoa, considerando-se que Jesus, o Senhor do Bonfim, ressuscitou, tendo um bom fim e levando-se em conta a data da chegada da imagem (18 de abril de 1745 – um domingo de Páscoa). Porém, durante alguns anos, a festa foi celebrada em datas diferentes: em 1761, celebrou-se em fevereiro, com o mesmo esplendor dos anos anteriores; 1763, no dia 8 de abril, com mais entusiasmo e fervor, pelas inúmeras graças alcançadas pelos fiéis; 1769, em 16 de maio; 1771, em 20 de janeiro com esplendor mais elevado. Como a região da Cidade Baixa, na época, era própria de veraneio, para que os veranistas tivessem alguma distração e motivação para permanecer no local, a partir de 1773, a festa foi transferida para janei-

ro, passando a acontecer, definitivamente, no segundo domingo depois do dia 6, dia de Reis. Em 1803, foi iniciado o Solene Novenário por sugestão do tesoureiro da Devoção, Sr. João Pires Gomes e a referida iniciativa foi aprovada pela mesa administrativa. Em 1804, o Papa Pio VII, por solicitação da Devoção do Senhor do Bonfim, concedeu o “Breve Apostólico” para que a festa continuasse sendo realizada no segundo domingo depois do dia de Reis, considerado pela Igreja como o dia do Santíssimo Nome de Jesus. Em janeiro de 1823, por motivo de calamidade pública, a imagem do Senhor do Bonfim saiu, pela primeira vez, da sua Basílica em solene procissão de penitência para a igreja de São Domingos, localizada no Terreiro de Jesus, em cuja sacristia foi exposta à veneração dos fiéis, sendo a festa celebrada na mesma igreja, no dia 19, com solenidade e devoção. Após a festa, a veneranda imagem do Senhor do Bonfim foi conduzida de volta ao seu templo em pomposa procissão, com acompanhamento das tropas e de uma multidão. Foto: Reprodução

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Fotos:Arquivo GOTH’s

Conheça a Arquidiocese Por Sara Gomes

Sob o olhar de Nossa Senhora

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consertos. Enfim, são sempre procurados pelos párocos e pela comunidade. Muitos participam, ainda, de outras pastorais, como a Pastoral do Dízimo, também de Encontro de Casais com Cristo; outros, são ministros extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística, e também temos membros que exercem o ministério do diaconato”, conta o coordenador arquidiocesano do GOTH’s, Leonildo Malta dos Santos. Além de rezar o Terço em honra a Nossa Senhora, alguns grupos vão mais além e levam a devoção à Mãe de Jesus até as famílias que ainda não a conheciam, ou que necessitam de oração. “Na Paróquia São Francisco de Assis, na Boca do Rio, por exemplo, os membros do GOTH’s rezam o Terço na Igreja e, duas ou três vezes na semana, nas casas. Já no Santuário Nossa Senhora da Conceição Aparecida, no Imbuí, o Terço é também recitado nas praças do bairro. Os homens, ao voltarem para a Igreja, levam as suas famílias. Os jovens também estão chegando”, conta Jailton Neiva. Foto: Sara Gomes

uplicar a intercessão e, ao mesmo tempo, tornar a devoção à Nossa Senhora ainda mais conhecida e amada. É com este desejo que, diariamente, inúmeros homens rezam o Terço e saem em busca de outros homens que também sintam, no coração, o chamado para viver no seio da Igreja, por meio da participação no Grupo de Oração Terço dos Homens (GOTH’s). Na Arquidiocese de Salvador, que abrange cinco municípios, o Terço, como o movimento é carinhosamente conhecido, já está presente em todas as paróquias e é formado por, aproximadamente, 12 mil homens. “A nossa missão é resgatar aquele homem que estava perdido, que saiu para conhecer o mundo, conheceu, viu que nem tudo era aquilo e, agora, está voltando para casa. Com isso, a Igreja está recebendo os homens que desejam ocupar os seus lugares na Igreja”, afirma o conselheiro Arquidiocesano do GOTH’s, Jailton da Silva Neiva. De fato, a presença do Terço dos Homens está cada vez mais forte, na oração e na vida concreta da Igreja. Na Arquidiocese de Salvador, seja na paróquia ou em eventos arquidiocesanos, eles estão sempre lá! Ajudam na organização, são responsáveis pela coleta e por orientar os fiéis em atividades de grande porte, como a Caminhada Penitencial e a procissão de Corpus Christi. Nas paróquias, eles estão inseridos nos mais diversos espaços. “Os membros dos Terço ajudam em obras sociais paroquiais, visitam asilos, colaboram com reformas,

Cordão devocional e manual do GOTH’s são entregues ao coordenador de cada grupo


Fotos:Arquivo GOTH’s

Uma das principais atividades do Terço dos Homens na Arquidiocese de Salvador é o Cenáculo Mariano. Em 2018, este evento reuniu mais de dois mil homens no Santuário Nossa Senhora de Fátima (Garcia).

Como começar o GOTH’s? Para implantar o GOTH’s na paróquia, o primeiro passo é entrar em contato com o pároco. Em seguida, os homens podem iniciar as reuniões para recitar o Terço, além de comunicar à coordenação arquidiocesana sobre o início de mais um grupo. Para uma melhor organização e conhecimento, a coordenação arquidiocesana ofertará, ao novo grupo, o Manual do Terço dos Homens e, depois de três meses de reuniões, o grupo será consagrado a Nossa Senhora. “Neste dia da consagração, nós levamos o cordão devocional, que será abençoado pelo pároco e utilizado pelo coordenador daquele grupo, além da oração e da cartilha”, diz Jailton. Para quem não sabe, o cordão devocional é a identificação do coordenador. Antes das Missas ou de qualquer reunião do Grupo de Oração Terço dos Homens, ele deve se dirigir até o Santíssimo Sacramento, colocar o cordão no pescoço e fazer a oração. Só então ele pode iniciar a reunião do grupo. “São três cores do cordão devocional: a vermelha identifica o coordenador arquidiocesano; a verde identifica o coordenador da Forania e a azul identifica o coordenador da paróquia”, explica Leonildo. A volta de muitos homens para a Igreja, através da recitação do Terço, é, também, o resgate de muitas famílias que se encontravam distantes. Os grupos, geralmente, são numerosos. No Imbuí, por exemplo, são 150 homens ativos rezando o Terço semanalmente. “O Terço dos Homens é um movimento patrocinado por Nossa Senhora, que busca resgatar os homens para o seio da Igreja e da família, para seguir os caminhos de Nosso Senhor Jesus Cristo”, afirma Leonildo. O Terço dos Homens é movimento ou pastoral? Para esclarecer esta dúvida, o GOTH’s preparou o seguinte manifesto: “Primeiramente, vamos esclarecer a diferença entre esses dois pontos. Pastoral – é um serviço ou ação organizada, promovida pela Igreja, tendo em vista atender uma carência vivida em determinada localidade, Igreja Particular ou Paróquia. Independente dos carismas, todos se juntam para essa ação continuada. Movimento – são pessoas que se identificam através de

um determinado carisma, vivendo uma espiritualidade própria, adquirida a partir de algum ‘encontro’ ou ‘formação espiritual e/ou catequética’; geralmente, atua dentro das Paróquias, podendo envolver membros de diversas pastorais. Como podemos perceber, por definição, o Terço dos Homens não pode ser uma Pastoral, pois não é um serviço voltado para atender uma necessidade, mas sim, um Movimento que une homens em torno da oração do Santo Terço, buscando inseri-los no contexto de sua paróquia, encaminhando-os, através dessa motivação, à santidade, pela participação e convivência diária em suas comunidades. O objetivo principal do Movimento é abrir as portas da Igreja para acomodar esses homens que, em um determinado momento de suas vidas, sentiram a necessidade de retornar à Casa do Pai e precisam de uma acolhida. São aqueles que se cansaram da aridez do mundo e vieram buscar fartas pastagens para aplacar a fome e a sede de seus pobres corações aflitos. O Terço dos Homens, portanto, deve sempre estar em comunhão com o pároco, como ovelhas obedientes ao pastor, sendo presença ativa nas ações litúrgicas e pastorais desenvolvidas pela comunidade para, assim, poder alimentar as almas mais tíbias. Por isso, os sacramentos, desde o Batismo, que nos introduz na família cristã, com a Eucaristia, nosso alimento supremo, e a Reconciliação, devem sempre ser buscados pelos membros do Movimento” (Texto retirado do Manifesto de Esclarecimento do GOTH’s da Arquidiocese de Salvador).

Saiba o que significam os elementos do brasão do GOTH’s 1. A coroa - Representa a realeza de CRISTO e de MARIA, Rei e Rainha de todos nós. 2. A cor amarelo-ouro - Cor da nobreza. 3. O formato de escudo - Aspecto masculino, para demonstrar que estamos atentos em defesa da fé. 4. O formato de uma ponta de lança (onde está escrito “GOTH’s, na parte de baixo) – indica a disposição de penetrar os corações endurecidos. 5. A Cruz em vermelho - Lembra o sacrifício de Jesus da Cruz. 6. As quatro rosas laterais - Fazem referência aos quatro Mistérios: Gozoso, Luminoso, Doloroso e Glorioso, que compõem o Rosário. 7. A cor branca - Lembra a Paz. 8. As cinco estrelas do escudo - Referem-se às cinco Contemplações de cada Mistério meditado sobre a vida de Nosso Senhor. Ano 02 | Nº 5 | Jan/2019 a Mar/2019

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Fotos: Sara Gomes

Nossas Igrejas Por Sara Gomes

Igrejas do Passo e da Palma estão com atividades a todo o vapor s Igrejas do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo e a de Nossa Senhora da Palma passaram, em 2018, a ficar sob os cuidados do Apostolado da Oração (AO) e da Fraternidade Samaritanos Beneditinos, respectivamente. Mas, o que isto significa? Significa que estes grupos presentes na Arquidiocese de Salvador serão responsáveis por zelar pelo templo e conservar e, ao mesmo tempo, dar início a trabalhos pastorais junto às comunidades dos entornos. Na Igreja do Passo, localizada no Centro Histórico de Salvador, o Apostolado da Oração deu início às atividades logo após a Missa, no dia 27 de outubro de 2018, presidida pelo Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger. A Celebração Eucarística, que reuniu representantes de 253 centros do AO presentes na Arquidiocese, marcou, oficialmente, a reinauguração do templo. A partir desta data, Missas, reuniões e encontros passaram a fazer parte do dia a dia dos fiéis que por ali passam. “O Coração de Jesus Sacramentado, presente na Divina Eucaristia, volta a ser adorado neste templo. Depois de quase 20 anos fechada, a Igreja do Passo reabre as suas portas para a realização de Santas Missas e ações litúrgicas, para que, como numa “escola da fé”, os fiéis voltem a acorrer a esta igreja para fazerem a sua experiência cristã”, afirma o capelão, padre Valson Sandes. De acordo com o sacerdote, “a Igreja do Passo volta a somar com a evangelização no Centro Histórico,

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Sede do Apostolado da Oração, a Igreja do Passo atrai fiéis e turistas que visitam o Centro Histórico de Salvador

sendo mais um atrativo sociocultural e religioso, não apenas para os turistas e visitantes que vem de longe, mas, sobretudo, para os moradores do local que, desde o primeiro instante, nos acolheram e vêm abraçando conosco esta árdua missão de ser uma Igreja discípula missionária, unidos ao Coração de Jesus, vivendo e crescendo em comunidade”, afirma padre Valson Sandes. Ser uma Igreja missionária e crescer em comunidade é o que também deseja a Fraternidade Samaritanos Beneditinos, responsável pela Igreja Nossa Senhora da Palma, localizada próximo ao bairro da Mouraria. Embora a Igreja já tenha o nome de Igreja Nossa Senhora da Palma, a comunidade passou a ser conhecida como Comunidade da Diaconia da Beleza, que é um movimento que já existe em Roma e que agrega restauradores, músicos e arquitetos para um trabalho de evangelização. “O nome dado para o movimento é Comunidade Diaconia da Beleza, pois convoca um trabalho inovador na nossa Igreja, que será todo voltado para o serviço e para a beleza, em que o Deus se revela na arte. Queremos, inclusive, convidar todos os


artistas, restauradores, arquitetos, museólogos, engenheiros e músicos para participarem desse movimento, onde todos terão um espaço de entretenimento, oração e ação”, afirma o Irmão Jorge Rocha, fundador e responsável pela Fraternidade. Segundo ele, no local será desenvolvido, ainda, um trabalho de gastronomia com os restaurantes e, também, com os jovens sobre educação e valorização patrimonial. Além disso, no convento, localizado ao lado da Igreja da Palma, já funciona um atelier de restauro. “A Igreja da Palma representa, para o povo baiano, um rico patrimônio, pois, no templo, estão as maiores obras do pintor Joaquim José da Rocha. É uma Igreja que guarda a história da passagem dos Agostinianos em nossa Arquidiocese e, também, uma Igreja que tem, ao seu redor, uma comunidade que espera todo um trabalho de envolvimento com ela. Para os fiéis da Arquidiocese, é um lugar de encontro pastoral, pela espiritualidade da Fraternidade que é Beneditina”, afirma o Irmão. Assim como a Igreja Santíssimo Sacramento da Rua do Passo, que foi recentemente restaurada, a Fraternidade Samaritanos Beneditinos já está realizando um levantamento para a elaboração de um projeto completo de restauração da Igreja Nossa Senhora da Palma. “Este projeto será apresentado ao IPHAN [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] para aprovação e posterior captação de recursos. Para que as pessoas possam colaborar e se tornar participantes deste projeto de restauração, foi aberta uma conta em nome da Associação Fraterna Samaritanos Beneditinos, no Banco Bradesco: Agência: 3072-4 Conta: 0072168-9. Isso, porque, segunda a Comissão de Bens Culturais da Arquidiocese, temos sempre que envolver a comunidade local”, conclui Irmão Jorge.

Ficou com vontade de visitar e de participar das Missas ou conhecer as Igrejas do Passo e da Palma? Confira os horários de funcionamento Igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo Aberta de segunda-feira a sábado, das 9h às 17h, para visitação turística. Missas: terças, quintas e sábados, às 17h; Missa devocional ao Sagrado Coração de Jesus sempre na primeira e na última sexta-feira de cada mês, às 9h. Reunião do Apostolado da Oração: última sexta-feira de cada mês, após a Missa das 9h. Igreja Nossa Senhora da Palma Devido à prioridade para o estudo e levantamento de dados para o projeto de restauração, que já está sendo desenvolvido, a Igreja da Palma conta com apenas uma Missa na semana: aos domingos, às 10h30.

Foto: Sara Gomes

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Igreja da Palma agora também é conhecida como Comunidade da Diaconia da Beleza


Fotos: Sara Gomes

Cultura Por Sara Gomes

Projeto Ballet Arte, em Coutos, ajuda a transformar vidas o bairro do Alto de Coutos, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, está localizado o Mosteiro do Salvador, onde vivem as monjas beneditinas. Esse mosteiro, que fica de frente para a linda Baía de Todos os Santos, vai além de um local marcado pela oração e pelo recolhimento: ele está com as portas abertas para a comunidade do entorno e oferece uma série de atividades para crianças e jovens. Uma destas atividades é o balé clássico, que visa resgatar, por meio da dança e da disciplina, a dignidade de meninos e meninas carentes. Conhecido como Projeto Ballet Arte, a iniciativa atende cerca de 200 pessoas. “O balé mexe muito com a autoestima dos estudantes e eles se transfor-

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O projeto atende meninos e meninas, a partir dos 8 anos, moradores do entorno do Mosteiro do Salvador 28

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“Eu gosto muito quando estou aqui, me sinto bem e gosto de tudo o que envolve a dança. O balé é algo a mais em minha vida!”, conta Manuele Vitória.

mam, realmente. O balé clássico é uma técnica plena de detalhes, que vão de um simples degagê [afastamento de um pé do outro], ao uso do chão, ao uso dos pés. É preciso que o aluno tenha vontade de aprender porque é uma técnica de recolocação fantástica. O balé é muito benéfico e nós estamos vendo, aqui, resultados que nos encantam”, afirma a professora de balé, Ana Cristina Ferraz. E encantam mesmo! A equipe da revista Primaz pôde acompanhar um pouco da aula, que dura cerca de uma hora. Já nos primeiros minutos foi possível ver a dedicação das meninas que estavam na sala. Exercícios variados na barra, no solo, repetições e o que todos gostam de ver: bailarinas na ponta dos pés. Um verdadeiro espetáculo, mas que, para elas, já faz parte do dia a dia. Dançar não é apenas divertido, mas também é muito favorável ao bem-estar físico e emocional de quem


dança, favorece a criatividade, a musicalidade e a coletividade. “Eu danço por paixão, porque eu gosto. Comecei aqui, no balé, aos 7 anos e, além de aprender as técnicas, tenho feito muitas amizades boas. O balé envolve muito a disciplina e a educação”, diz a estudante de balé, Tainá Sarmento, de 14 anos. Assim como Tainá, Ester dos Santos também começou aos 7 anos de idade. Atualmente com 19, ela já ensina o que aprendeu no balé de Coutos a outras meninas que sonham em ser bailarinas. “Aqui eu aprendi que o balé é muito importante para mim. Aprendi, também, que eu amo ensinar e é um prazer estar aqui todos os dias ensinando. Eu achava que eu não seria capaz de ajudar outas pessoas, mas, agora, eu estou aqui e eu amo o que faço”, afirma. O balé consiste em unir música, técnica e movimentos do corpo. São habilidades que exigem disciplina, postura e ritmo, e que são adquiridas aos poucos, através de exercícios e de repetição, o que ajuda a melhorar a concentração e a coordenação motora. “O balé disciplina bastante, os estudantes ficam com outro pensamento. O balé não é só para quem quer ser bailarino. Além de desenvolver toda esta parte artística musical, visual e disciplinar, ele ajuda a aprender a enfrentar a vida”, conta a professora Ana Cristina Ferraz.

Para a aluna Manuele Vitória Lima, de 16 anos, o balé é capaz de transformar vidas e sonhos em realidade. “Eu gosto muito quando estou aqui, me sinto bem e gosto de tudo o que envolve a dança. O balé é algo a mais em minha vida!”, diz.

Para participar das aulas de balé, a idade mínima exigida é de 8 anos e as crianças interessadas devem se dirigir até o Mosteiro do Salvador, a partir do dia 11 de março, acompanhadas dos pais e/ou responsáveis e estes devem levar RG e comprovante de residência. “Nós cobramos uma taxa simbólica, no valor de R$ 15, mas, quem não pode pagar, participa do mesmo jeito. A criança ou o jovem não vai deixar de dançar por causa da taxa. Aqui nós fazemos de tudo por eles”, afirma a professora. Para saber mais informações dobre o Projeto Ballet Arte, o interessado pode entrar em contato através do telefone (71) 3217-7742.

Foto: Sara Gomes

A cada aula, os estudantes vão aprendendo muito mais do que simples passos de balé Ano 02 | Nº 5 | Jan/2019 a Mar/2019

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Pensando bem

Organizado pelo seminarista Igor Gonçalves da Silva Escrito pelo seminarista Bruno Nascimento dos Santos

Seminário São João Maria Vianney

Uma história bicentenária na formação do clero baiano

m 2015, especificamente no dia 15 de agosto, o Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, presidiu, na Capela Central, a Solene Missa de Celebração do Bicentenário do Seminário Central São João Maria Vianney, a casa de formação que hoje abriga seminaristas de nove dioceses da Bahia. No local, misturam-se costumes, sotaques, tradições e culturas de Salvador, Ilhéus, Camaçari, Bom Jesus da Lapa, Itabuna, Jequié, Vitória da Conquista, Cruz das Almas e Alagoinhas. Mas essa história de 200 anos começou quando o Seminário São Dâmaso se instalou na Rua do Bispo, para as primeiras formações do clero baiano, em casa doada ao arcebispado pelo cônego José Telles de Menezes. Em termos de história, o Concílio de Trento (15451563) criou a instituição “Seminário” para que a formação dos sacerdotes se desse de modo mais pedagógico e disciplinar em diretrizes uniformes. Assim, de modo bastante tardio, tendo em vista que o Brasil nascia às vésperas do Concílio, e outros impedimentos legais, no ano de 1815, no dia 15 de agosto, o Secretário da Câmara Episcopal da Bahia, Feliciano Garcez Pinto Madureira lavrava o termo de abertura do Semi-

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nário São Dâmaso, sendo bispo de Salvador Dom Fr. Francisco de S. Damazo de Abreu Vieira. Dois dias depois, matriculam-se os cinco primeiros alunos do Seminário. Sobre ele, escreveu Dom Augusto Álvaro Cardeal da Silva, “Feitas as adaptações indispensáveis, conseguiu D. Francisco de S. Damaso, abrir ali, no dia 15 de agosto de 1815, o primeiro seminário propriamente tridentino da Bahia.” (p. 161) A sé primacial do Brasil, erigida em 1551, foi a quinta diocese brasileira a organizar seu seminário. Por razões da Revolução Republicana de 1817, o terror venceu e foi aconselhado o fechamento do Seminário, que aconteceu em 1819, durara apenas quatro anos. Este foi o passo primordial e efetivo da história do Seminário da Bahia. Posteriormente, os arcebispos desta Arquidiocese foram formando, cada um em sua contribuição singular, as regras para a vida e a admissão ao Seminário, emitindo cartas e regulamentos, para que a formação sacerdotal acontecesse segundo os critérios da Igreja. Assim segue o curso da história, e, cada vez mais, cresce o cuidado e a importância do Seminário da Bahia.


Dom Romualdo Seixas, em 1834, reinaugura o Seminário, agora funcionando no Convento da Palma, que tinha sido dos padres agostinianos, entretanto, ainda não era o lugar ideal, mas eram melhores instalações que o prédio da Rua do Bispo. Em 1837, o Convento da Palma é requisitado pelo governo e, num acordo, foi oferecido em troca o convento dos Teresios; ali o Seminário reiniciou seus trabalhos em 18 de abril de 1837 e seu primeiro reitor foi o Cônego José Maria de Lima. O desenvolvimento urbano nas proximidades e a antiguidade do Convento de Santa Teresa afetou a vida do seminário. Silêncio quebrado, prédios bastante próximos, abafamento. Ergue-se, novamente, a necessidade de uma transferência. Por mais de um século, funcionou naquele ambiente e, agora, pensava-se num ambiente mais adequado e favorável, cada dia ficava mais urgente essa necessidade. Em 1932, o Seminário da Bahia é elevado à dignidade de “Seminário Central”. No ano de 1940, sessenta seminaristas foram transferidos para a Casa de Férias, na Ilha de Itaparica, onde permaneceram por três anos, sendo forçados a retornar, por diversas causas, ao Seminário Santa Teresa. Em 1942, o papa Pio XII benzeu a pedra fundamental, sendo guardada até a construção do novo pré-

dio, que se deu mediante doação da Sra. Almerinda Catharino da Silva, no terreno da roça “Portão Preto”, na Federação, e, em 5 de março de 1949, foi lançada a pedra fundamental, no espaço onde hoje funciona a Universidade Católica do Salvador – Campus da Federação. Ali foram abrigados os seminaristas de 1954 até 1978. A Arquidiocese se mobilizou para arrecadar fundos em vista desse bem comum a toda Igreja de Salvador e, posteriormente, à Igreja de toda a Bahia. Em 1979, é inaugurada nova sede para o Seminário, que, por decreto de 21 de outubro de 1995, do Cardeal Arcebispo Dom Lucas Moreira Neves, passa a se chamar Seminário São João Maria Vianney, mas essa é uma outra parte dessa mesma história a ser contada mais para a frente. Como afirmam tantos bispos, “o Seminário é o coração de uma diocese”, é de onde pulsa o novo sangue para as veias da Igreja Particular, aqui se forma o novo Clero, que levará adiante a missão de anunciar Jesus Cristo e fazê-Lo conhecido e amado em todo mundo. Por isso, o cuidado que a nossa história registra em termos de formação e instrução passa por tantas dimensões. Pesquisa e citações retiradas de: COSTA E SILVA, Cândido. Seminário da Bahia 1815-2015: Documentos de sua história. Salvador: Edufba, 2017.

Foto: renasembahia.blogspot.com

Seminário Central São João Maria Vianney, casa de formação presbiteral Ano 02 | Nº 5 | Jan/2019 a Mar/2019

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Fotos: Reprodução

Viver Bem Por Catiane Leandro

Síndrome de Burnout: o excesso de trabalho afeta a saúde física e mental edicar-se ao trabalho na empresa em que desenvolve as funções, mas continuar com a mente trabalhando depois que o expediente é encerrado, quase num total de 24 horas por dia... Parece estranho, mas inúmeras pessoas estão vivendo neste ritmo. Só de pensar, já causa um certo cansaço, não é verdade? Imagine quando esta correria passa a fazer parte da rotina, causando, não apenas o cansaço físico e mental, mas o estresse fora do comum.

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A este estresse excessivo e crônico, instigado pela sobrecarga de trabalho, foi dado o nome de síndrome de burnout. O nome burnout vem da língua inglesa e significa “esgotamento”, fazendo alusão à exaustão física e mental sofrida por um profissional que excede seus limites de energia durante o período que exerce as atividades profissionais, fazendo com que, ao final do dia, não tenha mais energia para outras tarefas do seu cotidiano. Esta síndrome é mais comum em pessoas que se dedicam muito à vida profissional, e, quando não são devidamente reconhecidas pelo esforço realizado, sentem-se frustradas. Esses profissionais podem ser divididos em dois grupos, com características distintas: o primeiro trata-se de pessoas competitivas e que não delegam as funções, acumulando atividades e responsabilidades para si. O segundo é composto por indivíduos inseguros, 32

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A este estresse excessivo e crônico, instigado pela sobrecarga de trabalho, foi dado o nome de síndrome de burnout. O nome burnout vem da língua inglesa e significa “esgotamento”

que precisam de reconhecimento e têm dificuldades para dizer “não” aos pedidos feitos pela empresa, mesmo que fora do seu horário de trabalho, sendo capazes de abrir mão de suas próprias necessidades. “A Síndrome de Burnout apresenta três dimensões visíveis, que são o esgotamento emocional, a despersonalização e o sentimento de baixa realização profissional. Quando a gente fala em esgotamento emocional, este apresenta sintomas como perda de energia, esgotamento físico e psíquico, uma sensação de não aguentar mais; a pessoa se encontra incapacitada para dar algo de si


mesmo. É fácil relacionar esses sintomas até com a depressão, por isso, em um diagnóstico, é muito importante descartar uma possível depressão”, afirma a psicóloga Cariny Alves. Um profissional com a síndrome de Burnout pode apresentar diversos sintomas como: exaustão física e emocional, desânimo, ansiedade, dificuldade de sentir prazer na atividade que está realizando, se irritar com facilidade, dificuldade de raciocínio, preocupação em excesso, sentimento de incapacidade ou inferioridade, desmotivação, falta de criatividade e alteração do sono. Além destes, podem acontecer transtornos mentais como depressão e doenças físicas, a exemplo de dor de cabeça, enxaqueca, transpiração, fadiga, pressão alta, dores musculares, problemas gastrointestinais, alteração nos batimentos cardíacos entre outros. “O esgotamento traz uma abulia que é chamada de falta de vontade e iniciativa. Traz também uma anedonia que é a incapacidade de experimentar prazer, e uma apatia falta de motivação e entusiasmo toma conta da pessoa. A abulia por exemplo, essa falta de vontade no contexto profissional, relaciona-se ao trabalho realizado e a atividade se torna lenta, a pessoa chega muitas vezes atrasada

e passa a não dar conta das atividades que precisa realizar”, diz Cariny. A jornalista Ketlin Gerlani Pereira atuava como coordenadora comercial de uma empresa em Florianópolis, onde passou por diversas situações que afetaram sua saúde física e emocional, além do desempenho no trabalho. “Ficava constantemente doente, sem sintomas aparentes, sem vontade de trabalhar, com fadiga e transtornos no sono. Os médicos diziam que eu estava com estresse elevado, aumentando até minha pressão arterial”, afirma. De acordo com ela, os sintomas tiveram início com a sobrecarga de trabalho. “Pressão por parte do diretor, mas não a pressão em si, mas a forma que era cobrada. Eu fazia o trabalho e este não servia para nada, já que ele me mandava que eu fizesse determinada atividade e depois mandava refazer de maneira totalmente diferente”, conta. Mas, como prevenir? Para a prevenção da síndrome, os especialistas recomendam descansar adequadamente, manter o equilíbrio entre trabalho, lazer, família, vida social e atividades físicas, mudar atitudes, expectativas e

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hábitos de vida que estão relacionados aos fatores que agravam o quadro. Para quem não sabe, a Síndrome de Burnout é tratada com psicoterapia, mudanças nas condições de trabalho e, a depender do caso, podem ser incluído o uso de medicamentos, através do diagnóstico do médico psiquiatra, que é o especialista indicado para realizar o tratamento desta síndrome. “Eu sabia que, para melhorar minha saúde, precisava sair do emprego, pois já estava saturada e, mesmo se mudasse de cargo, não resolveria. Saí do emprego e me mudei para Salvador. Eu já vinha embora para a Bahia, mas o estresse do serviço adiantou o processo. E acabei fazendo acordo com a empresa”, conta Ketlin. A empresa não pode demitir um funcionário diagnosticado com a Síndrome de Burnout. Existe uma lei que assegura os direitos deste profissional:

“Considerando o aumento de afastamentos por doenças de ordem mental e com o objetivo de se reconhecer a Síndrome de Burnout, se pensou em um artigo que é conhecido como a síndrome do esgotamento mental, está descrita no decreto 3.048, do artigo 99 na lista B do anexo 2 do grupo IV que regulamenta a de benefícios previdenciários a lei 8.213-91 como acidente de trabalho”, afirma Cariny Alves. Quando o funcionário é diagnosticado com a síndrome, imediatamente deve levar um relatório médico à empresa que trabalha e, possivelmente, será afastado de suas atividades para tratar-se. O período de tratamento pode variar. No caso da empresa, caso possua o médico do trabalho, o funcionário deverá ser encaminhado. Em seguida, comprovada a Síndrome de Burnout, o profissional deve ser encaminhado ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

De acordo com a psicóloga Cariny Alves, as fases do diagnóstico são: 1ª fase - Ilusão e entusiasmo: quando o trabalhador está disposto a engolir o mundo, a transformá-lo e todos os pensamentos se voltam para o projeto. É o entusiasmo inicial, quando está disposto a passar por cima de tudo, inclusive de si mesmo, não respeitando seus limites. 2ª fase – Desilusão: onde as expectativas da primeira frase se confrontam com a realidade, a pessoa fica impaciente para conseguir terminar as atividades, e trabalha muito mais do que deveria, ultrapassando seus horários. 3ª fase – Frustração: quando aparece, pela primeira vez, o desespero, a irritabilidade e a perda de entusiasmo, levando a pessoa à perda de confiança de suas capacidades. É uma fase bem decisiva de frustração. 4ª fase – Desespero: onde tudo parece estar perdido, a síndrome se manifesta com sintomas relacionado ao isolamento, solidão, angústia.

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Breve registro

24 novos diáconos Permanentes para a Arquidiocese de Salvador!

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ano de 2018 foi especial para a Arquidiocese de Salvador. Nos meses de novembro (dias 10 e 17) e de dezembro (dia 1º), o Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, ordenou 24 novos diáconos permanentes para esta Igreja Particular.

No dia 10 de novembro, na Catedral Basílica do Salvador, foram ordenados para o serviço diaconal: Aristóteles Farias dos Santos, Edcarlos de Souza, Eduardo Jorge Oliveira, Eduardo Souza Seixas, Hélio de Oliveira Santos Pereira, Joaquim Nobre Chagas, Manoel de Almeida Guedes, Marcos José Santos Soares, Mário da Silva Martins e Valter Cardoso de Matos.

Fotos: Sara Gomes

Receberam, no dia 17 de novembro, a Ordenação Diaconal: Adilson Bonfim Souza Aquino, Carlos Alberto Góis de Souza, Derivaldo Cavalcante Ramos, Edélio Evandro dos Anjos, Edson França, Genaro dos Anjos Azevedo, Hélio Gomes Silva, Joelson Pomponet de Andrade, Joselito Conceição Bispo, Sérgio Roberto Duarte de Assumpção e Sílvio Gomes Ferreira. A Celebração Eucarística aconteceu na Catedral Basílica do Salvador.

O Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, conferiu, no dia 1º de dezembro, o ministério do diaconato permanente a Luciano Almeida, Luciano Barbosa e Minervaldo Sousa, todos paroquianos da Paróquia São Francisco de Assis, na Boca do Rio, local onde aconteceu a Celebração Eucarística.

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