Nei Silveira de Almeida - Mosaico

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NEI SILVEIRA DE ALMEIDA

MOSAICO

A TRAJETÓRIA DE UM SONHADOR PELOS CAMINHOS DA VIDA ATRAVÉS DE SEUS PENSAMENTOS, SUA POESIA, SUAS CRÔNICAS, SUA VISÃO CRÍTICA E SUA FACETA PITORESCA, TRAÇANDO A SUA FILOSOFIA DE VIDA, AO QUE ELE CHAMA, EM FORMA DE UM MOSAICO


BIOGRAFIA Homem, muitas vezes um menino. Alguém comum que valorizou o aprender, e que sabe que muito pouco sabe e ainda tem muito por aprender. Sonhador, mas consciente da realidade, buscou realizar os sonhos sem se deixar afogar nos mesmos, e que nem todos pode alcançar, mas muito gratificou-se ao persegui-los. Nunca encontrou todas as respostas, mas convenceu-se que ninguém mais além do Criador as tem. Pertenceu à geração que mais transformações presenciou o mundo passar, sejam as tecnológicas, as sociais e as políticas. A denominada “geração dourada”, conhecida também como a geração dos anos 60, a década que começou em 1958 e terminou em 1972. Inimigo de qualquer tipo de discriminação, averso à covardia e à mediocridade. Entre seus valores destaca-se a liberdade. Não se rende a nenhum tipo de pressão ou articulação. Não permite invasões e supressões de qualquer natureza do seu espaço, do seu íntimo, da sua propriedade ou da sua liberdade. Grita, esperneia e luta. Sonhou, ainda menino, em ser jornalista e escritor. Entretanto, as circunstâncias o conduziram para uma outra trajetória. O jornalista não conseguiu ser, mas em 2007, aos 59 anos editou seu primeiro livro: O AMOR QUE FICOU, e agora lança simultaneamente O ELO PERDIDO E MOSAICO. Nacionalista por excelência, ama seu Brasil como poucos e tem como bandeira fazer da EDUCAÇÃO o instrumento para transformá-lo em um país de primeiro mundo, pois sabe que o país tem tudo e todas as condições para tal, e o que falta unicamente é construir um cidadão brasileiro compatível com todas as outras riquezas que possui. Bem, Nei Silveira de Almeida, 64 anos, é natural de Santos Dumont/MG, cursou escola técnica de mecânica e faculdade de ciências econômicas. É aposentado, casado pela segunda vez e mora em Belo Horizonte/MG. Plantou uma árvore, aos 5 anos de idade, no jardim da escola Instituto Santos Anjos, em Juiz de Fora/MG; teve duas filhas, aos 25 e 31 anos; escreveu seu primeiro livro aos 54 anos, editou-o aos 59 anos. Continua atual, nada mudou de lá pra cá. O AUTOR

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MOSAICO

DEDICATÓRIA: Dedico esse livro aos meus pais: Ivan Ferreira Alves de Almeida (25/06/1922 - 25/07/1992) e Maria Beatriz Silveira de Almeida (29/07/1923 - 27/12/2004) Aqueles que deram-me a vida, ensinaram-me os primeiros passos e assentaram os primeiros tijolos da edificação da minha estrutura de valores

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MOSAICO

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ÍNDICE PARTE 1

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DESCRITIVO INTRODUÇÃO TEXTOS, POESIAS E PENSAMENTOS ODE À VIDA OBRIGADO, LIVROS! ORAÇÃO DEUS CLONE ABRACE A VIDA VIDA FELICIDADE FELIOCIDADOTERAPIA SAUDADE MUDANÇAS DA EVOLUÇAÕ À INVOLUÇÃO PALAVRAS CONSCIÊNCIA E LOUCURA UMA QUESTÃO DE ATITUDE SOLIDARIEDADE MEDO HUMANO SOLIDÃO QUE MUNDO É ESTE? A MARCA DE CADA UM MÃE EVOLUÇÃO EU SOU FELIZ CAMINHADA EU SOU CHORÃO OS MISTÉRIOS DA VIDA A LONGA ESTRADA DA VIDA A LEI DO RETORNO JAMAIS NEGUE UMA ESPERANÇA O DINHEIRO E EU ESTÍMULO MUNDO NOVO: UM SONHO IMPOSSÍVEL CRISES BOM DIA! MEUS PENSAMENTOS E REFLEXÕES CONFESSIONÁRIO VARAIS CONFESSO QUE JÁ FUI TROCADO POR UM

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CACHORRO O JAPONÊS O HOMEM E O CÃO O PORRE AS CARTAS DE MARÍLIA TIO JOSENILDO A FESTA MINEIRÃO O PROFESSOR E SUAS PIADAS MEU PRIMEIRO DIA DE FACULDADE VEXAME LEGIÃO DA BOA VONTADE PAPAI NOEL A CARTEIRADA AS PRIMEIRAS FLORES EU FIZ, NÃO SEI COMO, MAS FIZ A VINGANÇA NO SUPERMERCADO PECADOR-MOR A PROFESSORA DE FRANCÊS O DIA EM QUE COLOQUEI UM CAVALO NO ELEVADOR JABUTICABA RUBENS PALHAÇO O MOTORISTA RANZINZA HOMEM OU RATO TELEMARKETING O ANIVERSÁRIO DA DÉBORA DIA DOS NAMORADOS A MALDADE DA VOVÓ SOLIDARIEDADE TIO PEDRO O AQUÁRIO DA LAILA CHAPARRAL A SERENATA A PELADONA NÃO TEM PREÇO EMPRESTIMOS TULIUS DETRITUS O TÊNIS NIKE JOSÉ LUIZ BIAS FORTES O SEGREDO DE NEUZA O MEU MODO DE SER RÓTULOS

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UMA GRANDE LIÇÃO MINHA FILHA POR ADOÇÃO DO CORAÇÃO: FABIANA A VERDADEIRA BELEZA SOLIDARIEDADE ii FILOSOFIA DE VIDA “UMA CONVIVÊNCIA DE RESPEITO E CARINHO” CONCLUSÃO BELEZA INDESTRUTÍVEL COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA

(*) VERSO DA CONTRA CAPA (**) CONTRA CAPA

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INTRODUÇÃO

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INTRODUÇÃO Uma vida é muito mais que a contagem cronológica dos anos. É a reunião de fatos ocorridos, conhecimentos adquiridos, experiências colhidas, emoções vividas, alegrias contidas, tristezas passadas, dificuldades encontradas, batalhas vencidas, vitórias conquistadas, ideais realizados. É o acúmulo de momentos, passagens, etapas e caminhos percorridos. A descrição de uma vida pode ser feita através de uma autobiografia, enumerando evolutivamente as etapas constituídas, enriquecida por narrativas referentes ao avanço de cada uma delas. Contudo, eu resolvi falar sobre a minha vida de forma diferente, considerando que ela se constituiu de uma tela que foi se desenhando ao seu longo, criando formas e,hoje eu a vejo como um belo e majestoso MOSAICO. Fiz vários registros através de textos, poemas, narrativas e pensamentos reflexivos. Sim, plantei uma árvore, tive duas filhas (Renata e Maura) e escrevi um livro. Neste livro abracei uma bandeira, que é lutar pela adoção de um novo modelo educacional para o País. Tenho o meu lado pitoresco, fruto da minha alegria, de meu modo moleque de ser, e também o meu lado emocional, minha estrutura de valores e a minha filosofia de vida, que em dado momento transcrevi através de confissões feitas nos tópicos CONFESSIONÁRIO das comunidades PEQUENO PRÍNCIPE e CATIVAR no Orkut(Internet). Bem, resolvi reunir todos esses registros, que nada mais refletem o desenrolar da minha vida, neste livro que intitulei MOSAICO, onde ficará eternamente registrada a minha passagem por esse vasto e maravilhoso mundo, assim como a minha essência, através do homem que ousou sonhar e viver com intensidade e do cidadão que sonha muito mais ainda. Juntar todas as partes deste livro forma o MOSAICO que a vida desenhou em torno da trajetória da minha existência

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PARTE 1 TEXTOS, POESIAS E PENSAMENTOS

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Ode à Vida

Que vida maravilhosa eu tive até então! Quantas emoções, quanto encantamento, quantas realizações! Que infância gostosa eu tive, que adolescência espetacular, que mocidade feliz! Que vida saudável, que momentos sublimes, que instantes mágicos! Quantos sonhos pude sonhar, objetivos traçar, ideais aspirar, e tantos pude concretizar! Que maravilha de vida! Eu pude ver a beleza das cores, ouvir os acordes melodiosos da música, milhares de aroma sentir, sabores degustar e deliciar meu paladar! E as flores que pude ver, a aurora e o entardecer? O cair da noite, o brilho cintilante das estrelas, a luz inebriante da lua, tantas e quantas vezes eu pude ver! Tantas vezes contemplei a beleza do mar, ouvi o barulho das ondas, admirei o azul do céu, os desenhos das nuvens, a imponência das montanhas, e quantas vezes senti o meu rosto a carícia da brisa, os respingos da chuva e o calor gostoso do sol! Por quantos caminhos andei, tantos belos lugares conheci, quantas alegrias senti! Quantos ensinamentos recebi, o quanto aprendi! Quantos livros eu li, quantas poesias, foram tantos os poemas, tantas orações, tantas canções! Quanta gente maravilhosa eu pude conhecer e com quantas tive a felicidade de conviver! Quanta gente bonita, quantas mãos dadas, quantos braços e quantos abraços! Quantas e tantas vezes eu pude dar o meu riso, o meu sorriso e a minha alegria levar! Quantos amores eu tive! Ah! Quanto amei, me regalei, me lambuzei, me afoguei de tanto amar! Quantos beijos, quantos carinhos, carícias, afetos pude dar e receber! Que beleza de vida eu tenho podido viver, quantos momentos marcantes, edificantes, gratificantes! Ah! Que vida exuberante eu tenho vivido, e que compromisso gostoso, que missão sublime eu tenho: ser feliz, amar e eternamente viver!

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Obrigado, livros

Obrigado, livros! Obrigado, literatura! Meu muito obrigado, velhos e novos escritores por todos os ensinamentos e por tudo que acrescentaram à minha vida. Meus agradecimentos ao meu pai e aos meus professores, meus mestres que me motivaram à leitura. Obrigado, livros! Através de vocês encontrei a mais saudável forma de lazer da minha vida, exercitei constantemente o meu cérebro, desenvolvi meu raciocínio, acumulei conhecimentos preciosos, recebi importantes informações, conheci a história do meu país e do mundo, aprendi sobre os sentimentos e o amor, conheci melhor o ser humano, ganhei o estímulo às artes, aprendi a gostar de todas as matérias curriculares de ensino e construí minha estrutura de valores. Foram viagens fantásticas mundo afora, visitas indescritíveis ao túnel do tempo, idas e vindas ao passado a ao futuro, trajetórias inenarráveis ao universo dos sonhos, passeios entre as nuvens e caminhadas por diversas galáxias. Quantos personagens transitaram por minha mente, os históricos, os fictícios, os sábios, os divertidos, os filosóficos, os sensíveis, os admiráveis. Sobre os livros chorei de emoção, sorri de satisfação, experimentei todas as formas de sentimentos, cavalguei pelos vastos e infinitos campos do saber. Por intermédio deles estabeleci as mais íntimas e puras relações com os poetas e suas poesias, vaguei apaixonadamente pela imensidão do pensamento que expressa inigualavelmente a essência do ser e a infinitude que se situa, na mais inquestionável e maravilhosa manifestação de liberdade existente. E foram eles que me abriram as portas, estenderam meus horizontes e me ensinaram a distinguir as certezas das incertezas, os enganos dos desenganos, o bem do mal, a luz da escuridão. Obrigado literatura, por haver me dado o meu maior tesouro, minha maior riqueza, que alguém jamais poderá tirar. Uma fortuna inesgotável, que quanto mais acumulo mais leve fico, que me ajudou a transpor as barreiras do tempo sem me fazer perder e que fez de mim um homem sem fronteiras.

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Oração Senhor, não quero Vos pedir riquezas, mas agradecer a capacidade que me destes para conquistá-las. Não quero Vos pedir saúde, mas agradecer por me ter feito assim nascer e me concedendo a oportunidade de saber preservá-la. Não quero Vos pedir a felicidade, mas agradecer por me ofertares condições de a ela me conduzir por minha livre escolha. Não Vos peço piedade, pois me deste livre arbítrio e por meu atos e atitudes terei de responder. Obrigado, Senhor, pelas minhas aflições, agonias, tristezas e dificuldades; pois através delas me levando a expiar meus atos e me conduzindo à sabedoria.

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Deus Engana-se aquele que pensa que Deus é um coordenador de nossas vidas e que apenas d`Ele depende nossa felicidade, e simplesmente basta pedir a Ele tudo aquilo que precisamos ou necessitamos, como também ficarLhe atribuindo as razões de nossos infortúnios ou, então, a Ele ficar implorando livrar-nos de nossas vicissitudes. Quando nos deu a graça de viver e o livre arbítrio, certamente, Ele esperava que soubéssemos nos conduzir pela vida afora, competindo a nós mesmos a escolha de nossos próprios caminhos e a tomada de decisão nos momentos de dificuldades. Recorrer a Ele deveria ser uma prática apenas quando necessitássemos de fé, coragem e lucidez, diante das questões mais delicadas, sobretudo, nos momentos que precisássemos agir com amor, respeito, isenção e justiça. Precisamos entender que ir até Ele é uma oportunidade constantemente presente em nossas vidas, através de atitudes cristãs, respeito e amor ao próximo, solidariedade aos menos favorecidos e, principalmente, para agradecer tudo o que nos propiciou ao conceder-nos o dom da vida.

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Clone Como o homem pode querer imitar o criador? Só faltava essa, o homem querer ser Deus! Ora, se Deus determinou que o processo natural da espécie fosse o responsável para dar ao mundo uma heterogeneidade inquestionavelmente equilibrada, como pode um mísero ser humano pretender romper essa cadeia e instalar padrões rígidos que dariam ao mundo um exército de robôs? A natureza determina um encanto no processo de evolução da espécie que o homem ousa querer interromper de forma irresponsável, e tão imperfeito é o homem que acabaria por programar o pior dele mesmo. Imagine o mundo sem graça, sem magia e sem colorido. Seria tudo absolutamente tão igual, tão amorfo, tão rotineiro, que o mundo sucumbiria desastrosamente muito mais rapidamente que se possa supor, e se a ciência acredita que isso é evolução, está muito enganada, essa é uma das mais avassaladoras marcha-rés da história do mundo científico e da humanidade. Copiar nunca foi arte ou ciência, a essência é a criação, e foi a genialidade da criatividade que trouxe progresso e evolução ao mundo. Deveria o homem manter-se na missão que lhe foi confiada e buscar através da ciência meios de sobrevivência dignos, erradicação de epidemias soluções para cura de doenças, disseminação do amor entre a humanidade e a promoção da paz. Se pudesse clonar a felicidade, ai sim, valeria a pena!

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Abrace a vida Abra seus braços para a vida. Abrace-a com entusiasmo. Guarde do passado as lições aprendidas e tudo aquilo que valeu a pena ter vivido. Viva intensamente o presente, saboreie-o, deguste-o, sem se descuidar do futuro. Não dê ouvidos quando lhe disserem não se preocupar com ele. Vislumbre-o, trace-o, planeje-o, pois é lá que vai ter que viver novos dias. Jamais prolongue e curta tristezas, seu corpo é um arquivo, os registros ficam entranhados e interferem no seu metabolismo. Quando negativos inibem a produção de substâncias essenciais ao funcionamento do organismo e aceleram a produção de substâncias degenerativas, ocasionando o desequilíbrio imunológico. Ria, ame, registre no arquivo de seu corpo os agentes estimuladores do bem-estar. Sinta as alegrias, viva as emoções. Não seja cínico no amor. Algumas pessoas podem brincar e menosprezar os seus sentimentos, mas não o faça com os sentimentos alheios, só se perde aquilo que vale a pena ter perdido, como só se ganha o merecido. Lembre-se sempre que corações não se ganham de presente, corações são conquistados. Quando pensar que sabe tudo, acredite que não sabe nada, você aprenderá muito com isso. Chore as tristezas, as lágrimas expulsam as dores do corpo e da mente, lava a alma. Chore as alegrias, é a maneira mais sublime de se viver intensamente as grandes emoções. Seja, não pareça! Viva, não passe apenas pela vida! Ame, não finja afeto! Viva a vida, ela é toda sua!

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Vida A vida é uma viagem só de ida, à cuja linha de partida é impossível voltar.

È uma jornada empreendida, e mesmo que seja doída ao seu fim ninguém que chegar.

Pode ser dolorida, sofrida ou de alegrias contida, depende do jeito de caminhar.

A vida é uma viagem só de ida. em que a passagem adquirida não diz pra que lugar.

Seu tempo não tem medida, e cada falha cometida não tem como consertar.

Há quem diga que é comprida, outros, curta e corrida, é difícil precisar.

A vida é uma viagem só de ida que pra ser bem sucedida é preciso saber viajar.

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Felicidade Ah, felicidade! Essa tal felicidade, tão decantada felicidade! Tão almejada, sonhada, perseguida essa tal felicidade! Alvo de tantos planos, projetos, jornadas. Toda uma vida em sua busca sem saber que apenas desejá-la é o suficiente para encontrá-la. É isso aí! Ela está ali bem no ponto de partida, e querê-la, ambicioná-la, já é ser feliz. Só se descobre isso depois de uma longa empreitada e pode-se até mesmo morrer triste, magoado e frustrado, sem se saber que foi feliz. A felicidade é generosa, muito mais determinada que a gente, muito mais desejada da gente que a gente própria dela. A gente se agarra, logo ali bem no início da jornada e caminha, com a gente o tempo todo nos mostrando insistentemente que ela não é um ponto a ser atingido, mas uma maneira de se conduzir ao seu encontro. Assim se deu comigo. Lançou-se ao meu pescoço tão logo a aspirei, ali mesmo quando tracei meus planos de alcançá-la. Instalou-se, agarrou-se por mim todo pra nunca mais me abandonar, e no meu longo trajeto caminhou lado à lado, sem jamais se afastar. Esteve junto a mim, em meus melhores e piores dias, assistiu a todas as minhas lágrimas, me consolou em todos os meus erros, me aplaudiu em todos os meus acertos e participou de todas as lições que a vida me deu. Colocou-me ao colo quando precisei, acariciou meus cabelos e embalou os meus sonos nos momentos em que cansado, sofrido e prostrado, adormeci. Mostrou-me com propriedade que sua grandeza muitas vezes está contida em pequenos momentos, nas coisas mais simples e até mesmo nos intervalos das vicissitudes. São fragmentos que aglomerados fazem das pequenas alegrias os maiores e melhores encantos do nosso viver. Esteve em mim o tempo todo, me abraçou, de mim apoderou-se e nunca mais me deixou. Choramos juntos, rimos juntos e juntos caminhamos lado a lado, brindando efusivamente cada êxito, sucesso e sonho alcançado, e mesmo aqueles não realizados. Hoje aos 56 anos de idade posso dizer com certeza que foram as melhores e mais felizes 56 anos de minha vida, agarrado, atado e atrelado a essa tal felicidade!

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Felicidadoterapia Conheço muitas definições e conceituações de felicidade, mas uma que admiro muito diz que: “felicidade não é uma estação aonde se chega, mas uma maneira de se viajar”. Contudo, não existe uma receita a ser seguida, já que cada pessoa é diferente da outra, cada uma tem uma forma muito particular de ser feliz. Alguém já disse que “a constante busca da felicidade já é uma forma de ser feliz”, mas muitos vão discordar disso, polêmicas em torno do assunto vão ser sempre uma tônica e com certeza jamais se chegará a um consenso. Eu sou feliz, mas como explicar isso, nem mesmo eu sei. O que me basta é que encontrei uma forma e uma razão para ser feliz. Acho que pratico a Felicidadoterapia. Por exemplo: se eu estou na escuridão, ao invés de ficar assustado ou me render às limitações que ela me imputa, procuro descobrir o que de bom ela me oferece naquele momento. Faço um exercício para testar a minha capacidade de viver no escuro ou, quem sabe aproveito a pausa para relaxar. Caso venha uma doença, procuro não ficar doente, busco tratar do físico e também do emocional, analisando se não é daí a razão do meu físico haver se fragilizado abrindo as portas para o mal. Penso que a doença está em mim, mas não estou doente e procuro tirá-la simplesmente de mim sem assumi-la como parte integrante do meu eu. Ao sofrer uma perda não me agarro a ela tornando-me igualmente perdido, dou um passo à frente em busca de algo maior e melhor. Busco nas vicissitudes as melhores lições e o aprendizado, e procuro guardar na lembrança apenas alegrias. Quando rio, é com vontade; quando amo, é com entrega total; quando escuto música, canto junto; vivo, é com muita alegria.

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Saudade Saudade tão dolorida, vive a me machucar. Vai ficar na minha vida enquanto você não voltar Você se foi, ela chegou, se instalou em meu viver e, tampouco se importou em assim me fazer sofrer. Porém, ela sabe a verdade, que guardo lembranças suas, e até mesmo que mais tarde não poderei viver com as duas. À vezes ela finge que chora, tentando me enganar, pois vai ter que ir embora quando você regressar!

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Mudanças Nada poderá se transformar se alguma ação não for tomada. As mudanças exigem decisões, e se necessárias, decisões não podem ser simplesmente achadas. Se alguma coisa não funciona, é preciso analisar as causas, identificar os problemas e proceder-se os consertos. Esperar muito tempo é correr o risco de problemas se agravarem, tornarem-se mais difíceis. Vacilar produz efeitos contrários e negativos. É preciso, antes de tudo, entender que não existem problemas sem solução, e muitas vezes que a solução de nossos problemas pode estar em proceder mudanças em nós mesmos.

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Da Involução à Evolução

Enganam-se aqueles que acreditam que o homem tem um processo de evolução uniformemente gradativo desde o seu nascimento até alcançar faixas etárias mais elevadas, como 50, 60, 70 anos e assim por diante. Nada disso, o que acontece realmente é um processo de involução a partir do seu primeiro dia de vida e que atinge os seus mais baixos níveis em um momento mediano de sua existência e passa a ter um desenvolvimento evolutivo quando adquiriu a razão. E é muito difícil explicar isso. Enquanto bebê, o ser humano possui uma qualidade das mais expressivas, que é a pureza; para os encantos denominada ingenuidade. E nessa pureza, nessa inocência, ele é sábio, pois mesmo sem falar ele descobre meios de se comunicar inteligentemente, com a virtude de ser claro, franco e honesto na exposição de seus propósitos. Se ele acha que é feio, ele demonstra que é feio. Se ele acha que é ruim e desagradável, ele assim o evidencia. Rapidamente aprende a andar e falar, e passa a descobrir o mundo em sua volta utilizando suas principais ferramentas: a gustação, a audição, a visão, o olfato e o tato, e em uma velocidade assustadora começa a desenvolver com agilidade o sentido da percepção. Contudo, até então, ele é parte de uma pequena comunidade chamada família, de poucos membros, onde mesmo não sendo a autoridade constituída, é o reizinho, o centro das atenções. Nas descobertas que faz, por conta própria, começa a se deparar com as dificuldades, e como já sabe falar, começa a perguntar, sucessivamente: “o que”, “quem”, por quê? Daí em diante começa a receber informações decodificadas que passam a compor seu pequeno universo de conhecimentos e, sucessivamente, a fazer uso do raciocínio, da inteligência que lhe é nata. Passe a observar melhor as crianças. Como são puras, honestas, justas e, maravilhosamente dignas. Descubra a franqueza em seus olhares, perceba o brilho intenso de seus olhos. Deleite-se com a sua sabedoria fundamentada na lógica, pautada no concreto, de forma tão cristalina. Saboreie a docilidade, extasie-se com seus movimentos tão nitidamente harmoniosos e se deixe contagiar apaixonadamente pela melodia de seus risinhos e a incontida alegria que manifestam com tanta espontaneidade. Esse é o ápice, o momento maior, a verdade mais crua e nua da vida de um ser humano. Infelizmente, daí a involução. Ela adentra-se a uma comunidade maior, inserindo-se em uma parcela mais significativa da sociedade. É quando vai à escola e inicia o processo de socialização. Começa a ter contato com a maldade, a malícia, a mentira, a perversidade, e passa a conhecer adversidades, confrontos e disputas. À medida que o tempo vai passando e acumulando conhecimentos, seu grau de involução vai crescendo mais e mais, iludindo-se em acreditar que conhecer é saber. Logicamente que, alguns envolvem mais que outros e descem degraus mais profundos. E vêm as fases da adolescência onde as disputas começam a ser mais acirradas e o desenvolvimento de sentimentos negativos crescem aceleradamente como o

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ódio, a incompreensão, a inveja e tantos outros mais. Chega à fase adulta, o momento da profissionalização, das relações afetivas e do convívio social em toda sua amplitude. Eclodem os conflitos, as relações de poder, seja o profissional, o social, o aquisitivo. È o fundo do poço, é o momento em que o homem encontra-se no seu mais baixo patamar. Depois de viver intensamente, acumular conhecimentos, adquirir experiências, aí sim, começa a crescer, a evoluir. É quando descobre o uso do conhecimento de forma racional e passa a buscar o equilíbrio emocional alcançando, finalmente, a maturidade. O homem volta novamente a ser puro, honesto, sincero e digno. Por isso, muitas das vezes, os idosos parecem ser crianças e muito se fala que estão se comportando como tal. Volta a ser sábio, agora com o enriquecimento do conhecimento. Retorna ao ponto culminante que um dia já habitara e se perdera, mas regressa carregando uma bagagem preciosa. Readquire o brilho no olhar. Perceba-o ao cruzar com ele nas ruas. Preste atenção como é bonito, como é apaixonante, como Preste atenção como é bonito, como é apaixonante, como é singelo! Como é imenso!

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Palavras São ecos dos pensamentos, que passeiam pelos ventos até aos ouvidos entrar. Percorrem todo o corpo, transitam o infinito da alma e terminam no coração. Se são brandas, premiam; se duras, castigam, ferem mais que os espinhos e fazem do coração pedacinhos difíceis de remontar.

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Consciência e Loucura O que coloca o mundo de pernas pro ar não é a loucura, é a consciência. Se formos rever as grandes mazelas da humanidade haveremos de nos deparar com o antagônico, já que todas elas se iniciaram em nome da consciência. E, quantos não foram rotulados, a princípio, de loucura os grandes feitos da humanidade? Quantos conscientes promoveram as guerras, as devastações, os genocídios, a miséria e a fome? E, quantos não foram os loucos que nos deram obras de artes maravilhosas, engenhos fantásticos e desenvolvimentos tecnológicos que mudaram para melhor os rumos do mundo? Passe a refletir melhor e veja se a sua consciência não está virando a sua vida de cabeça pra baixo. Observe com atenção se aquilo que você estava chamando de loucura, não era o mais sensato que tinha de fazer.

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Uma Questão de Atitude É tudo uma questão de ponto de vista e, mais ainda, de atitude. Comigo se deu assim, bem ali no começo desta caminhada chamada vida. Não foi muito difícil descobrir que para vencer o medo bastava apenas ter coragem, que para não ser dominado pela insônia era suficiente dormir. Desta forma, me convenci que para não estar longe simplesmente deveria estar por perto e para não amargar saudades jamais deveria me ausentar ou deixar alguém partir. Para fugir da escuridão, trilhar caminhos iluminados; para não sentir as dores, evitar o sofrimento; para não me abater pelas doenças, jamais ficar doente. E as tristezas? Bastara apenas viver com alegria. Para não ter problemas, perseguir as soluções; para não viver em desespero, jamais me abalar diante das vicissitudes. E a solidão? Para não conhecê-la, conquistar pessoas; para não fazer inimigos, cultivar cada vez mais as boas e sinceras amizades; e, para não ter um coração solitário, amar, sempre amar com devoção; para não ter inquietudes, jamais guardar mágoas, rancores e ressentimentos. E, para não envelhecer, aceitar com serenidade o conselho dos anos, tornando-os um agente de elevação e não um pesado fardo às costas. Enfim, para não temer a morte, entender que ela é apenas um dos inúmeros momentos da vida.

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Solidariedade Repentinamente o mundo desaba sob os pés. É o caos. _ Como isso foi acontecer? E agora, o que fazer? O quadro está formado. Uma situação difícil, complicada. Apreensões e preocupações. Pronto, basta! Já é o suficiente para todo mundo se afastar, portas se fecharem e rostos de virarem. _ “Problemas, eu? Bastam os meus!” Percebe-se nitidamente gente mudando de calçada, e até mesmo a incrível situação de se cruzarem lado a lado e um fingir que não viu o outro, olhando fixamente a um ponto ao horizonte. _ !Ah! “As atribulações da vida.” _ “Sabe como é essa falta de tempo.” _” Com licença, estou atrasado. Outra hora nos falamos. Vê se não some, viu?” Onde anda a solidariedade? Onde anda a mão amiga, o braço fraterno? Assiste-se ao cúmulo de ver gente caindo no meio da rua e os transeuntes continuarem seu trajeto, impassivelmente, como se nada houvesse acontecido. Lágrimas nos olhos? _ “ Emotividade besta e exagerada!” Apelos? _ “Isso é coisa de oportunista explorador!” _”Nossa como é cansativo ficar ouvindo lamúrias.” _”Não tem outro assunto, só fala disso!” _”Credo, que negativismo! Isso pega, é melhor se afastar de coisas negativas, a gente acaba atraindo desgraças!” Só se vai dar conta da realidade o dia em que aco9ntecer contigo próprio. Aí, vai se sentir na pele a dor dos descaso, da ironia e o desespero de se sentir sozinho. _”Puxa, quanta gente ingrata! Que falta de solidariedade!” E até mesmo se esquece de quantas vezes virou as costas, fechou as portas e mudou de calçada.

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Medo Humano È plenamente perceptível como a cada momento que se passa, os seres humanos aumentam aceleradamente o medo que sentem um do outro. Pode se observar nas ruas, quando alguém se aproxima de outro alguém desconhecido, as reações imediatamente visíveis. O que se aproxima, o faz com exagerada cautela; e o abordado, fica instantaneamente assustado e em posição de retaguarda. Até mesmo, pessoas amigas, parentes, irmãos, e pasmem-se, esposos, namorados ou companheiros afetivos, estão morrendo de medo, uns dos outros. Cada atitude é recebida com cautela e desconfiança. Cada abraço é recebido com a incerteza se não é o de um tamanduá, cada beijo, se não foi dado por uma nova versão de Judas. Quem dorme, lado a lado, o faz com um olho fechado e outro aberto, imaginando que se possa estar dormindo com o inimigo. Quando alguém é espontâneo, fica-se a imaginar o que estará por trás disso; quando alguém sorri, acredita-se que é fingimento e se alguém chora, teme-se serem lágrimas de crocodilo. Dar as costas, jamais; acreditar em explicações, nem se fala; crer em sinceridade, uma loucura. “O que será que ela ou ele quis dizer com isso?” É uma interrogação constante, e a certeza de chantagens emocionais tornou-se a marca registrada das manifestações de sensibilidade. Será uma epidemia? Uma neurose? O que será isso? O que terá levado o ser humano a esta condição? Até onde isso vai chegar? Como será o futuro da raça humana? Será que o isolamento chegará a ser total e absoluto? Cessará, por isso, o processo de reprodução humana? Se isso acontecer, como se sentirá o último habitante do mundo? Terá medo da própria sombra? Ficará desconfiado que não seja o último e morrendo de pavor que possa ter alguém escondido a espreitá-lo?

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Solidão Estou mergulhado na solidão, imerso em meus pensamentos, tentando entender o que aconteceu comigo. A solidão me maltrata, os pensamentos vagam o que foi que fiz comigo mesmo? Por que não consigo emergir desta solidão profunda? Por que ela me castiga tanto? A solidão é muito triste. È ensurdecedora, mesmo sendo tão silenciosa. É, paradoxalmente, tão agitada, mesmo inerte que é. Quero me desvencilhar dela, me sacudo, esperneio, mas os seus longos tentáculos me abraçam, me agarram, me retêm, não me soltam. Passei a ser o seu escravo, seu prisioneiro, seu companheiro. Se dou um passo à frente, ela me puxa dois atrás. Eu tento ser alegre, ela me faz sentir triste. Eu tento sorrir, ela me faz chorar. Eu tento pensar, ela me sufoca no vácuo dos porões da mente, na escuridão do infinito da razão perdida. A solidão é assim mesmo, inexplicável, não sabe dizer por que me escolheu. Não é clara em sua razão. Ela devora a mente, mastiga a alma, sem se fazer entender, sem deixar saber por quê. Serei eu a própria solidão? Não serei eu que tranco todas as portas e as janelas quando ela quer fugir? Será essa minha incapacidade de conviver, partilhar, dividir, somar e multiplicar, a quem chamo de solidão?

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Que mundo é esse? Que mundo é esse, em que estamos vivendo? Um egoísmo enorme tomou conta de todos, não existe nenhum sentimento de solidariedade, muito poucas amizades sinceras. O respeito entre as pessoas não mais existe, a falta de educação está presente em todos os lugares, há todos os instantes. As pessoas agem agressivamente, mal humoradas e frias, morrendo de medo umas das outras. Esse processo de inversão de valores vem se desenvolvendo acelerada e descontroladamente. Quê ou quais fenômenos arrastaram o homem a seu atual estágio? O desenvolvimento tecnológico que está cada vez mais robotizando o indivíduo? O crescimento humano descontrolado e suas desastrosas conseqüências? Espera aí! Vamos raciocinar com critério. Vamos raciocinar com critério. Vamos analisar o contexto, parte a parte. Desde o comecinho. Arremessamos o homem ao seu passado mais distante, que se tenha conhecimento. À idade da pedra, por exemplo: O homem guerreava? Guerreava. O homem era egoísta? Era. O homem tinha educação? Não. Era invejoso? Era. Caramba, mas o homem era igual ao que é hoje? Então, não foram as mudanças cronológicas e nem a tecnologia, responsáveis por essa pseudo pré-suposta inversão de valores. Nem mesmo o urbanismo, já que o homem da idade da pedra é igual ao homem de hoje. Homens bons e maus sempre existiram, haveremos de concordar, a história da humanidade nos conta isso, claramente. Um tempo atrás eu conhecia muito mais homens bons do que maus, hoje eu conheço poucos homens bons e muito mais homens maus. Será que os bons cansaram-se de ser bons porque só levam desvantagens por serem bons, e estão se nivelando por baixo? Será que ser bom é tão péssimo negócio? Será que o homem tem sido feliz?

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A marca de cada um Não se esmoreça ante o difícil. Enfrente as dificuldades sem se curvar ou se render. Com isso, você vai descobrir potenciais em si que jamais poderia imaginar. Nada poderá ser resolvido, nenhum problema equacionado, nenhuma solução encontrada e nenhum obstáculo derrubado, sem que sejam enfrentados com determinação. Se vencê-los, além de colocar por terra as dificuldades, crescerá na vitória, massageará seu ego, erguerá sua autoestima, e se sentirá forte, poderoso e imbatível. Se você falhar, deverá convencer-se que lutou, não se entregou e se sentirá muito melhor preparado para a vida que o era antes. Não envergonhe, jamais de si mesmo, não construa os motivos dentro de si para isso. Não seja cínico ou hipócrita tentando se convencer que não teve culpas, que não negligenciou, não errou ou falhou, que não foi sincero ou honesto. Reconheça seus erros, suas falhas e suas culpas. Demonstre altivez aceitando suas imperfeições, e até mesmo, suas indignidades. O que o tornará reles, vil ou desprezível é justamente não ter a humildade da autocrítica e a decência de reconhecer seus erros publicamente, frente a frente, olhos nos olhos; e, sobretudo para si mesmo. Mostre sua marca, não para os outros, para si próprio. Somente você poderá senti-la e somente você terá que conviver, definitivamente, com ela.

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Mãe Não existe força maior, bomba mais poderosa, realidade mais crua, determinação mais firme, ousadia mais desafiante, sentimento mais nobre ou amor mais sublime que o amor de mãe. Sim! Mãe enfrenta guerras, luta contra epidemias, combate exércitos inteiros, toma chuvas e tempestades, passa noites em claro, suporta dores das mais temíveis (sejam físicas, psicológicas, morais ou emocionais), derrota as adversidades, vence vicissitudes e, supera toda e qualquer dificuldade em nome de seu amor por seus filhos. Jamais uma mãe nega o seu filho, seja ele bonito, saudável, inteligente, sadio, deficiente, demente, psicopata, criminoso, feio, desalmado, desequilibrado, ignorante, incapaz, seja lá o que ele for. Mãe não tem nacionalidade, credo, religião, cor de pele, posição social, ideologia política, condição financeira, etnia, profissão, estatura ou aparência a lhe diferenciar, mãe é mãe. Mãe é a secretária de Deus para assuntos de amor verdadeiro e absoluto.

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Evolução Assisto perplexo as pessoas amargando dificuldades ante o peso dos anos. Muitos se revoltando, outros tantos tentando esconder as marcas do tempo com artifícios tecnológicos e trajando-se como adolescentes. São poucos aqueles que vejo desfilando com orgulho e serenidade o prêmio da maturidade, vestindo discretamente a jovialidade que souberam preservar, sem permitir a chegada da velhice lhes corroer a alma. E, se diante dos meus 55 anos surgisse um anjo a me perguntar se gostaria de voltar aos meus 18 anos, responderia: - Não! Não gostaria! – Guardo dentro de mim todas as alegrias e todas as emoções dos meus 18 anos, que reputo como um dos momentos mais maravilhosos da minha vida. Não gostaria de voltar a eles porque os vivi intensamente e no momento certo. Assim como, vivi os meus 8,15,25,30,35 e todos os outros anos até aqui chegar. Hoje quero viver, com a mesma intensidade, os meus 55 anos, experimentar todos os desafios que eles me imputam, todas as alegrias que me reservam e todas as emoções que me destinam. Como abrir mãos da riqueza dos ensinamentos que o tempo me ofertou tão generosamente, como a me preparar e capacitar para cada novo momento futuro? Como fingir não ter vivido o que vivi? Como jogar fora a oportunidade de saborear a caminhada rumo a novos horizontes? Não! Não troco meus 55 anos por nenhum outro, de qualquer outra época! Quero vivê-los, assim como, os 56, os 60, os 70 e outros tantos mais que estão por vir. Entendo que cada estágio da vida é compatível ao acúmulo de aprendizados recebidos. Jamais me privaria de usufruir as delícias das etapas futuras e das vitoriosas conquistas que certamente para mim estão reservadas. Não posso me imaginar sem a docilidade e a pureza da minha infância, sem a jovialidade da minha adolescência, sem o vigor da minha mocidade, sem a consciência da minha maturidade e sem o equilíbrio da minha razão alcançada. Quero continuar como um todo construindo nas etapas vencidas e não me constituir em um fragmento, mesmo que precioso, do qual não tenha sabido me desprender, com medo de evoluir.

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Eu Sou Feliz Ninguém me contou, mas acho que nasci sorrindo, e certamente o meu primeiro suspiro foi de felicidade. Como eu gosto de ser feliz! Muito embora uma força estranha e misteriosa, por muitas vezes, insista em tentar me entristecer, não tem jeito, eu nasci feliz. Tantas e quantas vezes as vicissitudes tentaram me dar uma rasteira, mas eu sempre pulei de lado, dei um salto à frente e prossegui a minha caminhada com um belo e gostoso sorriso estampado em meu rosto. Inúmeras vezes tenho flagrado a infelicidade tentando se encostar em mim, vezes outras me mostrando bem de perto as suas garras, mas coitada, como a decepciono não me dando ao seu abraço, e assim sorrateiramente, com um risinho maroto, me esquivo, educadamente: - Me desculpe, eu sou feliz!

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Caminhada A vida é como andar por sobre um fio. Se a gente põe o pé pra fora, certamente vai cair. Se a gente olhar pra baixo vai se desequilibrar, se a gente olhar pra trás não vai sair do lugar, e se a gente olhar pra cima não vai saber onde pisar. Portanto, o correto é olhar pra frente, colocar o pé por sobre a linha e a passos firmes caminhar.

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Eu sou Chorão Eu sou chorão! Choro mesmo! Nas dores, nas vicissitudes, nas perdas e choro também nas alegrias, nas vitórias, nos momentos de sublimação. Eu sou chorão, e que choro mais polêmico! Para uns é ridículo, para infinitamente muitos tem sido rotulado de fingido, para outros tantos é fraqueza. Muito novo ouvi diversas vezes em tom de recriminação: - “Homem não chora”. E, apesar de tudo, logo eu entendi que homem chora sim e chora pra fora, pois aqui fora as lágrimas secam e lá dentro as lágrimas queimam por toda uma vida. Choro minhas dores, alegrias e vitórias, mas choro também pelas dores dos outros, por suas alegrias e contentamentos. Eu sou chorão! Minhas lágrimas banham as minhas alegrias e vitórias; e, lavam as minhas dores e vicissitudes. Eu sou chorão, sim! E daí?

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Os Mistérios da Vida Já dizia Oscar Wilde: “O verdadeiro mistério da vida é o visível, e não o invisível”, deitando por terra, em sua afirmativa, a teoria defendida por muitos, durante milênios, que pairam sobre a face da terra fenômenos misteriosos que fogem ao controle da humanidade. O homem sempre primou por encontrar aí as explicações para o seu fracasso, as razões de seu insucesso e o consolo para suas desastrosas inconseqüências. Criar o invisível foi muito cômodo e providencial, já que se tornaria impossível sentá-lo ao banco dos réus e imputar-lhe uma condenação implacável. Contudo, no meio dos homens que habitam esse planeta, sempre houve os rebeldes, esses ousados desmistificadores do fantasma do inexplicável, que com muita sutileza e simplicidade contrariar as regras com essa mania de pensar, refletir, analisar e concluir de forma concreta, sensata e inteligente. Acreditar em Deus é uma coisa, agora supor que Ele criou um mundo cheio de mistérios para controlar a humanidade é um absurdo tão grande que, se analisarmos bem, acreditar nisso é que coloca em dúvida a Sua existência; pois, Deus nos demonstra justamente na clarividência e na simplicidade a verdadeira essência da Sua criação e, ao dar ao homem o livre arbítrio, permitiu que se desenvolvesse ou regredisse por sua própria escolha. E assim, o homem inventou a roda, descobriu o fogo, construiu civilizações, criou as palavras e a escrita, inventou os números, evoluiu o conhecimento, descobriu as artes e as ciências; ao mesmo tempo em que promoveu a discórdia, desmembrou-se em idiomas, delimitou fronteiras, oprimiu os menos fortalecidos, primou pelo oportunismo de levar vantagens, instaurou as guerras e criou os mecanismos misteriosos das justificativas. Observe como um grito de pavor penetra mais profundamente que uma gargalhada esfuziante; como uma dor transforma mais que uma alegria e como a escuridão ofusca muito mais que a claridade. Desta forma, a ameaça intimida mais que a promessa gera expectativa e o mistério, por sua vez, desperta mais incertezas que a realidade possa atribuir certezas. Eu conheci um patrão que nunca tinha hora certa para chegar ao seu estabelecimento, alternando horários dos mais variados, acreditando que seus empregados estariam sempre trabalhando para não serem pegos de surpresa. Isso poderia ser positivo se não houvesse despertado neles a necessidade de criar meios para enganá-lo e roubar-lhe tempos preciosos de atividades produtivas. Se ele tivesse se preocupado em selecionar melhor seus colaboradores e criado dispositivos de incentivo à produtividade, teria obtido melhores resultados. Esses são os males gerados pelos mistérios, criam os exploradores do mistério e os explorados pelo mistério, e o que é pior, criam pânico, medo, insegurança, desequilíbrios emocionais, que por sua vez, geram psicoses e doenças. Steven Weinberger, físico americano, prêmio Nobel de física/1979, dizia que: “uma das grandes funções sociais da ciência é libertar as pessoas das superstições”, conclamando aqueles comprometidos com a lógica e a realidade e se preocuparem sempre em desmistificar as sobrenaturalidades

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irresponsavelmente disseminadas mundo afora. O efeito de movimentos de energias negativas pode ser devastador e o uso da prática de sugestionar é tão contundente que La Fontaine afirmava que: “o excesso de atenção que se tem com o perigo faz, na maioria das vezes, que se caia nele”, e não há nada de misterioso nisso. Entretanto, movimentar energias positivas não se limita apenas a pensar positivamente e ficar de braços cruzados esperando por milagres. Exige-se ação revestida de carga positiva, dirigida pela força do pensamento, empenho, perseverança e boa vontade, caso contrário, é pretender ganhar na loteria sem comprar o bilhete. Não existem forças ocultas contrarias à sua própria determinação e, acreditar nelas é que refreia a sua capacidade de realização. Isto é visível aos nossos olhos, só não enxerga aquele que não quer ver e prefere sustentar-se no invisível, perdendo o domínio de suas próprias potencialidades, tornando-se contumaz dependente da exploração dos mistérios da vida.

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A longa estrada da vida Ah! A vida! A vida é como uma longa estrada, um interminável caminho que nos conduz sem sabermos aonde chegar. Andamos, andamos, andamos, e ficamos a nos perguntar: - Para onde estou indo? Não conseguimos entender para onde estamos indo, ficamos sem saber qual o sentido de tudo isso, sem saber que a resposta está dentro de nós mesmos. Muitos cumprem esta jornada durante anos e anos, sem descobrir este segredo e se vão definitivamente sem rumo, sem senso e sem nexo. Muitos poucos descobrem esta verdade, e estes poucos somente vão alcançá-la depois de muito caminhar. Esta longa caminhada denominada amadurecimento é como um cofre mágico, onde estão guardados o conhecimento, a vivência, a experiência e a compreensão. Amadurecer significa estabelecer valores, viver, compreender, conhecer, saber e experimentar tudo aquilo com que se depara na estrada da vida, e é através do amadurecimento que se conclui que cada passo dessa estrada é uma etapa que pode ser, alegre, feliz, gratificante, edificante, e saudável; ou difícil, tenebroso, angustiante, deprimente, infeliz; e basta aprender a intensificar e se deleitar nos bons momentos, assim como, enfrentar com coragem e determinação as vicissitudes e superá-las com dignidade. O homem tem sido tão distraído em sua trajetória, tão voltado para o mundo exterior, para valores tão inconsistentes, tão somente pautados na materialidade, que só vai descobrir o amadurecimento na velhice, e aí talvez seja tarde demais. Ser maduro não é ser velho, o amadurecimento pode ser atingido nos primeiros passos da caminhada desta longa estrada da vida.

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A lei do Retorno Muito se fala de céu e inferno, e que o merecimento de um e de outro está condicionado à maneira de se conduzir pela vida terrena, uma espécie de contabilização de pecados e virtudes, atenuantes e agravantes. Contudo, nem todo mundo percebe que existe um mecanismo divino regendo os merecimentos e os desmerecimentos, assim como se diz: - “Colhe-se o que se planta”. Este mecanismo divino, por muitos denominados de “Lei do Retorno”, tem demonstrado ser insofismável, implacável e infalível; e, com certeza é um instrumento que Deus determinou para ser o ponto de equilíbrio do livre arbítrio que nos deu. Se observarmos melhor, as dores, as doenças, os insucessos e infelicidades podem estar ligados a nossa conduta repreensível em algum momento de nossas vidas, assim como, felicidades, alegrias, realizações e contentamentos o estejam por merecimento compatível. A felicidade construída em cima de infelicidade alheia, riquezas mal adquiridas, o poder opressor e outras mazelas, certamente são as explicações para perdas vultuosas, acidentes fatais, filhos viciados, doenças irreversíveis, insucessos amorosos, depressões, angustias, etc. Administrar a nossa vida através de uma conduta cristã, respeitando as pessoas e seus direitos, o patrimônio alheio e as leis de Deus, com certeza nos trará recompensas gratificantes. Não devemos nos iludir com uma felicidade mal edificada ou nos desesperarmos com uma infelicidade ocasionada pela irresponsabilidade de outrem; pois, inevitavelmente será tudo momentâneo e passageiro, e o retorno virá impiedoso no primeiro caso, e altamente compensador no segundo. Acreditem!

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Jamais Negue Uma Esperança Jamais negue a alguém uma esperança, pois talvez ela seja a única coisa que este alguém precisa neste momento. Se você julgar que este alguém não merece essa esperança, mesmo assim não negue, negocie-a. Oferte-lhe a possibilidade de conquistá-la. Nem que seja o mínimo, um dez por cento que seja, mas não negue uma esperança. Estimule para que prometa fazer de tudo para merecê-la, mas jamais negue uma esperança, pois pode ser que você esteja negando a alguém à própria vida. Ao conceder uma esperança, independente do seu cumprimento, você vai estar permitindo este alguém manter-se vivo, e lutar por novas conquistas e novos ideais. Estará você permitindo que este alguém reencontre o seu próprio alguém perdido.

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O Dinheiro e Eu Muito estranha essa minha relação com o dinheiro. Ele e eu nunca tivemos uma grande afinidade, se eu estava no norte, ele andava pelo sul; se eu estivesse debaixo de uma coberta me escondendo da chuva, ele caminhava sob os raios do sol. Tão logo percebi que esse tal de dinheiro vivia correndo de mim, tratei logo de aprender a viver sem ele; e muito cedo descobri que se pode ser feliz e se realizar sem maiores relações de dependência a ele. E assim temos vivido, ele muito pouco me visita e eu trato logo de me desfazer dele nas raras vezes em que aparece. Contudo, para não me sentir sozinho e abandonado, busquei aproximar-me do conhecimento, dos ensinamentos e do aprendizado. Ao invés de cifras, busquei as palavras; ao invés de bancos, freqüentei as bibliotecas e livrarias; ao invés de carteiras e pastas, carreguei os livros; ao invés de deleitar-me ao som das registradoras, entreguei meus ouvidos à música. Hoje sou dono de uma riqueza que dinheiro nenhum pode comprar. Seu valor é incalculável e incomensurável. Quanto ao dinheiro tenho o mínimo suficiente para me garantir a sobrevivência de maneira digna, sem ser seu escravo. Foi bem melhor assim: ele pra lá e eu pra cá.

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Estímulo Pare! Esqueça todas as preocupações por um momento. Deixe de lado todas as angústias e todas as amarguras que estejam martelando a sua cabeça. Respire bem fundo, encha os pulmões e solte o ar bem devagarzinho. Pense em flores, sinta o perfume que elas deixam por todo lado. Traga até seus pensamentos os acordes melodiosos de uma linda canção que você conhece, perceba como as notas musicais brincam com seus ouvidos. Não importa se faça sol ou chuva, ou até mesmo que esteja em um ambiente fechado, mas imagine o calor gostoso do sol percorrendo todo seu corpo e, para que não se derreta, exponha sua imaginação como que absorver por toda sua pele a deliciosa carícia da brisa. Pense como você é forte, inteligente, e, que as dificuldades são passageiras quando agimos com serenidade, sensatez e determinação. Observe agora que seus temores eram infundados, que os problemas não são tão enormes quanto imaginava e que enfrentá-los não será tão terrível quanto supunha. Imagine agora o crescimento que você vai adquirir ao superar essas dificuldades, a auto-confiança que conquistará, e, já comece a sentir uma sensação gostosa de vitória no ar. Vá em frente! Sucesso!

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Mundo Novo: Um Sonho Impossível Saiu naquela manhã como sempre fazia. Olhou para os céus e percebeu uma luz nunca vista. O carteiro antes carrancudo sorriu e lhe desejou um bom dia. Espantou-se, e até meio encabulado dirigiu-se ao ponto de ônibus. Nova surpresa! A senhora idosa estava sentada no banco do ponto, assim como a grávida e a mãe com a criança no colo, enquanto os homens estavam em pé. Repentinamente surgiu um mendigo com a mão estendida, e pasme, recebeu doações sem que ninguém resmungasse ou lhe virasse as costas. Uma jovem senhora depositou-lhe carinhosamente um olhar de compaixão. Ele se afastou gratificado. Em seguida, o ônibus chegou e as pessoas esperaram calmamente que as outras descessem. Imediatamente todos foram subindo as escadas com tranqüilidade, sem se acotovelarem, priorizando idosos, senhoras e crianças. Cada um, ao entrar, cumprimentou motorista e trocador, e todos já tinham em mãos, vales-transportes ou dinheiro, agilizando dessa forma a entrada e acomodação de passageiros. Incrivelmente, o motorista não ficou acelerando nervosamente o ônibus, enquanto os passageiros subiam, e nem mesmo arrancou-o em solavancos. O trocador, educada e solicitamente, recebia as passagens com cordialidade e um belo sorriso estampado em seu rosto. Os estudantes traziam suas mochilas às mãos, frente ao corpo, sem incomodar e pedia licença, sem trombar em ninguém. Um jovem estudante levantou-se educadamente cedendo lugar a uma senhora. Outro o fez, ofertando seu lugar a uma mãe com a criança no colo. Não haveria ninguém nos bancos dianteiros, além de idosos, deficientes e mulheres grávidas. A cada ponto, o motorista parava o ônibus em redução de marcha lenta e cadenciada, e, aguardava pacientemente o entra e sai tranqüilo e ordenado. Ao chegar a seu destino desceu com facilidade, pois não havia aglomeração na porta de saída. Ao caminhar pelas ruas percebeu a população transitando com tranqüilidade, sem esbarrões e tumultos, ostentando sorrisos e olhares fraternos. Ao entrar em sua repartição cumprimentou a todos, com um alegre bom dia, e recebeu um esfuziante e cordial retorno, absolutamente de todos, em uníssono. Sentou-se em sua cadeira, à sua mesa, e percebeu que o mundo havia mudado da noite para o dia, era um mundo novo, onde as pessoas se respeitavam. Que maravilha! Que transformação! Subitamente, o despertador tocou. Acordou e olhou à sua volta. Deu-se conta que ainda estava em casa, sobre sua cama. Havia sido apenas um sonho de um mundo novo. Apenas um sonho, infelizmente, impossível!

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Crises Desde muito pequenino eu ouvia com muita freqüência os costumeiros jargões, que continuei escutando por toda minha existência, até os dias de hoje: - “Este ano vai ser um ano muito difícil”. - “O dinheiro anda sumido". - “As coisas estão cada vez mais difíceis” -“Esta é uma das piores crises que já atravessamos” . Neste longo processo, entre minha infância e os dias de hoje, vi muita gente se desesperando, pessoas alarmadas e em pânico, assim como, vi muita gente prosperando (enriquecimentos ilícitos, maracutaias, cambalachos e corrupções, à parte), crescendo, se desenvolvendo e se realizando. Enquanto muitos se queixavam, se rendiam, se prostravam; outros tanto lutavam, batalhavam e se empenhavam. Ao passo que muitos empobreciam, faliam e se desesperançaram; alguns outros enriqueciam, multiplicavam e se entusiasmavam. Em meio a tudo isso, no princípio muito confuso ante as contraditoriedades estabelecidas entre os alarmes e a realidade, diante do meu pequeno conhecimento da vida; um pouco mais adiante convicto perante a contestação que o paralelismo e um maior conhecimento me forneceram, não tive dúvida alguma em concluir e afirmar: CRISES NÃO EXISTEM. Os imaginativos as inventam, os alarmistas as propagam, os oportunistas delas se aproveitam, os derrotados as usam como justificativa, os medrosos entram em pânico, os inseguros as adotam, os vitoriosos as ignoram e seguem em frente. Se recorrermos à história haveremos de constatar que, desde os mais remotos tempos, nenhuma conquista se deu diante de facilidades e, realizar, alcançar, crescer, desenvolver, sobreviver, sempre ocorreram em difíceis processos, exigiram empenho, doação, trabalho, criatividade, luta, ousadia. Nunca ninguém ergueu as mãos para os céus e recebeu dádivas infindáveis. Até o lendário rei Midas, que transformava em ouro tudo que tocava, enfrentou e pereceu diante da dificuldade que seu próprio toque mágico lhe imputou. O pessimismo é altamente contagiante, sua disseminação alastra-se em progressão geométrica e paralisa reações, por isso as crises são deglutidas e digeridas em cadeia, dentro de uma sociedade fragilizada pela infeliz trajetória de mais de quinhentos anos de má administração pública. Em contra partida pode-se admirar as reações da humanidade, como por exemplo, o fantástico salto dos E.E.U. U da grande depressão para transformar-se na maior potência mundial, a reconstrução pós-guerra do Japão ou o desenvolvimento tecnológico e industrial da Coréia do Sul. Aceitar e acomodar-se em crises é que sustentam, promovem e alimentam sua voraz corrosividade. Ignorá-las, acreditar na capacidade própria de superar dificuldades e vencer desafios é que geram homens e sociedades vencedoras.

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Bom Dia, Todos os Dias! Levante bem cedo e respire o ar puro da manhã, deixe que ele encha seus pulmões e dê um entusiasmado bom dia a si mesmo. Olhe bem alto para o céu, admire seu azul exuberante e observe a luminosidade do sol. Perceba como seus raios douram a superfície por onde repousam. Se estiver chovendo, observe a coreografia dos pingos e se deleite com o manto prateado, projetado pelos respingos da chuva, no ar. Imagine que terá o melhor de todos os seus dias, planeje muitas alegrias e suspire antecipadamente todos os prazeres que acredita estarem para si reservados. Pratique um sorriso bem largo, solte um riso bem gostoso e uma contagiante gargalhada. Reconheça a vida como um processo maravilhoso que se desenvolve em harmonia com sua própria natureza e lhe premia generosamente por essa sua incontida vontade de saboreá-la intensamente. Olhe ao seu redor e veja o espetáculo das cores por todos os lados, sinta música no ar e admire a dança de todos os movimentos à sua volta. Pense no quanto é gratificante estar podendo viver momento tão sublime. Viva este seu dia como se fosse o primeiro e também como se fosse o último. Lembre-se que você pode optar por ser feliz ou infeliz, neste dia que se inicia de forma envolventemente promissora. Escolha ser feliz! Bom dia!

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Meus pensamentos e reflexões Nenhum ser humano pode consertar o mundo, mas qualquer um pode fazer alguma coisa para tentar melhorá-lo. Nos caminhos entre o coração e a razão encontram-se as respostas para os mistérios da vida. As emoções são como as águas de uma cascata, cantam em nosso ouvidos se são boas; e nos arrastam sobre as pedras, se são ruins. Cair às vezes é uma contingência inevitável, vergonhoso é não saber levantar. Não se regozije demais quando momentaneamente estiver no topo, sua conquista não receberá nenhum mérito se por ventura tiver que descer alguns degraus. Seja humilde, tanto nas derrotas quanto nas vitórias, considerando que o amanhã é imprevisível, o definitivo não existe e somente a morte é o fim da linha. O tempo premia ou castiga, depende de como te transcurso.

conduzes no seu

Ao final de cada dia reserve para si um momento de reflexões, passe e repasse cada fato de ontem e de hoje, planeje cuidadosamente o amanhã, reveja valores, reformule o necessário, desenvolva autocríticas. Esse exercício será absolutamente fundamental para que ganhe autoconfiança, pratique a justiça, desenvolva-se como ser humano e torne seu viver maravilhoso. A vida é maravilhosa quando a vivemos de forma sensata, produzimos de maneira honesta e crescemos sobre os nossos próprios méritos. Não se contente em ser “Rei em terra de cego”, mas procure ser majestade, definitivamente, em todo e qualquer lugar, à todos os momentos. Aprecie com os olhos, eleja com o coração e conquiste com a razão. Faça um teste diante da relação de importância: Dinheiro / Coração / Razão = compra Coração / Dinheiro / Razão = insegurança Razão / Coração / Dinheiro = conquista

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Mal sucedido é aquele que se envergonha do passado, não vive o presente e teme o futuro. O verdadeiro amigo é aquele que ouve o seu chamado muito antes de você abrir a boca. Nunca deixe para verificar o que deixou de cumprir ao desfazer as malas. A sensibilidade é uma característica daqueles que conhecem a dor do sofrimento, o inigualável sabor da alegria, o amargor de uma saudade, a plenitude do prazer e a beleza que é viver intensamente as emoções. Detém a arte da conquista aquele que fala somente o essencial, comunica com os olhos, faz-se entender através do silêncio, instala-se com o coração e cativa com atitudes. Um dos piores momentos é quando percebemos que tudo aquilo em que acreditávamos era falso, ilusório e inconsistente. Mais amarga que a derrota, a queda e o insucesso é a dor da ingratidão. Acredite sempre que lá na frente, em algum momento, você terá que responder pelos seus atos e pagar pelos seus erros. Os raios de sol que hoje te aquecem e iluminam, podem ser os mesmos que amanhã te queimarão e ofuscarão. O pior em uma derrota com a qual não se contava, é não estar preparado, se sentir humilhado e abaixar a cabeça. Acredite: pegas o pior caminho ao fazer do logro e da dissimulação as rotas para alcançar tuas metas e aspirações. Ser ingênuo é não acreditar nas voltas que a vida dá. Jamais confunda bondade com ingenuidade, realidade com pressuposição, determinação com vontade e ousadia com euforia; pois estarás perdendo amigos, mergulhando na inconsistência, desanimando no meio do caminho e quebrando todos os ossos. Como a terra é redonda, se não medir os seus passos e calcular seus trajetos, o que lhe parece caminho de ida, pode ser apenas um caminho de volta. Dê quantas chances forem necessárias, pode ser que esteja dando chances a si mesmo.

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Mesmo que tudo lhe pareça evidente, certifique-se pelo menos mais de uma vez, pois quase sempre o que lhe chega, passa por transformações no meio do caminho. Muito pior que o julgamento alheio, é o julgamento de nossa própria consciência. Como Deus é sábio! Deu-nos livre arbítrio, mas também nos deu a consciência para saber como usá-lo. Só nos damos conta que é impossível voltar, quando percebemos que deixamos tantos obstáculos no caminho de ida, que eles não nos permitem mapear a trilha de retorno. Haverão muito mais chances de perdão, compreensão, reformulação, consolo e benevolência nos olhos, no coração e nos braços daqueles verdadeiramente sensíveis. Ter medo do amanhã e pavor do futuro, nos torna incapazes de viver o melhor que a vida nos oferece na luta contra as adversidades e nos afasta do sabor inigualável da vitória. Atravessar caminhos pedregosos e íngremes, enrijece a musculatura, prepara-nos para superar obstáculos, nos faz crescer e acreditar que o inatingível não existe. Jamais acredites que no amanhã não venhas a ter que olhar dentro dos olhos de quem desprezastes, duvidastes ou subestimastes. A pior caminhada é aquela que mesmo tendo sido sinuosa, dificultosa, trabalhosa, desafiadora, e que nos tenha parecido transposta, vencida e superada, nos trouxe de volta ao ponto de partida. A vida só é maravilhosa porque o ruim existe. Faça de suas derrotas o melhor incentivo para perseguir suas vitórias. Não transforme a sua queda em acomodação da derrota, mas o maior motivo para se levantar. A luz que vem de dentro é mais forte que a luz exterior. Não desprezes aquele que julgas incauto e ingênuo, pois pode ser ele, em algum momento futuro, o responsável por tuas fraquezas maiores. Alce vôo, mas mantenha sempre os pés no chão, a cabeça sobre o pescoço e um pára-quedas a bordo.

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Você vai perceber que o verdadeiro amigo é aquele que está com você no pior momento, aceita-o como você é, perdoa-o pela sua insensatez e briga por você mesmo quando você está errado. Faça tudo aquilo que tiver que fazer, rompa preconceitos, abale estruturas, abrace a imoralidade, não respeite regras, escandalize; mas, não seja cínico, hipócrita e irônico, pois sua ousadia perderá seu valor. É permitido sonhar desde que seus sonhos não destruam a realidade, não o levem à loucura e não se percam pelos caminhos que o possam conduzir a realizá-los. Aja sempre com sinceridade, mesmo que à princípio ela não agrade; depois ficam mais simples e aceitáveis as suas explicações. Exercite sair de dentro de si mesmo e olhar-se com visão crítica, para que retorne ao seu âmago muito mais convicto de sua posição. Enquanto a certeza for algo a ser confirmado, busque na cautela o seu ponto de apoio. Acreditar ser o maior e o melhor já fazem de você: pequeno, pior e insignificante. Não pense que você é esperto prevalecendo sobre a aparente ingenuidade, muitas das vezes você está sendo testado e, provavelmente, jogando definitivamente no lixo uma grande oportunidade. Ser feliz é estar em constante busca da felicidade. Ninguém chegará a algum lugar se não ousar o primeiro passo. Por mais que lhe digam que você está errado, aquilo que você pensa que é o certo é que é o certo. Na vida, toda vez que corri atabalhoadamente acabei chegando em último lugar; mas, nas vezes em que caminhei com passos firmes, decididos e calculados cheguei na frente. E, para matar o meu amor, atirou no seu próprio coração. Um dos piores momentos do ser humano é quando ele tenta enganar a si mesmo. Se você fizer um retrospecto perceberá que todo momento bem sucedido, independentemente da ação, ocorreu naqueles em que se estabeleceu irrestrita cumplicidade.

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Não leve a vida tão a sério, senão ela acaba debochando de você. Dediquei-me tanto aos tantos motivos que tive para ser feliz que não tive tempo de dar atenção a qualquer aceno da infelicidade. Jamais espere alguma coisa de alguém, porque se você esperar e nada vier será prejuízo; mas, se nada esperar e alguma coisa vier, será lucro. Nesta minha viagem pela vida, para criticar vi muitos, para fazer vi muito poucos. Viver é como andar de bicicleta, é preciso pedalar. Se parar de pedalar com certeza vai cair. Existem homens que não amadurecem, apenas passam de uma infância à outra. A grande esperteza da vida é não ser esperto. O amor é como a planta, quanto mais se poda, mais ele cresce; e assim como se faz com a planta é preciso todos os dias regá-lo, se não ele murcha!! A vitória consagradora não é aquela em que se devolve tapa com tapa mais forte, mas aquela em que se estende a mão para o inimigo se levantar. Percebe-se que chegou ao fundo do poço, quando começa a sentir dó de si mesmo. Quando não se ousa assumir as próprias idéias, melhor não tê-las. Quando as idéias só servem para mostrar que é mais inteligente que os outros, fazem com que se tenha um melhor salário e uma melhor condição de vida, e não são utilizadas para beneficiar a sociedade como um todo, os inteligentes são inúteis. Não realizei todos os meus sonhos, mas persegui-los foi fascinante. Admiro imensamente os filósofos. Eles conseguem com um simples clique, exprimir tudo aquilo que gasto no mínimo vinte páginas para escrever. Tem pessoas que levam anos vivendo coisas pequenas e outras que coisas imensas em frações de segundo.

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Em um País como o Brasil, os verdadeiros homens ricos são os mais pobres de sua população. Quando se precisa correr atrás de alguma coisa, não significa que ela não queira que a alcance, mas que mereça alcançá-la. Será que quando se perde o senso de humanidade, é possível encontrála outra vez? O Deus que não quer que uma vida se perca pelo aborto, é O Mesmo que quer que outra se perca porque não admite transfusão de sangue? Existem na vida coisas das quais não conseguimos fugir se não procedermos mudanças radicais em nós mesmos, pois se após inúmeras tentativas não logramos êxito, certamente o erro está presente em nós e não nos outros. Devemos estar sempre de braços abertos para aceitarmos novas situações e procedermos mudanças, mas sem abrir mão de nossos valores. As novas situações decorrentes de evoluções jamais devem nos levar a subestimar a nossa capacidade de nos adaptarmos a elas. Muitos estacionam no tempo e ficam para trás em razão disso. Devemos sempre acreditar que somos capazes de qualquer coisa e o primeiro passo é entender isso. Quando você pensar que sabe tudo, passe a acreditar que não sabe nada. Você se surpreenderá com tantas coisas que vai aprender com isso. Quando você estiver convicto que está absolutamente certo em uma determinada questão, ainda que tenha tanta certeza proceda uma última análise procurando enxergar o assunto do ponto de vista do outro, algumas vezes você vai perceber que não estava tão certo assim. Quando você entender que está errado, não procure radicalizar assumindo uma postura de fechamento de questão e nem mesmo rompa definitivamente com a verdade para não aceitar a sua derrota ou fracasso aos olhos dos outros; reconheça seu erro publicamente, demonstrando a enormidade que detêm dentro de si em saber “ser”. Procure, periodicamente, recolher-se ao silêncio e ao isolamento de si mesmo mergulhando em reflexões e análises de como tem conduzido a sua vida e o se relacionamento com as outras pessoas. Preceda autocríticas isentas e sinceras. À partir de então, reconheça tudo aquilo

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em que estiver errando, aplauda seus acertos e procedas as mudanças, caso se façam necessárias. Não há demérito algum em reconhecer um erro e assumi-lo condignamente. O demérito existe em não saber avaliar o quanto um erro nosso possa estar sendo prejudicial a alguém. Como são interessantes as pedras. Podem se constituir em obstáculos, como podem ser usadas para construir. Quando alguém cometer um erro com você não o condene, utilize essas 7 regras: 1) Demonstre compreensão 2) Procure saber o motivo do erro 3) Explique o que um erro pode ocasionar 4) Indique que outro caminho poderia ser tomado 5) Revele que vai relevar 6) Disponha-se ao perdão 7) Perdoe Tenha em mente que você só conquistou, inteira e definitivamente, um coração, quando você se tornou insubstituível e absolutamente imprescindível para ele. Se, circunstancial e/ou inevitavelmente, você cair, levante e faça de seus próprios cacos a escada que o leve novamente para o alto, ao invés de ficar culpando os outros pela sua derrota e rastejando na lama de seu próprio fracasso. Procure conhecer melhor a tudo e a todos, até mesmo daquilo que você não gosta. Este é o caminho mais indicado para que entenda porque não gosta, e algumas vezes poderá surpreender-se ao descobrir que aquilo que você não gosta não é tão desgostoso assim. Dentre os melhores ensinamentos que recebi, muitos foram justamente daqueles que eu julgava que não sabiam nada. A razão deve prevalecer primeiro, porque se o coração enfraquece você ainda pode fazer uso da razão; mas se a razão enfraquece, você não saberá nem mesmo porque tem coração.

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PARTE 2 CONFESSIONÁRIO

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PARTE 2 - CONFESSIONÁRIO

O CONFESSIONÁRIO foi um tópico criado no Fórum da Comunidade Pequeno Príncipe, do Orkut (Internet) visando propiciar ao seus membros confessar suas mazelas, seja do cotidiano, seja de fatos socorridos no transcurso de suas vidas. Assim uma espécie de descarrego de culpas e remorsos. E por ter tido meu lado pitoresco, moleque e descontraído, muito acentuado vida afora, dado a esse compromisso que sempre tive com a alegria e a felicidade, comecei a relatar ali passagens inusitadas, interessantes e divertidas de muitos momentos que vivi, bem como algumas emocionantes. Os amigos de Orkut que partilhavam o espaço não tardaram a me sugerir que escrevesse um livro sobre minhas confissões, por isso selecionei 40 e resolvi publicá-las neste a que intitulei MOSAICO, para retratar esse lado peralta, moleque e alegre, desse homem que mesmo adulto jamais abandonou a criança que foi um dia.

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VARAIS Confesso que era eu que trocava as roupas dos varais dos meus vizinhos quando tinha dezesseis anos, na Rua Mamoré, no bairro de São Mateus em Juiz de Fora-Minas Gerais CONFESSO QUE JÁ FUI TROCADO POR UM CACHORRO. Depois da minha terceira separação, eu ainda acreditava no amor (pasmem!!!), e fui à luta. Arrumei uma namorada chamada Patrícia que tinha um cachorro chamado Pipoca. O Pipoca era motivo para Patrícia esquivar-se de todos os programas que eu arrumava. "Não tem com quem eu deixar o Pipoca." "Mas, eu tenho de dar banho no Pipoca hoje." "Hoje é dia de levar o Pipoca pra tosa." E, daí por diante. Fora que o Pipoca tinha todas as atenções e predileções. Aquilo foi me enchendo a paciência até o dia em que dei o grito: -"OU EU OU O CACHORRO!" Ela preferiu o cachorro! O TRATOR Confesso que em meus tempos de adolescente tínhamos um ao final de uma das ruas de meu bairro um terreno baldio, que junto com meus amiguinhos, capinamos, nivelamos e demarcamos transformando-o em um campinho de futebol, onde passávamos horas e horas, dias e dias, batendo inocentemente nossas "peladas". Mas, eis que um belo dia surge um indivíduo operando um trator de esteiras em que estava trabalhando na terraplanagem de uns lotes próximo ao nosso campinho, e que ao final do dia estacionava o trator em nosso campinho, com isso as esteiras estavam estragando o campinho. E, uma tarde abordamos o referido indivíduo para pedir-lhe não mais usar o nosso campinho como estacionamento, ao que ele não só se negou, como nos colocou para correr com ponta-pés nos fundilhos. Fizemos uma pequena reunião, cerca de uns vinte moleques, e tomamos uma decisão. Nos encontramos, após às 21 horas daquele mesmo dia, no campinho, munidos de chaves de fenda, alicates, martelos, chaves de boca, chave de grifo, etc; e até às 5 horas manhã havíamos desmontado o trator, peça por peça, parafuso por parafuso, porca por porca, pedacinho por pedacinho, deixando tudo espalhado em um raio de uns 15 metros. Cuja operação de remontagem levou cerca de uns15 dias feita por 3 mecânicos. Depois de remontado aquele trator jamais voltou a ser estacionado em nosso campinho.

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O JAPONÊS Confesso que iniciei minha carreira profissional em importante empresa multinacional no Deptº de Engenharia de Produção. Certa vez, foi contratado um japonês que tinha pouco tempo de Brasil e ainda tinha muitas dificuldades com o português. E pelo fato dele ser muito arrogante e pensar que tinha o rei na barriga, a cada vez que perguntava o nome de alguma coisa, meus colegas e eu ensinávamos ao contrário. Exemplo: COM LICENÇA nós falávamos SAI DA FRENTE. Imaginem então a confusão que ele ocasionou Para ilustrar melhor, certo dia o DiretorPresidente da empresa ligou no nosso departamento procurando pelo nosso gerente e como a secretária havia se ausentado momentaneamente, o japonês atendeu ao telefone, e ao ser perguntado pelo Diretor-Presidente quem estava falando, ele respondeu: NÃO INTERESSA - que era o que havíamos lhe ensinado. Em menos de um minuto o Diretor-Presidente estava em nosso departamento querendo saber quem havia atendido ao telefone, e só sossegou quando lhe convencemos que possivelmente havia feito a ligação com número errado. O HOMEM E O CÃO Confesso, que a eu era Chefe de Departamento em uma empresa multinacional italiana, e o Bernagozzi era o meu diretor. Bernagozzi e eu dividíamos a mesma secretária, a Luíza, por questões de economia. Luíza que detestava o Bernagozzi, porque ele a tratava muito mal e aos berros, ganhou um cachorrinho de uma colega, cuja cadela dera uma ninhada. Quando Luíza manifestou sua dúvida sobre o nome a dar ao cachorro, eu sugeri que o batizasse Bernagozzi, porque ela poderia gritar com o Bernagozzi e até lhe dar umas palmadas para descarregar a raiva do original. Ocorre que no aniversário de Luíza, esquecendo-se que o nome fora dado ao cachorro, Bernagozzi-homem foi convidado assim como os demais funcionários do Deptº para a festinha de comemoração na casa da aniversariante. Mas, a mãe da aniversariante, Dº Dulce trancou o Bernagozzi-cão na despensa e ficaram todos tranqüilos. Em meio à festa, alguém desavisado abriu a porta da despensa e Bernagozzi- cão fugiu, entrou correndo na sala e escondeu-se justamente debaixo da poltrona em que se encontrava sentado o Bernagozzi-homem. Dª Dulce entrou sala adentro, com uma vassoura em punho gritando: - Bernagozzi seu F.D.P, já pra fora!!!! E, Bernagozzi-homem, assustado gritava ante as gargalhadas gerais do pessoal presente, indagando: - MAS, O QUE É QUE EU FIZ PRA ESSA SENHORA? O PORRE Confesso que sai uma vez do trabalho, parei num boteco, onde permaneci por algumas horas e tomei um porre de vodka. Ali pelas 2 horas da

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madrugada, mesmo que advertido pelos amigos resolvi pegar meu carro e ir para casa dirigindo. Ao chegar no prédio, desci do carro para abrir o portão da garagem. Eu cutucava a chave na fechadura e nada da chave entrar na guia da mesma. Eu sacudi tanto o portão que acordei o vizinho do segundo andar cuja janela ficava exatamente sobre o portão da garagem. Ele abriu a janela, me reconheceu e perguntou: - Nei, o que está fazendo aí? - Ao que respondi: - Estou tentando abrir o portão da garagem, não está vendo? E, para minha surpresa ele disse: - Mas, Nei, já faz uns OITO MESES que você se MUDOU daqui do prédio! Foi quando dei conta que já não mais morava ali. AS CARTAS DE MARCELA Em 1969 fui passar um carnaval em Caratinga/MG a convite de minhas primas que moravam lá. Eu morava em Juiz de Fora/MG. E neste carnaval conheci uma garota chamada Marcela e que passei a namorar. Com isso passei a ir para Caratinga a cada 15 dias, e passar as férias escolares de meio e final de ano por lá. E, em um determinado final de semana comemorou-se o noivado de sua irmã mais velha, para cuja reunião havia somente familiares e amigos próximos dos noivos. Portanto eu era meio "avis rara" no evento. Em dado momento, em meio a uma conversa eu pronunciei uma palavra errada, e a Marcela não me poupou uma gozeira escandalosa, não só chamando a atenção de todo mundo, como me constrangendo significativamente. Como morávamos em cidades diferentes, nos correspondíamos por carta via correios, e daí em diante a cada carta dela que eu recebia, por ser ela uma pessoa fraquíssima em gramática, eu pegava um lápis vermelho, corrigia os erros, descontava 0,2 por erro, e dava nota. Em cinco cartas corrigidas entre 0 e 10, ela conseguiu três "0" e dois "0,6". Depois de corrigir as cartas eu as devolvia pelos correios. No primeiro final de semana que fui a Caratinga, ela me abordou com as cartas nas mãos, indagando: - Que palhaçada é esta? A que respondi: - Palhaçada você fez comigo me gozando e corrigindo na frente de pessoas que eu nem conhecia. Entretanto, o que fiz com você foi somente entre nós dois, pois eu bem poderia divulgar essas suas cartas horrorosas. Que lhe sirva de lição e aprenda a ser discreta quando alguém errar perto de você, chame-o a um cantinho e com carinho comente o erro cometido. Mais tarde o namoro terminou, mas carrego sempre comigo esta pontinha de remorso dentro de mim. TIO JOSENILDO Confesso que foi na maior das intenções. Tio Josenildo, irmão caçula de meu avô paterno, ficou famoso por suas façanhas de garanhão. Entretanto, nos idos dos anos 90, já com 93 anos, único sobrevivente dos irmãos Almeida, já

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não fazia mal a uma mosca. Já entrevado sobre uma cama, era cuidado por uma senhora que a família de sua ex-mulher contratara, a Dona Maria com 60 anos de idade. Era que fazia a sopinha dele, lhe dava os remédios, banho, etc. Pois não é que o Tio Josenildo cresceu os olhos nas ancas de Dona Maria? E logo pra quem ele foi contar? Pra quem? Pois bem, conversei com um outro sobrinho dele, sobrinho-neto por parte de mãe e que era médico. Na época ainda não tinha o Viagra e similares, e o outro sobrinho (que não posso revelar o nome) ficou de lhe aplicar uma injeção estimulante, ficando ao meu encargo convencer a Dona Maria de topar a parada, que cedeu mediante o pagamento de um cachê significativamente razoável. Chegando o grande dia,o outro aplicou-lhe a injeção, paguei o cachê à Dª Maria e deixamos os pombinhos sozinhos, ao aviso que esperassem a injeção fazer efeito. No dia seguinte, ao comparecermos à casa do Tio Josenildo, encontramos o coitado tremendo que nem vara de marmelo, com as cobertas até o nariz e os testículos do tamanho de uma bola de futebol. Corremos com ele para o pronto-socorro, onde o sobrinho-médico assumiu todas as responsabilidades, e onde Tio Josenildo foi medicado e re-estabelecido à normalidade. Quando fui visitá-lo depois de três dias do susto, ele me disse entristecido: - É, ACHO QUE TÔ APOSENTADO MESMO, NÉ MEU FILHO? A FESTA Eu confesso que não gostava muito das pessoas daquele prédio. Situava-se em um bairro de classe média em Belo Horizonte onde morava com minha ex-esposa e minhas filhas. Era um povinho metido a ser o que não era. Bem, de certa feita muda-se para uma das 2 coberturas um rapaz que se situava na faixa de uns 22 anos e era gay, e que por isso já provocara um ti-ti-ti danado. Dois finais de semana depois de haver se mudado, o moço resolveu promover uma festinha em determinado sábado. E tá que sobem gays, sobem mulheres, sobem travestis e sobem rapazes. Mas todo mundo agindo educadamente e sem maiores conflitos. A festa rompeu madrugada com música de primeira qualidade e sem transtornos. Pois bem, na 2ª feira convocaram uma Assembléia Extraordinária e colocaram o rapaz na berlinda para maiores explicações. E fala um: "Este prédio é familiar, onde se viu promover um bacanal daqueles?" Outro fala: "Nunca tivemos orgias dessa natureza aqui" E mais outro: "Devemos manter um ambiente moralmente adequado". Foi quando pigarreei:Hum...hum... Aí todos olharam para mim: Sério e com a voz firme perguntei: - Qual seu nome rapaz? E ele respondeu meio timidamente: - É Rafa, Rafael. Então lhe disse dedo em riste: - Olha aqui, Rafael, da próxima vez que você der uma festa dessa magnitude, com essa muiézada gostosa, com aquela música de arrasar e NÃO ME CONVIDAR, vai se dar mal comigo, hein? Era tudo que o cara queria. Acabou-se a reunião e acabou-se o papo furado. Devo confessar ainda que, minha ex-mulher ficou 43 dias sem falar comigo.

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MINEIRÃO Confesso: Estádio do Mineirão, Belo Horizonte, jogo Atlético e Cruzeiro, lotado. Intervalo do 1º para o 2º tempo. Vou ao bar tomar uma cerveja. Quando estou terminando de tomar o primeiro copo, ouço vozes: - Meu senhor! Escolheram-me, cabelos grisalhos, ar de seriedade. Coitados! Eram três rapazes, estavam encostados na grade inteiriça, até o teto, que separa as torcidas. Só passa um braço espremido. - Sim - respondi - Sabe, acabou a cerveja aqui no bar do lado de cá. O senhor pode pegar três copos pra nós? Está aí o dinheiro trocadinho - falou-me um deles. - Claro! - Peguei a grana e fui ao bar, comprei três copos de cerveja e rumei em direção onde estavam os coitados. Parei a uns dois metros da grade chamei dois outros rapazes que estavam do lado onde eu estava e falei bem alto para os eles escutarem: - Aceitam tomar uma cervejinha por conta dos babacas ali? Os caras manjaram a sacanagem, aderiram e ríamos sorvendo a cervejinha geladinha. As vítimas, do outro lado, chutavam a grade, esmurravam-na, tentavam cuspir na gente, aos berros: - Olha aqui ô filho da p......., eu te encontro nem que seja no inferno. Vou te caçar 24 horas por dia da minha vida até te encontrar. - Berrou um deles Já se foram doze anos. Não me encontraram até hoje! rs rs rs rs rs rs rs ... O PROFESSOR E SUAS PIADAS Confesso que quando eu cursava o 3º ano(naquela época não eram períodos) da Faculdade de Economia(reservo-me o direito de não dizer o nome do estabelecimento), tinha um professor de Estatística que terminava sua aula dez minutos antes do sinal e contava a piada do dia, geralmente pornográfica. A turma adorava, mas tínhamos uma colega, a Mariana, que era casada e muito religiosa, e quando ele anunciava a "piada do dia", ela pedia licença para sair da sala. E o professor ficava debochando dela enquanto ela transitava da sua carteira até a porta de saída: - Lá vai a santinha, a pudica, a perolazinha da moralidade, e daí por diante. Um dia me enchi com aquilo e levantando-me do lugar, disse-lhe: - Você tem direito de fazer de sua aula o que quiser, mas ela não é obrigada a ouvi-lo. Além do mais você não pode desrespeitá-la, debochá-la e ridicularizá-la. Ele então se exasperou e me disse: - Faço o que quero, você ache direito ou não. Aqui quem manda sou eu. - A que repliquei: - Manda pinóias, pois antes de ser meu professor, você é meu empregado, pois a mensalidade que pago é que paga seu salário. Você está aqui é para dar aulas e não contar piadas. Se eu quiser rir vou ao circo assistir aos

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palhaços. E à partir de hoje você não conta mais piadas nesta sala de aula. Muito nervoso ele disse: - Conto sim, quer ver? ATENÇÃO PESSOAL PARA A PIADA DO DIA: Imediatamente dei o braço à Mariana e sai de sala. Quando olhei para trás TODOS OS MEUS COLEGAS me acompanhavam em fila indiana. Não ficou um só aluno em sala. Nunca mais houve a "piada do dia" na aula de Estatística. MEU PRIMEIRO DIA DE FACULDADE Bem, confesso que me eu primeiro dia de faculdade foi hilário demais. Quando entrei para a vida universitária já estava com 23 anos, e por uma herança genética de família,(pigmentação capilar) já tinha cabelos grisalhos, o que me dava uma aparência de ser mais velho. Além do mais, na minha faculdade não havia trote com raspagem e cabeça, o trote era filantrópico. E para se ter uma idéia, eu estava de terno e gravata, portando uma pasta modelo executivo, meu curso era noturno, eu estava voltando do serviço e tinha ido visitar um cliente de minha empresa. A primeira aula, em dois horários, seria Sociologia, e assim como eu, o professor se atrasara. Quando cheguei à soleira da porta, os meus futuros colegas, que já estavam em sala, pararam o ti-ti-ti, silenciaram e me olharam. Percebi que o professor ainda não chegara e a idéia veio com uma rapidez incrível: Dirigi-me à mesa do mesmo, depositei minha pasta sobre ela e saudei a turma: - Boa noite! Meu nome é Nei do não sei o que(inventei um sobrenome) e vamos passar este ano juntos. Inicialmente gostaria de fazer um pequeno teste de conhecimentos com vocês. E disparei a perguntar coisas inventadas e sem sentido: - Você aí: Qual a repercussão no século XVIII da Teoria de Baldame? Nada de resposta. - E você: Que importância teve Rotherdam no ciclo sociológico dos Prames? Nada de resposta. Aí discursei: - Como vocês pretendem enfrentar uma cadeira de sociologia sem o mínimo de conhecimento sociológico? Como pode um bando de ignorantes como vocês cursar uma faculdade e achar que vão sair daqui com um diploma nas mãos? Nesse meio tempo chega o professor, peguei minha pasta e procurei uma carteira vazia. Quando meus colegas deram pela coisa, vi pelo menos uma meia dúzia rosnando para o meu lado promessas de porradas na saída. Mas, ao sinal do intervalo para a cantina, já saímos todos rindo, abraçados, e ali começou um convívio de quatro anos de muita solidariedade e amizade. VEXAME Confesso que vinha eu vinha todo afobado por uma rua de Belo Horizonte. Eu estava atrasado para um compromisso em horário de rush, por isso a calçada estava entupida de gente. De repente, levei uma trombada de alguém e sem olhar eu disse:

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_ Ei, você não enxerga? - E o cara me respondeu: - Enxergo não, eu sou cego! Aí olhei pra trás e vi o pobre coitado do ceguinho de bengala na mão! Envergonho-me disso até hoje. LEGIÃO DA BOA VONTADE Confesso que tinha uma mulher da Legião da Boa Vontade que me ligava no meu trabalho todos os dias para pedir um donativo mensal para a instituição. Provavelmente algum amigo gozador deu o meu número de telefone comercial para ela, pois eles pedem indicações. Depois de refutá-la inúmeras vezes ela persistia e insistia, aí um dia eu comecei a cantá-la por telefone, dizendo que ia conceder o donativo mediante a "boa vontade" dela de fazer um programa comigo de sexo-sadomasoquismo. E comecei a descrever em detalhes o ritual com requintes de riqueza de detalhes. Em questão de minutos ela bateu o telefone em minha cara e me livrei definitivamente dela, pois nunca mais ligou.

PAPAL NOEL Era perto do Natal e a turma do meu departamento da empresa em que trabalhava resolveu fazer uma festa de confraternização de fim de ano. Bem, bebemos todas, lógico. Quando saímos do restaurante em que rolou a tal festa eu estava "mamadinho", prá lá de Sepetiba, não é que me aparece bem à minha frente um sujeito vestido de Papai Noel, panfletando reclames de uma loja! Fitei-o bem nos olhos, agarrei seu colarinho e lhe disse em tom irado: - Ram, ram. Vai me explicar agora direitinho porque nunca passou lá em casa! O cara de um solavanco se desvencilhou de mim e saiu pisando duro, ante as gargalhadas gerais, e dizendo: - Tá maluco, sêo? Tá maluco? A CARTEIRADA Confesso que tinha dezesseis anos e achava que ia ver alguma coisa demais em um filme de 18 anos, aí falsifiquei a minha carteira de identidade, vesti uma capa de chuva (nem chovia), coloquei um chapéu estilo Nat King Cole e um óculos escuro (à noite), comprei o ingresso e entreguei ao porteiro, que nada mais, nada menos quase engasgou de tanto rir, e qdo serenou seu riso me disse: - Meu filho, senta mais lá pro fundo e fica quietinho tá? Vou quebrar o seu galho!

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AS PRIMEIRAS FLORES Confesso que as flores são mágicas e nem todo mundo acredita no poder que elas têm. De certa feita eu pretendia conquistar uma mulher que me atraía, mas que não me via com o mesmo entusiasmo. Quando estava quase por desistir de meu intento, encontrei-a vagando pelo Mercado Municipal de Belo Horizonte, era a manhã de um sábado. Para quem não conhece, o Mercado Municipal de BH, além de reunir box com produtos hortifrutigranjeiros, tem box dos mais variados, alguns que vendem queijos, doces, etc; tem açougues, floriculturas e daí por diante. Mas, têm os barzinhos onde se pode beber uma cerveja geladinha, degustar um delicioso tira-gosto e se bater um papinho saudável. Ao vê-la. não hesitei, convidei-a para tomar uma cervejinha geladinha, que aceitou com muito pouco entusiasmo. Enquanto conversávamos ocorreu-me uma idéia, pedi licença por um minuto, fui até uma floricultura vizinha e comprei uma única rosa. Quando voltei ao barzinho e lhe estendi a rosa, impressionei-me com a emoção que tomou conta daquela mulher, e cheguei a temer que ela passasse mal. Seus olhos encheram-se de lágrimas, suas mãos tremiam e sua voz embargada pronunciou um "muito obrigado" quase inaudível. Ali começou uma relação de amor que considero uma das mais bonitas que vivi e que terminou contra minha vontade e dela também, que não cabe comentar aqui. Mas, em um determinado momento de nossa relação, aquela mulher que tinha 43 anos ao receber de mim a rosa, também CONFESSOU: - Quarenta e três anos, 12 namorados, 2 noivos e um casamento que durou 16 anos e nunca havia ganho uma flor. Fostes o primeiro! EU FIZ, NÃO SEI COM, MAS FIZ Confesso que nãosei como tive coragem, mas fiz. Eu comecei a namorar a ex-mulher de um juiz de direito e esse cara andou mandando recados ameaçadores pra mim, pois não se conformava que a mulher tinha lhe dado um bico no traseiro e, segundo o que ela me contou, todo mundo que se aproximava dela era ameaçado por ele que usava de seu cargo para intimidar. Inclusive ela me confidenciou que um dos motivos da separação era que ele não comparecia mais com a mesma freqüência. Pois então, além de espalhar pra todo mundo que ele era brocha, inventei que ele estava me assediando sexualmente, que o ciúme dele não era da exmulher comigo, mas sim de mim com a ex-mulher dele. Quando ele percebeu com quem estava se metendo, enfiou a viola no saco e foi procurar as negas dele, ou melhor o negos dele, talvez. A VINGANÇA Confesso que fui na casa de meu vizinho e em determinado momento ele me deixou sozinho na sala para ir ao banheiro. Aproveitei a deixa e troquei sal e açúcar de recipientes, para vingar da brincadeira que fez comigo trocando as

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capas de muitos de meus CD's e DVD's, quando o deixei sozinho na sala de minha casa na semana passada. NO SUPERMERCADO Confesso que fui ao supermercado hoje e tinha uma dona aparentando uns cinqüenta anos fazendo suas compras. Eu ficava como meu carrinho nas imediações do carrinho dela. Quando ela distraia eu colocava no carrinho dela algo, como por exemplo uma caixa de sucrilhos. Ela voltava, se espantava tirava a caixa de sucrilhos e prosseguia suas compras. Quando voltava encontrava uma garrafa de água sanitária. Eu já estava lá na frente. Ela olhava para os lados, tirava a água sanitária e prosseguia. Quando voltava encontrava um pacote de biscoitos. Bem, pra encurtar, depois de cinco acréscimos misteriosos ao seu carrinho, ela saiu pisando duro, largou o carrinho pra trás e foi embora. A cada três passos olhava curiosa pra trás sem entender o que estava acontecendo. Isso é bom demais, façam. E pra quebrar a rotina, de vez em quando mudem, ao invés de acrescentar tirem coisas do carrinho. rs rs rs rs rs rs rs...

PECADOR-MOR Acho que sou o maior pecador desta comunidade, não sei se é pelo momento de vida que estou passando que me leva ao arrependimento. Mas, ao confessar eu não estou com aquele sentimento de culpa próprio do arrependido, não. É com aquele prazer de reviver o pecado,saboreando-o, degustando-o; sobretudo aqueles que eu estava vingando uma injustiça cometida com alguém indefeso. Por isso, EU CONFESSO QUE, na minha cidade, mais precisamente no meu bairro, haviam dois cinemas, sendo que um deles pertencia a uma sociedade filantrópica de uma comunidade espírita, que além do cinema tinha um orfanato chamado INSTITUTO MARIA, que recolhia meninas órfãs, cuidava, educava e as encaminhava na vida após atingirem a maioridade. Portanto, a renda do Cine Paraíso era toda revertida para esse instituto. Pois não é que o Pároco da Igreja Católica do bairro desencadeou uma campanha proibindo que a comunidade católica freqüentasse o cinema. Bem, apesar de ter sido criado na religião católica, achei aquilo absurdo, como tantas outras pessoas do bairro. Pois a Igreja tanto pregava o "fazei o bem não importa a quem". Bem, não há necessidade de me alongar. Portanto, junto a mais dois colegas tramei um plano. Conhecedor da fama do padre que gostava de dar uns arrochos nas FILHAS DE MARIA que é uma ordem de beatas que freqüentam a Igreja, contratamos uma prostituta muito bonitinha para assediá-lo. E assim ocorreu, ela começou a freqüentar a Igreja em horários em que a mesma estava vazia, o que não demorou a chamar a atenção do padre, que logo passou a abordá-la, até o dia em que a arrastou para a sacristia. Quando levantou sua saia e escorregou suas mãos por dentro de sua

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calcinha, meu amigo saiu detrás de uma cortina, bateu a foto e saiu correndo. Não precisou mais que uma ligação telefônica(não queríamos nos identificar), para que o tarado suspendesse a campanha e reformulasse publicamente a posição da paróquia em relação ao Cine Paraíso. "PAI, FAZEI DE MIM O INSTRUMENTO DE VOSSA VONTADE" Acho que serei perdoado no juízo final! A PROFESSORA DE FRANCÊS Confesso que aos 14 anos apaixonei-me perdidamente por minha professora de francês. Na ocasião o francês fazia parte do currículo do extinto ginasial. Bem, a professora era linda, meiga, dócil, mas tinha 28 anos, exatamente o dobro da minha idade. Ela chamava-se Isabel, mas nas paradas de sucesso explodiam duas músicas francesas. Uma delas tema de um filme que marcou época: Um homem e uma mulher; e a outra chamava-se Aline. E para esconder o nome de meu amor platônico, dizia para todo mundo que eu tinha uma namorada e que ela se chamava Aline. Não satisfeito, decorei a letra da música em uma incansável jornada de quatro dias escutando o disco ininterruptamente, dei a minha semanada ao Betinho, um violonista do meu bairro, e fui pra debaixo da janela da dita cuja pra lhe fazer uma serenata. E aos ruídos estridentes de minha voz em mutação, sapequei a "Aline" deixando que ela me visse. No dia seguinte, corajosamente, com uma rosa em punho, esperei-a um quarteirão antes da escola, e declarei-lhe meu amor. Ela só passou a mão na minha cabeça e disse: - Seu trabalho do mês você entregou ontem à noite, não precisa fazer. Nota 7. Quanto ao resto, cresça e apareça. Vai procurar a sua turma. Foi um jato de água fria na fervura, mas não perdi a viagem, entreguei a rosa à Cidinha, uma paquerinha que andava meio que relegada a segundo plano, e assim sofri minha primeira desilusão amorosa, indo desafogar minhas mágoas nos braços da Cidinha.? O DIA EM QUE COLOQUEI UM CAVALO NO ELEVADOR Confesso que passei minhas inesquecíveis infância e adolescência em Juiz de Fora/MG. Quando estava prestes a deixar a cidade, contava ali com meus dezenove anos, estávamos dois amigos e eu próximo da meia-noite nas imediações de um dos cinemas da cidade, o Cine Excelsior, quando surpreendentemente surge um potrinho em meio à avenida, e coisa incomum no centro da cidade. Pelo horário e pela época, o movimento de veículos era quase inexistente, mas mesmo assim o bicho estava assustado. Como o cinema já estava exibindo a última sessão, das 22 horas, e prestes a terminar, era costume deixarem a porta de saída aberta, só com a cortina fechada para evitar a incidência de luz. Esta porta era lateral e ficava vizinha à porta do prédio de mesmo nome, sob o qual se situava o Cine Excelsior. Aí, meus amigos e eu tivemos a brilhante idéia. Tocar o cavalo e colocá-lo dento

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do cinema só por brincadeira e ver a reação da platéia do cinema. Ocorre que o cavalinho rumou-se e entrou portaria do prédio adentro, visto que era plana e ao nível da rua. Como o porteiro havia se apertado e dado inadvertidamente uma saidinha para ir ao banheiro, resolvemos colocar o potrinho dentro do elevador de serviço, daqueles mais largos e maiores, de prédios mais antigos. Ainda que assustado e apertado o bichinho se acomodou. Apertamos uma tecla de andar qualquer e disparamos o cavalo prédio acima. Como entrara apertado, ao chegar no andar destinado, a porta se abriu e o bicho foi jogado pra fora do elevador fazendo imenso barulho no andar em questão. Foi preciso chamar o corpo de bombeiros pra tirar o animal de dentro do prédio. A vizinhança toda acordou, a avenida encheu-se de gente. Meus amigos e eu assistimos a tudo em redobrados acessos de risos. Os autores da façanha jamais, foram descobertos, citados apenas como "vândalos" nas páginas do DIÁRIO DA TARDE (um jornal da cidade). JABUTICABA Confesso que quando fiz faculdade, meu melhor amigo era um negro, o Sebastião, que por me apelidar de "Macarrão"(eu era magrelo e branquelo), apelidei-o Jabuticaba. Tião era mecânico, tinha 43 anos quando o curso começou e queria ter o orgulho de concluir um curso superior, apenas isso. Mas, ele chegava tão exaurido à faculdade no fim do dia, que por minha conta e risco eu o dispensava pelo menos dois dias de aula por semana e assinava a chamada por ele. - Mas e a matéria Macarrão? Perguntava ele. - Pode deixar que quando você não der conta eu faço as suas provas. Garantia, eu. E, assim procedia. Nos dias de prova, eu fazia a minha prova, ele a entregava, aí eu pegava a prova dele e fazia pra ele. Bem, ficamos muito amigos, por essa e outras razões mais. Certa vez, nossa professora de Português ia aniversariar e resolveu convidar alguns alunos da faculdade para uma festinha em sua casa, mas fiquei sabendo que não convidou o Jabuticaba porque ele era negro. Não disse diretamente, mas deixou implícito discretamente. Pois bem, marquei uma roda de samba para um barzinho bem em frente à casa dela, levei uma ala de escola de samba só com batuqueiros negros, convidei o maior número de negros que foi possível, exatamente para o dia e horário da festa dela. À medida que o pessoal ia chegando pra festa da professora , eu e meus amigos íamos arrastando-as pra roda de samba. Pois então, frustrada, a professora desceu os comes e bebes pro boteco e acabou sua noite rebolando sua bunda branca numa festa em que prevaleceu a maioria negra!

RUBENS PALHAÇO Confesso que em um determinado período eleitoral municipal havia um

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candidato a vereador em meu bairro que saiu escrevendo pelos muros do bairro a sua propaganda, e não é que o bacana batizou o muro da minha casa: PARA VEREADOR RUBENS PALHA. Quando vi aquilo dirigi-me ao comitê do candidato que ficava pertinho lá de casa. Lá chegando encontrei o moço no meio de uma rodinha de puxa-sacos, também conhecidos como cabos eleitorais. Ao tentar argumentar educadamente notei que o pessoal me olhava com aquele ar de deboche, e meu nível de irritação foi ao limite máximo quando pedi que lavassem o muro, alguém proferiu um sonoro "AH É?" seguido de um ruidoso gargalhar geral. Foi então que eu disse: - Quer apostar que ainda hoje vocês estarão lavando o meu muro? E ouvi de novo: - AH É? Gargalhadas ao fundo. Pois bem, saí dali, comprei uma lata de tinta de mesma cor, convoquei um grupo de amigos para o apoio moral, fui para o muro lá de casa e retoquei a propaganda. .....................PARA VEREADOR RUBENS PALHAÇO................................... Então, em menos de meia hora lá estavam os puxa-sacos lavando e pintando o muro lá de casa diante de um coro animado: AH É? AH É? AH É? POIS É!!! O MOTORISTA RANZINZA Confesso que, como um bom mineiro, cheguei 40 minutos antes do horário de embarque à Rodoviária de Belo Horizonte. Eu ia pra São Paulo. Pra matar o tempo, fui para uma lanchonete, tomei duas cervejas e comi dois salgados. Não deu outra, com quase duas horas de viagem me deu uma cólica intestinal. Fui até à cabine do motorista, abri aquela portinhola, humilde e educadamente lhe falei: - Motorista, estou com disenteria, o senhor não pode fazer uma parada de emergência para mim dar uma aliviada -- Ele nem olhou pra mim e disse secamente: - A próxima parada é daqui a cerca de uma hora e quinze minutos. -- Aí retruquei: - Motorista, eu estou passando mal! -- E, ele repetiu incisivo: - A próxima parada é daqui a cerca de uma hora e quinze minutos. Aí não tive outra alternativa, abri a portinhola e falei bem alto para os demais passageiros: - Olha aí pessoal! Estou com diarréia, o motorista não quer parar o ônibus, eu não vou agüentar e vou jogar o barro aqui dentro do ônibus. O que se seguiu foi uma gritaria danada. A maioria, aos berros e quase em coro: - MOTORISTA SEU FDP, PÁRA ESSA ..ÔRRA DESSE ÔNIBUS. E, em menos de dois minutos estávamos estacionados em frente a porta do banheiro de um posto de gasolina.

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HOMEM OU RATO Confesso que eu tinha uma namoradinha pela qual era apaixonado, ali pelos dezessete anos de idade. Éramos uma referência do casalzinho bem entrosadinho de um grupo de amigos que se freqüentavam. Contudo, depois de um bom tempo de relacionamento chegamos a um momento de desentendimento e rompemos o namoro. Neste mesmo dia encontrei parte do grupo de amigos, acima referenciado, e anunciei o rompimento da relação. Todos manifestaram a opinião que esse rompimento seria meramente temporário e que logo reataríamos o namoro, e foi nesse momento, com os brios feridos, que proferi a infeliz frase: - Vocês pensam que sou um homem ou um rato? Bem, 5 dias depois desse episódio fui procurado por ela que reconhecendo a sua intransigência e reformulando posição, me propôs retomarmos o namoro, a que aceitei prontamente, arrependido que estava também. E assim, saímos de mãos dadas rua afora em mútuas juras de amor, quando para minha infelicidade ao passarmos por uma pracinha nos deparamos com aquele mesmo grupo com o qual eu havia me gabado. Passamos por eles sem que ninguém fizesse qualquer manifestação. Foi um silêncio absoluto. Mas, quando nos afastamos cerca de uns cinco a seis metros pude ouvir brados em uníssono: _ Ô rato... Ô rato... Ô rato... TELEMARKETING Confesso que eu fui um menino, e depois adolescente, muito levado. Não perdia a oportunidade de aprontar alguma pra cima de alguém. Quando alguém me provocava, ou quando eu via alguma covardia, aí parece que a minha criatividade redobrava. Mas, o que vou confessar mesmo é que preservei esse espírito moleque dentro de mim, e hoje aos 61 anos ainda prego algumas peças em alguém. E foi inspirado em um e-mail que me mandaram é que usei do mesmo artifício com uma operadora de telemarketing da Oi, na última sexta-feira. Ela me ligou se identificou e em seguida passou a me oferecer um determinado plano. Aí me disse que precisava atualizar o meu cadastro, começando pelo meu CPF. Eu disse a ela que se era uma atualização ela podia dizê-lo e que confirmaria ou não. Aí ela me disse que não era assim que funcionava, com certo irritação na voz. Aí eu pedi a ela que se identificasse, me desse o número de sua carteira funcional, que eu ia fazer uma chamada por celular à central da Oi pra confirmar se ela era realmente funcionária da empresa. Mostrando-se mais irritada, ela negou-se a me fornecer o nº da carteira funciona dela. Aí eu falei que por falta de comprovação da parte dela eu iria desligar o telefone. Ao que ela fez antes, mas não sem me mandar à PQP.

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O ANIVERSÁRIO DA DÉBORA Confesso que achei meio estranho, mas minha filha Renata, então com 8 aninhos, chegou em casa com um convite de aniversário de sua coleguinha Débora, feito à mão. E a festinha era naquele mesmo dia, às 19 horas. A insistência dela em ir à festa me fez sair correndo e comprar um presentinho pra garota. E lá fomos nós, endereço às mãos, localizei a casa em um bairro de classe média da minha cidade, e exatamente às 19 horas batemos à porta da casa. Aí, começou a surpresa. Atendeu uma mulher com um short todo desbotado, uma blusinha surrada, sandálias havaianas e um pano amarrado na cabeça: - Pois não? - Viemos pra festinha da Débora. - disse eu - Festinha? - retrucou ela, que em seguida soltou um urro: - Déboraaaaaaaaaaa Débora foi esconder-se debaixo de uma cama e só apareceu depois da situação controlada. E tá que chega gente pra festinha. Pais e mães trazendo seus filhos, coleguinhas de escola de Débora, que decidira promover sua própria festa surpresa. Foi então, que resolvemos alguns pais presentes rumarmo-nos a uma padaria próxima e comprar alguns refrigerantes, salgadinhos a quilo e um bolo, para alívio da mãe de Débora e deleite da própria. DIA DOS NAMORADOS Confesso o fora que dei em determinado dia dos namorados quando era adolescente. Eu estava duro e apavorado com a chegada do dia dos namorados, até que tive a (brilhante?) idéia de roubar um LP, daqueles bolachões pretos dos tempos idos, da coleção de minha irmã mais velha, comprei um papel de presente, caprichei na apresentação e todo sorridente entreguei-o à minha namoradinha Angélica, que ao abri-lo e tirar o LP da capa, observou ironicamente: - Legal, não precisa nem usar. Já veio todo arranhado! A MALDADE DA VOVÓ Confesso que não consegui segurar o riso diante da situação. Eu morava em um prédio onde meu apartamento era térreo e a janela do meu quarto ficava ao lado da passarela de entrada do mesmo. Certa manhã, espreguiçava-me para sair da cama, quando ouvi o filho do vizinho, menino de uns seis anos, que passava pela passarela com a avó paterna, dizer em tom sussurrante: - Vó, sabe o que minha mãe fez ontem à noite? E a avó, provavelmente acreditando que iria descobrir alguma mazela da

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nora, falou ao neto com aquele tom de malícia: -Conta meu filho, conta. E o menino soletrou sonora e pausadamente: - RO-CAM-BO-LE SOLIDARIEDADE Confesso que presenciei um fato inusitado, maravilhoso e inesquecível em Belo Horizonte, onde moro, cerca de uns três ou quatro anos atrás. Estava na porta de um shopping no centro da cidade, esperando um amigo, quando me surpreendi com uma turma de uns 150 adolescentes, aproximadamente, todos descalços, sujos, com roupas rasgadas e o rosto pintado de preto, dirigindo-se à porta principal deste shopping. Foi um alvoroço, quem por perto passava se espantava. Olhares incrédulos acompanhavam aquele grupo, que caminhava em passos cadenciados, mas em silêncio e de forma comportada. Todos, sem exceção, portavam uma mochila. Ao chegarem à porta do shopping, o segurança do mesmo apavorou-se. Aí, o garoto que estava à frente do grupo dirigiu-se ao segurança: - Vamos entrar aí, vamos comprar, vamos lanchar nas praças de alimentação e vamos nos divertir nos flippers. Você vai nos barrar? E foram entrando um a um, diante da impassividade do segurança. Ocuparam o shopping por umas três horas, vigiados por um aparato policial que para lá se dirigiu a chamado da administração do shopping, e depois saíram sem qualquer transtorno ou incidente. Posteriormente vim saber do que se tratava. É que no dia anterior, um colega de escola deles, havia sido barrado neste mesmo shopping, por ser negro e estar vestido de forma simples. Tratava-se de uma manifestação de solidariedade ao colega e um ato de protesto contra o estabelecimento e sua administração. Não foi chic isso? TIO PEDRO Confesso que meu melhor amigo na faculdade era um negro, e foi um dos melhores que tive em toda minha vida. Andávamos juntos pra tudo quanto é lado neste período de faculdade. Você nem imagina quantas vezes fui parar na delegacia, quantos bate-bocas me envolvi e quantas brigas me enfiei por causa daquele doce amigo que eu tinha. Quando eu percebia que alguém estava virando bico por causa da presença dele, eu trepava nas tamancas e chutava o pau da barraca com força. E, foi o pai dele, um analfabeto que assinava o nome com um xis, que diante de uma decisão precipitada que eu tive e me dei mal, me disse: "Antes de se tomar uma atitude em caráter definitivo, o raciocínio deverá ser o medidor das conseqüências, para que os resultados não nos apresentem mutilados pelos imprevistos." - Que anotei e nunca mais me esqueci. Na época eu disse:

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- Que é isso Tio Pedro? - Eu o chamava de tio - Quem diria o senhor me dando pito? Aí, ele me respondeu, ironizando: - Ô meu fio, sô anarfabeto, mais num sô burro não!!! E, foi dele que ouvi muita coisa que não encontrei nem nos livros. Sentados ao pôr do sol, em um tronco cortado de um ipê, à beira do regato que passava no fundo do sítio dele, pitando um cigarrinho de palha que só ele sabia fazer, ouvi histórias, contos, "causos" e relatos. Chorei de emoção, ri de satisfação e aprendi lições que reforçaram os ensinamentos recebidos de meus pais e foram fundamentais na minha estrutura de valores pessoais. O AQUÁRIO DA LEILA Confesso que não gostei muito da idéia mas a Leila, minha vizinha de prédio, chegou lá em casa com um aquáriozinho de 1,20 m x 0,60 m e seis peixinhos dourados dentro, dizendo que ia viajar por 20 dias e se eu poderia ficar tomando conta dos peixinhos dela. Eu não sei falar não e topei a parada. Ela o colocou em cima de um buffet da minha sala, ligou uma tomada e acendeu uma luz dentro do aquário e começaram a sair umas borbulhas debaixo de uma pedra no fundo. O aquário era cheio de pedras. Me deu uns vidrinhos e disse que era a ração dos peixes. Aí me explicou que colocasse uma certa medida todos os dias, só uma vez por dia. Acontece que eu cismei que os peixes estavam passando fome e comecei a colocar um pouquinho mais de ração e duas vezes por dia. Aí, continuei cismado e aumentei mais um pouco a quantidade e passei a colocar três vezes por dia. Depois de uns três dias comecei a perceber que saia uma tripa longa e fina do bumbunzinho dos peixes, e ficava agarrada. Passei a perceber que a minha sala começou a ficar fedorenta. Fui olhar e vi que aquelas tripas se acumulavam e ficavam boiando na água. E o fedor aumentando, passando a ficar insuportável. Aí resolvi trocar a água e lavar o aquário. Pus os peixes em um balde de plástico com água e fui lavar o aquário que escorregou da minha mão, caiu e trincou um lado do vidro. Levei o aquário para uma casa especializada em aquários e mandei colocar uma nova parede no lugar da trincada. O vidro ficou infinitamente mais claro que os demais. Quando fui pegar os peixes no balde, eles estava mortos. Desta forma tive que comprar outros. Quando a Leila voltou, entrou na minha sala, olhou para o aquário, aí me assustei. Em tom histérico ela disparou: - Que vidro branco é esse? Que pedras brancas são essas? Cadê o limo das pedras? Quem são esses caras? Cadê o Nelson? Cadê o Jonathan? Cadê o João Vítor, o Pedro Henrique e o Cristovão? Nei, você acabou com a minha vida!

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CHAPARRAL Confesso que até hoje eu me lembro do Chaparral com muito carinho. O Chaparral era o cachorro da minha ex-namorada, a terceira depois que me divorciei. Era um basset, daqueles salsichinhas, demasiadamente dócil e meigo . Só latiu e rangeu dentes pra mim nos três primeiros dias, depois tudo virou festa. Ele ouvia o barulho do meu carro e corria pro portão para me esperar. Meu momento mais inusitado com o Chaparral, foi o dia que quando fomos fazer "love" e esquecemos de fechar a porta do quarto. De repente senti um frio úmido no bumbum. Caramba, não é que o Chaparral subiu na cama e me deu uma tremenda lambida nas partes pudicas traseiras! Acabou com a festa, pois tive de lhe dar umas broncas em meio a uma gargalhada danada da namorada. Como tudo que tem um começo tem seu fim, chegou o dia em que o namoro acabou. Alguns dias depois a Tânia, vizinha dessa ex me flagra tomando uma cerveja em um boteco nas cercanias da casa dela, e me perguntou: - O que é isso Nei, tá com saudades da fulana? - A que respondi - Não é da fulana, não. Tô me lixando pra ela, é saudade do CHAPARRAL! A SERENATA Confesso que ontem à noite estava com insônia e comecei a me lembrar de um acontecimento muito gozado de minha adolescência. Eu tinha uma namoradinha ali pelos dezoito anos muito bonitinha, de família classe média baixa. mas muito metidinha a boa de sela e com fortes tendências a impor humilhações aos outros. Além do mas corria o boato que ela andava me colocando um chifrezinho despistadamente. Eu era pobre, nas mesmas condições dela, era estudante e não trabalhava, portanto um 'duro". E não é que a tal mocinha veio me contar que sua vizinha havia ganho uma serenata do namorado, tipo "coisa de cinema". O cara, filho de um industrial riquíssimo da cidade, contratara um violeiro profissional que levou uma guitarra elétrica com amplificação instalada em uma camioneta e deu um show madrugada adentro frente a casa da sua namorada. E no final da história ainda me cobrou: - "Tá vendo? Você não tem sensibilidade. É incapaz de me fazer um simples agrado, quanto mais uma serenata." Sequer deu ouvidos às minhas argumentações, deixando-me falando sozinho e injuriado com a tal história. Tão injuriado que saí dali direto para um botequim onde fui afogar as minhas mágoas. E toma uma, toma duas, noite chegando, toma mais outra e outra mais. E vem chegando a madrugada, e toma mais uma. Já tonto resolvi pegar rumo de casa quando vislumbrei uma lata de marmelada vazia dentro da lixeira do bar, e aí veio a idéia. Ela quer serenata, vai ter serenata. Peguei a lata de marmelada, um pedaço de toco de pau, dirigi-me à sua rua e postei-me debaixo de sua janela.

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Enquanto batia cadenciadamente com o toco na lata de marmelada: - Tum... tum.. tum ... tum... e tum, cantei a música que dizia: “Quero essa mulher assim mesmo/ sei que ela não é legal/ quero essa mulher assim mesmo/ sei que ela não é legal/ vou carregando o meu chifre, meu bem/ na maior cara de pau/ vou carregando o meu chifre, meu bem/ na maior cara de pau...” Bem, acho que nem precisa contar o final, né? A PELADONA Confesso que não foi por maldade. Eu morava com a minha ex-mulher e 2 filhas no 3º andar prédio de um prédio de 8 andares. Um começo de noite debrucei-me na janela da sala para pitar um cigarrinho. De repente vi um clarão vindo ao alto e caindo umas minúsculas fagulhas. Olhei para a janela do prédio em frente e tinha uma mulher me fazendo sinal com as mãos e gritando FOGO!!! Pensando que estava tendo um incêndio no meu prédio, chamei correndo minha ex-mulher, peguei a minha filha mais nova com 5 aninhos no colo e a maior pelas mãos. E falei que o prédio estava pegando fogo. Com isso saí porta afora correndo e disse pra ninguém pegar o elevador, descemos pelas escadas em desabalada carreira. Ao chegar no 2º andar me lembrei de uma senhora que era muito nossa amiga e morava com a filha adolescente. Meti o dedo na campainha e disse-lhe: - Dª Carminha sai depressa que o prédio está pegando fogo! A pobre coitada deu um berro com a filha advertindo-a do incêndio. E não é que a menina sai peladona do banheiro toda ensaboada e dispara porta afora até ganhar a rua? Mais, aí vem o pior. Quando olhamos para cima é que fomos perceber que não tinha incêndio nenhum. Era um homem com um maçarico soldando uma estrutura metálica na cobertura para instalar um toldo. Aí, a Dª Carminha deu um grito e abraçou a filha, dizendo: - Gente, a Rosângela está pelada! E com isso as duas ficaram de mal de mim. Não entendi a razão, pois eu tive a melhor das intenções, e a menina nem para se enrolar em uma toalha. NÃO TEM PREÇO Confesso que não sou muito certo da cabeça, mas eu não sou de levar desaforo para casa, e nesta confissão acho que vão me dar razão. Foi um dos momentos mais engraçados de minha vida. Entrei em um pizzaria de BH e pedi uma cerveja, uma pinga e uma pizza a palito. Quando fui servido, comecei a colocar o azeite sobre a pizza, e como adoro azeite estava colocando à vontade quando o garçom dirigiu-se a mim dizendo que o azeite era para dar um gostinho na pizza e não para dar-lhe um banho. Eu disse a ele que não tinha perguntado o preço e que cobrasse o que quisesse, eu estava pagando e colocaria quanto azeite julgasse necessário. E coloquei mais azeite na pizza. Ele chamou o maitre, e começou

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a discussão. O local estava lotado e as pessoas nas mesas ao meu redor acompanhavam atentas a discussão. Uns balbuciavam palavras de solidariedade a mim, outros manifestavam apenas uma ou outra interjeição. Quando a discussão chegou a um ponto de exasperação de parte a parte, surgiu o gerente e me deu razão: - Ele está pagando, consome o que quiser. Nós estamos servindo, cobramos o que quisermos. Desfez-se a confusão, eu voltei à minha pizza e bebidas, e o garçom ficou de lado me olhando com a cara azeda. Aí, eu coloquei mais uma abastada quantidade de azeite na pizza que acabou boiando em tanto azeite, e virei o resto da lata na minha cabeça, na camisa, nas calças e nos braços. O pessoal das mesas adjacentes levantou-se e aplaudiu com entusiasmo, ante o olhar atônito do garçom. Quando veio a conta lá estava: 1 lata de azeite de oliva .........................R$ 100,00 (isso cerca de 5 anos atrás) Paguei caro, pelo azeite, pela camisa e calça que estragaram e joguei fora. LATA DE AZEITE .......................................................100,00 REAIS CAMISA E CALÇA.......................................................120,00 REAIS PRAZER DE NÃO LEVAR DESAFORO PRA CASA...........NÃO TEM PREÇO EMPRÉSTIMOS Confesso que eu descontei com juros e correção monetária. Foi assim: Era demais! O meu azar é que o Flávio era meu colega de trabalho, de faculdade e morava na mesma pensão que eu morava. E tinha mania de pedir coisas emprestadas. No serviço: me empresta a borracha, o lápis, a caneta, etc. Na faculdade: me empresta esse livro, essa folha, esse texto, etc. Na pensão: me empresta esse disco, a sua camisa azul, a escova de sapatos, etc. Eu não agüentava mais o Flávio, era de 1º de janeiro a 31 de dezembro, 24 horas por dia, me empresta isso, me empresta aquilo, me empresta aquilo outro. E chegou o grande dia. A turma de último ano de faculdade resolveu promover um bailão para arrecadar fundos para a festa de formatura, e não é que o Flávio me aparece lá com a noiva que morava em sua cidade de origem? Tomei algumas, fiquei light e quando me aproximei sorrateiramente da mesa onde eles estavam, peguei sua noiva pela mão, sem dar chances para ele reagir. puxei-a rapidamente e disse: - Flávio, me EMPRESTA sua noiva para mim dar uma dançadinha? Praticamente arrastei-a até a pista, enlacei-a com força entre meus braços, colei meu rosto junto ao dela, e enquanto meu braço direito a mantinha bem coladinha a mim, a mão esquerda escorregava pelas suas costa e descia até metade de seu traseiro. Com minha perna direita enfiada entre as pernas dela eu corria a ponta da língua na sua orelha em gemidos e murmúrios: hum... hum.. hum... hum... E a cada 5 huns eu soltava um suspiro: aaaahhhhhhh!!!!!

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Vez ou outra eu olhava para mesa onde estava o Flávio que suspendia o pescoço em nossa direção demonstrando uma inquietação frenética. E sorrialhe. Ao terminar a seqüência musical, levei-a até a mesa e disse: - Obrigado, Flávio. Valeu! Traga-a mais vezes! Não precisa dizer que nunca mais o Flávio me pediu nada mais emprestado, não é? TULIUS DETRITUS Confesso que meu amigo, o Murilo, é realmente uma pessoa especializada em semear a discórdia. Em qualquer ambiente onde exista harmonia, é só o Murilo chegar que se estabelece a discórdia. Por isso ganhou o apelido de Tulius Detritus, personagem de antiga história em quadrinhos denominada Asterix, com as mesmas características do Murilo. Pois bem, estávamos um sábado à tarde na casa do Murilo, comemorando o seu aniversário. Como seu apartamento tinha uma sacada enorme, ele colocou ali uma churrasqueira de metal, levamos para lá cervejas e caipirinhas, e enquanto assávamos as carnes na brasa, íamos bebericando e proseando assuntos diversos. Ele, quatro outros amigos e eu. Repentinamente, na avenida em que se situava o prédio do Murilo, bem à nossa frente, ocorreu uma batida de trânsito entre um Tempra e um Corolla. Por sugestão de Murilo, largamos lá o churrasco e ganhamos a rua para vermos de perto o acontecimento. Quando lá chegamos os proprietários dos veículos já haviam feito um acordo em cada um arcar com seu próprio prejuízo, e ambos e cumprimentavam em despedida, quando o espírito de porco do Murilo perguntou? - Mas, de quem é o Tempra? Ao que um deles respondeu: - É meu! E Murilo devolveu: - Mas, você toma um prejuízo desses e deixa assim de graça? Acreditem, em menos de quinze minutos os proprietários dos veículos estavam prestes a trocarem sopapos, e os ânimos só serenaram com a chegada da polícia. Enquanto o Murilo, que já retornara para seu apartamento, tudo assistia serenamente da sua sacada, observando: -Incrível, uma batidinha sem maiores conseqüências é motivo pra esse barraco todo? O TÊNIS NIKE Confesso que me lembrei-me de uma história que presenciei e que foi um dos dias que mais chorei na minha vida. Eu moro em Belo Horizonte, e algum tempo atrás vinha caminhando por uma das suas principais avenidas, quando percebi uma garotinha negra, de uns dez anos mais ou menos, sentada ao canto da calçada, e passando no momento na calçada uma garotinha branca aparentando a mesma idade. A pretinha ficou olhando o tênis Nike da branquinha tão acentuadamente que

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chamou a atenção da branquinha. Essa, toda bem vestidinha, mochila Company, relógio Technos e daí por diante, parou defronte à pretinha e perguntou: - Gostou? A pretinha assentiu só com um meneio de cabeça. Pois bem, a branquinha assentou-se ao chão, tirou o tênis, entregou-o à pretinha, levantou-se jogou a mochila às costas e foi-se embora descalça. Os olhinhos da pretinhas e iluminaram de alegria e ela logo foi calçando o tênis. Os meus olhos encheram-se de lágrimas, e eu soluçava tanto que as pessoas que passavam por mim olhavam assustadas, sendo que muitas perguntavam se eu estava me sentindo mal. Esse dia eu chorei tanto, que não tem como mensurar. Esse sou seu. Um chorão. JOSÉ LUIZ Confesso que sempre fui muito brincalhão, gozador e em algumas vezes ate moleque. Mas, se tem uma coisa que sempre detestei foi qualquer tipo de discriminação, descaso e maus tratos aos menos favorecidos. E, estava em um belo domingo,sentado em um restaurante self-service com mesas até sobre a calçada. Antes de almoçar resolvi tomar uma cervejinha e bebericar uma pinguinha, só para abrir os caminhos. Cada mesa continha uma cestinha acondicionando condimentos, tais como pimenta, molho inglês, azeite, sal e paliteiro. Eu estava sentado ao lado de uma mesa que comportava um rapaz negro. Súbito cegaram quatro senhores que ocuparam a mesa defronte à mesa do rapaz negro. As bíblias, o palavreado e outras características demonstraram imediatamente serem pastores evangélicos de uma igreja vizinha ao local. Após servirem-se no balcão de alimentos, sentaram-se e foi quando deram falta da cestinha de condimentos em sua mesa. Simplesmente, um deles virou-se para trás e sem proferir uma única palavra,pegou a cestinha da mesa do rapaz negro e transferiu-a para sua mesa. O sangue subiu ao meu rosto com tamanha rapidez que cheguei a sentir um imenso calor queimá-lo ao ponto de arder; Aí,em alto brado, eu disse ao suposto pastor: - Ei, você aí! Ele virou-se e me fitou acintosamente, e eu continuei: - Você pediu licença ao moço para pegar o cesto de condimentos de sua mesa, ou não o fez porque ele é um moço de cor negra? Ou porque você se acha no direito por alguma outra razão? E prossegui: - Devolva imediatamente o cestinho de condimentos ao rapaz e peça-lhe desculpas. Não acredito que é isso que ensinam ali em sua igreja. Imediatamente, aquele cidadão devolveu o cestinho com um pedido de desculpas. O rapaz que apenas bebia uma cerveja, pediu para assentar-se à minha

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mesa, o que concedi e foi feito de imediato. Apresentou-se a mim como José Luiz e também me apresentei a ele. Repentinamente ele disse: - Senhor Nei, eu nasci órfão de pai. Minha mãe disse que ele morreu atropelado durante a minha gestação. Cresci sem qualquer apoio e sem poder estudar. Fui ajudante de borracheiro, depois frentista e ajudante de caminhão. Apanhei da vida, levava desaforos pra casa, era afrontado inúmeras vezes. Hoje trabalho com um banca própria de verduras e legumes no mercado distrital,que adquiri com muito sacrifício. Sabe, Senhor Nei, em todos esses anos de minha vida, estou com 39 anos, nunca ninguém me defendeu. Jamais alguém levantou a voz em meu favor. E, vertendo lágrimas, me perguntou: - Posso dar-lhe um beijo na face? - Claro – disse eu. E ele me tascou um beijo no rosto todo molhado de lágrimas. Levantou-se alegando ir ao toalete, voltou e tomou o último gole de seu copo de cerveja. Deu-me um forte abraço e se foi. Quando pedi a minha conta, o garçom me informou que a conta já estava paga. Inúmeras vezes encontrei-me como o José Luiz naquele bar/restaurante, e muitas vezes bebemos umas cervejas juntos. Mudei-me de bairro e não tive como comunicar-lhe, dado à correria da mudança. Mas, o episódio ficou marcado em nossos corações, com certeza. BIAS FORTES Um de meus bisavôs maternos veio da Itália, quando começaram os primeiros sinais da 1ª Guerra Mundial. Instalou-se em uma região campestre entre Barbacena e Santos Dumont, e lá foi um dos fundadores de um arraial que muito mais tarde emancipou-se com o nome de Bias Fortes. Lá, nasceu e se casou minha avó materna (e teve 6 filhos, dos quais minha mãe era a mais velha. Minha mãe foi fazer o curso de normalista em Barbacena e conheceu meu pai, oriundo do Rio de Janeiro e que estava trabalhando na cidade, depois que se casaram mudaram-se para Juiz de Fora/Rio/Juiz de Fora, circuito em que fomos criados. Para resumir, as férias de junho eram obrigatória e saudavelmente passadas em Bias Fortes. È um dos lugares mais lindos que conheci na minha vida. Ano após ano, lá estávamos em férias. Beleza, acolhimento, silêncio e uma sensação de paz faziam do lugar um paraíso terrestre. Bem, o tempo passa, as coisas mudam na vida da gente, a vovó morreu e eu busquei o mundo atrás do meu espaço, do meu lugar, da minha vida, enfim. Fiquei trinta anos sem ir à Bias Fortes e em 1999 resolvi rever o lugar, matar as saudades. E para dar maior emoção e veracidade, deixei meu carro em Barbacena e peguei o ônibus rodoviário, que apesar dos anos, muito pouco mudou, assim como o trajeto, paradas para lanches eram os mesmos.

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Quando o ônibus começou a pegar a estrada eu comecei a relembrar dos locais, ver de tudo de belo que o trajeto oferecia, e reviver aqueles dias de intensa alegria e felicidade,aí desabei. Disparei em um choro descontrolado, alto e soluçante, que chamou a atenção dos passageiros, que ficaram entre preocupados e espantados com aquela comoção. Muitos me conheceram quando garoto e vice-versa, mas os sinais dos tempos impediram a identificação visual, e só quando consegui expressar-me com dificuldades é que relatei o que estava ocorrendo. Aí a choradeira foi geral. Muitos me abraçaram, beijaram-me e propiciaram-me doze dias de permanência na cidade em um clima de muita emoção, alegria e confraternização e inesquecíveis. O SEGREDO DE NEUZA

Neuza foi uma tentativa frustrada que tive de realização afetiva. Conheci-a, nos identificamos muito inicialmente e decidimos compartilhar uma vida em comum e fomos morar debaixo do esmo teto, sem oficializações legais de união. Neuza tinha dois filhos, e o mais velho tinha 19 anos na época em que a conheci. O rapaz era esquizofrênico, embora ela insistisse que ele fosse autista. Contudo, na ocasião eu fiz um estudo acurado sobre esquizofrenia e autismo, pois eu achava que estavam tratando o rapaz de forma equivocada e eu queria ajudá-lo Inclusive eu levei um dia o rapaz ao consultório de um psiquiatra amigo e que o submeteu a alguns testes e exames, comprovando a esquizofrenia. Ela virou bicho, ficou iradíssima, assim como o pai e a mãe de Neuza ficaram muito chateados comigo. Achei aquilo muito estranho e procurei deixar o assunto de lado e não me envolver em um problema que não era de minha competência. Contudo, passei a perceber umas atitudes estranhas em Neuza. Ela saía e ficava fora o dia inteiro. Eu ligava em casa e não a encontrava. Quando eu chegava do serviço ela me contava que estivera coma mãe e foram comprar azulejos para a mãe fazer reforma da cozinha dela, contudo eu perguntava à mãe dela quando seria a reforma da cozinha e a mãe nem sabia de reforma nenhuma. E a cada dia uma mentira nova e novos sumiços. E comecei a perceber que a pensão dela (ela já estava com a esclerose múltipla e fora aposentada por invalidez) não durava mais que 10 dias e ela não tinha despesa nenhuma. Eu arcava com todas as despesas da casa e o filho mais novo estudava em uma escola pública. Ela, em pouco mais que dez dias começava a me pedir dinheiro, alegando que tivera que socorrer a mãe em uma despesa extra, ou ao irmão, à irmã, etc. Um dia resolvi segui-la em uma de suas saídas misteriosas, que eram sempre acompanhadas pelo filho mais velho. E, descobri que ela estava alimentando e escondendo um vício do filho em jogatinas em cassinos clandestinos, que proliferam em BH. Não eram bingos, eram cassinos clandestinos mesmo, coisa barra pesada. Eu fiz de bobo e fingi que não sabia. E, para complicar, um dia cheguei mais cedo em casa sem avisar, e a peguei

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masturbando o filho. Pois, ele morria de vergonha de mulheres. Se o levasse a uma casa de prostitutas ele ficava tímido e nem entrava. Se contratasse uma prostituta que atende a domicílio, ele se escondia debaixo da cama e não saía de lá nem arrastado. Então para aliviá-lo ela o masturbava. Sei lá se não fazia outras coisas mais. Não quis apertá-la para saber. A doença dela agravou e a família dela exigiu o meu afastamento, já que eles percebiam que eu tinha descoberto esses segredos, e diante da gravidade do caso dela e da insistência deles preferi não insistir muito e afastei-me definitivamente. O MEU MODO DE SER De certa feita, um amigo dizendo-se fã incondicional das mulatas, perguntoume qual o tipo de mulher que eu preferia. Como naquele momento eu estava sozinho, sem ninguém, eu lhe respondi: - Eu gosto de mulher. Eu não tenho um tipo definido de mulher em minha predileção baseado em raça, cor, posição social, cor de cabelo. Eu gosto de mulher, desde que seja inteligente, dona de princípios éticos e morais compatíveis aos meus e seja possuidora de predicados virtuosos, pode ser branca. preta, morena, loira, oriental, mulata, alta, baixa, pobre, rica. Não existe um padrão definido. Ele achou muito estranho e insistia em que todo mundo tem um tipo, um estereótipo físico, um padrão. Aí contei a ele sobre um processo de seleção do qual eu participei, no qual estavam recrutando um gerente de planejamento de produção e materiais para um empresa que tinha uma filial no Amapá. Era um processo fechado, não foi revelado a matriz. Depois de muitos testes psicotécnicos, entrevistas, etc. Sobramos 5 candidatos, dois de São Paulo, um de Porto Alegre, um de Curitiba e eu de Belo Horizonte. Então fizeram uma dinâmica de grupo para definir dois finalistas que seriam encaminhados à empresa para uma entrevista decisiva com o diretorpresidente da empresa (tudo me dizia que a matriz era a Cia. Vale do Rio Doce, pois inclusive o recrutamento estava sendo feito em BH). Pois então, uma psicóloga acompanhada de um executivo da empresa, se reuniu conosco e soltou uma única pergunta, a qual cada um deveria ter a sua resposta. E a pergunta era: 'Você que vive em uma metrópole que lhe oferece todo o conforto de uma grande cidade, shoppings, restaurantes, teatros, cinemas e outras facilidades, como se sentirá vivendo em um lugarejo onde só existe a empresa e floretas, árvores, macacos pulando de galho em galho, coisas assim? Não me lembro de todas as respostas, uma me chamou muito a atenção, pois eu achei uma resposta até certo ponto infantil. Um dos paulistas disse: - "Eu já moro mesmo numa selva de pedras, não me importa viver em uma outra selva." O curitibano disse: - "Levando minha mulher comigo, eu vivo em qualquer lugar."

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O resto, não me lembro. Mas, quando chegou minha hora de responder eu disse: - Olha, meu carro é um fusquinha com o pára-choque amarrado com um arame e a cor dele está toda desbotada, mas é ele que me leva onde quero ir e onde preciso. Portanto é o meu carro. Minha mulher é magrela, feia, banguela e vesga. Mas é ela quem me espera no portão quando chego do trabalho, quem prepara meu banho, quem serve a minha janta, dorme ao meu lado, me dá um beijo de boa noite e me chama de meu amor. Portanto é a minha mulher. Diante disso, não me importa que eu esteja trabalhando em uma cidade grande, em uma selva ou qualquer outro lugar. Pois onde eu estiver produzindo, me realizando e ganhando o meu pão honestamente, esse é o meu lugar. Olha, eu senti na voz da psicóloga que eu estava aprovado, quando ele disse que era para nós esperarmos na sala ao lado, que dentro de minutos ela iria definir os dois finalistas. Eu tinha sido o último a responder. Em questão de poucos minutos ela anunciou os dois finalistas: o outro paulista e eu. Quando eu saía, a psicóloga falou baixinho ao meu ouvido: - Estou impressionada com a sua resposta. Não fiquei sabendo qual a empresa, pois o combinado é que dentro de 5 dias, o paulista e eu deveríamos procurar essa empresa de recrutamento, que foi contratada para o desenvolvimento do processo, e pegarmos a passagem para o Amapá e as demais coordenadas. Contudo recebi uma proposta de trabalho interessantíssima dois dias depois e fui lá só avisar que iria me desvincular do processo. RÓTULOS Eu percebi e aprendi muito cedo que não se generaliza ou se rotula nada. Eu me irrito quando alguém afirma: "Os cariocas são metidos a besta" , ou "Paulista é frio, anti-social", ou "Baiano é folgado" Morei muitos anos no Rio, morei em São Paulo (capital e interior(São José dos Campos), morei em Itajaí/Santa Catarina e rodei esse Brasil de ponta à ponta. Encontrei muitos cariocas bestas, muitos paulistas anti-sociais e muito baianos folgados. Mas, conheci cariocas agradáveis, inteligentes e bondosos. Paulistas acolhedores, solidários e extremamente sociáveis, assim como muitos baianos trabalhadores e prestativos. Eu adoro o convívio com pessoas inteligentes, é sempre uma excelente oportunidade de se aprender. E sem nenhuma demagogia, eu sempre achei as mulheres muito mais inteligentes que os homens. De meus funcionários vida profissional afora, as mulheres sempre foram e se destacaram como meus, no caso, minhas melhores colaboradoras. Conviver com uma pessoa inteligente em qualquer plano, seja no social, seja as amizades, seja no afetivo, seja no profissional é altamente gratificante.

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Partilhar uma relação afetiva com uma mulher inteligente é maravilhoso. Eu sempre me orientei pelos ensinamentos do meu pai, que fazia questão da família estar reunida nas refeições, ocasião na qual o diálogo era aberto e franco e podia-se perguntar sobre qualquer assunto. Ele dizia que apreciava aprendermos corretamente em casa aquilo que podíamos aprender errado nas ruas. E, sempre gostei de me atentar à máximas, ditados e frases sábias. E aprendi que: "Permaneça calado enquanto o silêncio puder acrescentar." (anônimo) “Existe no silêncio tão profunda sabedoria, que às vezes ele se transforma na mais perfeita resposta" De quem? Dele: Fernando Pessoa Desta forma, eu sempre procurei ouvir, prestar atenção e aprender, ao invés de contestar e tentar concorrer. Acho que uma troca bem feita traz maiores ganhos que, achar que ganhou em uma disputa, aquilo que acabou colocando por se perder. Os garimpeiros utilizam uma vasilha chamada bateia, que recolhem a areia no fundo do rio e silenciosamente, meticulosamente eles vão examinando a areia e é assim que descobrem os resíduos auríferos ou diamantíferos. Eu conheci as preciosidades em forma de gente, prestando atenção, observando a forma inteligente de se pronunciar, expor seus pontos de vistas , fazer suas análises e ponderações. Para finalizar, a competição entre pessoas é tão perniciosa que dinamita, detona a oportunidade de crescimento e desenvolvimento de ambos os lados. Eu brinco com minhas amigas às vezes, (minha filhas são morenas) mas, abomino essa "coisa de loira burra". Tenho amigas loiras autênticas, que são inteligentíssimas.

UMA GRANDE LIÇÃO Depois de minha separação de um casamento conturbado e que durou 18 anos, eu tinha um objetivo que era encontrar alguém com quem pudesse me realizar afetivamente. As duas primeiras tentativas não deram certo, encontrei barreiras nos filhos dessas pessoas que me desanimaram prosseguir os respectivos relacionamentos. E estava muito descrente com a possibilidade de encontrar esse alguém com quem eu tanto sonhava, até que conheci uma mulher que encheu meu coração novamente de ilusões. Ela era muito bonita, meiga e afetuosa. Transmitia-me paz, e o melhor é que seus filhos, dois rapazes, me aceitaram e nos incentivavam. A relação estava por completar um ano quando um colega de serviço nos convidou para sermos padrinhos de seu casamento. Ela. que se chamava Izabel, muito vaidosa que era, escolheu um modelo de vestido em uma revista de figurinos, comprou um tecido maravilhoso, cor de salmão, e levou-o para uma costureira especializada confeccioná-lo. Comprou sapatos e bolsa combinando com o vestido esse preparou com muito capricho para o evento. Bem, chegado o dia do casamento, faltando algumas horas, fui tomar o meu banho e me vestir. Após meu banho, ela que se preparava para o seu,

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ao estender o seu vestido sobre a nossa cama de casal, percebeu que um dos apliques que o mesmo continha estava meio bambo. Então tranqüilizei-a dizendo que enquanto tomasse seu banho eu reforçaria o aplique com o uso de uma linha e agulha. E assim o fiz. Estendi o vestido aberto sobre uma mesa e de posse de linha e agulha comecei a proceder o devido reforço. Fumante que sou, acendi um cigarro e coloquei um cinzeiro em uma beirada da mesa. E era uma baforada e uma agulhada, cigarro na boca e cigarro no cinzeiro. Até que sem perceber coloquei o cigarro sobre o tecido do vestido, achando que o colocara no cinzeiro. Quando dei pela realidade o cigarro já havia feito um buraco de uns dois centímetros e meio de diâmetro no vestido. Entrei em pânico, e justamente no momento em que ela saía do banho, enrolada em uma tolha. Chamei-a à sala e todo acabrunhado mostrei a ela a minha proeza. E. esperando um estardalhaço por parte dela, surpreendi-me quando ela calmamente disse: - Tem aquele meu vestido preto que usei no batizado do Julinho (afilhado que ela batizara dois meses antes), tem os sapatos e a bolsa preta, vai dar tudo certo. Entre surpreso e envergonhado eu lhe perguntei: - Izabel, você não vai me xingar? Não vai me chamar de FDP e irresponsável? Não vai pegar uma vassoura e me dar umas vassouradas? Aí, me surpreendi mais ainda e fiquei conhecendo verdadeiramente a mulher emocionalmente inteligente e equilibrada com que estava vivendo. Aquela mulher me deu uma das mais bonitas lições de minha vida, ao dizer: - Olha aqui, um vaso quebrado conserta-se, compra-se outro. Uma camisa rasgada, costura-se, compra-se outra. Em um vestido queimado põe-se um outro aplique em cima, compra-se outro. Mas, uma palavra mal colocada, mal pronunciada no momento em que uma pessoa encontra-se decepcionada, com sentimento de culpa, pode nunca mais ter conserto. Festas acontecem todos os dias, vestidos existem aos milhares nas lojas, mas você é único para mim! Não pude conter minhas lágrimas, cheguei ao casamento com os olhos vermelhos, mas carregando dentro do meu coração a certeza que eu tinha alguém verdadeiramente dotada de sentimentos por mim e que minha busca não tinha sido em vão. Todavia, o destino algum tempo depois iria me pregar uma peça. Izabel deixou-me para reviver um amor do passado que surgiu e reconquistou seu coração

MINHA FILHA POR ADOÇÃO DO CORAÇÃO: FABIANA Fabiana foi uma funcionária em duas ocasiões diferentes e com quem desenvolvi uma relação de amizade e confiança de afinidade muito acentuada. Ela hoje tem a idade de minha filha caçula, a Maura.. Ela na verdade me adotou como um segundo pai e eu a dotei como um terceira filha, já que tenho duas filhas biológicas Hoje ela é casada com um rapaz muito bom, trabalhador, formado em administração de empresas, e está grávida de

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seu primeiro filho. E, ela formou-se no curso superior de enfermagem e exerce a profissão com muito afinco. Fabiana é a responsável pelo maior presente de Natal que ganhei em minha vida. Foi no Natal de 1999. Ao final do expediente do dia 24, que se encerrava ao meio-dia, ela entregou-me uma carta dobrada em duas, desejou o tradicional Feliz Natal e foi reunir-se com os seus familiares. Ao abrir e ler a carta é que pude entender o imenso valor de seu conteúdo e que se tornou o maior e melhor presente natalino de toda minha vida. Abaixo reproduzo o teor da carta:

Nei Um bom livro ou um bom disco. Há momentos em que a literatura e a boa música são excelentes companhias, mas nada substitui plenamente a presença de alguém tão querido como você, que sabe estar presente no momento adequado, abrir a boca no momento propício (para dizer coisas inteligentes, sempre) e que, exatamente por isso é a melhor companhia amiga com a qual alguém pode contar. Você é mesmo uma pessoa especial e é por isso que me sinto especialmente feliz em desfrutar da sua amizade, carinho e confiança. Nos momentos em que me sinto só, lembro-me de você e de quanto é boa a sua companhia, sempre com um gesto bom ou uma palavra doce (até mesmo quando eu mereço levar “um puxão de orelhas”), pois acontece que você é uma pessoa tão sincera e franca que até mesmo quando faz “abrir os olhos”, o faz com tanta delicadeza que eu acabo nem percebendo que acabei de levar uma bronca. Esta sua habilidade em expor os seus pontos de vista sem ofender e sem abalar a minha confiança em você é que me faz senti-lo cada vez mais amigo, uma pessoa imprescindível para mim. Se todas as pessoas que se dizem amigas das outras fossem iguais a você, que maravilha viver. Sua sempre filha e amiga Fabiana Barbosa - 24/Dez/1999 A VERDADEIRA BELEZA Eu tive uma namorada na adolescência, com a qual desenvolvi sentimentos muito fortes. Ela era magricela feia e meio que desconjuntada, mas eu olhava para ela e via uma moça linda de encher os olhos. Estudávamos na mesma escola, Certo dia, uma colega de classe muito maldosa me perguntou: - A feiosa hoje não veio? Não a vi por aí. - e eu lhe devolvi a pergunta com outra:

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- Mas de quem você está falando? – Ao que ela respondeu: - Da sua namorada, ora - e eu lhe disse - Eu não a acho feiosa, pelo contrário, eu a acho linda. Ela tem algo que você jamais irá possuir, uma beleza que somente quem tem sensibilidade e inteligência emocional é capaz de enxergar. Seus olhos têm uma barreira para as coisas verdadeiramente belas. E infelizmente você jamais encontrará a verdadeira beleza das pessoas. E repeti para ela a famosa frase se Antoine de Saint-Exupery em O PEQUENO PRÍNCIPE.: "Só se enxerga corretamente com o coração, o essencial é invisível para os olhos.” , Ana Maria mudou-se para Brasília, seu pai era militar e foi transferido. Não tivemos como continuar o namoro. Eu era adolescente e não tinha recursos financeiros para viagens constantes. Trocamos algumas correspondências e elas foram se escasseando até que um certo dia ela me escreveu dizendo que ia ficar noiva. Com isso parei de me comunicar com ela.. SOLIDARIEDADE II A falta de solidariedade é muito grande As pessoas não estão nem aí com os seus semelhantes. Curiosos são, mas estender uma mão, um dedo sequer, são incapazes. Ninguém quer se envolver. Passei por muitas coisas difíceis na vida. Enfrentei muitas situações delicadas sozinho, e em algumas cheguei até a me exasperar com as pessoas. Esse negócio de bullying é antigo nas escolas, só que não se usava aqui no Brasil essa expressão em inglês. Muitas e muitas vezes entrei em conflitos na escola em defesa de alguém que estava sendo assediado moralmente pelos colegas. Batia, apanhava, ia às casas dos pais dos agressores "dedurar", ia à sala da diretoria e, muitas vezes, até em delegacias. Meu pai ficava louco, mas ao mesmo tempo me apoiava, pois ele também tinha esse espírito justiceiro. Já internei no hospital um camarada atropelado e fiquei com ele 3 dias direto no hospital esperando alguém da família dele chegar, pois ele era do Piauí e tinha vindo para São Paulo(onde eu morava na época) em busca de emprego. Já dei um soco na cara de um sujeito que deu um tapa no rosto da esposa em pleno supermercado, e eu não consegui me controlar. Minha mulher (a mãe de minhas filhas) ficou 16 dias sem falar comigo, dizendo que passou a maior vergonha e eu não tinha de me meter em assuntos que não me competiam. Dei outro soco em um indivíduo que estava se masturbando dentro do ônibus metropolitano, olhando as pernas da moça sentada no banco à frente, que estava com uma saia mais curta. Hoje vejo pessoas caindo nas ruas sem ninguém dar atenção, gente sendo agredida assaltada sem que alguém esboce um socorro, pessoas passando dificuldades sem quem lhe estenda as mãos.

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É nisso em que o mundo está se transformando, um mundo de egoísmos e pessoas cada vez mais solitárias. FILOSOFIA DE VIDA Desenvolvi uma filosofia de vida baseada em valores altamente positivos, mas carregada de algumas coisas que não me deixavam ser conivente com determinadas cretinices do ser humano. Houve coisas que eu fiz por incompatibilidade à hipocrisia, mas que podem ser consideradas inconseqüentes. Muitas e muitas vezes eu firmei e reafirmei que eu adorava pecar. Que certos pecados eram deliciosos demais para serem desprezados. Todavia, jamais me apropriei daquilo que não era meu, nunca matei, nem mesmo um animal, jamais obriguei alguém a partilhar comigo aquilo que não queria. Portanto as coisas que por ventura ocorreram entre mim e alguém foi do gosto e assentimento de ambas as partes. Averso à covardia e à qualquer manifestação discriminatória, muitas vezes entrei em briga que não era minha, apanhei algumas vezes por tentar defender alguém de atitudes covardes e nunca deixava que invadissem meu íntimo, meus direitos ou minhas propriedades. Adoro uma frase de Oscar Wilde (de quem sou fá incondicional) que diz: "A melhor maneira de se livrar de uma tentação é ceder a ela" “UMA CONVIVÊNCIA DE RESPEITO E CARINHO” Moro em um prédio no centro da cidade de Belo Horizonte, para onde vim desde que comecei a ter os primeiros sintomas da artrite. Por ser um prédio bem localizado, perto de padarias, açougues, farmácias, inclusive botecos(eu ainda os freqüentava), aqui me instalei, e também porque estava só e não precisava de um apartamento maior e mais caro. Acontece que o prédio tem 320 apartamentos e mora um tipo de gente bastante variada. Mudei para cá em 2002, portanto são dez anos de moradia no mesmo condomínio. Bem, hoje revirando uma gaveta de uma mesa que uso como escrivaninha, encontrei um cartão e ao relê-lo me emocionei demais. Sua história é a seguinte: Pouco mais de um ano que eu morava no prédio, mudaram para o mesmo três irmãs vindas de uma cidade do interior mineiro com a finalidade de trabalharem e estudarem em BH. Por serem moças muito bonitas, tanto facialmente, como fisicamente, em muito pouco tempo viraram objeto de inveja das mulheres que aqui moravam, assim como alvo do assédio moral dos homens do lugar, sejam jovens ou velhos, solteiros ou casados. Algumas vezes percebia como se sentiam incomodadas, e muitas vezes quando alguém fazia algum comentário ou se excediam perto de mim, eu tomava uma posição em defesa a elas. Sempre conversávamos rapidamente no elevador e aos finais de ano trocávamos cumprimentos e cartões de Natal.

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O tempo passou. e chegou o dia em que elas precisaram mudar do prédio por razões especificamente delas. Foram ao meu apartamento despedirem-se de mim levando um chaveiro que guardo até hoje comigo e um cartão com os seguintes dizeres: "Uma convivência de respeito e carinho não é coisa de um dia. São atos, palavras e atitudes. que se solidificam com o tempo e não se apagam, pelo contrário, ficam para sempre, como tudo que é feito de coração aberto. Obrigadas por tudo! Um abraço, Christiane, Kênia e Cleidiane Outubro/2008 Eu chorei de tanta emoção e senti um orgulho tão grande de mim próprio, que não sei com descrever. Estou para me despedir breve deste mundo terrestre, mas uma das coisas que mais me orgulho é que sempre procurei ser alguém que o mundo merecesse.

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CONCLUSテグ

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CONCLUSÃO

Minha vida foi feita de inúmeras passagens até aqui. Como todo ser humano tive uma trajetória contabilizada em anos de existência. O que fiz e deixei de fazer foram conseqüências de encontros e desencontros, que ela, a vida, nos permite no seu desenrolar. O que realmente importa é naquilo em que ela nos transformou. Agradeço a ela tudo que me propiciou, a família que tive, as minhas duas filhas que amo tanto, as pessoas que cruzaram os meus caminhos e que tiveram participação nos mais variados momentos destra trajetória, os lugares por onde andei, todas as emoções que vivi, as alegrias, as vitórias, as realizações, bem como as dificuldades, as derrotas, as dores e os sofrimentos, que também contribuíram para o meu crescimento e aprendizado. Foi vivendo cada etapa, cada passagem, cada momento que fui desenhando este MOSAICO que me constituiu, ganhou formas e que pude expressar. Não sou e nunca fui o dono da verdade. Criei conceitos, adquiri e desenvolvi uma filosofia própria de vida. Tive muitos mestres, não aprendi nada sozinho. Deixo esse MOSAICO em forma de livro esperando estar contribuindo de alguma forma para que o mundo, as pessoas e o meu País possam ser melhorados, no mínimo que seja, bem como para registrar minha passagem e deixar aqui a minha essência.

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BELEZA INDESTRUTÍVEL Impossível destruir a beleza do mundo. Ainda que o homem derrube torres, outras mais serão construídas. Mesmo que o homem bombardeie Bagdás, outras mais serão erguidas. Caso o homem semeie ódio e desencantos, o amor percorrerá os quatro cantos. Caso promova a discórdia e discussão, outros se darão as mãos e se abraçarão. A cada vez que um homem assassinar, dezenas estarão a procriar. Se mãos praticam violência nas ruas das cidades, outras reverenciam vidas nas maternidades. Enquanto mãos produzem armas, bombas e afins, outras estarão plantando flores e cultivando mais jardins. No instante em que se vende droga a um viciado, em algum lugar um dependente será recuperado. Para cada porta fechada, duas, três ou quatro serão abertas. Para cada alma aprisionada, Muitas outras estarão libertas. Assim que uma mão bate cruelmente, outra acaricia docemente. Quando homens se reunirem para chorar, outros estarão reunidos para festejar. Se existirem os que destroem, haverá sempre aqueles que constroem. Existindo os que ferem os ouvidos, existirão os que compõem as canções. Para cada lamento de morte, uma celebração à vida se dará. A cada separação, uma união ocorrerá. Em todo abandono, um acolhimento se fará. A toda maldição proferida, uma benção será ouvida. Passará o homem e tudo que houver destruído, mas ficará eternizado tudo aquilo que houver construído! Nei Silveira de Almeida Out/2006

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