A leitura e a escrita na Educação Infantil: Reflexões sobre o tema e a visão do projeto Paralapracá Material elaborado por: Prof. Dra. Liane Araújo Universidade Federal da Bahia Consultora convidada - Paralapracá
Deve-se alfabetizar na Educação Infantil?
O que seria alfabetizar na Educação Infantil?
O que é alfabetizar?
Concepção de alfabetização
Importância das experiências com a escrita e a
leitura na Educação Infantil para a alfabetização das crianças
Concepção de ensino e de
Concepção de linguagem
aprendizagem
Concepção de Educação Infantil
Concepção de sujeito infantil/infância
Sujeitos de direito e de cultura (p. 12...)
Sujeitos que se apropriam
criativamente e ativamente de sua cultura e a produzem constantemente.
Sujeitos que exploram o mundo
Sujeitos que se interessam pelo mundo sociocultural em que se inserem...
...pelas diversas linguagens.
Assim se explora o mundo...
“Desde quando nasce, a criança está inserida em um
universo pleno de símbolos e significados, ou seja, ela começa a constituir sua identidade a partir das práticas culturais com que tem contato”.
Caderno de Orientação Assim se explora o mundo (p. 13)
Sujeitos que se interessam pela linguagem escrita, como uma das linguagens presentes no universo sociocultural.
Linguagens: objetos de conhecimento e meios para suas descobertas.
A linguagem como a própria matéria para brincadeiras e para a exploração do mundo: explorar a linguagem, os textos, os sentidos, as palavras, as sonoridades da língua...
Sujeitos que experimentam diversos eventos de letramento bem antes de saber ler e escrever.
https://www.youtube.com/watch?v=QrO2vc3MUQ
Eventos de letramento Desde que tenham oportunidade, as crianças pequenas participam de diversos eventos de letramento, ligados a diferentes práticas sociais mediadas pela escrita e a variados gêneros textuais. Eventos de letramento são eventos em que a linguagem escrita é essencial à natureza das interações, mesmo que se deem via oralidade.
Assim se faz literatura, p. 12-13
Concepções de aprendizagem inicial da escrita • Historicamente, o ensino e aprendizagem do
sistema alfabético de escrita baseou-se na escrita como um código a ser memorizado, um código
de
transcrição
da
fala
decodificação/codificação. •Críticas:
• Base empirista • Não se ocupam da dimensão do letramento
Educação Infantil •Maturação biológica para aprender a ler e escrever: amadurecimento de
certas habilidades; •Prontidão para a alfabetização/Prérequisitos; •Exercícios
preparatórios
sem
relação com a escrita; •Evitar contato com a leitura e escrita.
Escrita como atividade cultural complexa Vygotsky
Epistemologia genética de Piaget
Questionamento da questão da maturação e dos pré-requisitos
Fracasso escolar apesar dos investimentos em exercícios preparatórios
Sem a sustentação empírica e teórica para a ideia de prérequisitos
perceptivo-motores
passou-se a questionar: Por que esperar até os seis anos para alfabetizar as crianças?
Atividade do grupo de 3 anos
Alguns posicionamentos quanto à escrita e leitura na Educação Infantil Trabalho exaustivo com “pré-requisitos” linguísticos: letras, sílabas, consciência fonêmica (treino); Antecipação do 1º ano, com o ensino sistemático de relações entre fonemas e grafemas já na EI. “Letramento sem letras”: linguagem escrita como “conteúdo escolar” não adequado aos pequenos e investimento nas outras linguagens; Oferta do mundo letrado, especialmente da literatura, mas não a
proposição de experiências que favoreçam a reflexão sobre o sistema alfabético e a dimensão sonora da língua.
Insumos para o debate: Leitura e escrita na Educação Infantil
Leitura e escrita como práticas
socioculturais significativas, pelas quais as crianças se interessam desde cedo, seja no nível do
letramento, seja no nível do sistema de escrita.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) enfatizam o relevante papel da língua
escrita como prática social a qual as crianças têm direito e pela qual se interessam desde cedo, mesmo antes
de os professores a apresentarem formalmente.
Ressalta-se, nesse documento, a importância de garantir situações que possibilitem às crianças:
experiências de narrativas, apreciação e interação com a linguagem oral e escrita,
convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos.
Mas será que basta a imersão nas práticas letradas?
Consciência fonológica Construtivismo/Psicogênese Letramento
Alfabetização Linguística/Campos de estudo da linguagem
Gêneros discursivos
Sociolinguística Sociointeracionismo
Alfabetização
Métodos tradicionais (até + - anos 80)
Psicogênese e Construtivismo (+ - a partir dos anos 80)
Alfabetizar letrando Letrar alfabetizando
Letramento (+ - a partir dos anos 80)
Educação Infantil
Pré-requisitos linguísticos Experiências significativas com a linguagem escrita na Educação Infantil
Maturação Pré-requisitos Prontidão “letramento sem letras”
ALFABETIZAÇÃO EM CONTEXTO DE LETRAMENTO
A
L Alfabetizar letrando...
Eixos do ensino e aprendizagem inicial da escrita baseados na concepção de alfabetizar letrando
Práticas de leitura e escrita de
Apropriação do sistema de
gêneros de textos diversos, para
escrita
cumprir
situações de reflexão sobre
diversos
objetivos
comunicativos, relacionados às diversas práticas sociais.
a língua.
alfabética
em
Deve-se alfabetizar na Educação Infantil?
O que seria alfabetizar na Educação Infantil?
O que é alfabetizar?
Alfabetização e Escolarização
Alfabetização como um Alfabetização como etapa
processo contínuo de
específica da escolarização,
aprendizagem da língua escrita,
que prevê a aprendizagem do
que se dá desde que as crianças
sistema de escrita alfabética de
começam a ter curiosidade e
forma mais sistemática
formular hipóteses sobre o sistema de escrita.
Leitura e escrita na Educação Infantil Experiências significativas com a linguagem escrita como prática sociocultural e como objeto de conhecimento.
As oportunidades de conviver e explorar a linguagem escrita na Educação Infantil têm um papel fundamental na inserção das crianças no mundo da escrita, favorecendo a alfabetização.
A experiência mais rica nesse sentido é, com certeza, o
contato com a literatura. Mas a imersão no universo literário não é suficiente para aprender a ler e escrever. O aprendizado da língua escrita tem uma faceta linguística que também é, e pode ser, explorada pelas crianças pequenas.
Joaquim, 2 anos e meio: “aqui, o desenho; aqui, o iquitinho do nome” (2009).
Professor escriba
Em
uma
perspectiva
sociointeracionista
de
letramento, ressalta-se o papel do adulto, nas interações com as crianças, em “recortar” a escrita e a leitura como objetos de interesse e atenção.
Realismo Nominal
BOI FORMIGA
Reflexão sobre a língua como objeto de conhecimento, em
práticas
significativas
de
leitura e escrita.
Gênero de texto e sistema alfabético
Leitura de memรณria, reconhecimento de palavras
Almanaque PLPK (p. 36)
CASA
CEBOLA
CÉU
Exploração da dimensão sonora da língua Hoje é domingo, pede cachimbo... Tradição oral
Jogos orais
Jogos Guaraná com canudinho... Poesia
Jogo de rimas com e sem presenรงa da escrita
O brincar e a linguagem A linguagem oral presente nas interações do faz de conta; O brincar incluindo práticas letradas;
O brincar presente nos jogos orais de linguagem; O brincar presente em jogos de mesa de reflexão fonológica e fonográfica; O brincar inerente a certos textos da tradição oral, expressão da cultura lúdica infantil.
A língua escrita faz parte do nosso cotidiano e é um patrimônio cultural cujos usos devem ser disponibilizados a
todos, inclusive às crianças pequenas. Isso não significa antecipar o trabalho do 1º ano do Ensino
Fundamental.
Por participarem ativamente de culturas letradas, as crianças, umas mais e outras menos, chegam à Educação Infantil com conhecimentos e experiências extraescolares diversas relativas à leitura e a escrita. Compromisso maior da Educação Infantil em relação às crianças provenientes de meios menos letrados.
Cabe à Educação Infantil ampliar essas experiências, sem perder de vista a particularidade da educação de crianças pequenas, que tem como eixo as interações, o brincar, a
exploração das linguagens como objetos de conhecimento e meios de fazerem suas descobertas.
As reflexões sobre o sistema alfabético se inserem nesse contexto maior de apropriação da cultura escrita e, portanto, esse contexto é o ponto de partida do trabalho na Educação Infantil, invertendo-se a prática de iniciar a entrada na
escrita pelas letras e sílabas.
A exploração da linguagem escrita – em todas as suas facetas –
demanda
ações
intencionais,
planejadas,
sistemáticas,
significativas, diversificadas e integradas às outras linguagens. O professor deve planejar situações que ativem a curiosidade das crianças e seu interesse pelo mundo da escrita.
Como enfatizado no Caderno Assim se explora o mundo.
“Planejar na Educação Infantil significa olhar cuidadosamente
para a criança, conhecer suas necessidades e, a partir daí, tomar decisões cuidadosas sobre quais são as melhores estratégias para oferecer a elas as experiências necessárias ao seu desenvolvimento”. Assim se explora o mundo (p. 32)
As próprias crianças “nos dão pistas preciosas sobre seus interesses ao jogar, conversar, brincar de faz de conta ou construção, conversar conosco ou com as outras crianças. E esses temas ou perguntas, assim como aqueles que consideramos
relevantes,
podem
se
tornar
ótimos
disparadores para adentrar no mundo das investigações”. Assim se explora o mundo (p. 6)
Lembrando que as Diretrizes preconizam que “as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira” (p.25), ressaltamos a importância de prestar atenção aos eventos de letramento vividos pelas crianças, suas
interações com a linguagem escrita e com os outros, para planejar e replanejar as ações intencionais que dizem respeito à leitura e a escrita.
Isso significa tomar a linguagem como interação e como objeto sociocultural – não como instrumento – e a prática pedagógica como uma prática formativa, cultural, não meramente instrucional.
Retomando... O sujeito infantil como sujeito de
cultura que explora o mundo natural e sociocultural em que se insere. A linguagem escrita como uma das linguagens a serem exploradas. O brincar como cultura e como
linguagem fundamental da infância e modo peculiar de aprender.
Importância do letramento literário
Experiências com a linguagem que se usa para escrever, aprendizagem
de
comportamentos
leitores
e
procedimentos de leitura, formação de leitores no sentido amplo.
RepertĂłrio de gĂŞneros diversos
É importante lembrar que se trata de conhecer os gêneros e as práticas sociais a que estão ligados, de conversar sobre essas práticas nas interações com as
crianças;
não
se
trata
de
sistematizar
conhecimentos sobre os gêneros discursivos.
os
O brincar e o letramento O brincar de faz de conta incluindo prĂĄticas letradas.
Organizar o ambiente do brincar com suportes, gĂŞneros textuais e instrumentos da escrita.
Exploração da dimensão sonora da língua
Desde pequenas as crianças são sensíveis à dimensão sonora da língua,
se
encantando
e
experimentando jogos de linguagem com
rimas,
onomatopeias,
aliterações e outras sonoridades.
“A materialidade sonora da língua, em si, já traz a condição lúdica que permite que essas explorações,
sobretudo no contexto da poesia oral e literária, se apresentem como brincadeiras”. (Assim se brinca, 2013, p. 26).
Prestar a atenção à dimensão
sonora da língua é fundamental para a aprendizagem da escrita.
GĂŞneros no Almanaque em que se explora e brinca com a linguagem, com as palavras...
O Nonsense, em si,
chama a atenção para a sonoridade.
Uni duni tê...
Almanaque PLPK (p. 59)
Lengalenga Nonsense
(p. 14)
Rimas VersĂľes (gĂŞnero) (p. 89)
MnemĂ´nica
Contagem Rimas (p. 18)
Dia e noite, o dia inteiro...já está em...
Juazeiro
Dia e noite, que legal...já está lá em...
Natal Camaçari, Olinda, Maceió, Maracanaú
Dia e noite...
Sou pequenininha Do tamanho de uma latinha Carrego papai no bolso E mamĂŁe...
...numa sombrinha...
Sou pequenininha Do tamanho de um dedal Carrego papai no bolso
E mamĂŁe ...
...no avental...
Consciência fonológica de rimas, de palavras, de sílabas, de unidades maiores e menores que a sílaba, de fonemas em aliteração...
A Consciência fonológica é uma atividade metalinguística, metacognitiva.
Epilinguística
Metalinguística
E além das
Sílabas
rimas...
Almanaque PLPK (p. 49)
Unidades fonêmicas em aliteração
ZI e ZÉ
Almanaque PLPK (p. 32)
(p. 44)
Xiii! O sapo perdeu o /sss/
Oralidade e escrita Não dicotomia entre oralidade e escrita.
Interface entre a linguagem oral e escrita no nível linguístico e discursivo.