Edição Histórica Especial Tilápia de 1995 - Esgotada

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Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 1995

Índice

tilapização. s. f. 1. Ato ou efeito de tilapizar(-se). Diz-se de um processo que se inicia de forma ruidosa, acompanhada de uma euforia exacerbada, seguido por tropeços e passos em falso que levam ao descrédito e a descaracterização e que, de uma hora para outra, sofre uma reviravolta e todos os pingos são colocados sobre os is.

Edição 27 Janeiro/Fevereiro/1995

Notícias e Negócios

...Pág . 4 - 6

WAS '95 - Omaior de todos os tem...Pág. 6 pos Tilápia Especial: Aspectos Relevantes da Biologia e do Cultivo das Tilápias ...Pág. 7 - 13 Policultivo da Capiatã: Onde se produz camarões também se colhe ...Pág. 14 - 15 tilápias Entrevista com o engenheiro de pesca Marcelo Chammas ...Pág. 17 e 18 Tilápia no Paraná: Novos hábitos alimentares; Novas opções no campo ...Pág. 19 - 21

Calendário Aqüícola

...Pág. 22

Capa: Processamento para filetagem de tilápias na empresa Pisces, em Bragantina - PR.

É claro que este verbete não faz parte de nenhum dicionário. Foi apenas inspirado no processo pelo qual passa a criação de tilápias em nosso país. Um início apoteótico, cheio de sensacionalismo e grandes promessas que desaguaram no maior fracasso vivido pela aqüicultura brasileira a ponto de muita gente, até hoje, ainda confundir tilápia com praga. Atualmente, o peixe retomou com pose de vedete madura, despida de sensacionalismo e vestida de tecnologia e novos manejos. Ganhou colorido e embalagem, aguçou novos paladares e não para de arrebatar mais e melhores mercados. É o processo de tilapização... Imaginem se nossa aqüicultura for mesmo adepta desse processo. Brevemente viveremos o auge do Macrobrachim rosenbergii, do pacu, do black bass (quem se lembra?) e tantos outros que outrora embalaram sonhos de ganho fácil é rápido. Imaginem se a onda pega. A tilapização chegando na economia. Da para imaginar um plano econômico, desses que foram um fracasso retumbante, voltando de repente e tornando real (opa!) todas as promessas feitas na sua implantação? . É, sonhar não custa nada. Alguns sonharam, acordaram, botaram o pé no chão e fizeram a tilapicultura que aí está, para quem quiser vê-Ia e comê-la. Essa edição foi carinhosamente preparada para quem quiser conhecê-la. São técnicos e produtores de tilápia reunidos para mostrar quem é esse peixe e como anda seu cultivo no Brasil. Saúde a todos! Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor

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Solange Fonseca MTPS 10083 Conselho Editorial:

Biólogo Jomar Carvalho Filho Biólogo Philip C. Scott Design & Editoração Eletrônica:

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Notícias & Negócios básicos como o da manutenção de uma boa qualidade de água nos viveiros de engorda. Piscicultores paranaenses de Rancho Alegre, cidade que possui um grande núcleo de criadores de Clarias, tomaram contato com um problema ocorrido com alguns criadores relacionado ao manejo inadequado, alta densidade de estocagem (acima de 10 m2), baixíssima qualidade da água e alimentação inadequada. Nessas condições os animais parecem sofrer uma descalcificação que leva ao avermelhamento da cabeça, culminando com rompimento da mesma. QUALIDADE DE ÁGUA - Foi criado no último encontro Brasileiro de Ictiologia, realizado em Campinas, o grupo “Estudos de Qualidade das Águas para Organismos Aquáticos”. Visa reunir os pesquisadores da área ligados a ictiologia e aqüicultura para estabelecer projetos e planos para a melhor distribuição dos trabalhos referentes ao tema, bem como melhor programar a participação dos mesmos em simpósios e seminários. Contatos com o biólogo Helcias B. de Pádua pelo tel (011) 257-9203 e fax (011) 259-5882. PRECISA-SE DE ROTÍFEROS - Guilherme Fulgêncio de Medeiros, professor e doutorando do Departamento de Oceanografia da UFRN e leitor da Panorama da AQÜICULTURA, está precisando de um kg de rotíferos, que poderão estar em formol, álcool ou mesmo congelados, para realizar análises bioquímicas de polissacarídeos sulfatados. Como os rotíferos algumas freqüentemente utilizados na aqüicultura, Guilherme solicita através dessa coluna, que aqueles que possam ajudá-lo nesta tarefa, entrem em contato com ele pelo tel (084) 231-6963, fax (084) 231-9587 ou e-mail seuguila@ncc.ufrn.br ALTA PRODUTIVIDADE - A Marine Maricultura do Nordeste, no Rio Grande do Norte acaba de concluir as obras que ampliaram seus viveiros para 210 ha. Em 1994, a empresa operando com 100 ha, obteve uma produtividade média de 1.120 kg/ha/ciclo em cultivo de 100 dias, sendo que em 40% dos cultivos realizados, a média de produtividade foi de 1.500 kg/ ha/ciclo, enquanto que em 17%, essa média subiu para um patamar de 1.760 kg/ha/ciclo. Sem dúvida são resultados comparáveis aos das melhores empresas camaroneiras do mundo. CABEÇA DE BAGRE - A fama de animais resistentes atribuída aos Clarias tem levado alguns criadores a abrirem mão do manejo adequado, desprezando princípios

GRUPOS ÉTNICOS - O mercado de peixes vivos para grupos étnicos nos EUA se tornou o mais importante segmento para os produtores norte-americanos de tilápias e já absorve 85% da produção

LABOR TRABALHO TEMPORÁRIO LTDA.

TÉCNICO EM PISCULTURA Empresa atuante no Norte do Paraná, está investindo no ramo de piscicultura e procurando profissional acima, com as seguintes características: * Experiência aproximada de 03 anos na função. *Conhecimentos em produção de alevinos e engorda. A EMPRESA OFERECE: Excelente oportunidade profissional. Os interessados deverão enviar Curriculum Vitae com pretensão salarial até o dia 25/04/95 para Caixa Postal nº 1624 - cep 86010-440, Londrina - PR. Garantimos sigilo.

local. A produção de tilápias nos EUA em 1994 foi estimada em 7.470 t e espera-se que em 1995 alcance 10.500 t para atender o crescente aumento da demanda visto que as comunidades asiáticas crescem dia-a-dia nos EUA e Canadá.

20th ANNUAL AQUACULTURE TRAINING PROGRAM International Center For Aquaculture and Aquatic Environments INTERNATIONALLY ACCLAIMED

AUBURN UNIVERSITY • O curso é dirigido a técnicos envolvidos com aqüicultura ou atividades relacionadas, trabalhando a nível governamental, privado ou em organizações não governamentais. • Ênfase é dada à experiência prática e uso de tecnologia em aqüicultura comercial e de subsistência. • Duração do curso: 8 semanas. De 10 de julho a 1º de setembro de 1995. • Taxa de inscrição: U.S.$ 4.000 não incluindo despesas de moradia e alimentação. •Contactar: ATP Fisheries Dept. Auburn University - AL 36849 - USA. Fax: 00-1-334 844 9208

PREÇOS DISPARAM - Os consumidores de Artemia estão assustados com o grande aumento nos preços do produto. Informações recentes mostram que o grande vilão foi de fato o mau tempo que se abateu sobre o Great Salt Lake, trazendo muito vento e tempestades. Para azar dos consumidores deste microcrustáceo, no período de 181 dias destinados a despescas (01/10/94 a 31/03/95), muitas companhias mal conseguiram pescar 83, tendo algumas pescado somente 61 dias devido aos temporais que trouxeram nevascas e muitas ondas no lago, o que torna a despesca impossível. Em novembro, um dos melhores meses para a coleta, as equipes das diversas companhias trabalharam em média cinco dias. Em janeiro as condições melhoraram, mas no início de fevereiro as tempestades paralisaram as tripulações e, para culminar, um estranho e repentino aumento de temperatura provocou o crescimento de algas na superfície do lago que contribuiu ainda mais para dificultar as despescas. Resultado: o cisto de Artemia está escasso no mercado, e os preços decolaram, aliás, como já havíamos previsto em edições anteriores.


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Notícias & Negócios em unidades comerciais de larvicultura, sobretudo durante a atual escassez de cistos no mercado. Trata-se do Shell Free, constituído 100% de cistos Artemia já descapsulados. Segundo a empresa, na larvicultura de camarões, o Shell Free deve ser utilizado como substituto parcial de náuplios de Artemia a partir de PL2/PL4.

TOCANTINS - Foi realizado em dezembro último em Palmas - TO, o I EPIETO - Encontro da Piscicultura do Estado de Tocantins. Do encontro surgiu o Proacqua - Comitê Tocantinense de Aqüicultura, uma entidade constituída por representantes de instituições públicas e privadas, que objetiva desenvolver a aqüicultura estadual em bases auto-suficientes para gerar excedentes na produção de pescado. A seu favor, o estado que possui sua economia centrada na pecuária, conta com excelentes condições ambientais associadas a vontade política do atual governador Siqueira Campos, que liderou pessoalmente uma comitiva de empresários à alguns países asiáticos, para conhecer de perto o papel da aqüicultura no abastecimento de proteína animal às populações. Os empresários locais já avaliaram a falta de capacitação da mão-de-obra local bem como o desconhecimento do assunto pela maior parte dos produtores rurais tocantinenses. Na prática deseja-se instalar um laboratório central em Palmas para abastecer de alevinos os oito pólos estrategicamente distribuídos no estado. Jair Correia, piscicultor de Palmas, não tem dúvida que a aqüicultura será uma importante arma para atacar os graves prejuízos decorrentes da fome no estado. SHELL FREE - A INVE Aquaculture acaba de lançar um novo produto que visa trazer uma possibilidade alternativa para reduzir o consumo de náuplios de Artemia

CORALLUS - A recém criada Sociedade Brasileira de Estudos de Recifes de Coral - CORALLUS recebeu como cortesia da editora Nova Fronteira 200 exemplares do livro “Corais do Sul da Bahia” de autoria do biólogo Clóvis Barreira e Castro e da fotógrafa e especialista em meio ambiente Bia Hetzel. São 189 páginas com textos sobre a biologia dos corais ilustradas com fotos de renomados fotógrafos submarinos, entre eles Carlos Secchin. Os fundos arrecadados com a venda desses exemplares (R$ 70,00 cada) serão utilizados nos projetos científicos da Sociedade e na publicação do Coralitho - boletim informativo da CORALLUS. Para comprar o livro ou para se filiar à Sociedade escrever para: Corallus a/c Dr. Roberto Villaça, UFF, Instituto de Biologia, C. Postal 100.436, CEP 24001-970 Niterói - RJ, Tel: (021) 719-3100 r. 225 e 235 e E-mail: GBGROCV@BRUFF .

OPORTUNIDADE FAZENDA CAMARÃO AZUL Estabelecida à 30 km de Teresina-PI, está procurando um sócio para desenvolver suas atividades que hoje se concentram em criação de peixes como Tambaquí, Carpas e Curimatá. São 18 ha de lâmina d’água divididos em 36 tanques de engorda e 06 tanques berçários. A empresa conta com toda a estrutura de produção e comercialização de 20 ton/mês, em pleno funcionamento. Possuimos tembém o primeiro “Pesque Pague” da região. Contatos pelos telefones (086) 233-3700 e 232-5705

DIAGNÓSTICO DA RANICULTURA - Foi lançado durante o Technofrog ’95, realizado em Viçosa de 3 a 8 de fevereiro último, o livro da ABETRA - Academia Brasileira de Estudos Técnicos em Ranicultura, “Diagnóstico da Ranicultura: Problemas, Propostas de Soluções e Pesquisas Prioritárias”. Contém o relatório de seis grupos de trabalho: Produção e produtividade; Instalações e manejo; Nutrição; Sanidade; Processamento; Comercialização e mercado e Reprodução e Genética, além das sínteses das atividades das instituições brasileiras que atuam na ranicultura e suas contribuições. O livro poderá ser adquirido na ARERJ tel: (021) 232-5318. ALTOS PREÇOS - Desde novembro de 1994, o preço médio de camarão marinho produzido nas fazendas brasileiras vem se situando entre U$ 12,00 (12,0 g) e U$ 16,00 (15,0 g). Isso para camarão fresco, inteiro na fazenda, sem passar por qualquer beneficiamento. Vale ressaltar que o custo médio de produção gira em torno de U$ 4,00/kg. NOVA DIRETORIA DA SBI - Durante o último Encontro da Sociedade Brasileira de Ictiologia - SBI, realizado de 6 a 10 de fevereiro último no Campus da PUC de Campinas - SP, foi eleita e empossada a nova diretoria da Sociedade. A presidência ficou a cargo de Yur Maria Tedesco da


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Notícias & Negócios Universidade Mackenzie - SP, a secretaria continua a cargo de Paulo de Tarso Chaves da UFPR e Suzana Saccardo foi eleita a tesoureira. O encontro reuniu um número de 484 inscritos e nele foram apresentados um total de 292 trabalhos. VITANUTRI - A Vitanutri Rações e Suplementos Ltda., fabricante da ração Nutravit, está de endereço e telefone novos: Rua Hilda Costa Prado, 380 - Sumaré - SP, cep: 13175-574 Tel: (0192) 73-3033 e Tel/ fax: (0192) 73-6793. Em tempo, a Vitanutri está em fase final de teste de sua ração para reversão sexual de tilápias usando a metiltestosterona e, tão logo sejam avaliados os resultados dos testes, a Vitanutri estará colocando a disposição do mercado. NOVOS RUMOS - Não mais pertence a Sibra o passe do engenheiro de pesca Itamar de Paiva Rocha. Após ter colaborado com sua experiência na estruturação da empresa no Brasil em sua embrionária, Itamar volta a ocupar a presidência de sua empresa MCR Aquacultura Ltda.

IMPOSTO ESQUISITO - Os exportadores brasileiros de camarões acabaram sendo beneficiados pela cobrança de uma imposto de 4,5% cobrado pela Comunidade Européia sobre o custo dos pescados exportados, incluindo o frete. Esta taxa, estranhamente, já vinha sendo paga pelos exportadores brasileiros e panamenhos, os únicos latino-americanos a terem o “privilégio” de “contribuir” para a CE até o final de 1994. Mas, a partir de 1995, todos os países da América latina passaram obrigatoriamente a pagar este tributo nas suas exportações. Como resultado, os preços internacionais dos camarões para a Europa, norteados pelo Equador, subiram em aproximadamente 5% como forma de compensar esta taxa e levaram a reboque os preços das exportações brasileiras. Resultado: como os exportadores brasileiros já incorporavam esse imposto nas suas planilhas de custo, acabaram ganhando 5% líquidos sobre toda a exportação que estão realizando. Por falar nisso, já existe um lobby para a derrubada deste imposto, que afinal só serviu para aumentar o preço do produto ao consumidor.

WAS '95 - O Maior de Todos os Tempos om a participação de aproximadamente 2.700 delegados de todo o mundo, em sua maioria norteamericanos e latino-americanos, realizou-se no período de 1 a 4 de fevereiro último em San Diego, no sul da Califórnia - USA, o que foi a maior reunião da aqüicultura até então. Nesta 26º Reunião Anual da Sociedade Mundial de Aqüicultura - World Aquaculture Society foram apresentados cerca de 600 trabalhos e conferências, envolvendo todas as áreas relacionadas. Paralelamente ao evento, os pesquisadores e produtores presentes puderam verificar as novidades no Trade Show - feira de produtos e serviços, que contou com 250 expositores de diversos países. Na parte científica o WAS desse ano trouxe como inovação a apresentação da maioria dos trabalhos, que foram feitas oralmente pelos próprios autores, revertendo a tendência atual dos congressos e seminários onde quase todos os trabalhos tem sido apresentados sob a pouco prestigiada forma de poster. Cerca de 20 brasileiros participaram deste evento e apresentaram oito trabalhos. Newton Castagnolli da UNESP palestrou a respeito da situação da aqui-

cultura brasileira, na seção Aquaculture Around the World - Aquacultura ao redor do mundo, e Aécio M. Silva da Universidade do Arizona, Fernando Kubitza da Auburn University e Sergio Zimmermann da UFRGS/ULBRA apresentaram trabalhos em sessões científicas. CARCINICULTURA Além de uma exposição de posters no subsolo, haviam seis sessões ocorrendo ao mesmo tempo devido ao grande número de trabalhos inscritos. Quanto a carcinicultura marinha, a grande ênfase dada nesta reunião foi com relação ao manejo de viveiros, especialmente no que diz respeito a qualidade da água, monitoramento do uso de rações e controle profilático de doenças envolvendo melhoramentos genéticos. Entre as grandes discussões sobre os problemas relacionados com o desenvolvimento da carcinicultura marinha foi destacada a TS (Síndrome de Taura), a grande vilã dessa década, pois embora os produtores do Equador já estejam aprendendo a conviver com este problema, não se tem ainda uma

definição para o combate ao vírus (foi descoberto em final de 1994 que a TS é provocada por vírus não sendo portanto, como se pensava, um efeito provocado pelos fungicidas usados nos bananais da região do rio Taura no Equador). Muitos elogios foram feitos a recepção oferecida à todos os inscritos por George Chamberlain, presidente da WAS, no Seaworld de San Diego. Como é de praxe, todos saborearam deliciosos produtos da aqüicultura e, de quebra, se encantaram com um show noturno da famosa baleia Shamu. E já está tudo pronto para o próximo World Aquaculture ’96. Será de 30 de janeiro a 2 de fevereiro do próximo ano na Tailândia e as inscrições para a sessão de posters e apresentação oral serão aceitas até o dia 15 de julho. A curiosidade fica por conta do “Call for papers” ou lista de instruções para o envio dos trabalhos para a WAS ’96, que traz publicado como modelo de abstract ideal, um abstract enviado pelos brasileiros Ségio Zimmerman, Ema M. Leboute e Silvia Guimarães de Souza. Os brasileiros na aqüicultura já estão servindo de exemplo. Isso é um bom sinal.


Tilápia Foto: Solar Aquaculture

especial Passados muitos anos desde que foi introduzida no Brasil, e após ser confirmada como o maior fracasso da nossa piscicultura nas últimas décadas, sendo indesejável e até considerada como praga, a tilápia reapareceu nos viveiros brasileiros, bem como em dezenas de outros países embalada por novas tecnologias, manejos e sofisticadas seleções genéticas capazes de estimular seus atuais criadores, fazendo-os crer que não estavam totalmente errados aqueles que acreditavam que a tilápia seria capaz de revolucionar um dia a piscicultura brasileira e mundial. O cultivo de tilápias aparece registrado em pinturas egípcias confirmando o seu cultivo desde aproximadamente 2.500 anos a.C.. Há quem afirme que a tilápia foi o peixe que Jesus multiplicou para alimentar a multidão faminta. Tal fato inclusive, é aproveitado atualmente como mote de uma grande campanha de marketing orientada por especialistas israelenses, que passaram a chamar a tilápia de St. Peter’s fish ou peixe de São Pedro. A Panorama da AQÜICULTURA recolheu dados de diversas pessoas que se envolvem com este peixe. São pesquisadores, produtores e comerciantes que expõem suas experiências passadas e perspectivas futuras.


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Aspectos relevantes da biologia e do cultivo das tilápias Panorama da AQÜICULTURA agradece aos especialistas da Auburn University, Thomas Popma e Len Lovshin por terem permitido a livre coleta de informações de seu recente trabalho "World Prospects for Commercial Production of Tilapia ".

s tilápias são endêmicas na África, Jordânia e Israel, já tendo sido identificadas aproximadamente 70 espécies. As tilápias de importância comercial estão divididas em três principais grupos taxonômicos, distinguidos basicamente pelo comportamento reprodutivo. São eles as do gênero Tilapia spp ( incubam seus ovos em substratos), Oreochromis spp (incubam os ovos na boca da fêmea) e Sarotherodon spp (incubam os ovos na boca do macho ou de ambos). Na verdade, essa classificação taxonômica é recente. Há vinte anos atrás, todas as tilápias de importância comercial eram agrupadas num único gênero - Tilapia. Na metade da década de 70, entretanto, as espécies que incubavam seus ovos na boca foram separadas daquelas que incubam seus ovos externamente e foram classificadas como sendo todas do gênero Sarotherodon. Mais recentemente, em 1983, as espécies do gênero Sarotherodon foram novamente divididas, separando as espécies que incubam os ovos nas bocas da fêmeas sob o gênero Oreochromis. Desta forma, a tilápia nilótica, uma espécie de grande importância para a aqüicultura, hoje classificada como Oreochromis niloticus, será encontrada na literatura do final da década de 70 e início da de 80 como sendo Sarotherodon niloticus e, anteriormente a isso, como sendo da espécie Tilapia nilotica. A tabela 1 mostra a nomenclatura comum e científica das principais espécies de importância comercial. Em todo o mundo, os cultivos em larga escala comercial se limitam às quatro primeiras espécies.

Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 1995 REPRODUÇÃO Nas quatro principais espécies de tilápias cultivadas, todas do gênero Oreochromis, o macho polígamo escava um ninho no fundo do viveiro, geralmente em águas com menos de um metro de profundidade. Após um breve ritual de acasalamento, a fêmea desova no ninho (1 a 2 ovos/grama de fêmea) e incuba os ovos na sua cavidade bucal, depois de fecundados externamente. As larvas permanecem na boca da fêmea até a absorção total do saco vitelínico e freqüentemente buscam refúgio na boca por diversos dias após ser inflada a bexiga natatória. A maturidade sexual nas tilápias é função da idade e do tamanho. O. mossambicus e O. urolepsis hornorum, em geral, alcançam a maturidade sexual com um tamanho menor e mais jovem que O. niloticus e O. aureus. Experimentos mostram que tilápias da mesma população crescendo em ambientes naturais maturam numa idade mais avançada e com tamanho maior do que aquelas colocadas em viveiros de engorda. O. niloticus, matura a partir do décimo mês em diversos lagos do Leste da África. A mesma população, cultivada em condições próximas ao de máximo crescimento maturou aos 5 meses com cerca de 150 gramas. Sob condições de alimento limitado, O. niloticus e O. aureus podem chegar a maturidade sexual em pequenos viveiros com pesos em torno de 20 a 30 gramas e, sob condições de crescimento rápido em viveiros de engorda; O. mossambicus e O. hornorum podem chegar a maturidade sexual em até três meses de idade. Nestas condições, raramente atingem peso superior a 60-100 g e, sob condições limitadas de alimentação, os peixes maturam com peso abaixo de 15 g. SALINIDADE Apesar de serem peixes de água doce, as tilápias são extremamente tolerantes a água salobra. O. niloticus é a espécie menos tolerante entre as espécies comerciais embora cresça bem e se reproduza em salinidade de até 15 ‰. O. aureus cresce bem em águas com salinidades superior a 20 ‰ e O. mossambicus e O. spilurus crescem e até se reproduzem em salinidades próximas a saturação. Como resultado desta tolerância, O. spilurus, O. mossambicus e as tilápias vermelhas (derivada da O. mossambicus), são as preferidas para os cultivos no mar, em tanques-rede. TEMPERATURA A temperatura fria letal para a maioria das espécies de tilápias é de 10 ou 11 ºC, sendo que O. aureus é tolerante até 9 ºC. A alimentação geralmente cessa quando a temperatura cai abaixo de 16º ou 17 ºC. O manuseio pode causar doenças, que geralmente levam a mortalidades, se for feito a temperaturas abaixo de 16 ºC. A reprodução é inibida a temperaturas abaixo de 20 ºC. A temperatura ideal para engorda de tilápias é de aproximadamente 29 - 31 ºC. Quando o peixe dispõe de alimento farto, o crescimento nesta faixa de temperatura é três vezes maior que a 20 ºC. Tilápias podem tolerar temperaturas acima de 40 ºC, mas o estresse, que induz a doenças e mortalidades, é comum quando a temperatura ultrapassa os 37 ºC. OXIGÊNIO Baixas taxas de oxigênio dissolvido (OD) reprimem o crescimento em tanques de cultivo intensivo. As espécies


Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 1995 de tilápias mais comumente cultivadas sobrevivem a concentrações de OD abaixo de 0,5 mg/l, níveis bastante baixos para outras espécies de peixes. A resistência para sobreviver em níveis baixos de OD deve-se a sua habilidade de aproveitar o OD do filme de água que fica em contato com o ar. Apesar dessa habilidade, os viveiros de engorda de tilápias devem ser manejados de modo a manter níveis de OD acima de 2 ou 3 mg/l porque o metabolismo e crescimento ficam inibidos quando esses níveis são cronicamente baixos e se mantêm por períodos prolongados. pH

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dratos do esterco dos suínos e das aves são bem digeridos pelos peixes e aproximadamente a metade das proteínas remanescentes nas fezes dos suínos (proteína da dieta não digerida e escamação do tecido dos intestinos), são também bem digeridos. A tilápia não revira o fundo do viveiro tão agressivamente como a carpa comum, entretanto, e principalmente nas primeiras horas da manhã, o fazem a procura de invertebrados bentônicos (do fundo). Como outros Ciclídeos, os juvenis mais desenvolvidos e adultos são extremamente territorialistas e como conseqüência deste comportamento, o crescimento é muito desigual, principalmente em altas densidades quando o alimento é pouco e concentrado em poucos pontos do viveiro. Mas em geral, as tilápias utilizam o alimento natural tão eficientemente que produtividades acima de 1.500 kg/ha podem ser obtidas em viveiros bem fertilizados sem adição de alimento. O valor nutricional do alimento natural tem muita influência, mesmo em cultivos comerciais com alimentação farta.

Tilápias parecem crescer melhor em águas próximo ao neutro ou ligeiramente alcalinas. O crescimento é reduzido em águas ácidas (possivelmente devido a redução da produção natural de organismos alimento), mas as espécies de tilápias mais cultivadas podem tolerar até pH 5. O aumento de pH que geralmente ocorre na parte da tarde, podendo chegar a 10, aparentemente não afeta a PRODUÇÃO DE ALEVINOS produção de tilápias. Os limites letais de pH situam-se acima No ambiente natural, os animais se utilizam de diversas do pH 11. estratégias para assegurar a continuidade e a sobrevivência das espécies. Desta forma, alguns produzem um número muito grande AMÔNIA de descendentes (alta fecundidade) e outros, geram pequenas pro A toxidez da amônia está intimamente ligada ao pH les para que possam melhor protegê-las. As carpas por exemplo, e por extensão à temperatura e ao OD. Com o aumento do pH, desovam somente duas vezes ao ano e não dispensam nenhum um grande percentual de amônia total se converte na forma cuidado aos ovos após a fertilização. Uma aparente falta de cuitóxica não ionizada. Com o pH 7 menos de 1% da amônia dado que é compensada por desovas muitas vezes superiores a total está na forma não ionizada, com o pH 8 cerca de 5 a um milhão de ovos. Já as tilápias, ao contrário, produzem poucas 9%, com o pH 9 de 30 a 50% e, com o pH 10, de 80 a 90%. centenas de descendentes por desova, os protegem guardando Conseqüentemente a toxidez da amônia é mais problemática dentro da boca e podem, sob condições adequadas, desovar com em viveiros mal tamponados (alcalinidade abaixo de 30 mg/l grande freqüência (4 a 6 semanas), além de fazê-lo com pouca de CaCO3) que freqüentemente alcançam, à tarde, pH 9 ou idade (freqüentemente antes dos 6 meses). mesmo 10. Mortalidades em massa de tilápias ocorrem em cerca de dois dias quando são transferidas abruptamente para águas com amônia não ionizada acima de 2 mg/l. Entretanto, quando aclimatadas, aproximadamente 50% dos peixes poderão O MELHOR PARA SEUS VIVEIROS sobreviver em concentrações superiores a 3 mg/l. Exposição prolongada (algumas semanas) a amônia MAIS LUCROS PARA VOCÊ não ionizada a níveis superiores a 1 mg/l provocam perdas graves, especialmente entre larvas e juvenis em águas com baixo OD. As primeiras mortalidades devido a exposições prolongadas começam com níveis de amônia não ionizadas de até 0,1 - 0,2 mg/l. A amônia não ionizada reduz o apetite e o crescimento já em concentrações de 0,08 mg/l. verifique se a ração que você usa vem com VITAMINA C microencapsulada. Assim você evita ALIMENTAÇÃO NATURAL estresse nos seus peixes e camarões. As tilápias ingerem uma grande variedade de alimentos naturais, incluindo plâncton, folhas verdes, organismos bênticos, invertebrados aquáticos, larvas de peixes, detritos e a astaxantina Roche vinda da europa para seus viveiros. matéria orgânica em decomposição. Mesmo em viveiros com A chance de colocar no mercado a truta salmonada, alimentação suplementar adequada, os organismos naturais um dos pratos mais cobiçados do mundo! são responsáveis por 30 a 50% do crescimento do peixe. As tilápias são com freqüência considerados peixes filtradores porque podem capturar eficientemente organismos planctônicos. Entretanto, “filtradores” não é exatamente um importada diretamente da PRIME ARTEMIA INC. termo correto, porque as tilápias fisicamente não filtram a água através dos arcos branquiais como fazem a carpa capim ou a cabeça grande. Nas tilápias, as brânquias secretam um muco SAIA NA FRENTE - LIGUE ARCOBALENO no qual se aderem as células planctônicas e o “bolo”, rico em E AUMENTE OS SEUS NEGÓCIOS plâncton, é então ingerido. Este mecanismo permite a tilápia capturar micro-fitoplânctons menores que 5 µ de diâmetro. ARCOBALENO Com. Imp. Exp. Ltda Estercos de animais nos viveiros de tilápia funcionam Fone: (011) 530-9861 Fone/fax: (011) 542-6694 duplamente como fertilizante e alimento. Os poucos carboi-

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Os hábitos reprodutivos da tilápia são suficientes para assegurar sua boa sobrevivência em ambientes naturais. Esses hábitos no entanto, não são o que podemos chamar de ideal para o manejo de um cultivo, já que há a necessidade de se manter um grande número de reprodutores o que, por outro lado, reduz os riscos de consangüinidade muito comum e indesejável em cultivos de outras espécies. Curiosamente, apesar da baixa fecundidade, a desova constante causa freqüentemente uma superpopulação e a redução no crescimento nos cultivos onde machos e fêmeas são engordados juntos (cultivo misto). Esse tipo de cultivo traz resultados inconsistentes tornando inaceitáveis comercialmente essa estratégia de produção, agravado ainda pelo fato de que o peso final das fêmeas representa geralmente, de 50 a 70% do peso dos machos. Pode-se prevenir por exemplo a superpopulação fazendo a engorda em tanques-rede. Neles, os ovos caem através do fundo antes que as fêmeas possam recolhê-los para incubação na boca. Outra estratégia é o cultivo de tilápias com espécies predadoras, opção pouco recomendada por trazer maior complexidade nas operações. Para evitar a superpopulação, os cultivos comerciais de tilápias operam, quase que exclusivamente, com o cultivo monosexo de machos (mais de 95% de machos). Desta forma, não somente pode-se prevenir desovas indesejáveis, como também usufruir das vantagem do maior e melhor ganho de peso dos machos. A técnica mais difundida para se obter somente alevinos machos é chamada de reversão sexual, apesar de também serem utilizadas a hibridização e a seleção manual dos sexos.

águas com temperaturas de 24 a 28 ºC, se dá na 3º ou 4º semana após a eclosão, com tamanho variando de 11 a 13 mm. Para obter alevinos revertidos, alimenta-se as larvas com rações contendo de 40 a 60 mg de 17 a metiltestosterona/ kg de alimento por 3 a 4 semanas. A ração deve ser oferecida diariamente, pelo menos duas vezes ao dia. Ao final do tratamento a larva normalmente deverá estar pesando de 0,1 a 0,5 gramas, dependendo basicamente da temperatura e da qualidade da ração. A sobrevivência de 70 a 80% é considerada normal. A presença abundante de fitoplâncton na água não reduz a eficiência do tratamento, da mesma forma que as temperaturas baixas, que diminuem a taxa de crescimento, podem apenas prolongar o tratamento por mais uma semana sem afetar negativamente a eficiência. O percentual de machos após o tratamento freqüentemente fica acima de 95%, mas ocasionalmente podem ocorrer percentuais de 80 a 90%. As razões para essas ocasionais reduções na taxa de reversão ainda não estão claramente entendidas mas o tamanho/ idade adequadas para o início do tratamento bem como um crescimento muitas vezes muito acelerado (peso final de 0,7 g) são causas prováveis. Esse crescimento rápido, resultado de uma combinação de alta temperatura e boa qualidade da ração pode induzir a larva a passar muito rapidamente pela estreita janela da susceptibilidade da reversão sexual. A eficácia da reversão sexual é similar para O. niloticus, O. aureus e O. mossambicus. Evidências disponíveis indicam que o esteróide metiltestosterona é eliminado naturalmente pelo peixe assim que o tratamento é encerrado, não sendo mais encontrado em peixes de 1 grama. Aparentemente parece não haver nenhum dano ao consumidor já que o peixe é criado muitos meses sem esteróides antes do abate. Apesar disso, os produtores devem estar atentos a este assunto pois muitos consumidores ainda podem rejeitar a tilápia por essa razão. Além disso, a venda de tilápias tratadas com esteróides não é aprovada pelo FDA (Food and Drug Agency) do governo norte-americano. Tecnicamente a tilápia tratada com esteróides em qualquer estágio do seu ciclo de vida é ilegal para ser vendida nos EUA. Mas, na realidade, centenas de toneladas de tilápias tratadas com esteróides quando larvas são atualmente vendidas nos EUA. Um grande número de agências educacionais e governamentais trabalham junto ao FDA para desenvolver as evidências necessárias a aprovação

... as tilápias em águas a 26 ºC crescem duas vezes mais rápido que a 22 ºC.

REVERSÃO SEXUAL A reversão sexual é um processo no qual esteróides masculinos são administrados a larvas recém eclodidas. Este manejo faz com que os tecidos, ainda indiferenciados, das gônadas das fêmeas (geneticamente fêmeas) se desenvolvam em tecido testicular, produzindo indivíduos que crescem e funcionam reprodutivamente como machos. A administração dos hormônio esteróide masculino é feita via oral através da alimentação. O processo deve ser iniciado antes que o tecido da gônada primitiva tenha se diferenciado em tecido ovariano o que em Oreochromis spp em


Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 1995 do esteróide para criadores profissionais. SUPER MACHO A técnica de produção de super machos de O. niloticus ainda está sendo aperfeiçoada. Os super machos (YY) quando cruzados com fêmeas normais (XX) produzem uma prole 100% machos sem a necessidade da utilização oral de esteróides. A produção é baseada no fato de que o sexo genético dos peixes não é mudado com a reversão sexual, mesmo que a aparência e a capacidade reprodutiva do peixe tenha sido alterada. Diversos passos são necessários para a produção de super machos. Alevinos normais são revertidos sexualmente com esteróides femininos, resultando “fêmeas” que são machos genotípicos (XY) (identificados depois de maduros através de testes). Essas “fêmeas” são então cruzadas com machos normais (XY). Teoricamente 1/4 da população será YY ou super machos (1 XX fêmeas normais + 2 XY machos normais + 1 YY super machos). A técnica é promissora mas ainda não está sendo utilizada comercialmente, além do mais, para complicar, o sexo em tilápias é também influenciado por outros fatores genéticos e possivelmente físicos. SELEÇÃO MANUAL A seleção manual de sexos ou sexagem, é feita através da observação da papila genital. Para selecionar com mais precisão a tilápia nilótica é preciso que os peixes tenham pelo menos de 25 a 30 gramas. Mesmo assim experiências de campo mostram também uma precisão de 95%. A vantagem da

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sexagem manual é que não é preciso a utilização de esteróides. Esse sistema é comercialmente exeqüível, e muitas vezes o mais recomendado, para produtores de pequeno/médio porte. Para operações de grande porte, as seguintes desvantagens devem ser consideradas: - Metade dos peixes produzidos nos berçários (fêmeas) é um subproduto de pouco valor e, para estocar alevinos de 1 g (machos e fêmeas) até o momento da sexagem é preciso ter um espaço total de 20 a 25% do total da área de engorda. - A capacidade máxima de trabalho de um profissional especializado é de 2000 alevinos por hora (aproximadamente 1000 machos/hora). - Erros de sexagem tendem a ser aumentados, dependendo do nível de experiência e da pressão para se sexar mais peixes e de tamanho cada vez menores. BERÇÁRIO Em países tropicais a duração da fase berçário varia de 5 a 13 semanas, dependendo do tamanho que se pretenda despescar. Para estocagem nos viveiros de engorda há uma preferência por peixes maiores para uma utilização melhor dos viveiros e porque se obtém melhores sobrevivências. O tamanho desejado pode ser menor que 10 g e não excede 50 g. Os de menor tamanho são adequados para viagens longas e quando a verificação do percentual de machos não é necessária. Os de tamanho intermediários são adequados para a sexagem manual e os de tamanho grande são utilizados geralmente para engorda em gaiolas. Com uma ração razoavelmente boa e temperaturas acima de 25 ºC, alevinos de 1 g alcançam de 10 a 15 g em 5 a 6 semanas e 25 a 30 g em 8 a 10 semanas. Em regiões subtropicais, o apetite das tilápias diminui assim como o


Página 12 crescimento. Na presença de alimento abundante, as tilápias em águas a 26 ºC crescem duas vezes mais rápido que a 22 ºC. A temperatura afeta o crescimento e conseqüentemente o tempo de berçário, mas pouco afeta a produtividade final ou a conversão alimentar caso os peixes não tenham sido super alimentados. As taxas de estocagem recomendadas para o berçário são principalmente em função da disponibilidade de nutrientes e do peso final desejado ao final do período de berçário. A biomassa final, com uma ração de boa qualidade, sem aeração ou troca de água, é de 2.000 a 3000 kg/ha. A sobrevivência média nessa fase é de 60 a 80 %. Em viveiros berçários ricos em plâncton, é possível não se alimentar nas primeiras duas semanas porque a abundância de alimento natural será suficiente se a população estiver abaixo de 300 a 500 kg/ha. Nesses casos, os viveiros são previamente adubados com esterco (1.000 a 2000 kg/ha) e de 300 a 800 kg/ha/semana durante as duas primeiras semanas. ENGORDA As estratégias para engorda de tilápias variam de simples manejos, com pouco controle sobre a qualidade da água, até técnicas complexas onde o controle da água é total bem como a qualidade do alimento artificial administrado. Oito níveis de manejo serão descritos a seguir. Qualquer um dos níveis poderá ser o mais apropriado segundo a infra-estrutura existente, disponibilidade de capital, custo e qualidade dos nutrientes disponíveis, valor de mercado do peixes, etc.

Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 1995 Geralmente uma operação comercial de pequena escala opera com o nível 2 e operações comerciais de larga escala operam com variantes dos níveis 3 a 8. Nível 1 - Extensivo - Densidade de estocagem de 1.000 a 2.000/ha com alimentação natural proveniente de nutrientes disponíveis no próprio solo. Produtividades variam de 200 a 500 kg/ha/safra. O cultivo só será viável se os custos com o terreno e a construção dos viveiros forem muito baixos. Nível 2 - Semi-intensivo - Cultivo em viveiros que podem ser enchidos e drenados quando for preciso. Fertilização orgânica ou inorgânica e complementação alimentar com subprodutos da propriedade. O abastecimento de nutriente orgânico (esterco + alimentação) varia de 30 a 50 kg peso seco/dia e, a utilização de 500 a 2.000 galinhas (ou patos), ou 50 a 100 suínos por hectare, é recomendada. Os menores valores são para águas paradas e os maiores para viveiros com trocas de 5 a 10 %/dia. As taxas de estocagem vão de 5.000 a 20.000 tilápias/ha e as produtividades variam de 2.000 a 6.000 kg/ha/safra para viveiros somente estercados, e de 4.000 a 8.000/kg/safra em viveiros fertilizados e abastecidos com subprodutos agrícolas. Os ciclos são de pelo menos 6 meses. Nível 3 - Intensivo com aeração de emergência - Cultivo em viveiros na qual a água que entra e sai pode ser controlada. As taxas de estocagem vão de 10.000 a 30.000/ha.


Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 1995 As tilápias são alimentadas com rações de boa qualidade na taxa de 2 a 4% da biomassa dia com ofertas máximas diárias de 80 a 120 kg/ha. A aeração não é utilizada constantemente, apenas em momentos críticos para restabelecer os níveis de OD desejado. As produtividades variam de 5.000 a 10.000 kg/ha/safra. Nível 4 - Intensiva com aeração constante e sem troca d’água - Estocagem e manejo como nível 3 acompanhado de aeração constante e nenhuma troca de água. As produtividades variam de 8.000 a 15.000/kg/ha. Nível 5 - Intensiva com aeração constante e troca d’água - As unidades de cultivo são pequenas, os viveiros de terra são circulares ou retangulares com no máximo um hectare; ou podem ser de concreto, na forma circular e dreno central, variando de 100 a 400 m2. As densidades de estocagem variam de 5 a 10/ m2 e os peixes são alimentados com ração completa de boa qualidade (não há alimentação natural). A aeração é contínua para manter o OD em nível elevados e provocar um fluxo que leve os dejetos para o esgoto central. As produtividades variam de 20.000 a 30.000/kg/ha/safra, dependendo principalmente das quantidades de água que são trocadas. Nível 6 - Troca de água contínua - Raceways - As unidades de produção são pequenas (100 - 400 m 2), de concreto, retangulares ou circulares e com dreno central. Machos de tilápia são estocados de 70 ou 120/m3 e são alimentados com ração completas. Trocas completas de

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água são feitas de 1 a 3 vezes por hora. Uma fonte de água para abastecimento por gravidade torna a operação economicamente mais interessante. A produtividade pode variar de 70 a 200 kg/m3/safra. Nível 7 - Tanques-rede ou gaiolas - Tanques-rede são utilizados em lagos, reservatórios, rios de pequeno fluxo e oceanos. Os machos de tilápia são estocados de 50 a 100/ m3 em tanques rede de grande volume (> 5 m3) e até 600/ m 3 (pequenas gaiolas são mais eficientes por unidade de volume devido a troca de água mais eficiente). As gaiolas não devem tocar o fundo para que sejam evitadas as desovas. Produtividades variam de 50 a 300 kg de tilápias/ m3. Nível 8 - Reutilização da água - A maioria dos sistemas que reutilizam a água funcionam em ambientes fechados de modo que os parâmetros físico-químicos e biológicos possam ser controlados de perto. As tilápias são estocadas em densidades que variam de 25 a 50/m3 em tanques de 100 a 200 m2. A temperatura da água é controlada e oxigênio puro é fornecido. Os dejetos dos peixes e da alimentação são retirados com filtragem mecânica e biológica e trocas de 5 a 10% do volume de água são realizadas diariamente. As produtividades podem variar de 50 a 100 kg/m3/safra. Os riscos de quebra de safra são grandes devido a defeitos mecânicos no sistema que podem levar a grandes mortalidades. É um sistema muito utilizado em regiões onde a temperatura cai abaixo das aceitáveis para as tilápias.


Policultivo da Capiatã Onde se produz camarões também se colhe tilápias

Dezembro de 1992 marcou o inicio da história do cultivo da tilápias na Capiatã Comércio e Exportação, hoje a maior empresa produtora de camarões de água doce do Brasil. Assessorada por técnicos israelenses, que sempre estimularam o policultivo de camarões com tilápias, a empresa importou de Israel tilápias híbridas que já naquele ano chegaram a ocupar, em mono e policultivo, 14 hectares da fazenda ou 30% da área então sob produção. Os primeiros resultados obtidos foram animadores em contraste com as dificuldades de comercialização que a empresa encontrou na ocasião, no mercado de Maceió. Para então alavancar o novo produto recém chegado ao mercado, uma estratégia importante de marketing passou a ser utilizada pela Capiatã. Partindo de estudos de mercado junto a população consumidora, a empresa concluiu que o

nome tilápia estava associado a um peixe de pequeno porte e desvalorizado. Numa bem sucedida manobra de marketing, a popular tilápia foi rebatizada com o nome de Nilótica e ganhando também uma embalagem personalizada. Atualmente a empresa está produzindo 3 t/mês de Nilótica, quantidades insuficientes para atender a cidade de Maceió, por enquanto o único mercado em que a empresa se dedica na comercialização do produto. CAMARÕES A produção de camarões da Malásia - Macrobrachium rosenberggii, entretanto, ocupa o lugar de destaque nas prioridades da empresa que hoje produz em média 20 t/ mês em seus 70 hectares de viveiros, além das 3,3 milhões de pós-larvas que saem mensalmente dos laboratórios, quase que exclusivamente para consumo próprio. A criação das tilápias nilóticas que atualmente está presente em 50 ha desses viveiros, em policultivo com o ca-


Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 1995 marão, é decorrência das estratégias utilizadas pela Capiatã na criação dos crustáceos, engordados em três ciclos anuais. ALEVINAGEM E ENGORDA A produção de alevinos da Capiatã é feita em tanques de alvenaria de 200 m2 onde 600 reprodutores por vez são acondicionados na proporção de 3 fêmeas para um macho. Após 15 dias, quando já é abundante o número de larvas presentes nesses tanques, os reprodutores são retirados para dar inicio aos manejos visando a reversão sexual com a utilização de alimento contendo hormônio. Neste processo a empresa vem obtendo um percentual de machos que se situa entre 95 e 98%. As larvas revertidas são então transferidas para viveiros de alevinagem onde são estocadas na densidade de 60 a 100 mil por hectare durante 3 meses. Nos viveiros de engorda da Capiatã, que medem 5.000 m2 cada, são estocados de 50.000 a 75.000 pós-larvas de camarões e 300 a 500 juvenis de tilápia para um período de engorda de aproximadamente 4 meses, durante os quais são feitas despescas seletivas de camarões e eventuais fêmeas de tilápia. Ao término do período de engorda, todos os peixes e camarões são despescados e levados juntos, vivos, para as instalações de processamento onde são lavados, selecionados, filetados ou apenas eviscerados, antes de serem congelados em túnel de amônia. NILÓTICA CAPIATÃ Segundo Francisco Vital, gerente comercial e administrativo da Capiatã, atualmente, das 3 toneladas mensais de Nilóticas que a empresa produz, 30% são peixes classificados como tamanho A (400 a 500 g), 50% são do tamanho B (média de 300 g) e 20% são do tipo C (média de 150 g). Toda a produção de peixes tamanho A é filetada, congelada e vendida a R$ 10,00/kg. Os peixes de tamanho B e C são vendidos eviscerados e congelados a R$ 2,50 e R$ 2,00, respectivamente. A Nilótica Capiatã é totalmente comercializada na butique da empresa no bairro do Farol na capital alagoana em embalagens plásticas com o certificado do Serviço de Inspeção Federal - SIF. Para os próximos anos, os planos de empresa, que hoje opera com 76 funcionários, são de elevar a produção atual, ao patamar de 6 toneladas por mês, quantidade ainda muito aquém das reais possibilidade de produção. Sobre isso, Francisco Vital esclarece que, para aumentar ainda mais a produtividade, seria preciso investimentos e mudanças que poderiam interferir na produção atual de camarões, fato que não desperta o interesse da diretoria, já que o mercado para os crustáceos nunca esteve tão bom como agora. Vital acrescentou também que os viveiros da Capiatã foram construídos para o cultivo de camarões, não estando adaptados para a ação das tilápias nos fundos dos viveiros. A intensificação da produção agravaria esta situação e aumentaria os custos de produção em decorrência da manutenção passaria a ser mais constante. E por falar em investimento, no momento a Capiatã está envolvida, e assustada, com os custos da importação de novas matrizes reprodutoras. Essa preocupação se justifica, pois o preço de cada reprodutor vindo de Israel é de US$ 24.00 - F.O.B. e a intenção inicial é importar 1400 peixes.

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Entrevista O engenheiro de pesca Marcelo Chammas, um dos proprietários da Fishtec Consultores Associados, faz parte da nova geração de especialistas em aqüicultura comprometida com o crescimento planejado da atividade. Ao falar aos leitores da Panorama da AQÜICULTURA sobre o perfil da tilapicultura brasileira, Marcelo aproveita para apontar os pontos vitais da aqüicultura brasileira que precisam ser estimulados.

Panorama - Na sua opinião o Brasil já é um produtor de tilápias ou é apenas um candidato a produtor? Qual o estágio de maturação da tilapicultura brasileira? Marcelo Chammas - A situação do cultivo da tilápia no país não difere das outras espécies. A atividade de piscicultura segue sendo uma grande promessa, com bolsões isolados de uma indústria embrionária. Todos os indicadores nos levam a crer que o período de experimentações já passou e é ponto pacífico que já se dispõe de tecnologia nacionalizada para implantação de uma segunda fase mais profissional na aqüicultura nacional como um todo. Oxalá as autoridades definam uma política de crédito mais realista e um programa efetivo de extensão rural para que possamos alavancar este processo. Panorama - Hoje se cultiva tilápias por que existe um mercado seguro ou por que se espalhou por aí que além de fácil era uma atividade muito lucrativa, do tipo “como ganhar dinheiro sem fazer força”? Qual o perfil do criador brasileiro de tilápias?

Marcelo Chammas - A aqüicultura brasileira se caracteriza por ser cíclica com relação a escolha da espécie a ser cultivada, o que demonstra o grau de primarismo em que se encontra, explicado pela pouca idade da atividade no país. Infelizmente, os modismos não contribuíram e nem irão contribuir para a consolidação da atividade. Alguns veículos de comunicação com amplo alcance popular foram os grandes responsáveis por este desserviço, lançando modismos e alardeando as facilidades e os altos ganhos com a aqüicultura, gerando aqüicultores despreparados que num curto espaço de tempo passam a propalar a inviabilidade do sistema. A escolha da espécie a ser cultivada depende de uma análise criteriosa das condições climáticas e biológicas da propriedade e de um estudo detalhado do mercado para o produto, de tal sorte que se respeite as grandes disparidades existentes em ambos quesitos no Brasil. Atualmente temos uma grande gama de tilapicultores no país, desde os mais despreparados até aqueles que se utilizam de tecnologia que não deixa nada

a desejar a nenhum país do mundo. Fica difícil portanto, traçar um perfil do criador brasileiro. Panorama - E o perfil do mercado? Existem dados sobre a demanda atual? Marcelo Chammas - No Brasil o mercado de tilápias apresenta características distintas de acordo com as formas de comercialização do produto, origem e preços. Em linhas gerais podemos dizer que no nordeste brasileiro a maior parte das tilápias comercializadas são provenientes da pesca artesanal (a exceção da Capiatã e outros poucos produtores de pequeno-médio porte) e são comercializadas na forma de filés com preços ao redor de R$ 4,00 o quilo. Na região do oeste paranaense o produto é proveniente de pisciculturas de pequenas e médias propriedades e podemos observar situação similar a do nordeste no que diz respeito ao preço e forma de comercialização. Outra realidade é a observada para o Saint Peter’s (tilápia vermelha tetra-híbrida) produzida na região sudeste do país, proveniente de grandes propriedades produtoras e que vem sendo comercializada apenas resfriada e com vísceras a um preço médio de R$ 5,00 o quilo. A situação comum destas três realidades é a de que a demanda é inúmeras vezes superior a oferta do produto e que o mercado vem crescendo nos últimos anos de forma consciente no que diz respeito a preços e volumes.


Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 1995 Panorama - Parece que essa grande demanda pela carne da tilápia não ocorre só no Brasil... Marcelo Chammas - Na Colômbia por exemplo, em menos de dez anos após a introdução da tilapicultura comercial, se consome hoje cerca de 400 t de tilápia por mês. Vale lembrar que é um país com uma população igual a do Estado de São Paulo e situação econômica não muito diferente da nossa. Nos Estados Unidos a produção interna em 1994 foi de aproximadamente 7.500 t, superior em 30% ao ano anterior, que já havia crescido 40% em relação a 1992. Mas o interessante é que as importações também não pararam de crescer, registrando um total de 15.000 t em 1993, um aumento de 87% em relação a 1992. Esse aumento superou em volume as importações de salmão em suas diferentes apresentações naquele mesmo ano. Segundo o ICLARM (Filipinas), a produção mundial de tilápia dobrou de 1984 até 1991 e de lá para cá vem crescendo aproximadamente 10% ao ano, atingindo em 1994 um total de 588.900 t. Destas, 498.300 t foram produzidas na Ásia e o indicador de que ainda há espaço para um maior crescimento é que o preço não parou de subir nos últimos anos. Panorama - Na sua opinião a produção brasileira de tilápias nos próximos anos

será proveniente das grandes plantas produtoras, ou virá das associações de pequenos produtores de tilápias como ocorre atualmente no Oeste do Paraná? Marcelo Chammas - Acredito nas duas possibilidades. Muito embora não haja uma cultura de cooperativismo no país, está na hora dos produtores descobrirem as grandes economias que este sistema propicia.

Na realidade uma tilápia vermelha pode ser melhor, igual ou pior do que uma cinza ... Panorama - Qual o investimento necessário para implantar uma fazenda de grande porte? Marcelo Chammas - Uma análise responsável dos custos para a implantação de qualquer projeto tem que levar em conta as particularidades de cada propriedade, sendo um bom projeto de engenharia tão importante quanto um bom projeto biológico. Se quisermos uma idéia aproximada dos custos para implantação de um cultivo intensivo (30 a 40 t/ha/ ano), respeitadas as escalas mínimas de

Página 17 viabilidade econômica, podemos dizer que estes investimentos se pagam após 3 a 4 safras, cada uma variando de 9 a 12 meses, dependendo da temperatura local. Panorama - O que põe em risco hoje o desenvolvimento do cultivo de tilápias no país? Marcelo Chammas - A falta de linhas de crédito; a escassez de técnicos especializados e o alto custo dos insumos e equipamentos. Vale ressaltar que estes problemas afetam não só a tilapicultura, mas a aqüicultura como um todo. Panorama - Por quê ainda são baixas as produtividades nos cultivos de tilápia brasileiros? Marcelo Chammas - Infelizmente vivemos um ciclo vicioso onde o preço dos insumos e equipamentos são altos dado o baixo consumo. A qualidade dos peixes é baixa dado os baixos preços e vice-versa. Os preços também são baixos devido a uma falta de suprimento constante, o que se justifica com a falta de hábito do consumo de peixes e, tudo volta ao começo. A experiência colombiana nos ensina que em um determinado momento alguém tem que romper com este ciclo. Se quisermos vivenciar o processo de alta produtividade que alguns países


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alcançaram teremos que investir em tecnologia visando produtos com controle de tamanho e off flavour (sabor desagradável de lama), preços constantes e produção ao longo do ano todo. Para tanto, os preços pagos ao produtor que hoje se situam na faixa de R$ 0,80 terão que subir e o preço dos insumos baixar, já que num cultivo intensivo de peixes a taxa de conversão alimentar se situa em torno de 2:1 e o preço médio do quilo de ração é de R$ 0,40. Panorama - E como anda o material genético da Oreochromis niloticus (tilápia nilótica) cultivada no país? Marcelo Chammas - Pesquisas realizadas em Auburn (EUA) nos anos de 1983 e 1984 concluíram que dentre três fontes distintas de tilápia nilótica analisadas, - israelense, brasileira e egípcia, a brasileira foi a que apresentou os piores resultados em termos de tolerância a baixas temperaturas e taxas de crescimento significativamente menores. Uma vez que não se importaram novos animais desde aquele período, é de se supor que exista material genético de melhor qualidade em outros países. Cabe ressaltar que devido ao longo tempo que algumas regiões do país receberam a tilápia, houve um processo de seleção natural resultando em indivíduos bem adaptados àquelas condições naturais. Por outro lado, esta base genética é bastante reduzida, trazendo prejuízos pela alta consangüinidade. De modo geral é muito difícil avaliarmos a qualidade de um determinado peixe apenas pela avaliação de suas características morfométricas, já que

é de vital importância conhecermos a que condições este animal foi submetido, mas com certeza urge a necessidade de uma política clara de melhoramento genético de nossas espécies como um todo.

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Processamento de tilápias na Maragricola, Colômbia. Acima, peixes lavados seguindo para filetágem. Abaixo, resultado final do processamento. Na Colômbia são consumidas 400 t por mês de tilápias.

Panorama - Afinal, tilápia vermelha é melhor ou pior que as outras? Marcelo Chammas - Na realidade uma tilápia vermelha pode ser melhor, igual ou pior do que uma cinza, mas o que eu gostaria de salientar, é que da mesma forma que ninguém diz que cultiva uma tilápia cinza e sim tilápia do Nilo, tilápia áurea, tilápia do Congo, etc., chegou o momento de se esclarecer também a que variedade de tilápia vermelha estamos nos referindo e, acima de tudo, o porquê da opção por este ou aquele híbrido, já que a engenharia genética nos permite desenvolver animais mais precoces, mais prolíficos, com maior rendimento de carne, adaptados a diferentes condições de temperatura, dentre outras características. E, se desejamos que o peixe passe a ser consumido em larga escala, devemos oferecer, através do beneficiamento, a mesma praticidade das outras carnes. Sendo assim, comprar peixe “in natura”, num curto espaço de tempo, será tão primitivo quanto comprar frango vivo, portanto a questão da cor e da aparência do peixe tende a perder este status atual, já que ninguém sabe qual era a cor da plumagem do frango que consome ou do boi que origina alguns hambúrgueres. Atente-se para o exemplo argentino e uruguaio com seus fish sticks, practice lines de pescado, kanicamas, surimis, etc. Enquanto isso no Brasil....


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Tilápia no Paraná:

Novos hábitos alimentares; Novas opções no campo região Oeste do Paraná, que tem se destacado no cenário da aqüicultura nacional pela organização dos produtores em associações, possui certamente a maior densidade de aqüicultores por unidade de área do Brasil e, por conta disso, tem servido de modelo para aqüicultores de todos os estados que para lá se encaminham à procura de informações e experiências. A estrela absoluta desse espetáculo de toneladas diárias de peixes processados é a tilápia nilótica, consumida largamente nos municípios da região por um número cada vez maior de fãs. Em torno da tilápia crescem as famílias voltadas para a cultura aqüícola que se tornou uma importante opção produtiva na região, outrora restrita a avicultura, a suinocultura e a lavoura de soja e milho. Para se ter uma idéia, diariamente 3,5 toneladas de tilápias vivas são processadas em apenas dois dos frigoríficos situados na região. Os resultados positivos da Indústria de Pescados e Derivados da AQUIOPAR - Associação dos Aqüicultores do Oeste do Paraná, localizada em Palotina, e da Pisces Indústria e Comércio de Produtos Derivados da Aqüicultura, localizada no município de Bragantina, estimulam a concorrência e trazem para o consumidor final todos os benefícios dela provenientes. PISCES A Pisces, a primeira indústria da região a ser montada com essa finalidade está processando de 2.000 a 2.500 kg diários de tilápias que resultam em aproximadamente 900 kg de filés (aproximadamente 38% de rendimento), vendidos a R$ 4,00 o quilo aos supermercados. Os filés são embalados em bandejas plásticas cobertas por um filme de PVC com pesos variando de 0,5 e 1 kg, além de uma embalagem prática especial pesando 0,5 kg chamada de “massinho”, onde os filés são embalados e enrolados individualmente uns sobre os outros de forma que

Acima: Vista das instalações de processamento da Pisces, em Bragantina - PR. Abaixo: retirada do couro, que também é comercializado congelado pela empresa, a R$ 7,00 o quilo.


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Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 1995 possam ser utilizados um a um mesmo estando congelados, para uma melhor conveniência para as donas de casa. INTEGRAÇÃO Seguindo o exemplo da Sadia e da Perdigão, empresas instaladas na região que trabalham tradicionalmente com o sistema de integração, Adir Mendes, proprietário da Pisces, passou a adotar o mesmo sistema e hoje tem como integrados 150, dos 250 produtores com quem trabalha. Para isso, a Pisces especializou-se também na produção de alevinos com sexo revertido com hormônio, cuja produção, ao fim desse verão (outubro a maio), deverá alcançar os 5 milhões. No sistema de integração, a Pisces fornece os alevinos e a assistência técnica, assegurando a compra do peixe para o processamento. Para os produtores integrados, o preço do milheiro do alevino revertido custa R$ 20,00 e Adir, numa estratégia para atrair vendas, entrega sempre 10% a mais da quantidade comprada. Existe também, para o produtor, a alternativa de pagar pelos alevinos na forma de peixe gordo. Neste caso, cada milheiro poderá ser trocado por 60 kg de peixes prontos para o abate.

Acima: Adir Mendes, proprietário da Pisces, mostra bandejas com filés. Abaixo: Viveiro da empresa com pequenos tanques-rede utilizados para reversão sexual de tilápias.

FILÉS E SUBPRODUTOS Durante o período de engorda, quando os peixes são alimentados com rações, os produtores integrados podem acompanhar o crescimento de suas tilápias através das visitas mensais do técnico da empresa, que faz a biometria e acompanha a curva de crescimento para atualização das taxas de arraçoamento. No momento em que desejar, o produtor chama o técnico da Pisces para avaliar o tamanho e o peso médio dos peixes, e combina o preço que receberá pelo quilo, segundo uma tabela que varia de R$


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Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 1995 0,70 a R$ 0,90. Segundo Sergio Makrakis, gerente de produção da Pisces, estudos realizados junto aos produtores revelaram que o ponto de equilíbrio para o produtor está em R$ 0,57. Portanto, os piscicultores vendendo seu peixe a R$ 0,80 estarão tendo um lucro líquido de 40% em seus negócios. Na hora da despesca, a Pisces envia seu caminhão, equipamentos de despesca e dois de seus 25 funcionários, sendo preciso apenas que o dono do peixe ofereça a mão-de-obra extra quase sempre necessária. O peixe é trazido vivo para os tanques de depuração (? de 12 a 24 hrs) da empresa até serem levados para as instalações de abate, filetagem, embalagem e congelamento. A indústria atualmente produz 18 t de filés por mês e pretende fechar o ano filetando o dobro desta quantidade. A produção está sendo escoada para os supermercados dos municípios próximos que os revendem em média a R$ 5,20 ao consumidor final. Além dos filés, as cabeças e carcaças dos peixes são aproveitadas na produção de 4 toneladas mensais de farinha, que são vendidas a R$ 0,23 o quilo. Outro subproduto também comercializado pela Pisces é a pele da tilápia, vendida congelada a R$ 7,00 o quilo, para curtumes de Minas Gerais, São Paulo e no próprio estado.

MERENDA ESCOLAR As tilápias abaixo de 400 g não são filetadas como as demais. seguindo para uma linha de processamento onde são congeladas após terem as cabeças, o couro e as vísceras retiradas (porquinho). Este produto é moído resultando num produto que é aproveitado na merenda escolar das escolas municipais. Segundo Rosiclei Nori, a associação promove cursos para as merendeiras das escolas para ensinar as várias maneiras de aproveitar o peixe moído - hambúrguer, tortas, molhos, pasteis, etc.

AQUIOPAR AAssociação dos Aqüicultores do Oeste do Paraná - AQUIOPAR, que reúne os 300 associados das associações de aqüicultores dos municípios de Mal. Cândido Rondom, Missal, Tupãssi, Cascavel, Guaíra e Palotina, inaugurou recentemente as instalações da sua Indústria e Comércio de Pescados e Derivados onde já são processadas diariamente 1.500 kg de tilápias. Os sócios da AQUIOPAR pagam uma mensalidade que varia de 4 a 20% do salário mínimo vigente que lhe dão direito a uma visita mensal dos técnicos da Associação que fazem biometria, análises de água, além de receberem o apoio na hora da despesca através do caminhão, redes e pessoal da associação. Atualmente recebem de R$ 0,70 a R$ 0,90 pelo quilo da tilápia vendida à indústria e, segundo, Rosiclei Nori, gerente de beneficiamento, brevemente os preços oferecidos aos produtores sofrerão reajustes. Os vendedores da associação comercializam os filés nos supermercados de Maringá, Palotina e Cascavel a R$ 4,30 o quilo e, para cozinhas industriais, que exigem uma seleção para padronização de peso dos filés, a R$ 5,00.

Acima: Instalações de processamento de pescados da AQUIOPAR em Palotina - PR. Abaixo: Rosiclei Nori, gerente de produção da AQUIOPAR, com embalagem de filés de tilápias.


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Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 1995

TEHAG - HUNGRIA: CURSO DE PISCICULTURA DE MAIO A JUNHO DE 1995 Faça como mais de 100 brasileiros. Participe deste curso!

- TEHAG, um dos maiores centros geradores de tecnologia da Europa, se situa a 26 km de Budapest. - O curso será dirigido por Péter Garádi, eng.agr. que possui 8 anos de experiência em piscicultura só no Brasil. - As instalações da TEHAG contam com uma casa de incubação e larvicultura com 2.000 m2 e 500 ha de viveiros, além de laboratórios, salas de aula, alojamentos e refeitórios. - A TEHAG produz larvas, alevino I, alevino II, juvenil e peixe de engorda de carpa húngara, prateada, cabeça-grande, capim, esturjão, Silurus glanis (bagre europeu), Tinca tinca e goldfish. - Preço do curso de 60 dias por participante: 1 - Para confirmação até 15/03/95 será US$ 110/dia. 2 - Para confirmação até 27/03/95 será US$ 125/dia. 3 - Para confirmação até 05/04/95 será US$ 140/dia. Vagas limitadas. Com o apoio da: Realização: No custo estão inclusas as despesas de translado, alojamento, refeições, cursos práticos e técnicos, viagens para visitas a estaçõe de pisciculturas na Hungria e países vizinhos além de passeios e eventos culturais para as horas de lazer. Para qualquer esclarecimento e inscrições contactar Bernauer Aquacultura Ltda TEL: (0473) 34-0089 Obs.: passagem aérea até Budapest não inclusa. FAX: (0474) 34-0090

Calendário Aqüícola ABRIL

JUNHO

3 - Reunião da Associação Brasileira dos Criadores de Camarões - Será realizada em Natal - RN e, entre outros assuntos, será eleita a nova diretoria. Inf: MCR Aquacultura Tel (083) 222-4538.

6-9 - Patologia e Manejo Sanitário em Piscicultura - O curso, coordenado por Luiz Marques Ayroza, é promovido pelo Instituto de Pesca - SP e será realizado no Centro de Pesquisa em Aqüicultura do Vale do Ribeira em Pariquera-Açu - SP. Inf: (0138) 56-1814.

5-8 - Identificação, Coleta e Contagem de Zooplâncton - Será realizado no CEPTA/IBAMA, Pirassununga - SP sob a coordenação de José A. Senhorine e Adilson Fransozo. Inf: (0195) 65-1299 r. 205, Fax (0192) 65-1318. 17-20 - IV Reunião Anual do Instituto de Pesca - Se realizará sob coordenação de Naoyo Yamanaka, na Divisão de Pesca Marítima de Santos - SP. Inf: (0132) 27-5995, Fax: (0132) 36-1900. 26-28 - Capacitação de Técnicos em Piscicultura - Curso promovido pelo Instituto de Pesca-SP e coordenado por Cleide Schmidt Pinto e Moisés da Silva, será realizado na Estação Experimental de Pindamonhangaba - SDP. Inf: (0122) 42-3921.

MAIO

20-22 - Importância de Comunidades Planctônicas na Aqüicultura - Será realizado no CEPTA/IBAMA, Pirassununga - SP sob a coordenação de José Sávio Colares e Vera M. Nascimento. Inf: (0195) 65-1299 r. 205, Fax (0192) 65-1318. 27-30 - I Curso Básico de Aqüicultura - Promovido pelo Instituto de Pesca - SP e coordenado por Elizabeth Romagosa. Será realizado no Centro de Pesquisa em Aqüicultura do Vale do Ribeira em Pariquera - Açu. Inf: (0138) 56-1814 e 56-1294, Fax: (0138) 56-1656.

JULHO

4-6 - Criação de Rã-Touro - Curso promovido pelo Instituto de Pesca - SP e coordenado por Dorival Fontanello. Será realizado na Divisão de Pesca Interior. Inf: (011) 864-6300 e Fax: (011) 263-4795.

10 - 01/09 - 20º Aquaculture Training Program - O 20º Programa Anual de Treinamento da Universidade de Auburn terá duração de 8 semanas dirigidos a técnicos envolvidos com a aqüicultura comercial. Inf: Fax + 1 (334) 844-9208

9-12 - III Seminário de Cultivos de Pescado da FIPERJ - Encontro programado pela Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro com o apoio do Grupo Sendas cuja fazenda sediará a aula prática de encerramento. Inf: (021) 231-2373.

10-14 - Nutrição e Alimentação de Peixes - Será realizado no CEPTA/IBAMA, Pirassununga - SP sob a coordenação de Osmar A. Cantelmo e M. Angélica Ribeiro. Inf: (0195) 65-1299 r. 205, Fax (0192) 65-1318.

10 - Dia de Campo - Criação de Camarão de Água Doce - Promovido pelo Instituto de Pesca - SP, será realizado na Estação Experimental de Piscicultura e Ranicultura de Pindamonhangaba-SP. Inf: (0122) 42-3921.

AGOSTO

22-26 - Criação de Organismos Marinhos - Promovido pelo Instituto de Pesca de SP e coordenado por Naoyo Yamanaka. Será realizado na Divisão de Pesca Marítima. Inf: (0132) 27-5995, Fax: (0132) 36-1900.

2-4 - Formulação de Rações em Microcomputadores - Será realizado no CEPTA/IBAMA, Pirassununga - SP sob a coordenação de Osmar A. Cantelmo. Inf: (0195) 65-1299 r. 205, Fax (0192) 65-1318.

22-26 - Seleção de Local e Construção de Viveiros - Será realizado no CEPTA/IBAMA, Pirassununga - SP sob a coordenação de José H. de Souza e Valdir Ferrari. Inf: (0195) 65-1299 r. 205, Fax (0192) 65-1318.

7-11 - Controle de Enfermidades em Peixes - Será realizado no CEPTA/IBAMA, Pirassununga - SP sob a coordenação de Paulo Ceccarelli e Rita Alcântara. Inf: (0195) 65-1299 r. 205, Fax (0192) ABRIL/'95 65-1318.




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