18/11/2009 Subsolo Art

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Entrevista com a grafiteira Anarkia Boladona « SubsoloArt! - Graffiti e Arte Urbana Brasileira!

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Entrevista com a grafiteira Anarkia Boladona Publicado em quarta-feira, 18 de novembro de 2009, 19:11. Categorias: Entrevistas, Graffiti

Nome, idade, classe, raça, genero, religião. Anarkia, 26 anos. Moradora de classe baixa do subúrbio carioca. Sou uma grande mistura de raças como todos do meu país. Mulher. Ateu. Por que você resolveu colocar esse nome? Eu comecei a escrever anarquia na adolescência no movimento de pichação pois para mim nesta época essa palavra soava como símbolo de liberdade e rebeldia, pois como uma mulher eu tive uma criação limitada ao espaço privado e o poder e desejo de estar na rua era o que me seduzia a pichar. Assina em crew? Qual e o que significa? Não tenho uma crew, mas sim uma “sigla” que é um tipo de gangue de pichação que é a AR – Amantes do Rabisco – uma das mais tradicionais do Rio de Janeiro com 20 anos de existência. Assino esta “sigla” a 8 anos. Desde que ano você assina na rua? Eu fiz minha primeira pichação em 2000, tendo o meu auge nesta cultura em 2002. Em 2001 fiz meu primeiro graffiti. No Rio de Janeiro pichação não é graffiti, são duas culturas completamente diferentes que dificilmente se misturam. Enquanto pichadora eu fazia parte da terceira geração, pois esta surgiu no final da década de 70. Mais tradicional e essencialmente vandal, acabei optando por me envolver e freqüentar o universo da pichação o que me fez acompanhar de longe a evolução da primeira geração de grafiteiros cariocas. E apenas no final de 2005 comecei a fazer graffitis com real freqüência, conhecendo e freqüentando o meio e me nominado grafiteira. Por isso considero que grafito a apenas 4 anos. Que motivo o fez buscar o graffiti? Desde criança sinto como se não me contentasse com a maneira com que as coisas do mundo estão organizadas o que me tornou uma pessoa sentimentalmente excluída exceto pelo fato do meu círculo de ligações enquanto praticante de intervenção urbana. Não a forma visual final, mas sim os meus atos e convivência com rua são um reflexo deste meu questionamento interno sobre a forma que construímos culturalmente nosso mundo. Acredito que a pichação seja uma forma inconsciente de mostrar que algo não vai bem na estrutura da organização da cidade, uma vez que a considero como fala dos inadaptados que sentem necessidade de algo mais que não seja apenas viver sobre os padrões impostos. Esta é a conclusão que cheguei hoje, mas é claro que quando agente começa a pichar agente nunca entende porque está fazendo isso. É instinto. Que picos você mais gosta de pegar e, o que mais gosta de fazer na rua? Qualquer coisa que faço na rua me deixa exitada, desde uma pichação a um painel, porém são dois tipos de sensações diferentes. É explicito minha empolgação com atitudes q necessitam de mais adrenalina, mas ao mesmo tempo só o fato de estar mexendo com a tinta já me seduz e eu me entrego muito mesmo a pinturas mais tradicionais. Como você está vê a cena do Rio de Janeiro e do Brasil? Quando falamos de graffiti, percebemos que este já foi muito absorvido pela mídia e se tornou algo vendável o que descaracteriza suas ações de inconformismo e se adapta aos critérios aceitáveis de comportamento para convívio social. Graffiti no Rio de Janeiro praticamente não possui ilegalidade, uma vez que não possui uma cena de vandalismo forte e a população e o governo apóia sua aplicação pelos muros da cidade como forma de arte e revitalização dos espaços degradados. Uma prova do que falo são as curiosas pinturas nos trens da companhia carioca que prefere aplicar esta forma de arte que é barata, bonita e agrada a todos revitalizando visualmente os vagões antigos, quando na maioria dos países do mundo existe uma casa aos pintores de trens e esse tipo de atitude seria impensável uma vez q estimularia as ações de vandalismo. Outro exemplo é o uso do graffiti como oficina em presídios para menores infratores enquanto arte educação. Como poderíamos imaginar algo que é punido pela lei sendo lecionado para infratores em presídios? No Brasil fomos privilegiados pela questão do atraso tecnológico e em relação a globalização pois por ser um país subdesenvolvido a população não tinha acesso ao mesmo tipo de informação como a parte norte do Hemisfério e toda a tecnologia desde internet a latas de spray sofisticadas que demoravam anos até chegar no país. Ao contrário do que se possa imaginar, isso não foi prejudicial para o graffiti brasileiro, muito pelo contrário foi um privilégio manter-nos afastado de toda a cultura mãe de Nova Yoque uma vez que deixou nosso poder criativo livre de influencias criando culturas diferentes de todo o mundo como o tag reto de São Paulo e o uso do látex como solução para o alto valor da lata de spray. E não só apenas por isso, mas o respeito pela adversidade, como acontece na questão da religião e no convívio de raças e misturas diversas. Esse respeito criado no país deixou muito livre as pessoas em desenvolverem o graffiti de diversas formas que muitas vezes poderiam ser olhadas de forma crítica em ambientes em que a Letras e a cultura novaiorquina fossem dominantes. http://subsoloart.com/blog/2009/11/entrevista-com-a-grafiteira-anarkia-boladona/

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