Indígenas: da Romantização a Repressão

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da Romantização à Repressão

Pamelly Vaz de Lima

da Romantização à Repressão

E-book baseado na exposição virtual disponível no Instagram @expo.indigenas

Índice 1. A exposição "Indígenas: da Romantização à Repressão".

2. Parte 1 - A Arte Moderna O que foi o Modernismo?

A Arte Moderna no Brasil A estética da Exposição Virtual A obras 3. Parte 2 - O Serviço de Proteção aos Índios O SPI Manchetes 4. Conclusão Final 5. Referências

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A exposição "Indígenas: da Romantização à Repressão" O objetivo da exposição é colocar em pauta como os povos indígenas eram retratados nas obras de arte entre as décadas de 1910 a 1970 no Brasil em contraponto com o cenário brasileiro, em que o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) acabava de ser criado até sua extinção. Órgão este que foi responsável por encobertar ações da Ditadura Militar, além de estarem envolvidos em diversos casos de corrupção.

Na exposição estão disponíveis obras modernistas brasileiras retratando de diversas maneiras os povos originários, em sua maioria, de forma romantizada, muito longe da realidade na época. Em contrapartida, há diversas manchetes de jornais do período expondo a violência que ocorria com a população indígena em todo território nacional.

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PARTE 01

A ARTE MODERNA

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A Arte Moderna O que foi o Modernismo?

O movimento modernista se inicia ao longo do século XIX, na Europa, com o objetivo de romper com o antigo, mais especificamente com a Antiguidade Clássica, impulsionado pelo período político que trazia renovação, junto com revoluções. A partir disso, os movimentos de romantismo, impressionismo e pós impressionismos traziam como pauta essa ruptura, pregando a autonomia da arte, liberdade artística, além de questionar a arte academicista.

Dentro do modernismo se encontra a Vanguarda, uma vertente que, por definição, se encontra na linha 11

de frente do movimento, marcando uma segunda fase da arte moderna.

Os vanguardistas eram os futuristas, expressionistas, construtivistas, dadaístas, surrealistas e suas outras vertentes latinas e europeias. Além das pautas atreladas ao modernismo, o movimento de vanguarda questionava também o sistema em que a arte era produzida, bem como a forma que era distribuída.

Com o nascimento da Arte Moderna se iniciou um novo conceito de exposições de arte que atendiam justamente aos artistas que eram recusados dentro das exposições “tradicionais” até então, com por exemplo “O Salão dos Recusados”.

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A Arte Moderna A Arte Moderna no Brasil No Brasil, a Semana de 22 foi um movimento de grande importância para o modernismo, pois escancarou as portas brasileiras para essa onda europeia, permitindo que esse movimento se fixasse no país. Muitos dos artistas que estavam em 22 estão presentes na Exposição Virtual, como por exemplo Di Cavalcanti, Vicente do Rêgo Monteiro e John Graz.

Ao longo dos anos seguintes à Semana de 22 vários movimentos de vanguarda surgiram, entre eles o movimento “Antropofágico” da Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Sobre este movimento o filósofo Eduardo Subirats explica de forma suscinta 13

neste trecho de seu livro “Do Surrealismo à Antropofagia” sobre a relação entre este movimento e o surrealismo europeu: “No Brasil de 1920, a pintora Tarsila do Amaral e o poeta e filósofo Oswald de Andrade, junto a um grupo heterogêneo de romancistas, lingüistas e filósofos, fundaram uma corrente artística à qual chamaram Movimento Antropofágico. Sob o signo da Antropofagia foram publicados manifestos e poemas, feitos quadros, escritos romances e ensaios, e foi chamada a atenção pública sobre o significado novo e revolucionário da antropofagia e das civilizações pré-coloniais da América. É necessário assinalar, entretanto, que para estes artistas da vanguarda latino-americana o canibalismo era algo diferente dos lugares comuns de horror fascistóide e inveja hipócrita diante da nudez orgiástica (...)"

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"(...) sob as quais se representavam e representam as culturas milenares das selvas americanas. A Antropofagia apontava, em primeiro lugar, para as raízes históricas das civilizações destruídas da América. Em segundo lugar, revelava um novo significado da relação humana com a natureza, com seu próprio corpo, com sua sexualidade, seus afetos e, não em último lugar, com sua comunidade.

A Antropofagia brasileira transformou os medos e os ódios tradicionalmente ligados aos relatos europeus sobre o canibalismo americano, no reconhecimento artístico de um estado de liberdade sem limites e uma visão poética de renovação cultural.”

SUBIRATS, Eduardo. Do surrealismo à antropofagia.In: SCHWARTZ, Jorge (org.),op. cit., p.

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A Arte Moderna A estética da Exposição Virtual Nada é por acaso, justamente por isso, a estética e layout da exposição no Instagram também não é por acaso. O conceito do enquadramento branco vem justamente da inovação da década de 20 dentro das exposições modernas, remetendo diretamente as paredes brancas que carregam as obras com espaçamento entre elas, para que sejam examinadas individualmente.

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Obras de Matisse no MoMa em 1931

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Para além da parede branca, é exposto de forma alternada as obras de arte e as manchetes dos jornais, publicadas no período do recorte, entre as décadas de 1910 e 1970. A intenção desta forma de exposição é trazer o alento visual e estético das obras e logo em seguida mostrar a real situação dos povos indígenas, causando assim um impacto tanto visual quanto emocional.

A última manchete da exposição também foi escolhida à dedo para encerrar, justamente por considerarmos como sendo uma das manchetes mais impactantes e que explicitam, de fato, a violência recorrente a essas populações.

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A Arte Moderna A obras As obras presentes na exposição são de sete artistas, totalizando vinte obras, em sua maioria sendo óleo sobre tela, variando também entre aquarela, guache, murais, off-set e até mesmo feltro. Destes artistas se destacam nomes conhecidos até os dias atuais, inclusive por pessoas leigas, como por exemplo, Tarsila do Amaral e Candido Portinari que já tiveram suas obras estampando copos de requeijão comercializados na década de 90. John Graz, Regina Gomide Graz, Vicente do Rego Monteiro, Di Cavalcanti e Cildo Meireles complementam a exposição.

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As obras datam a partir do ano de 1921 até 1974 e, a data de início marca, justamente, o início do modernismo brasileiro que se consagra em 1922 na Semana de Arte Moderna. Como temática principal, as obras retratam os povos indígenas brasileiros em diversos tipos de representação, tanto exercendo sua própria cultura como em “Mani Oca”, 1921, de Vicente do Rego, quanto sendo catequisados, como na obra de Portinari “Catequese” de 1941. Também vemos representações de obras como “Mestiço”, 1934, e “Pau-brasil”, 1938, ambas de Portinari, que mostram o trabalho em lavoura e coleta de paubrasil, respectivamente.

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PARTE 02

O SERVIÇO DE PROTEÇÃO AOS ÍNDIOS

O Serviço de Proteção aos Índios O SPI O Serviço de Proteção aos Índios (SPI) foi criado no ano de 1910, inicialmente como Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPILTN). A proposta da SPI era pacificar os territórios em conflitos, além de possibilitar que indígenas se transformassem em trabalhadores, aproximando-os da perspectiva europeia. Na visão do capitalismo, transformar indígenas em mão de obra para que se adequassem à vida civilizada. Além disso, ao ‘ajudar’ os povos a se tornarem civilizados, haveria também uma liberação de terras para interesses econômicos para grupos privados.

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Em 20 de junho de 1910, O Ministro da Agricultura, Rodolfo Miranda, relatava as motivações para a criação da SPI, na Exposição de Motivos que acompanha o Decreto 8.072: “Não pode, porém, a República, permanecer na imobilidade com quem tem assistido, em muitos casos, o massacre de índios e sua sujeição a um regime de trabalho semelhante ao cativeiro, porque lhe é indiferente saber até que ponto pode coadunar-se com a lei e as responsabilidades de governo a doutrina que os colocou ao nível de seres irracionais. Incumbe-lhe, ao contrário, velar por eles, guiá-los prudentemente, sem violência, porque, se são inferiores e fracos, mais iniludível é o dever de os defender contra os privilegiados e fortes.”

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Em sua fundação, Marechal Cândido Rondon assumiu a diretoria do órgão, tendo como doutrina civilizatória dos índios a mesma base em que José Bonifácio (1763-1838) utilizava. Ambos acreditavam que, numa perspectiva evolucionista, os indígenas eram capazes de absorver outras culturas, capazes de evoluir.

Ao longo dos anos, foram instalados, em diversas localidades os postos indígenas, em que os nativos poderiam recorrer em busca de auxilio. Porém eles funcionavam também como postos de vigilância e controle. Em certo ponto, os postos poderiam fazer controle das entradas e saídas de indígenas para qualquer localidade.

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Em 1967, vem à tona o Relatório Figueiredo, relatório este que expõe a série de violências aos povos pela SPI, desde roubo e venda de recursos a assassinatos, prostituição, trabalho escravo, torturas e genocídio, além de corrupção dentro do órgão levando ao fim da SPI, no mesmo ano. Curiosamente, a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) foi criada no mesmo ano, mantendo os principais líderes da então extinta SPI. No Relatório Figueiredo (disponível no site do Ministério Público Federal), é explicitado inúmeros tipos de violências, uma delas é a possível contaminação proposital de varíola a tribos especificas, causando o extermínio desses povos.

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No período da presidência de Getúlio Vargas, existiu a ideia da “marcha para o Oeste”, com o intuito de desbravar e povoar as áreas ao extremo oeste do litoral atlântico, por serem “inabitadas”. Não somente pra o governo Getúlio, mas também para o governo ditatorial brasileiro, os povos que habitavam estas porções “não desbravadas” do Brasil, não tinham sua identidade cultural e autonomia reconhecidas, portanto, mantinham uma política de aculturação destes povos. Ou seja, eram enviadas pessoas destinas a ensinar a cultura branca, para torna-los cidadãos brasileiros, assim como ainda havia a catequização, retirando tudo o que era possível das características de cada povo, para obter controle dos indígenas.

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O Serviço de Proteção aos Índios Manchetes Para o uso das manchetes, foram escolhidas as que possuíam algum tipo de violência evidenciada. As datas das manchetes são de 1911 até 1968, sendo o último ano, o ano com maior ocorrência sobre violência na exposição, seguidos pelos anos de 1964, 1967, 1966 e 1941, coincidindo com a era Vargas e com o início da ditadura militar brasileira.

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PARTE 03

Conclusão final

Conclusão Final Apesar de Rondon ter resumido o objetivo da SPI como “Morrer se preciso for, mas matar nunca”, a organização destoou deste lema de várias formas. E, mesmo que, a intenção fosse proteger os povos indígenas, a ideia de que eram inferiores e poderiam evoluir para se adequar dentro do conceito de civilização capitalista foi justamente o que iniciou a desumanização destes povos, ao retirar a cultura e religiosidade presente em cada povo, de cada etnia, existente no Brasil.

A relação que a exposição se propõe a fazer é, demonstrar a forma ainda romantizada e, às vezes, deturpada da realidade em que os povos nativos eram retratados em contra ponto com a realidade por eles vividas.

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De forma alguma, a intenção é apontar dedos aos artistas. Muito pelo contrário, porque neste movimento que existia na tentativa de valorização da cultura nacional, se expunha os povos indígenas, trazendo alguma percepção sobre eles, não somente a ideia do medo que existia nas cidades, dos povos do extremo oeste serem totalmente descivilizados e antropofágicos.

Portanto, a ideia é somente demonstrar como a visão de como a catequização, por exemplo, era tida com bons olhos pela população (e pintores), dentro desse conceito de civilização. Ao mesmo tempo, os indígenas sofriam com essa catequização, não somente apoiada pelo SPI, mas também pelas Missões Salesianas, que entravam em conflito com o órgão.

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O objetivo é deixar claro que a romantização ao lado de manchetes reais, trazem a sensação de contraste e evidencia as diferentes percepções dentro de um mesmo espaço-tempo.

Demonstrar as centenas de formas que os nativos sofreram, é um tema atual ainda hoje, por termos tantos exemplos dessas violências, que nunca deixaram de existir. Elas apenas se aliviam e se agravam de acordo com as políticas públicas adotadas pelos governantes de cada período. Além disso, a população em geral fecha os olhos quando se trata de discutir os problemas ainda enfrentados e os direitos civis dos indígenas, de certa forma, ainda se teme o desconhecido, por falta da vontade de conhecer e reconhecer a real população das terras brasileiras.

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PARTE 04

Referências

Referências Imagens 1. Mestiço, 1934. Candido Portinari.

2. A Cobra Grande Manda para Sua Filha a Noz de Tucumã, 1921. Vicente do Rego Monteiro.

3. Índios, década de 30. Regina Gomide Graz.

4. Antropofagia, 1929. Tarsila do Amaral.

5. Captura de tela da exposição no Instagram @expo.indigenas 6. Fotografia das obras de Matisse expostas no MoMa 1931 7. Fotografia das obras de Matisse expostas no MoMa 1931 8. Mani Oca, 1921. Vicente do Rego Monteiro.

9. Pau-Brasil, 1938. Candido Portinari.

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