Crianças - Outubro

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Crianças um espaço para a infância

Balneário Camboriú, outubro de 2011

Edição 4

n u t r i ç ã o

E n t r e v i s t a

C o m p o r t a m e n t o

Alimente bem seu filho e garanta um futuro com menos riscos

Içami Tiba fala sobre falhas e acertos na educação

Sabe quanto custa? Ensine o valor do dinheiro desde cedo

p á g i n a

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p á g i n a

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p á g i n a

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Balneário Camboriú . outubro . 2011

e d i t o r i a l

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o p i n i ã o

E d i t o r i a l

C o n c u r s o

Presentes

Por que é bom ser criança?

O Dia das Crianças é uma data comercial, mas já que no mês de outubro

Nesta edição, promovemos um concurso de redações no colégio estadual Francisca Alves Gevaerd, no bairro da Barra, sob o tema ‘Por que é bom ser criança?’ Alunos do 5º ano matutino participaram e três foram selecionados. Cada um deles ganhou um par de ingressos para o parque Beto Carrero: Leandro Gregorio, 12 anos (veja o texto abaixo) Larissa da Cruz Schneider, 11 anos. Odayl Victor Neto, 11 anos.

os pequenos são tão lembrados pela mídia, vale refletir sobre os presentes que estamos dando a eles: saúde, educação, responsabilidade, ética, amor. Ou melhor, se estamos dando, e de que maneira podemos melhorar. Para ajudar a pensar sobre, esta edição do ‘Crianças’, traz matérias sobre fobias, alimentação adequada, incentivo ao esporte e à brincadeira, relação das crianças com o dinheiro e uma entrevista especial com o psiquiatra e educador Içami Tiba. Nossas colunistas, sempre afiadas, também nos trazem presentes: a nutricionista Marcela Descio fala sobre a importância do consumo do ovo na alimentação infantil e de quebra, oferece uma receita. A educadora Melania Horst, trata de um assunto que domina muito bem, a inclusão, e a psicoterapeuta Claudete de Morais aponta caminhos para resolver uma questão muito comum, mas que preocupa vários pais: a criança que quer dividir a cama com eles. Temos ainda a participação do jornalista Renato Kaufmann, que lá de São Paulo nos aproxima com uma crônica sobre games, filhas e... gatos. E para fechar com chave de ouro, o contador de histórias Daniel dos Santos traz mais uma fresquinha para nós e claro, para nossas crianças. Seja bem vindo e boa leitura!

E x p e d i e n t e Suplemento ‘Crianças - um espaço para a infância’ é uma publicação trimestral do Jornal Página 3. Textos: Fernanda Schneider (roteironanda@pagina3.com.br). Diagramação: Fabiane Diniz (fabiane@pagina3.com.br). Colaboradores desta edição: Caroline Cezar, Luciana Zonta. Email redação e comercial: criancas@pagina3.com.br. Artigos assinados e colunas não refletem necessariamente a opinião deste caderno. Redação: Rua 2448, 360e - Centro - Balneário Camboriú - Santa Catarina Fone/Fax: 3367-3333 Edição 4 - Tiragem 2.300 mil exemplares.

d e

r e d a ç õ e s

Continuaremos promovendo concursos com temáticas variadas nas escolas da cidade, com o objetivo de envolver as crianças e incentivar o raciocínio e a criatividade. Aguardem.


s a ú d e

Balneário Camboriú . outubro . 2011

Seu filho tem medo do quê? Olhar terapêutico C l a u d e t e

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M o r a i s

Psicóloga - claudetedemorais@yahoo.com.br

Papai! Mamãe! Posso dormir com vocês? Apelo constante em muitos lares, acompanhado de chantagem emocional, choros e birras, quando não atendidas, angustiando os pais. Segundo pesquisas, mais de 35% das crianças de dois a cinco anos de idade querem dormir com os pais, afirmando que estão com medo, do escuro, de fantasmas etc. Os medos podem ser outros: deixar de ser o centro, de ser amada, desejo de ter o pai ou a mãe só para si. O que fazer, como proceder? O que parece ser um pedido tão inofensivo pode provocar danos psicológicos significativos para a criança e para a relação afetiva do casal. Correr para o quarto dos pais, por eles ser acolhida, transforma-se em um hábito, que poderá estimular medo, insegurança e dependência afetiva. Possibilita a construção de um padrão comportamental que levará os filhos a recorrerem aos pais para sanarem seus problemas. O medo é um sentimento próprio do ser humano, sendo que os temores infantis, na sua maioria são imaginários, porém devem ser respeitados. É importante um diálogo compreensivo e amoroso com a criança, o adulto falará de seus medos de infância, da forma como os enfrentou, isto servirá de estímulo para ela expressar as suas angústias. Enfatizar que medos e enfrentamentos fazem parte do nosso crescimento. Temos que aprender a lidar com nossas limitações. É fundamental tranquilizar a criança e motivá-la para o grande desafio, vencer o seu medo, para deixar de dormir no quarto dos pais. Em conjunto elaborarem uma nova estratégia de superação. Usando de sua criatividade, torne o quarto da criança o mais atraente possível, deixe que ela ajude na nova decoração. Defina regras: se ela tiver medo, você ficará um pouco no quarto dela. Ler estórias, deixar a luz de cabeceira acesa, adotar bichinhos de pelúcia para dormirem com ela. Crie um painel para ela registrar suas metas e vitórias, painel este, que você também utilizará para motivá-la e parabenizá-la. Crie um ritual preparando o ambiente da casa para o descanso, reduzindo o ritmo, estabeleça horários para deitar, que devem ser seguidos e mantidos com perseverança. O sucesso deste desafio dependerá principalmente dos pais, se conseguirem manter uma postura firme. Ajude seus filhos a vencerem seus medos, pois os medos representam uma prisão de muitos sofrimentos. Você estará contribuindo para a construção de um ser livre, seguro, que certamente ousará voar em busca de seus sonhos.

A

menina tinha oito anos quando deixou de se alimentar normalmente. Passou por diversos médicos, até que um endocrinologista sugeriu atendimento psicológico, já que não havia causas clínicas que explicassem a desnutrição. Ela estava com anorexia nervosa, desmaiava na escola porque faltava alimento para o corpo. “Minha filha estudava em Itajaí, ia de topic para a escola e só depois de muito tempo, fui descobrir que uma outra criança maior assustava ela e outra amiguinha, que eram as menores, com a história da maria sangrenta. Diziam que se contassem à nós, a maria sangrenta nos mataria. A lógica era: não comer, para não precisar ir ao banheiro vomitar, porque era ali, no espelho do banheiro, que vivia a maria sangrenta”, diz a mãe, que prefere permanecer no anonimato para preservar a filha, hoje com 13 anos. Já no estágio avançado da doença, a solução seria internar a menina e foi então que a mãe deixou a resistência de lado, procurou a terapia. “Ajudou muito, a gente não pode ter medo de procurar ajuda, aquela coisa de pensar, ‘psicólogo? Mas meu filho não é louco’. É difícil entender como uma menina pode passar por isso, eu me perguntava, o que falta? Porque somos uma família equilibrada, mas me culpei muito, porque estava ausente, ela passava horas dentro daquela topic, eu quase não participava na escola”. Tirar a filha da antiga escola foi o primeiro passo, o mais acertado, lembra a mãe. E as sessões de terapia foram ajudando a entender o medo, mas ainda hoje, cinco anos depois, é preciso estar atenta, porque problemas que geram ansiedade refletem na alimentação. “Ela evita falar sobre isso, mas eu mudei. Não trabalho mais todos os dias e estou mais presente. Se o filho baixa a nota na escola por exemplo, a gente precisa investigar, estar junto, ver o que acontece por trás disso”.

Dê atenção ao medo do seu filho Parece inviável associar a história que a menina ouvia na topic com a doença que desenvolveu não é? Pois isso acontece, a criança muitas vezes sofre em silêncio com um medo exagerado que reflete nas questões emocionais e físicas e é aí que entra a vigilância dos pais. Sentir medo é natural do ser humano, precisamos, até como instinto de sobrevivência. Mas o medo que dói, gera ansiedade extrema, chama-se fobia, e muitas vezes precisa ser tratado para não desencadear problemas futuros

Divulgação

no desenvolvimento da pessoa. “A criança sente medo de dormir no escuro por exemplo, e protela o sono, não verbaliza porque sente medo de dizer aos pais que tem medo. E os pais muitas vezes, expõem isso para outras pessoas, ridicularizam a criança. É uma violência expor a fraqueza do filho. Temos que procurar preservar e não expor as nossas crianças”, explica a psicóloga Roberta Voltolini. Não existe outro caminho, diz ela, a não ser conhecer o filho no íntimo, observar, estar atento. “Se o medo é do escuro, fica junto um pouco, conversa, conta uma história, deixa a luz acesa. Deixar a criança sozinha berrando ou colocar para dormir junto na cama não ajuda, pelo contrário, vai torná-la mais insegura. E não adianta dizer ‘é coisa da sua cabeça, não tem nada ali’, porque aquilo é a verdade dela”. Para identificar que o medo se tornou fobia, só mesmo percebendo, prestando atenção, mas alguns sintomas podem ser indicativos, como o afastamento das outras crianças na escola, queda do rendimento escolar, problemas para se alimentar, deixar de se divertir, tornar-se muito introspectivo e ainda assim não verbalizar, não contar ao adulto o que está sentindo. Uma fobia pode ser desencadeada por situações como a descrita no início desta matéria, em que nossos filhos são vítimas, mas nem temos conhecimento e quando descobrimos o que acontece, temos o dever de ajudá-los. “No caso do medo do escuro que é bem frequente, conversar, estar junto, todos os dias, porque não acaba do dia para a noite. Ser pai e mãe não é só colocar no mundo. É um investimento do teu ser no outro e precisa ter perseverança”, enfatiza Roberta.


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n u t r i ç ã o

Protejam as crianças das prateleiras coloridas: comer bem é fundamental Reprodução

Vale lembrar que carboidratos se transformam em açúcar no processo de digestão. Os industrializados contêm muito sal, que é outro vilão da má alimentação. Dá para reduzir muito a quantidade utilizada e usar temperos naturais para ‘salgar’ a comida. A natureza está repleta de boas opções, como manjericão, salsa, tomilho, cebolinha, alho, açafrão, coentro, alfavaca, erva doce, curry, hortelã, e por aí vai. É só experimentar.

Passo 2: Reduza as gorduras trans São gorduras de origem vegetal, mas que passam por um processo industrial para tornarem-se mais ‘cremosas e cheirosas’ ao nosso paladar, como por exemplo, a margarina. “Existe um limite que pode ser ingerido, mas a gente vê um excesso no consumo desses alimentos. As gorduras trans entopem veias, artérias, formam placas, causam hipertensão”, alerta Claudia. Está presente em biscoitos, bolos industrializados, sorvetes e em vários outros alimentos.

Passo 3: Melhore sua alimentação, mude seus hábitos A nutricionista Claudia Diniz participou recentemente de um curso sobre alimentação escolar e o resultado da pesquisa desenvolvida em dez escolas particulares de Balneário Camboriú é preocupante: oito delas não têm nutricionistas, não fornecem o alimento, não se envolvem. Relegar a alimentação dos filhos a terceiros, sem sequer saber o que estão comendo, pode ser chamado de irresponsabilidade. Da mesma maneira que colocar a culpa nas ‘prateleiras coloridas’ do supermercado ou no gosto da criança, que muitas vezes nem experimentou a comida que rejeita. O número de pequenos obesos no Brasil não pára de crescer. A OMS -Organização Mundial da Saúderevela que 50% dos adultos atualmente está com sobrepeso e estima que nos próximos anos, o número deve aumentar e com isso, teremos mais adultos sem saúde e propensos a desenvolver problemas do coração, diabetes, hipertensão, morte precoce. Mas há alternativa: é preciso consciência e boa vontade dos responsáveis para apresentar às crianças o maravilhoso mundo das comidas saudáveis.

Passo 1: Comece pelo açúcar (e pelo sal) O açúcar é um dos vilões da má alimentação. Está presente em praticamente tudo, e é apresentado muitas vezes ainda quando as crianças são bebês, o que dificulta obviamente o gosto por alimentos não adoçados. A cadeia de processamento do açúcar é a seguinte: colhe-se a cana, faz o suco (garapa); melado; açúcar mascavo; demerara; cristal e refinado. “O refinado já perdeu 100% de todos os nutrientes, é uma caloria vazia. Ele rouba nutrientes do organismo para poder ser metabolizado. O melhor é adoçar com melado ou mel, mas se você está no açúcar refinado, vai regredindo aos poucos, passa para o cristal, depois demerara, mascavo, para conseguir fazer a transição do paladar”, ensina a nutricionista Claudia.

“O ideal é trocar a alimentação por tudo integral.Os alimentos de origem animal quando são metabolizados, deixam toxinas no organismo. Os de origem vegetal, são 100% metabolizados”, diz a nutricionista. As verduras são ricas em fibras e minerais. As fibras são vitais para nossa saúde. E as fibras dos verdes têm um papel de limpeza no organismo. “Ter em casa uma fruteira repleta é essencial. Além de as frutas serem lindas, exalam um cheiro! E é importante colocar onde a criança tenha acesso para ver, escolher”.

Lanche da escola Se for comprar um suco de caixinha, opte pelos mais saudáveis, porque a maioria é bastante calórica, pelo excesso de açúcar. Um suco desses deve ter aproximadamente 120 até 150 kg/calorias, para 200 ml. Claudia conta ainda que a quantidade de sódio recomendada é de no máximo 110 mg por 100g de alimento (porção). “A gente vê 500 mg de sódio por 100 g em alguns alimentos”. A polpa de fruta congelada é uma boa opção para a ‘falta de tempo’, perde poucos nutrientes durante o processamento. Mas o suco assim como os naturais, deve ser tomado em seguida, para garantir suas propriedades. Se a garrafa térmica da escola for boa, dá para levar. “O ideal é mandar frutas, bolos feitos em casa, barrinhas de cereais (não as do mercado), frutas secas num potinho (as frutas secas acentuam o sabor da fruta e são ricas em nutrientes), amendoim, lanche com pão integral e queijo minas ou cottage”. A nutricionista enfatiza que há um conjunto de fatores que leva as pessoas a não terem saúde. Sedentarismo, o próprio ambiente, a falta do contato com a natureza, de comunicação, e observa que no caso do aumento no número de crianças obesas, 70% é por causa da alimentação inadequada. “Nós adultos somos os responsáveis e os hábitos se formam enquanto se é criança. Depois quando é jovem, com vários fatores externos, fica muito mais difícil”.

Nutrição sem mitos M a r c e l a

D e s c i o

Nutricionista - mdpersonaldiet@yahoo.com.br

O ovo deve ser evitado pelas crianças? Quem pensa que o ovo deve ser evitado por ser fonte expressiva de colesterol na dieta das crianças, está enganado. Estudos têm demonstrado que o consumo de ovo não aumenta o colesterol do organismo. Pelo contrário, por ser fonte de colina e ácidos graxos poliinsaturados, o seu consumo auxilia na redução do colesterol. Vale ressaltar que o colesterol é um nutriente fundamental na síntese de hormônios sexuais e esteróides, além de ser precursor da produção de vitamina D e necessário para formação da bile. O consumo de gordura saturada e trans, quando pensamos em desequilíbrio do metabolismo do colesterol, são os vilões que devem ser evitados. Por isso o ovo deve fazer parte do cardápio das crianças. É importante que ainda na vida intra-uterina, o feto se beneficie dos nutrientes do ovo através da alimentação da mãe. A colina, presente na gema do ovo, auxilia na formação do sistema nervoso central do bebê, além de ser um nutriente essencial para memória, aprendizado e clareza mental. Sendo assim, o seu consumo deve ser incentivado e cultivado em toda a fase escolar. O ovo também é fonte de proteínas, vitaminas: E, A, D, K, b12, ácido fólico; luteína e zeaxantina. A prioridade deve ser sempre para o ovo caipira e, se possível, orgânico. Pode ser um delicioso ovo mexido com torradas integrais ou cozido com casca para levar de lanche na escola. Como opção de prato único pode ser consumido tanto no almoço quanto no jantar.

Cuscus de atum com quinua 1 cebola / 4 dentes de alho / 1 cenoura / 1 xícara de milho / 1 xícara de ervilha / 1 colher de chá de sal marinho / 4 colheres de sopa de azeite de oliva / cheiro verde a gosto / 1 xícara de quínua em grão / 200ml de molho de tomate / 150g de atum cozido / 4 colheres de sopa de azeitona sem caroço / 2 xícaras de farinha de milho em flocos / 1 ovo caipira / 50ml de água Modo de preparo: Cozinhe o atum e reserve. Cozinhe o ovo por 5 minutos e reserve. Aqueça 1 colher de azeite e refogue o alho e a cebola até dourar. Acrescente a cenoura ralada, o molho de tomate, a água, o sal e a quinua. Deixe cozinhar por 10 minutos. Acrescente milho, ervilha, as azeitonas picadas e o atum desfiado grosseiramente. Mexa até que o molho volte a ferver. Acrescente, aos poucos, a farinha de milho, em fogo baixo, mexendo bem para que a farinha envolva todo o molho. Desligue o fogo, acrescente o restante do azeite de oliva, a salsinha e a cebolinha e mexa até misturar todos os ingredientes. Unte uma pudinheira grande com azeite de oliva. Coloque uma camada fina do cuscus no fundo, disponha os ovos cortados em fatias grossas (4) na lateral da forma. Coloque o restante do cuscus, amassando bem com uma colher. Desenforme imediatamente. Decore com ramos de salsinha.

Roberta Fernanda Voltolini psicóloga

Atendimento

Dificuldade em aprendizado Concentração - Ansiedade Depressão - Insegurança Medos - Fobias Disturbios do sono Disturbios alimentares Agressividade, Hiperatividade Conflitos familiares Instituto de Psicologia

Rua916, nº 461 Fone: (47) 3363.4590

Rua 916, nº 461 Centro . Baln.Camboriú

Fone: 47 3363-4590 / 8418-3786 rofevoltolini@ibest.com.br


Balneário Camboriú . outubro . 2011

e s p o r t e

Esporte para brincar e se desenvolver Luciana Zonta

Por Luciana Zonta

Criança saudável gosta de se mexer, brincar, pular. Criança que é criança gasta energia, movimenta pernas e braços ao mesmo tempo, parece não cansar. Movimentos típicos da infância são desde muito cedo, o início lúdico de qualquer atividade física da vida adulta e podem ser estimulados através de técnicas esportivas específicas para cada idade. De acordo com o professor de educação física, André Polidoro, responsável pelo programa For Play, da Wave Academia, aqui em Balneário Camboriú, quando o bebê de apenas seis meses se esforça para agarrar o brinquedo colorido no berço, já está exercitando uma série de comandos do desenvolvimento físico e psicomotor. “Já a partir desta idade, não há qualquer contra-indicação para que ele comece a receber estímulo físico na piscina, por exemplo”. A finalidade principal do esporte na infância, segundo os especialistas na área de educação física, é a melhoria da qualidade de vida e não transformar a criança num atleta. Além disso, é preciso considerar hábitos e valores que vem modificando o cotidiano das crianças ao longo do tempo. “Antes as crianças corriam na rua, jogavam bola, soltavam pipa, brincavam de pega-pega. Hoje a coisa é bem diferente. Quando a criançada não está na escola estudando, geralmente fica dentro do apartamento e tem como entretenimento a TV, o videogame”, diz André. Para diminuir a intensidade desse hábito, especialistas aconselham que os pais incentivem seus filhos a praticar algum esporte. Além de se exercitarem, podem ter ainda outros benefícios como risco menor de obesidade, desenvolvimento da auto-estima e do sentido de cooperação. Para o professor, uma criança de dois anos já está apta a praticar algum tipo de atividade física direcionada, mas com uma observação: nessa faixa etária o exercício deve ser considerado como forma de ampliar as brincadeiras. “A disciplina em alguma modalidade específica é mais exigida somente a partir dos nove anos, quando a criança começa a encontrar identificação com algum esporte”, alerta.

Mudanças Até este estágio, é recomendável que a criança experimente diversas modalidades. André salienta também que é normal que a criança faça uma escolha e logo deseje mudar de modalidade até encontrar a que melhor se identifique com seus interesses pessoais. Também é importante, nesta época, que os pais não lancem expectativas em relação ao filho se tornar um profissional, já que o esporte nessa idade deve ser encarado como um estímulo extra para o desenvolvimento e não como uma pressão. “A experimentação e o espaço lúdico devem estar presentes em qualquer atividade física da infância. Contar histórias e criar

personagens é muito válido para as crianças menores criarem identificação com os exercícios e levarem o hábito do esporte para o resto da vida”, comenta o professor. O fundamental mesmo é manter o esporte como forma adicional de ocupação e desenvolvimento saudável dos pequenos. Se a criança vai ou não se destacar na sua modalidade só o tempo e as consequências podem dizer. Se os treinos não servirem para que ela alcance grandes performances, ao menos podem torná-la mais saudável física e mentalmente, e menos suscetível ao mundo das drogas, entre outros problemas sociais.


e n t r e v i s t a

Balneário Camboriú . outubro . 2011

Ele é psiquiatra, educador, escreveu diversos livros que auxiliam pais e responsáveis na tarefa de educar as crianças e adolescentes para a vida. Divide seu tempo entre o consultório e as palestras que ministra e esteve recentemente em Balneário Camboriú, lançando sua última obra: ‘Pais e educadores de alta performance’. Acompanhe um pouco sobre o que pensa Içami Tiba.

Crianças - O senhor veio apresentar seu último livro, ‘Pais e educadores de alta performance’. Para que um pai/mãe ou educador se torne de alta performance, é preciso estudar, certo? Tiba - É, tem que se preparar, é difícil hoje uma pessoa conseguir educar um filho se não tiver pelo menos um projeto educativo, porque a educação como está sendo feita, é um projeto meio silvestre, sem estratégia de ação. Nós temos um objetivo pela educação a atingir, que é formar um cidadão ético, financeiramente independente, que tenha autonomia comportamental e responsabilidade social e tudo isso já deve estar presente em casa. Quer dizer, se toda vez a criança joga o brinquedo em qualquer

lugar, não está respeitando o ambiente, não está respeitando o brinquedo nem as pessoas que convivem junto, isso começa desde cedo, e aí os pais guardam o brinquedo sem perceber que isso favorece que a criança seja egoísta e pouco voltada ao que chamamos de empatia. Um dos graves problemas da criança que não tem empatia, é o bullying. Não sente nem um pingo de remorso de bater em quem não reage. Moral da história: quanto mais a criança precisar de cuidados, mais os pais precisam se preparar e não adianta achar ‘eu amo você e você vai ser uma boa pessoa’, porque isso não existe. Tem muitos criminosos que foram muito amados pelas mães e têm pessoas que não foram muito amadas, mas os pais exigiram e hoje são

Fernanda Schneider

criancas@pagina3.com.br

Fotos Luciana Zonta

Temos um objetivo pela educação a atingir, que é formar um cidadão ético”

pessoas que contribuem muito com a humanidade. Crianças - Mas aí entramos numa outra questão, porque a maioria das crianças de hoje são filhas da geração y e os pais não têm estrutura para educar. Quando perguntei antes sobre estudar, é literalmente pegar livros e ler sobre? Tiba - É, pegar livros, se informar, assistir palestras, procurar saber na escola como vai o filho, o que a escola sugere para melhorar e não simplesmente acreditar na versão que o filho conta, porque já vi pais que vão brigar na escola e depois a escola comprova que o filho mentiu. Como ele fica perante à escola se provam que o filho foi


e n t r e v i s t a

Crianças - Aí entra a parceria escola e família... Tiba - A escola é a observação mais segura que os pais podem ter, porque este comportamento é avaliado por outros adultos e pode ser comparado com o dos seus pares.

mudam, porque hoje está cheio de filhos que são casados, já têm filhos, mas vivem da mesada dos pais. Nunca existiu tantos filhos com aparência de adulto, sendo criança ou adolescente. O que não pode é perpetuar no erro depois que descobre que está errado. A vida oferece muitas chances. O que está errado, quando for mudado, vai abrir um novo mundo para aquele relacionamento, que os pais sequer imaginam que o filho pode ser um grande colaborador. Fica vendo o filho só como uma pessoa, que atrapalha, que depende, que aborrece..

Crianças - Mas muitas escolas e educadores são despreparados... Tiba - Absolutamente despreparados. São pessoas que se acomodaram, vivem com parâmetros do passado, querendo ganhar o dinheiro de hoje. As pessoas que se formaram há dez anos e nunca fizeram um curso de atualização, e mal sabem que a mente dos alunos mudou drasticamente. Hoje um aluno pensa de maneira diferente, necessita de feedbacks imediatos, precisa participar, precisa de ação. E o que se faz? Prende o aluno numa carteira e tem que calar a boca. Tiramos todo o natural de um aluno e queremos que ele renda bastante, que ele ‘reproduza o que ensinei’ e não que pesquise e construa conhecimentos. Eles não aprendem a aprender. A pessoa que aprende a aprender, consegue perceber o que é preciso aprender, a vida é cheia de ensinamentos.

Crianças - E uma pessoa que leia essa entrevista e ache que já perdeu o controle sobre o filho? Tiba - Que ótimo que tenha percebido, porque isso significa que eles podem corrigir as falhas havidas. Não é errando que se aprende, mas sim corrigindo-os. Piores estão aqueles pais que nem percebem...

Crianças - Os pais estão infantilizados, brigam de igual para igual com os filhos, por exemplo. O que o Sr acha disso? Tiba - Não diria que os pais estão infantilizados. Eles não conhecem o que é educação e foram criados para sentir prazer, então eles competem com o prazer dos filhos. Chega final de semana e eles também querem sair, como se fossem adolescentes, eles querem ter direito à diversão... Não é à toa que os pais querem ser mais amigos que pais.

E ela não sabe o que fazer com uma criança de dois anos. Não parece perdida? Não é a criança que precisa se tratar. É a mãe que tem que aprender a educar. Crianças - E as crianças aprendem exatamente a pegarem os pontos fracos dos pais... Tiba - Os pais ensinam aos filhos seus pontos fracos. O filho só consegue atingir o pai ou a mãe, porque eles mostraram o caminho. ‘Não faz assim porque você me mata’. Pronto, vai fazer assim para ‘matar’ a mãe.

“O sistema de avaliação de maneira geral falha muito, porque induz o aluno a ter que produzir apenas no dia da prova”

Crianças - E tem como reverter isso? Tiba - Lógico que tem. Até 50, 60, 70 anos, as pessoas estão se recuperando, quer dizer, só perde quem não conhece. Já atendi mães que me disseram ‘não sei mais o que fazer com a minha filha, ela bagunça, grita, bate em mim’. Aí eu perguntei, ‘quantos anos tem sua filha?’. “Dois anos”.

“Os pais ensinam aos filhos seus pontos fracos. O filho só consegue atingir o pai ou a mãe, porque eles mostraram o caminho”

mentiroso? Esse pai perde moral perante o filho e perante a escola. Antes de tomar qualquer atitude um pouco mais séria, os pais têm que pensar não só no que o filho está falando, mas se de fato é isso mesmo o que aconteceu.

Crianças - A questão dos limites está muito presente nas obras que o Sr escreve, apontam caminhos para os pais estipularem limites, regras. E eu pergunto, não é saudável a criança transgredir em alguns momentos? Tiba - Eu acho que não. Porque se a transgressão não for corrigida, ele não aprendeu que foi transgressão. A noção do limite não é proibição, é também estimulação e uma auto vigilância. Os pais que fazem pelo filho, não o ajudam a se desenvolver, pelo contrário, estão amputando, aleijando o filho, que se torna incapaz naquilo que os pais fazem por ele.

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Crianças - Mas e quando a filha já tem dez, onze anos?

Tiba - Mas é isso que eu quero que você pense. Se com dois anos está assim, imagine com dez. Nenhuma criança nasce delinquente, começa com pequenas transgressões, ofendendo, desobedecendo, mentindo, e a mãe vai engolindo. Se somar tudo, já é uma delinquente. Aí apronta alguma coisa e a mãe diz ‘eu nunca esperei isso de você’. Mas como nunca esperou? Os pais sempre têm possibilidade de mudar, até na adolescência, até com filhos casados os pais

Crianças - E eles podem ter direito à diversão. Tiba - Eles podem ter, só que precisam saber que a diversão deles não pode prejudicar o papel de pais pois a principal responsabilidade dos pais é educar os seus filhos. Crianças - E quando começa a prejudicar? Tiba - Quando o filho passa a não atender, não obedecer, cair o rendimento. Existem mil maneiras de se perceber. Nesse último livro faço uma lista muito grande de como os pais criam filhos de baixa performance. Crianças - Também nesse livro, o Sr coloca a questão da demora das avaliações escolares, que geralmente são bimestrais, comenta também sobre a aprovação automática que ainda acontece muito no Brasil. O que é preciso mudar dentro das escolas, nas salas de aula? Tiba - O sistema de avaliação de maneira geral falha muito, porque induz o aluno a ter que produzir apenas no dia da prova. Como falo no livro, é preciso um sistema em que cada vez que o professor ensine uma matéria, por exemplo, promova um debate para que cada aluno participe e fique com a tarefa de descobrir onde pode aplicar aquilo que aprendeu. O problema é toda a matéria que é dada e não é incorporada. O princípio fundamental é que ele não vê utilidade naquilo. Se é só para decorar, eles decoram e pronto. Mas se tem que descobrir na vida, onde usar o que aprendeu...


Balneário Camboriú . outubro . 2011

e n t r e v i s t a

“Se as crianças forem mal educadas, podendo realizar as suas vontades sem se incomodar com outras pessoas, elas adquirem o hedonismo egoísta. Estas crianças estão sendo preparadas para quando ficarem longe dos adultos, fazerem uso das drogas por causa do hedonismo egoísta”. Crianças - E o Sr não concorda que outras disciplinas como cidadania por exemplo, deveriam ser incorporadas ao currículo escolar? Tiba - Deveria, mas não lendo regulamentos, nada disso. É uma questão de aprender como o cidadão pode agir na sua cidade, de como pode melhorar dentro de casa. Não simplesmente estudar uma definição e passar de ano.

é gostoso jogar. Mas aí o filho só vai comer batata frita, porque não gosta de brócolis, não come comida saudável? E os pais reclamam, ‘ah, meu filho só come batata frita’, mas quem prepara? Quer comer só a batata frita? Então não vai comer. Ninguém morre de fome onde há comida.

Crianças - Sim, porque tirar um 10 não significa que o aluno aprendeu e assimilou. Tiba - Não, porque muitas vezes ele acerta aquela pergunta, porque ele decorou e não por conhecer a resposta.

Tiba - Ninguém sente falta do que não conhece, mas paga as consequências. Se existem meios de enfrentar isso, por que não procurar? Não são todos que têm computador, que são viciados. Se o filho está viciado, os pais têm que buscar informações para poder superar o problema... Os pais não são obrigados a saber como resolver, mas são obrigados a buscar ajuda. Os pais não podem querer mudar a escola para aceitar um filho inadequado, mas tratar desta inadequação.

Crianças - E as recompensas? Não pode se aplicar a obrigações, como o estudo. Diante de que situações, podemos recompensar as crianças? Tiba - O reconhecimento porque cumpriu o dever é uma questão de educação, mas não deve ganhar recompensa por isso. A recompensa deve vir quando o filho ultrapassa o combinado, e merece um prêmio. Ir à escola é obrigação, tirar nota alta também é. Se ele receber o melhor dos pais tem que corresponder fazendo o melhor que ele pode e não o mínimo suficiente para. Essa história de dizer ‘se você não me der um beijo, não ganha’, não funciona, porque é um beijo comprado. O beijo é bom e gostoso quando chega espontaneamente. Crianças - E nas tarefas de casa? Tiba - Tem que ajudar. Sujou, tem que limpar. A mãe sempre lavou a louça dele, agora ele cresceu, ele vai lavar, mas a mãe tem que pagar para ele? Isso está errado e é antiético. Na realidade educativa, se o filho tem condições de lavar a sua própria roupa, a louça que suja, arrumar o seu quarto, e a mãe faz tudo isso para ele, então é ele que tem que recompensar a mãe e não o contrário. Crianças - Gostaria que o Sr opinasse sobre a questão dos jogos (net, videogames), pois é uma reclamação frequente dos pais.

Crianças - E aí entra a questão dos pais conseguirem se impor, que parece ser a grande dificuldade.

Crianças - Eu quero que o Sr fale sobre outra questão, o modelo familiar, que hoje mudou. A criação com pais separados pode ser prejudicial? Tiba - Depende. Se o casal é auto-destrutivo, ou seja, casal que aliena parentalmente, o filho fica muito mal, não se forma, não sabe em quem acreditar. Desconsidera o que percebe e por exemplo, acha que a mãe é uma mulher boa, mas o pai fala que é uma mulher que explorou ele, que se aproveitou dele, aí o filho começa a olhar com outros olhos e desmerecer a mãe. A mãe já se sente culpada de estar separada, como se fosse defeito dela, é uma soma de ambos que faz com que a criança fique absolutamente insegura. A separação em si não significa um grande drama hoje, antigamente os pais não se separavam porque achavam que ia prejudicar os filhos. Prejudica o filho permanecer brigando, mais do que se separar de forma saudável. Crianças - Mas e a falta do pai? Porque geralmente o filho fica com a mãe... Tiba - A falta de um pai na vida de um filho é muito difícil, porque é a falta dos valores e comportamentos do gênero masculino. A paternagem ainda é muito diferente da maternagem. Uma não é melhor nem substitui a outra. Ambas são complementares. Passa um conceito errado quando a mãe diz que é pãe, mãe e pai ao mesmo tempo, assim como quando o pai diz que é tão afetivo quanto a mãe. Melhor que ser pãe é a mãe educar o filho dizendo a verdade sobre o pai e não destruir a figura de pai, pois isso é crime chamado alienação parental.

“Os pais não são obrigados a saber como resolver, mas são obrigados a buscar ajuda”

Tiba - Os pais reclamam mas são eles que dão estas ferramentas para os filhos ficarem viciados. Ficaram viciados porque fizeram mau uso e os pais não controlaram. Os jogos são viciantes, como tudo o que dá prazer vicia. Os pais têm que estipular horários para uso que não pode prejudicar outras atividades. Na hora de jantar, tem que desligar. Se não conseguir, vai ficar sem o computador até aprender a lidar com isso. Porque

Crianças - E pode interferir na sexualidade? Tiba - Não, não interfere na sexualidade, mas ele não tem coragem de peitar alguém, puxar para uma briga por exemplo, que seria a maneira masculina de os meninos resolverem alguma situações. Cabe aos filhos como eles vão reagir. O filho não é um robô, que faz tudo como a mãe faz. Hoje a influência do pessoal da escola está muito grande. Mesmo que não tenha pai, se tiver um tio ou um professor com quem tenha um bom e saudável relacionamento, os filhos desenvolvem sem problemas na sexualidade. Crianças - Os capítulos finais desse seu último livro, o Sr dedicou à questão do álcool e das drogas e deu dicas para os pais identificarem que os filhos adolescentes estão fazendo uso. Mas e ainda na infância, o que é possível fazer como forma de prevenção? Tiba - Toda vez que ver, ouvir assunto sobre drogas, explicar que faz mal à saúde, que judia dos pais, porque os filhos pequenos querem agradar os pais para obterem retorno também. Se as crianças forem mal educadas, podendo realizar as suas vontades sem se incomodar com outras pessoas, elas adquirem o hedonismo egoísta (só se importa com o seu próprio prazer). Estas crianças estão sendo preparadas para quando ficarem longe dos adultos, fazerem uso das drogas por causa do hedonismo egoísta.


e d u c a ç ã o

F i l i @ ç ã o M e l a n i a

H o r s t

Educadora - quintalmagico@quintalmagico.com.br

Inclusão: um mundo em busca de significados “A educação tem por missão, por um lado, transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as pessoas a tomarem consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta. Desde a tenra idade a escola deve aproveitar as ocasiões para esta dupla aprendizagem”. (Jaques Delors) Somos todos os dias surpreendidos por histórias de superação de seres humanos que, apesar das suas deficiências físicas, emocionais, mentais conseguem fazer valer o “porquê” da vida. A deficiência de toda espécie sempre assustou as famílias, a sociedade, pois apresenta o inesperado, algo novo, desconhecido, outra realidade a ser transformada, imprimindo uma condição real, que, cada núcleo familiar terá que se adequar, aceitando ou rejeitando e, dependendo destas decisões, haverá saídas possíveis, para a melhora do sujeito ou o seu declínio. Entendemos que a aceitação torna-se o caminho mais claro, lugar este, que vai aos poucos sendo significado, pois o sonho do filho ideal falhou e todos os ajustes serão sempre parciais, redesenhando novos signos e com estas possibilidades, incluindo este sujeito na convivência familiar, escolar, social. A história do homem na terra nos relata que a deficiência nunca fora aceita e os abandonos ou a morte dessas pessoas eram indiferentes para a sociedade. No decorrer da história cada cultura tentava dar jeito a seu modo, supondo não haver nestes sujeitos a inteligência, a capacidade de aprender. Assim, a sociedade excluía pessoas inaptas a produzir. Nossa época tenta restabelecer uma nova cultura e diante destes desafios multiculturais, somos convocados a repensar, rever atitudes, acompanhar a evolução das leis, destituir preconceitos, para ceder lugar à integração, havendo a possibilidade de se fazer a inclusão. Incluir o outro (a), está no campo da reintegração de uma sociedade educacional que necessita considerar a ética como pilar sustentador das relações interpessoais, onde reside a nossa capacidade de construir o respeito pelas diferenças; raciais, pluriculturais. Abraçar esta causa significa, em primeira instância, procurar fortalecer a rede parental, social, afetiva e possibilitar aos demais sujeitos ‘normais’, construir consciência e respeito por estas interlocuções. Incluir as diferenças nos torna capazes de reconhecer a educação como tarefa peculiar e fazer da aprendizagem diária algo surpreendente, assegurando um lugar especial para todos nas instituições escolares. Repensar a ESCOLA como um lugar de inclusão, implica exercer os exercícios de cidadania, exigindo tratamentos “especiais” a todos os cidadãos.

Ensine seu filho a lidar com o dinheiro A educação financeira ainda não integra o currículo escolar brasileiro do ensino fundamental e médio, mas deveria, a exemplo de outros países, como a Inglaterra por exemplo, onde em muitas escolas tornou-se obrigatoriedade. Apesar de haver movimentos isolados, com cursos esporádicos destinados a crianças e jovens, principalmente em escolas dos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, estamos ainda muito atrasados nesse sentido. Pesquisas recentes do Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, revelam que mais da metade dos brasileiros estão endividados, ou seja, além de educar as crianças, os adultos É justamente isso que defende Alexandre de Sá Oliveira, professor do curso de Administração da Univali. “Os pais precisam se reeducar. Acho que inclusive deveria haver políticas públicas, como por exemplo, da prefeitura em parceria com as universidades, em oferecer cursos de educação financeira gratuito aos adultos. A educação financeira tem reflexos em outras questões, como o consumo consciente, a sustentabilidade, produção de lixo, tudo está associado, mas a disciplina financeira não tem valor na sociedade brasileira. E a falta de dinheiro, na minha opinião, deflagra crises em todos os outros aspectos da vida”, diz. O princípio para esta reeducação é básico, ensina Alexandre: diferenciar o que quero do que preciso. Por isso, adultos que foram educados para ter tudo com facilidade, provavelmente seguem este mesmo modelo com os filhos e a coisa vai se perpetuando. E vale lembrar que dívidas e falta de dinheiro, respingam diretamente em outras questões, familiares, emocionais, sociais.

Comece pelo caderninho A difícil tarefa de se reeducar financeiramente, passa obviamente pela disciplina, porque gastar mais do que se ganha, é característica de pessoas indisciplinadas. Por isso, a primeira dica do professor Alexandre é: ter um caderninho e anotar tudo que se gasta,sem falhas, do cafezinho da esquina até a roupa de festa. No começo pode ser um pouco complicado, mas com persistência, vira hábito e fica mais fácil controlar o que se está gastando (e o que é dispensável no orçamento).

Mesada, uma importante aliada Vamos pensar numa criança de 6 anos (ou menos), que já sabe operar computador, escolher a roupa e fazer os deveres da escola sozinha. Parece o momento exato para aprender também que mamãe e papai não são donos de uma árvore de dinheiro. O professor Alexandre acredita na mesada como uma excelente ferramenta, mas que

NÃO É A ESCOLA ONDE SEU FILHO ESTUDA. É A ESCOLA ONDE SEU FILHO APRENDE. Rua 1500, nº 1827 t (47) 3367-9894 t 3367-9719

Balneário Camboriú . outubro . 2011

Reprodução

deve estar associada a um objetivo. “Se o indivíduo não foi ensinado a dar valor para as coisas, vai se tornar um adulto sem referência nesse sentido, em todos os aspectos da vida. Acho legal associar a mesada a alguma obrigação em casa, como se fosse um salário mesmo”. A dica do professor é que para crianças menores, na faixa dos 6 anos, a mesada seja semanal e a recomendação é que os adultos não se intrometam todo momento, mas deixem aos poucos, os filhos se familiarizarem com a novidade, e mais do que isso, tenham consciência. Pode dar R$ 300 por mês para o filho de 10 anos? Mas para que uma criança de 10 anos vai usar todo esse dinheiro? “Você diz, ‘a partir desse mês vou te dar R$10 por semana para gastar com o que quiser’. Aí, como a criança não tem muito treino, nos primeiros R$10, compra tudo em bala. Deixa comprar. Quando chegar no sábado e ela quiser aquele carrinho, você pergunta do dinheiro. Se gastou, não tem, mas aí não vale ficar com pena e dar o dinheiro. Você está educando seu filho”. Para os maiores, vale associar a mesada aos gastos com o lanche na escola também, ao cinema com os colegas, as tarefas domésticas, por aí vai. E a técnica do caderninho para as crianças também é válida, mas antes delas, indiscutivelmente, é preciso uma postura coerente dos adultos.

Ensino Fundamental Energia Balneário. Ensino forte desde o início.


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c u l t u r a

Gatos, crianças e videogame Por Renato Kaufmann

Sempre achei que aprendi a ser pai treinando primeiro com meus gatos, Lacan e Mao TseTung. Afinal um bicho que estraga seus móveis, bagunça sua casa e bebe água da privada é um ótimo treino de paternidade. Por outro lado eles vão no banheiro sozinhos, se limpam sozinhos e dormem 14 horas por dia. Isso não é totalmente justo, já que, antes da minha filha Lucia, hoje com quase três anos, e sem tirar os créditos dos pequenos felinos, eu aprendi muito com uma outra gatinha: a Maria. Maria é minha enteada, tem dez anos e é uma das alegrias da minha vida. Conheço ela desde os quatro anos e sei que, não importa o que aconteça nas nossas vidas, ela sempre vai ser minha querida do coração. O bom de ser padrasto é que você não é o pai, então tem broncas e correções que você pode terceirizar. Isso é ótimo e conveniente. Você pode ser mais amigo, é uma relação leve. Ao mesmo tempo, precisa manter a disciplina e não pode deseducar, então é um equilíbrio dinâmico. Tem coisas que ela faz com o pai. Outras com a mãe. E tem alguns programas que são nossos. Videogame, por exemplo. Eu jogo desde criança. Curto muito a arte zen de jogar videogames, e a Maria gosta de assistir. Depois ela começou a pedir pra jogar, e se o conteúdo for apropriado, eu deixo e acabo sendo o “mestre do kung fu do videogame”, e ela minha pequena gafanhota. Tem um jogo de uma

Carla Formanek

corredora que chama-se Mirror’s Edge, com visuais lindos e você ganha pontos pela não-violência. Jogando juntos a gente acaba passando por várias situações que são boas lições para a vida. Por exemplo, continuar tentando, mesmo quando parece impossível passar de fase. Teve dias que ela já tinha desistido, insistiu e ficou muito realizada de conseguir sozinha. Outro bom aprendizado é pedir ajuda: tem horas que pedir ou aceitar ajuda é um caminho muito mais inteligente (e menos frustrante) que bater a cabeça sozinho. E depois de aprender isso, precisa saber não abusar – eu sei quando ela está com preguiça, tem dias que ela me olha com cara de gatinho do Shrek e pede “passa de fase pra mim?”. Eu respondo, brincando, “passo sim, passo dessa, da próxima, da outra e olha só, acabou o jogo, que pena pra você que não tem mais o que jogar”. Ela fica brava e fala “Rêeeeeee!”mas entendeu o recado. Afinal o jogo não é pra chegar a algum lugar, é pra ser jogado. O objetivo não é ler os créditos no final e sim se divertir. É um jeito de estar, inteiro, no presente. E de estar juntos também. Renato Kaufmann é autor dos livros Diário de um grávido e Como nascem os pais, do blog www.diariogravido.com.br e do twitter @diariogravido. Como ele trabalha de redator durante o dia, ninguém tem ideia de onde ele tira tempo pra tudo isso, e ainda jogar videogame.

Renato com a filha Lucia, uma de suas paixões.

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Histórias do tio Dani

i n t e r v a l o

D a n i e l

R o s a

d o s

S a n t o s

Contador de histórias - nhoc_contadores@yahoo.c o m. b r

A Nega Maluca Maqueca adorava a nega maluca que sua mãe fazia, só que ela não deixava comer o bolo ainda quentinho, sempre falava: - Bolo quente dá dor de barriga menino. Naquele dia Maqueca estava com muita vontade de comer a nega maluca, muita vontade mesmo, tanta vontade que ficou esperando ao lado do bolo que esfriava na janela. De repente o bolo caiu para o lado de fora, Maqueca pensou que desastre seria, justo aquele bolo que a mãe tinha feito cobertura com o dobro dos ingredientes. Imaginou a cobertura de chocolate esparramada no chão, e rapidamente subiu na cadeira para olhar onde e como o bolo tinha caído – quem sabe ainda dava para aproveitar alguma coisa. Maqueca olhou e nem acreditou no que viu: o bolo não caiu no chão, foi um saci que ia se mandando com o bolo inteirinho ainda na fôrma. Maqueca não pensou duas vezes, pulou a janela e correu atrás do saci para recuperar a sua nega maluca. Quando Maqueca chegou ao riozinho que tinha logo abaixo da sua casa o saci já ia indo pela trilha mata adentro. Sem perder o danado de vista, Maqueca correu pela trilha e viu o saci sentado na sombra de uma árvore comendo o bolo. Nessa hora o saci viu que estava

sendo seguido e correu levando a fôrma com o bolo. Maqueca estava quase alcançando, foi quando o saci entrou no meio do bambuzal – que é geralmente onde os sacis gostam de fazer sua morada. Maqueca foi atrás do saci no meio do bambuzal e pensou que o fato dos sacis terem apenas uma perna é uma questão de evolução para facilitar a locomoção no meio do bambuzal, pois com uma perna só o saci foi pulando e passando rapidinho no meio dos bambus, ao contrário do Maqueca que dava um passo e com dificuldade puxava a outra perna, pois o pé de trás acabava sempre ficando preso entre os bambus. Apesar da dificuldade Maqueca não desistiu, principalmente por que o saci ficava rindo dele e isso o deixou irritado e mais determinado a recuperar o bolo. O saci foi se enfiando no bambuzal cada vez mais apertado, só que a fôrma do bolo ficou presa entre os bambus e o saci teve que fugir deixando ela com o que sobrou da nega maluca. Maqueca pegou a fôrma e nem acreditou: o saci tinha comido todo o bolo, deixando apenas as migalhas, que Maqueca comeu para não desperdiçar. Mas o pior ainda estava por vir, quando chegou em casa com a fôrma vazia e as mãos sujas – das migalhas que tinha comido – a mãe de Maqueca pensou que ele tinha comido o bolo e inventado aquela história maluca de saci. Até hoje ela ainda não acredita no Maqueca.


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