Colecionadores

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Especial

Balneário Camboriú, 14 de setembro de 2013

COLEÇÕES E

COLECIONADORES

O cORUJAL

Arquivo pessoal

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Por Marlise Schneider Cezar

olecionar é um passatempo? Uma arte? Uma mania? Uma paixão? Os colecionadores estão por toda a parte, em todo o mundo e as coleções vão desde as clássicas como selos, moedas, cédulas, carros, miniaturas, videogames, chaveiros até as mais estranhas, como pasta de dente, lenços umedecidos, saquinhos de açúcar e até comida queimada. Nesta reportagem buscamos colecionadores de Balneário Camboriú e região, para falar sobre o ato de colecionar. Alguns com larga experiência, outros quase iniciantes, revelaram como, porque e o que pretendem com sua coleção. Encontramos até um multicolecionador, que resolveu transformar sua paixão em uma ocupação na sua aposentadoria, desde que abriu sua loja, há um ano no centro de Balneário.

O som das bolachas

Fabi Loos

“Tudo começou quando ganhei uma pequena coruja artesanal em pedra. Foi então que passei a me interessar por esse estranho pássaro noturno, tão assustador nas minhas andanças de criança. Como sou nômade, descendente de beduínos do deserto, tenho viajado muito e sempre fui adquirindo corujinhas como ‘souvenir’. A notícia se espalhou e comecei a receber exemplares como presentes de familiares e amigos. E assim fui juntando uma grande variedade desse pássaro que é o símbolo da Filosofia, porque pouco fala e pensa muito. Tenho hoje corujas pequenas – só elas me interessam – vindas de todos os Estados brasileiros e algumas do exterior, como Paraguai, Canadá, Israel e China. São dos mais estranhos formatos e variados materiais: pedra, metal, cerâmica, vidro, louça, cristal, pano, plástico, inúmeras espécies de madeiras e até de pinhão. Entre as mais curiosas está uma made in China, revestida com penas verdadeiras e que me foi oferecida por uma saudosa vizinha. No início, acomodei-as em pequenas estantes afixadas à parede de minha oficina literária, mas, como o número foi aumentando, hoje elas se espalham pelas mesas, estantes de livros e outros espaços disponíveis. “Meu pai e dois tios tinham muitos vinis quando eu era criança, e eu sempre ficava fascinado pelas capas e com o som que saía daquelas bolachas. Até que, em 1982, o KISS lançou o álbum “Creatures of the Night”, e aquilo mudou minha vida, pois na seqüência, em 1983, a banda fez show no Brasil e o meu vício iniciou! Os vinis que comecei a comprar, assim como hoje, sempre foram de heavy metal, minha paixão. Em 1989 os cds vieram com tudo e, então, comecei a adquirir as peças nesse formato. Antes, era bem mais complicado conseguir o material, pois precisava ir a lojas, vasculhar, manter contato por carta, telefone, etc. Hoje em dia, com a internet, facilitou muito encontrar o disco que procuro, pois lojas, colecionadores e afins, estão a um

clique do botão! Colecionar alguma coisa é uma arte, pois você sai do mundo comum, dos títulos mais usuais, ou seja, o lado A e parte para as coisas mais difíceis, peças mais raras, e assim necessita manter contato com diversas pessoas diferentes, de países diferentes, inclusive os próprios colecionadores e acaba formando uma grande família, com a troca de peças e informações. Atualmente, tenho mais de 7 mil cds, 650 vinis e uns 400 dvds, todos originais. Tenho cds e vinis raros, que tiveram lançamentos restritos, e hoje, custam mais de 200 dólares cada peça. Enfim, colecionar é muito bom, além de um hobbie, torna-se uma paixão avassaladora! Klaus Peter Loos é empresário e reside em BC

Não sei para que servem, mas o fato é que acostumei com a presença delas a me observarem, silenciosas, com os olhos fixos em mim, enquanto batuco meus escritos. Também perdi a conta de quantas sejam, mas calculo que andam pelas 800 peças. O bibliófilo e escritor Plínio Doyle foi o maior colecionador de corujas que conheci. Sua imensa biblioteca, no Rio de Janeiro, onde se reunia o “Sabadoyle”, estava repleta de exemplares. Com o falecimento dele, a coleção foi doada a alguma instituição. Como a minha vem num crescendo contínuo, suspeito de que, em breve, não haja mais espaço e terei então que encontrar outro destino para elas. Mas farei isso com muita dor de coração!” Enéas Athanázio é escritor e colunista do Página 3


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Arquivo pessoal

Sapatos, paixão de infância “Desde pequena sou apaixonada por sapatos, lembro-me que por volta dos 3 anos, troquei a chupeta por um par de sapatos pretos de verniz e em muitos aniversários eu trocava as bonecas por pares que estavam na moda. Sempre foi meu departamento do vestuário mais cobiçado. Quando comecei a trabalhar, (aos 13 anos), meu primeiro salário foi num par de sandálias da Melissa. Naquele instante me realizei. Percebi que podia ter qualquer um que quisesse e assim foi, um atrás do outro, sem parar. Hoje tenho 80 pares. Uso quase todos. Há um ou outro que tenho pelo prazer de vê-lo no guarda-roupa, de saber que são meus! Acho que se torna coleção, mais pela quantidade, para uns, exagerada, para mim, ainda pequena. Eu penso que os sapatos transcendem poder e sensualidade aos nossos pés e corpo, por isso esta ‘relação-loucura’ de possui-los. Eles exprimem satisfação, embelezamento, desejo e traduzem uma personalidade mais atraente, forte e imponente. Tenho pares da minha adolescência, meus xodós. Os favoritos? Os de saltos altos. Amo-os! Conferem sofisticação e ainda mais elegância aos pés e pernas. Mas, é importante saber caminhar com eles! Minha frase favorita é: “Eu não sei quem foi que inventou o salto alto, mas todas as mulheres devem muito à essa pessoa” – Marilyn Monroe. Assino embaixo! Joiciélin de Aviz, 29, Produtora Gráfica e Blogueira de moda – www.twinsis.com.br – reside em Balneário

Pong, amor à primeira vista Arquivo pessoal

“Foi justamente em Balneário Camboriú que minha paixão por jogos eletrônicos, videogames e computadores iniciou. No verão de 1977, meu pai me levou para ver uma máquina que estava sendo um sucesso num bar chamado ‘Tortuga’, na Av. Atlântica. Era uma máquina de ‘pong’, um dos primeiros jogos eletrônicos. Extremamente simples, consistia em duas linhas, simulando raquetes tendo que rebater uma

bolinha (na verdade era um quadrado…) de um lado para outro. Aquilo foi amor à primeira vista! No ano seguinte, meu pai comprou o primeiro videogame doméstico do Brasil, o Telejogo, da Philco-Ford, que tinha 3 jogos, ao estilo do pong, mas que podia ser jogado na tevê da sala. Os anos foram passando e ganhei de presente um videogame Intellivision em 1983 e depois um computador TK-85. Naquela

época, a informática ainda era restrita ao meio profissional, com equipamentos caros e difíceis de operar. Nos anos 80, a informática pessoal ‘explodiu’, com dezenas de modelos diferentes. Foi uma época muito rica na informática, onde você fazia muitas amizades (reais, não virtuais), com outros usuários de micros e videogames. Depois de ter passado por vários micros pessoais, como MSX, Commodore Amiga e Apple Macintosh, o qual sou usuário desde 1995, a paixão por aquelas primeiras máquinas continuava. Em 1997 comecei a colecionar, adquirindo 3 videogames antigos de um amigo. A partir dali, fui atrás de pessoas e instituições, consegui muita coisa e até hoje recebo itens. Atualmente possuo mais de 100 equipamentos, entre micros e videogames, além de centenas de cartuchos, fitas K7 de programas, revistas, livros, periféricos, acessórios, etc. Entre os itens mais interessantes, tenho um computador que foi lançado apenas no Japão (Panasonic MSX2+); o primeiro modelo de Macintosh da Apple, lançado em 1984; vários micros nacionais dos anos 80, o primeiro videogame brasileiro, o Telejogo; diversos modelos de Atari, Nintendo, Sega e muito mais. Deixo aqui meu pedido a você leitor, que possuir algum item que não queira mais, mesmo não funcionando, exceto computadores da linha IBM-PC (estes não coleciono), que entre em contato comigo”. Eduardo Loos é cirurgião-dentista, residente em Brusque, mas com muitos anos de praia em Balneário (e-mail: loos@terra.com.br)


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Coleção=opção de vida

George Varela

Colecionar, uma forma de reinventar meu mundo

Arquivo Pessoal

“Há 3 anos comecei minha coleção de motos. É pequena ainda, mas tem algumas particularidades: todas são pintadas na cor preto fosco, estilo ‘custom’, do mesmo fabricante e utilizadas no meu cotidiano. Dispensei o carro. A coleção começou por acaso, quando em 2007 me deparei com um modelo dessa marca na vitrine de uma loja de roupas em São Paulo. Aquela cena me despertou e acabei não visitando o resto da loja. Passei a partir daí colocar um brinquedinho desses na minha lista de prioridades. Como diz o ditado, os homens nunca crescem, apenas mudam o tamanho e o preço dos seus brinquedos e foi nessa filosofia que comprei a primeira motocicleta em maio de 2010. A coleção passou a tomar corpo a partir do momento que, em 2012, resolvi comprar uma nova motocicleta, mas não consegui me desfazer da primeira. Agora em 2013, a história se repetiu e adquiri mais uma motocicleta sendo que não criei coragem de me desfazer de nenhuma das anteriores. Até agora são 3 motocicletas Harley-Davidson, 3 miniaturas artísticas feitas de ferro e 1 de madeira, que foram presentes de amigos. A mais exótica, mesmo sendo de série, é uma Harley-Davidson Night-Rod com motor desenvolvido em parceria com a Porsche e que completou no ano passado 10 anos desde a sua concepção. Rompeu na época, alguns conceitos já existentes na marca há quase 100 anos como refrigeração a água e motor de altíssimo desempenho. Me incomoda a ideia de adquirir coisas que não tenham função ou que eu não possa compartilhar. Ter a possibilidade de construir essa coleção já está diretamente ligada ao meu cotidiano, tanto que o termo ‘colecionador’ surge mais da família e dos amigos do que uma atribuição que parte de mim. Penso que fiz apenas uma opção de vida”. George Varela, 42, é designer em Balneário Camboriú

“Colecionar, para mim, é um ato de salvaguardar as lembranças boas das pessoas e do mundo em que estamos rodeados. Comecei a colecionar em 2012, quando ganhei meu primeiro lápis. Daí, pra frente, sempre que algum amigo ou amiga viaja, traz na bagagem, um lápis ... este, independe do valor material, o importante para mim é que a lembrança da viagem tenha vindo junto com o lápis a mim trazido, porque, relaciono o lápis, escrevendo no mesmo, a data da chegada e quem o trouxe. Assim, como dizia Carlitos “Quem vai deixa um pouquinho de si comigo e leva um pouquinho de mim para si”. Além de terapêutico, essa forma de colecionar o objeto, traz na sua essência, as inúmeras interpretações de um colecionador: organizar a sua memória afetiva frente a um objeto colecionado. Tenho muitos lápis já catalogados, estes oriundos dos mais diversos lugares do Brasil e do mundo e, espero, que o meu acervo cresça à medida que os amigos também incorporem essa ideia e o meu jeito de me conectar com um elemento que traz a escrita. Como colecionadora gostaria de deixar esse legado à minha filha, Carmel, a fim de que, a mesma, tenha também o prazer de desfrutar da alegria de guardar no peito os amigos e num lugar especial, os objetos colecionados”. Ivana Miriam de Mello Pegorim é profissional na área de vendas com acessórios e semi-jóias, decoração, reside na Praia Brava em Itajaí.


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Um passatempo que virou negócio Fotos Waldemar Cezar

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A profissão que gerou uma coleção

Arquivo pessoal

“O colecionismo deveria ser incentivado desde a idade escolar, porque é um resgate de histórias. A maioria das minhas peças tem e eu conheço cada história. Tanto das pessoas que compro como das que vendo procuro conhecer tudo sobre a peça. Além da história, ter o cuidado de manter, limpar, organizar, restaurar, isso disciplina a pessoa”. Em um ano de loja, já possui um cadastro de mais de 500 pessoas, a maioria colecionadores, ou que querem vender ou que querem agregar mais peças. Vitiuk compra e vende peças, faz esse intercâmbio.

Élio Vitiuk, paranaense, professor universitário aposentado em 2010, mora em Barra Velha e ano passado abriu a loja O Colecionador 123, no centro de Balneário. É colecionador desde 1974, a primeira peça foi um relógio de pulso, depois vieram o primeiro capacete, o primeiro boné, chapéu, óculos, começou a colecionar tudo que gostava, a

maioria já foi vendida. Dos 400 relógios de pulso, restaram 100. Para manter-se ativo na aposentadoria, pensou em abrir um restaurante especializado em arroz colorido, mas acabou predominando a sugestão do filho, uma loja de peças antigas, onde suas coleções (e de outras pessoas) ganharam uma vitrine.

“Isso aqui é um hobby que virou um negócio. Tenho mais de 400 quadros e telas, mais de 300 relógios, moedas, cédulas, selos, porcelanas, pratarias, brinquedos antigos, aparelhos de som, videogames, rádios, tesouras, relógios, cartões postais, canetas, isqueiros, chapéus, xícaras, abajur, até sapatos femininos bico fino, todos importados, quase 4 mil peças na loja. Aprendi a fazer avaliações, a pessoa pode deixar em consignação”, detalhou. As peças mais antigas e raras da loja são uma Bíblia em português, de 1896, uma bola autografada pelo Pelé, na década de 70, uma máquina de escrever russa, da época de 2ª Guerra, com alfabeto cirílico, ‘é peça para colecionador mesmo’, recomendou. A lojas fica na Rua 100, 52 (47) 33662011.

O juiz aposentado Joel Furtado Lima, 78, trabalhou na ferrovia, praticou o código Morse na antiga viação férrea do Rio Grande do Sul, cursou Direito, morava em Rio Grande, ia a Pelotas diariamente no trem, escreveu obras, tornou-se autodidata, foi condecorado pelo Ministério dos Transportes, com o Honoris Causa como engenheiro ferroviário. Era um apaixonado por ferrovia. O carro que viajava está hoje na prefeitura de Santa Maria, como objeto histórico. Depois deixou a rede ferroviária, não tinha mais como viajar com aquele carro, pra não esquecer dele, colecionou uma porção de miniaturas de ferro modelismo. Foi juiz de direito, aposentou-se em Porto Alegre. “Tive duas profissões em que tinha que andar na linha: uma

moralmente na linha e outra no trilho”, brincou. Há 12 anos mora em Balneário, mas divide seu tempo entre a praia e Pelotas. Quando está em Balneário, sempre dá uma passadinha na loja O Colecionador, onde areportagem o encontrou. Sua coleção tem 587 peças, entre elas, 120 locomotivas, das diversas fases, a vapor e diesel, e trilhos, os vagões. “Eu tenho aqui na Barra um trem que dá para as pessoas andar em cima, movido a mão e em Rio Grande fiz um para meu filho, a bitola era 50cms e aqui é de 40cms. Fica na rua Ildefonso Martins, 162”, disse. Na foto, o juiz(de azul) junto ao limpa-trilhos e ao fundo, o carro ferroviário O-3, (azul), que ele reformou e que hoje é atração do museu ferroviário de Santa Maria.

Por Marlise Schneider Cezar

FALANDO NISSO marlise.jp3@gmail.com

Borocoxô Devagar... quase parando, foi o movimento da manifestação no feriado cívico. Aliás, se não fosse a adesão dos ciclistas da associação, passaria quase despercebido. De tarde, alguns persistentes sacudiam bandeira e seguravam um cartaz na praça Tamandaré. Andei por lá, conversei com um dos ‘porta-bandeira’, perguntei sobre os manifestantes e ele disse, ‘só aqui já são dois...’. Claro, a manifestação pode ser solitária, de um só.

Mas não era isso que estava programado. Na véspera, nas redes, falava-se em mil participantes. O que houve com eles? Desistiram, por quê?

Vale tudo Na praia central, os vendedores ambulantes continuam aumentando. No sábado mesmo tinha mais de 15 vendendo de tudo, mas principalmente roupas e bijuterias. Um comerciante estabelecido disse que estamos regredindo, permitindo esse tipo de concorrência, que não paga

imposto nenhum e ocupa espaço nobre na praia. ‘Lembra quanto a CDL lutou pra acabar com isso anos atrás’, perguntou ele.

Marlise Schneider Cezar

Malacada Quem caminha cedinho na praia encontra sempre meia dúzia de malacos dormindo ou rolando na areia, fazendo xixi, brigando uns com os outros, ou então pedindo dinheiro para a primeira cachaça do dia. Nessa hora a praia está cheia de caminhantes, de estudantes...lamentável.

Segunda, 15h - A neblina mudou completamente o visual da cidade. Lindo!


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