CineramaBC

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Especial

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alneário Camboriú já pode dizer que tem um Festival Internacional de Cinema. A primeira edição do CineramaBC aconteceu de 11 a 15 de novembro e deu certo, tanto que a próxima já está sendo preparada, ainda com maior expectativa.

Balneário Camboriú, 19 de novembro de 2011

Divulgação

Por Caroline Cezar

Foram em média 200 pessoas em cada dia de evento, que trouxe para o público filmes que não chegariam pela via convencional, muitos deles ainda inéditos no Brasil, como o caso do francês My Little Princess, exibido esse ano ainda em Cannes. Outro filme recente, que só começa a ser distribuído a partir de março, e que por enquanto só pôde ser assistido nos festivais do Rio e São Paulo é o “Eu Receberia as Piores Notícias do Mundo dos Seus Lindos Lábios”, de Beto Brant e Renato Ciasca, que participaram ativamente do primeiro ao último dia de evento, assistindo todos os filmes, conversando com o público, interagindo e fazendo comentários sobre suas obras (O Invasor, um filme de 2007, considerado um filme de retomada no cinema nacional, também foi exibido, no último dia). Extremamente acessíveis, Beto e Renato somaram muito à proposta do festival, de aproximar as pessoas desse universo que é o cinema não-comercial.

O que eles acharam “Achei muito legal a construção da proposta, que se amarrou super bem, variações do mesmo tempo, três interpretações femininas, juvenis, filmes feitos por diretoras mulheres... Vejo que teve todo um cuidado na curadoria de não simplesmente trazer filmes bons ou de destaque, mas de fazer essa construção, propor uma questão, algo em que se possa pensar. Até mesmo o “Eu Receberia...” tem um pouco do tema, porque a Lavínia (Camila Pitanga) foi molestada enquanto criança, adolescente. A questão ambiental, que o filme também traz forte, e no dia seguinte veio o documentário Le Syndrome de Titanic pra casar com isso, acho que foi intencional. Meu papel agora é difundir, espalhar que deu certo, a qualidade da programação, boas escolhas. Foi um festival curto, concentrado, mas com um bom público para primeira edição, cópias bem projetadas, senti falta de uma difu-

são maior na mídia, além de vocês que estavam todos os dias, não vi muita gente. A sala é muito grande, então parece sempre vazia, mas 200 pessoas é um público considerável. Muito legal essa questão de ser um festival aberto também para os filmes europeus, vivemos num mundo total aberto, não faria sentido fazer um bairrismo, só filme nacional, ou só isso ou aquilo”. Beto Brant, diretor de O Invasor, Eu Receberia As Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, e outros filmes. “Eu acho que cada vez mais eles vão descobrir uma mensagem, e desenhar um caminho para promover essa mensagem. É o que move o festival, o que faz crescer, isso é consciente. Gostei muito de estar aqui e participar”, Renato Ciasca, diretor de O Invasor, Eu Receberia As Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, e outros filmes.


Balneário Camboriú, 19 de novembro de 2011

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“Tomboy”, premiado em Berlim, foi o eleito do público em BC

Responsável pela curadoria do CineramaBC, Bárbara Sturm, de São Paulo, disse que ficou muito satisfeita com o público do festival nessa primeira edição e também com a escolha de “melhor filme”, por votação de quem estava na platéia: Tomboy, filme francês que ganhou o festival de Berlim esse ano, foi o mais votado aqui também. “É um filme que trata da questão da homossexualidade de forma bem sutil, e é muito sensível, com criança. Chamou muita atenção do público, todo mundo que via o cartaz dizia que queria assistir”, comentou Bárbara, que com a experiência que adquiriu trabalhando há quatro anos na Pandora Filmes e também na programação do Cine Belas Artes (SP), diz que sabe que a apresentação conta bastante, ainda


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Balneário Camboriú, 19 de novembro de 2011

El Premio (argentino); My Little Princess (francês) e Tomboy (francês) têm em comum as meninas; o que mostra um pouco o caminho percorrido pela curadoria: delicadeza e sensibilidade.

mais quando o público não tem outra referência, no caso dos filmes menos conhecidos. Barbara conta que o processo de curadoria foi uma mistura de experiência com intuição e que baseou suas escolhas no tema “relacionamentos”. Isso acabou pendendo para o lado feminino, já que “quase sem querer” três das tramas tinham como protagonistas crianças, mais especificamente meninas, cada uma com suas particularidades, histórias bem diferentes uma da outra. “Claro que tem muito do meu momento de vida ali, a questão de se descobrir, de deixar de ser menina e virar mulher, mudar de fase, tudo isso fica implícito e creio que influencia sim”.

Barbara conta que também achou importante trazer filmes latinos, franceses, alemães e um documentário na mostra principal, que de forma geral atingissem bem o público e não fossem muito abstratos. Alguns, apesar de densos, foram bem recebidos, como alemão Jud Süss e My Little Princess. Bárbara comemora a sorte de estrear esse último, premiado em Canne, e que foi solicitado pela Mostra de São Paulo nesse ano e não cedido pela produtora francesa, que garantiu exclusividade para Balneário. “O André conheceu a diretora em Canne e comentou que estava iniciando um festival aqui. Ela gostou da proposta, e como também era sua estréia como diretora, achou que combinava e cedeu a cópia”. O filme é autobiográfico, e conta a infãncia

da própria diretora, Eva Ionesco, filha da fotógrafa romena Irina Ionesco, que usou-a por dez anos como modelo para seu trabalho de fotos eróticas. Barbara diz que gosta de todos os filmes da mostra, mas vê o nacional “Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios” com muito carinho porque abriu o festival, e isso foi de certa maneira simbólico para ela. “Já brinquei com o Beto (Brant) e o Renato (Ciasca) que agora eles são nossos padrinhos, porque a presença deles aqui, que são amigos e parceiros do meu pai, da família, estar com essas pessoas que confio nesse início importante foi fundamental. Sem falar que o filme é sensacional, muito emotivo, sensível e forte ao mesmo tempo, muito bonito”, concluiu Barbara.


Balneário Camboriú, 19 de novembro de 2011

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“O público criador do festival já nasceu” “Sempre tem o que melhorar, em vários aspectos, mas todo mundo que eu falei até agora achou que foi um sucesso, ainda estou recebendo várias manifestações de apoio ao festival. Muita gente já vivia isso aqui em BC de certa maneira, e poder juntar isso tudo e ver a coisa acontecer é gratificante”, comentou André Gevaerd, idealizador do festival. André também comemora que além de assistir aos filmes, o público lotou as salas do ResidênciaBC, que todos os dias trouxe alguém do meio para falar sobre temas relacionados ao cinema. “Isso demonstra que muitas pessoas não querem só assistir, querem só envolver com cinema, não só como entretenimento mas com a ambição de entender, saber como faz, levar adiante”, resumiu. Às vezes ainda existe um certo receio ou preconceito em relação ao cinema independente, autoral, de arte. “Elitista”, “intelectual” são palavras que traduzem esse medo ou desconhecimento em relação ao cinema não comercial. André acha que com o tempo, mais pessoas se darão a chance de ir conferir in loco e desmitifcar essa idéia de que esse cinema não é para todos. “Muitos que foram nunca tinham tido contato com esse cinema, e nem por isso acharam que é menos. Pelo contrário acabam se tornando fãs, querendo mais, porque o que esse cinema quer é justamente o contrário, uma abertura pro mundo de maneiras diferentes, trazer uma janela, o que não acontece nos filmes comerciais”. Para André, que viu acontecer seu sonho antigo de envolver sua cidade natal com sua maior paixão, o público-criador do festival já nasceu e daqui pra frente só vai aumentar. “Está todo mundo de parabéns. O público é muito importante e cinema é boca a boca, sempre foi. Acho que isso vai funcionar muito na próxima edição, porque na primeira todo mundo fica um pouco desconfiado”.


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Balneário Camboriú, 19 de novembro de 2011

Nova esperança para o cinema de rua e museu, sonhos antigos O proprietário do Cine Itália Fernando Delatorre esteve presente em todos os dias do festival, e disse que ficou muito satisfeito em ver a sala funcionando para a finalidade para qual foi criada, a projeção de filmes. Há muitos anos o Cine Itália está funcionando como centro de eventos, porque segundo Delatorre, ficou inviável concorrer com os cinemas do roteiro comercial, que têm a preferência das grandes distribuidoras. “A receita não cobria mais a despesa, tivemos que fechar, mas existe sim muita vontade de continuar, eles (organizadores do festival) estão até com um projeto para exibições semanais e eu acho fundamental para a cidade e toda região essa opção de cinema de rua”. Fernando diz que se contar com moradores das cidades próximas vê um público potencial, que está carente dessa alternativa. Há muitos anos ele tem a idéia de fazer um museu de cinema, porque seu pai, que era um apaixonado e foi fundador dos três primeiros cinemas de Balneário Camboriú (Cinerama, Auto Cine e Cine Itália), colecionou muitas peças antigas, projetores manuais, máquinas fotográficas, todo tipo de raridades. Ele acredita que com esse movimento a idéia se fortaleça e seja possível levar adiante.

Barbara Sturm e André Gevaerd, principais organizadores do Cinerama BC.

Ike e Juliana Gevaerd, Beto Brant e Barbara.


Balneário Camboriú, 19 de novembro de 2011

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Opiniões de quem participou

Achei muito bom, uma qualidade excelente dos filmes, e bate-papos, não vi nada do que não tenha gostado. É muito difícil vir filme pra cá, por isso temos que valorizar iniciativas como essa. Eu mesma tive que sair de Blumenau ara trabalhar como atriz, ir para os grandes centros, e acho que isso anda meio junto, por isso vejo que se desenvolvermos esse olhar mais crítico pro cinema, esquecer um pouco do homem aranha, o outro lado, do trabalho, da produção, também passa a se desenvolver. E já tá mais do que na hora”. Paula Braun, atriz

Já assisti a mais filmes que consigo lembrar, mas nunca em um festival. Era sempre no cinema do shopping, ou em casa no DVD. A oportunidade de ir a um festival tem algo de romântico, onde um filme não é só um filme, mas uma obra. Algo a ser apreciado, respeitado e discutido. Um filme é sempre uma ficção, mas a emoção da tela é real. Conectar com histórias de outras partes do mundo, reconhecer que pessoas aparentemente distantes de você tem os mesmos anseios e medos, essa capacidade de se reconhecer no outro é a grande força do cinema. E um festival como o Cinerama.BC pontecializa isso ao mostrar vários tipos de cinema. Tive ainda a oportunidade de orientar a oficina de cinema que o curso ofereceu. Foram cinco dias de atividades, da gênese da ideia ao projeto na telona. Nosso curta, feito a várias mãos, ajudou na minha comprensão do que é fazer cinema e tenho certeza que iniciou algo em cada participante, onde o desejo de contar histórias deve ter ficado mais forte e, espero, um pouco mais claro. Pra combater o cinema, só com mais cinema. Por isso, CineramaBC 2012, já é mais que esperado”. Carlos Daniel Reichel, diretor, roteirista.

Vejo o festival com um exercício para o próximo, fiquei muito feliz quando soube que passaram mais de mil pessoas por lá. Acho que isso é um feito, ainda mais com aquele tempo horrível e o trânsito caótico”, disse Verena Meneghelli, produtora da Epic Studio (Itajaí - BC) , que é parceira do evento. Verena também participou da oficina de criação coletiva e acha que foi ótima e muito produtiva. “O Daniel (Reichel, um dos orientadores) é um cara incrível, excelente roteirista e o desapego em pessoa... ele realmente acredita no processo coletivo e isso é encantador... A turma que participou pode ver que o mito do diretor é mito, ele é um de nós... E isso ficou visível no resultado, tem o dedo de todos... nós fizemos tudo de forma bem básica... (sem luz, sem maquinária, sem infra) e o mais importate da oficina, foi entender que o cinema, a produção de um filme, é uma obra coletiva, Verena Meneghelli.


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Eu encontrei o festival por acaso, vi num site de compras coletivas, achei vantajoso e vim conferir. Gostei muito, assisti todos os filmes, tudo” “Pra ele que quer começar na área foi bem legal”.

Balneário Camboriú, 19 de novembro de 2011

Eu diria que foi muito bom, que a curadoria foi afiada e que o Cine Itália é ótimo... mas que, apesar da divulgação intensa, houve pouco comparecimento. Apesar de que isso é completamente entendível, cinema “arte” não atrai as pessoas como os blockbusters, acho que BC é meio sem jeito pra tudo... o público desdenha show alternativo, cinema alternativo, eventos alternativos num geral! Mas é uma construção, assim, não digo que é impossível”, Léo Telles.

Samuel e Manuela Moreira

Muito legal a iniciativa, tem que fazer parte do calendário, acho que o organizador é um batalhador por ter conseguido realizar e que tem que continuar. Acho que a divulgação pode ser mais massiva, não vi em lugar nenhum, devia estar em outdoors, cartazes na cidade. Sei que tem a questão da poluição visual, mas cartaz de arte sempre soma, dá pra fazer uma coisa bem legal. Vi poucos universitários, pouca gente, achei a adesão da cidade muito baixa. Só consegui ir no último dia, adorei O Invasor, os curtas não gostei muito, achei mal selecionados, meio estereotipados e sem valor estético. O que foi produzido na oficina ficou bem legal, algo que provoca, penso que é por aí. O hall do cinema pode ser trabalhado, aquelas peças antigas merecem ser valorizadas, penso que o festival deve ser tratado como um grande evento mesmo e a cidade merece e precisa ceder esse espaço”, George Varela, designer.

Eu gostei muito do festival, de ter participado, de ter contribuido um pouquinho, me fez acreditar ainda mais que fazer cinema bom é possível. O contato com os convidados e as pessoas interessadas gerou uma atmosfera em torno não só dos filmes exibidos, mas sim da importância do cinema, da qualidade dos filmes de conteúdo inteligente. O fato de ter ocorrido em local tão central deixou claro que a experiência do cinema em Balneário Camboriú pode ser muito proveitosa, a cidade oferece uma excelente infra-estrutura pro diálogo. Outra coisa que veio como um resgate pra mim foi o fato do ter ido à um cinema de rua, independente do festival, o cinema de rua traz o diálogo, a extensão leve da conversa sobre o filme, sobre a vivência do filme. Você sai do cinema e não é invadido por lojas enormes, teto coberto e aquele eco insuportável do shopping. Pelo contrário, ao sair do cinema você tem à disposição lugares que tem muito mais a ver com a realidade das pessoas, de fato as pessoas estão mais bem representadas no cinema de rua, e isso faz com elas possam se sentir mais conectadas com os filmes. É isso que transcende o entretenimento e torna esse tempo uma reflexão inteligível. Teria um zilhão de coisas pra falar, estou bem apaixonado pelo que aconteceu, pelo contato com os profissionais, o Beto, a Paula, o André… e essa abertura de informações é a nossa Caixa de Pandora”. Guilherme Meneghelli, fotógrafo, cinegrafista, da Epic Stúdio.


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