Balneário Camboriú 48 anos

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Acreditando na cidade


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julho de 2012

Balneário Camboriú, 48 anos

Os primeiros habitantes Isaque Borba Correa

Depois de já ter passado uma certa distância da nossa Praia em direção à Ponta de Laranjeiras, absorto pela bela paisagem, o seu ajudante virou-se para trás e viu um casebre e comentou: - Olhe meu senhor, lá atrás tem uma casinha! - Volte até lá, vamos conversar com aquele infeliz, dê a volta por esta ilha e volte. Ao contemplar aquele senhor forte, mas solitário no meio dessa imensidão, desceu de sua lancha para um dedo de prosa. - Bom dia! O senhor morra por aqui há muito tempo? Perguntou o estrangeiro com sotaque francês. - Não sinhori, coisa de uns dois anos mais ou menos.respondeu o morador com sotaque português muito acentuado. - Donde viestes? - Sou de Lamego, ó gajo, mas antes tive uma passagem por Porto Belo, uma cidade a umas 20 léguas daqui. - Como te chamas? - Baltazar, senhor! Baltazar Pinto Corrêa. Família tradicional da cidade de Lamego. - Muito bem. Sou francês, me chamo August. Como se chama este lugar? - Os naturais deste lugaire chamam isso aqui de Camboriguassu. Nós abreviamos pra Cambriú, senhor. - Ainda há alguns deles por aqui? - Sim ali mesmo na Ponta das Laranjeiras ainda hai alguns deles. São mansos e vossenhoria poderá conversar com eles amigavelmente. Seu Baltazar não sabia que estava conversando com Augusto de Sait-Hilaire, um dos homens mais inteligentes da Europa, que veio estudar a botânica do nosso Estado. Inteligente do jeito que era, abordou questões importantes da cultura geral do Estado. Pesquisando junto à população e aos índios, Saint-Hilaire deixou um dos mais preciosos livros para o nosso Estado. Segundo o conselho de Baltazar, Doutor Augusto dirigiu-se à Ponta das Laranjeiras, desceu, conversou longamente com os índios acerca do topônimo Cambriú. Alguns anos mais tarde, Baltazar conseguiu convencer

mais algumas pessoas em Porto Belo e as trouxe para cá. Estavam todos muito felizes, o lugar era bem melhor e as terras mais férteis. O lugar era virado pra banda do pôr-do-sol, que tinha a vantagem de ser protegido do vento sul. As encostas e o vale eram bem mais férteis, terra boa como se dizia. Não demorou muito pra que uma boa leva de colonos emigrassem de Porto Belo para cá. A fama correu e em pouco tempo veio gente de Tijucas, São Miguel e até da Ilha Capital Desterro. Seu Baltazar viajava muito desde a sua tenra juventude. Gostava muito da Capital, tanto que casou-se com dona Anna, natural da sede, mas que residia em Santo Antônio de Lisboa, onde casou-se. Ela era a garota mais bonita de toda a ilha. Ana, a Aninha, filha do seu Silvério Amorim e da dona Custódia, nativos dali da ilha mesmo. Assim viviam os ribeirinhos do Rio Camboriú, naquele vilarejo pobre, desamparados pelos governos. Quanto à pobreza material, eles não eram muito diferentes dos outros povos que habitavam o Estado, mas quanto à assistência espiritual era um completo abandono. Nada mais importante para o homem daquela época que a sua religião. No princípio do século XIX, o povo ainda não tinha muita diferença dos costumes da Idade Média ou até mesmo se igualavam aos judeus do começo da história bíblica, quando os santos sacramentos era vitais para um homem. Sem recursos médicos, sem remédios, acometidos de tudo que era espécie de doença, o único acalento era apegar-se a Deus e aos santos. Caso se visse abandonado pelos clérigos, o homem daquele tempo entrava em completo desespero. A única coisa que não poderia faltar era um padre, principalmente para ministrar a extrema unção que garantia de uma sobrevida nos céus. Essa era toda a esperança daqueles homens. A garantia de que o inferno lhes esperava de boca aberta, assim que qualquer doença surgisse; só um padre lhes poderia desviar dessa rota fatídica que a todos os homens era destinada. É óbvio que ninguém suportaria a idéia de viver longe dos seus padres e da sua igreja. Esse era o principal motivo de preocupação dos homens da aldeia do Cambiriu-açu: o desamparo espiritual. Toda a pressão recaía sobre o padre da Igreja de Porto Belo, um santo e dedicado homem chamado Manoel Ferreira, a quem eles devotavam todo a esperança dessa

vida. Custava-se muito para ir à igreja de Porto Belo pelo menos uma vez por semana aos domingos. Existia a igreja de Nossa Senhora da Conceição de Itajaí, que era um pouco mais perto, mas não havia nenhuma afinidade entre eles. Eles gostavam de ir a Porto Belo, na Igreja de Bom Jesus dos Aflitos, pois lá é que estavam seus conhecidos, seus parentes e o santo homem de Deus de sua confiança, o Padre Maneca. Lá faziam toda a pressão sobre o padre, para que o clero destinasse um pároco para viver com eles naquele fim de mundo. Cada vez que ia à Capital, o Padre Maneca pressionava o senhor Bispo. O Bispo estava cansado de pressionar o governador. Até ao Vice-Rei, nosso Governador da nossa Capitania, o Dr Francisco Barros Morais de Araújo Teixeira Omen, reclamou, em carta datada de 15 de outubro de 1779, sem conseguir resultado algum. “Os fiéis da enceada do Camboriasu viajavam mais de 15 léguas em frágeis embarcações para assistir uma missa’, o que colocava em risco dezenas de pessoas desse lugar, reclamava o governador. O caminho por terra era ainda mais perigoso, pois o único que existia era um velho caminho de trânsito dos índios, que o usavam para se deslocar por essas bandas. Era muito perigoso cavalgar por ali. E depois, cavalos eram uma raridade, quase ninguém tinha. Cada família tinha um, mas era muito pouco pra tanta gente. A canoa a remos ainda era o melhor meio de transporte, até porque todo mundo da família ajudava a remar. Antes da construção do oratório, as orações eram feitas na casa do próprio Baltazar. Não era grandes coisas: uma palhoça contígua à casa, à guisa de alpendre na beirada do Rio Camboriguassu era tudo que se podia ofertar. Dona Ana, que possuía uma memória de elefante, guardava bem na cabeça os hinos e as orações, dirigia as orações noturnas, quando o tempo andava muito ruim e o mar muito brabo e não dava para ir até Porto Belo.

“Esse era o principal motivo de preocupação dos homens de Cambriu-açú, o desamparo espiritual”

Balneário Camboriú 48 anos. Essa paisagem já é um presente.

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O lugar era virado pra banda do pôr-do-sol, que tinha a vantagem de ser protegido do vento sul. As encostas e o vale eram bem mais férteis, terra boa como se dizia”. Um compadre seu lá do Desterro apareceu por aqui. Era seu Marcelino Dutra, homem muito rico e poderoso que veio conhecer a Vila, junto com seu outro compadre Silvério Amorim, sogro de Baltazar. O compadre muito compadecido do abandono espiritual, prometeu pra família e para o minúsculo povo da aldeia de Cambriú uma casa de oração. Não seria uma igreja, mas uma pequena casa de oração. Não demorou nem trinta dias, uma enorme lancha entrou na barra do rio e aportou por ali, com uma carga de madeira, caibros e telhas de barro que casa nenhuma por ali tinha, pois eram todas cobertas de palha. Mandou ainda um oratório enorme, lindo, com uma imagem do santo favorito do povo português: Santo Amaro, que se tornou o padroeiro do nosso primitivo povoado. Agora com muito menos sacrifício o povo adorava aquela imagem. A qualquer percalço na vida os antigos ainda hoje clamam: “Ah meu Santo Amaro”. Mesmo depois que a sede da Vila se transferiu, o povo começou a ser pulverizado para fora da área da Barra, para o interior, desde o Rio Pequeno, Braço, Macacos, Canhanduva e Canto da Praia, todos suspiravam pelo “Meu Santo Amaro da Barra”. Até início dos anos 70, Santo Amaro era o santo da predileção de todos nós daqui. Com a rebeldia que se generalizou nos anos 60 e se refletiu nos anos 70, mais a incredulidade do povo, essas coisas foram desaparecendo. Agora quando se quer ressuscitar esses fatos do nosso folclore, o povo esqueceu Santo Amaro. Antigamente a maior festa era a de 15 de janeiro, dia de Santo Amaro. Foi até o dia escolhido para instalar o município. Agora já nem tanto, parece que a Nossa Senhora do Bom Sucesso tem tomado o seu lugar. Conversamos com gente antiga, que diz nunca ter lembrado de ir a uma festa de Nossa Senhora do Bom Sucesso, no entanto nunca perderam uma festa de Santo Amaro, que sempre foi a maior de toda a região. Agora que o povo da aldeia de Camboriguassu tinha uma casa de oração, o Arcebispado destinou um padre de Itajaí para ministrar algumas missas por aqui. Era o Frei Pedro Antônio de Agote. Mas ele era um homem por demais ocupado com a sua freguesia que era enorme e agora o Arcebispo lhe dera mais esse duro encargo. Tanto que o Frei Pedro morreu, e os outros se esquiÓ

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vavam-se do compromisso. Às vezes vinha o Padre da Penha do Itapocoroy para cá para dar alguma assistência. Agora sim, o padre português João Rodrigues de Almeida se agradou muito do lugar. Homem de fibra, valente, mas muito piedoso. Amante dos pobres e dos fracos. Santo homem aquele. Compadecido do nosso desamparo espiritual começou a frequentar o lugar, até que a Santa Sé designou um pároco pra o Cambriú, mais aí já vai muito tempo. João Rodrigues convenceu seu irmão Bernardino Rodrigues de Almeida a vir morar na Barra. Bernardino era um homem muito rico e construiu a primeira mansão na vila. Uma casa deslumbrante grande, enorme, cheia de portas e janelas. Todo mundo vinha admirar o palacete do senhor Bernardino. Bernardino jovem e rico, mas tão bom quanto o irmão, dedicou-se à cidade como ninguém até hoje. Apesar de jovem e

solteiro, adquiriu muitas terras, as melhores ao redor da futura praça. Depois ainda construiu outra casa menor. Ali dispôs a casa para servir de que fosse preciso. Todos os primeiros órgãos públicos ocuparam a residência do senhor Bernardino: Câmara, cadeia, Intendência, Escola, Correios, Telégrafo, Delegacia, tudo funcionava ali e tinha compartimento para tudo. Ninguém até hoje, promoveu tamanho desenvolvimento para a Vila de Bom Sucesso como o milionário Bernardino, que apesar de jovem e rico, era um homem simples. Tão simples que ele mesmo se dignava a dar aulas e ensinar o povo daqui a ler. Esse “dava” aula mesmo, não cobrava nada. Foi o primeiro professor a ensinar para os meninos do Canto da Praia. Chegava a viajar alguns quilômetros pelo interior do município para instruir os jovens pobres do nosso lugar.

“Essa fotografia é pra lá de inédita: o primeiro padre da Barra, João Rodrigues de Almeida - aí com 19 anos. Português de nascimento, veio da cidade de Penha e ficou por aqui mais de 20 anos. Foi a maior autoridade jamais vista no século XIX. Foi vereador e presidente da Câmara de Itajaí. Enquanto perdurou a Monarquia ele não deixou mudar a sede da Barra para a Vilda do Garcia (Camboriú). Perdeu força com o advento da República, mudaram a sede na marra. Foi ele quem predisse que Camboriú por cem anos não cresceria e que Manoel Anastácio, o então intendente presidente da Câmara, morreria de câncer, assim como seus descendentes até a terceira geração. Dito e feito”.

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“Cambriu” se tornando “Arraial do Bom Sucesso” Muito antes disso ainda, os filhos do Baltazar junto com os filhos do Antônio Rosa e de outros pequenos fazendeiros e comerciantes que vieram de tantas partes desse litoral conversavam ao pé da figueira histórica que tinha na praça. Encostados ao redor dela, contemplando a vida que passava tão devagar quanto as águas do rio em tempo de seca. Quase uma lagoa. Nenhuma novidade até então. De repente olharam para a banda norte do rio e perceberam um grande movimento de gente e carro de bois a se formar na beira do rio. Algumas delas faziam sinal para os meninos. Os filhos de Baltazar reconheceram o irmão Maurício e correram chamar o pai. Seu Baltazar atendeu o chamado dos filhos e foi ver o que estava se passando. Percebeu que era o filho mais velho, Maurício, que continuou morando do outro lado do rio, na outra ponta da praia. Estava trazendo gente nova do Itajaí, mas precisamente da Praia Brava, para residir na aldeia de Camboriú. Baltazar conclamou os filhos a atravessar o rio para ajudar mais uma família que chegava para morar na Barra. O Cassimiro, o Pedro o José e o João corriam atrás das estivas de embaúva para deslizar a lancha pra terra. Todos passaram a mão em seus varejões e atravessaram o rio. Maurício agenciava gente na Praia Brava pra vir participar do empreendimento que fazia crescer a Vila de Bom Sucesso. Eram os Machado. Gente muita antiga da Praia Brava, que lutavam com dificuldade para sobreviver naquela terra árida. Estavam confiantes que iriam ser muito mais felizes ali na Barra. Tiraram as tralhas de dentro dos carros de boi e colocaram tudo dentro do batelão do seu Baltazar. Tudo foi numa mesma viagem. A junta de boi atravessou o rio a nado. Maurício de despediu do pai e voltou a galope pela praia deserta. A vida passava dias e dias sem nenhum movimento. Os meninos do seu Baltazar ganharam mais dois amiguinhos da sua idade. A aldeia cresceu, mais um casal, uma velha aparadeira; duas garotas uma moça e outra meninona. Naquele ano eles estavam de sorte. Mais alguns lanchões entravam na boca da barra. Ah... era lindo ver. Nunca tinham visto coisa igual. Três lanchas enormes rebocando outras duas mais pequenas, muita tralha e muita gente. Eram mais três famílias que vinham morar na aldeia, oriundos de Desterro.

A propaganda que seu Baltazar fizera na Ilha Capital, terra de sua esposa deu certo. A lancha da frente era enorme. Trazia os Garcia que iriam mais tarde fazer história por aqui. Na segunda menor vinham os Rocha e atrás os Pereira, esses de Porto Belo. As crianças fizeram uma algazarra danada como nunca tinha acontecido até então. Dona Ana Custódia ficou até assustada com tanta gritaria de rapaz pequeno, implorando que ela viesse ver o comboio de lanchas entrando na barra, parecia uma procissão. Nunca a Barra vira tanto movimento num só dia. Seu Baltazar lá em cima do morro, primeiro ouviu a gritaria da rapaziada. Em princípio não deu muita bola, mas ficou preocupado e continuou olhando. A imensa quantidade de manguezal atrapalhava a visão da beira do rio. Assim que as lanchas dobravam a primeira curva que entraram na boca da ilha do Palaio, uma emoção descontrolada tomou conta dele. Desceu o morro em desabalada correria. Ele não se continha de alegria. Afinal a colônia que ele iniciou estava fazendo muito sucesso. Ele reconheceu de longe a embarcação do seu José Francisco que entrava na boca da Barra, trazendo mais gente pra morar na sua aldeia. Enquanto isso, a rapaziada recepcionava com alegria os novos moradores para a margem norte do Rio Camboriú.

“Sempre que alguém novo vinha morar na Aldeia era recebido com muita alegria. Era sorriso de toda parte”. Seu Baltasar veio direto para entrada do rio, como costumava chamar o portinho que fizera na entrada da vila. Seu Zé Francisco veio logo abraçá-lo e apresentar-lhes os novos moradores. Eram alguns ilhéus que não haviam se dado muito bem na ilha de Santa Catarina. Seu Baltazar ficou muito feliz e seu José Francisco iria ficar por ali mais alguns dias para espionar a terra e intermediar novos moradores. Seu Baltazar era um homem extremamente bom, justo e honesto pra com todo mundo. E assim saíram pelo rio Camboriú adentro, contemplando as belezas daquelas terras. Seu Zé Francisco ficou maravilhado e garantiu que vinha requerer terras ali dentro. Seu Baltazar

muito conformista não queria sair da beira da praia. Foram até um bom pedaço de rio, coisa de uma légua pra diante. No outro dia, eles mais seus homens saíram por um caminho, uma trilha pela beira do rio, seguindo o Barranco. Seu Baltazar levou seu Zé até o encruzo com outro caminho de Bugre. Na esquina um enorme pé de leiteiro. Por isso seu Baltazar chamou aquele caminho de “Travessão do Leiteiro”. Resolveram se embrenhar por aquele caminho adentro. Andaram mais uma légua. O caminho levou eles até um rio, um pouco menor, que eles chamaram de “Rio Pequeno”. Seu Joaquim Rebelo, negociante de gado de corte, que veio de Porto Belo andava prosperando de vento em popa. O lugar pra ele era ótimo. Entre Itajaí e Porto Belo ele agora poderia abastecer as duas cidades com carnes de primeira qualidade. Requereu uma bela faixa de terra que ia desde a beira do Rio até a encosta do Morro para fazer uma bela criação de gado. Era bonito de ver aquela gadaiada toda tudo pastando lá cima na chapada do morro. Foi daí que apelidaram aquele morro de Morro dos Bois, por causa do gado do seu Joaquim, que pastava no alto. De 1840 a 1848 o crescimento foi razoável. Além da conta do seu Baltazar, que andava muito feliz com tanta gente no Arraial. Dizem que ele ficou tão feliz com o sucesso de sua empreitada que chamava o arraial de Bom Sucesso. Todo mundo já chamava o Arraial de Cambriú de Arraial de Bom Sucesso. Estavam sentados debaixo da figueira na praça toda a rapaziada, os moços e moças da Aldeia. Era um domingo de verão, estava quente, logo depois do almoço, como de costume a rapaziada se deitava debaixo de uma árvore de cinamomo, que por se conhece como “abrigo do sinhô”. Estavam todos estarrados por ali à sombra da figuera, quando entrava silenciosa na barra uma “armada” de o batelões e barcaças do seu Zé Francisco carregado de muita gente, animais, escravos, carros etc. O silêncio das águas mansas do Rio foi quebrado pelo vozerio da tripulação. Os negros eram os que mais faziam algazarra e assobiavam. Os rapazes da aldeia foram despertados pelos assobios e alardes da trupe do seu Zé, que dessa vez, trazia pra morar em terras de Camboriú, seu irmão Tomas Francisco Garcia. A alegria da rapaziada era enorme, todos gritavam e pulavam de felicidade de ver tanta gente

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“Quem viu isso aqui, sem nenhum pé de pessoa por vorta de 1822... Isso era um deserto seu dotori. Só havia eu, mais Deus e meus filhos e os bugres”. vindo morar ali. A recepção foi tão grande, que isso virou uma tradição em Camboriú. Sempre que alguém novo vinha morar na aldeia era recebido com muita alegria. Era sorriso de toda parte. Rita, a mais moça do seu Baltazar foi correndo avisar o velho pai. Despertou o velho da soneca que tirava costumeiramente depois do almoço. Dona Ana também correu para recepcionar tão ilustre morador. Seu Tomás era um homem de causar mesmo boa impressão. Alto, forte, impetuoso e cavalheiro. Trazia consigo um currículo espetacular. Ele fora alferes da guarda nacional e não foi difícil pra ele já ir tomando a liderança do lugar. Todos ajudaram a descarregar as muambas trazidas do Desterro. Nunca aquele povo viu tantas novidades de uma vez só. Eram camas, armários, ferramentas, gados, peças pra montar um engenho de farinha. Isso sim era novidade. Os garotos colocavam os tipitins na cabeça fazendo-os de chapéu e riam pra valer, o riso ingênuo e alegre do povo de Camboriú. Desceram os fusos, a almanjarra, o fixe, a ceva. Tudo foi descarregado no portinho de depois levado pra casa do seu Baltazar, que era a mais próxima dali. Os agregados todos do seu Garcia eram gente que não acabava mais. Não queremos exagerar, mais eram mais de vinte almas entre familiares, feitor e família dos escravos. Todos tiveram hospedagem garantida por ali, até que a casa do seu Garcia ficasse pronta. Tomás e família ficaram hospedados na casa do José seu irmão. Alguns agregados ficaram hospedados em casa de Baltazar que era grande e sempre recepcionava todo mundo. Os escravos foram pra senzala do seu Feijó e do seu Joaquim, porque seu Baltazar não tinha escravos. O capataz foi hospedado na casa do seu Gabriel Dutra. Mas foi o fim de semana mais movimentado da história naquela barra de rio. A Afra, que era a escrava mais velha e comandava tudo como se fosse um capataz, já meteu um saco de farinha nas costas e saiu em direção à casa do Zé Francisco. No dia seguinte, já de manhã cedo, depois de um farto café da manhã com carne seca e farinha boa, trazido pelo novo imigrante, O lugar era virado pra banda do pôr-do-sol, que tinha a vantagem de ser protegido do vento sul. As encostas e o vale eram bem mais férteis, terra boa como se dizia. saíram a cavalo beirando o rio para dentro do município. Ao subir o morro do Barranco

seu Tomás ficou maravilhado com a vista majestosa do rio e da Praia de Camboriú, com a sua ilha pelada, mas muito bonita, plantada no centro da Praia como se fosse uma pintura. Logo ao descer o morro, no primeiro tabuleiro que encontrou seu Tomás ficou encantado. - É aqui mesmo que eu vou fincá a minha casa! - Esta terra já tem dono, meu irmão, são minhas, mas podes ficar com as do lado de dentro. Em poucos dias seu Tomás estava estabelecido, e iniciava a derrubada do mato. A nega Afra comandava o picoteamento das primeiras ramas de aimpim, as manivas, que seu Tomás trouxera pra iniciar a maior plantação de aipim e mandioca que essa região já viu. Seu Tomás trouxe tanto progresso que em pouco tempo já tinha gente arriscando morar ainda mais dentro daquele sertão, em todas as direções. A declaração da posse da terra e sua localização perante o Vigário João da Natividade Nobre, não deixam dúvidas quanto ao lugar. O registro de Tomás Garcia foi o de nº 563. Diz lá: TOMÁS FRANCISCO GARCIA...Possui 262 braças de terras de frentes com 1500 de fundos, sito no lugar denominado Rio pequeno nesse districto, fazer frente no travessão geral, fundos com quem direito tiver, por ter pelo lado leste com a viuva do finado Silvestre Pereira, e pelo oeste com José Francisco Garcia. (Livro de Registro(de concessão de terras) de Vigários- de Porto Belo p. 20) Num outro dia, a rapaziada estava brincando por ali pela praça, quando de repente apareceu um homem bonito, muito bem vestido, montando num cavalo mais bonito ainda e uma porção de homem atrás dele, num séquito jamais visto por ali. Parecia alguém importante. Parecia e era mesmo. O homem pomposo

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era muito sisudo e de poucas palavras. Informou-se por ali alguma coisa com os mocinhos mais idosos. Pediu informações gerais e principalmente sobre as lideranças da cidade. Alguém apontara com o dedo para a casa do seu Baltazar e lá se dirigiu ele. Todo mundo ficou muito curioso. Todos perguntavam pra todos quem era aquele homem pomposo. Os garotos não conseguiram dar a resposta ideal aos primeiros curiosos que os inquiriam. Foram todos e se postaram em frente à casa do seu Baltazar, ansiosos para saber que era aquele homem com pinta de importante. Baltazar ao vê-lo franziu o nariz. Já o conhecia e não tinha boas lembranças. Foi por causa de sua má administração junto à Enseada das Garoupas, hoje Porto Belo, onde planejara a Freguesia de Nova Ericeira. Tratava-se de João de Mello e Alvim, Engenheiro chefe da Presidência da Província de Santa Catarina, que largou o povo de Nova Ericeira sem comida e ferramentas em Porto Belo, sem sequer dar satisfação. O homem foi enviado pelo inteligentíssimo governador João José Coutinho para planejar as novas localidades do litoral. O homem especulou tudo que podia: quem era quem, quantas casas, quantas almas viviam ali, há quanto tempo moravam, quais as necessidades mais prementes, que expectativa tinha aquele lugar. - Isto cresceu bastante dotori - Quem viu isso aqui, sem nenhum pé de pessoa por essa banda por vorta de 1822, quando vim pará aqui. Isso era um deserto seu dotori. Só havia eu, mais Deus e meus filhos e os bugres. Em menos de 30 anos a gente já botou isso tudo aqui de pé. - Mas ainda é muito pouco seu Baltazar. Isso aqui é lugar inadequado para voismicês continuarem a povoar . Veja seu Baltazar, as cidades mais modernas do Brasil são feitas de forma planejada, com ruas largas e boas praças. Isso aqui não tem nem lugar pra fazer uma praça, decente. A cidade está espremida entre o morro e o rio, onde vocês vão colocar os prédios quando essa cidade crescer? Essa cidade não pode ficar aqui, seu Baltazar. - Mas pra onde Vossa Incelença há de botar esta cidade, dotôri? Foi muito por essa sugestão de Mello e Alvim em 1851, cujo relatório oficial está apresentado, que em 1890, a sede da Vila de Bom Sucesso, mudou para a Vila dos Garcia, hoje Camboriú.


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Teve planejamento sim Waldemar Cezar

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lenda urbana conta que Balneário Camboriú foi mal planejada, que o ex-prefeito Gilberto Américo Meirinho traçou e abriu a Terceira e Quarta Avenidas, que o ex- prefeito Leonel Pavan idealizou a Interpraias e que Edson Piriquito instalou o primeiro pronto socorro. Nada disso é verdade.

No final da década de 1960 o governador Ivo Silveira contratou a empresa SD Consultoria e Planejamento Ltda. que elaborou o Plano Básico de Urbanismo e de Desenvolvimento Turístico de Balneário Camboriú. Este estudo foi transformado na lei municipal 128, de 1970 quando já era prefeito Armando Cesar Ghislandi.

Documentos que o jornal Página 3 tem em arquivo demonstram que a cidade teve sim planejamento, ela foi privilegiada por um prefeito visionário, o primeiro (Higino João Pio) e por um governador que gostava desse prefeito (Ivo Silveira) que ajudou bastante o município, inclusive através de estudos técnicos qualificados.

Por infelicidade o primeiro prefeito, Higino Pio, foi preso por oficiais da Marinha e encontrado morto no cárcere em Florianópolis. O laudo oficial foi suicídio. Na época o país vivia uma ditadura e uma epidemia de suicídios por enforcamento parecia grassar em cárceres militares.

A prefeitura trabalhou com informações precisas desde o começo, encomendou um Censo Municipal que contou casa por casa, lanchonete por lanchonete (eram duas).

Existem apenas dois exemplares conhecidos daquele Plano, um em poder do jornal Página 3 e outro no arquivo pessoal de Álvaro Silva, presidente da Câmara de Vereadores que com

Há 40 anos prezando pela qualidade de vida dos moradores de Balneário Camboriú.

a morte de Higino assumiu a prefeitura entre março e outubro de 1969. Outro trabalho foi feito pela mesma equipe sobre o modelo arquitetônico da praia central inspirado em exemplos europeus. Se aqueles projetos fossem seguidos provavelmente evitaríamos vários problemas que hoje nos afligem e nosso território seria maior, a divisa com Itapema não ficaria no Estaleirinho, ganharíamos o Mato de Camboriú e toda a região onde está instalado o Hotel Plaza Itapema. Essa reportagem especial de aniversário apresenta aos leitores detalhes daqueles planos de quase meio século atrás, uma época em que era mais fácil planejar porque os “urbanistas” tinham à disposição áreas quase desertas, com poucas construções e na maioria modestas casas de madeira.

Uma cidade tão linda, mas tão linda, que se a gente colocasse a foto dela neste anúncio, o parabéns ia acabar passando despercebido. Parabéns, Balneário Camboriú pelos seus 48 anos.

Foi Edgar e Carmen Wegner que iniciaram a Tutis Pão em 1972 com a proposta de oferecer pães, doces, café e leite para os moradores e turistas que visitavam Balneário Camboriú. Com total dedicação, o comércio deu certo. Hoje, 40 anos depois, a Tutis

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BalneĂĄrio CamboriĂş, 48 anos


Balneário Camboriú, 48 anos

Posição regional, destaque turístico

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o estudo Balneário Camboriú era apresentada como destaque regional turístico, ponto de atração para os 42 municípios da Bacia do Rio Itajai-Açu, região mais dinâmica da economia catarinense. Nossa infra-estrutura, ainda que modesta, surgiu a partir da demanda de mercado dos próprios vizinhos e do Paraná. As atividades econômicas nesses municípios que se destacavam era a exportação de madeira pelo porto de Itajaí, o cultivo de arroz, beneficiamento de cana, engenhos de farinha e o maior aproveitamento de leite em território catarinense. O estudo apontava -erroneamente, como se veria no futuro- que a plataforma continental do litoral sul oferecia amplas condições para o desenvolvimento da indústria pesqueira que em 1965 tinha 15.985 profissionais em atividade, 10.449 embarcações e produziu 21.025 toneladas de pescado. A atividade se concentrava em Itajaí, Porto Belo e Ganchos, enfrentando dificuldades de escoamento da produção. A BR-101 estava sendo aberta, os paranaenses vinham a Curitiba e depois pegavam estrada de terra. Enxergava-se ali que Balneário Camboriú tinha potencial de ser -e depois seria- um dos principais destinos turísticos brasileiros porque era o único ponto deste trecho do litoral catarinense com belezas naturais e acesso “fácil” para turistas procedentes do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Também era a única praia com infra-estrutura turística, tinha 15 hotéis (11 de alvenaria, dois de madeira e dois mistos, totalizando 438 quartos), 83 estabelecimentos comerciais, seis locais de diversão e um posto de saúde.

Município era paupérrimo

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Plano assinala que a prefeitura não tinha condições financeiras de executar obras de infra-estrutura, implantar equipamentos turísticos –na verdade bastante modestos- e comunitários, dependeria de convênios governamentais.

Esta situação perdurou por décadas, o cofre municipal só passou a ter alguma folga por volta de 1990 quando na sua primeira gestão o ex-prefeito Leonel Pavan revisou a Planta de Valores e aplicou uma pancada no Imposto Predial e Territorial Urbano, IPTU. Esse foi o marco zero da pujança da prefeitura que perdura até hoje. Na ocasião era pura penúria, o orçamento do município de 1966 totalizou 100 milhões de cruzeiros (Cr$ 100.000.000). Hoje, corrigido pelo IGP-DI, seria R$ 1 milhão. Pela correção pura da moeda, conforme cálculo feito gentilmente pela contadoria judicial do foro local para esta matéria, apenas R$ 308 mil. Talvez colocado de outra forma fique mais fácil entender: em 30 de dezembro de 1965 o prefeito Higino João Pio criou o quadro de funcionários da prefeitura, composto por seis pessoas (secretário, contador, auxiliar de secretário, tesoureiro, escriturário e fiscal geral). Em conjunto, seus salários somavam 580 mil cruzeiros mensais e eles não tinham direito a 13º salário, vantagem que seria regulamentada posteriormente. A folha correspondia a 7% do orçamento, e hoje ela representa 45%.

Muito boa de viver, atípica, de muitas belezas, muitos contrastes, cores e culturas. Assim é BALNEÁRIO CAMBORIÚ. Parabéns, pelos 48 anos de crescimento. “saudações a quem Vereador Hannibal tem coragem” candidato pelo PP n.º 11111 Coligação proporcional “ BALNEÁRIO CAMBORIÚ SUSTENTÁVEL” CNPJ: 16.234.295/0001-09

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Balneário Camboriú, 48 anos

As pontas da praia seriam muito diferentes

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á 42 anos a ocupação do solo era pequena e mais localizada no entorno da Avenida Central, havia muito espaço para planejar e assim foi feito. Os técnicos elegeram dois grandes pólos de recreação e turismo sem imaginar que mais tarde e por muitos anos seriam as duas áreas mais contaminadas por esgotos domésticos, o

Canto da Praia (Barra Norte ou Marambaia) e o Pontal (Barra Sul). Na Barra Norte havia camping, comércio, serviços, tudo voltado para turistas, além de um grande –para aquela realidade- estacionamento com capacidade para 250 veículos. No total essas estruturas ocupariam 5 hectares,

o equivalente a 50.000 m2. Na Barra Sul a estrutura seria ainda maior, 46% da área reservada para práticas esportivas, 10% para estacionamentos e 10% para serviços. Com invejável visão de futuro planejaram que naquele local haveria um estacionamento para 830 automóveis.


Balneário Camboriú, 48 anos

Cidade “sem diversões”

Em 1970 Balneário Camboriú carecia de atrações para depois do horário da praia. O relatório aponta que “no setor de diversões, à exceção do cinema, 3 clubes, um boliche e um mini-golfe não existe nada que possa atrair o turista fora da hora de praia”. Foi sugerido pelos técnicos criar estruturas na “área de mata” do Canto da Praia (Pontal Norte) e na ilha que poderia ser estruturada para receber visitantes. Como se sabe nada disso vingou, nos anos seguintes a grande atração fora da “hora da praia” passou a ser a região do Baturité (Pontal Sul) e a ilha nunca foi preparada para receber turistas.

Bairros com lotes pequenos

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uando Balneário Camboriú se emancipou de Camboriú herdou situações que no futuro criariam enormes dificuldades para seu desenvolvimento. Em 1970, com o município recém criado seu território já estava loteado em regiões conhecidas como Vila Real e Bairro das Nações. E loteado da maneira mais predatória possível, terrenos de 10 x 20m e até de 8 x 20m. No período

entre 1950 e 1955 a ocupação dos loteamentos no centro chegava a 15,6% e na periferia 5%. Com o passar do tempo a ocupação –e a valorização dos terrenos- foi se concentrando no Centro, 8% da área territorial tinha densidade de 150 habitantes por hectare ou mais enquanto que em 52% moravam de zero a 25 habitantes. Sem moradores, 2/3 do território, no começo da década de 1970, não oferecia con-

dições econômicas para implantar infra-estrutura, a prefeitura iria construir para pouca gente e arrecadar uma miséria. Esta situação persistiu até uns 20 anos atrás quando a migração para as cidades do litoral centro norte catarinense começou a acelerar, aumentando a ocupação desses bairros e obrigando a prefeitura a implantar infra-estrutura.

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Há 37 anos vivemos e crescemos com você, Parabéns Balneário Camboriú

Sem planos semelhantes

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ma dificuldade enfrentada pelos técnicos que fizeram o Plano Básico de Urbanismo e de Desenvolvimento Turístico de Balneário Camboriú foi que no final da década de 1960 não existia muito conhecimento na área de

planejamento turístico e eles enfrentaram variáveis difíceis de prever como os efeitos de uma BR-101 que estava sendo implantada. Mesmo assim o resultado parece positivo, os técnicos projetaram o futuro imediato para uma década, traçaram

o sistema viário bem parecido com o que temos hoje e, claro, caíram na armadilha que muitos antigos planejadores de cidades também caíram, não previram que um dia milhares de moradores teriam pelo menos um automóvel na garagem.

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Parabéns aqueles que acreditam e fazem dessa cidade cada dia melhor.

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Interpraias: a VIP que virou LAP

O

s especialistas contratados pelo governo do estado intuíram que uma futura BR-101 aumentaria procura pelas praias ao sul da central e por isto traçaram no Plano Diretor uma estrada litorânea, hoje batizada oficialmente de Linha de Acesso às Praias (LAP) e conhecida como Interpraias. Na ocasião foi dado o nome de Via de integração Paisagística (VIP) que utilizaria os caminhos mais ou menos carroçáveis existentes, passando pela Barra e daí por todas as praias ao sul e terminando no Plaza Itapema, na época região dentro do território de Balneário Camboriú. Anos depois a Interpraias seguiria aproximadamente este trajeto, com alguns desvios em decorrência de exigências ambientais e de engenharia.


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Em apenas um ano, enorme avanço na educação Balneário Camboriú experimentou um salto na educação entre os anos de 1967 e 1968 quando a quantidade de alunos matriculados no curso primário, segundo a Inspetoria de Ensino, aumentou 97%. Em 1966 os alunos no primário eram 786; em 1967 caiu para 771; em 1968 eplodiu em 1.516 e no ano seguinte, 1969, ficou em 1.573. O ensino primário era ruim, poucas salas de aula e muitos alunos. No ensino médio tinha apenas duas escolas, uma delas funcionando num prédio emprestado, o do Grupo Escolar João Goulart.

O primeiro pronto socorro Em maio de 1966 o prefeito Higino Pio declarou de utilidade pública o Hospital Santo Estevão, que hoje não existe mais. Em seguida, em agosto do mesmo ano criou o Serviço de Pronto Socorro e Assistência Social. Este pronto socorro, composto por uma ambulância, um motorista e um auxiliar de enfermagem tinha por tarefa socorrer “pessoas reconhecidamente pobres” e transportá- las para hospitais conveniados em Blumenau, Itajaí e Joinville. Também cabia ao serviço a vacinação periódica dos moradores e o atendimento permanente de enfermagem.

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626 famílias em “casas pobres” e 25 em “casas ricas”

“Casa pobre” e “casa rica”, dentro da classificação das residências no recenseamento geral do perímetro urbano, feito em 1968.

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m dezembro de 1968 o jornalista Norberto Silveira Junior entregou o 1º Recenseamento Geral do Perímetro Urbano de Balneário Camboriú, trabalho para o qual foi contratado pela prefeitura através de licitação pública e cujos resultados pintam o retrato de um vilarejo. O município tinha 6.515 moradores fixos, 1.321 famílias, 4.279 residências, sendo 2.958 de veraneio, na maior parte de madeira. Prédios eram apenas 51, mas já estavam subindo alguns grandes, existiam sete com tamanho acima de 10 pavimentos. O autor do Recenseamento, Silveira Junior, era um homem instruído, com boas idéias e impressionou

a paróquia quando meses antes sugeriu dar às ruas números e não nomes porque sendo uma cidade turística facilitaria a localização por parte dos visitantes. Raciocínio correto, usado muito antes por cidades norte-americanas, dentre elas Nova Iorque. Gente estudada como Silveira Junior era coisa rara. Balneário tinha um grupo escolar e duas escolas isoladas; dois advogados, duas bancas de jornais, um consultório médico e 28 botecos. Apenas oito da suas 259 ruas tinham nomes. Antes do Recenseamento, trabalhando de graça aos finais de semana, com um veículo cedido pela prefeitura, Silveira Junior colocou nomes nas ruas

e placas de numeração em 3.807 casas. Naquele documento o jornalista colocou um alerta, havia marginalização e favelas em áreas da Avenida do Estado, Nações Vila Real, Avenida Atlântica e no eixo da rua 900. E dizia mais “o aspecto opulento das construções de veraneio, notadamente na orla da praia, camufla uma verdade pouco conhecida, Balneário Camboriú é uma cidade pobre, se verificarmos a situação econômica da sua população fixa. Com efeito, das suas 1.312 famílias, mais da metade, 715, moram em casebres e barracos ... delas, só 25 residemem casas consideradas ricas”.


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á l b u m

d e

f o t o s

a n t i g a s

Fotos de arquivo do historiador Isaque de Borba Correa, que também é o autor das legendas.

O hotel do Jaco; o primeiro de Balneário Camboriú feito pelo seu Tula, em 1928.

O Armando jogando tainhas; a Judite atrás dele com o Samuel buchechudo no colo, o Welligton Lemos, dono do hotel Icaraí, no sinal de positivo; o Milonga aparece em todas; a Araci Caldeira de casaco xadrez e ao lado a Ednora com o Armandinho no colo.

MARCIANO, Saúde! TONHO, tomando na garrafa; FERNANDO MELO, atrás; TI LINTA, enchendo o copo; TACINHO DO TÁXI DO HOSPITAL, enchendo o copo; GUIGA, virando o copo; IKA; ADERBAL PERES, todo em sorriso; ROBERTO (CABANO) atrás do Marciano ; FOPA, escondido na frente do Marciano. Veja o que sobrou do edifício Mirador, bloco B do Londrina, que ruiu em 1968.

Hans Richard Carl Wachs e Liselote Wachs, “na foto mais romântica da história da praia”.

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Fundo de baú é isso aí: esse homem da esquerda é seu Olindino Domingos, que tem 90 anos; se ele tinha uns 20 aí essa foto tem 70 anos, hehe.

Parabéns Balneário Camboriú p


Balneário Camboriú, 48 anos

Carlos Fernandes, um dos primeiros moradores do centro. Essa foto é anterior a 1934, pois ele vendeu essa sua casinha aí para o casal Paulo e Lilly Onckem, para a construção do Balneário Hotel, a primeira construção de alvenaria da cidade, pelo pedreiro Verônico de Souza.

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Eis aí a CANOA ONÇA - meu avô deu esse nome porque o troco do garapuvu foi retirado das matas da localidade de Toca da Onça- hoje São Roque - Itajaí. Era um exagero de grande. Com certeza foi a maior canoa que já singrou nossas praias. Foram necessárias várias “ juntas de boi’ para retirar o tronco da mata, mesmo depois de ‘ fraquejado’. Tinha quase 2 metros de boca, e perto de 16 de comprimento. Uma coisa fabulosa. Foi vendida pra pinheira. Foi a coisa mais feliz do mundo ver ela ir embora, porque era terrível trabalhar com esse monstro. Hoje se pudese a compraria. Como mudei. eheheh

Esse aí era da Viação Campos, de Fiorentino Baturité Campos. Depois a empresa foi vendida para o Filtrim e finalmente virou Praiana. O motorista, uns dizem que é o meu sogro, Ivo Serafim da Silva, -quando era magro-, outros dizem que é o Zilmo. O cobrador é o Tavinho Pinheiro.

Olha isso: Rua 51 - PRAÇA TAMANDARÉ hoje. Meu avô Mané Germano entrava com uma canoa aí e lançava a rede onde é hoje o shopping. Após sucessivas tentativa de aterrá-lo (assassiná-lo) o golpe de misericórdia veio com essa vala que fizeram na Atlântica. Estão forçando o rio a voltar toda a sua água para dentro dele novamente. Isso vai implodir.

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A “Avenida do Meio” e a “via projetada”

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m 1970 os planejadores de Balneário Camboriú colocaram o seguinte no papel: “A via preferencial projetada, situada a uma distância média de 500 metros da Avenida Brasil, constitui a verdadeira espinha dorsal do sistema de vias preferenciais que ligam a BR-101 à Avenida Brasil. Essa via, por nós denominada Avenida do Meio, corresponde ao prolongamento da Rua 906 até a Avenida do Estado, de um lado, e do outro até a Rua 3100”. Quem hoje se der ao trabalho de colocar essas referências num mapa identificará sem dificuldade a atual Terceira Avenida. E o projeto da Quarta Avenida também aparece no texto, logo em seguida: “A outra rua projetada aproveita o leito das ruas 1546 e 960 a qual termina na rua 2000. Daí prossegue até a rua projetada, na altura da rua 2338”. Depois de planejarem os eixos viários paralelos ao mar, os técnicos não esqueceram das grandes transversais, ligando a marginal da BR-101 à Brasil. Eram elas: 1500, 2550, 3100 e 3618, todas próximas às passagens de nível da Avenida Brasil vista de cima. BR-101 existentes na época.

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As áreas que seriam praças

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e aquele Plano de Urbanismo de 42 anos atrás fosse seguido, Balneário Camboriú teria hoje 76.250 m2 de praças, sendo 42.000 m2 no centro. Além disso, numa área de 11 hectares, na BR-101, haveria um parque municipal com zoológico, um centro esportivo regional, incluindo um estádio para 5.000 pessoas e quadras de bola ao cesto e tênis com capacidade para 1.000 espectadores. Esta área hoje é mais ou menos o Parque da Santur, porém se esqueceram de torná-la municipal (é do estado) e de construir os estádios, pelo menos o de futebol já que bola ao cesto e tênis não parecem muito populares por aqui.

Em 1970 um diagnóstico que poderia ser transposto para os dias atuais: “Nota-se ainda a ausência total de áreas verdes de vivência urbana, parques, jardins públicos, praças, play-grounds etc, o que restringe a atividade recreacional de Balneário fundamentalmente à praia. Além disso, o estacionamento ao longo da Avenida Atlântica tumultua a atividade recreativa que deveria existir numa área de veraneio e, na medida do possível, o trânsito terá que ser fechado nesta via através de dispositivos viários.


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Curitiba sempre presente na economia praiana

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o começo da década de 1970 Balneário Camboriú não estava ligada diretamente por linha de ônibus a qualquer capital, era uma estação intermediária da linha Florianópolis a Curitiba, operada pela Auto Viação Catarinense. O tempo de viagem da praia até a capital paranaense era de quatro horas e meia, se tudo corresse bem. Era possível pegar ônibus em cidades vizinhas, havia três viagens diárias ida e volta de Brusque para Curitiba; três de Florianópolis a São Paulo (12 horas de distância) e uma de Florianópolis ao Rio de Janeiro (19 horas). Aponta o estudo: tendo em vista a curta distância entre o Balneário e Curitiba a população dessa é a maior cliente do Balneário.

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Abastecimento, mas sob controle de preços

Desfile cívico.

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uando o Plano de Urbanismo foi elaborado o país já vivia sob uma ditadura militar traços do tipo de pensamento da época aparecem no trecho, como este que propunha a criação de um grande mercado, mas com interferência direta do poder público nas regras da livre concorrência: “...o mercado poderia abrigar os feirantes e ambulantes... facilitando à prefeitura o controle fiscal e de preços. O mercado poderia atuar como estabilizador dos preços, impedindo que esses se elevassem muito nas temporadas... caso os preços sejam bem controlados pela prefeitura”.

apaixonante é viver com você

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BalneĂĄrio CamboriĂş, 48 anos


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A água vinha do rio Peroba

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&CIA

oje o rio Peroba, afluente do Camboriú, é um esgoto a céu aberto, mas já garantiu o abastecimento de 17% da população de 7.863 habitantes de Balneário. Os outros 83% não tinham acesso a água tratada. Claro, também não tinha rede de esgoto, deficiência apontada como “um dos problemas mais graves para uma cidade de cunho turístico”. As deficiências de saneamento refletiam na saúde da população, sobrecarregando o único consultório médico, os dois dentistas, as três farmácias e o posto de saúde. O Hospital São Estevão não tinha condições de atender ninguém, geralmente as pessoas iam a Itajaí ou Blumenau.

LENZ & CIA FÁBRICA DE PLACAS A deficiência da rede de esgoto era um dos problemas mais graves.

Balneário Camboriú: Rua 2.350, nº 1.287 - Tel: 47 3367.3542 Camboriú: Rua Hercílio Zuchi, nº 159 - Tel: 47 3365.5166 Itajaí: Av. Sete de Setembro, nº 695 - Tel: 47 3349.4935 Itapema: Rua 216, nº 177 - Tel: 47 3268.4870 Balneário Piçarras: Rod. SC 414, nº 56 - Tel: 47 3347.1106

Todo Caminho (Guimarães Rosa)

Todo caminho da gente é resvaloso. Mas também, cair não prejudica demais A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!... O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim:

Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, Sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria, E ainda mais alegre no meio da tristeza...

Homenagem do Deputado

Dado Cherem às pessoas que construíram e constroem

Balneário Camboriú nesses 48anos.

Foto Dado Cherem


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C u r i o s i d a d e s

No ano de 1968 Balneário Camboriú experimentou sua primeira grande expansão imobiliária, a quantidade de habitações licenciadas quase triplicou em relação ao ano anterior. E a qualidade melhorou, as residências de alvenaria passaram a aumentar.

No recenseamento de 1968 haviam na cidade 6.515 habitantes fixos distribuídos em 1.321 famílias; cada família tinha em média 4,9 pessoas. Dessas, 626 moravam em “casas pobres”, 581 em “casas médias”, 89 em “barracos”e 25 em “casas ricas”.

Havia em dezembro de 68 1 grupo escolar, 3 escolas isoladas, 2 ginásios e 1 escola técnica de comércio. Onze hotéis de alvenaria, com 371 quartos; 2 hotéis de madeira, com 46 quartos; 2 hotéis mistos com 21 quartos, totalizando 438 quartos disponíveis.

Parabenizamos Balneário Camboriú pelos seus 48 anos

Rua 600, 436 - Centro - Balneário Camboriú/SC - 88330-632 Base Territorial - Balneário Camboriú | Camboriú Fundada em 09 de abril de 2010

Eram 251 ruas contabilizadas no censo de 1968: apenas 18 delas calçadas, 21 parcialmente calçadas, e 220 não calçadas. Havia também 10 açougues, 2 advogados, 2 lotéricas, 1 alfaiataria, 2 bancos, 28 bares, 7 barbearias, 2 “artesanatos artísticos”, 1 cartório.

Duas “casas de frutas”, 2 fotógrafos, 5 churrascarias, 1 cinema, 3 clubes, 2 dentistas, 4 cabeleireiras, 1 sapateiro, 5 indústrias pesqueiras, 3 padarias, 1 reforma de móveis, 1 relojoaria, 2 serrarias, 1 salão de costura, 3 snookers, 1 centro de erradicação da malária.


BalneĂĄrio CamboriĂş, 48 anos

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O primeiro morador, de “algúa vila” O conto que abre esse caderno, assinado pelo historiador Isaque de Borba Correa, fala de BALTAZAR PINTO CORRÊA, que tem indício de ter sido o primeiro morador da cidade. Isaque, que escreve sobre as origens de Balneário Camboriú há décadas, conta que em todo os seus textos anteriores nunca afirmou que Baltazar fora o fundador da cidade, pois não tinha encontrado provas suficientemente convincentes para isso. Porém revirando o livro das sesmarias no Arquivo Nacional, Isaque conta que descobriu uma “pagina excepcional, que prova que Sua Majestade Imperial o Senhor Dom Pedro Primeiro autorizou Balthazar Pinto Corrêa, a fundar no distrito “algûa vila”. Esse texto serviu à acadêmica de História Tárcila Borba a firmar seu TCC, defendendo a tese de que Baltazar Pinto Corrêa veio com intenções de fundar o Município. Baltazar casou com Anna Custódia do Amorim no dia 26 de setembro de 1812, portanto estamos às vésperas de comemorar o bi-centenário desse consórcio que gerou uma grande família em nossa região, beirando aí os três mil descendentes nesses 200 anos”, afirma Isaque. É ele quem escreve: “Era comum para o jovem da época, que ao casar tivesse seu “chão de casa” para ter onde “enfiar a cabeça” – termo muito usado na época – assim que casasse, o moço deveria ter seu chão de casa. Dado o prazo legal em que o requerente haveria de trabalhar na terra, mais as dificuldades de agilidade de comunicação num país continental, a coisa demorava e muito.

Não se sabe ao certo o tempo que levou para requerer ao Governo do Estado, mas sabe-se que em 1821 já estava protocolado. No ano de 1821 um fato espetacular aconteceu com esse personagem incrível da nossa história. O despacho de sua carta de fundação assinada por Dom Pedro Primeiro, foi seu primeiro ato. Esse expediente foi despachado na página 29 v. A página anterior (29) foi despachada por Dom João Sexto. Sabemos que ele nasceu no final do século XVIII. Na certidão de casamento, diz que nasceu na localidade de “Sant’ Yago do Peany” Distrito de Lamego, Concelho de Viseu. Descobrimos que a família Pinto Corrêa lá, era muito grande. Esta localidade era praticamente um clã dos Pinto Corrêa nos do séculos XVII e XVIII. Veio para o Brasil muito novo. Mas teve uma passagem no Rio de Janeiro, em 1828, devidamente registrada nos livros de Registros de Entrada de Estrangeiros da Polícia Federal da época. Isso desmente uma série de históricos que andam por aí, que dizem que “açoriano” Baltazar chegou aqui em 1758. Como na época não existia fotografia, era feita uma descrição física das pessoas. Está registrada uma entrada dele no Rio de Janeiro, nos seguintes termos. “Balthazar Correia Pinto: português. Idade 25, estatura ordinária, rosto comprido, pouca barba, olhos

pardos, cabelos castanhos, sobrancelhas finas - parte para Campos e foi atendido. Entrada em 18 - 10 - 1828.” (Livro de Legitimação de estrangeiros - Col 423. Vol 4 - folhas 209v) Muitos, nessa época mentiam ou não sabiam mesmo a sua idade. O que vale aqui é a sua descrição fisionômica, que também não é lá muito boa. Mas neste texto existe ainda uma curiosa informação: “Parte para Campos”. Provavelmente seu pai estivesse morando em Campos na localidade de Ronco da Água, conforme o documento que cnferimos adiante. É uma carta de Custódio Pinto, provavelmente pai de Baltazar, que, escreveu ao Marquês de São João da Palma, pedindo autorização para usar armas, pois já naqueles tempos a bandidagem era muito comum para os lados do Rio de Janeiro.

Baltazar casou com Anna Custódia do Amorim no dia 26 de setembro de 1812, portanto estamos às vésperas de comemorar o bi-centenário desse consórcio que gerou uma grande família em nossa região, beirando ai os três mil descendentes nesses 200 anos”

Balneário Camboriú

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Balneário Camboriú, 48 anos

(A carta) “Senhor Diz Custodio Pinto morador no Ronco da Agoa Comarca desta Corte casado e Estabelecido com lavoura q’ ele sup e costuma anda com suas Bestas carregadas com café pª vem ser a esta corte pellas estradas de Stª Cruz e Caminho Novo e como andamos se achão infestados de saltiadores como he publico os grandes robos q’ tem avido pelos mos motivos. O reqnt e suplº a V. M. I. lhe conceda anda armado de pistolas como he de costume anda todos os veiandantes pa conceder p. isso, provizão na forma de estilo. V. M. I. Seja fornecido e sem haver problema. P.B. PP em 9/ 8bro 1828 procurador Firmino Dias.”

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Como você pode ver, este procurador não era muito bom de escrita, por isso, vamos tentar transcrever traduzindo como deveria ser: “Senhor: Diz Custódio Pinto, morador do Ronco da água, comarca desta corte, casado e estabelecido com lavoura que ele, o suplicante, costuma andar com suas bestas carregadas com café, para vender a esta corte, pela estrada de Santa Cruz e Caminho Novo e como se acham infestadas de salteadores, e como é público os grandes roubos que se têm havido pelos mesmos motivos. O requerente suplica a Vossa Majestade Imperial, lhe conceda andar armado de pistola como é de costume andar todos os viandantes. Pede conceder por isso, provisão na forma do estilo. Pede Vossa Majestade Imperial seja fornecido sem haver problemas. P.B. P/P em 09 de outubro de 1828.”

(O despacho) “Passe provizão para usar das armas prometidas por Ley Rio de Janeiro - 1 de fevereiro de 1827. Marquês de S. João da Palma “.

Bem, sabemos que bem antes de 1823, ele já estava morando em Camboriú, porque o despacho de sua Sesmaria foi em setembro de 1826 e a lei exigia pelo menos três anos de cultivo da terra, para ser concedido o domínio. E, segundo o texto do requerimento de sua Sesmaria, o procurador diz claramente que a carta demorou muito a chegar, pela distância da Corte. Analisamos:

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“Diz Baltazhar Pinto Corrêa que sendo hum dos novos povoadores das margens norte do Rio Cambriassú da Província de S. Catharina, e ahi morador, obteve em taes circunstancias por Sesmaria do Governador dessa mesma província hum terreno devoluto no mencionado lugar com 400 braças de frente e 600 de fundo, a qual se acha medido e demarcado, do qual se lhe passou a competente Carta junta. E por que não pôde obter a Imperial confirmação em tempo competente pela distancia da Corte e ser o suplicante hum rústico camponez, em taes termos recorre e Pede a Vossa Majestade Imperial se digne conceder-lhe a graça de dispensa de lapso de tempo para a Imperial confirmação da solicitada sesmaria. Felis Jose Hilarião Barata Procurador.” Baltazar recebeu finalmente a papelada dia 26 de setembro de 1826, um presente de casamento com 14 anos de atraso. Nesta época ele morava no Canto da Praia, e isto está explicitado no texto, que diz “às margens norte do Rio Camboriasu”. Margem norte, considerando da montante à jusante fica ao lado esquerdo e terras agricultáveis, nesta faixa de terra, somente no Canto da Praia, e escrituras dos seus sucessores mostram isto. Com certeza, posteriormente, foi morar na Barra, mais ou menos onde o rio faz a curva mais acentuada, próximo à foz.

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Balneário Camboriú, 48 anos

Baltazar recebeu finalmente a papelada dia 26 de setembro de 1826, um presente de casamento com 14 anos de atraso.

Isto mostra uma escritura de 1867 e, neste ano, ele já estava morto, porque a escritura diz que faz extrema com o “falecido Baltazhar Pinto Corrêa”. Provavelmente ele faleceu entre fevereiro de 1865 até a data da escritura acima em 1867, isto porque num livro de votantes de Bom Sucesso, município de Itajaí, encontrado no arquivo público municipal daquela cidade, com data de 25 de fevereiro de 1865, Baltazar assinou a ficha. Baltazar casou com Ana Custódia do Amorim, que conforme seu termo de batismo, era filha legítima de Silvério Antônio do Amorim, natural e batizado na Matriz de Desterro e de Josepha Antônia, natural e batizada na Freguesia de Nossa Senhora das Necessidades; neta paterna de Ignácio Amorim Pereira, também

natural e batizado naquela matriz e de Angélica Maria, natural e batizada na Villa de Santa Hás, da Ilha de Uris, Arcebispado de Angra e pela parte materna de Sebastian Voigas, natural e batizado na Freguesia de Aguida, da Ilha das Flores e Maria Rosa de Jesus, natural e batizada na mesma freguesia. Mas o que será que levou o nosso pioneiro a namorar uma garota em Santo Antônio de Lisboa, na nossa Desterro, capital da Província? Em calcular a distância e as dificuldades de se atravessar todo este trecho, naquela época, deveria ser ela, a senhorita Ana Custódia Amorim, uma bela garota. Talvez, viajar não fosse problema pra ele, pois o jovem Baltazar como já vimos, era bastante viajado. Interessante que em 1821, ela já andava aqui por perto,

haja vista que batizou uma menina na igreja de Bom Jesus dos Aflitos em Porto Belo. Assim, com as bênçãos do padre Lourenço Rodrigues de Andrade, no dia 06 de setembro de 1812, casaram-se. Deste consórcio tiveram os filhos: Maurício Pinto Corrêa, João Pinto Corrêa, Pedro Pinto Corrêa, José Pinto Corrêa, Imídio Pinto Corrêa, Custódio Pinto Corrêa, Antônio Pinto Corrêa, Perpétua Rosa de Jesus, Bernardina Custódia do Amorim, Agostinha Josefa do Amorim e finalmente, a mais moça, Rita Maria Corrêa, que se casou com Faustino do Nascimento. No livro da Escravatura em Camboriú conto como ela doou todos os seus bens à sua escrava Tereza. Isaque de Borba Correa é historiador e nativo de Camboriú.


Balneário Camboriú, 48 anos C u r i o s i d a d e s

Algumas páginas do álbum descritivo fotográfico da praia de Camboriú, assinado por Silveira Júnior, em 1951. É o livro mais antigo sobre a praia de Camboriú.

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Balneário Camboriú, 48 anos

Higino João Pio, o pai dos pobres Sérgio Fernando Hess de Souza Este era um homem digno, e acima de tudo honrado e honesto. Morei na casa da família do Sr. Higino João Pio nos anos de 1967, 68 e início de 1969, até a sua morte. Meu Pai e o Pio eram compadres, amigos e correligionários do antigo PSD. Naquela época precisava estudar em Itajaí, pois em Luis Alves o ensino oferecido era até o primário, razão pela qual fui convidado a morar com a família Pio – Higino, Amélia, João Jorge, Eliana e Júlio César. Sempre fui tratado como um membro da família, participando de todos os eventos, morando na casa e dividindo com a família a mesma mesa de refeições. Em muitas oportunidades presenciei o Sr. Higino acordar de madrugada para atender pedidos de famílias pobres, principalmente para socorrê-las em casos de saúde. Em todas as oportunidades o atendimento foi pronto e eficaz, com a determinação do Pio para que estas pessoas fossem transportadas - com sua Rural, até Florianópolis, Itajaí ou Blumenau, objetivando receberem o atendimento adequado e necessário. Também vivi e presenciei, em diversas oportunidades o Pio mandando arrumar casas, telhados, cercas, aterros, enfim, ajudando pessoas necessitadas, não como prefeito que era, mas como cidadão. Quantas e quantas vezes acompanhei seus empregados na entrega de alimentos e suprimentos às pessoas que estavam passando fome. Nunca foi exigido a contrapartida eleitoral. O Pio era bom de coração pela sua natureza, pessoa simples e desprovida de rancor e vingança. No entanto, era um homem visado, pois derrotara os caciques da política da

região, com reflexos no governo Estadual. Diversas reuniões com políticos, entre eles o governador Ivo Silveira e os deputados Nilton Kucker, Dib Cherem, vereadores e seus poucos secretários, foram realizadas na sala social da residência da família Pio, sem que houvesse preocupação, em relação a sua família, com o teor das conversas. Presenciei e escutei em diversas oportunidades a preocupação do Pio com o crescimento de Balneário Camboriú, especialmente quanto ao saneamento - água, plano diretor e o sistema viário, e com a preparação da cidade para as temporadas de verão. Lembro-me do Pio ter reunido a família e falado da perseguição por parte de alguns adversários políticos da UDN. Também falou de uma denuncia feita contra ele no Ministério Público Federal. Disse pra a família que não era para se preocuparem, pois não existia qualquer irregularidade em sua administração. Quanto à honestidade do Pio, o ex-deputado Nilton Kucker, em depoimento no processo de pedido de anistia disse: “Higino foi exemplo raro de político que teve empobrecimento ilícito”. Também no relatório da comissão de justiça, fls. 49, consta a conclusão de que: “... pois, Higino, segundo todos os depoimentos, era cidadão honesto, um político sem máculo, cujo patrimônio diminuíra durante a gestão.” Quando o Pio foi preso, policiais federais fizeram uma varredura em todos os documentos da Prefeitura e nada encontraram. Consta no relatório da Assembleia Legislativa, juntado às fls. 141 dos autos do Requerimento de Anistia: “Vasculharam tudo e não conseguiram identificar sequer uma irregularidade administrativa, garante

Silva”. Nenhuma prova foi encontrada contra o Pio, quer nos autos do Inquérito Policial, na Prefeitura, na Câmara de Vereadores, ou em qualquer outro lugar. O último parágrafo do Relatório da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, fls. 143 diz: “Infelizmente, o IPM relativo à apuração dos responsáveis pelo trágico fim de Higino João Pio ficou enterrado ou foi cremado junto com os outros documentos”. O Pio era uma pessoa alegre e brincalhona e estava sempre sorrindo. Ele e a Dona Amélia me tratavam como filho, dispensando o mesmo carinho para com seu filho Júlio César, que tinha a mesma idade. Este, até hoje é meu dileto amigo. Quando o Pio foi preso, sob a acusação de irregularidades na Prefeitura, a população de Balneário Camboriú ficou estupefata, atônita e surpresa, pois era inconcebível para o cidadão de Balneário que o Pio pudesse ter cometido tais irregularidades. Maior surpresa foi quando o Pio apareceu morto, com a alegação de suicídio. Lembro-me que era voz corrente entre todos, que o Pio havia sido assassinado pela ditadura. Acompanhei todo funeral ao lado da família, em especial com o Júlio César, e me recordo que o caixão não pode ser aberto, apenas aparecia o rosto do Pio e que no local tinha pelo menos umas quatro pessoas desconhecidas que permaneceram durante todo tempo no local. Eu e o Júlio fomos orientados pela família para não fazermos comentários sobre a morte do Pio enquanto acontecia o funeral.


Balneário Camboriú, 48 anos

Era uma tristeza total, especialmente da Dona Amélia e dos filhos, que contidamente choravam a perda de pessoa tão especial, um chefe de família exemplar e um amigo de todas as horas. O enterro no cemitério de Itajaí, segundo comentários da época, foi o maior de todos os tempos, pois uma multidão acompanhou todo trajeto de Balneário até a sua sepultura. Ainda criança adolescente, pois tinha 14 anos de idade, não entendia o porquê de tanta maldade praticada contra uma pessoa que só fazia o bem. Hoje sei que o Pio foi morto porque destronou alguns caciques da política local. Meu contato com a família nunca diminuiu, e sempre me mantive informado sobre as conclusões das investigações referente à morte/assassinato do Pio. Minha convicção, desde o momento da sua morte era de que ele havia sido vítima de tortura e excessos por parte dos militares, e que o suicídio fora forjado para esconder a real causa de sua morte. Tive acesso ao processo da anistia do Ministério da Justiça e o estudei, em especial o relatório emanado pela Assembléia Legislativa de Santa Catarina, da lavra da integrante da comissão Especial, Sra. Suzana Keniger Lisbôa, que em determinados momentos diz: “A descrição, por si só, sem olhar- se as fotos, já é estranha. Entretanto, a posição de suspensão incompleta é totalmente invisível nas fotos. Pelo contrário, o Sr. Higino tem os pés absolutamente encostados ao chão. Pergunto: como é possível alguém, com o porte do Sr. Higino, enforcar-se com os pés encostados ao chão, o corpo absolutamente encostado à parede e manter, ao mesmo tempo, o total e completo alinhamento das vestes? Por acaso não teria se debatido? E o esforço, que certamente deveria ter feito, para que àquela altura e naquela posição, pudesse suicidar-se ? E o rosto, que certamente deu de encontro à parede, no seu estertor, não conteria os hematomas provenientes? A cena montada para a versão de suicídio é mais do que clara e bem mais evidente, num só primeiro olhar, do que a própria motivação política do assassinato, para a qual foi necessá-

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ria a busca de provas.” Diz o ditado: A justiça tarda, mas não falha. Em março de 2009 fui convidado pelo amigo Júlio César Pio, filho do Sr. Higino, para participar da sessão de julgamento da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, criada pela Lei 10.559/2002, que veio a Santa Catarina para julgar diversos pedidos de Anistia. Na ocasião, na qualidade de advogado, tive a honra de sustentar oralmente minha tese de assassinato e de perseguição politica, razão motivadora da prisão do Pio e sua consequente morte. Foi num dos momentos mais emocionantes da minha vida que ouvi do presidente da comissão, Dr. Paulo Abrão Pires Junior, que a comissão, por unanimidade, concluiu pela DECLARAÇÃO DA CONDIÇÃO DE ANISTIADO POLÍTICO POST MORTEM DE HIGINO JOÃO PIO, com o pedido de desculpas oficializado pelo Estado Brasileiro. Reparou-se uma injustiça, mas não devolveu a vida ao Pio nem tirou a tristeza de sua família e amigos. HIGINO JOÃO PIO, um grande homem, admirado e querido por todos, o Pai dos Pobres. Sérgio Fernando Hess de Souza, 57 anos, advogado, hoje residente em Blumenau.

e x p e d i e n t e Cadernos, BC 48 anos uma publicação Página3. Balneário Camboriú, julho de 2012. Colaboraram para a edição: Textos: Waldemar Cezar, Isaque Corrêa. Arte: Fabiane Diniz. Edição: Caroline Cezar. Comercial: Rogério Matheus, Elis Escher. Disponível on line: www.pagina3.com.br.


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